Fasciculo5: "Cidade da Educação e da Tecnologia".

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16 Segundo a Embrapa, cinco variedades são exportadas atualmente para o resto do mundo. Entre os principais compradores estão Japão, Itália e França, além de Estados Unidos, Alemanha, Portugal, Espanha, Suíça, Inglaterra e Dinamarca. A primeira variedade de algodão colorido a ser lançada com a BRS 200 Marrom, seguida pela BRS Verde, BRS Safira, BRS Rubi e BRS Topázio. Todas são indicadas para a produção no Nordeste brasileiro. A vantagem do algodão colorido é produzir fibras que já nascem coloridas na natureza e que por isso não precisam passar por qualquer processo de pintura ou tingimento para a fabricação de roupas. Os tecidos produzidos com algodão colorido não possuem corantes e por isso são ideais, por exemplo, para o uso por pessoas alérgicas. Sem a necessidade do uso de produtos químicos para obter coloração, o algodão colorido facilita o processo de elaboração das roupas, reduz custos de produção para a indústria têxtil e ainda traz benefícios ao meio ambiente, evitando a poluição com a liberação no meio ambiente de resíduos gerados no processo de tingimento. O melhoramento genético é feito a partir do cruzamento entre espécies diferentes, realizado através da manipulação das flores. Essas flores cruzadas geram frutos e sementes. Quando as sementes resultantes desses cruzamentos são plantadas, passam por um processo de avaliação e seleção para dar origem às plantas de algodão colorido que conhecemos.

O ‘pioneiro’ Napoleão Beltrão Um dos fundadores da Embrapa Algodão foi o engenheiro agrônomo Napoleão Esberad de Macêdo Beltrão, primeiro pesquisador contratado para atuar na unidade de Campina Grande em 1974, na época da criação do então Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA). Napoleão atuou durante 39 anos na pesquisa em agropecuária, dos quais 37 anos dedicados à Embrapa. Napoleão Beltrão foi chefe-geral da Embrapa Algodão por vários mandatos e estava no exercício do cargo quando morreu aos 63 anos de idade em 14 de julho de 2013, vítima de complicações provocadas por um infarto no miocárdio. Na época, o pesquisador se dedicava ao desenvolvimento da cultura da mamona com vinculação energética para a produção de biodiesel, sendo membro fundador da Rede Nordestina de Biodiesel. O professor Napoleão se formou engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1972, iniciando a carreira logo em seguida. Foi professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no Campus de Areia, lecionando em cursos de pós-graduação e orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado. Participou do desenvolvimento de tecnologias para as culturas do algodão, mamona, amendoim, gergelim e sisal e produziu mais de 200 artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Recebeu diversos prêmios por trabalhos publicados e desempenho acadêmico, destacando-se o Prêmio Banorte e o ANDEF do Manejo Integrado.

FASCÍCULO

Insa surge para desenvolver soluções de convivência com a seca

A

produção científica e tecnológica de Campina Grande não está direcionada apenas para a elaboração de softwares ou equipamentos de última geração, mas também para melhorar a qualidade de vida do homem do campo e criar novas estratégias de convivência com a seca. Com estes objetivos, foi instalado em Campina Grande no ano de 2004 o Instituto Nacional de Semiárido (Insa), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que tem como objetivo articular pesquisas e políticas públicas relacionais ao semiárido nordestino. O Insa foi criado pela Lei Federal nº 10.860, de 14 de abril de 2004, durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Um dos projetos da Insa: sistema de captação da água da chuva, em Catolé de Boa Vista ministro da Ciência e Tecnologia no período de implantação do instituto era o pernambucano Eduardo Campos, morto em 13 de agosto de 2014 em um acidente aé- fossem elaborados os Planos Diretores da Instituição reo na cidade de Santos-SP. nos quadriênios 2008-2011 e 2012-2015. Em agosto de Um dos idealizadores do Instituto foi o enge- 2008, o Insa realizou o primeiro concurso público para nheiro Manoel Dantas Vilar Filho, mais conhecido como composição de parte do seu quadro técnico-científico e ‘Dr. Manoelito’, que foi diretor do comitê executivo para administrativo. a implantação do Insa. Manoelito é primo do escritor e Desde novembro de 2011, o Insa fundramaturgo paraibano Ariano Suassuna, que ciona em uma sede própria, localizada no também defendia a ideia de criação de um bairro Serrotão, em Campina Grande (PB). órgão de pesquisa voltado à realidade do seCom investimentos da ordem de R$ 6,5 mimiárido nordestino. A participação de Ariano lhões, o Complexo é composto por 6 (seis) no processo de concepção do centro de pesquisa blocos horizontais que concentram funções adestá eternizada na marca do Insa, que foi criada por ministrativas e de pesquisa, sendo um prédio para Suassuna em estilo armorial e doada ao instituto após a administração; dois para as coordenações de pessua inauguração. quisa; um contendo auditório, biblioteca e salas de O primeiro diretor do instituto foi Roberto Gertreinamento; um bloco com almoxarifado e garagem; mano da Costa, que atuou no planejamento estratégico e outro exclusivo para refeitório, totalizando quase 3 no período de instalação e estrutura no novo centro de mil metros quadrados de área total construída. pesquisa. A escolha de Campina Grande para sediar o O instituto dispõe ainda de uma Estação Experiinstituto de pesquisa foi motivada pela localização geo- mental, localizada a cerca de 4 quilômetros de distância gráfica da cidade, considerada estratégica na região do da sede, na zona rural de Campina Grande (PB). A Fazensemiárido, e também pela tradição da cidade como refe- da Lagoa Bonita, onde está situada a Estação Experimenrência nas áreas de educação, saúde e tecnologia. tal, é usada como centro de difusão de inovações produAs principais áreas temáticas de atuação do Insa tivas e de tecnologias de convivência com o Semiárido são: desertificação e mudanças climáticas; biodiver- e de estudos e pesquisas nas áreas de meio ambiente, sidade; uso sustentável e conservação de cactáceas e onde os projetos desenvolvidos pelo Insa são testados e espécies forrageiras nativas; uso de águas residuárias; analisados. Lá são realizados estudos sobre desertificaaproveitamento agroindustrial de cactáceas; educação ção, recuperação e manejo de áreas degradadas, ecossiscontextualizada; desenvolvimento e tecnologias so- temas e dinâmica da caatinga, diversidade genética aniciais; segurança forrageira e melhoramento genético mal, vegetal e de microorganismos, recursos hídricos e vegetal e animal. uso sustentável da biodiversidade e das potencialidades O Insa iniciou seu processo de Planejamento Es- dos agroecossistemas do semiárido brasileiro. tratégico com apoio do Centro de Gestão e Estudos EsA estação experimental será composta por dois tratégicos (CGEE), visando ajustar suas metas ao Plano complexos de laboratórios. O primeiro, denominado de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desen- de Complexo Celso Furtado, terá laboratórios equipavolvimento Nacional (Pact 2007-2010) e ao Plano Pluria- dos para pesquisas sobre produção animal, reprodunual (PPA). Foi um longo processo de construção cole- ção animal, ecofisiologia e ecologia vegetal. Já o comtiva, que contou com a participação de 65 instituições e plexo de laboratórios Miguel Arraes terá estrutura 1.660 especialistas interessados na temática do Semiá- para experimentos sobre biotecnologia, recursos narido brasileiro. Todo esse processo contribuiu para que turais e agroindústria.

CAMPINA CAMPINA GRANDE GRANDE

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ANOS ANOS À FRENTE FRENTE À

DOMINGO 31 DE AGOSTO DE 2O14

Cidade da educação, ciência e tecnologia


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Campina (empreendedora) Grande (nos desafios) Francilene Garcia (UFCG/PaqTcPB)

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ampina Grande, cuja história se inicia no século XVII, traz em seu genoma uma vocação natural para acolher empreendedores, suas ideias e ideais, tornando-se locus de importantes iniciativas que inspiram o desenvolvimento social e econômico da região. Segundo contam os historiadores, o primeiro aldeamento urbano mais significativo surgiu sob a liderança de indivíduos visionários e empreendedores, que buscavam pela via da interiorização a ampliação de suas ações comerciais. Os empreendedores nos meados de 1697, movidos pela movimentação econômica da época - a civilização da cana e a do gado -, trataram de concretizar uma importante ligação entre o Litoral e o Sertão. Essas iniciativas históricas foram fundamentais para a disseminação de uma cultura fortemente empreendedora, que se sustenta e avança em sinergia com as vocações do território e com os desafios e oportunidades oriundos da sociedade. É neste espaço geográfico, interior de uma região historicamente marcada por baixos investimentos privados, que podemos acompanhar a presença constante de indivíduos empreendedores, cujos sonhos e projetos marcam as conquistas e os avanços de uma cidade que se renova com os próprios desafios. Ao completar 150 anos, Campina Grande continua a atrair profissionais, fornecedores, empreendedores diversos, gerando um ambiente propício à disseminação de tecnologias e inovações – crucial para a nova competitividade dos territórios neste início de século XXI. No modelo de desenvolvimento de Campina Grande que, ao longo de sua história, posiciona-se com uma vocação em prol do desenvolvimento regional, destaca-se a identificação e implantação de iniciativas verticais com forte efeito transformador: a implantação crescente e pioneira de um ‘cluster do conhecimento’ a partir de ações iniciadas em 1955, quando foi criada a Escola Politécnica, instalada em terreno no Bairro de Bodocongó,

uma escola de Engenharia que deu origem à atual Universidade Federal de Campina Grande – UFCG; o cultivo e a comercialização do algodão, que se tornariam um importante marco, consolidando uma fase áurea de um polo econômico emergente – este fato histórico-comercial trouxe, em 1975, a decisão da Embrapa de criar em Campina Grande o Centro Nacional do Algodão, a Embrapa Algodão; mais recentemente a instalação do Instituto Nacional do Semiárido – Insa; dentre outras iniciativas. Estas conquistas contribuíram para que Campina Grande e a Paraíba avançassem na busca de mecanismos com ênfase na maior interação dos ambientes geradores de conhecimento com a sociedade – sem perder de vista o desafio de também atuar com ações de ‘rejuvenescimento’ junto aos setores tradicionais da economia do Estado e da Região. Aqui um destaque deve ser dado ao Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco – CTCC, criado em 1994 para atuar na formação de mão de obra especializada para as indústrias de curtume e calçados da Paraíba e de Estados das Regiões Norte e Nordeste. Em todo o mundo, a combinação da cultura empreendedora com o fomento à inovação tem se mostrado como o combustível para a geração de riquezas e elevação do padrão de vida, em especial nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI. Campina Grande, que iniciou o seu desenvolvimento como ponto de referência geográfico e de mercado, transformou-se num importante cluster do conhecimento e, nos dias atuais, acolhe projetos inovadores concebidos por gestores empreendedores e de visão. Campina Grande, em sua origem conhecida como um ‘entroncamento das várias estradas e vias’, ao completar seus 150 anos é parte de ’um privilegiado corredor para investimentos em CT&I’. A sintonia entre a vocação voltada ao desenvolvimento regional e a contínua prospecção de novos nichos verticais como forma de incentivo às mudanças na ação produtiva é fundamental para contextualizar o nasci-

CONSULTORIA

REALIZAÇÃO

Maria Ida Steinmuller: Presidente do Instituto Histórico de Campina Grande IHCG, “Casa Elpídio de Almeida. Josemir Camilo de Melo: Historiador, professor da UEPB. Membro do Instituto Histórico de Campina Grande – IHCG. Adriano Araújo e Emmanuel Sousa: criadores do Blog Retalhos Históricos de Campina Grande. Francilene Garcia: Professora da UFCG, Diretora Geral da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba e Presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores - ANPROTEC. Bruno Gaudêncio: Escritor, jornalista, historiador, membro da Academia de Letras de Campina Grande e do Instituto Histórico de Campina Grande. Janailson Macêdo Luiz: Historiador. Professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Membro do IHGC. José Emerson Tavares de Macêdo: Historiador. Licenciado em História pela Universidade Estadual da Paraíba. Mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande. Rosilene Dias Montenegro: Historiadora, professora da UFCG. Coordenadora do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia em Campina Grande e do Núcleo

mento e a implantação da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (Fundação PaqTcPB), em 1984, instalada em Campina Grande. Como aconteceu em outros Estados do país, ainda no final dos anos 60, verificava-se o surgimento de centros de P&D no interior das universidades instaladas na Paraíba, estimulados pelas oportunidades de fomento da política industrial e das crescentes demandas do setor empresarial. No início, os centros de P&D se incumbiam de realizar a ponte entre o que o pesquisador entende como “fim” e o que a empresa start-up ou nascente acolhe como “início” para a fabricação e inserção no mercado de novos produtos. Com a criação da Fundação PaqTcPB e, mais recentemente, com a retomada dos núcleos de inovação tecnológica (NITs), a transferência de tecnologia passa a considerar o deslocamento dos indivíduos portadores do conhecimento, na condição de novos empreendedores ou responsáveis pela transformação dos resultados de pesquisas desenvolvidas diretamente com a sua participação. Nesse cenário, a Fundação PaqTcPB vem sendo pioneira e se renova na criação de mecanismos de promoção do elo pesquisa vs. produção, merecendo destaques: a realização da Feira de Tecnologia (FETEC); a operação da Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG), que já graduou mais de 95 empreendimentos; e a atual implantação do Centro de Tecnologia e Inovação Telmo Araújo – CITTA. O apoio aos empreendimentos inovadores resulta de uma trajetória de parcerias bem sucedidas, da interação contínua com as competências instaladas nas universidades e nos centros de P&D localizados na cidade e região, da pactuação de parcerias com as diferentes instâncias governamentais e da oportuna captação e contratação de fomento. Essa nova geração de empreendedores inovadores é a responsável pelo lançamento de novos produtos e serviços no mercado – alargando fronteiras e gerando alternativas de desenvolvimento mais competitivas para a cidade, estado e região.

de Estudos em Desenvolvimento Regional. Atual Pró-reitora de Pesquisa e Extensão da UFCG. Fábio Ronaldo da Silva: Jornalista, historiador e professor universitário. Mestre em História. Vice-coordenador do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia e, também, do Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Regional. José Valmi Oliveira Torres: Historiador e professor do ensino médio. Pesquisador do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia e, também, do Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Regional. José Edmilson Rodrigues: Advogado, mestre em literatura pela UEPB. Autor da pesquisa sobre a cronologia biográfica dos ex-prefeitos de Campina Grande Rostand Melo: Pesquisa e texto. Imagens: Rostand Melo, Acervo de Edson Vasconcelos, acervo do Museu Histórico de Campina Grande, acervo do blog ‘Retalhos Históricos de Campina Grande’, acervo do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia, assessorias de imprensa e Leonardo Silva.

APOIO CULTURAL

Embrapa gera tecnologia e renova cultura do algodão C

ampina Grande começava a sentir no final da década de 1960 os efeitos da decadência do seu principal produto econômico: o algodão. O momento era de crise, mas foi justamente neste cenário de desconfianças e incertezas que os investimentos em ciência e tecnologia também chegaram à produção agrícola na região. Em 1975 foi instalado na ‘Rainha da Borborema’ o Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), com a missão de coordenar, planejar e executar as pesquisas com algodão no Brasil. Era o início da trajetória de quase 40 anos de inovação da Embrapa Algodão. O CNPA nasceu a partir da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada dois anos antes no governo do General Emílio Garrastazu Médici, no auge da fase mais rígida do regime militar no país. A criação da Embrapa foi autorizada com a Lei Federal nº 5.851 de 7 de dezembro de 1972, determinando ainda que a nova empresa seria vinculada ao Ministério da Agricultura. O ato de instalação da Embrapa aconteceu em 26 de abril de 1973. Inicialmente, as atividades da Embrapa Algodão estavam concentradas em duas linhas principais de atuação, sendo a primeira voltada para a cultura do algodão arbóreo, de grande expressão socioeconômica na região Nordeste, e a segunda voltada para o algodoeiro herbáceo, com maior ênfase na região Centro-Oeste do país. De acordo com o professor Paulo Sérgio Cunha Farias, geógrafo da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o CNPA foi criado para adotar a racionalidade científica na produção de algodão, a cotonicultura, centralizando as pesquisas e organizado o seu desenvolvimento. A escolha de Campina Grande para sediar o novo centro de pesquisa marcava uma separação entre as pesquisas desenvolvidas pelo poder público e a produção das empresas do setor que, na época, já estavam concentradas noutras regiões do país. “Enquanto as maiores produções de sementes melhoradas de algodão eram desenvolvidas em São Paulo, Paraná e Goiás, foi em Campina Grande que a Embrapa instalou o seu centro especializado”, explica Farias. Apesar de ter sido criada com o foco principal na pesquisa sobre a cultura do algodão, a unidade da Embrapa em Campina Grande também tem desenvolvido ao longo de sua história tecnologias para melhoria dos sistemas de produção de outras culturas, a exemplo do amendoim, gergelim, mamona, pinhão-manso e do sisal. As pesquisas empreendidas pela Embrapa Algodão desenvolvem sistemas de produção e atuam no melhoramento genético das plantas para o cultivo, obtendo novas variedades mais resistentes ou com características que garantam uma maior aceitação do produto no mercado ou redução nos custos de produção. A Embrapa Algodão também desenvolve pesquisas na área de controle biológico, biotecnologia, mecanização agrícola, qualidade de fibras e fios de algodão, tecnologia de alimentos e produção de biodiesel de mamona. Há ainda a realização de serviços de consultoria, assessoria, treinamento, análises laboratoriais de solo e água, teor de óleo de sementes e identificação de pragas e doenças associadas às culturas fibrosas e oleaginosas trabalhadas.

Algodão colorido foi desenvolvido na Embrapa de Campina Grande

ESTRUTURA

A Embrapa Algodão é uma das 47 Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A sede está localizada no bairro do Centenário, em Campina Grande. Atua em todo o país na geração de tecnologias, produtos e serviços para as culturas do algodão, mamona, amendoim, gergelim e sisal. Conta com 209 funcionários, sendo 56 pesquisadores, 39 analistas, 56 técnicos e 58 assistentes, além de uma equipe de estagiários, bolsistas e prestadores de serviço. A unidade de Campina Grande conta ainda com dez laboratórios, onde são realizadas análises de solo e água, análises de qualidade de fibras de algodão, teor de óleo de sementes e identificação de pragas e doenças associadas às culturas fibrosas e oleaginosas trabalhadas. Conta ainda com um auditório com capacidade para 100 pessoas e uma biblioteca. A Unidade conta atualmente com uma carteira de 29 projetos de pesquisa e transferência de tecnologia. Para execução de seus projetos de pesquisa, em parceria com instituições nacionais e internacionais, a Embrapa Algodão possui oito campos experimentais localizados nos municípios de Monteiro e Patos (Paraíba), Barbalha e Missão Velha (Ceará), Luiz Eduardo Magalhães e Irecê (Bahia), Sinop (Mato Grosso) e Santa Helena (Goiás), além de diversos pontos de pesquisa no Brasil e no exterior.

Enfrentamento ao ‘Bicudo’ Apesar da atuação da Embrapa Algodão em Campina Grande, o setor algodoeiro atravessou sua pior fase de crise no período de 1979 a 1983, quando enfrentou os efeitos de uma prolongada seca. Além dos prejuízos da estiagem, os produtores de algodão ainda tiveram de enfrentar a praga do bicudo, uma espécie de besouro que perfura o botão floral e a maçã do algodoeiro para se ali-

mentar e se reproduzir, depositando seus ovos. Cerca de uma semana após a postura dos ovos, o botão atacado cai. Como esta é uma praga que se reproduz rapidamente, causou um impacto negativo na produção nordestina na década de 1980. Em 1985, a infestação das lavouras de algodão pelo bicudo levou a Unidade a buscar novas alternativas de pesquisa, lançando novas espécies melhoradas de algodão precoce e integrando ao seu portfólio de pesquisa as culturas do amendoim, mamona, gergelim, sisal e pinhão-manso. Na década de 1990, a Embrapa Algodão passou a promover pesquisas para o desenvolvimento de cultivares de algodoeiro adaptadas às condições do Cerrado brasileiro inicialmente no Mato Grosso, depois em Goiás e na Bahia. As pesquisas desenvolvidas na Embrapa Algodão conseguiram criar espécies mais resistentes à praga do bicudo, mas isso não mudou o cenário de concorrência entre os produtores da Paraíba e os de outras regiões do país. “As regiões cotonicultoras mais capitalizadas do Centro-Sul puderam delas se servir e tiveram mais sucesso no combate e na convivência com essa praga que o Sertão e o Agreste paraibanos”, afirma o professor Paulo Sérgio Cunha Farias.

‘Algodão colorido’ abre novas perspectivas de produção A partir dos anos 2000 a Embrapa Algodão começa a lançar as primeiras variedades do algodão naturalmente colorido, produzido através de pesquisas do cruzamento genético entre diferentes tipos de algodão já existentes na região. As tonalidades obtidas pelo melhoramento realizado em Campina Grande vão do verde-claro aos tons de marrom escuro, claro e avermelhado. São cores que voltaram a atrair a atenção do mercado internacional para a produção de Campina Grande.


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presas incubadas residentes são aquelas instaladas na sede da incubadora, enquanto que as empresas incubadas virtualmente são aquelas que recebem os serviços do programa de incubação sem precisar se instalar no espaço físico da incubadora, podendo inclusive estar situadas noutro estado. Todo o processo está dividido em quatro etapas, com duração de três anos, podendo ser prorrogado por seis meses, dependendo do nível de maturidade da empresa ao final do período. A primeira é a fase de pré-incubação, com duração de seis meses, que consiste na formalização e planejamento do empreendimento. Em seguida, vêm as fases de incubação propriamente dita para o desenvolvimento do produto ou serviço, teste do produto ou serviço e, por fim, a fase de comercialização do produto ou serviço e consolidação do empreendimento no mercado. Cada fase tem um tempo médio estipulado de um ano. Os projetos precisam passar por um processo seletivo para que possam receber apoio da incubadora de empresas.

Vocação para Tecnologia da Informação O setor de Tecnologia da Informação (TI) foi um dos que mais recebeu apoio da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) ao longo de sua história. De acordo com a assessoria de imprensa da entidade, cerca de 50% dos empreendimentos qualificados pela Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG) pertence a esse segmento, o que evidencia a vocação das instituições acadêmicas locais para o desenvolvimento de produtos de TI, em sinergia com as tendências de

Incubadora apoia empresas inovadoras mercado. Apesar do destaque dos empreendimentos voltados às novas tecnologias de informação e comunicação, o PaqTcPB também fomenta iniciativas inovadoras em outras áreas de atuação econômica, com projetos nos setores de Eletroeletrônica, Petróleo e Gás Natural, Bicombustíveis, Agroindústria, Tecnologias Ambientais, Design entre outros serviços especializados.

CITTA vai abrigar 52 novos empreendimentos Em outubro de 2013, foi inaugurado o Centro de Inovação e Tecnologia Telmo Araújo (CITTA), instituição que vai articular projetos inovadores em áreas estratégias e oferecer espaços físicos com estrutura para a instalação de laboratórios e empresas. O CITTA irá atuar de forma cooperativa com as empresas consorciadas e demais organizações do Nordeste, formando parcerias, inclusive, para captação de recursos para a região.

O Centro vai oferecer espaço para a instalação de 52 empreendimentos, em uma área total de 15,9 mil metros quadrados. Por enquanto, está funcionando apenas a parte administrativa do empreendimento, mas a expectativa é de que o CITTA deverá atrair cerca de R$ 100 milhões em novos investimentos. Pelo menos 38 empreendimentos já demonstraram interesse em se integrar ao polo tecnológico. “O CITTA vai possibilitar que as nossas empresas conquistem novas fronteiras para o nosso Estado. Esse Centro vai trazer um ambiente que chamamos de sistema de negócios inovadores, onde os empreendimentos vão se instalar e prestar serviços em Tecnologia da Informação”, avaliou Francilene Garcia, diretora-geral da Fundação PaqTcPB. O CITTA vai atuar na implantação de serviços inteligentes autossustentáveis às empresas da região e aos governos estaduais e municipais para apoiar os processos de inovação, além de garantir oferta de instalações e outras facilidades de infraestrutura, como comunicação e logística para as empresas inovadoras consorciadas. Outra meta do Centro é possibilitar a organização de serviços de informação tecnológica às empresas, governos e universidades da região e estimular o surgimento de empreendimentos. O CITTA será responsável ainda por realizar estudos, projetos e pesquisas orientados à geração, apropriação e compartilhamento de conhecimentos necessários à promoção de inovações tecnológicas, bem como mapear tecnologias de domínio público e de baixo custo para promoção de empreendimentos inovadores com orientação social.

Fetec: Feira de Tecnologia atraía 20 mil pessoas Durante 10 anos, uma feira de tecnologia atraiu as atenções da população de Campina Grande, aproximando o cidadão comum das pesquisas e inovações desenvolvidas nos laboratórios das universidades instaladas no município. Era a Fetec, evento que chegava a atrair em média um público de até 20 mil pessoas a cada edição, popularizando a cidade como importante polo de ciência e tecnologia da região Nordeste. A Fetec começou em 1988. Um dos principais idealizadores da feira foi o professor e engenheiro Telmo Cartazes da Fetec faziam alusão ao futuro com a tecnologia cnologiaa Araújo, falecido em 2007, e que na época era diretor da Fundação Parque e feiras recebiam milhares de visitantes em cada edição. d Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB). O local escolhido para abrigar o evento A Fetec se expandiu e a partir da segunda edijá demonstrava o interesse em aproximar os cientistas ção, em 1989, passou a ser realizada na casa de shows da população. A primeira edição foi realizada na Pirâ- Spazzio, contando com um espaço maior para abrigar mide do Parque do Povo, espaço inaugurado dois anos mais expositores e visitantes. A exposição já contava antes como palco do Maior São João do Mundo. Foram com pesquisadores e inventores de várias instituições três dias de evento, de 30 de outubro a 01 de novembro. do Nordeste e de outras partes do país. “No começo, a feira era só local, com pesquisadoA feira se internacionalizou, expondo produtos res aqui de Campina Grande, mas depois cresceu, atrain- e inovações desenvolvidos em outros países. Em 1989, do universidades de todo o país. Desde o início era aber- durante a segunda edição, foi realizada em Campina ta ao público e atraía muita gente. Já na primeira edição Grande, juntamente com a Fetec, o Seminário sobre tínhamos filas enormes. Lembro que a feira acontecia na Comércio Exterior e Cooperação Tecnológica InternaPirâmide do Parque do Povo e a fila ia até a rua Treze de cional. A dimensão que o evento tomou fez com que a Maio, perto do Parque do Açude Novo”, relembra Maria Feira de Campina Grande fosse incluída no calendário Helena Silva, atualmente coordenadora de projetos do de eventos do Itamaraty, Ministério das Relações ExtePaqTcPB e que integrou a equipe de coordenação execu- riores. tiva da Fetec, durante as 11 edições da feira. Além de estudantes e professores de cursos de

Primeira sala de aula de Campina Grande foi criada em 1822 C

ampina Grande se destaca atualmente como polo educacional e tecnológico. Mas o início do desenvolvimento do ensino básico na cidade começou a passos lentos e de forma acanhada. A primeira sala de aula da ‘Rainha da Borborema’ só foi criada em 1822, ano da Independência do Brasil. A vila criada havia 32 anos já tinha uma Câmara Municipal, fórum e cadeia, mas faltava um educandário. As primeiras escolas primárias da Paraíba surgiram no final do período colonial, em 6 de abril de 1822. A Coroa Portuguesa autorizou a criação de apenas 12 escolas para todo o interior da província e só uma delas foi destinada aos campinenses. O primeiro professor da rede pública de Campina foi Antonio José Gomes Barbosa. Mas o modelo de escola era diferente do que conhecemos atualmente, conforme explica o historiador Josemir Camilo. “Não se tratava de escolas (prédios), mas de salas de aula que qualquer um que se julgasse apto podia ter em casa. No Império, não se chamava de escola e sim ‘cadeiras’. O professor se chamava mestre-escola e ensinava todas as séries numa sala só”, explica. Com a Independência, a situação não mudou. O Imperador Pedro I instituiu o ensino primário em 15 de outubro de 1827, determinando a criação de “escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos mais populosos do Império”. Mas, na prática, manteve o modelo estabelecido desde o Brasil Colônia. A manutenção das escolas passou a ser responsabilidade das províncias a partir de 1834. Segundo ILUSTRAÇÃO WILLIAM MEDEIROS

graduação e pós-graduação das áreas de engenharia e informática, a Fetec atraía, também, empresas de base tecnológica e órgãos de apoio à pesquisa e fomento ao empreendedorismo. A última edição da Fetec, nesse formato, aconteceu em 1998, com o tema ‘Educação e Tecnologia’. Nos anos 2000 e 2002, foram realizadas a primeira e a segunda edições da Exposição de Tecnologia (Expotec), evento paralelo ao Congresso de Ciência e Tecnologia. O congresso tinha um perfil mais direcionado ao público acadêmico, com palestras e seminários, oferecendo um espaço menor para a exposição de produtos e eventos. Ainda na década de 2000, a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq) promoveu a Fetec Jovem, evento com formato parecido ao modelo anterior, mas direcionado principalmente para a exposição de trabalhos desenvolvidos no âmbito das escolas de ensino fundamental, médio e técnico.

Elpídio de Almeida, no livro ‘História de Campina Grande’, a mudança piorou ainda mais a situação do ensino, devido à escassez de recursos. “As unidades de menores posses, como a Paraíba, tinham de levar o ensino irregularmente, com avanços e recuos, obedecendo às oscilações das rendas públicas”, afirmou. Em 1835, foram criadas aulas de latim em Campina e em mais outras cinco localidades da Paraíba, contemplando também a Vila Nova de Sousa e as vilas de Pombal, Brejo da Areia, Mamanguape e Pilar. Foram criadas também aulas de primeiras letras em Campina Grande e nas povoações de São José, da Vila Nova de Sousa, Catolé do Rocha, da de Pombal, Santa Luzia, Patos, Congo, São João e Boa Vista.

Meninas ganham direito de estudar em 1857 As meninas não tinham o direito de estudar na cidade até 1849, quando conquistaram o direito de se matricular. Mas as primeiras escolas femininas só foram criadas na Paraíba em 1857, sendo instaladas aos poucos. Até 1863, já havia 15 educandários específicos para mulheres em toda a província. Campina recebeu uma dessas escolas, provida pela professora Maria Carolina Cabral de Vasconcelos. Mas o educandário feminino de Campina durou pouco. Foi fechado em 1861, sob a justificativa de que havia a necessidade de cortar gastos. Prevalecia ainda a divisão entre meninos e meninas, que não podiam conviver juntos no mesmo ambiente escolar. A primeira sala de Clementino Procópio

A figura autoritária do ‘mestre-escola’ Também começaram a surgir em Campina Grande salas de aula fundadas por particulares, mantidas através do pagamento de mensalidades. Mas o ensino privado do final do século XIX mantinha uma metodologia rígida, onde o papel do professor era exercido pela figura do ‘mestre-escola’ e o processo de transmissão de conhecimentos era feito de forma autoritária. Era a época da palmatória e dos castigos físicos. “A base do ensino da época estava centrada na figura autoritária do professor, na verdade um mestre-escola, a exemplo do século XIX, que usava estratégias duras de controle dos alunos. O uso da palmatória ou régua, a separação por sexos, os ditados e exercícios decorados, como a tabuada, podem se distinguir como sendo as principais características do processo educativo da época”, afirma o historiador Bruno Gaudêncio. Um dos mais conhecidos professores desta fase foi Clementino Procópio, personagem que dá nome a uma das praças do centro da cidade. Ele fundou o Colégio São José em 05 de julho de 1872, situado nas proximidades da área onde fica atualmente o Estádio Presidente Vargas, no bairro de São José. Na década de 1910, vários educandários foram inaugurados com modelos parecidos. Entre 1915 e 1917 funcionou na cidade o Instituto Spencer, sob a responsabilidade do professor José Otávio de Barros. Em 1917, o professor Mauro Luna, ex-aluno de Procópio, funda o Instituto Olavo Bilac. Em 1920 também foi criado o Instituto São Sebastião, empreendimento do professor e poeta Anézio Leão.

aula mista do município só foi criada em 1894, sendo regida pela professora Auta Leite, que ficou na função até 1912.

Estrutura das primeiras escolas era precária

A qualidade do ensino em Campina continuou precária durante todo o século XIX, recebendo poucos investimentos do poder público. Indícios sobre a falta de estrutura estão registrados em um relatório da Câmara Municipal, que criou, em 1887, uma comissão de vereadores para avaliar as condições dos serviços de educação que, na época, estavam sob a responsabilidade do governo provincial. O relatório apontava para a ausência de uma sede própria para instalar salas de aula, falta de móveis e de livros para as crianças, que também não recebiam vacinação. Não havia o controle da frequência escolar e a documentação era precária. Na época, a cidade tinha apenas duas escolas primárias: uma masculina e outra feminina. Segundo o relatório, os pais reclamavam da qualidade do ensino e começaram a matricular os filhos em salas de aula privadas, que surgiram a partir de 1878. O desenvolvimento econômico no início do século XX não trouxe melhorias para o ensino. Mesmo com o aumento da população, Campina Grande contava com apenas três professores primários no ensino público para o atendimento de ambos os sexos no ano de 1919, mesmo número de docentes desde 1857.

SECAS

A falta de recursos para a educação se agravava em tempos de seca, gerando o fechamento de várias escolas públicas mantidas pelo governo provincial. Se o ensino recebia poucos investimentos em épocas de fartura, nos períodos de crise era um dos primeiros setores a sofrer com cortes de gastos. Durante a seca de 1877, cerca de 43,7% das escolas que funcionavam na Paraíba fecharam as portas. Dos 107 educandários


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Solon de Lucena

Parque Tecnológico

o primeiro grupo escolar de Campina

30 anos de atuação em Campina Grande

A

s salas de aula para o ensino primário continuaram funcionando em espaços improvisados até que em 1924 foi inaugurado o primeiro Grupo Escolar de Campina Grande. O objetivo era reunir em um único prédio várias salas de aula e organizar o modelo de ensino a partir da divisão em séries, formando turmas com uma mesma faixa etária, nível de conhecimento e currículo. A meta era modernizar o ensino público. O educandário foi batizado inicialmente de Grupo Escolar Campina Grande, mas depois recebeu o nome ‘Solon de Lucena’, em homenagem ao presidente da Paraíba responsável pela obra. Antes da ‘Rainha da Borborema’, outros três municípios do estado já tinham sido contemplados com a construção de grupos escolares: a capital (na época chamada de Parahyba), Itabaiana e Guarabira. O Solon de Lucena foi o oitavo estabelecimento deste tipo a ser instalado na Paraíba e se manteve como o único Grupo Escolar de Campina Grande até 1937, quando começou a funcionar o Grupo Escolar Clementino Procópio. A política de instalação de grupos escolares no Estado começou com a Reforma da Instrução Primária da Paraíba, regulamentada em 1917. Mas a adoção do modelo já vinha sendo discutida no estado desde 1908, quando o estado vizinho do Rio Grande do Norte instalou seu primeiro Grupo Escolar. O objetivo era criar estruturas estatais com hierarquia própria para superar o modelo precário das chamadas ‘cadeiras isoladas’. O modelo anterior continuou existindo mesmo após a criação do Grupo Escolar. Em 1926 ainda existiam 16 ‘cadeiras isoladas’ ou ‘escolas rudimentares’ na cidade. Mas já no primeiro ano de funcionamento, em 1925, o Solon de Lucena possuía 210 alunos matriculados. Até 1924, nenhum estabelecimento público de ensino tinha capacidade para matricular mais do que 80 estudantes. A instalação de grupos escolares privilegiava as localidades que já estavam em processo de urbanização e desenvolvimento econômico. De acordo com a reforma de instrução de 1917, os grupos escolares deveriam ser criados nos lugares que apresentassem pelo menos três escolas em funcionamento, sendo compostos ao menos por uma escola mista e outras duas escolas divididas por cada sexo.

Demolição do Mercado Velho

O mercado velho chegou a ser considerado uma “construção suntuosa”, segundo relato de Cristino Pimentel no livro ‘Pedaços da História de Campina Grande’. Durante muito tempo, a feira era realizada diante deste estabelecimento, até que o comércio de cereais foi transferido para a antiga rua Seridó, atual Maciel Pinheiro. A partir de então, o Mercado Velho passou a ser uma espécie de cortiço, onde pequenos comerciantes e ciganos pernoitavam. A substituição do ‘mercado velho’ pelo grupo escolar estava inserida no projeto de urbanização na área central da cidade realizado nas primeiras décadas do século XX, destruindo um edifício do período colonial para dar luO Solon de Lucena surgiu com a modernização do ensino público gar a uma estrutura moderna de educação. O projeto do grupo escolar também apresentava traços arquitetônicos imponentes, com o projeto do arquiteto italiano Hermenegildo Di Lascio. CONSTRUÇÃO A construção do Grupo Escolar foi acelerada e estima-se que durou apenas nove meses. A obra começou em 7 HISTÓRIA de janeiro de 1924 e foi finalmente inaugurada com muitas O prédio do Grupo Escolar Solon de Lucena manfestividades em 12 de outubro do mesmo ano. Além das so- teve-se vinculado à educação durante toda sua história, lenidades oficiais de praxe, houve ainda desfiles com alunos mesmo depois da desativação do educandário no local. O do Liceu Paraibano, do Colégio Diocesano, além da partici- edifício também foi a primeira sede da escola politécnica, pação dos estudantes da cidade e da população local. abrigou a Fundação Universitária do Nordeste (Furne) e O local escolhido foi a área onde funcionou duran- durante vários anos foi o endereço da reitoria da Univerte cerca de um século um mercado de cereais que per- sidade Estadual da Paraíba (UEPB). As obras do acervo do tencia ao comerciante Baltazar Luna. O lugar conhecido Museu de Artes Assis Chateaubriand também ficaram abricomo ‘mercado velho’ foi demolido para dar lugar ao So- gadas neste prédio, que atualmente pertence à Fundação lon de Lucena. Furne, entidade privada vinculada a serviços de educação.

Memórias de quem estudou no Solon de Lucena As memórias da infância nas salas de aula do primeiro grupo escolar de Campina Grande continuam vivas nas lembranças de quem estudou no antigo Solon de Lucena. A rigidez da disciplina imposta pelos professores e a elevada qualidade de ensino estão entre as principais marcas deixadas nas recordações de quem aprendeu as primeiras letras no educandário que marcou época na cidade. É o que conta a aposentada Teresinha Gomes de Oliveira, que ingressou no Solon de Lucena aos sete anos de idade. Atualmente aos 82 anos, ela ainda se emociona ao lembrar das aulas no Solon de Lucena. “Tenho muita saudade daquele tempo. Lembro do meu pai indo me pegar na escola e das brincadeiras no pátio. O ensino era muito bom e todo mundo queria estudar no Solon de Lucena”, relata. Apesar da temida palmatória já ter sido abolida no Grupo Escolar, Dona Teresinha se recorda da autoridade dos professores. “Era uma ordem muito grande e todos tinham respeito. Quando a gente chegava, ficava em fila no pátio e só entrava na sala depois de cantar o Hino Nacional. O diretor chamava turma por turma e a gente ia em formação para as salas”, garante. As turmas já eram mistas. Meninos e meninas conviviam junTeresinha Gomes de Oliveira tos na sala de aula, mas eram separados na hora do recreio. “A gente brincava na parte de trás, que na época tinha um pátio, e os meninos noutro pátio ao lado. Tentaram juntar uma época, mas não deu certo porque os meninos queriam judiar com a gente”, relembra aos risos. Dona Teresinha estudou durante três anos no Solon de Lucena, no período entre 1938 e 1941, quando cursou o primário.

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á 30 anos, Campina Grande despontava mais uma vez no cenário nacional da inovação com a criação do Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB). Desde então, a entidade promove o diálogo entre as pesquisas desenvolvidas nas universidades instaladas na cidade e o mercado empresarial, garantindo viabilidade econômica aos projetos criados nos laboratórios. Para que o projeto da Fundação PaqTcPB se tornasse realidade, foi fundamental a atuação do engenheiro pesquisador campinense Lynaldo Cavalcanti, na época presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A ideia veio da Inglaterra, por sugestão do professor Zuhair Warwar, na época assessor da presidência do CNPq. Ele apresentou a Lynaldo Cavalcanti o modelo dos “science parks” adotados na Inglaterra, que consistia na criação de espaços empresariais nas universidades, promovendo a pesquisa e o desenvolvimento de projetos. A proposta era lançar no Brasil um programa semelhante, visando estimular o desenvolvimento tecnológico e alavancar a economia do país. Lynaldo Cavalcanti levou a proposta adiante e decidiu adotar inicialmente o critério de criar um parque tecnológico para cada região do país. Com isso, ele inseriu Campina Grande no roteiro do Programa de Implantação de Parques Tecnológicos do CNPq. A cidade foi escolhida para receber um dos quatro primeiros parques tecnológicos do Brasil, juntamente com São Carlos-SP, Manaus-AM e Santa Maria-RS. Foram escolhidas cidades com perfil promissor, mas que estavam fora dos maiores centros de pesquisa do país, por isso a preferência por cidades localizadas em regiões do interior, com exceção de Manaus, onde se pretendia unir a pesquisa com os incentivos fiscais da Zona Franca. Campina garantiu as condições para receber o projeto não apenas pela infraestrutura e a presença de universidades com tradição em pesquisa, mas também pelo apoio de instituições locais à proposta trazida por Lynaldo Cavalcanti. Logo no início da fase de implantação, a iniciativa contou com a adesão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Banco do Estado da Paraíba (Paraiban) e Federação das Indústrias da Paraíba (FIEP), além dos governos estadual e municipal. A Fundação Parque Tecnológico da Paraíba foi então criada oficialmente em 21 de dezembro de 1984. A entidade começou a funcionar inicialmente em um dos andares do prédio da Fiep, cedido para abrigar o novo empreendimento. Em seguida, o ‘parque’ passou a contar com um prédio alugado, onde funcionava a ‘encubadora de empresas’. Na década de 1990, o PaqTcPB finalmente passou a funcionar em sede própria, construída pelo Governo do Estado em um terreno cedido pela prefeitura no bairro de Bodocongó, nas proximidades das universidades estadual e federal. Em 2009, Lynaldo Cavalcanti escreveu um artigo para as comemorações dos 25 anos do PacTcPB destacando o papel desempenhado pela entidade no fomento à inovação e ao empreendedorismo. “A meu ver, a Fundação Parque Tecnológico da Pa-

Sede do PaqTcPB: modelo inspirado nos “science parks” da Inglaterra raíba se configura no cenário nacional como uma instituição seriamente voltada para o avanço científico, tecnológico e para a promoção do empreendedorismo inovador na Paraíba, promovendo a articulação entre parceiros, as várias cadeias do conhecimento e as atividades produtivas, buscando sempre novas formas de atrair e fixar competências no Estado e, por isso, altamente comprometida com o desenvolvimento local e regional”, afirmou o idealizador do PaqTcPB. Ele morreu em janeiro de 2011, aos 78 anos.

Incubadora apoiou 98 empresas A partir do segundo ano de funcionamento, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba criou, em 1986, o programa de Incubação de Empresas Nascentes Inovadoras, com o objetivo de apoiar o surgimento e desenvolvimento de novos empreendimentos. A incubadora de empresas do PaqTcPB oferece, desde então, apoio técnico e empresarial para garantir que as ideias inovadoras desenvolvidas nas universidades locais tenham maiores chances de sucesso para se manter no mercado competitivo do mundo da tecnologia. Ao todo, 98 empresas receberam o apoio Programa Primeira Empresa Inovadora (PRIME) durante toda a trajetória da Incubadora de Empresas do PaqTcPB. Atualmente, o programa possui 13 empresas sendo incubadas, sendo cinco empresas residentes e outras oito incubadas virtualmente. Há ainda 18 empresas associadas atualmente, atingindo um total de 82 empresas associadas durante toda a trajetória da incubadora do PaqTcPB. Para o engenheiro Alexandre Moura, presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado da Paraíba, a atuação do Parque Tecnológico da Paraíba foi fundamental para transformar Campina Grande em um polo educacional e tecnológico, aproximando

universidade e mercado empresarial. “Esse é o alicerce do negócio, ter uma base universitária. Nenhum dos países que conseguiram despontar na área tecnológica teria obtido esse resultado sem uma universidade forte. A universidade gera ciência e tecnologia, mas é preciso fazer uma distinção entre elas. A tecnologia só é desenvolvida quando aplicada em empresas. São elas que transformam a ideia em um produto que vai ter espaço na vida das pessoas”, afirma Alexandre Moura, que também atua como empresário do setor de tecnologia da informação. No início de 2004, a Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG) firmou parceria com o SEBRAE Paraíba, se tornando a instituição responsável pela execução das ações de implantação de novas incubadoras no interior do Estado da Paraíba. Começava então uma ação ousada de “incubação de incubadoras”, onde a ITCG passou a apoiar, também, a criação e implementação de novas incubadoras de base tradicional em municípios do semiárido paraibano. A meta é valorizar as suas vocações e potencialidades da região com a inovação tecnológica no processo de desenvolvimento dos produtos, agregando valor à comercialização dos produtos por inovação nos processos produtivos, e apoiando sua inserção no mercado. As novas incubadoras fazem parte da Rede Paraíba de Incubadoras (REPARI), coordenada pela Fundação PaqTcPB; essa inserção tem garantido o compartilhamento de conhecimentos e de ações para desenvolvimento de novos produtos e acesso a mercado.

Como funciona? O Programa de Incubação funciona em duas modalidades: incubação residente e incubação virtual. Em-


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UFCG: da federalização ao desmembramento A

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) foi criada oficialmente em 2002, mas sua história traz o legado das primeiras instituições de ensino superior da ‘Rainha da Borborema’, criadas ainda na década de 1950. Sua origem se dá a partir da instalação da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) e da Escola Politécnica (Poli), instituições pioneiras instaladas pela Prefeitura e pelo Governo do Estado e que posteriormente passaram a ser administradas pelo Governo Federal. O processo de federalização começou ainda na década de 1960, quando foi criada a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) no governo do então presidente Juscelino Kubitschek. A nova instituição foi instalada a partir da aprovação e promulgação da Lei Federal nº 3.835, que entrou em vigor em 13 de dezembro de 1960. A UFPB incorporava inicialmente a estrutura da Universidade da Paraíba, criada pelo Governo do Estado na capital João Pessoa, e da Face em Campina Grande. Tanto a Universidade da Paraíba quanto a Face foram criadas em 1955, mas a faculdade campinense só começou a funcionar de fato no ano de sua federalização. A Escola de Agronomia de Areia também foi integrada à UFPB. Posteriormente foi a vez da Escola Politécnica

passar a integrar o patrimônio da União, incorporando-se à UFPB na década de 1970. Foi a partir daí que a Universidade Federal passou a funcionar no endereço da Avenida Aprígio Veloso, no bairro de Bodocongó, onde funcionava desde 1959 a Escola Politécnica. A sede própria da Poli se transformava com a federalização em campus II da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), condição em que se manteve por mais de 25 anos. “A inauguração do edifício que hoje abriga o Centro de Humanidades da UFCG, em 1962, coincidiu com a criação do curso de Sociologia e Política, que daria um tom de engajamento e espírito crítico ao campus campinense, numa época efervescente da vida nacional”, afirma o sociólogo Márcio Caniello, atual secretário de Planejamento da Prefeitura de Campina Grande e professor da UFCG. O terreno onde foi construída a sede própria da Politécnica havia sido doado à instituição de ensino superior pela Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica (Fundact), órgão de fomento à educação e fomento ao ensino superior criado pela prefeitura em 1957. O projeto arquitetônico original para a Escola Politécnica foi elaborado em 1959 pelo Arquiteto Heitor Maia Neto. A inspiração para os traços do projeto e divisão dos espaços veio da Faculdade Católica de Pernambu-

Proposta de desmembramento surge em 1975 Já na década de 1970 começaram a surgir os primeiros debates sobre a proposta de criação de uma Universidade Federal de Campina Grande a partir do desmembramento com a UFPB. A primeira iniciativa oficial neste sentido partiu do deputado Otacílio Nóbrega de Queiroz em 1975, quando o parlamentar apresentou um projeto de lei propondo a criação da ‘Fundação Universidade Federal de Campina Grande’. A proposta de Queiroz era promover o desmembrando e criar uma nova universidade federal a partir da união entre o campus II da UFPB e a Universidade Regional do Nordeste (URNE), instituição precursora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Mas o projeto não vingou, ficando sem sair do papel. A ideia foi reeditada pelo deputado Aluízio Campos em 1984, com o diferencial de que a Universidade de Campina Grande deveria incluir os campi da UFPB instalados no Sertão do estado. Dessa vez, a proposta chegou a ser amplamente discutida entre o sindicato docente da instituição. Uma nova propositura com o mesmo objetivo foi apresentada ainda pelo deputado Evaldo Gonçalves em 1989. Porém os projetos de Otacílio, Aluízio e Evaldo alcançaram pouca repercussão no Congresso Nacional e não foram adiante. De acordo com o professor Márcio Caniello, a gestação da UFCG começaria efetivamente em 1992, durante o governo do ex-presidente Fernando Collor. Nesta época, o Governo Federal nomeou uma comissão da Secretaria Nacional de Educação Superior (SENESU), órgão vinculado ao Ministério da Educação, para realizar um estudo de viabilidade sobre o desmembramento. No término dos

trabalhos, a comissão recomendou o desmembramento, chegando a afirmar que a divisão não implicaria em aumento de despesas significativo. A repentina aceitação da proposta teria sido estimulada pela articulação de políticos paraibanos vinculados ao então Partido da Frente Liberal (PFL), que apoiaram a candidatura de Collor à presidência. Mas se foi uma aliança política que deu força ao desmembramento, também seria a política a responsável por adiar mais uma vez a criação da UFCG. O impeachment de Collor adiou os planos. Apesar da tentativa frustrada, a recomendação da comissão gerou uma mobilização em torno da proposta, principalmente devido a algumas reivindicações da comunidade acadêmica local. Segundo Caniello, havia um sentimento de exclusão em relação ao centro das decisões na universidade e uma crescente insatisfação com a partilha dos recursos humanos e orçamentários na instituição. A articulação só voltaria a ganhar força em 1995, quando um grupo de professores do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) recolocou o tema em pauta em uma carta aberta ao reitor pedindo o desmembramento. O então reitor Neroaldo Pontes formou uma comissão para discutir a proposta e, após debates intensos entre defensores de posições divergentes, esta comissão decidiu pela viabilidade do desmembramento. O relatório favorável elaborado pela comissão foi enviado ao Ministério da Educação. O projeto ficou engavetado em Brasília por cerca de seis anos, até que se concretizou ao final do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando de uma só vez foram criadas cinco universidades federais no país, entre elas a UFCG.

co, que também havia sido projetada por Heitor Maia Neto. O custo da obra estava estimado em dois milhões de cruzeiros e a construção deveria ser executada em duas etapas. Entretanto, a estrutura grandiosa imaginada pelo arquiteto para a Politécnica nunca saiu completamente do papel e os vários setores de salas de aula e outros ambientes acadêmicos não chegaram a ser construídos como o previsto. Foi construído apenas o prédio que no projeto original deveria ser destinado especificamente ao setor administrativo e que acabou incorporando as atividades de ensino. Trata-se do prédio onde atualmente funciona o Centro de Humanidades da UFCG, numa área conhecida por estudantes e professores como ‘Hall das Placas’. TRADIÇÃO Outro marco na história da instituição foi a criação do curso de Engenharia Elétrica em 1963, que mais tarde se tornaria reconhecido nacional e internacionalmente pela excelência no ensino e pelo desenvolvimento de pesquisas inovadores na área de tecnologia. A tradição de excelência ganha fôlego principalmente a partir da criação do mestrado em engenharia elétrica, já na década de 1970.

Instituição ‘multicampi’ Na época do desmembramento, em 2002, a UFCG já nasceu com uma estrutura multicampi, abrangendo outros três campi oriundos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As estruturas que pertenciam à UFPB na região do Sertão do estado passaram a fazer parte da nova instituição, integrando Patos, Sousa e Cajazeiras ao projeto da Universidade Federal de Campina Grande. Em números, a instituição já contava com 29 cursos de graduação, dois doutorados e sete mestrados no período de sua criação. Nos anos seguintes, a instituição se expandiu com a criação de mais três campi nos municípios de Cuité, Pombal e Sumé. Atualmente, a UFCG conta com mais de 16 mil alunos matriculados em seus 67 cursos de graduação. Na pós-graduação, são 816 mestrados e 642 doutorandos, distribuídos em 31 cursos de pós-graduação, sendo 20 de mestrado e 11 de doutorado. Em seu corpo técnico, a universidade conta com 1.371 professores e 1.539 técnicos-administrativos. A instituição conta ainda com várias políticas de assistência estudantil, com programas voltados a reduzir as desigualdades socioeconômicas entre os graduandos, contribuindo para a melhoria do desempenho acadêmico. São oferecidas quase quatro mil bolsas acadêmicas, quatro mil refeições gratuitas diárias e 600 vagas nas residências universitárias. A Universidade Federal de Campina Grande é hoje uma referência para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, da educação, das artes e da cultura, em virtude de sua capacidade em desenvolver e articular dinâmicas de ensino, pesquisa e extensão, envolvendo as mais variadas áreas do conhecimento humano.

Do Grêmio de Instrução aos colégios particulares A

educação em Campina ainda não era tratada como prioridade na transição entre os séculos XIX e XX. Até mesmo quem podia pagar não tinha muitas opções para oferecer um ensino de qualidade aos filhos. Diante da falta de investimentos, um grupo de moradores decidiu fundar a primeira escola de ensino secundário da cidade. Surgia em 1899 o Grêmio de Instrução, que funcionou por apenas três anos. A ideia era criar uma agremiação onde os sócios contribuíssem com os custos. Começava uma mobilização entre a elite campinense para levar o empreendimento adiante. O Grêmio agregou 93 sócios fundantes, que pagaram a primeira mensalidade no ato de formalização da sociedade. Além de oferecer o ensino secundário, os fundadores decidiram que o novo educandário deveria estimular as artes cênicas. O lugar escolhido para o Grêmio foi um prédio em construção na então chamada “Rua dos Armazéns”, atual Marquês do Herval. Apesar de inacabado, o imóvel era o único com espaço e tamanho para abrigar as salas de aula. Cristiano Lauritzen, que construiu o prédio quando intendente, concordou em doar o imóvel desde que o prefeito João Lourenço Porto concluísse a obra. O acordo foi feito e as aulas começaram. Mesmo com bons resultados, o Grêmio de Instrução conseguiu sobreviver por apenas três anos. Ao final de 1901, entrou em crise quando alguns dos principais professores deixaram a cidade. O prédio a ser utilizado para outros fins e suas salas de aula foram desativadas. Lá funcionou, em 1909, o Cinema Brasil, até que a decadência do lugar fizesse com que a estrutura fosse transformada em depósito de algodão.

CAD e o Grêmio Passadas quase três décadas após o fechamento do Grêmio de Instrução, o tradicional prédio da Avenida Marquês do Herval voltaria a receber salas de aula em 1930. No mesmo local funciona até os dias atuais o mais antigo estabelecimento de ensino particular de Campina Grande, o Colégio Alfredo Dantas. O educandário foi fundado em 1919 pelo tenente Alfredo Dantas, com o nome de ‘Instituto Pedagógico’. No início, funcionava na Rua Barão do Abiaí. Oferecia o curso primário além de cursos preparatórios para o ingresso dos alunos nos cursos secundários, que funcionavam nos colégios públicos do estado. O Instituto foi transferido para o prédio do antigo Grêmio em 1930. O imóvel pertencia ao município e foi cedido sob autorização do então presidente do estado, João Pessoa. Em 1943, muda de nome, quando passa a se chamar ‘Ginásio Alfredo Dantas’, em homenagem ao fundador. Só em 1950 recebe o nome mantido até os dias atuais: Colégio Alfredo Dantas (CAD). A partir da grande reforma concluída em 1974, o prédio passa a ter a fachada atual, mantendo-se os tradicionais leões na entrada.

Tenente Alfredo Dantas com a mulher, Yara

Professor Severino Loureiro em 1950

Fachada do Colégio Alfredo Dantas depois da reforma, em 1974

‘Gigantão da Prata’ marcou época O mais tradicional colégio público de Campina Grande, o Estadual da Prata, começou a funcionar em 1953, após seis anos de obras. Foi o primeiro da cidade a oferecer gratuitamente o ensino secundário, equivalente ao atual ensino médio. Antes dele, apenas quem tinha condições financeiras para pagar as mensalidades de um dos colégios privados da cidade poderia avançar nos estudos. Logo no primeiro ano de funcionamento, cerca de 800 alunos se matricularam. Pelo tamanho da sua estrutura física, bem como pela importância para a cidade, o colégio passou a ser popularmente chamado de ‘Gigantão da Prata’, uma espécie de apelido carinhoso. A construção começou em 1947, na gestão do governador

Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Melo, mas só foi concluída no governo de José Américo de Almeida. A inauguração aconteceu em 31 de janeiro de 1953, ainda com o nome de ‘Colégio Estadual de Campina Grande’. Anos mais tarde, com o aumento do número de escolas estaduais, o nome oficial mudou. O ‘Gigantão’ passou a ser chamado de Escola Estadual Elpídio de Almeida, em homenagem ao ex-prefeito. Nomes de destaque do cenário local e até nacional passaram pelo ‘Gigantão’, A exemplo da cantora Elba Ramalho e do jornalista José Nêumanne Pinto, além de diversos políticos, empresários, profissionais liberais, professores e artistas, entre outros tantos cidadãos comuns que construíram a história do colégio.

O Colégio Estadual da Prata começou a funcionar em 1953


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Colégios católicos surgem em 1931

IBM1130, o primeiro computador do Norte-Nordeste (1968)

O Colégio das Damas era assim chamado por só aceitar meninas

As mudanças no modelo de educação se aprofundam em 1931 com a fundação de dois colégios católicos em Campina. O primeiro foi o Colégio Imaculada Conceição, mais conhecido como ‘Colégio das Damas’, por só aceitar meninas. Inaugurado em março daquele ano, o educandário foi uma solicitação do Arcebispo Dom Adauto de Miranda Henriques. O nome era uma homenagem à padroeira da cidade. Um mês depois, surge o segundo colégio católico, desta vez direcionado apenas para meninos. O padre José Delgado fundou em 7 de abril de 1931

Fachada do Colégio Pio XI, já desativado. No alto, seu fundador, o Padre José Delgado

o Colégio Diocesano Pio XI, inicialmente situado na Igreja Matriz. No ano seguinte, o educandário foi transferido para um prédio na Rua João Pessoa doado por José Joaquim da Costa Leite. O espaço era grande e em 1951 o acesso ao prédio do colégio pela Rua João Pessoa foi fechado, abrindo uma nova entrada pela Avenida Getúlio Vargas. Damas e Pio XI, juntamente com o Alfredo Dantas, estabeleceram o padrão do ensino particular na cidade, segundo o historiador Bruno Gaudêncio. “Estes colégios foram os modelos para o ensino das

elites. O crescimento da qualidade de ensino com a incorporação de novas tendências pedagógicas e formas didáticas vão fazer com que as antigas escolas de ensino primário acabem quase instantaneamente”, revela. Não é por acaso que em 1932 fecham as portas os colégios São José, do professor Clementino Procópio e do Instituto Olavo Bilac, pertencente a Mauro Luna. O Colégio Pio XI funcionou até 2004, quando encerrou as atividades devido a uma grave crise financeira. Damas e CAD continuam funcionando.

O 7 de setembro no ano do centenário Em 1964, quando Campina Grande comemorava seu centenário, o Brasil entrava num período de 21 anos de governos de exceção. No 7 de setembro daquele ano, o desfile do Colégio Estadual da Prata foi narrado pela professora ELIZABETH MARINHEIRO, também autora desse texto, que resgatamos aqui como lembrança daquela época. 1º PELOTÃO– Eis que surge o Colégio Estadual da Prata com seus alunos vestindo a farda que guarda as cores de sua origem: o cáquidos humildes beneficiários da coisa pública e o verde esperançoso das líderes estudantis. Os alunos, neste momento, pisam as ruas centenárias numa reverência a que a Cidade faz jus. 2º PELOTÃO– Abrindo o desfile, a graça da menina-moça. Uma bailarina que revolunteia e baila, paira e esvoaça! 3º PELOTÃO– Homenagem ao Governador Pedro Gondim. Se Cícero e Camões iluminaram a inteligência através dos séculos, o humanista Pedro Gondim prodigaliza Educação à mocidade serrana. 4º PELOTÃO– A pérgola simbólica conduz a beleza da mulher paraibana: duas alunas aplaudem a multidão que as aplaude! 5º PELOTÃO– Surge agora a Banda Marcial do Colégio, composta por cem alunos e assemelhando-se aos fuzileiros navais: fraque estilizado e acessórios dourados. Na frente, a Guarda Bandeira parece anunciar as alegorias que se seguem. Um trabalho do Prof. Djalma Andrade (Manga-Rosa). 6º PELOTÃO– A placa piramidal conota as revoluções nacionais na História de Campina Grande. Os ouvintes deduzirão que a Rainha da Borborema não foi teatro de lutas e sim actante significativo em todos os movimentos revolucionários que sacudiram a alma brasileira, nos mo-

mentos em que percebeu vacilantes seus sentimentos de Ordem e Progresso. Este foi o ano de 1817, protagonizado pelo Padre Virgínio Campelo, traduzido na alegoria idealizada pela Profa. Noanita Dantas. 7º PELOTÃO– O ano é 1824. Campina acolhe Frei Caneca e seu impetuoso ideal nacionalista. Aqui, esteve prisioneiro, mas recebeu o calor da generosidade campinense, metaforizada pelo preto que, no presídio, entregou-lhe as vestes para que recuperasse a liberdade e prosseguisse sua romaria libertária. O mártir desfila em carro alegórico, vigiado por oito sentinelas. 8º PELOTÃO– Observem as medidas que os alunos trazem. É o ano de 1874. Cansados das difíceis relações comerciais, em virtude da multiplicidade de medidas, os brasileiros adotaram o sistema métrico decimal, elaborado por matemáticos franceses, dando-lhe caráter internacional e apelando para a dimensão do quadrante terrestre. Os campinenses rebelaram-se: eclode o movimento de QUEBRA-QUILOS. E quarenta alunos conduzem os pesos e medidas da época. 9º PELOTÃO– A ilustre Princesa não temeu os perigos para o trono em 1888: sacudiu para sempre as algemas ignominiosas do negro brasileiro. Campina aplaude o gesto principesco! Cativos do SURRÃO e do SOSSEGO gritavam, entre lágrimas de alegria e gratidão: SOMOS LIVRES! Viva a REDENTORA! E quebram suas algemas em frente à Comissão Julgadora dos Desfiles! 10º PELOTÃO– O republicano Irineu Jofily surge em carro alegórico portando a ‘GAZETA DO SERTÃO’, de 1889. Belos carros alegóricos executados por técnicos do Teatro Severino Cabral, pelas professoras Wanda Elizabeth e Maria Lima. 11º PELOTÃO– 1930! Campina “nega” com João Pessoa. E trinta alu-

nos - vestidos de perrepistas e liberais, com a bandeirinha vermelha do “NEGO” e carabinas de madeira – cantam o Hino revolucionário diante do Palanque oficial. É Campina apoiando o veto à candidatura de Julio Prestes proferido por João Pessoa! E os perrepistas, acabrunhados, conotam o amargor da derrota... 12º PELOTÃO– Campina parte para a Itália, no ano de 1944, em defesa do Brasil. Lá vem a “COBRA FUMANDO”! São os autênticos Expedicionários que lutaram na Itália e, convidados pelo casal Dalvanira/ Raimundo Gadelha, vieram defender também o ideário do “Gigantão”. Entre os PRACINHAS, uma criação de Dalvanira Gadelha: alunas com o uniforme das Enfermeiras! Curvemo-nos, portanto, a estes HERÓIS NACIONAIS! 13º PELOTÃO– Sob o aplauso da multidão, Mariza Cabral, ao estilo grego, é metáfora da Constituição. Gigantescos estandardes trazem as fotos dos Estadistas Argemiro de Figueiredo, José Joffily e W. Wanderley, os quais são delirantemente aplaudidos. 14º PELOTÃO – Contei com o auxílio do casal Odeth/Theodomiro, das professoras Lourdes, Marques, Edeltrudes Andrade, Inês de Castro e do Major Cipriano para maior brilho do pelotão das FORÇAS ARMADAS. Pleno 1964... Um pelotão com nove alas semantizam a Marinha, a Aeronáutica e o Exército. Aplaudamos a ação democrática do Governador Pedro Gondim e a voz campinense que se alevanta na Câmara dos Deputados: Deputado Vital Do Rego! Ao reproduzirem o jogo das espadas, frente ao Palanque Oficial, o Pelotão é consagrado! Não esqueçam, campinenses, que camponeses e policiais presentificam-se, neste Desfile, alegoricamente...

Isso aconteceu em 1973, em decorrência da Reforma Cêntrica criada pelo Ministério da Educação (MEC), que buscou instituir uma estrutura padrão para as instituições públicas de ensino no país. O processo de transição de Escola para Centro só se completou em 1976, ano em que foi transformada em Centro de Ciências e Tecnologia (CCT). E a Faculdade de Ciências Econômicas – FACE, em Centro de Humanidades. Os dois Centros do então campus II, da Universidade Federal da Paraíba. A Escola Politécnica da Paraíba foi criada como instituição estadual de ensino superior e conseguiu apoio político para se transformar em instituição federal de ensino superior. A federalização proporcionaria mais recursos financeiros para o ensino: implementar a expansão de cursos, aumento e qualificação de seu quadro de professores e técnicos, mais recursos e, consequentemente, melhoria da qualidade de formação de seus engenheirandos. Todavia, esse projeto só teria viabilidade se lograsse unir a bancada paraibana no Congresso Federal. Para tanto, fazia-se necessário atender aos diferentes interesses em jogo das duas principais cidades do Estado: João Pessoa e Campina Grande. Para isso, a proposta inicial que se restringia à federalização da Escola Politécnica foi ampliada para a inclusão da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE), de Campina Grande, e mais oito instituições de ensino superior de João Pessoa em uma única instituição: a Universidade Federal da Paraíba, que teria como sede a cidade de João Pessoa. Negociados os interesses em jogo, foi criada a Universidade Federal da Paraíba, pela Lei nº 3.385, de 13/12/1960, no Governo de Juscelino Kubitschek.

Atualidade em iniciativas de desenvolvimento É possível afirmar que o imaginário identitário da cidade de Campina Grande como o lugar do progresso e da prosperidade ajudava no favorecimento de um ambiente propício e bastante receptivo às ideias desenvolvimentistas do governo JK. Um governo que propagava a visão desenvolvimentista e a necessidade da sociedade brasileira consolidar as práticas democráticas, e angariava simpatias pelas promessas dos resultados das ações desenvolvimentistas empreendidas. Era, pois, um ambiente, um clima de discussão de ideais e projeção de prosperidade para o país. Na Escola Politécnica e na cidade discutia-se muito política. Não a política partidária, que não permitia maiores opções de escolha, mas a política refe-

rente às ideias de progresso e desenvolvimento econômico. O grupo dirigente mobilizava os setores sociais não somente em relação às iniciativas para o êxito da Politécnica, a meta era a referência na formação de profissionais das engenharias, mas também contribuir para atender às demandas por mão-de-obra qualificada no âmbito local e regional. A Politécnica atraiu para Campina Grande estudantes de outras cidades e de outros estados, mais estudantes para as escolas de ensino médio, e empreen-

dimentos decorrentes das expectativas geradas por essa instituição de ensino superior. A discussão política, portanto, centrava-se na busca de solução para os problemas da cidade, que ansiava por progresso, desenvolvimento econômico e prosperidade. Enquanto a sociedade buscava se readaptar ao contexto econômico em que não mais subsistia a riqueza gerada pelo comércio algodoeiro, ao mesmo tempo em que eram pequenos os benefícios econômicos advindos da política desenvolvimentista, as esperanças eram cada vez mais depositadas nos benefícios que a Politécnica traria à cidade. Mas era preciso ampliar as possibilidades de desenvolvimento para Campina Grande. No debate, era predominante a visão da industrialização como saída e resposta aos problemas. Nesse período, foram criadas, em praticamente todos os estados da federação, instituições de estudo, planejamento, empreendimento de ações voltadas para o desenvolvimento (então entendido como crescimento econômico): a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica (FUNDACT), a Companhia Municipal de Desenvolvimento (COMUDE), a empresa de saneamento de Campina Grande, chamada Saneamento de Campina Grande Sociedade Anônima (SANESA) e o Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial (FAGRIN). Também foram iniciativas desse grupo dirigente a criação da Faculdade de Medicina de Campina Grande (1965), e particularmente de Edvaldo de Souza do Ó as iniciativas de criação do Museu de Arte Assis Chateaubriand (1967) e a Universidade Regional do Nordeste - FURNE (1968).

Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, uma das principais personalidades da política científica e tecnológica do século XX, compôs com destaque o grupo dirigente no quesito idealizador e empreendedor. Ao assumir a direção da Escola Politécnica em 03/01/1964, em substituição a Antônio da Silva Morais, empreendeu um conjunto de iniciativas que levaram essa instituição à excelência. Criou novos cursos de graduação, cursos de especialização e de pós-graduação em nível de Mestrado. Sendo sua mais decisiva contribuição à Politécnica e região a coordenação do processo heroico de aquisição do primeiro computador da região Norte-Nordeste, em 1967. Campina Grande possuía um dos cinco computadores existentes em todo o Brasil. Foi uma grande ousadia a compra do IBM 1130, tendo para isso enfrentado a oposição do Reitor da UFPB de então, Guillardo Martins. A aquisição do IBM 1130 significou para a Escola Politécnica o desafio de estar na mesma condição que as principais instituições de ensino e pesquisa do Brasil da época. O desafio era o mesmo: conhecer aquela área de conhecimento que estava se formando nos países mais desenvolvidos, produzir conhecimentos que mais tarde se constituiria na Ciência da Computação. O investimen-

to em capacitação dos docentes da Politécnica em Mestrado e Doutorado nos centros de excelência do Brasil, Estados Unidos e Europa foi fundamental para que os cursos de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação contribuíssem para Campina Grande se tornar, a partir dos anos 1980, uma referência em tecnologia e produção de software, chegando a ganhar a alcunha de cidade high tech, ou seja, cidade em que existe e se produz alta tecnologia, ou tecnologia de ponta. A gestão de Lynaldo Cavalcanti como Reitor da UFPB (1976-1980), assim como sua gestão na Presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (1980-1985), e liderança no processo de criação dos parques tecnológico no país, especialmente a criação do Parque Tecnológico da Paraíba (1984), instituição fundamental às iniciativas em ciência e tecnologia, incubação de empresas, empreendedorismo, especialmente na área de tecnologia da informação. A atuação e visão de futuro de Lynaldo Cavalcanti foram decisivas para o alcance da excelência na qualidade de ensino, pesquisa e extensão das universidades em todo país, da Universidade Federal da Paraíba, e especialmente, da hoje denominada Universidade Federal Campina Grande.


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Furne consolida Campina Grande como

Campina Grande

polo universitário

espaço da educação, ciência e tecnologia Rosilene Dias Montenegro, Fábio Ronaldo da Silva e José Valmi Oliveira Torres

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ampina Grande é desde os anos 1980 polo educacional no Estado da Paraíba e, a partir dos anos 2000, polo educacional na região Nordeste. Estudantes de toda a Paraíba, de Estados do Nordeste e de outras regiões do país têm vindo estudar na Serra da Borborema, atraídos pela variedade e qualidade de ensino dos cursos de graduação e pós-graduação. Muitos desses cursos são reconhecidos pelas instituições avaliadoras nacionais e internacionais como referências e/ou excelência na qualidade da formação de estudantes. Para isso, contribuem de forma fundamental três grandes e importantes instituições públicas de ensino superior na cidade: Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e Instituto Federal da Paraíba (IFPB). Além da UFCG, da UEPB e do IFPB, há na cidade mais 14 instituições privadas de ensino superior; 72 instituições de ensino médio, sendo 21 escolas privadas; 596 instituições de ensino fundamental, sendo 125 escolas privadas. As políticas governamentais para o ensino superior contribuíram enormemente para a expansão e fortalecimento do ensino superior privado. Mas, para a expansão das instituições de ensino em Campina Grande, foi igualmente fundamental existir nessa cidade uma tradição. Construída ao longo de décadas, essa tradição tem uma história que envolve pessoas, grupos dirigentes, instituições e que fazem de Campina Grande não somente cidade high tech – cidade que produz alta tecnologia ou tecnologia de ponta – mas também polo educacional, cuja atividade tem produzido grande e favorável impacto econômico e contribuído, sem dúvida, para a atração de investimentos que passam pelo setor de serviços, construção civil, setor imobiliário, dentre outros. Essa condição econômica da Serra da Borborema, bastante favorável e que mantém em alta a tendência de desenvolvimento, tem uma história em que foram criadas algumas das condições para a pujança da cidade. É sobre partes dessa história que levou a cidade a ser referência em ciência e tecnologia, instituições e personagens que contribuíram para este processo que falaremos a seguir.

Localização geográfica privilegiada Campina Grande está situada no planalto da Borborema, região do Agreste paraibano, entre o Sertão e a capital paraibana, a 340 km da cidade de Cajazeiras, fronteira com o Estado do Ceará, e a 127 km de João Pessoa, capital da Paraíba, no Litoral do estado, sendo passagem obrigatória para a capital e uma das principais vias de comunicação com rodovias estaduais e nacionais. Essa localização geográfica tem historicamente beneficiado a cidade. Em seus primórdios, foi ponto de parada e repouso dos tropeiros, comerciantes que viviam entre o Sertão e o Litoral transportando no lombo de animais produtos como farinha, milho, feijão, açúcar, rapadura, cachaça, e peles de animais. Os tropeiros fi-

somente nos anos 1950, mas para os próximos cinquenta anos. Desse grupo que chamaremos grupo dirigente, representaram os interesses da educação e tecnologia as seguintes pessoas: Antônio da Silva Morais, José Marques de Almeida Jr, Edvaldo de Souza do Ó (que se revelaria um dos maiores empreendedores da história de Campina Grande) e José Lopes de Andrade, que foram os fundadores da Escola Politécnica da Paraíba. Pouco depois, esse grupo foi ampliado pela inclusão de Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque e José Stênio Lucena Lopes. Uma das principais e conhecidas iniciativas desse grupo dirigente foi a criação da Escola Politécnica da Paraíba, instituição que contribui, dentre outros, para a consolidação do ensino superior na cidade.

A Escola Politécnica da Paraíba – instituição de excelência

Escola Politécnica da Paraíba no prédio onde hoje funciona a sede dos cursos de artes da Furne. Da esquerda para a direita, Luis Eduardo é o segundo e Mauro Diógenes o quarto zeram de Campina Grande local de parada, tendo contribuído para o desenvolvimento econômico da cidade e, principalmente, para a construção do imaginário que elege os tropeiros como elemento que personifica uma identidade de vocação para o comércio, determinação e ousadia frente aos desafios. De parada para os tropeiros passando por polo algodoeiro, condição que ocupou entre 1910 e 1960, a cidade enriqueceu. Nos anos trinta o comércio já era vigoroso, atraindo investidores, empresários, banqueiros, comerciantes de cidades e estados vizinhos, além de empresas internacionais como a SANBRA e a Anderson Clayton, todos interessados em realizar negócios e se estabelecendo na cidade.

Grupo dirigente: empreendedorismo, ousadia e determinação Provavelmente percebendo o fim do período auge do comércio algodoeiro, membros das elites campinenses (empresários, políticos, profissionais liberais, intelectuais) buscaram soluções à ampliação do desenvolvimento econômico da cidade. É nesse momento da história de Campina Grande que surge um grupo de pessoas que idealizariam e realizariam os empreendimentos que seriam a base do desenvolvimento dessa cidade, não

A Escola Politécnica da Paraíba foi a primeira instituição de ensino superior da cidade de Campina Grande a alcançar a consolidação de seu projeto educacional. Foi criada pela Lei nº 792 de 6/10/1952 e sancionada pelo então governador da Paraíba, José Américo de Almeida (1951-1956), atendendo à reivindicação de um grupo de cidadãos campinenses, representados pelo grupo dirigente mencionado. Foi esse grupo que sonhou, idealizou e projetou para Campina Grande uma instituição de ensino superior na área tecnológica que iniciaria com o curso de Engenharia Civil. À reunião que criou a Escola Politécnica da Paraíba estiveram presentes o sociólogo José Lopes de Andrade, então Chefe de Gabinete do Governador José Américo de Almeida; o professor Milton Paiva, diretor do Colégio Estadual Dr. Elpídio de Almeida (mais conhecido como Colégio da Prata); os técnicos e engenheiros Antônio da Silva Morais, José Marques de Almeida Junior, Austro de França Costa e Giuseppe Gióia; e o então estudante de Economia Edvaldo de Souza do Ó. Havia ainda os generais José Oliveira Leite e Vinícius Londres da Nóbrega, representando os interesses dos grupos pessoenses na política de ensino superior para o Estado da Paraíba, contrários à criação da Escola Politécnica, mas vencidos pelo voto da maioria. A Escola Politécnica da Paraíba funcionou na cidade de Campina Grande de outubro de 1952 a dezembro de 1976. Nesse breve tempo, tornou-se uma das instituições de referência no ensino de Engenharia Civil e Engenharia Elétrica de todo o Norte Nordeste. A princípio, funcionou no prédio da antiga Escola Solon de Lucena, na Av. Floriano Peixoto, onde atualmente funciona o Museu de Artes Assis Chateaubriand. Depois mudou-se para um setor das dependências do Colégio Estadual da Prata e somente em 1959 se instalou em sede definitiva, na rua Aprígio Veloso, Bodocongó, atual bairro Universitário. Em 1970, a Escola Politécnica tornou-se campus II da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com o desmembramento da UFPB, foi criada a Universidade Federal de Campina Grande, através da Lei nº 10.419.

Sede da Furne funcionou durante muitos anos no prédio do antigo Solon de Lucena

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m dos principais marcos do desenvolvimento do Ensino Superior em Campina Grande foi a criação da Universidade Regional do Nordeste (Urne) em 1966, administrada pela Fundação Universidade Regional do Nordeste (Furne). A instituição foi uma iniciativa da prefeitura municipal e agregou faculdades isoladas já existentes para formar a primeira universidade do município. A partir da Furne, Campina Grande se consolidava como polo de ensino superior, atraindo um número cada vez maior de estudantes vindos de outras cidades do interior do Nordeste. A história da Urne/Furne começa em 1965, quando o economista Edvaldo do Ó e o sociólogo Lopes de Andrade entregam ao então prefeito de Campina Grande, Williams Arruda, um diagnóstico do ensino superior na cidade, defendendo a importância da ampliação desse setor para o desenvolvimento da região. A cidade já contava com duas faculdades da UFPB, a Escola Politécnica e a Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Funcionavam ainda duas particulares que foram rejeitadas pela UFPB para se federalizar: a faculdade Católica de Filosofia, criada em 1949 pela Diocese, e a Escola de Serviço Social, fundada em 1957 pela Congre-

gação das Religiosas de São Vicente de Paula, mas que só viria a funcionar de fato a partir de 1960. Em 15 de fevereiro de 1966, o prefeito Williams Arruda envia mensagem à Câmara com Projeto de Lei que cria a Universidade Regional do Nordeste, inicialmente chamada de URN e posteriormente de URNE. Apesar do nome com caráter regional, a nova instituição era vinculada à prefeitura de Campina Grande e desde o início dispunha de autonomia “financeira, administrativa e disciplinar”, como previa o projeto encaminhado pelo prefeito ao legislativo campinense. No início, a medida foi alvo de críticas devido à escassez de recursos dos municípios. Arruda rebatia as críticas por considerar a criação da universidade estratégica para a região. “Sem o imediato amparo à expansão das atividades básicas nesse setor, sobretudo pela formação de pessoal especializado para as tarefas de alto nível, diretamente comprometido no esforço local e regional, e extraordinário surto de progresso de Campina Grande verificado nas três últimas décadas, sofrerá inevitável estrangulamento, a exemplo de outras cidades”, ponderou o prefeito em discurso transcrito no livro ‘Williams de

Sousa Arruda: Política e Educação na Criação da FURNE’, escrito pelo historiador Josemir Camilo. Para gerir financeiramente a nova universidade de forma autônoma, Williams Arruda criou a Fundação Universitária do Nordeste (Furne), que seria presidida pelo reitor da Urne, nomeado pelo prefeito. Na prática, a Furne seria a entidade mantenedora na instituição de ensino. A prefeitura transferiu em seguida o patrimônio da FUNDACT para a Furne. A FUNDACT era a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica, que atuou durante quase 10 anos no fomento ao ensino superior na cidade. Ela foi criada em dezembro de 1957 pelo prefeito Elpídio de Almeida. Na primeira reunião do Conselho Universitário da Furne, em abril de 1966, Williams Arruda foi escolhido para ser o primeiro reitor da Furne, tendo como vice o economista Edvaldo do Ó, que acabou assumindo a reitoria três meses depois. A gestão municipal cria, então, em 1966 as Faculdades de Ciências da Administração e de Química, e no ano seguinte acontece o primeiro vestibular da Urne. Ainda em 1967, a Furne assume a Faculdade de Direito, que pertencia até então ao Instituto João Clímaco Ximenes,


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que funcionava no prédio da Igreja Congregacional, no centro da cidade. A aula inaugural foi do Arcebispo Dom José Maria Pires, em 06 de março de 1967. No mesmo ano, foi organizada uma “missão cultural” da Furne pela Europa, visando estabelecer contatos para futuros intercâmbios, visitando instituições de ensino superior em Portugal, França, Alemanha, Bélgica, Itália e Espanha. A fundação receberia ainda a visita do Ministro da Educação, Tarso Dutra, que chegou a propor a federalização da instituição. “No entanto, como esse processo passava pelas mãos do Ministro do Planejamento, esse resolveu consultar o Governador João Agripino, que pedira tempo para se pronunciar. O processo de federalização envolvia, além da Furne, a Poli, a Face e a Escola de Agronomia de Areia”, conta o historiador Josemir Camilo. Os dirigentes das demais instituições foram contrários à federalização da Furne. Em 29 de setembro de 1967, a Furne criou o Museu de Artes Assis Chateaubriand, com acervo doado pelo jornalista paraibano, homenageado com o nome da nova entidade. O reitorado de Edvaldo do Ó durou até 10 de abril de 1969, quando foi cassado pela intervenção militar, que tomou as rédeas da administração municipal com a nomeação do General Manoel Paz de Lima como interventor. “É provável que essa tríplice ocupação de cargos, por Williams Arruda, mesmo que provisória, tenha sido cobrada pela interventoria militar, que usaria de expedientes semelhantes para justificar a cassação do reitor, Edvaldo do Ó”, afirma o historiador Josemir Camilo, em seu livro sobre Williams Arruda.

Trajetória marcada por crises Em 1968 a Furne passa pela primeira crise financeira, gerada por problemas de repasses de verbas federais, que teriam sido cortadas em cerca de 60%. “A crise não seria maior porque o prefeito Arruda repassou logo as verbas destinadas ao período do ano que se iniciava”, conta Josemir Camilo. Edvaldo do Ó Com a intervenção federal na Furne, a crise se agrava. Edvaldo do Ó é cassado da reitoria e assume o cargo o ‘reitor interventor’ José Geraldo de Araújo. A decisão feria a autonomia universitária, administrativa e institucional da Furne. Como justificativa para a intervenção, alegava-se má administração e ausência de documentos, o que nunca chegou a ser comprovado e nenhuma irregularidade fora encontrada. A Furne muda de rumo a partir de 1973, quando Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque e Luiz José de Almeida assumem a direção da instituição nos cargos de reitor e vice-reitor respectivamente. A nova administração passou a contar com maior auxílio do Ministério da Educação e apoio financeiro de outras entidades governamentais, amenizando a crise e garantindo uma maior estabilidade institucional. Esse período de reestruturação durou até 1976, período em que houve uma expansão da universidade.

Modelo inspirado na UNB A Urne se organiza inicialmente seguindo os moldes da Universidade Nacional de Brasília (UNB), tida na época como padrão para as demais no país. Williams Arruda solicita, em 1966, apoio ao então reitor da UNB, Laerte Ramos de Carvalho, anunciando que enviaria um emissário a Brasília para observar o funcionamento da instituição que serviria de referência para a universidade campinense. A UNB era considerada por Arruda a única universidade moderna do Brasil, ligada a um modelo de desenvolvimento com o qual as universidades conservadoras não possuíam relação direta. A influência era percebida desde o estatuto da Furne, formatado tendo como base as diretrizes adotadas na UNB. A Universidade era estruturada em um modelo formado por Institutos Centrais, as Faculdades e as unidades complementares. Os institutos eram responsáveis por coordenar

os cursos desde os básicos até a pós-graduação, enquanto as faculdades tinham o papel de oferecer ensino voltado para o treinamento profissional. A Furne seguiu este modelo, instalando inicialmente cinco institutos e oito faculdades. Funcionavam os institutos de Ciências Básicas, Humanas, Geociências, Letras e Artes. Integravam a Furne as faculdades de Filosofia, Direito, Serviço Social, Odontologia, Arquitetura e Urbanismo, Química e Administração. A criação da Furne iniciou o processo de reversão do fluxo de jovens que migravam para a capital ou para cidades como Recife para ingressar em um curso superior. Campina Grande passava então a ser um centro de ensino que atraía estudantes oriundos de várias outras cidades do interior, chegando a rivalizar com a capital nesse quesito, ampliando as oportunidades de acesso ao ensino superior.

Os personagens centrais na criação da Furne Três personagens se destacam no processo de criação da Furne e com isso marcaram sua participação no desenvolvimento do ensino superior em Campina Grande. Edvaldo do Ó, Williams Arruda e Lopes de Andrade foram os idealizadores da instituição criada na década de 1960 e que, mais tarde, daria origem à atual Universidade Estadual da Paraíba. O economista Edvaldo de Souza do Ó nasceu em 1928, filho de Isaías Souza do Ó, importante comerciante de algodão. Foi secretário municipal de educação nas gestões dos prefeitos Elpídio de Almeida e Plínio Lemos entre as décadas de 1940 e 1950. Idealizou o projeto de instalar em Campina Grande uma Faculdade de Economia, que passou a funcionar onde até pouco tempo ficava o curso de administração da UEPB, na avenida Getúlio Vargas. Edvaldo do Ó também foi fundador das faculdades de Direito e de Administração, exercendo papel decisivo na criação da Furne, onde exerceu o cargo de reitor, e do Museu de Artes Assis Chateaubriand. Ele também criou a Bolsa de Mercadoria da Paraíba, sendo nomeado seu presidente pelo então governador do Estado, Ivan Bichara Sobreira. Além da atuação acadêmica, também se envolveu com o esporte, chegando a ser presidente dos dois principais clubes da cidade: Treze e Campinense. Em 1988, candidatou-se ao cargo de prefeito pelo Partido Trabalhista Renovador (PTR), ficando na quarta posição com

apenas 2.070 votos, o equivalente a 2,02% do total de votos válidos. Enfrentou neste pleito o ex-prefeito Williams Arruda, um de seus parceiros na criação da Furne. Arruda foi o candidato menos votado, com 577 votos. O advogado Williams Arruda nasceu em Campina Grande em 10 de fevereiro de 1922. Concluiu o curso de Direito em Recife e, ao voltar para Campina Grande, foi eleito vereador de 1959 a 1963. Foi eleito vice-prefeito na chapa de Newton Rique em 1963, que foi cassado no início da gestão, logo após o golpe de 1964. O vice Williams só conseguiria assumir a prefeitura em Williams Arruda outubro de 1964, após recorrer à justiça. Além de fundar a Furne, foi o responsável pela criação da Companhia de Eletricidade da Borborema (Celb) e a Telingra, empresa de telefonia. Tendo como prioridade a educação, inaugurou 24 escolas primárias. José Lopes de Andrade nasceu no dia 28 de julho de 1914, em Queimadas, na época distrito de Campina Grande. Cursou Ciências Sociais em Recife e exerceu vários cargos na gestão pública, como Secretário da Prefeitura de Campina Grande e Chefe da Casa Civil do Governador José Américo de Almeida. Ao voltar a Campina Grande, retomou a função de Professor, sendo um dos fundadores da Faculdade de Ciências Econômicas de Campina Grande e da Furne (atual UEPB). Foi colunista durante muitos anos no jornal Diário da Borborema e membro da Academia Paraibana de Letras, até a data de sua morte, em 13 de abril Lopes de Andrade de 1980, no Rio de Janeiro.

Da estadualização à expansão lutas e conquistas da UEPB, de 1987 a 2014 A

história da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) está diretamente relacionada à história recente de Campina Grande. Não bastasse ter sido originada enquanto sucessora da Universidade Regional do Nordeste (URNE), e estadualizada no mesmo dia em que a ‘Rainha da Borborema’ completava mais um ano de existência (11 de outubro de 1987), a UEPB também herdou de Campina Grande a busca por se constituir enquanto um polo de referência educacional para o interior da Paraíba e da região Nordeste. Desse modo, com a estadualização da URNE, por intermédio da Lei N.º 4.977, de 11 de outubro de 1987, a Paraíba ganhou, de forma atípica no cerne dos estados brasileiros, uma universidade que tem como sede não a sua capital, João Pessoa, mas sim uma cidade interiorana. Cidade essa que, ao seu destaque frente ao interior nordestino nos campos comercial, industrial e hospitalar, buscava, no final da década de oitenta, acrescer e ampliar sua influência no âmbito da educação.

A busca pelo reconhecimento No período pós-estadualização, a comunidade universitária mostrava grande esperança com relação aos novos caminhos a serem construídos pela UEPB. Essa esperança estava relacionada tanto à estadualização em si quanto à vitória obtida na luta para torná-la realidade. Os estudantes guardavam mais expectativas com relação aos novos destinos da Universidade, visto que a gratuidade do ensino tornou possível que milhares de alunos que não teriam condições de pagar para cursar o ensino superior pudessem ingressar na UEPB, fazendo o acesso à universidade se tornar também mais democrático, apesar das desigualdades de oportunidades que marcavam – e ainda marcam – a sociedade brasileira e que se encontravam em demasiado acentuadas nos fins dos anos oitenta e durante os anos noventa. Buscando atingir essas expectativas, a universidade iniciou a reestruturação do seu arcabouço acadêmico, em especial no tocante à implantação de uma nova organização administrativa, sendo o surgimento de diversas Pró-Reitorias uma das marcas dessa fase. Apesar desse esforço, faltava ainda para a instituição, literalmente, a obtenção do seu reconhecimento por parte do Governo Federal, que era almejado pela comunidade acadêmica da URNE desde 1973, quando a instituição obteve sua autorização para funcionar. Seriam vinte e três anos de tentativas, mais que o dobro do tempo gasto geralmente para uma universidade obter esse documento, que representa uma certidão de maioridade para uma IES. O reconhecimento foi conquistado em 1996, durante o reitorado do Prof. Itan Pereira, mediante um grande esforço de adaptação da UEPB às recomendações estabelecidas pelo Ministério da Educação. Para a obtenção do Reconhecimento, apesar dos poucos recursos de que dispunha, a UEPB teve que se reestruturar internamente. Para que fosse, por exemplo, atendido um dos requisitos do MEC e ampliado o número de docentes com mestrado e doutorado, foi iniciada uma campanha por parte da reitoria para procurar por professores que possuíssem

tal titulação, visando sua contratação na condição de Professores Visitantes. Foram contratados muitos mestres e doutores recém pós-graduados ou que tinham acabado de se aposentar noutras universidades, em destaque a UFPB. Em pouco tempo a UEPB passou a ter mais 34% de mestres e doutores em seu quadro, superando em 1% as exigências do MEC. Entre os anos de 1993 e 1996, enquanto o reconhecimento era buscado de forma enfática, a UEPB iniciava alguns processos que iriam se consolidar ainda mais no decorrer dos primeiros anos do século XXI, como a implantação dos Programas de Iniciação Científica (PIBIC) e de Monitoria; abertura de cursos de especialização em variadas áreas, que chegaram ao total de 31 em 1996; elaboração do projeto de criação dos primeiros mestrados da Instituição; aumento do acervo bibliográfico de 48 mil volumes em 1988 para quase 70 mil volumes; ampliação de laboratórios e bibliotecas; reestruturação da Comissão do Concurso Vestibular (COMVEST); elaboração do novo regimento geral e reforma do estatuto no qual o sistema de Faculdades foi substituído pelo de Centros e Departamentos; entre outras ações.

No caminho da autonomia A história da UEPB, assim como a da URNE, foi marcada por grandes crises, relacionadas às dificuldades financeiras e administrativas, e com muita persistência a universidade se manteve erguida diante de todos os problemas que a assombrava. A conquista da estadualização em 1987 não significou o fim dos recorrentes problemas da UEPB, principalmente no que tange ao aspecto financeiro, onde ainda prevaleciam os problemas de salários atrasados, das estruturas físicas precárias e das poucas condições de trabalho. Problemas que acarretavam contínuas greves por parte de professores, servidores e alunos. Na primeira década de sua existência, os passos direcionados ao crescimento eram curtos. Após duas longas greves consecutivas, ocorridas entre os anos de 1996 e 1998, os sindicatos exigiram do governo estadual uma negociação sobre as melhorias das condições de trabalho e dos salários dos professores e técnicos administrativos da UEPB. No final do ano 2000, o comando de paralisação decidiu agir de forma inflexível. Professores, funcionários e alunos acamparam na Assembleia Legislativa com o propósito de forçar o Governo do Estado a um diálogo. Não obtendo o sucesso com essa ação, o Comitê de Greve, liderado pela ADUEPB, decidiu optar de forma radical por um ato de greve de fome. Durante dez dias um grupo de grevistas constituído por professores, alunos e funcionários, liderados pela ADUEPB, se manteve determinado em busca de melhores condições de trabalho. Essa ação de professores e funcionários teve um resultado positivo, pois esta ação foi divulgada na imprensa nacional, bem como na imprensa paraibana, que registrava diariamente os acontecimentos e as tentativas de negociação. Passados dez dias do início da greve, surgiu a pos-

sibilidade de um diálogo entre o sindicato e o governo estadual. Com isso, os professores encerraram a greve de fome, após obter o compromisso, firmado entre os deputados e o governador, de discutir as dificuldades e as estratégias e buscar as melhorias de condições de trabalho para UEPB e seus funcionários. Diante das tentativas sem sucesso e dos acordos entre a Universidade e o poder publico, a ADUEPB acabou levantando a bandeira da autonomia financeira, entendida como a capacidade que uma instituição tem de gerir o seu patrimônio com os seus próprios recursos. Com as eleições para o governo do Estado se aproximando, logo o sindicato da UEPB buscou, a partir do dialogo junto aos candidatos, o compromisso que visava solucionar os problemas ligados à universidade, ligados diretamente à ideia da autonomia financeira. Foi constituída uma comissão formada por representantes do governo e da UEPB, que se reuniram durante vários meses entre os anos de 2003 e 2004, buscando uma proposta que beneficiasse as duas partes. Depois de muitos debates e acordos, foi aprovada e sancionada a Lei nº 7. 643, de 6 de agosto de 2004, que dava autonomia financeira à UEPB. Assim, a autonomia foi uma conquista coletiva de professores, funcionários e alunos. A partir de então, a UEPB passou a ter mais segurança em relação às suas receitas, com um percentual fixo a ser calculado e definido anualmente na elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA). Podemos destacar algumas das conquistas da UEPB após a sua autonomia financeira como: planos de cargos e carreira dos docentes e técnicos-administrativos; quatro novos campi; construção de dois novos museus em Campina Grande (Museu de Arte Popular da Paraíba e Museu Assis Chateaubriand); construção do Campus Avançado do Serrotão; criação de novos cursos de graduação; aumento do número de matriculados na graduação e na pós-graduação; criação de novos cursos de mestrado e doutorado recomendados pela CAPES, assim como de programa de pesquisa e extensão; entre outras ações institucionais. Até as primeiras décadas do século XXI, a UEPB era constituída por quatro campi universitários localizados nos seguintes municípios: Campina Grande (Campus I), Lagoa Seca (Campus II), Guarabira (Campus III) e Catolé do Rocha (Campus IV). Com a conquista da Autonomia Financeira, novos campi foram inaugurados, a partir de 2006: João Pessoa (Campus V), Monteiro (Campus VI), Patos (Campus VII) e Araruna (Campus VIII). Nesse sentido, podemos entender que a autonomia financeira da UEPB permitiu um crescimento não apenas dos campi já existentes, mas também do Estado, que se tornou beneficiado com a construção de novos campi, permitindo o desenvolvimento intelectual e financeiro das cidades em que estão localizados, bem como das cidades circunvizinhas. Com isso, a UEPB se tornou de fato uma universidade estadual, por estar abrangendo os principais polos da Paraíba e com visão de expandir ainda mais para outras cidades. Expansão que tem em Campina Grande como o seu ponto inicial e o seu centro de referência.


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que funcionava no prédio da Igreja Congregacional, no centro da cidade. A aula inaugural foi do Arcebispo Dom José Maria Pires, em 06 de março de 1967. No mesmo ano, foi organizada uma “missão cultural” da Furne pela Europa, visando estabelecer contatos para futuros intercâmbios, visitando instituições de ensino superior em Portugal, França, Alemanha, Bélgica, Itália e Espanha. A fundação receberia ainda a visita do Ministro da Educação, Tarso Dutra, que chegou a propor a federalização da instituição. “No entanto, como esse processo passava pelas mãos do Ministro do Planejamento, esse resolveu consultar o Governador João Agripino, que pedira tempo para se pronunciar. O processo de federalização envolvia, além da Furne, a Poli, a Face e a Escola de Agronomia de Areia”, conta o historiador Josemir Camilo. Os dirigentes das demais instituições foram contrários à federalização da Furne. Em 29 de setembro de 1967, a Furne criou o Museu de Artes Assis Chateaubriand, com acervo doado pelo jornalista paraibano, homenageado com o nome da nova entidade. O reitorado de Edvaldo do Ó durou até 10 de abril de 1969, quando foi cassado pela intervenção militar, que tomou as rédeas da administração municipal com a nomeação do General Manoel Paz de Lima como interventor. “É provável que essa tríplice ocupação de cargos, por Williams Arruda, mesmo que provisória, tenha sido cobrada pela interventoria militar, que usaria de expedientes semelhantes para justificar a cassação do reitor, Edvaldo do Ó”, afirma o historiador Josemir Camilo, em seu livro sobre Williams Arruda.

Trajetória marcada por crises Em 1968 a Furne passa pela primeira crise financeira, gerada por problemas de repasses de verbas federais, que teriam sido cortadas em cerca de 60%. “A crise não seria maior porque o prefeito Arruda repassou logo as verbas destinadas ao período do ano que se iniciava”, conta Josemir Camilo. Edvaldo do Ó Com a intervenção federal na Furne, a crise se agrava. Edvaldo do Ó é cassado da reitoria e assume o cargo o ‘reitor interventor’ José Geraldo de Araújo. A decisão feria a autonomia universitária, administrativa e institucional da Furne. Como justificativa para a intervenção, alegava-se má administração e ausência de documentos, o que nunca chegou a ser comprovado e nenhuma irregularidade fora encontrada. A Furne muda de rumo a partir de 1973, quando Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque e Luiz José de Almeida assumem a direção da instituição nos cargos de reitor e vice-reitor respectivamente. A nova administração passou a contar com maior auxílio do Ministério da Educação e apoio financeiro de outras entidades governamentais, amenizando a crise e garantindo uma maior estabilidade institucional. Esse período de reestruturação durou até 1976, período em que houve uma expansão da universidade.

Modelo inspirado na UNB A Urne se organiza inicialmente seguindo os moldes da Universidade Nacional de Brasília (UNB), tida na época como padrão para as demais no país. Williams Arruda solicita, em 1966, apoio ao então reitor da UNB, Laerte Ramos de Carvalho, anunciando que enviaria um emissário a Brasília para observar o funcionamento da instituição que serviria de referência para a universidade campinense. A UNB era considerada por Arruda a única universidade moderna do Brasil, ligada a um modelo de desenvolvimento com o qual as universidades conservadoras não possuíam relação direta. A influência era percebida desde o estatuto da Furne, formatado tendo como base as diretrizes adotadas na UNB. A Universidade era estruturada em um modelo formado por Institutos Centrais, as Faculdades e as unidades complementares. Os institutos eram responsáveis por coordenar

os cursos desde os básicos até a pós-graduação, enquanto as faculdades tinham o papel de oferecer ensino voltado para o treinamento profissional. A Furne seguiu este modelo, instalando inicialmente cinco institutos e oito faculdades. Funcionavam os institutos de Ciências Básicas, Humanas, Geociências, Letras e Artes. Integravam a Furne as faculdades de Filosofia, Direito, Serviço Social, Odontologia, Arquitetura e Urbanismo, Química e Administração. A criação da Furne iniciou o processo de reversão do fluxo de jovens que migravam para a capital ou para cidades como Recife para ingressar em um curso superior. Campina Grande passava então a ser um centro de ensino que atraía estudantes oriundos de várias outras cidades do interior, chegando a rivalizar com a capital nesse quesito, ampliando as oportunidades de acesso ao ensino superior.

Os personagens centrais na criação da Furne Três personagens se destacam no processo de criação da Furne e com isso marcaram sua participação no desenvolvimento do ensino superior em Campina Grande. Edvaldo do Ó, Williams Arruda e Lopes de Andrade foram os idealizadores da instituição criada na década de 1960 e que, mais tarde, daria origem à atual Universidade Estadual da Paraíba. O economista Edvaldo de Souza do Ó nasceu em 1928, filho de Isaías Souza do Ó, importante comerciante de algodão. Foi secretário municipal de educação nas gestões dos prefeitos Elpídio de Almeida e Plínio Lemos entre as décadas de 1940 e 1950. Idealizou o projeto de instalar em Campina Grande uma Faculdade de Economia, que passou a funcionar onde até pouco tempo ficava o curso de administração da UEPB, na avenida Getúlio Vargas. Edvaldo do Ó também foi fundador das faculdades de Direito e de Administração, exercendo papel decisivo na criação da Furne, onde exerceu o cargo de reitor, e do Museu de Artes Assis Chateaubriand. Ele também criou a Bolsa de Mercadoria da Paraíba, sendo nomeado seu presidente pelo então governador do Estado, Ivan Bichara Sobreira. Além da atuação acadêmica, também se envolveu com o esporte, chegando a ser presidente dos dois principais clubes da cidade: Treze e Campinense. Em 1988, candidatou-se ao cargo de prefeito pelo Partido Trabalhista Renovador (PTR), ficando na quarta posição com

apenas 2.070 votos, o equivalente a 2,02% do total de votos válidos. Enfrentou neste pleito o ex-prefeito Williams Arruda, um de seus parceiros na criação da Furne. Arruda foi o candidato menos votado, com 577 votos. O advogado Williams Arruda nasceu em Campina Grande em 10 de fevereiro de 1922. Concluiu o curso de Direito em Recife e, ao voltar para Campina Grande, foi eleito vereador de 1959 a 1963. Foi eleito vice-prefeito na chapa de Newton Rique em 1963, que foi cassado no início da gestão, logo após o golpe de 1964. O vice Williams só conseguiria assumir a prefeitura em Williams Arruda outubro de 1964, após recorrer à justiça. Além de fundar a Furne, foi o responsável pela criação da Companhia de Eletricidade da Borborema (Celb) e a Telingra, empresa de telefonia. Tendo como prioridade a educação, inaugurou 24 escolas primárias. José Lopes de Andrade nasceu no dia 28 de julho de 1914, em Queimadas, na época distrito de Campina Grande. Cursou Ciências Sociais em Recife e exerceu vários cargos na gestão pública, como Secretário da Prefeitura de Campina Grande e Chefe da Casa Civil do Governador José Américo de Almeida. Ao voltar a Campina Grande, retomou a função de Professor, sendo um dos fundadores da Faculdade de Ciências Econômicas de Campina Grande e da Furne (atual UEPB). Foi colunista durante muitos anos no jornal Diário da Borborema e membro da Academia Paraibana de Letras, até a data de sua morte, em 13 de abril Lopes de Andrade de 1980, no Rio de Janeiro.

Da estadualização à expansão lutas e conquistas da UEPB, de 1987 a 2014 A

história da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) está diretamente relacionada à história recente de Campina Grande. Não bastasse ter sido originada enquanto sucessora da Universidade Regional do Nordeste (URNE), e estadualizada no mesmo dia em que a ‘Rainha da Borborema’ completava mais um ano de existência (11 de outubro de 1987), a UEPB também herdou de Campina Grande a busca por se constituir enquanto um polo de referência educacional para o interior da Paraíba e da região Nordeste. Desse modo, com a estadualização da URNE, por intermédio da Lei N.º 4.977, de 11 de outubro de 1987, a Paraíba ganhou, de forma atípica no cerne dos estados brasileiros, uma universidade que tem como sede não a sua capital, João Pessoa, mas sim uma cidade interiorana. Cidade essa que, ao seu destaque frente ao interior nordestino nos campos comercial, industrial e hospitalar, buscava, no final da década de oitenta, acrescer e ampliar sua influência no âmbito da educação.

A busca pelo reconhecimento No período pós-estadualização, a comunidade universitária mostrava grande esperança com relação aos novos caminhos a serem construídos pela UEPB. Essa esperança estava relacionada tanto à estadualização em si quanto à vitória obtida na luta para torná-la realidade. Os estudantes guardavam mais expectativas com relação aos novos destinos da Universidade, visto que a gratuidade do ensino tornou possível que milhares de alunos que não teriam condições de pagar para cursar o ensino superior pudessem ingressar na UEPB, fazendo o acesso à universidade se tornar também mais democrático, apesar das desigualdades de oportunidades que marcavam – e ainda marcam – a sociedade brasileira e que se encontravam em demasiado acentuadas nos fins dos anos oitenta e durante os anos noventa. Buscando atingir essas expectativas, a universidade iniciou a reestruturação do seu arcabouço acadêmico, em especial no tocante à implantação de uma nova organização administrativa, sendo o surgimento de diversas Pró-Reitorias uma das marcas dessa fase. Apesar desse esforço, faltava ainda para a instituição, literalmente, a obtenção do seu reconhecimento por parte do Governo Federal, que era almejado pela comunidade acadêmica da URNE desde 1973, quando a instituição obteve sua autorização para funcionar. Seriam vinte e três anos de tentativas, mais que o dobro do tempo gasto geralmente para uma universidade obter esse documento, que representa uma certidão de maioridade para uma IES. O reconhecimento foi conquistado em 1996, durante o reitorado do Prof. Itan Pereira, mediante um grande esforço de adaptação da UEPB às recomendações estabelecidas pelo Ministério da Educação. Para a obtenção do Reconhecimento, apesar dos poucos recursos de que dispunha, a UEPB teve que se reestruturar internamente. Para que fosse, por exemplo, atendido um dos requisitos do MEC e ampliado o número de docentes com mestrado e doutorado, foi iniciada uma campanha por parte da reitoria para procurar por professores que possuíssem

tal titulação, visando sua contratação na condição de Professores Visitantes. Foram contratados muitos mestres e doutores recém pós-graduados ou que tinham acabado de se aposentar noutras universidades, em destaque a UFPB. Em pouco tempo a UEPB passou a ter mais 34% de mestres e doutores em seu quadro, superando em 1% as exigências do MEC. Entre os anos de 1993 e 1996, enquanto o reconhecimento era buscado de forma enfática, a UEPB iniciava alguns processos que iriam se consolidar ainda mais no decorrer dos primeiros anos do século XXI, como a implantação dos Programas de Iniciação Científica (PIBIC) e de Monitoria; abertura de cursos de especialização em variadas áreas, que chegaram ao total de 31 em 1996; elaboração do projeto de criação dos primeiros mestrados da Instituição; aumento do acervo bibliográfico de 48 mil volumes em 1988 para quase 70 mil volumes; ampliação de laboratórios e bibliotecas; reestruturação da Comissão do Concurso Vestibular (COMVEST); elaboração do novo regimento geral e reforma do estatuto no qual o sistema de Faculdades foi substituído pelo de Centros e Departamentos; entre outras ações.

No caminho da autonomia A história da UEPB, assim como a da URNE, foi marcada por grandes crises, relacionadas às dificuldades financeiras e administrativas, e com muita persistência a universidade se manteve erguida diante de todos os problemas que a assombrava. A conquista da estadualização em 1987 não significou o fim dos recorrentes problemas da UEPB, principalmente no que tange ao aspecto financeiro, onde ainda prevaleciam os problemas de salários atrasados, das estruturas físicas precárias e das poucas condições de trabalho. Problemas que acarretavam contínuas greves por parte de professores, servidores e alunos. Na primeira década de sua existência, os passos direcionados ao crescimento eram curtos. Após duas longas greves consecutivas, ocorridas entre os anos de 1996 e 1998, os sindicatos exigiram do governo estadual uma negociação sobre as melhorias das condições de trabalho e dos salários dos professores e técnicos administrativos da UEPB. No final do ano 2000, o comando de paralisação decidiu agir de forma inflexível. Professores, funcionários e alunos acamparam na Assembleia Legislativa com o propósito de forçar o Governo do Estado a um diálogo. Não obtendo o sucesso com essa ação, o Comitê de Greve, liderado pela ADUEPB, decidiu optar de forma radical por um ato de greve de fome. Durante dez dias um grupo de grevistas constituído por professores, alunos e funcionários, liderados pela ADUEPB, se manteve determinado em busca de melhores condições de trabalho. Essa ação de professores e funcionários teve um resultado positivo, pois esta ação foi divulgada na imprensa nacional, bem como na imprensa paraibana, que registrava diariamente os acontecimentos e as tentativas de negociação. Passados dez dias do início da greve, surgiu a pos-

sibilidade de um diálogo entre o sindicato e o governo estadual. Com isso, os professores encerraram a greve de fome, após obter o compromisso, firmado entre os deputados e o governador, de discutir as dificuldades e as estratégias e buscar as melhorias de condições de trabalho para UEPB e seus funcionários. Diante das tentativas sem sucesso e dos acordos entre a Universidade e o poder publico, a ADUEPB acabou levantando a bandeira da autonomia financeira, entendida como a capacidade que uma instituição tem de gerir o seu patrimônio com os seus próprios recursos. Com as eleições para o governo do Estado se aproximando, logo o sindicato da UEPB buscou, a partir do dialogo junto aos candidatos, o compromisso que visava solucionar os problemas ligados à universidade, ligados diretamente à ideia da autonomia financeira. Foi constituída uma comissão formada por representantes do governo e da UEPB, que se reuniram durante vários meses entre os anos de 2003 e 2004, buscando uma proposta que beneficiasse as duas partes. Depois de muitos debates e acordos, foi aprovada e sancionada a Lei nº 7. 643, de 6 de agosto de 2004, que dava autonomia financeira à UEPB. Assim, a autonomia foi uma conquista coletiva de professores, funcionários e alunos. A partir de então, a UEPB passou a ter mais segurança em relação às suas receitas, com um percentual fixo a ser calculado e definido anualmente na elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA). Podemos destacar algumas das conquistas da UEPB após a sua autonomia financeira como: planos de cargos e carreira dos docentes e técnicos-administrativos; quatro novos campi; construção de dois novos museus em Campina Grande (Museu de Arte Popular da Paraíba e Museu Assis Chateaubriand); construção do Campus Avançado do Serrotão; criação de novos cursos de graduação; aumento do número de matriculados na graduação e na pós-graduação; criação de novos cursos de mestrado e doutorado recomendados pela CAPES, assim como de programa de pesquisa e extensão; entre outras ações institucionais. Até as primeiras décadas do século XXI, a UEPB era constituída por quatro campi universitários localizados nos seguintes municípios: Campina Grande (Campus I), Lagoa Seca (Campus II), Guarabira (Campus III) e Catolé do Rocha (Campus IV). Com a conquista da Autonomia Financeira, novos campi foram inaugurados, a partir de 2006: João Pessoa (Campus V), Monteiro (Campus VI), Patos (Campus VII) e Araruna (Campus VIII). Nesse sentido, podemos entender que a autonomia financeira da UEPB permitiu um crescimento não apenas dos campi já existentes, mas também do Estado, que se tornou beneficiado com a construção de novos campi, permitindo o desenvolvimento intelectual e financeiro das cidades em que estão localizados, bem como das cidades circunvizinhas. Com isso, a UEPB se tornou de fato uma universidade estadual, por estar abrangendo os principais polos da Paraíba e com visão de expandir ainda mais para outras cidades. Expansão que tem em Campina Grande como o seu ponto inicial e o seu centro de referência.


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Furne consolida Campina Grande como

Campina Grande

polo universitário

espaço da educação, ciência e tecnologia Rosilene Dias Montenegro, Fábio Ronaldo da Silva e José Valmi Oliveira Torres

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ampina Grande é desde os anos 1980 polo educacional no Estado da Paraíba e, a partir dos anos 2000, polo educacional na região Nordeste. Estudantes de toda a Paraíba, de Estados do Nordeste e de outras regiões do país têm vindo estudar na Serra da Borborema, atraídos pela variedade e qualidade de ensino dos cursos de graduação e pós-graduação. Muitos desses cursos são reconhecidos pelas instituições avaliadoras nacionais e internacionais como referências e/ou excelência na qualidade da formação de estudantes. Para isso, contribuem de forma fundamental três grandes e importantes instituições públicas de ensino superior na cidade: Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e Instituto Federal da Paraíba (IFPB). Além da UFCG, da UEPB e do IFPB, há na cidade mais 14 instituições privadas de ensino superior; 72 instituições de ensino médio, sendo 21 escolas privadas; 596 instituições de ensino fundamental, sendo 125 escolas privadas. As políticas governamentais para o ensino superior contribuíram enormemente para a expansão e fortalecimento do ensino superior privado. Mas, para a expansão das instituições de ensino em Campina Grande, foi igualmente fundamental existir nessa cidade uma tradição. Construída ao longo de décadas, essa tradição tem uma história que envolve pessoas, grupos dirigentes, instituições e que fazem de Campina Grande não somente cidade high tech – cidade que produz alta tecnologia ou tecnologia de ponta – mas também polo educacional, cuja atividade tem produzido grande e favorável impacto econômico e contribuído, sem dúvida, para a atração de investimentos que passam pelo setor de serviços, construção civil, setor imobiliário, dentre outros. Essa condição econômica da Serra da Borborema, bastante favorável e que mantém em alta a tendência de desenvolvimento, tem uma história em que foram criadas algumas das condições para a pujança da cidade. É sobre partes dessa história que levou a cidade a ser referência em ciência e tecnologia, instituições e personagens que contribuíram para este processo que falaremos a seguir.

Localização geográfica privilegiada Campina Grande está situada no planalto da Borborema, região do Agreste paraibano, entre o Sertão e a capital paraibana, a 340 km da cidade de Cajazeiras, fronteira com o Estado do Ceará, e a 127 km de João Pessoa, capital da Paraíba, no Litoral do estado, sendo passagem obrigatória para a capital e uma das principais vias de comunicação com rodovias estaduais e nacionais. Essa localização geográfica tem historicamente beneficiado a cidade. Em seus primórdios, foi ponto de parada e repouso dos tropeiros, comerciantes que viviam entre o Sertão e o Litoral transportando no lombo de animais produtos como farinha, milho, feijão, açúcar, rapadura, cachaça, e peles de animais. Os tropeiros fi-

somente nos anos 1950, mas para os próximos cinquenta anos. Desse grupo que chamaremos grupo dirigente, representaram os interesses da educação e tecnologia as seguintes pessoas: Antônio da Silva Morais, José Marques de Almeida Jr, Edvaldo de Souza do Ó (que se revelaria um dos maiores empreendedores da história de Campina Grande) e José Lopes de Andrade, que foram os fundadores da Escola Politécnica da Paraíba. Pouco depois, esse grupo foi ampliado pela inclusão de Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque e José Stênio Lucena Lopes. Uma das principais e conhecidas iniciativas desse grupo dirigente foi a criação da Escola Politécnica da Paraíba, instituição que contribui, dentre outros, para a consolidação do ensino superior na cidade.

A Escola Politécnica da Paraíba – instituição de excelência

Escola Politécnica da Paraíba no prédio onde hoje funciona a sede dos cursos de artes da Furne. Da esquerda para a direita, Luis Eduardo é o segundo e Mauro Diógenes o quarto zeram de Campina Grande local de parada, tendo contribuído para o desenvolvimento econômico da cidade e, principalmente, para a construção do imaginário que elege os tropeiros como elemento que personifica uma identidade de vocação para o comércio, determinação e ousadia frente aos desafios. De parada para os tropeiros passando por polo algodoeiro, condição que ocupou entre 1910 e 1960, a cidade enriqueceu. Nos anos trinta o comércio já era vigoroso, atraindo investidores, empresários, banqueiros, comerciantes de cidades e estados vizinhos, além de empresas internacionais como a SANBRA e a Anderson Clayton, todos interessados em realizar negócios e se estabelecendo na cidade.

Grupo dirigente: empreendedorismo, ousadia e determinação Provavelmente percebendo o fim do período auge do comércio algodoeiro, membros das elites campinenses (empresários, políticos, profissionais liberais, intelectuais) buscaram soluções à ampliação do desenvolvimento econômico da cidade. É nesse momento da história de Campina Grande que surge um grupo de pessoas que idealizariam e realizariam os empreendimentos que seriam a base do desenvolvimento dessa cidade, não

A Escola Politécnica da Paraíba foi a primeira instituição de ensino superior da cidade de Campina Grande a alcançar a consolidação de seu projeto educacional. Foi criada pela Lei nº 792 de 6/10/1952 e sancionada pelo então governador da Paraíba, José Américo de Almeida (1951-1956), atendendo à reivindicação de um grupo de cidadãos campinenses, representados pelo grupo dirigente mencionado. Foi esse grupo que sonhou, idealizou e projetou para Campina Grande uma instituição de ensino superior na área tecnológica que iniciaria com o curso de Engenharia Civil. À reunião que criou a Escola Politécnica da Paraíba estiveram presentes o sociólogo José Lopes de Andrade, então Chefe de Gabinete do Governador José Américo de Almeida; o professor Milton Paiva, diretor do Colégio Estadual Dr. Elpídio de Almeida (mais conhecido como Colégio da Prata); os técnicos e engenheiros Antônio da Silva Morais, José Marques de Almeida Junior, Austro de França Costa e Giuseppe Gióia; e o então estudante de Economia Edvaldo de Souza do Ó. Havia ainda os generais José Oliveira Leite e Vinícius Londres da Nóbrega, representando os interesses dos grupos pessoenses na política de ensino superior para o Estado da Paraíba, contrários à criação da Escola Politécnica, mas vencidos pelo voto da maioria. A Escola Politécnica da Paraíba funcionou na cidade de Campina Grande de outubro de 1952 a dezembro de 1976. Nesse breve tempo, tornou-se uma das instituições de referência no ensino de Engenharia Civil e Engenharia Elétrica de todo o Norte Nordeste. A princípio, funcionou no prédio da antiga Escola Solon de Lucena, na Av. Floriano Peixoto, onde atualmente funciona o Museu de Artes Assis Chateaubriand. Depois mudou-se para um setor das dependências do Colégio Estadual da Prata e somente em 1959 se instalou em sede definitiva, na rua Aprígio Veloso, Bodocongó, atual bairro Universitário. Em 1970, a Escola Politécnica tornou-se campus II da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com o desmembramento da UFPB, foi criada a Universidade Federal de Campina Grande, através da Lei nº 10.419.

Sede da Furne funcionou durante muitos anos no prédio do antigo Solon de Lucena

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m dos principais marcos do desenvolvimento do Ensino Superior em Campina Grande foi a criação da Universidade Regional do Nordeste (Urne) em 1966, administrada pela Fundação Universidade Regional do Nordeste (Furne). A instituição foi uma iniciativa da prefeitura municipal e agregou faculdades isoladas já existentes para formar a primeira universidade do município. A partir da Furne, Campina Grande se consolidava como polo de ensino superior, atraindo um número cada vez maior de estudantes vindos de outras cidades do interior do Nordeste. A história da Urne/Furne começa em 1965, quando o economista Edvaldo do Ó e o sociólogo Lopes de Andrade entregam ao então prefeito de Campina Grande, Williams Arruda, um diagnóstico do ensino superior na cidade, defendendo a importância da ampliação desse setor para o desenvolvimento da região. A cidade já contava com duas faculdades da UFPB, a Escola Politécnica e a Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Funcionavam ainda duas particulares que foram rejeitadas pela UFPB para se federalizar: a faculdade Católica de Filosofia, criada em 1949 pela Diocese, e a Escola de Serviço Social, fundada em 1957 pela Congre-

gação das Religiosas de São Vicente de Paula, mas que só viria a funcionar de fato a partir de 1960. Em 15 de fevereiro de 1966, o prefeito Williams Arruda envia mensagem à Câmara com Projeto de Lei que cria a Universidade Regional do Nordeste, inicialmente chamada de URN e posteriormente de URNE. Apesar do nome com caráter regional, a nova instituição era vinculada à prefeitura de Campina Grande e desde o início dispunha de autonomia “financeira, administrativa e disciplinar”, como previa o projeto encaminhado pelo prefeito ao legislativo campinense. No início, a medida foi alvo de críticas devido à escassez de recursos dos municípios. Arruda rebatia as críticas por considerar a criação da universidade estratégica para a região. “Sem o imediato amparo à expansão das atividades básicas nesse setor, sobretudo pela formação de pessoal especializado para as tarefas de alto nível, diretamente comprometido no esforço local e regional, e extraordinário surto de progresso de Campina Grande verificado nas três últimas décadas, sofrerá inevitável estrangulamento, a exemplo de outras cidades”, ponderou o prefeito em discurso transcrito no livro ‘Williams de

Sousa Arruda: Política e Educação na Criação da FURNE’, escrito pelo historiador Josemir Camilo. Para gerir financeiramente a nova universidade de forma autônoma, Williams Arruda criou a Fundação Universitária do Nordeste (Furne), que seria presidida pelo reitor da Urne, nomeado pelo prefeito. Na prática, a Furne seria a entidade mantenedora na instituição de ensino. A prefeitura transferiu em seguida o patrimônio da FUNDACT para a Furne. A FUNDACT era a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica, que atuou durante quase 10 anos no fomento ao ensino superior na cidade. Ela foi criada em dezembro de 1957 pelo prefeito Elpídio de Almeida. Na primeira reunião do Conselho Universitário da Furne, em abril de 1966, Williams Arruda foi escolhido para ser o primeiro reitor da Furne, tendo como vice o economista Edvaldo do Ó, que acabou assumindo a reitoria três meses depois. A gestão municipal cria, então, em 1966 as Faculdades de Ciências da Administração e de Química, e no ano seguinte acontece o primeiro vestibular da Urne. Ainda em 1967, a Furne assume a Faculdade de Direito, que pertencia até então ao Instituto João Clímaco Ximenes,


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Colégios católicos surgem em 1931

IBM1130, o primeiro computador do Norte-Nordeste (1968)

O Colégio das Damas era assim chamado por só aceitar meninas

As mudanças no modelo de educação se aprofundam em 1931 com a fundação de dois colégios católicos em Campina. O primeiro foi o Colégio Imaculada Conceição, mais conhecido como ‘Colégio das Damas’, por só aceitar meninas. Inaugurado em março daquele ano, o educandário foi uma solicitação do Arcebispo Dom Adauto de Miranda Henriques. O nome era uma homenagem à padroeira da cidade. Um mês depois, surge o segundo colégio católico, desta vez direcionado apenas para meninos. O padre José Delgado fundou em 7 de abril de 1931

Fachada do Colégio Pio XI, já desativado. No alto, seu fundador, o Padre José Delgado

o Colégio Diocesano Pio XI, inicialmente situado na Igreja Matriz. No ano seguinte, o educandário foi transferido para um prédio na Rua João Pessoa doado por José Joaquim da Costa Leite. O espaço era grande e em 1951 o acesso ao prédio do colégio pela Rua João Pessoa foi fechado, abrindo uma nova entrada pela Avenida Getúlio Vargas. Damas e Pio XI, juntamente com o Alfredo Dantas, estabeleceram o padrão do ensino particular na cidade, segundo o historiador Bruno Gaudêncio. “Estes colégios foram os modelos para o ensino das

elites. O crescimento da qualidade de ensino com a incorporação de novas tendências pedagógicas e formas didáticas vão fazer com que as antigas escolas de ensino primário acabem quase instantaneamente”, revela. Não é por acaso que em 1932 fecham as portas os colégios São José, do professor Clementino Procópio e do Instituto Olavo Bilac, pertencente a Mauro Luna. O Colégio Pio XI funcionou até 2004, quando encerrou as atividades devido a uma grave crise financeira. Damas e CAD continuam funcionando.

O 7 de setembro no ano do centenário Em 1964, quando Campina Grande comemorava seu centenário, o Brasil entrava num período de 21 anos de governos de exceção. No 7 de setembro daquele ano, o desfile do Colégio Estadual da Prata foi narrado pela professora ELIZABETH MARINHEIRO, também autora desse texto, que resgatamos aqui como lembrança daquela época. 1º PELOTÃO– Eis que surge o Colégio Estadual da Prata com seus alunos vestindo a farda que guarda as cores de sua origem: o cáquidos humildes beneficiários da coisa pública e o verde esperançoso das líderes estudantis. Os alunos, neste momento, pisam as ruas centenárias numa reverência a que a Cidade faz jus. 2º PELOTÃO– Abrindo o desfile, a graça da menina-moça. Uma bailarina que revolunteia e baila, paira e esvoaça! 3º PELOTÃO– Homenagem ao Governador Pedro Gondim. Se Cícero e Camões iluminaram a inteligência através dos séculos, o humanista Pedro Gondim prodigaliza Educação à mocidade serrana. 4º PELOTÃO– A pérgola simbólica conduz a beleza da mulher paraibana: duas alunas aplaudem a multidão que as aplaude! 5º PELOTÃO– Surge agora a Banda Marcial do Colégio, composta por cem alunos e assemelhando-se aos fuzileiros navais: fraque estilizado e acessórios dourados. Na frente, a Guarda Bandeira parece anunciar as alegorias que se seguem. Um trabalho do Prof. Djalma Andrade (Manga-Rosa). 6º PELOTÃO– A placa piramidal conota as revoluções nacionais na História de Campina Grande. Os ouvintes deduzirão que a Rainha da Borborema não foi teatro de lutas e sim actante significativo em todos os movimentos revolucionários que sacudiram a alma brasileira, nos mo-

mentos em que percebeu vacilantes seus sentimentos de Ordem e Progresso. Este foi o ano de 1817, protagonizado pelo Padre Virgínio Campelo, traduzido na alegoria idealizada pela Profa. Noanita Dantas. 7º PELOTÃO– O ano é 1824. Campina acolhe Frei Caneca e seu impetuoso ideal nacionalista. Aqui, esteve prisioneiro, mas recebeu o calor da generosidade campinense, metaforizada pelo preto que, no presídio, entregou-lhe as vestes para que recuperasse a liberdade e prosseguisse sua romaria libertária. O mártir desfila em carro alegórico, vigiado por oito sentinelas. 8º PELOTÃO– Observem as medidas que os alunos trazem. É o ano de 1874. Cansados das difíceis relações comerciais, em virtude da multiplicidade de medidas, os brasileiros adotaram o sistema métrico decimal, elaborado por matemáticos franceses, dando-lhe caráter internacional e apelando para a dimensão do quadrante terrestre. Os campinenses rebelaram-se: eclode o movimento de QUEBRA-QUILOS. E quarenta alunos conduzem os pesos e medidas da época. 9º PELOTÃO– A ilustre Princesa não temeu os perigos para o trono em 1888: sacudiu para sempre as algemas ignominiosas do negro brasileiro. Campina aplaude o gesto principesco! Cativos do SURRÃO e do SOSSEGO gritavam, entre lágrimas de alegria e gratidão: SOMOS LIVRES! Viva a REDENTORA! E quebram suas algemas em frente à Comissão Julgadora dos Desfiles! 10º PELOTÃO– O republicano Irineu Jofily surge em carro alegórico portando a ‘GAZETA DO SERTÃO’, de 1889. Belos carros alegóricos executados por técnicos do Teatro Severino Cabral, pelas professoras Wanda Elizabeth e Maria Lima. 11º PELOTÃO– 1930! Campina “nega” com João Pessoa. E trinta alu-

nos - vestidos de perrepistas e liberais, com a bandeirinha vermelha do “NEGO” e carabinas de madeira – cantam o Hino revolucionário diante do Palanque oficial. É Campina apoiando o veto à candidatura de Julio Prestes proferido por João Pessoa! E os perrepistas, acabrunhados, conotam o amargor da derrota... 12º PELOTÃO– Campina parte para a Itália, no ano de 1944, em defesa do Brasil. Lá vem a “COBRA FUMANDO”! São os autênticos Expedicionários que lutaram na Itália e, convidados pelo casal Dalvanira/ Raimundo Gadelha, vieram defender também o ideário do “Gigantão”. Entre os PRACINHAS, uma criação de Dalvanira Gadelha: alunas com o uniforme das Enfermeiras! Curvemo-nos, portanto, a estes HERÓIS NACIONAIS! 13º PELOTÃO– Sob o aplauso da multidão, Mariza Cabral, ao estilo grego, é metáfora da Constituição. Gigantescos estandardes trazem as fotos dos Estadistas Argemiro de Figueiredo, José Joffily e W. Wanderley, os quais são delirantemente aplaudidos. 14º PELOTÃO – Contei com o auxílio do casal Odeth/Theodomiro, das professoras Lourdes, Marques, Edeltrudes Andrade, Inês de Castro e do Major Cipriano para maior brilho do pelotão das FORÇAS ARMADAS. Pleno 1964... Um pelotão com nove alas semantizam a Marinha, a Aeronáutica e o Exército. Aplaudamos a ação democrática do Governador Pedro Gondim e a voz campinense que se alevanta na Câmara dos Deputados: Deputado Vital Do Rego! Ao reproduzirem o jogo das espadas, frente ao Palanque Oficial, o Pelotão é consagrado! Não esqueçam, campinenses, que camponeses e policiais presentificam-se, neste Desfile, alegoricamente...

Isso aconteceu em 1973, em decorrência da Reforma Cêntrica criada pelo Ministério da Educação (MEC), que buscou instituir uma estrutura padrão para as instituições públicas de ensino no país. O processo de transição de Escola para Centro só se completou em 1976, ano em que foi transformada em Centro de Ciências e Tecnologia (CCT). E a Faculdade de Ciências Econômicas – FACE, em Centro de Humanidades. Os dois Centros do então campus II, da Universidade Federal da Paraíba. A Escola Politécnica da Paraíba foi criada como instituição estadual de ensino superior e conseguiu apoio político para se transformar em instituição federal de ensino superior. A federalização proporcionaria mais recursos financeiros para o ensino: implementar a expansão de cursos, aumento e qualificação de seu quadro de professores e técnicos, mais recursos e, consequentemente, melhoria da qualidade de formação de seus engenheirandos. Todavia, esse projeto só teria viabilidade se lograsse unir a bancada paraibana no Congresso Federal. Para tanto, fazia-se necessário atender aos diferentes interesses em jogo das duas principais cidades do Estado: João Pessoa e Campina Grande. Para isso, a proposta inicial que se restringia à federalização da Escola Politécnica foi ampliada para a inclusão da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE), de Campina Grande, e mais oito instituições de ensino superior de João Pessoa em uma única instituição: a Universidade Federal da Paraíba, que teria como sede a cidade de João Pessoa. Negociados os interesses em jogo, foi criada a Universidade Federal da Paraíba, pela Lei nº 3.385, de 13/12/1960, no Governo de Juscelino Kubitschek.

Atualidade em iniciativas de desenvolvimento É possível afirmar que o imaginário identitário da cidade de Campina Grande como o lugar do progresso e da prosperidade ajudava no favorecimento de um ambiente propício e bastante receptivo às ideias desenvolvimentistas do governo JK. Um governo que propagava a visão desenvolvimentista e a necessidade da sociedade brasileira consolidar as práticas democráticas, e angariava simpatias pelas promessas dos resultados das ações desenvolvimentistas empreendidas. Era, pois, um ambiente, um clima de discussão de ideais e projeção de prosperidade para o país. Na Escola Politécnica e na cidade discutia-se muito política. Não a política partidária, que não permitia maiores opções de escolha, mas a política refe-

rente às ideias de progresso e desenvolvimento econômico. O grupo dirigente mobilizava os setores sociais não somente em relação às iniciativas para o êxito da Politécnica, a meta era a referência na formação de profissionais das engenharias, mas também contribuir para atender às demandas por mão-de-obra qualificada no âmbito local e regional. A Politécnica atraiu para Campina Grande estudantes de outras cidades e de outros estados, mais estudantes para as escolas de ensino médio, e empreen-

dimentos decorrentes das expectativas geradas por essa instituição de ensino superior. A discussão política, portanto, centrava-se na busca de solução para os problemas da cidade, que ansiava por progresso, desenvolvimento econômico e prosperidade. Enquanto a sociedade buscava se readaptar ao contexto econômico em que não mais subsistia a riqueza gerada pelo comércio algodoeiro, ao mesmo tempo em que eram pequenos os benefícios econômicos advindos da política desenvolvimentista, as esperanças eram cada vez mais depositadas nos benefícios que a Politécnica traria à cidade. Mas era preciso ampliar as possibilidades de desenvolvimento para Campina Grande. No debate, era predominante a visão da industrialização como saída e resposta aos problemas. Nesse período, foram criadas, em praticamente todos os estados da federação, instituições de estudo, planejamento, empreendimento de ações voltadas para o desenvolvimento (então entendido como crescimento econômico): a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica (FUNDACT), a Companhia Municipal de Desenvolvimento (COMUDE), a empresa de saneamento de Campina Grande, chamada Saneamento de Campina Grande Sociedade Anônima (SANESA) e o Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial (FAGRIN). Também foram iniciativas desse grupo dirigente a criação da Faculdade de Medicina de Campina Grande (1965), e particularmente de Edvaldo de Souza do Ó as iniciativas de criação do Museu de Arte Assis Chateaubriand (1967) e a Universidade Regional do Nordeste - FURNE (1968).

Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, uma das principais personalidades da política científica e tecnológica do século XX, compôs com destaque o grupo dirigente no quesito idealizador e empreendedor. Ao assumir a direção da Escola Politécnica em 03/01/1964, em substituição a Antônio da Silva Morais, empreendeu um conjunto de iniciativas que levaram essa instituição à excelência. Criou novos cursos de graduação, cursos de especialização e de pós-graduação em nível de Mestrado. Sendo sua mais decisiva contribuição à Politécnica e região a coordenação do processo heroico de aquisição do primeiro computador da região Norte-Nordeste, em 1967. Campina Grande possuía um dos cinco computadores existentes em todo o Brasil. Foi uma grande ousadia a compra do IBM 1130, tendo para isso enfrentado a oposição do Reitor da UFPB de então, Guillardo Martins. A aquisição do IBM 1130 significou para a Escola Politécnica o desafio de estar na mesma condição que as principais instituições de ensino e pesquisa do Brasil da época. O desafio era o mesmo: conhecer aquela área de conhecimento que estava se formando nos países mais desenvolvidos, produzir conhecimentos que mais tarde se constituiria na Ciência da Computação. O investimen-

to em capacitação dos docentes da Politécnica em Mestrado e Doutorado nos centros de excelência do Brasil, Estados Unidos e Europa foi fundamental para que os cursos de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação contribuíssem para Campina Grande se tornar, a partir dos anos 1980, uma referência em tecnologia e produção de software, chegando a ganhar a alcunha de cidade high tech, ou seja, cidade em que existe e se produz alta tecnologia, ou tecnologia de ponta. A gestão de Lynaldo Cavalcanti como Reitor da UFPB (1976-1980), assim como sua gestão na Presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (1980-1985), e liderança no processo de criação dos parques tecnológico no país, especialmente a criação do Parque Tecnológico da Paraíba (1984), instituição fundamental às iniciativas em ciência e tecnologia, incubação de empresas, empreendedorismo, especialmente na área de tecnologia da informação. A atuação e visão de futuro de Lynaldo Cavalcanti foram decisivas para o alcance da excelência na qualidade de ensino, pesquisa e extensão das universidades em todo país, da Universidade Federal da Paraíba, e especialmente, da hoje denominada Universidade Federal Campina Grande.


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UFCG: da federalização ao desmembramento A

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) foi criada oficialmente em 2002, mas sua história traz o legado das primeiras instituições de ensino superior da ‘Rainha da Borborema’, criadas ainda na década de 1950. Sua origem se dá a partir da instalação da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) e da Escola Politécnica (Poli), instituições pioneiras instaladas pela Prefeitura e pelo Governo do Estado e que posteriormente passaram a ser administradas pelo Governo Federal. O processo de federalização começou ainda na década de 1960, quando foi criada a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) no governo do então presidente Juscelino Kubitschek. A nova instituição foi instalada a partir da aprovação e promulgação da Lei Federal nº 3.835, que entrou em vigor em 13 de dezembro de 1960. A UFPB incorporava inicialmente a estrutura da Universidade da Paraíba, criada pelo Governo do Estado na capital João Pessoa, e da Face em Campina Grande. Tanto a Universidade da Paraíba quanto a Face foram criadas em 1955, mas a faculdade campinense só começou a funcionar de fato no ano de sua federalização. A Escola de Agronomia de Areia também foi integrada à UFPB. Posteriormente foi a vez da Escola Politécnica

passar a integrar o patrimônio da União, incorporando-se à UFPB na década de 1970. Foi a partir daí que a Universidade Federal passou a funcionar no endereço da Avenida Aprígio Veloso, no bairro de Bodocongó, onde funcionava desde 1959 a Escola Politécnica. A sede própria da Poli se transformava com a federalização em campus II da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), condição em que se manteve por mais de 25 anos. “A inauguração do edifício que hoje abriga o Centro de Humanidades da UFCG, em 1962, coincidiu com a criação do curso de Sociologia e Política, que daria um tom de engajamento e espírito crítico ao campus campinense, numa época efervescente da vida nacional”, afirma o sociólogo Márcio Caniello, atual secretário de Planejamento da Prefeitura de Campina Grande e professor da UFCG. O terreno onde foi construída a sede própria da Politécnica havia sido doado à instituição de ensino superior pela Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e da Técnica (Fundact), órgão de fomento à educação e fomento ao ensino superior criado pela prefeitura em 1957. O projeto arquitetônico original para a Escola Politécnica foi elaborado em 1959 pelo Arquiteto Heitor Maia Neto. A inspiração para os traços do projeto e divisão dos espaços veio da Faculdade Católica de Pernambu-

Proposta de desmembramento surge em 1975 Já na década de 1970 começaram a surgir os primeiros debates sobre a proposta de criação de uma Universidade Federal de Campina Grande a partir do desmembramento com a UFPB. A primeira iniciativa oficial neste sentido partiu do deputado Otacílio Nóbrega de Queiroz em 1975, quando o parlamentar apresentou um projeto de lei propondo a criação da ‘Fundação Universidade Federal de Campina Grande’. A proposta de Queiroz era promover o desmembrando e criar uma nova universidade federal a partir da união entre o campus II da UFPB e a Universidade Regional do Nordeste (URNE), instituição precursora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Mas o projeto não vingou, ficando sem sair do papel. A ideia foi reeditada pelo deputado Aluízio Campos em 1984, com o diferencial de que a Universidade de Campina Grande deveria incluir os campi da UFPB instalados no Sertão do estado. Dessa vez, a proposta chegou a ser amplamente discutida entre o sindicato docente da instituição. Uma nova propositura com o mesmo objetivo foi apresentada ainda pelo deputado Evaldo Gonçalves em 1989. Porém os projetos de Otacílio, Aluízio e Evaldo alcançaram pouca repercussão no Congresso Nacional e não foram adiante. De acordo com o professor Márcio Caniello, a gestação da UFCG começaria efetivamente em 1992, durante o governo do ex-presidente Fernando Collor. Nesta época, o Governo Federal nomeou uma comissão da Secretaria Nacional de Educação Superior (SENESU), órgão vinculado ao Ministério da Educação, para realizar um estudo de viabilidade sobre o desmembramento. No término dos

trabalhos, a comissão recomendou o desmembramento, chegando a afirmar que a divisão não implicaria em aumento de despesas significativo. A repentina aceitação da proposta teria sido estimulada pela articulação de políticos paraibanos vinculados ao então Partido da Frente Liberal (PFL), que apoiaram a candidatura de Collor à presidência. Mas se foi uma aliança política que deu força ao desmembramento, também seria a política a responsável por adiar mais uma vez a criação da UFCG. O impeachment de Collor adiou os planos. Apesar da tentativa frustrada, a recomendação da comissão gerou uma mobilização em torno da proposta, principalmente devido a algumas reivindicações da comunidade acadêmica local. Segundo Caniello, havia um sentimento de exclusão em relação ao centro das decisões na universidade e uma crescente insatisfação com a partilha dos recursos humanos e orçamentários na instituição. A articulação só voltaria a ganhar força em 1995, quando um grupo de professores do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) recolocou o tema em pauta em uma carta aberta ao reitor pedindo o desmembramento. O então reitor Neroaldo Pontes formou uma comissão para discutir a proposta e, após debates intensos entre defensores de posições divergentes, esta comissão decidiu pela viabilidade do desmembramento. O relatório favorável elaborado pela comissão foi enviado ao Ministério da Educação. O projeto ficou engavetado em Brasília por cerca de seis anos, até que se concretizou ao final do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando de uma só vez foram criadas cinco universidades federais no país, entre elas a UFCG.

co, que também havia sido projetada por Heitor Maia Neto. O custo da obra estava estimado em dois milhões de cruzeiros e a construção deveria ser executada em duas etapas. Entretanto, a estrutura grandiosa imaginada pelo arquiteto para a Politécnica nunca saiu completamente do papel e os vários setores de salas de aula e outros ambientes acadêmicos não chegaram a ser construídos como o previsto. Foi construído apenas o prédio que no projeto original deveria ser destinado especificamente ao setor administrativo e que acabou incorporando as atividades de ensino. Trata-se do prédio onde atualmente funciona o Centro de Humanidades da UFCG, numa área conhecida por estudantes e professores como ‘Hall das Placas’. TRADIÇÃO Outro marco na história da instituição foi a criação do curso de Engenharia Elétrica em 1963, que mais tarde se tornaria reconhecido nacional e internacionalmente pela excelência no ensino e pelo desenvolvimento de pesquisas inovadores na área de tecnologia. A tradição de excelência ganha fôlego principalmente a partir da criação do mestrado em engenharia elétrica, já na década de 1970.

Instituição ‘multicampi’ Na época do desmembramento, em 2002, a UFCG já nasceu com uma estrutura multicampi, abrangendo outros três campi oriundos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As estruturas que pertenciam à UFPB na região do Sertão do estado passaram a fazer parte da nova instituição, integrando Patos, Sousa e Cajazeiras ao projeto da Universidade Federal de Campina Grande. Em números, a instituição já contava com 29 cursos de graduação, dois doutorados e sete mestrados no período de sua criação. Nos anos seguintes, a instituição se expandiu com a criação de mais três campi nos municípios de Cuité, Pombal e Sumé. Atualmente, a UFCG conta com mais de 16 mil alunos matriculados em seus 67 cursos de graduação. Na pós-graduação, são 816 mestrados e 642 doutorandos, distribuídos em 31 cursos de pós-graduação, sendo 20 de mestrado e 11 de doutorado. Em seu corpo técnico, a universidade conta com 1.371 professores e 1.539 técnicos-administrativos. A instituição conta ainda com várias políticas de assistência estudantil, com programas voltados a reduzir as desigualdades socioeconômicas entre os graduandos, contribuindo para a melhoria do desempenho acadêmico. São oferecidas quase quatro mil bolsas acadêmicas, quatro mil refeições gratuitas diárias e 600 vagas nas residências universitárias. A Universidade Federal de Campina Grande é hoje uma referência para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, da educação, das artes e da cultura, em virtude de sua capacidade em desenvolver e articular dinâmicas de ensino, pesquisa e extensão, envolvendo as mais variadas áreas do conhecimento humano.

Do Grêmio de Instrução aos colégios particulares A

educação em Campina ainda não era tratada como prioridade na transição entre os séculos XIX e XX. Até mesmo quem podia pagar não tinha muitas opções para oferecer um ensino de qualidade aos filhos. Diante da falta de investimentos, um grupo de moradores decidiu fundar a primeira escola de ensino secundário da cidade. Surgia em 1899 o Grêmio de Instrução, que funcionou por apenas três anos. A ideia era criar uma agremiação onde os sócios contribuíssem com os custos. Começava uma mobilização entre a elite campinense para levar o empreendimento adiante. O Grêmio agregou 93 sócios fundantes, que pagaram a primeira mensalidade no ato de formalização da sociedade. Além de oferecer o ensino secundário, os fundadores decidiram que o novo educandário deveria estimular as artes cênicas. O lugar escolhido para o Grêmio foi um prédio em construção na então chamada “Rua dos Armazéns”, atual Marquês do Herval. Apesar de inacabado, o imóvel era o único com espaço e tamanho para abrigar as salas de aula. Cristiano Lauritzen, que construiu o prédio quando intendente, concordou em doar o imóvel desde que o prefeito João Lourenço Porto concluísse a obra. O acordo foi feito e as aulas começaram. Mesmo com bons resultados, o Grêmio de Instrução conseguiu sobreviver por apenas três anos. Ao final de 1901, entrou em crise quando alguns dos principais professores deixaram a cidade. O prédio a ser utilizado para outros fins e suas salas de aula foram desativadas. Lá funcionou, em 1909, o Cinema Brasil, até que a decadência do lugar fizesse com que a estrutura fosse transformada em depósito de algodão.

CAD e o Grêmio Passadas quase três décadas após o fechamento do Grêmio de Instrução, o tradicional prédio da Avenida Marquês do Herval voltaria a receber salas de aula em 1930. No mesmo local funciona até os dias atuais o mais antigo estabelecimento de ensino particular de Campina Grande, o Colégio Alfredo Dantas. O educandário foi fundado em 1919 pelo tenente Alfredo Dantas, com o nome de ‘Instituto Pedagógico’. No início, funcionava na Rua Barão do Abiaí. Oferecia o curso primário além de cursos preparatórios para o ingresso dos alunos nos cursos secundários, que funcionavam nos colégios públicos do estado. O Instituto foi transferido para o prédio do antigo Grêmio em 1930. O imóvel pertencia ao município e foi cedido sob autorização do então presidente do estado, João Pessoa. Em 1943, muda de nome, quando passa a se chamar ‘Ginásio Alfredo Dantas’, em homenagem ao fundador. Só em 1950 recebe o nome mantido até os dias atuais: Colégio Alfredo Dantas (CAD). A partir da grande reforma concluída em 1974, o prédio passa a ter a fachada atual, mantendo-se os tradicionais leões na entrada.

Tenente Alfredo Dantas com a mulher, Yara

Professor Severino Loureiro em 1950

Fachada do Colégio Alfredo Dantas depois da reforma, em 1974

‘Gigantão da Prata’ marcou época O mais tradicional colégio público de Campina Grande, o Estadual da Prata, começou a funcionar em 1953, após seis anos de obras. Foi o primeiro da cidade a oferecer gratuitamente o ensino secundário, equivalente ao atual ensino médio. Antes dele, apenas quem tinha condições financeiras para pagar as mensalidades de um dos colégios privados da cidade poderia avançar nos estudos. Logo no primeiro ano de funcionamento, cerca de 800 alunos se matricularam. Pelo tamanho da sua estrutura física, bem como pela importância para a cidade, o colégio passou a ser popularmente chamado de ‘Gigantão da Prata’, uma espécie de apelido carinhoso. A construção começou em 1947, na gestão do governador

Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Melo, mas só foi concluída no governo de José Américo de Almeida. A inauguração aconteceu em 31 de janeiro de 1953, ainda com o nome de ‘Colégio Estadual de Campina Grande’. Anos mais tarde, com o aumento do número de escolas estaduais, o nome oficial mudou. O ‘Gigantão’ passou a ser chamado de Escola Estadual Elpídio de Almeida, em homenagem ao ex-prefeito. Nomes de destaque do cenário local e até nacional passaram pelo ‘Gigantão’, A exemplo da cantora Elba Ramalho e do jornalista José Nêumanne Pinto, além de diversos políticos, empresários, profissionais liberais, professores e artistas, entre outros tantos cidadãos comuns que construíram a história do colégio.

O Colégio Estadual da Prata começou a funcionar em 1953


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Solon de Lucena

Parque Tecnológico

o primeiro grupo escolar de Campina

30 anos de atuação em Campina Grande

A

s salas de aula para o ensino primário continuaram funcionando em espaços improvisados até que em 1924 foi inaugurado o primeiro Grupo Escolar de Campina Grande. O objetivo era reunir em um único prédio várias salas de aula e organizar o modelo de ensino a partir da divisão em séries, formando turmas com uma mesma faixa etária, nível de conhecimento e currículo. A meta era modernizar o ensino público. O educandário foi batizado inicialmente de Grupo Escolar Campina Grande, mas depois recebeu o nome ‘Solon de Lucena’, em homenagem ao presidente da Paraíba responsável pela obra. Antes da ‘Rainha da Borborema’, outros três municípios do estado já tinham sido contemplados com a construção de grupos escolares: a capital (na época chamada de Parahyba), Itabaiana e Guarabira. O Solon de Lucena foi o oitavo estabelecimento deste tipo a ser instalado na Paraíba e se manteve como o único Grupo Escolar de Campina Grande até 1937, quando começou a funcionar o Grupo Escolar Clementino Procópio. A política de instalação de grupos escolares no Estado começou com a Reforma da Instrução Primária da Paraíba, regulamentada em 1917. Mas a adoção do modelo já vinha sendo discutida no estado desde 1908, quando o estado vizinho do Rio Grande do Norte instalou seu primeiro Grupo Escolar. O objetivo era criar estruturas estatais com hierarquia própria para superar o modelo precário das chamadas ‘cadeiras isoladas’. O modelo anterior continuou existindo mesmo após a criação do Grupo Escolar. Em 1926 ainda existiam 16 ‘cadeiras isoladas’ ou ‘escolas rudimentares’ na cidade. Mas já no primeiro ano de funcionamento, em 1925, o Solon de Lucena possuía 210 alunos matriculados. Até 1924, nenhum estabelecimento público de ensino tinha capacidade para matricular mais do que 80 estudantes. A instalação de grupos escolares privilegiava as localidades que já estavam em processo de urbanização e desenvolvimento econômico. De acordo com a reforma de instrução de 1917, os grupos escolares deveriam ser criados nos lugares que apresentassem pelo menos três escolas em funcionamento, sendo compostos ao menos por uma escola mista e outras duas escolas divididas por cada sexo.

Demolição do Mercado Velho

O mercado velho chegou a ser considerado uma “construção suntuosa”, segundo relato de Cristino Pimentel no livro ‘Pedaços da História de Campina Grande’. Durante muito tempo, a feira era realizada diante deste estabelecimento, até que o comércio de cereais foi transferido para a antiga rua Seridó, atual Maciel Pinheiro. A partir de então, o Mercado Velho passou a ser uma espécie de cortiço, onde pequenos comerciantes e ciganos pernoitavam. A substituição do ‘mercado velho’ pelo grupo escolar estava inserida no projeto de urbanização na área central da cidade realizado nas primeiras décadas do século XX, destruindo um edifício do período colonial para dar luO Solon de Lucena surgiu com a modernização do ensino público gar a uma estrutura moderna de educação. O projeto do grupo escolar também apresentava traços arquitetônicos imponentes, com o projeto do arquiteto italiano Hermenegildo Di Lascio. CONSTRUÇÃO A construção do Grupo Escolar foi acelerada e estima-se que durou apenas nove meses. A obra começou em 7 HISTÓRIA de janeiro de 1924 e foi finalmente inaugurada com muitas O prédio do Grupo Escolar Solon de Lucena manfestividades em 12 de outubro do mesmo ano. Além das so- teve-se vinculado à educação durante toda sua história, lenidades oficiais de praxe, houve ainda desfiles com alunos mesmo depois da desativação do educandário no local. O do Liceu Paraibano, do Colégio Diocesano, além da partici- edifício também foi a primeira sede da escola politécnica, pação dos estudantes da cidade e da população local. abrigou a Fundação Universitária do Nordeste (Furne) e O local escolhido foi a área onde funcionou duran- durante vários anos foi o endereço da reitoria da Univerte cerca de um século um mercado de cereais que per- sidade Estadual da Paraíba (UEPB). As obras do acervo do tencia ao comerciante Baltazar Luna. O lugar conhecido Museu de Artes Assis Chateaubriand também ficaram abricomo ‘mercado velho’ foi demolido para dar lugar ao So- gadas neste prédio, que atualmente pertence à Fundação lon de Lucena. Furne, entidade privada vinculada a serviços de educação.

Memórias de quem estudou no Solon de Lucena As memórias da infância nas salas de aula do primeiro grupo escolar de Campina Grande continuam vivas nas lembranças de quem estudou no antigo Solon de Lucena. A rigidez da disciplina imposta pelos professores e a elevada qualidade de ensino estão entre as principais marcas deixadas nas recordações de quem aprendeu as primeiras letras no educandário que marcou época na cidade. É o que conta a aposentada Teresinha Gomes de Oliveira, que ingressou no Solon de Lucena aos sete anos de idade. Atualmente aos 82 anos, ela ainda se emociona ao lembrar das aulas no Solon de Lucena. “Tenho muita saudade daquele tempo. Lembro do meu pai indo me pegar na escola e das brincadeiras no pátio. O ensino era muito bom e todo mundo queria estudar no Solon de Lucena”, relata. Apesar da temida palmatória já ter sido abolida no Grupo Escolar, Dona Teresinha se recorda da autoridade dos professores. “Era uma ordem muito grande e todos tinham respeito. Quando a gente chegava, ficava em fila no pátio e só entrava na sala depois de cantar o Hino Nacional. O diretor chamava turma por turma e a gente ia em formação para as salas”, garante. As turmas já eram mistas. Meninos e meninas conviviam junTeresinha Gomes de Oliveira tos na sala de aula, mas eram separados na hora do recreio. “A gente brincava na parte de trás, que na época tinha um pátio, e os meninos noutro pátio ao lado. Tentaram juntar uma época, mas não deu certo porque os meninos queriam judiar com a gente”, relembra aos risos. Dona Teresinha estudou durante três anos no Solon de Lucena, no período entre 1938 e 1941, quando cursou o primário.

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á 30 anos, Campina Grande despontava mais uma vez no cenário nacional da inovação com a criação do Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB). Desde então, a entidade promove o diálogo entre as pesquisas desenvolvidas nas universidades instaladas na cidade e o mercado empresarial, garantindo viabilidade econômica aos projetos criados nos laboratórios. Para que o projeto da Fundação PaqTcPB se tornasse realidade, foi fundamental a atuação do engenheiro pesquisador campinense Lynaldo Cavalcanti, na época presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A ideia veio da Inglaterra, por sugestão do professor Zuhair Warwar, na época assessor da presidência do CNPq. Ele apresentou a Lynaldo Cavalcanti o modelo dos “science parks” adotados na Inglaterra, que consistia na criação de espaços empresariais nas universidades, promovendo a pesquisa e o desenvolvimento de projetos. A proposta era lançar no Brasil um programa semelhante, visando estimular o desenvolvimento tecnológico e alavancar a economia do país. Lynaldo Cavalcanti levou a proposta adiante e decidiu adotar inicialmente o critério de criar um parque tecnológico para cada região do país. Com isso, ele inseriu Campina Grande no roteiro do Programa de Implantação de Parques Tecnológicos do CNPq. A cidade foi escolhida para receber um dos quatro primeiros parques tecnológicos do Brasil, juntamente com São Carlos-SP, Manaus-AM e Santa Maria-RS. Foram escolhidas cidades com perfil promissor, mas que estavam fora dos maiores centros de pesquisa do país, por isso a preferência por cidades localizadas em regiões do interior, com exceção de Manaus, onde se pretendia unir a pesquisa com os incentivos fiscais da Zona Franca. Campina garantiu as condições para receber o projeto não apenas pela infraestrutura e a presença de universidades com tradição em pesquisa, mas também pelo apoio de instituições locais à proposta trazida por Lynaldo Cavalcanti. Logo no início da fase de implantação, a iniciativa contou com a adesão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Banco do Estado da Paraíba (Paraiban) e Federação das Indústrias da Paraíba (FIEP), além dos governos estadual e municipal. A Fundação Parque Tecnológico da Paraíba foi então criada oficialmente em 21 de dezembro de 1984. A entidade começou a funcionar inicialmente em um dos andares do prédio da Fiep, cedido para abrigar o novo empreendimento. Em seguida, o ‘parque’ passou a contar com um prédio alugado, onde funcionava a ‘encubadora de empresas’. Na década de 1990, o PaqTcPB finalmente passou a funcionar em sede própria, construída pelo Governo do Estado em um terreno cedido pela prefeitura no bairro de Bodocongó, nas proximidades das universidades estadual e federal. Em 2009, Lynaldo Cavalcanti escreveu um artigo para as comemorações dos 25 anos do PacTcPB destacando o papel desempenhado pela entidade no fomento à inovação e ao empreendedorismo. “A meu ver, a Fundação Parque Tecnológico da Pa-

Sede do PaqTcPB: modelo inspirado nos “science parks” da Inglaterra raíba se configura no cenário nacional como uma instituição seriamente voltada para o avanço científico, tecnológico e para a promoção do empreendedorismo inovador na Paraíba, promovendo a articulação entre parceiros, as várias cadeias do conhecimento e as atividades produtivas, buscando sempre novas formas de atrair e fixar competências no Estado e, por isso, altamente comprometida com o desenvolvimento local e regional”, afirmou o idealizador do PaqTcPB. Ele morreu em janeiro de 2011, aos 78 anos.

Incubadora apoiou 98 empresas A partir do segundo ano de funcionamento, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba criou, em 1986, o programa de Incubação de Empresas Nascentes Inovadoras, com o objetivo de apoiar o surgimento e desenvolvimento de novos empreendimentos. A incubadora de empresas do PaqTcPB oferece, desde então, apoio técnico e empresarial para garantir que as ideias inovadoras desenvolvidas nas universidades locais tenham maiores chances de sucesso para se manter no mercado competitivo do mundo da tecnologia. Ao todo, 98 empresas receberam o apoio Programa Primeira Empresa Inovadora (PRIME) durante toda a trajetória da Incubadora de Empresas do PaqTcPB. Atualmente, o programa possui 13 empresas sendo incubadas, sendo cinco empresas residentes e outras oito incubadas virtualmente. Há ainda 18 empresas associadas atualmente, atingindo um total de 82 empresas associadas durante toda a trajetória da incubadora do PaqTcPB. Para o engenheiro Alexandre Moura, presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado da Paraíba, a atuação do Parque Tecnológico da Paraíba foi fundamental para transformar Campina Grande em um polo educacional e tecnológico, aproximando

universidade e mercado empresarial. “Esse é o alicerce do negócio, ter uma base universitária. Nenhum dos países que conseguiram despontar na área tecnológica teria obtido esse resultado sem uma universidade forte. A universidade gera ciência e tecnologia, mas é preciso fazer uma distinção entre elas. A tecnologia só é desenvolvida quando aplicada em empresas. São elas que transformam a ideia em um produto que vai ter espaço na vida das pessoas”, afirma Alexandre Moura, que também atua como empresário do setor de tecnologia da informação. No início de 2004, a Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG) firmou parceria com o SEBRAE Paraíba, se tornando a instituição responsável pela execução das ações de implantação de novas incubadoras no interior do Estado da Paraíba. Começava então uma ação ousada de “incubação de incubadoras”, onde a ITCG passou a apoiar, também, a criação e implementação de novas incubadoras de base tradicional em municípios do semiárido paraibano. A meta é valorizar as suas vocações e potencialidades da região com a inovação tecnológica no processo de desenvolvimento dos produtos, agregando valor à comercialização dos produtos por inovação nos processos produtivos, e apoiando sua inserção no mercado. As novas incubadoras fazem parte da Rede Paraíba de Incubadoras (REPARI), coordenada pela Fundação PaqTcPB; essa inserção tem garantido o compartilhamento de conhecimentos e de ações para desenvolvimento de novos produtos e acesso a mercado.

Como funciona? O Programa de Incubação funciona em duas modalidades: incubação residente e incubação virtual. Em-


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presas incubadas residentes são aquelas instaladas na sede da incubadora, enquanto que as empresas incubadas virtualmente são aquelas que recebem os serviços do programa de incubação sem precisar se instalar no espaço físico da incubadora, podendo inclusive estar situadas noutro estado. Todo o processo está dividido em quatro etapas, com duração de três anos, podendo ser prorrogado por seis meses, dependendo do nível de maturidade da empresa ao final do período. A primeira é a fase de pré-incubação, com duração de seis meses, que consiste na formalização e planejamento do empreendimento. Em seguida, vêm as fases de incubação propriamente dita para o desenvolvimento do produto ou serviço, teste do produto ou serviço e, por fim, a fase de comercialização do produto ou serviço e consolidação do empreendimento no mercado. Cada fase tem um tempo médio estipulado de um ano. Os projetos precisam passar por um processo seletivo para que possam receber apoio da incubadora de empresas.

Vocação para Tecnologia da Informação O setor de Tecnologia da Informação (TI) foi um dos que mais recebeu apoio da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) ao longo de sua história. De acordo com a assessoria de imprensa da entidade, cerca de 50% dos empreendimentos qualificados pela Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG) pertence a esse segmento, o que evidencia a vocação das instituições acadêmicas locais para o desenvolvimento de produtos de TI, em sinergia com as tendências de

Incubadora apoia empresas inovadoras mercado. Apesar do destaque dos empreendimentos voltados às novas tecnologias de informação e comunicação, o PaqTcPB também fomenta iniciativas inovadoras em outras áreas de atuação econômica, com projetos nos setores de Eletroeletrônica, Petróleo e Gás Natural, Bicombustíveis, Agroindústria, Tecnologias Ambientais, Design entre outros serviços especializados.

CITTA vai abrigar 52 novos empreendimentos Em outubro de 2013, foi inaugurado o Centro de Inovação e Tecnologia Telmo Araújo (CITTA), instituição que vai articular projetos inovadores em áreas estratégias e oferecer espaços físicos com estrutura para a instalação de laboratórios e empresas. O CITTA irá atuar de forma cooperativa com as empresas consorciadas e demais organizações do Nordeste, formando parcerias, inclusive, para captação de recursos para a região.

O Centro vai oferecer espaço para a instalação de 52 empreendimentos, em uma área total de 15,9 mil metros quadrados. Por enquanto, está funcionando apenas a parte administrativa do empreendimento, mas a expectativa é de que o CITTA deverá atrair cerca de R$ 100 milhões em novos investimentos. Pelo menos 38 empreendimentos já demonstraram interesse em se integrar ao polo tecnológico. “O CITTA vai possibilitar que as nossas empresas conquistem novas fronteiras para o nosso Estado. Esse Centro vai trazer um ambiente que chamamos de sistema de negócios inovadores, onde os empreendimentos vão se instalar e prestar serviços em Tecnologia da Informação”, avaliou Francilene Garcia, diretora-geral da Fundação PaqTcPB. O CITTA vai atuar na implantação de serviços inteligentes autossustentáveis às empresas da região e aos governos estaduais e municipais para apoiar os processos de inovação, além de garantir oferta de instalações e outras facilidades de infraestrutura, como comunicação e logística para as empresas inovadoras consorciadas. Outra meta do Centro é possibilitar a organização de serviços de informação tecnológica às empresas, governos e universidades da região e estimular o surgimento de empreendimentos. O CITTA será responsável ainda por realizar estudos, projetos e pesquisas orientados à geração, apropriação e compartilhamento de conhecimentos necessários à promoção de inovações tecnológicas, bem como mapear tecnologias de domínio público e de baixo custo para promoção de empreendimentos inovadores com orientação social.

Fetec: Feira de Tecnologia atraía 20 mil pessoas Durante 10 anos, uma feira de tecnologia atraiu as atenções da população de Campina Grande, aproximando o cidadão comum das pesquisas e inovações desenvolvidas nos laboratórios das universidades instaladas no município. Era a Fetec, evento que chegava a atrair em média um público de até 20 mil pessoas a cada edição, popularizando a cidade como importante polo de ciência e tecnologia da região Nordeste. A Fetec começou em 1988. Um dos principais idealizadores da feira foi o professor e engenheiro Telmo Cartazes da Fetec faziam alusão ao futuro com a tecnologia cnologiaa Araújo, falecido em 2007, e que na época era diretor da Fundação Parque e feiras recebiam milhares de visitantes em cada edição. d Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB). O local escolhido para abrigar o evento A Fetec se expandiu e a partir da segunda edijá demonstrava o interesse em aproximar os cientistas ção, em 1989, passou a ser realizada na casa de shows da população. A primeira edição foi realizada na Pirâ- Spazzio, contando com um espaço maior para abrigar mide do Parque do Povo, espaço inaugurado dois anos mais expositores e visitantes. A exposição já contava antes como palco do Maior São João do Mundo. Foram com pesquisadores e inventores de várias instituições três dias de evento, de 30 de outubro a 01 de novembro. do Nordeste e de outras partes do país. “No começo, a feira era só local, com pesquisadoA feira se internacionalizou, expondo produtos res aqui de Campina Grande, mas depois cresceu, atrain- e inovações desenvolvidos em outros países. Em 1989, do universidades de todo o país. Desde o início era aber- durante a segunda edição, foi realizada em Campina ta ao público e atraía muita gente. Já na primeira edição Grande, juntamente com a Fetec, o Seminário sobre tínhamos filas enormes. Lembro que a feira acontecia na Comércio Exterior e Cooperação Tecnológica InternaPirâmide do Parque do Povo e a fila ia até a rua Treze de cional. A dimensão que o evento tomou fez com que a Maio, perto do Parque do Açude Novo”, relembra Maria Feira de Campina Grande fosse incluída no calendário Helena Silva, atualmente coordenadora de projetos do de eventos do Itamaraty, Ministério das Relações ExtePaqTcPB e que integrou a equipe de coordenação execu- riores. tiva da Fetec, durante as 11 edições da feira. Além de estudantes e professores de cursos de

Primeira sala de aula de Campina Grande foi criada em 1822 C

ampina Grande se destaca atualmente como polo educacional e tecnológico. Mas o início do desenvolvimento do ensino básico na cidade começou a passos lentos e de forma acanhada. A primeira sala de aula da ‘Rainha da Borborema’ só foi criada em 1822, ano da Independência do Brasil. A vila criada havia 32 anos já tinha uma Câmara Municipal, fórum e cadeia, mas faltava um educandário. As primeiras escolas primárias da Paraíba surgiram no final do período colonial, em 6 de abril de 1822. A Coroa Portuguesa autorizou a criação de apenas 12 escolas para todo o interior da província e só uma delas foi destinada aos campinenses. O primeiro professor da rede pública de Campina foi Antonio José Gomes Barbosa. Mas o modelo de escola era diferente do que conhecemos atualmente, conforme explica o historiador Josemir Camilo. “Não se tratava de escolas (prédios), mas de salas de aula que qualquer um que se julgasse apto podia ter em casa. No Império, não se chamava de escola e sim ‘cadeiras’. O professor se chamava mestre-escola e ensinava todas as séries numa sala só”, explica. Com a Independência, a situação não mudou. O Imperador Pedro I instituiu o ensino primário em 15 de outubro de 1827, determinando a criação de “escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos mais populosos do Império”. Mas, na prática, manteve o modelo estabelecido desde o Brasil Colônia. A manutenção das escolas passou a ser responsabilidade das províncias a partir de 1834. Segundo ILUSTRAÇÃO WILLIAM MEDEIROS

graduação e pós-graduação das áreas de engenharia e informática, a Fetec atraía, também, empresas de base tecnológica e órgãos de apoio à pesquisa e fomento ao empreendedorismo. A última edição da Fetec, nesse formato, aconteceu em 1998, com o tema ‘Educação e Tecnologia’. Nos anos 2000 e 2002, foram realizadas a primeira e a segunda edições da Exposição de Tecnologia (Expotec), evento paralelo ao Congresso de Ciência e Tecnologia. O congresso tinha um perfil mais direcionado ao público acadêmico, com palestras e seminários, oferecendo um espaço menor para a exposição de produtos e eventos. Ainda na década de 2000, a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq) promoveu a Fetec Jovem, evento com formato parecido ao modelo anterior, mas direcionado principalmente para a exposição de trabalhos desenvolvidos no âmbito das escolas de ensino fundamental, médio e técnico.

Elpídio de Almeida, no livro ‘História de Campina Grande’, a mudança piorou ainda mais a situação do ensino, devido à escassez de recursos. “As unidades de menores posses, como a Paraíba, tinham de levar o ensino irregularmente, com avanços e recuos, obedecendo às oscilações das rendas públicas”, afirmou. Em 1835, foram criadas aulas de latim em Campina e em mais outras cinco localidades da Paraíba, contemplando também a Vila Nova de Sousa e as vilas de Pombal, Brejo da Areia, Mamanguape e Pilar. Foram criadas também aulas de primeiras letras em Campina Grande e nas povoações de São José, da Vila Nova de Sousa, Catolé do Rocha, da de Pombal, Santa Luzia, Patos, Congo, São João e Boa Vista.

Meninas ganham direito de estudar em 1857 As meninas não tinham o direito de estudar na cidade até 1849, quando conquistaram o direito de se matricular. Mas as primeiras escolas femininas só foram criadas na Paraíba em 1857, sendo instaladas aos poucos. Até 1863, já havia 15 educandários específicos para mulheres em toda a província. Campina recebeu uma dessas escolas, provida pela professora Maria Carolina Cabral de Vasconcelos. Mas o educandário feminino de Campina durou pouco. Foi fechado em 1861, sob a justificativa de que havia a necessidade de cortar gastos. Prevalecia ainda a divisão entre meninos e meninas, que não podiam conviver juntos no mesmo ambiente escolar. A primeira sala de Clementino Procópio

A figura autoritária do ‘mestre-escola’ Também começaram a surgir em Campina Grande salas de aula fundadas por particulares, mantidas através do pagamento de mensalidades. Mas o ensino privado do final do século XIX mantinha uma metodologia rígida, onde o papel do professor era exercido pela figura do ‘mestre-escola’ e o processo de transmissão de conhecimentos era feito de forma autoritária. Era a época da palmatória e dos castigos físicos. “A base do ensino da época estava centrada na figura autoritária do professor, na verdade um mestre-escola, a exemplo do século XIX, que usava estratégias duras de controle dos alunos. O uso da palmatória ou régua, a separação por sexos, os ditados e exercícios decorados, como a tabuada, podem se distinguir como sendo as principais características do processo educativo da época”, afirma o historiador Bruno Gaudêncio. Um dos mais conhecidos professores desta fase foi Clementino Procópio, personagem que dá nome a uma das praças do centro da cidade. Ele fundou o Colégio São José em 05 de julho de 1872, situado nas proximidades da área onde fica atualmente o Estádio Presidente Vargas, no bairro de São José. Na década de 1910, vários educandários foram inaugurados com modelos parecidos. Entre 1915 e 1917 funcionou na cidade o Instituto Spencer, sob a responsabilidade do professor José Otávio de Barros. Em 1917, o professor Mauro Luna, ex-aluno de Procópio, funda o Instituto Olavo Bilac. Em 1920 também foi criado o Instituto São Sebastião, empreendimento do professor e poeta Anézio Leão.

aula mista do município só foi criada em 1894, sendo regida pela professora Auta Leite, que ficou na função até 1912.

Estrutura das primeiras escolas era precária

A qualidade do ensino em Campina continuou precária durante todo o século XIX, recebendo poucos investimentos do poder público. Indícios sobre a falta de estrutura estão registrados em um relatório da Câmara Municipal, que criou, em 1887, uma comissão de vereadores para avaliar as condições dos serviços de educação que, na época, estavam sob a responsabilidade do governo provincial. O relatório apontava para a ausência de uma sede própria para instalar salas de aula, falta de móveis e de livros para as crianças, que também não recebiam vacinação. Não havia o controle da frequência escolar e a documentação era precária. Na época, a cidade tinha apenas duas escolas primárias: uma masculina e outra feminina. Segundo o relatório, os pais reclamavam da qualidade do ensino e começaram a matricular os filhos em salas de aula privadas, que surgiram a partir de 1878. O desenvolvimento econômico no início do século XX não trouxe melhorias para o ensino. Mesmo com o aumento da população, Campina Grande contava com apenas três professores primários no ensino público para o atendimento de ambos os sexos no ano de 1919, mesmo número de docentes desde 1857.

SECAS

A falta de recursos para a educação se agravava em tempos de seca, gerando o fechamento de várias escolas públicas mantidas pelo governo provincial. Se o ensino recebia poucos investimentos em épocas de fartura, nos períodos de crise era um dos primeiros setores a sofrer com cortes de gastos. Durante a seca de 1877, cerca de 43,7% das escolas que funcionavam na Paraíba fecharam as portas. Dos 107 educandários


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Campina (empreendedora) Grande (nos desafios) Francilene Garcia (UFCG/PaqTcPB)

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ampina Grande, cuja história se inicia no século XVII, traz em seu genoma uma vocação natural para acolher empreendedores, suas ideias e ideais, tornando-se locus de importantes iniciativas que inspiram o desenvolvimento social e econômico da região. Segundo contam os historiadores, o primeiro aldeamento urbano mais significativo surgiu sob a liderança de indivíduos visionários e empreendedores, que buscavam pela via da interiorização a ampliação de suas ações comerciais. Os empreendedores nos meados de 1697, movidos pela movimentação econômica da época - a civilização da cana e a do gado -, trataram de concretizar uma importante ligação entre o Litoral e o Sertão. Essas iniciativas históricas foram fundamentais para a disseminação de uma cultura fortemente empreendedora, que se sustenta e avança em sinergia com as vocações do território e com os desafios e oportunidades oriundos da sociedade. É neste espaço geográfico, interior de uma região historicamente marcada por baixos investimentos privados, que podemos acompanhar a presença constante de indivíduos empreendedores, cujos sonhos e projetos marcam as conquistas e os avanços de uma cidade que se renova com os próprios desafios. Ao completar 150 anos, Campina Grande continua a atrair profissionais, fornecedores, empreendedores diversos, gerando um ambiente propício à disseminação de tecnologias e inovações – crucial para a nova competitividade dos territórios neste início de século XXI. No modelo de desenvolvimento de Campina Grande que, ao longo de sua história, posiciona-se com uma vocação em prol do desenvolvimento regional, destaca-se a identificação e implantação de iniciativas verticais com forte efeito transformador: a implantação crescente e pioneira de um ‘cluster do conhecimento’ a partir de ações iniciadas em 1955, quando foi criada a Escola Politécnica, instalada em terreno no Bairro de Bodocongó,

uma escola de Engenharia que deu origem à atual Universidade Federal de Campina Grande – UFCG; o cultivo e a comercialização do algodão, que se tornariam um importante marco, consolidando uma fase áurea de um polo econômico emergente – este fato histórico-comercial trouxe, em 1975, a decisão da Embrapa de criar em Campina Grande o Centro Nacional do Algodão, a Embrapa Algodão; mais recentemente a instalação do Instituto Nacional do Semiárido – Insa; dentre outras iniciativas. Estas conquistas contribuíram para que Campina Grande e a Paraíba avançassem na busca de mecanismos com ênfase na maior interação dos ambientes geradores de conhecimento com a sociedade – sem perder de vista o desafio de também atuar com ações de ‘rejuvenescimento’ junto aos setores tradicionais da economia do Estado e da Região. Aqui um destaque deve ser dado ao Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco – CTCC, criado em 1994 para atuar na formação de mão de obra especializada para as indústrias de curtume e calçados da Paraíba e de Estados das Regiões Norte e Nordeste. Em todo o mundo, a combinação da cultura empreendedora com o fomento à inovação tem se mostrado como o combustível para a geração de riquezas e elevação do padrão de vida, em especial nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI. Campina Grande, que iniciou o seu desenvolvimento como ponto de referência geográfico e de mercado, transformou-se num importante cluster do conhecimento e, nos dias atuais, acolhe projetos inovadores concebidos por gestores empreendedores e de visão. Campina Grande, em sua origem conhecida como um ‘entroncamento das várias estradas e vias’, ao completar seus 150 anos é parte de ’um privilegiado corredor para investimentos em CT&I’. A sintonia entre a vocação voltada ao desenvolvimento regional e a contínua prospecção de novos nichos verticais como forma de incentivo às mudanças na ação produtiva é fundamental para contextualizar o nasci-

CONSULTORIA

REALIZAÇÃO

Maria Ida Steinmuller: Presidente do Instituto Histórico de Campina Grande IHCG, “Casa Elpídio de Almeida. Josemir Camilo de Melo: Historiador, professor da UEPB. Membro do Instituto Histórico de Campina Grande – IHCG. Adriano Araújo e Emmanuel Sousa: criadores do Blog Retalhos Históricos de Campina Grande. Francilene Garcia: Professora da UFCG, Diretora Geral da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba e Presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores - ANPROTEC. Bruno Gaudêncio: Escritor, jornalista, historiador, membro da Academia de Letras de Campina Grande e do Instituto Histórico de Campina Grande. Janailson Macêdo Luiz: Historiador. Professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Membro do IHGC. José Emerson Tavares de Macêdo: Historiador. Licenciado em História pela Universidade Estadual da Paraíba. Mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande. Rosilene Dias Montenegro: Historiadora, professora da UFCG. Coordenadora do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia em Campina Grande e do Núcleo

mento e a implantação da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (Fundação PaqTcPB), em 1984, instalada em Campina Grande. Como aconteceu em outros Estados do país, ainda no final dos anos 60, verificava-se o surgimento de centros de P&D no interior das universidades instaladas na Paraíba, estimulados pelas oportunidades de fomento da política industrial e das crescentes demandas do setor empresarial. No início, os centros de P&D se incumbiam de realizar a ponte entre o que o pesquisador entende como “fim” e o que a empresa start-up ou nascente acolhe como “início” para a fabricação e inserção no mercado de novos produtos. Com a criação da Fundação PaqTcPB e, mais recentemente, com a retomada dos núcleos de inovação tecnológica (NITs), a transferência de tecnologia passa a considerar o deslocamento dos indivíduos portadores do conhecimento, na condição de novos empreendedores ou responsáveis pela transformação dos resultados de pesquisas desenvolvidas diretamente com a sua participação. Nesse cenário, a Fundação PaqTcPB vem sendo pioneira e se renova na criação de mecanismos de promoção do elo pesquisa vs. produção, merecendo destaques: a realização da Feira de Tecnologia (FETEC); a operação da Incubadora Tecnológica de Campina Grande (ITCG), que já graduou mais de 95 empreendimentos; e a atual implantação do Centro de Tecnologia e Inovação Telmo Araújo – CITTA. O apoio aos empreendimentos inovadores resulta de uma trajetória de parcerias bem sucedidas, da interação contínua com as competências instaladas nas universidades e nos centros de P&D localizados na cidade e região, da pactuação de parcerias com as diferentes instâncias governamentais e da oportuna captação e contratação de fomento. Essa nova geração de empreendedores inovadores é a responsável pelo lançamento de novos produtos e serviços no mercado – alargando fronteiras e gerando alternativas de desenvolvimento mais competitivas para a cidade, estado e região.

de Estudos em Desenvolvimento Regional. Atual Pró-reitora de Pesquisa e Extensão da UFCG. Fábio Ronaldo da Silva: Jornalista, historiador e professor universitário. Mestre em História. Vice-coordenador do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia e, também, do Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Regional. José Valmi Oliveira Torres: Historiador e professor do ensino médio. Pesquisador do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia e, também, do Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Regional. José Edmilson Rodrigues: Advogado, mestre em literatura pela UEPB. Autor da pesquisa sobre a cronologia biográfica dos ex-prefeitos de Campina Grande Rostand Melo: Pesquisa e texto. Imagens: Rostand Melo, Acervo de Edson Vasconcelos, acervo do Museu Histórico de Campina Grande, acervo do blog ‘Retalhos Históricos de Campina Grande’, acervo do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia, assessorias de imprensa e Leonardo Silva.

APOIO CULTURAL

Embrapa gera tecnologia e renova cultura do algodão C

ampina Grande começava a sentir no final da década de 1960 os efeitos da decadência do seu principal produto econômico: o algodão. O momento era de crise, mas foi justamente neste cenário de desconfianças e incertezas que os investimentos em ciência e tecnologia também chegaram à produção agrícola na região. Em 1975 foi instalado na ‘Rainha da Borborema’ o Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA), com a missão de coordenar, planejar e executar as pesquisas com algodão no Brasil. Era o início da trajetória de quase 40 anos de inovação da Embrapa Algodão. O CNPA nasceu a partir da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada dois anos antes no governo do General Emílio Garrastazu Médici, no auge da fase mais rígida do regime militar no país. A criação da Embrapa foi autorizada com a Lei Federal nº 5.851 de 7 de dezembro de 1972, determinando ainda que a nova empresa seria vinculada ao Ministério da Agricultura. O ato de instalação da Embrapa aconteceu em 26 de abril de 1973. Inicialmente, as atividades da Embrapa Algodão estavam concentradas em duas linhas principais de atuação, sendo a primeira voltada para a cultura do algodão arbóreo, de grande expressão socioeconômica na região Nordeste, e a segunda voltada para o algodoeiro herbáceo, com maior ênfase na região Centro-Oeste do país. De acordo com o professor Paulo Sérgio Cunha Farias, geógrafo da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o CNPA foi criado para adotar a racionalidade científica na produção de algodão, a cotonicultura, centralizando as pesquisas e organizado o seu desenvolvimento. A escolha de Campina Grande para sediar o novo centro de pesquisa marcava uma separação entre as pesquisas desenvolvidas pelo poder público e a produção das empresas do setor que, na época, já estavam concentradas noutras regiões do país. “Enquanto as maiores produções de sementes melhoradas de algodão eram desenvolvidas em São Paulo, Paraná e Goiás, foi em Campina Grande que a Embrapa instalou o seu centro especializado”, explica Farias. Apesar de ter sido criada com o foco principal na pesquisa sobre a cultura do algodão, a unidade da Embrapa em Campina Grande também tem desenvolvido ao longo de sua história tecnologias para melhoria dos sistemas de produção de outras culturas, a exemplo do amendoim, gergelim, mamona, pinhão-manso e do sisal. As pesquisas empreendidas pela Embrapa Algodão desenvolvem sistemas de produção e atuam no melhoramento genético das plantas para o cultivo, obtendo novas variedades mais resistentes ou com características que garantam uma maior aceitação do produto no mercado ou redução nos custos de produção. A Embrapa Algodão também desenvolve pesquisas na área de controle biológico, biotecnologia, mecanização agrícola, qualidade de fibras e fios de algodão, tecnologia de alimentos e produção de biodiesel de mamona. Há ainda a realização de serviços de consultoria, assessoria, treinamento, análises laboratoriais de solo e água, teor de óleo de sementes e identificação de pragas e doenças associadas às culturas fibrosas e oleaginosas trabalhadas.

Algodão colorido foi desenvolvido na Embrapa de Campina Grande

ESTRUTURA

A Embrapa Algodão é uma das 47 Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A sede está localizada no bairro do Centenário, em Campina Grande. Atua em todo o país na geração de tecnologias, produtos e serviços para as culturas do algodão, mamona, amendoim, gergelim e sisal. Conta com 209 funcionários, sendo 56 pesquisadores, 39 analistas, 56 técnicos e 58 assistentes, além de uma equipe de estagiários, bolsistas e prestadores de serviço. A unidade de Campina Grande conta ainda com dez laboratórios, onde são realizadas análises de solo e água, análises de qualidade de fibras de algodão, teor de óleo de sementes e identificação de pragas e doenças associadas às culturas fibrosas e oleaginosas trabalhadas. Conta ainda com um auditório com capacidade para 100 pessoas e uma biblioteca. A Unidade conta atualmente com uma carteira de 29 projetos de pesquisa e transferência de tecnologia. Para execução de seus projetos de pesquisa, em parceria com instituições nacionais e internacionais, a Embrapa Algodão possui oito campos experimentais localizados nos municípios de Monteiro e Patos (Paraíba), Barbalha e Missão Velha (Ceará), Luiz Eduardo Magalhães e Irecê (Bahia), Sinop (Mato Grosso) e Santa Helena (Goiás), além de diversos pontos de pesquisa no Brasil e no exterior.

Enfrentamento ao ‘Bicudo’ Apesar da atuação da Embrapa Algodão em Campina Grande, o setor algodoeiro atravessou sua pior fase de crise no período de 1979 a 1983, quando enfrentou os efeitos de uma prolongada seca. Além dos prejuízos da estiagem, os produtores de algodão ainda tiveram de enfrentar a praga do bicudo, uma espécie de besouro que perfura o botão floral e a maçã do algodoeiro para se ali-

mentar e se reproduzir, depositando seus ovos. Cerca de uma semana após a postura dos ovos, o botão atacado cai. Como esta é uma praga que se reproduz rapidamente, causou um impacto negativo na produção nordestina na década de 1980. Em 1985, a infestação das lavouras de algodão pelo bicudo levou a Unidade a buscar novas alternativas de pesquisa, lançando novas espécies melhoradas de algodão precoce e integrando ao seu portfólio de pesquisa as culturas do amendoim, mamona, gergelim, sisal e pinhão-manso. Na década de 1990, a Embrapa Algodão passou a promover pesquisas para o desenvolvimento de cultivares de algodoeiro adaptadas às condições do Cerrado brasileiro inicialmente no Mato Grosso, depois em Goiás e na Bahia. As pesquisas desenvolvidas na Embrapa Algodão conseguiram criar espécies mais resistentes à praga do bicudo, mas isso não mudou o cenário de concorrência entre os produtores da Paraíba e os de outras regiões do país. “As regiões cotonicultoras mais capitalizadas do Centro-Sul puderam delas se servir e tiveram mais sucesso no combate e na convivência com essa praga que o Sertão e o Agreste paraibanos”, afirma o professor Paulo Sérgio Cunha Farias.

‘Algodão colorido’ abre novas perspectivas de produção A partir dos anos 2000 a Embrapa Algodão começa a lançar as primeiras variedades do algodão naturalmente colorido, produzido através de pesquisas do cruzamento genético entre diferentes tipos de algodão já existentes na região. As tonalidades obtidas pelo melhoramento realizado em Campina Grande vão do verde-claro aos tons de marrom escuro, claro e avermelhado. São cores que voltaram a atrair a atenção do mercado internacional para a produção de Campina Grande.


16 Segundo a Embrapa, cinco variedades são exportadas atualmente para o resto do mundo. Entre os principais compradores estão Japão, Itália e França, além de Estados Unidos, Alemanha, Portugal, Espanha, Suíça, Inglaterra e Dinamarca. A primeira variedade de algodão colorido a ser lançada com a BRS 200 Marrom, seguida pela BRS Verde, BRS Safira, BRS Rubi e BRS Topázio. Todas são indicadas para a produção no Nordeste brasileiro. A vantagem do algodão colorido é produzir fibras que já nascem coloridas na natureza e que por isso não precisam passar por qualquer processo de pintura ou tingimento para a fabricação de roupas. Os tecidos produzidos com algodão colorido não possuem corantes e por isso são ideais, por exemplo, para o uso por pessoas alérgicas. Sem a necessidade do uso de produtos químicos para obter coloração, o algodão colorido facilita o processo de elaboração das roupas, reduz custos de produção para a indústria têxtil e ainda traz benefícios ao meio ambiente, evitando a poluição com a liberação no meio ambiente de resíduos gerados no processo de tingimento. O melhoramento genético é feito a partir do cruzamento entre espécies diferentes, realizado através da manipulação das flores. Essas flores cruzadas geram frutos e sementes. Quando as sementes resultantes desses cruzamentos são plantadas, passam por um processo de avaliação e seleção para dar origem às plantas de algodão colorido que conhecemos.

O ‘pioneiro’ Napoleão Beltrão Um dos fundadores da Embrapa Algodão foi o engenheiro agrônomo Napoleão Esberad de Macêdo Beltrão, primeiro pesquisador contratado para atuar na unidade de Campina Grande em 1974, na época da criação do então Centro Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA). Napoleão atuou durante 39 anos na pesquisa em agropecuária, dos quais 37 anos dedicados à Embrapa. Napoleão Beltrão foi chefe-geral da Embrapa Algodão por vários mandatos e estava no exercício do cargo quando morreu aos 63 anos de idade em 14 de julho de 2013, vítima de complicações provocadas por um infarto no miocárdio. Na época, o pesquisador se dedicava ao desenvolvimento da cultura da mamona com vinculação energética para a produção de biodiesel, sendo membro fundador da Rede Nordestina de Biodiesel. O professor Napoleão se formou engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1972, iniciando a carreira logo em seguida. Foi professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no Campus de Areia, lecionando em cursos de pós-graduação e orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado. Participou do desenvolvimento de tecnologias para as culturas do algodão, mamona, amendoim, gergelim e sisal e produziu mais de 200 artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Recebeu diversos prêmios por trabalhos publicados e desempenho acadêmico, destacando-se o Prêmio Banorte e o ANDEF do Manejo Integrado.

FASCÍCULO

Insa surge para desenvolver soluções de convivência com a seca

A

produção científica e tecnológica de Campina Grande não está direcionada apenas para a elaboração de softwares ou equipamentos de última geração, mas também para melhorar a qualidade de vida do homem do campo e criar novas estratégias de convivência com a seca. Com estes objetivos, foi instalado em Campina Grande no ano de 2004 o Instituto Nacional de Semiárido (Insa), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que tem como objetivo articular pesquisas e políticas públicas relacionais ao semiárido nordestino. O Insa foi criado pela Lei Federal nº 10.860, de 14 de abril de 2004, durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Um dos projetos da Insa: sistema de captação da água da chuva, em Catolé de Boa Vista ministro da Ciência e Tecnologia no período de implantação do instituto era o pernambucano Eduardo Campos, morto em 13 de agosto de 2014 em um acidente aé- fossem elaborados os Planos Diretores da Instituição reo na cidade de Santos-SP. nos quadriênios 2008-2011 e 2012-2015. Em agosto de Um dos idealizadores do Instituto foi o enge- 2008, o Insa realizou o primeiro concurso público para nheiro Manoel Dantas Vilar Filho, mais conhecido como composição de parte do seu quadro técnico-científico e ‘Dr. Manoelito’, que foi diretor do comitê executivo para administrativo. a implantação do Insa. Manoelito é primo do escritor e Desde novembro de 2011, o Insa fundramaturgo paraibano Ariano Suassuna, que ciona em uma sede própria, localizada no também defendia a ideia de criação de um bairro Serrotão, em Campina Grande (PB). órgão de pesquisa voltado à realidade do seCom investimentos da ordem de R$ 6,5 mimiárido nordestino. A participação de Ariano lhões, o Complexo é composto por 6 (seis) no processo de concepção do centro de pesquisa blocos horizontais que concentram funções adestá eternizada na marca do Insa, que foi criada por ministrativas e de pesquisa, sendo um prédio para Suassuna em estilo armorial e doada ao instituto após a administração; dois para as coordenações de pessua inauguração. quisa; um contendo auditório, biblioteca e salas de O primeiro diretor do instituto foi Roberto Gertreinamento; um bloco com almoxarifado e garagem; mano da Costa, que atuou no planejamento estratégico e outro exclusivo para refeitório, totalizando quase 3 no período de instalação e estrutura no novo centro de mil metros quadrados de área total construída. pesquisa. A escolha de Campina Grande para sediar o O instituto dispõe ainda de uma Estação Experiinstituto de pesquisa foi motivada pela localização geo- mental, localizada a cerca de 4 quilômetros de distância gráfica da cidade, considerada estratégica na região do da sede, na zona rural de Campina Grande (PB). A Fazensemiárido, e também pela tradição da cidade como refe- da Lagoa Bonita, onde está situada a Estação Experimenrência nas áreas de educação, saúde e tecnologia. tal, é usada como centro de difusão de inovações produAs principais áreas temáticas de atuação do Insa tivas e de tecnologias de convivência com o Semiárido são: desertificação e mudanças climáticas; biodiver- e de estudos e pesquisas nas áreas de meio ambiente, sidade; uso sustentável e conservação de cactáceas e onde os projetos desenvolvidos pelo Insa são testados e espécies forrageiras nativas; uso de águas residuárias; analisados. Lá são realizados estudos sobre desertificaaproveitamento agroindustrial de cactáceas; educação ção, recuperação e manejo de áreas degradadas, ecossiscontextualizada; desenvolvimento e tecnologias so- temas e dinâmica da caatinga, diversidade genética aniciais; segurança forrageira e melhoramento genético mal, vegetal e de microorganismos, recursos hídricos e vegetal e animal. uso sustentável da biodiversidade e das potencialidades O Insa iniciou seu processo de Planejamento Es- dos agroecossistemas do semiárido brasileiro. tratégico com apoio do Centro de Gestão e Estudos EsA estação experimental será composta por dois tratégicos (CGEE), visando ajustar suas metas ao Plano complexos de laboratórios. O primeiro, denominado de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desen- de Complexo Celso Furtado, terá laboratórios equipavolvimento Nacional (Pact 2007-2010) e ao Plano Pluria- dos para pesquisas sobre produção animal, reprodunual (PPA). Foi um longo processo de construção cole- ção animal, ecofisiologia e ecologia vegetal. Já o comtiva, que contou com a participação de 65 instituições e plexo de laboratórios Miguel Arraes terá estrutura 1.660 especialistas interessados na temática do Semiá- para experimentos sobre biotecnologia, recursos narido brasileiro. Todo esse processo contribuiu para que turais e agroindústria.

CAMPINA CAMPINA GRANDE GRANDE

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ANOS ANOS À FRENTE FRENTE À

DOMINGO 31 DE AGOSTO DE 2O14

Cidade da educação, ciência e tecnologia


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