O advogado iruneu jóffily

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Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba “Casa de Irineu Pinto”

O ADVOGADO IRINEU JÓFFILY Rau Ferreira*

Irinêo Ceciliano Pereira da Costa – Irineu Jóffily (15/12/1843 – 08/02/1902) foi jornalista, redator, advogado, político, geógrafo, juiz e promotor de justiça. Fundou os jornais “Acadêmico Paraibano” (Recife/PE) e “Gazeta do Sertão” (Campina Grande/PB). Publicou as seguintes obras: “Notas sobre a Parahyba” (1892) e “Sinopses das Sesmarias da Capitania da Parahyba” (1893). Neste pequeno artigo, fazemos um resumo de sua atuação como advogado em Campina Grande em defesa dos trabalhadores rurais e do proletariado em geral.

Esperança – Parahyba do Norte © Rau Ferreira, Setembro de 2014.


O ADVOGADO IRINEU JÓFFILY Rau Ferreira*

N

a Campina de 1872, um jovem advogado abria banca. É certo que já contava com a experiência de ter sido Promotor Público em S. João do Cariry (1867) e em Campina fora Juiz Municipal eleito para o quadriênio

1868/1872. No entanto, essa função judicante ia de encontro aos seus interesses de defensor.Casara-se com Raquel Olegário de Torres Brasil e se estabelecera na Avenida Floriano Peixoto, com um sítio em Bodocongó. Desde cedo mostrou-se sensível à causa dos miseráveis e do proletariado. Uma das

primeiras questões que assumiu foi a de Francisco

Fernandes Abrunhosa. Português de origem, possuía uma casa de secos e molhados na vila de Fagundes. Tendo seu cavalo de estimação roubado, o comerciante procurou o Capitão Manoel Gustavo de Faria Leite. A autoridade policial não tomou qualquer providência. Foi então que Abrunhosa cometeu a temeridade de comentar com amigos que suspeitava da conivência do militar. Arrependido, buscou garantias na Capital da Provîncia mas era tarde demais. Regressando, foi morto na própria rede em que descansava, enquanto tranquilizava sua esposa. Indicado por Custódio Domingos dos Santos, Jóffily arrecadou os bens do espólio e acompanhou o processo-crime. O Vice-cônsul português encaminhava todos os documentos e papéis ao governo imperial, já que desconfiava da atuação do Juiz João da Matta Corrêa Lima. A corte afastou o Capitão Gustavo, demitindo-o em 27 de julho de 1887. Contudo o “rumoroso” júri absolveu todos os implicados. O magistrado que substituiu Correia Lima o taxou de venal, por ter negado a autoria do capitão de polícia. O jornal “O Conservador”, de 13 de julho de 1889, publicou algumas notas do dito criminoso, que a Gazeta do Sertão – hebdomedário de


Jóffily, publicado em Campina entre 1888/1891 – taxou de mentirosas. Para o folhetim campinense, resumidamente, aquele foi um crime bárbaro que restou impune. Não há evidência quanto à corrupção do Juiz, mas o processo não deixa de ser acoimado de vício já que, duas das testemunhas apresentadas, eram os proprios genros do homicida. Tempo depois, Manoel Gustavo foi vítima de uma “surra de peia”, aplicada pela família “Gato” do termo do Ingá, “a mando, ao que se diz,

daquelles a quem hoje serve como cão obediente” (Gazeta do Sertão: 02/08/1889). Irineu advogou ainda para os “matutos” que se rebelaram durante o episódio do Quebra-quilos, chegando a ser acusado juntamente com o amigo Vigário Calixto, de ser um dos mentores da sedição. O Chefe da Polícia – Manoel Caldas Barreto – em seu relatório ao Presidente da Província, apontava o Vigário de Campina Calisto da Nóbrega como um dos mentores intelectuais destes eventos, e estranhava o seu grau de amizade com o Dr. Irineu Jóffily, à época Juiz Municipal, que se desligou do seus cargos para defender o religioso e demais envolvidos no incidente. Houve ainda a participação do Padre Ibiapina que auxiliando na Igreja de N. S. da Conceição pregou abertamente contra o governo. Ao final do processo, o Vigário Calixto foi absolvido. O Padremestre Ibiapina, coadjutor do vigário campinense, sequer chega a ser denunciado. Seu nome já era mito tendo o governo recuado prudentemente. E em que pese às teorias de Horácio de Almeida acerca da participação de Joffily, nada ficou constatado. Em 1887, Jóffily recusou uma procuração. O instrumento concedia-lhe poderes para reivindicar uma gleba de terras doadas ao Convento Daguia e que era ocupado por “posseiros” (entre eles o negro Timóteo). Pôs-se em defesa dos ocupantes, que somente foram desalojagos sete anos depois pelo então vigário Sales. Não obstante exercece a defesa jurídica, quando impedido em função de algum mandato público exercido, fazia do seu jornal “a voz rouca


das ruas”, denunciando os demandos dos poderosos sobre os humildes campinenses. Assim o caso de Maria Francisca do Carmo, viúva e pobre, acusada injustamente de usurpar terras do Sítio Nascimento (Gazeta do Sertão: 12/10/1888); de D. Petronila, professora primaria, doente, que foi obrigada a pedir remoção de sua cadeira, sob pena de demissão (Gazeta do Sertão: 26/10/1888); do pobre João Pereira, que teve sua casa invadida, coagido sob ameaça de surra de facão ou prisão pelo delegado, caso se negasse a abrir mão de suas terras; e Baulduíno Gomes da Silveira, paupérrimo, que atuava junto ao açude público (Gazeta do Sertão: 14/06/1889). Irineu Jóffily toma a defesa dos apenados, condenados às galés perpétuas, que recebiam apenas 240 réis para a sua alimentação (Gazeta do Sertão: 21/06/1889). A lide jurídica lhe possibilitou atuar como vereador em Campina, além de deputado provincial e deputado geral. Abandonando o discurso político, volta à advocacia e assim permanece até seus últimos dias, consoante escreve em Carta: "Campina, 17 de janeiro de 1893. Capistrano de Abreu,

entrando 93 não posso deixar de oferecer atestado de vida. Continuo nos misteres de advogado de aldeia e criador” (ABREU, Capistrano. Correspondências reunidas. Biblioteca Nacional). Recebendo a unção extrema do Monsenhor Walfredo Leal – vigário de Guarabira – recomendou à família que seu féretro fosse carregado por pessoas do povo. Após o último suspiro, saiu a vultosa procissão de humildes agricultores e de miseráveis operários até o cemitério N. S. do Carmo. Hortênsio Ribeiro relembra aquela cena triste, como testemunha ocular: "modesto ataúde era conduzido pelos matutos de saco às

costas. Na minha curiosidade perguntei àminha mãe quem era o morto que ia sendo levado ao cemitério por


caipiras de pés no chão. E minha mãe, enxugando uma lágrima, me segredou baixinho – que era o enterro de um dos maiores filhos da Paraíba” (A União: 02/02/1943). Irinêo Ceciliano Pereira da Costa – Irineu Jóffily (15/12/1843 – 08/02/1902) foi jornalista, redator, advogado, político, geógrafo, juiz e promotor de justiça. Fundou os jornais “Acadêmico Paraibano” (Recife/PE) e “Gazeta do Sertão” (Campina Grande/PB). Publicou as seguintes obras: “Notas sobre a Parahyba” (1892) e “Sinopses das Sesmarias da Capitania da Parahyba” (1893).

Rau Ferreira* _____________________________________________________________________________ (*) Cidadão esperancense, bacharel em Direito pela UEPB, Sócio Correspondente do IHCG e sócio Colaborador do IHGP. Autor dos livros SILVINO OLAVO (2010) e JOÃO BENEDITO: O CANTADOR DE ESPERANÇA (2011) e, do verbete SILVINO OLAVO, existente no Pequeno Dicionário de Escritores/Jornalistas ParaIbanos do Século XIX (2013), editado pela UEPB; sendo ainda o prefaciador da biografia do Coronel ELYSIO SOBREIRA, patrono da PMPB (Edições Lyrio Verde: 2010), com dois capítulos publicados naquela obra. No prelo, o escritor tem as seguintes obras: AS RAZÕES DO NEGO PARAHYBANO e AS AVENTURAS DE PEDRO PICHACO.

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Esperança – Parahyba do Norte © Rau Ferreira, Setembro de 2014.


Referências: - A União. Edição de 02 de fevereiro. João Pessoa/PB: 1943. - ALMEIDA, Elpídio de. História de Campina Grande. Edicões da Livraria Pedrosa: 1962. - GALIZA, Diana Soares de. Irineu Jóffily Vida e Obra Coleção Historiadores Paraibanos. Vol. IX. IHGP: 1998/2001. - Gazeta do Sertão. Edição de 02 de agosto. Campina Grande/PB: 1889. - JOFFILY, José. Entre a Monarquia e a República. Livraria Kosmos Editora: 1981. - O Conservador, Edição Nº 513, de 13 de julho. Parahyba do Norte: 1889. - O Despertador. Ano XIX, Nº 1.149, de 27 de julho. Parahyba do Norte: 1887. FILHO, Lino Gomes da Silva. Síntese histórica de Campina Grande, 1670-

1963. Ed. Grafset: 2005. JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Apresentação de Geraldo Irinêo Joffily. Ed. Thesaurus: 1977. _____________________________________________________________________________

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