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MODELOS DE COZINHAS

+ SEGMENTO + MAXMORE + ALU2000 + INTEGRATION + PLUSMODO

A arte chegou à cozinha Passou a ser o coração da nossa casa. Nunca imaginei. Uma cozinha que todos adoram, onde tudo converge. A organização, o pormenor, o espaço, o design... Prática, elegante, linda, perfeita. Degustar é um prazer, mas cozinhar, agora, é uma autêntica paixão!

Poggenpohl, todos os dias uma nova energia em casa

www.poggenpohl.com.pt


1UEQUES DE AMoNDOA COM COBERTURA TEMPO DE PREPARAljO MIN \ TEMPO TOTAL MIN RECEITA PARA PESSOAS \ DI½CULDADE „ G DE MANTEIGA SEM SAL CHfVENA DE AMoNDOA MOqDA CHfVENA DE Al{CAR EM Pv PENEIRADO CHfVENA DE FARINHA SEM FERMENTO PENEIRADA C DE CHf DE FERMENTO CLARAS DE OVO CHfVENA DE FRAMBOESAS FRESCAS !QUElA O FORNO A ›C 5NTE FORMAS DE QUEQUES #OLOQUE A MANTEIGA NUMA PANELA PEQUENA E LEVE A LUME BRANDO ATm DERRETER E ½CAR LIGEIRAMENTE DOURADA 4IRE DO LUME E RESERVE .UMA TIGELA MmDIA JUNTE A AMoNDOA MOqDA O Al{CAR EM Pv A FARINHA O FERMENTO E MISTURE BEM *UNTE CLARAS E MEXA ACRESCENTE A MANTEIGA DERRETIDA ATm OBTER UMA MASSA CREMOSA %NCHA AS FORMAS DEIXANDO UM TERlO LIVRE PARA OS BOLINHOS TEREM ESPAlO PARA CRESCER #OLOQUE NO FORNO POR A MINUTOS OU ATm ½CAREM DOURADOS E NjO CEDEREM QUANDO TOCADOS MAS AINDA H{MIDOS POR DENTRO 2ETIRE DO FORNO E DEIXE ARREFECER 2EGUE COM A COBERTURA MAS Sv QUANDO OS BOLOS ESTIVEREM FRIOS E DECORE COM FRAMBOESAS CRISTALIZADAS


Blue. Parar para viver… QUANDO SE TEM A OPORTUNIDADE de poder parar para pensar, poder parar para ler os últimos anos da nossa vida e reflectir sobre como gostaríamos que fossem os próximos, descobrimos que atropelamos prioridades, que corremos, corremos, corremos, e que algumas das coisas mais importantes não tiveram a atenção que mereciam. Foi numa dessas paragens que percebi o valor dos pequenos momentos que passei junto das pessoas que me são mais chegadas. São estes momentos, aqui ou lá por fora, que devemos querer viver, que devemos sentir e pelos quais nos devemos apaixonar e partilhar. Um bom livro para ler. Estar com os nossos filhos ao ritmo deles. Jantar com os amigos sem televisão. Um fim--de-semana ou umas férias no sítio certo… Foi por tudo isto que nasceu o projecto “Blue” e é com este espírito que quero viver os próximos anos da minha vida, partilhando-o consigo, todos os meses. Só foi possível porque desde o primeiro dia houve mais pessoas que acreditaram que fazia sentido. A equipa que convidei para pôr de pé este projecto, e que mensalmente vos leva este espírito, é uma equipa sensível, motivada, apaixonada e profissional. Para mim, são os melhores. Foi assim à cerca de sete anos em Portugal que nasceu este conceito, lançamos a Blue Travel e a Blue Living e durante este período, a Blue Cooking, a Blue Wine e a Blue Design foram tornando este projecto um caso de sucesso editorial.

Agora no Brasil, a Blue Spirit reune a experiência de todas estas areas. Espero que goste, que se sinta identificado e que se apaixone também. Todos os meses queremos proporcionar-lhe horas diferentes e novos destinos, para que usufrua melhor os momentos de lazer. HÁ SEMPRE UM DIA PARA COMEÇAR.

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SABER VIVER BEM

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JULHO 2010 Í N D I C E

RELAXE 24 – ITACARÉ – TXAI RESORT

FAMÍLIA 100 – CHURRASCO EM SÃO PAULO

Uma redundância feliz. Praia, praia, praia… até “fartar vilanagem”, como dizem os nativos, não mentindo pela origem deste trecho harmonioso de 64km exactos de areia fina, mar cor de cobalto e mata atlântica.

Estão sempre lá quando precisamos, seja para ouvir ou divertir, partilhar e até cozinhar. Num dia primaveril, juntámos pratos afrodisíacos, bebidas refrescantes e quatro amigas… o resultado só podia ter sido este, uma tarde pautada por confidências, gargalhadas e muita animação!

ADRENALINA 34 – EUA – ASPEN É o clássico dos clássicos das estâncias de ski, o must dos resorts. Para lá de ter sido a primeira nos EUA, Aspen, antiga cidade mineira, tem muito mais encantos que os que lhe deram a fama de “estância mais ‘in’ do planeta” e refúgio de celebridades.

COM AMIGOS 64 – MALDIVAS – OCEAN DANCER Por detrás de uma viagem inesquecível, e fora dos roteiros comuns, esconde-se uma história que inspira qualquer um. E o que é afinal uma grande viagem?

AVENTURA 84 – COSTA RICA Foi numa homenagem à Natureza que Colombo a baptizou de Costa Rica. O país mais pequeno da América Central é uma meca do ecoturismo, e concentra quase 5% da biodiversidade de todo o mundo. Percorremos a costa do Pacífico (e “pacífico”, aqui, é mais que o oceano, já que o país é um dos poucos que não têm exército) à procura dos seus melhores segredos.

RELAXE 114 – TOP 25 SPAS NA PRAIA Abandone-se aos melhores mimos em 25 spas de praia absolutamente exclusivos. Descubra técnicas de rejuvenescimento no Pacífico; entregue-se a sessões de aromaterapia no Índico; faça programas anti-stress na Ásia; descanse no Caribe com terapias naturais e conheça os mais sofisticados centros de talassoterapia da Europa. Para umas férias a pensar em si…

SHOPPING 156 – LONDRES – LOJAS TRENDY Bohemian-chic, cool, vintage, alternativo... Seja qual for o seu estilo, vai perder a cabeça com esta selecção das moradas mais in da capital britânica. Para comprar um vestido de noite, um casaco de Inverno ou um simples acessório, venha conhecer as lojas onde se vestem actrizes e top models.

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PETISCOS PARA O NOVO ANO...

3 espaços a não perder Numa próxima ida ao Porto marque mesa no novo restaurante Pedro Lemos, descubra o que nos reserva o chef Rui Paula no Palácio das Artes e conheça a trattoria do Gramercy Park Hotel, em Nova Iorque.

Nova Iorque | Gramercy Park Hotel SABORES ITALIANOS À MESA A trattoria Maialino, no Gramercy Park Hotel em Nova Iorque, aberta desde o mês passado, resulta de um sonho

PORTO

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PEDRO LEMOS

antigo de Danny Meyer. «Levar por diante este projecto deu-me a oportunidade de reviver os dois anos que vivi

À MESA COM TRADIÇÃO Recentemente inaugurado na Foz do Douro, o restaurante Pedro Lemos – Petiscos, Vinhos e Guloseimas traz de volta à mesa os sabores tradicionais portugueses. Por detrás deste ambicioso projecto gastronómico está o chef Pedro Lemos, que gosta de cozinhar para os grandes apreciadores. Foi com as avós Aurora e Miquinhas que descobriu as mais simples iguarias e que agora partilha com os seus clientes. Dividido em três conceitos: petiscos, vinhos e guloseimas, propõe que cada refeição seja uma emocionante viagem. «Não pretendo uma cozinha espectáculo, mas sim cozinha com ligação ao povo e à nossa cultura, usando e divulgando produtos portugueses, métodos únicos e sabores de excelência», diz Pedro Lemos.

em Roma, uma cidade muito especial para mim», disse o empresário. No interior da sala existe um cozinha em open space para que os clientes possam ver ao vivo a confecção do Spaghetti alla Carbonara, Carpaccio di Pulpo, Carciofi alla Romana, Spaghettini alle Vongole e tantos outros sabores típicos. Nick Anderer é o chef de serviço e também ele um apaixonado pela cozinha italiana. 2, Lexington Avenue, www.gramercyparkhotel.com

Rua do Padre Luís Cabral, 974, Tel.: 22.011.5986 Horário: De segunda a quarta das 16h às 24h e de quinta a sábado das 16h à 01h; Encerra ao Domingo

A NOVA APOSTA DO CHEF RUI PAULA É já em Fevereiro que o restaurante D.O.P., situado no novo Palácio das Artes, abre as suas portas. Depois do sucesso alcançado com o D.O.C, no Douro, o chef Rui Paula investe agora num novo conceito, em pleno centro histórico portuense. Aqui os clientes vão poder assistir à preparação ao vivo de cada prato numa mesa criada para o efeito. «Apesar de ser uma continuação do quem tem sido feito no antecessor, decidimos apostar nalgumas novidades», disse Rui Paula. Na ementa vai encontrar clássicos como Cabrito com os seus miúdos, Bacalhau com broa e Cachaço de porco Bízaro. Palácio das Artes, Largo de São Domingos, 16-22

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©FOTOS RICARDO POLÓNIO

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GRANDE REAL VILLA ITÁLIA HOTEL&SPA Rua Frei Nicolau de Oliveira, 100, Cascais Tel.: 21.096.6000 www.realhotelsgroup.com/GrandeRealVillaItalia HORÁRIO DO RESTAURANTE BELVEDERE Aberto todos os dias das 12h30 às 15h; e das 19h30 às 22h30. Preço médio da refeição por pessoa com vinhos: €65 a €75

Chef | Perfil

Paulo Pinto A paixão pela cozinha vem dos tempos em que não resistia em rapar o tacho do arroz doce feito pela mãe ou molhar o pão no molho dos bifes. Estreou-se em 1991 como aprendiz de cozinha no hotel Eduardo VII e desde então nunca mais parou. Hotel da Lapa, Penha Longa, La Villa, foram apenas alguns dos muitos sítios por onde passou. Mas foi no restaurante Bica do Sapato, onde exerceu o cargo de chefe de cozinha, que Paulo Pinto ganhou maior projecção. Em 2006 aceitou o desafio do Grande Real Villa Itália, em Cascais, para dirigir o restaurante Belvedere, um dos cartões de visita deste hotel. Para criar os seus pratos inspira-se na cozinha mediterrânica, de confecção simples e paladar original. Em casa gosta de cozinhar para a família e amigos, mas prefere as receitas mais simples. No que diz respeito a preferências gosta de provar de tudo, sejam sabores portugueses, italianos ou espanhóis.

CASCAIS

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GRANDE REAL VILLA ITÁLIA HOTEL&SPA

Foi na esplanada do Belvedere, com vista para o mar, que sentimos a essência deste espaço que conjuga a arte de bem receber com uma gastronomia de excepção. Paulo Pinto, o chef do restaurante, fez-nos companhia para um longo almoço de degustação na sala principal. Lavagante a vapor sobre salada de tomate e agrião, o seu creme e espuma de berbigão foi uma das nossas entradas e que valeu a Rui Fernandes, um dos membros da equipa de Paulo Pinto, o 3º lugar na final nacional do concurso Chefe Cozinheiro do Ano 2008. Seguiu-se o Risotto de citrinos e a Vitela Corada, ragout de cogumelos, ostra e chalotas, folhado de lebre em massa filo, beringela assada e recheada com puré de cenoura e canela mil-folhas de batata e maçã. A lista tem ainda uma opção vegetariana e um menu dietético criado especialmente para os frequentadores do spa. 18

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T E X T O S Patrícia Cabral

A ALMA DO BELVEDERE


A NÃO PERDER! Corporate Menu durante a semana Por €39, sem bebidas, inclui amuse bouche, prato principal e sobremesa

Sunday Buffet Perfeito para vir em família, servido das 12h30 às 16h, custa €48 por pessoa sem bebidas e inclui buffet de entradas, prato principal a escolher da carta, e sobremesas. As crianças dos 6 aos 12 anos pagam €25

A carta tem uma forte componente da cozinha mediterrânica com produtos portugueses e pode ser totalmente adaptada às preferências de cada cliente.

FAÇA VOCÊ MESMO {Receita do chef } RISOTTO DE CITRINOS, COM POLVO ASSADO À LAGAREIRO SOBRE GRELOS SALTEADOS 80g de risotto; 25g de chalotas; 2ml de azeite 10g de queijo parmesão; 10g de manteiga; 5g de laranja 5g de toranja; 3g de lima; 500g de polvo; Sal qb; Pimenta qb 6g de cebola; 7g de alho francês ; Alho a gosto; 150g de grelos Bringir (ferver em água) o polvo durante um minuto e arrefecer em gelo, cortar em doses de dois tentáculos, pôr em vácuo com azeite, alho, alecrim, alho francês, cebola, sal e pimenta. Deixar cozinhar quatro horas a 85º C. Cortar os citrinos em gomos. Abrir o risotto com as chalotas. Adicionar os gomos de citrinos, finalizar com o parmesão e a manteiga. Cozer e saltear os grelos em azeite e alho. Levar o polvo ao forno a assar com azeite de alho. Empratar e regar o polvo com molho à espanhola e polvilhar com coentros.

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PORTO | A VIDA PORTUGUESA

MATAR SAUDADES DAS COISINHAS DA AVÓ Depois do sucesso de A Vida Portuguesa no Chiado, a baixa portuense recebe agora a segunda loja desta marca lançada por Catarina Portas. «Neste novo espaço vendemos o mesmo que em Lisboa. Temos secção de perfumaria, mercearia, drogaria, brinquedos, papelaria, têxteis e outras utilidades», diz-nos. Mais artigos exclusivos, resultantes de parcerias com novas marcas, e algumas novidades são esperadas ao longo deste novo ano, nomeadamente a edição de um livro que coligará a investigação dos últimos cinco anos sobre fábricas, marcas e produtos antigos portugueses. A receptividade das fábricas para voltar a ter os seus produtos no mercado tem sido bastante positiva, o que tem facilitado o crescimento de A Vida Portuguesa. «Reafirmar a história de uma marca, o seu passado e o seu saber fazer é meio caminho para todos os negócios e produtos do presente», acrescenta Catarina. Uma loja online, que resulta de uma parceria com a Feitoria, http://loja.avidaportuguesa.com, para que possa escolher e receber em casa todos os produtos disponíveis das lojas foi outra das apostas.

A COMPRAR! Caderno da Emílio Braga O característico caderno português, com 100 folhas, em versão de capa estampada numa edição especial para A Vida Portuguesa. Tamanho pequeno (€9) Tamanho maior (€11,50)

Caixa de Sabonetes Lisboa à noite Inspirada nos dancing clubs de Lisboa dos anos 20 é uma edição da Ach.Brito em exclusivo para a Vida Portuguesa. €29

Andorinha Um clássico de Rafael Bordalo Pinheiro, feito a partir dos moldes originais do criador de louça das Caldas da Rainha. Mais pequena €6,50 Maior €8,90

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Rua Galeria de Paris, 20, Porto; www.avidaportuguesa.com



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EUROPA

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RECUPERAÇÃO

POLÓNIA ANDEL’S HOTEL LODZ

VIVER A HISTÓRIA Na Polónia, em Paris e na Croácia três novos hotéis surgiram da recuperação cuidada de edifícios históricos. Espaços que já tiveram outros usos e cujas paredes encerram todo o charme de épocas passadas, oferecem momentos verdadeiramente especiais. BANKE HOTEL

www.andelslodz.com Uma antiga fábrica têxtil totalmente recuperada viu-se transformada no Andel’s Hotel, um moderno hotel de design de quatro estrelas, a poucos minutos do aeroporto da pacata cidade de Lodz, a 140km de Varsóvia. O projecto, que respeita as directivas de preservação de edifícios históricos, venceu o prémio Arquitectura do Ano na 12.ª sessão dos European Hotel Design Awards, atribuídos por um júri constituído por arquitectos, designers, gestores hoteleiros, jornalistas, editores e críticos de design. O hotel fica no recinto do Centro Cultural e Artístico Manufaktura, onde diversos eventos culturais prometem muita animação.

PARIS BANKE HOTEL www.derbyhotels.com Outra abertura deste ano, o Banke Hotel veio dar uma nova vida a um antigo edifício bancário da Rue La Fayette, em pleno bairro da Opéra parisiense, a dois passos da Place Vendôme e da Rue Faubourg Saint-Honoré. Com interiores espectaculares, destaca-se o magnífico hall de entrada com uma cúpula envidraçada e a decoração que mistura o estilo clássico com peças vanguardistas para criar ambientes únicos. Por todo o hotel pode ver-se uma colecção de peças de arte originais que nos levam pelas culturas egípcias, romanas e gregas dos séculos II e III, bem como peças chinesas, indianas e africanas e quadros de Dalí, Picasso, Tàpies, entre outros pintores contemporâneos. Com cerca de cem quartos, o hotel garante privacidade e um refúgio exclusivo, onde os hóspedes podem sentir a força da história em cada divisão.

BANKE HOTEL

CROÁCIA ^

LESIC´ DIMITRI PALACE www.lesic-dimitri.com

ANDEL’S HOTEL LODZ

ANDEL’S HOTEL LODZ

Abriu este Verão na pequena ilha medieval de Korcula, um sítio quase mágico na costa do Adriático. Depois de cinco anos de obras de recuperação, um antigo palácio episcopal oitocentista e cinco casas medievais deram lugar a um pequeno e distinto hotel, com apenas seis residências de diferentes áreas para que o atendimento seja intimista e personalizado. Os interiores foram inspirados nas viagens de Marco Pólo, que se diz ter vivido na ilha no século XIII, e na rota da seda por ele percorrida, sendo que o palácio mantém muitos dos seus elementos originais. Um hotel a ter em conta para as suas próximas férias em família...

P O RT U GAL N O T O P Portugal foi eleito um dos dez destinos turísticos de visita obrigatória em 2010 pela “Lonely Planet”, que acaba de publicar o seu guia anual “Best in Travel”. O nosso país faz parte de uma lista que inclui a Alemanha, Grécia, Estados Unidos, Marrocos, El Salvador, Malásia, Nepal, Nova Zelândia e Suriname. Saiba mais em www.lonelyplanet.com

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RELAXE

30 Spas na Europa { PA R A C U I D A R D E S I … } Depois dos excessos do Verão, é tempo de abrandar o ritmo e preparar o corpo e a mente para o Outono que se avizinha. Escolhemos alguns dos melhores spas urbanos na Europa para ficar a conhecer as últimas tendências e as terapias mais inovadoras. Experimente o ritual dos chakras, no Bulgari Spa, em Milão, entregue-se a um programa anti-stress, no La Reserve Hotel & Spa, em Genève, ou – se foi mãe há pouco tempo – descubra o prazer da «massagem ternura», no Spatitude, em Lisboa. Boas propostas para cultivar o bem-estar…

POR

PATRÍCIA

CABRAL



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Spas na Europa

SERVIÇO PERSONALIZADO Um software especializado recolhe toda a informação sobre as preferências dos clientes, para que quando voltem os terapeutas saibam exactamente o que pretendem

LISBOA

S T O N E S PA E DEPOIS DO SPA...

Abriu recentemente na zona da Expo, e promete ser um refúgio urbano onde homens e mulheres podem

Depois das massagens no Stone Spa, aproveite o fim de tarde para um passeio à beira-rio, quando as águas do Tejo se mostram lisas como um espelho. Pode fazer uma refeição biológica no Origens Bio (Al. dos Oceanos, Lt. 1.02.1.2A, Tel.: 21.894.6166/7), e continuar o serão com um espectáculo no Pavilhão Atlântico (www.pavilhaoatlantico.pt).

encontrar algum alívio ao stress da vida diária. Quem aqui vem em busca de uma pausa, encontra não só os

Saiba que no dia 16 de Setembro, pelas 15h, vai poder ouvir o Dalai Lama falar sobre “O Poder do Bom Coração”, e que em Novembro sobem ao palco os Da Weasel e Marilyn Manson e o Cirque du Soleil.

para que, quando voltar, já conheçam as suas preferências. Se optar por aderir a um dos cartões disponíveis,

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habituais tratamentos de beleza – para eles e para elas – como várias massagens, terapia de pedras quentes, shiatsu ou reflexologia. Informe-se também sobre os diferentes packs disponíveis, seja para fazer a sós, para partilhar com um grupo de amigas ou especialmente pensados para adolescentes. No Stone Spa vão recolher toda a informação sobre as suas preferências para poder oferecer programas e tratamentos personalizados, e

vai poder beneficiar de mais vantagens. Massagens a partir de €40. Rua do Mar do Norte, Lt. 1.02.1.2, letras D e E – Parque das Nações | Tel.: 21.896.8197 | www.stonespa.pt


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Spas na Europa

A SÓS OU A DOIS... ... os rituais de bem-estar do Beauty Stetik Spa, na Figueira da Foz, são o antídoto perfeito para se recompor das férias

TRATAMENTOS INOVADORES que combinam sismoterapia, vacuoterapia e jet-terapia são uma boa razão para vir até à Figueira da Foz e experimentar NO BEAUTY STETIK SPA FIGUEIRA DA FOZ

B E AU T Y S T E T I K S PA CHÁ DE AMIGAS EM COIMBRA Av. Afonso Henriques, 19 | Tel.: 239.717.001 As tardes amenas de Setembro já convidam a tomar um chá e deliciar-se com uns scones com manteiga. Pegue no carro e dê um pulo a Coimbra, para conhecer o Clube do Chá. Este espaço, inaugurado o ano passado, tem um atelier de workshops, um bazar com produtos gourmet, artesanato, antiguidades e um espaço-boutique com marcas exclusivas. Aqui decorrem desfiles de moda e diversas exposições. Na área exterior fica o jardim com chaises-longues e tochas, perfeito para estar horas à conversa.

Os danos na pele causados pelo sol são razões mais que suficientes para começar a nova estação a olhar por si. No Beauty Stetik Spa, na Figueira da Foz, o lema é ajudar homens e mulheres a encontrar o equilíbrio e a preparar a chegada do tempo frio. Com uma série de tratamentos específicos para o corpo e rosto, aposta em técnicas totalmente pioneiras em Portugal. A nível corporal, a grande novidade é a terapia Vasijet, especialmente indicada para quem tem problemas de circulação. Este tratamento inovador combina sismoterapia, vacuoterapia e jet-terapia. Na área de cuidados de rosto para os homens foi desenvolvido o Bohi Spa. Com duração de 70 minutos, tem como objectivo reparar a pele das irritações provocadas pelo barbear. Se pretende fazer uma pausa a dois, opte pelo Spa Casal, um ritual que começa com um banho de imersão num cenário místico e culmina numa envolvente massagem oriental. Tratamentos a partir de €20. Rua Bernardo Lopes, 73 | Tel.: 233.098.041 | www.beautystetikspa.com

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ESTORIL

CLÁUDIA PILOTO CONCEPT «Quis criar um espaço que representasse bem-estar, conforto, e que tivesse uma forte componente de RELAXAR NA PISCINA DO TAMARIZ A seguir a uma massagem ou outro tratamento, apetece dar continuidade à sensação de paz que nos invade. Uma das vantagens do Cláudia Piloto Concept é a sua proximidade com o mar. Basta descer umas escadas e está na praia ou, se preferir, na piscina panorâmica do Tamariz. Deite-se numa das camas a tomar um refresco e a apreciar o pôr do Sol sobre o Atlântico. Escolha um dia de semana para que possa gozar estes momentos só para si…

medicina estética e dermatológica.» É assim que Cláudia Piloto define o conceito com o seu nome, inaugurado este Verão. Cabeleireiro, barbeiro e loja com biquinis, produtos de beleza, velas e acessórios são alguns dos serviços disponíveis neste centro. Marque uma consulta de imagem com Cláudia Piloto e saiba quais os tratamentos aconselhados no seu caso. Sessões de mesoterapia química – uma técnica recente para combater a celulite –, correcção de cicatrizes, remoção de varizes, são métodos usados e supervisionados por profissionais. Entre as terapias mais avançadas destaca-se o Vela Smooth, uma máquina de infravermelhos que actua sob a pele evitando a flacidez e acumulação de gorduras. Experimente ainda uma sessão de cromoterapia, à base de luzes coloridas, para restabelecer a harmonia. Termine o ciclo de rituais numa agradável sala de estar, a beber uma infusão e a olhar o mar. Tratamentos a partir de €60. Piscina do Tamariz | Tel.: 21.464.3790 | www.cpconcept.pt

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LISBOA

S PAT I T U D E APRÈS-SPA NA LINHA D’ÁGUA

Como o próprio nome sugere, é altura de se libertar do stress acumulado e dar início a uma nova etapa.

Rua Marquês de Fronteira, Jardim Amália Rodrigues A esplanada Linha d’Água, no Jardim Amália Rodrigues, junto do El Corte Inglés, consegue oferecer algum isolamento no meio da confusão urbana. Apesar de não ser novidade, é daqueles lugares onde não nos cansamos de ir, seja para ficar a ler ou simplesmente descansar. Pouco movimentado durante a semana, com música ambiente, zonas verdes e um lago, é o sítio ideal para dar início ao après-spa.

Neste day spa em pleno centro da capital, encontra um ambiente intimista e tratamentos personalizados. Os interiores invocam spas orientais, com quedas de água, flores exóticas e velas perfumadas. Uma equipa de profissionais estuda cada caso individualmente e estabelece o programa mais adequado às suas necessidades. Experimente o ritual Luxúria Total para Elas, que, por €200, durante quatro horas inclui um tratamento específico de rosto, corpo, manicura e pedicura. Se foi mãe há pouco tempo ou tem filhos pequenos (até um ano), traga-os consigo e faça a Massagem Ternura, conduzida por uma terapeuta especializada. Outra das terapias mais procuradas para aliviar o cansaço mental é a Shiroshara. A sessão, com duração de trinta minutos, inicia-se com uma massagem relaxante no pescoço e ombros. De seguida, é aplicado um óleo quente na testa, que faz pensar com mais clareza e deixa o corpo profundamente relaxado. Uma experiência intensa que nos deixa com uma sensação de leveza única… Tratamentos a partir de €40. Avenida 5 de Outubro, 36-A | Tel.: 21.314.4310 | www.spatitude.com

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PORTO

O P O RT O M E D I C A L S PA PÔR DO SOL NA FOZ

Este refúgio em plena Boavista é perfeito para aliviar o stress acumulado ao longo da semana. Enquanto

Esplanada do Castelo | Tel.: 22.618.9593 Na praia do Ourigo, a esplanada do novo restaurante X, é um óptimo sítio para ficar a ver o pôr do Sol. Antes do jantar, aninhe-se confortavelmente num dos sofás a beber um chá gelado e a folhear uma revista. Este restaurante, que foi o antigo Ourigo Café Lounge, fica mesmo em frente às águas do Atlântico. Comprado recentemente por um grupo de sócios, entre os quais António Vieira, que foi chef do Café Inn em Lisboa, é um lugar a ter em conta para gozar os últimos dias de Verão.

espera pelo seu tratamento, servem-lhe um sumo de fruta natural e infusões. Depois limite-se a fechar os olhos e a entregar-se aos cuidados de terapeutas especializadas. Comece por um duche vichy, com jactos de água quente e fria – é um óptimo estimulante dos sentidos. De seguida faça uma máscara corporal para desintoxicar e uma massagem com pedras quentes. Para relaxar a mente, opte por uma sessão de ayurveda e uns exercícios de shiatsu. Se tem problemas nas costas ou dores musculares, encontra no aparelho Huber LPG, para intercalar com sessões de pilates, o alívio rápido para qualquer destes sintomas. Aprender a cuidar de si é a máxima deste spa, que oferece um leque variado de terapêuticas concebidas para lhe proporcionar momentos de puro bem-estar. Tratamentos a partir de €35. Rua São João de Brito, n.º 610, sala 3 | Tel.: 22.616.3030 | www.oportomedicalspa.com

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BARCELONA

S I X S E N S E S S PA H O T E L A RT S JANTAR GOURMET NO AROLA

No 42.º e 43.º piso do Hotel Arts, este espaço vem contrabalançar com os ritmos de uma cidade com o

Tel.: 93.483.8090 | www.arola-arts.com Um dos cartões-de-visita do Hotel Arts é o restaurante Arola, a melhor opção para um jantar gourmet. Sob a batuta do chef catalão Sergi Arola, aposta nos sabores da cozinha mediterrânica com um toque de inovação. As tradicionais tapas fazem parte de um menu sofisticado que combina ingredientes, cores e texturas. Arola, que deu os primeiros passos ao lado de Ferran Adrià no El Bulli, em Gerona, afirmou-se definitivamente no El Taller, em Barcelona. Em 2000 abriu o La Broche, em Madrid, que o fez conquistar duas estrelas Michelin e um importante prémio gastronómico.

dinamismo de Barcelona. Imagine-se num banho de hidromassagem com vista para o Mediterrâneo, ou estar na sauna a ver chegar os barcos à marina. A localização estratégica deste spa permite usufruir em pleno da Vila Olímpica, a zona especialmente construída para os Jogos Olímpicos de 1992, e de toda a frente de mar. Oito salas de tratamento, com um ambiente envolvente reservam-lhe um conjunto de terapias relaxantes. Comece por fazer a massagem facial Six Senses. Primeiro, a sua pele é analisada por um especialista. Segue-se uma limpeza profunda e, para finalizar, a aplicação dos produtos hidratantes e rejuvenescedores. Para o corpo, opte pela massagem oriental e durante 80 minutos sinta-se a levitar com as técnicas ayurvédicas e chinesas. Dos pacotes exclusivos destaca-se o Breathe Easy Rescue, uma completa sessão anti-stress que tem como base a aromaterapia. Marina 19 - 21 | Tel.: +34.93.221.1000 | www.ritzcarlton.com


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Spas na Europa

PARIS

HARNN & THANN O LADO OCULTO DE GAULTIER

Escondido numa rua entre o edifício da Ópera e a Comédie Française, este spa veio importar um conceito

www.lesartsdecoratifs.fr Até 23 de Setembro, no Museu de Artes Decorativas em Paris, decorre a exposição «Jean-Paul Gaultier/Régine Chopinot. Le Défilé». Pela primeira vez é dada a conhecer a estreita parceria entre o criador de moda e a coreógrafa francesa. Entre 1983 e 1994, Gaultier assinou o guarda-roupa dos mais de 18 bailados coreografados por Régine Chopinot. Uma oportunidade única para descobrir uma faceta menos conhecida deste designer irreverente, que celebra este ano 30 anos de carreira.

oriental. Harnn é uma marca de origem tailandesa que fabrica artesanalmente sabonetes naturais e produtos de spa a partir de várias plantas. O ingrediente principal é o óleo de arroz, um cereal que contém antioxidantes naturais, ricos em vitamina E. Estes produtos, que são usados pelas terapeutas durante os tratamentos, vendem-se na loja da Harnn & Thann. O espaço divide-se em cinco cabines de massagem e um hammam. As salas são espaçosas, o que permite fazer massagens em simultâneo. Todas as terapias têm como base a herança tailandesa, seguindo técnicas inspiradas em métodos asiáticos ancestrais. Entregue-se a uma massagem à base de plantas aromáticas e óleos essenciais, que o vai fazer libertar as tensões musculares acumuladas. Uma sessão de reflexologia completa o ritual. Tratamentos a partir de €95. Rue Molière, 11 | Tel.: +33.1.4015.0220 | www.harnn.fr

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INSERIDO NUM PARQUE NATURAL, o spa La Réserve está a cinco quilómetros de Genève são dez hectares de área protegida que se estendem ATÉ ÀS MARGENS DO LAGO GENÈVE

L A R É S E RV E H O T E L & S PA PASSEIOS NA RESERVA NATURAL

A cinco quilómetros do centro da cidade e a três do aeroporto, fica este refúgio em plena natureza. Se

O hotel tem um parque com cerca de dez hectares que se estende até às margens do lago Genève. Árvores seculares, jardins a perder de vista, piscina e um terraço para tomar o chá fazem esquecer as horas. Dar longos passeios a pé, dormir à sombra dos plátanos, atravessar o lago de barco e observar a fauna e flora são algumas das formas de aproveitar o tempo livre. Para as crianças foi construída a La Petite Réserve, uma vila em miniatura com cabanas de madeira sobre estacas, lagos com patos e pontes suspensas.

precisa mesmo de descansar e recarregar baterias para o novo ano, chegou ao local certo. O spa, no interior do hotel La Réserve, foi criado para lhe proporcionar momentos de pura evasão física e espiritual. São dois mil metros quadrados com 17 salas de tratamento, piscina interior, ginásio, cabeleireiro, sauna e banho turco. Os tratamentos, adaptados caso a caso, assentam em três pilares-chave: nutrição, relaxamento e idade. Uma equipa especializada guia-o através de um conjunto de estratégias para prevenir o excesso de peso, combater o envelhecimento e gerir o stress. Todos os produtos usados nas terapias têm a marca La Prairie, conhecida pelas suas propriedades regeneradoras. Para cada dia é criado um programa específico, que inclui refeições biológicas no restaurante do spa. Chás, cocktails vitamínicos, fruta e legumes são a base dos menus. Tratamentos a partir de €55. 301, Route de Lausanne | Tel.: +41.22.959.5959 | www.lareserve.ch

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Spas na Europa

LONDRES

COMO SHAMBHALA URBAN ESCAPE FIM-DE-SEMANA DE SHOPPING

Este santuário holístico a funcionar num dos pisos do hotel Metropolitan, em Londres, é um sítio óptimo para

www.londonfashionweekend.co.uk De 26 a 30 de Setembro decorre o London Fashion Weekend, o pretexto certo para um fim-de-semana prolongado na capital britânica. O Museu de História Natural abre as suas portas para receber um dos eventos de moda mais esperados, a seguir ao London Fashion Week. São mais de 150 colecções de conhecidos designers a preços reduzidos. Aproveite ainda para fazer uma maquilhagem com produtos Elizabeth Arden, ou relaxar no Campari Red Room.

uma pausa nas compras. Além de poder praticar reiki ou yoga em privado, há uma vasta gama de tratamentos que vão do shiatsu à reflexologia. Por €75, entregue-se durante uma hora à Como Shambhala Massage com um óleo suavizante, ideal para relaxar o corpo e a mente. Todas as loções usadas nas massagens são extraídas de flores, frutos e árvores, e podem ser compradas para que possa dar continuidade ao tratamento em casa. Na loja do spa perca-se com os artigos da Shelter, como velas, sabonetes, gel de banho e champôs, com aroma a eucalipto, hortelã-pimenta e limão e óptimos para hidratar a pele. Antes de iniciar a sessão, marque uma consulta com Susan King. Famosa em todo o mundo, é frequentemente convidada para fazer palestras e ir a programas de televisão e rádio. O seu sexto sentido permite-lhe detectar quais os problemas dos seus clientes e ajudá-los a encontrar o equilíbrio. Old Park Lane | Tel.: +44.20.7447.1047 | www.metropolitan.como.bz

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Spas na Europa

LONDRES

|

AGUA SPA

PORTO

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WELLDOMUS

+21 SPAS PARA MARCAR JÁ! EM PORTUGAL ALBUFEIRA | KENZAI WELLBEING CENTER Quinta da Orada, lote 1, loja 6, Marina de Albufeira Tel.: 913.899.336 | www.kenzai.pt BRAGA | HARDEN SPA Rua António Cândido Pinto, n.º 40 Tel.: 253.618.071 | www.hardenspa.com COIMBRA | BAMBOO GARDEN SPA Tel.: 239.802.380 | www.quintadaslagrimas.pt LISBOA | LE SPA Tel.: 21.385.0252 | www.lespa.info LISBOA | CITY SPA Tel.: 21.363.2492 | www.cityspa.com.pt LISBOA | 7DAY SPA Tel.: 21.387.0011 | www.7-spa.com LISBOA | LISBOA WELLNESS CENTRE Tel.: 21.711.2000 | www.wellness.pt PORTO | THE SPA – HOTEL SHERATON PORTO Tel.: 22.040.4000 | www.sheratonporto.com

PORTO | WELLDOMUS Tel.: 22.610.1012 | www.welldomus.pt VILAMOURA | BLUE & GREEN The Lake Resort Tel.: 289.320.700 | www.thelakeresort.com

MADRID | SPA ELYSIUM NH Eurobuilding Tel.: +34.91.353.7300 | www.nh-hotels.com MILÃO | GUERLAIN SPA Carlton Hotel Baglioni Tel.: +39.02.4547.3111 | www.baglionihotels.com

NA EUROPA BARCELONA | ELYSIUM SPA NH Constanza Tel.: +34.93.281.1500 | www.nh-hotels.com/ BARCELONA | ZEN ZONE SPA Gran Hotel La Florida Tel.: +34.93.259.3000 | www.hotellaflorida.com BERLIM | YI SPA Tel.: +49.30.2887.9665 | www.yi-spa.com LONDRES | BEYOND SPA Tel.: +44.20.7201.8595 | www.beyondmedispa.co.uk

MILÃO | BULGARI SPA Via Privata Fratelli Gabba 7/B Tel.: +39.02.805.8051 | www.bulgarihotel.com PARIS | OMNISENS Tel.: +33.1.4341.9696 | www.omnisens.fr PARIS | L’ ESPACE PAYOT Tel.: +33.1.3433.7000 | www.payot.com PARIS | ZELL AM SEE Mavida Balance Hotel & Spa Tel.: +43.6542.5410 | www.mavida.at

LONDRES | AGUA SPA Hotel Sanderson Tel.: +44.20.7300.1414 | www.sandersonlondon.com

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COM OS AMIGOS

AMIGAS DO CORAÇÃO Estão sempre lá quando precisamos, seja para ouvir ou divertir, partilhar e até cozinhar. Num dia primaveril, juntámos pratos afrodisíacos, bebidas refrescantes e quatro amigas… o resultado só podia ter sido este, uma tarde pautada por confidências, gargalhadas e muita animação! Por C A T A R I N A

S E R R A

Fotos A N T Ó N I O

G A M I T O

L O P E S



dica blue NA SOPA DE PISTテ,IO Antes de servir decore as taテァas ou os pratos com os pistテ。chios pelados e salsa picada.


Sopa de pistácio T E M P O D E P R E P A R A Ç Ã O 3 H 1 5 M I N . | TEMPO TOTAL 3H15 MIN. RECEITA PARA 2 PESSOAS | DIFICULDADE e

1 frango pequeno com miúdos 0,5 kg de vitela com osso | 2 nabos | 2 alhos porros 2 cebolas | 2 cenouras 2 ramos de salsa | 1 ramo de ervas aromáticas 200 g de espinafre | Sal e pimenta qb 300 g de pistácio | Azeite q.b.

1. Para fazer o caldo de carne e legumes coloque 5 litros de água numa panela com todos estes ingredientes (menos os pistácios e um ramo de salsa) e deixe ferver em lume brando durante 3 horas. Depois coe o caldo num pano.

2. Depois de coar o caldo junte 250 g de pistácio com pele , outro ramo de salsa, um fio de azeite e triture tudo no copo até ficar cremoso. Coe novamente e rectifique o sal e a pimenta. Ponha os restantes 50 gramas de pistácio numa panela com água a ferver durante um minuto. Com um pano aperte de forma a retirar as peles.

Cocktail Mateus pink T E M P O D E P R E P A R A Ç Ã O 1 5 M I N . | TEMPO TOTAL 15 MIN. RECEITA PARA 4 PESSOAS | DIFICULDADE e

1 kiwi | 1 banana | 50 g de morangos | 1 maçã 4 paus de canela | Hortelã q.b. 1 garrafa de Mateus rosé

1. Corte a fruta aos cubos. Num jarro junte os paus de canela, a hortelã e a fruta. Adicione o Mateus Rosé fresco e deixe descansar durante cerca de 10 minutos de forma a que possa ganhar os diferentes sabores.

2. Sirva em copos de cocktail e bem fresco

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U EK IS N P I GR I T C BOL O

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Pratos exóticos para uma tarde ensolarada. É tão bom estar entre amigas, há tanto tempo que não estavamos todas juntas...

>>>

Caril de camarã0

3. Num tacho deite a cebola bem picada (em papa) . Estufe a cebola e o alho com um bocadinho de azeite

T E M P O D E P R E P A R A Ç Ã O 4 0 M I N . | TEMPO TOTAL 40 MIN.

em lume brando, junte as malaguetas, o caldo coado

RECEITA PARA 4 PESSOAS | DIFICULDADE e

das cabeças, o pó de caril, a pasta e por último o leite 1 kg de camarão com casca | 2 cebolas

de coco. Deixe apurar em lume brando e rectifique

Alho q.b. | Sal q.b.

o sal se for preciso. Por último deite os camarões

2 malaguetas | Pó de caril forte q.b.

para ficarem al dente e não encortiçarem.

Pasta de caril q.b. | 2 garrafas de leite de coco

Acompanhe este caril com chutney de manga, côco ralado e pappadums a gosto de cada um.

1. Numa frigideira dê uma entaladela em azeite e sal ao camarão para ficar num tom rosado. Reserve o líquido que os camarões largaram. Retire a casca aos camarões e guarde as cabeças.

dica blue

2. Com uma tesoura corte os olhos . Deite as cabeças

ARROZ BASMATI

no líquido que guardar e bata muito bem com a ajuda

Faça o arroz conforme as instruções

de um triturador. Coe esta papa num passador.

corintos e cajus salteados em manteiga. >>>

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do pacote e sirva com cebolinho picado,


CARIL DE CAMARテグ



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Mousse de uva T E M P O D E P R E P A R A Ç Ã O 2 0 M I N . | TEMPO TOTAL 3H20 MIN. RECEITA PARA 4 PESSOAS | DIFICULDADE e

500 g de uvas brancas | 120 g de açúcar fino 1 pacote de gelatina em pó | 125 ml de natas 1 e 1/2 colher de sobremesa de maizena 125 ml de leite | 1 iogurte natural

1. Leve ao lume um tacho com uma colher de açúcar e 250 ml de água. Quando começar a ferver e o açúcar estiver bem dissolvido, junte as uvas e deixe em lume brando

Mil- folhas de ratatouille

cerca de 8 minutos. Coe o líquido e bata as uvas

T E M P O D E P R E P A R A Ç Ã O 3 0 M I N . | TEMPO TOTAL 30 MIN.

com a varinha de forma a obter um puré.

RECEITA PARA 4 PESSOAS | DIFICULDADE e

2. Noutro tacho junte a maizena, o leite e o restante 8 tomates | Caldo de legumes q.b.

açúcar. Leve ao lume brando, deixe ferver e engrossar.

1/2 pimento encarnado | 1/2 pimento verde

Quando a mistura estiver espessa retire do lume.

1/2 pimento amarelo | 2 courgettes | 2 beringela 1 cebola | 1 dente de alho | Azeite q.b.

3. Derreta a gelatina em pó em banho maria

Sal q.b. | Pimenta q.b. | 4 folhas de massa filo | 1 ovo

e quando começar a arrefecer junte ao creme e em seguida acrescente o puré de uva, o iogurte

1. Recorte com uma forma de bolachas rodelas de massa

e as natas bem batidas. Deite este preparado em copos

filo. Pincele com ovo e leve ao forno para aloirar a massa.

de vidro e leve ao frigorífico até estar sólido.

Pele 4 tomates e triture-os bem. Pique a cebola e refogue com o alho picado e o azeite. Junte o tomate esmagado e regue com um pouco de caldo de legumes. Deixe apurar em lume brando.

2. Corte aos quadradinhos as courgettes, as beringelas, os pimentos e os restantes tomates depois de pelados. Numa boa frigideira frite os quadrados com azeite em lume alto para ficarem al dente. Depois junte ao tomate refogado anteriormente com cebola. Num prato disponha uma placa de massa filo, uma de ratatouille, e vá alternando até ter 3 camadas de massa. Sirva individualmente e decore o prato a gosto.

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A DOIS


PIQUENIQUE INESQUECIVEL Escolha o tema, a decoração e inspire-se nestas fabulosas receitas de fazer crescer água na boca. Faça uma surpresa, saia da rotina diária e faça alguém especial muito feliz. Por M A R G A R I D A Fotos A N T Ó N I O

M A G A L H Ã E S N A S C I M E N T O



Prepare de vÊspera, organize-se e surpreenda quem o faz mais feliz. Faça um cesto recheado com vinho e iguarias fåceis de transportar.

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1. Empadas de galinha, cogumelos e alho - francês TEMPO DE PREPARAÇÃO 1H00 MIN. | TEMPO TOTAL 1HOO MIN. RECEITA PARA 4 PESSOAS

4. Forre cada forma com um pedaço de massa (não estique a massa). Corte o terceiro bocado de massa a meio e coloque num tabuleiro de ir ao forno previamente forrado com

| DIFICULDADE e

papel vegetal e depois coberto com película Massa de água quente | 160 g de manteiga

aderente. Guarde as formas e o tabuleiro

1 chávena de água | 1 c. de chá de sal | 2 ovos

no frigorífico por 1 hora.

3 1/4 chávena de farinha sem fermento, peneirada RECHEIO RECHEIO

1. Numa frigideira grande aqueça 1 colher de sopa

250 g de cogumelos (variados) | Azeite q.b.

de azeite, em lume médio-alto. Adicione os alhos

750 g de peito de frango | 2 alhos franceses

franceses cortados às fatias finas e o peito de frango

3/4 chávena de vinho branco | Sal q.b.

cortado em cubos de 2cm, cozinhe por 5 minutos.

3 chávenas de caldo de galinha | 1 ramo de tomilho

Junte o caldo de galinha, o vinho branco e o ramo

2 c. sopa farinha de Maizena | Pimenta q.b.

de tomilho fresco. Quando levantar fervura baixe

2 c. sopa de salsa picada

o lume e deixe apurar por 45 minutos.

MASSA

2. Adicione os cogumelos cortados em quartos

1. Numa panela pequena coloque a manteiga

e cozinhe por 5 minutos. Numa tigela pequena misture

e a água, deixe levantar fervura em lume médio. Retire

a farinha Maizena com 1/2 chávena de água, misture

do lume e reserve. Coloque a farinha

bem até formar uma pasta sem grumos. Adicione à

e o sal numa tigela média.

panela juntamente com a salsa picada e deixe cozinhar por mais 5 minutos ou até a mistura

2. Adicione os ovos e a mistura quente de manteiga

tiver engrossado.

à farinha. Misture com uma faca até estar tudo combinado. Amasse numa superfície polvilhada

3. Retire do lume e deixe arrefecer completamente

com farinha até obter uma massa macia.

antes de encher as formas. Aqueça o forno a 200º.

Divida a massa em 3, embrulhe individualmente com

Encha as formas com o recheio. Pincele as bordas

papel aderente e guarde no frigorífico por 20 minutos.

com pouca água. Coloque a massa que sobrou por cima das empadas de forma a fazer uma tampa.

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3. Barre com gordura 2 formas de empadas cada

Corte o excesso de massa e pressione as bordas,

uma com capacidade de 2 3/4 chávena.

colando-as umas às outras com a ajuda de um

Retire a massa do frigorífico e estique-a com

garfo. Corte um buraco pequeno no centro de cada

o rolo numa superfície polvilhada com farinha.

tampa. Coza as empadas por 25 minutos ou até

Tente obter uma espessura de 4 mm.

a massa estar crocante e dourada.

>>>


EMPADAS DE GALINHA, COGUMELOS E ALHO - FRANCÊS


Legumes e muitos verdes a combinar com a envolvência. Receitas especiais para os dias mais frescos que se avizinham.

4. Salada de feijão

5. Sopa de ervilhas e bacon

TEMPO DE PREPARAÇÃO 20 MIN. | TEMPO TOTAL 20 MIN.

TEMPO DE PREPARAÇÃO 30 MIN. | TEMPO TOTAL 30 MIN.

RECEITA PARA 4 PESSOAS

| DIFICULDADE e

RECEITA PARA 4 PESSOAS

200 g de feijão branco

250 g de bacon

250 g de feijão - verde | 3 ovos

1 cebola picada

| DIFICULDADE e

1 c. de sopa de farinha sem fermento MOLHO

4 chávenas de caldo de galinha

1/4 chávena de azeite

Sal grosso q.b.

1 c. de sopa de vinagre Xerez

1 batata descascada e cortada aos bocados

1 c. de sopa de açúcar castanho

200 g de ervilhas

Sal grosso q.b.

1/2 chávena de natas

Pimenta preta em grão moída de fresco q.b.

Pimenta em grão moída de fresco 1 c. de sopa de salsa picada

1. Arranje o feijão - verde, retirando as laterais com

1 fio de azeite

a ajuda de uma faca. Coloque uma panela com água e sal e, deixe levantar fervura. Adicione o feijão

1. Deite um fio de azeite numa panela e aqueça em

e cozinhe por 6 a 8 minutos ou até estar tenro.

lume médio. Adicione o bacon e a cebola e cozinhe por

Retire o feijão da panela e escorra, passando-o por água

5 minutos ou até ficar dourado. Junte a farinha

fria. Leve ao frigorífico para arrefecer.

e cozinhe por 1 minuto.

2. Coza os ovos em água a ferver por 5 minutos.

2. Adicione o caldo, a batata descascada e cortada aos

Retire e passe por água fria. Para fazer o molho, misture

bocados e deixe levantar fervura. Reduza o lume

numa tigela todos os ingredientes e bata

e deixe borbulhar por 4 minutos. Junte as ervilhas,

com um batedor de varas até ficar tudo incorporado.

as natas e tempere com sal, pimenta e deixe cozinhar por 6 minutos. Bata a sopa com uma varinha mágica e

3. Para servir, coloque o feijão branco e o feijão verde num prato e regue com o molho. Descasque o ovo, parta ao meio e coloque por cima da salada. Tempere com mais sal e pimenta se desejar.

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misture a salsa. Sirva com bacon frito ou croutons.


SALADA DE FEIJテグ

SOPA DE ERVILHAS E BACON



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6. Bolachas de chocolate TEMPO DE PREPARAÇÃO 30 MIN. | TEMPO TOTAL 30 MIN. RECEITA PARA 22 BOLACHAS | DIFICULDADE e

4. Deite a massa nos tabuleiros preparados usando uma colher de sopa e tentado formar em bolas. Leve ao forno e asse até as bolachas ficarem firmes, cerca de 10 minutos (não coza demais). Transfira para

2 chávenas e 2 c. de sopa de farinha sem fermento

uma grade própria de forma a arrefecerem.

3/4 chávena de cacau em pó 1/2 c. de chá de sal

RECHEIO

1 c. de chá de bicarbonato de soda

1. Numa panela pequena adicione as natas, leve

1 3/4 chávena de açúcar

ao lume e deixe levantar fervura. Retire do fogo

250 g de manteiga

e junte o chocolate partido. Deixe ficar até

1 ovo grande

o chocolate estar derretido, misture com uma colher

2 c. de chá de essência de baunilha

e reserve. Barre as bolachas com o recheio e cubra

1/4 chávena de crème fraîche

com outra bolacha se desejar.

RECHEIO 150 g de natas frescas 150 g de chocolate preto

1. Aqueça o forno a 180º. Forre tabuleiros de ir ao forno com papel vegetal. Reserve. Peneire a farinha, o cacau, o bicarbonato de soda e o sal para uma tigela média. Reserve.

2. Coloque o açúcar e a manteiga à temperatura ambiente numa tigela e bata com a opção de pá até ficar uma mistura fofa e clara.

3. Adicione o ovo e a essência de baunilha, bata até misturar bem. Junte a crème fraîche e bata até ficar incorporada. Misture 3 colheres de sopa de água quente. Na velocidade baixa junte a mistura de farinha aos poucos.

>>>

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Vinho para brindarmos preferes tinto ou branco? Trouxe os dois... e copos também, hoje está tudo a rigor. >>>

7. Quiche de cebola caramelizada e Gorgonzola TEMPO DE PREPARAÇÃO 1H30 MIN. | TEMPO TOTAL 1H30 MIN. RECEITA PARA 4 PESSOAS

| DIFICULDADE e e

4. Forre a base com papel vegetal e encha de feijões secos ou arroz. Coloque por cima de um tabuleiro de ir ao forno. Leve ao forno e deixe assar até a massa começar a ficar firme nas bordas, cerca de 20 minutos. Retire o papel vegetal e os feijões ou o arroz. Deixe

MASSA DE QUICHE

dentro do forno até a massa ficar dourada, cerca de 10

1 3/4 chávena de farinha sem fermento

minutos. Retire -a e deixe arrefecer numa grade

1/4 c. de chá de sal grosso | 1 ovo

própria. Deixe o forno ligado.

125 g de manteiga sem sal | 1 gema de ovo 3 c. de sopa de água gelada

RECHEIO 1 c. de sopa de azeite | 2 ovos grandes

1. Numa tigela grande misture a farinha e o sal.

500 g de cebolas

Adicione a manteiga fria e cortada aos bocados

1/2 chávena de leite | 1/2 chávena de natas frescas

e, esfarele com as mãos até obter uma mistura que

1 c. de chá de sal grosso | 100 g de Gorgonzola

se assemelhe a migalhas grossas.

Pimenta preta em grão moída de fresco

2. Numa tigela pequena bata com um garfo os ovos

1. Numa frigideira grande aqueça o azeite em lume

e a água gelada, adicione à mistura de farinha

baixo até ficar quente. Adicione as cebolas cortadas às

e continue a misturar tudo com as mãos até obter uma

rodelas, mexendo frequentemente até começarem a

massa compacta (não misture demais).

ficar cozinhadas e castanhas, por volta de 30 minutos.

Forme a massa num círculo, achate e embrulhe

Deixe arrefecer.

em papel aderente, guarde no frigorífico no mínimo 30 minutos.

2. Bata os ovos, o leite, as natas e o sal numa tigela média. Tempere com pimenta. Desfaça o queijo

3. Polvilhe com farinha uma superfície onde possa

para dentro da mistura do ovo e junte a cebola.

trabalhar. Estenda a massa e coloque numa forma

Deite o preparado para dentro da base de tarte,

de tarte com uma base removível. Pressione a massa

leve ao forno e coza até insuflar e ficar num tom

contra a base e lados da forma e corte o excesso.

dourado - claro, 30 a 35 minutos. Espere pelo menos

Pique com um garfo toda a massa e coloque no

30 minutos antes de servir a quiche

congelador até ficar firme, por volta de 30 minutos. Aqueça o forno a 200º. >>>

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L BU L E

P I RCI TO O K I N G US E


QUICHE DE CEBOLA CARAMELIZADA E GORGONZOLA


HISTÓRIA

Reinventar o Sabor

{ ÉVORA ✵ C O N V E N T O D O E S P I N H E I R O } ALTA COZINHA NO ALTO ALENTEJO, pela mão de um chef que decidiu dar nova forma e aparência a sabores muito antigos. Uma carta de 250 vinhos criteriosamente seleccionados por quem mais sabe. Tudo entre as mil e uma paredes do mais faustoso hotel alentejano. Com um “pulinho” à quinta da Dona Estrela para colher, com a ponta dos dedos, a essência da cozinha alentejana... POR

NUNO

MIGUEL

DIAS

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FOTOS RICARDO POLÓNIO




Escapadela gourmet. A boa cozinha alentejana reinventada pelo chef Nuno Noronha é um óptimo pretexto para um regresso ao Convento do Espinheiro. Ao longe, Évora, cidade Património da Humanidade, convida a um tranquilo passeio a pé depois de um almoço no restaurante Divinus. Mas antes, uma massagem no spa, tido como o melhor do país, prepara o corpo para as tentações que se seguem

A

lentejos há muitos, desde a maresia de São Torpes ao calor das estepes de Grândola. Mas de todos o da Primavera é, sem dúvida, um dos melhores. Tem um aroma inconfundível, um verde inigualável e os mantos púrpura e amarelos intensos, à prova de sombra dos sobreiros. Vale a viagem. Pelo caminho acompanham-nos as águias em círculos sobre o castelo de Montemor, os montados e os animais que, a serem obrigados a um triste fim, gozam da liberdade em vida. Mas pensamentos vegetarianos não cabem numa ida ao Convento do Espinheiro Heritage Hotel & Spa, este que se destaca num outeiro e se avista já fora das muralhas eborenses, em direcção a Estremoz. Lembro-me de um programa televisivo onde, ao seu inconfundível jeito, o professor Hermano Saraiva chamava a atenção para o estado de degradação em que se encontrava este convento, de inegável importância para a História de Portugal. Lembro-me também da notícia de que a Selecção Nacional ficaria aqui hospedada, antes da sua partida para o Mundial 2006. Entre estes dois momentos, houve um restauro cuidado. Hoje, o Convento do Espinheiro já não é apenas um monumento datado do século XV considerado Monumento Nacional. Pertence à Luxury Collection da Starwood, e é o único cinco estrelas de todo o Alentejo. Respira-se distinção, qualidade, design, esmero e, claro, sabores intensos.

ONDE DORMIR Convento do Espinheiro, 2 Heritage Hotel & Spa Canaviais, Évora Tel.: 266.788.200 www.conventodoespinheiro.com Duplo a partir de €180 Jantar temático com prova de vinhos na cisterna gótica Wine Bar €30

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UM DOS MUITOS FORTES DESTE LUGAR é o chef Nuno Noronha, que tomou para si uma missão que prossegue de forma apaixonada. Gente desta faz falta. Por enquanto, desconhece que já chegámos. Optamos por provar o que estiver no menu do dia, ainda que com a certeza que nos vamos surpreender. Mas antes disso, um envolvimento em chocolate no Diana Spa, um dos muitos disponíveis neste que foi considerado, em 2007, “o melhor spa de Portugal” pela World Travel Awards e, já em 2006, figurava na Hot List da “Condé Nast Traveller”. Depois, uns minutos no jacuzzi com vista para a planície e, lá ao fundo, Évora, Património da Humanidade. >>>

CONVENTO DO ESPINHEIRO Na suite real D. João II (na imagem) terá ocorrido um episódio que veio a mudar o rumo da História de Portugal. Peça aos anfitriões que lhe contem esta história, e aproveite o LCD, a banheira by Philippe Starck, todos os produtos da Bulgary e o terraço com vista sobre Évora

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ACOMPANHÁMOS O CHEF Nuno Noronha enquanto colhia legumes biológicos, funcho, manjerona, salva, coentros e alecrim, ATÉ À QUINTA DA D. ESTRELA

UMA PAUSA MERECIDA... ... no claustro, sob um coro de andorinhas, nos olivais em torno da propriedade ou no silêncio da Igreja de Nossa Senhora do Espinheiro exemplo máximo da beleza arquitectónica deste convento, que chegou a receber o próprio D. Sebastião. Este dormia em celas, acompanhava os ofícios dos monges e, tal como nós, seguia os trabalhos na cozinha

PETISCOS DIVINUS. A gastronomia alentejana não figura no “top 5 Mediterrânico”. É uma injustiça. No Divinus, o restaurante do hotel aberto ao público – e que vale, por si só, uma ida com tempo –, tenta-se mudar isto. Da melhor maneira. Pedimos uma “refeição leve”, porque a piscina interior do Diana Spa estava apetecível e a tarde já vai avançada. E há que guardar apetite para o jantar, um momento sempre especial nesta divisão do hotel, a antiga adega dos frades. Ficamo-nos assim por um prato de petiscos alentejanos, a dose certa para degustar um Comenda Grande, disponível a copo, a par de outras grandes escolhas. Quase nos esquecemo que estamos no Alentejo, tal é o esmero de tudo o que chega à nossa mesa. Pão de passas, sementes ou regional sorverá os aromas de três azeites que se apresentam em pequenos receptáculos, com a devida explicação. Há o regional, com as três cultivares (as “castas” das azeitonas) características, o biológico, e o que provém das oliveiras situadas nos limites da propriedade do hotel, disponível apenas aqui. Há ainda um paté de azeitonas pretas com queijo fresco e ervas aromáticas e a manteiga de linguiça. Avise-se o leitor: daremos aqui origem a alguma terminologia. A culpa não é nossa. O chef Nuno Noronha deverá assumir a responsabilidade. Não poderemos chamar outra coisa ao que este homem faz: Gastronomia Alentejana Sustentável. A conclusão a tirar é óbvia. Estamos perante a reinvenção do conceito gourmet, se é que este não era, apenas, mal entendido. Os mais autênticos sabores tradicionais, com uma apresentação cuidada e um serviço irrepreensível. Nada do que figura na lista dispensa uma introdução pormenorizada. O vinho é sempre proposto em função do prato escolhido. >>>

DA TERRA PARA O PRATO Percorremos mais de 100km para podermos colher, com as nossas próprias mãos, a origem orgânica do prato que, duas horas depois, fazia as nossas delícias. Numa receita exclusiva que o chef Nuno Noronha preparou só para nós

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ELEITO O MELHOR SPA PORTUGUÊS, o Divine Spa sugere envolvimentos de chocolate... ... o complemento perfeito aos dias passados neste convento, MONUMENTO NACIONAL Só à sobremesa somos apresentados ao chef, que não esconde a sua surpresa e exclama, com uma humildade que se lhe detecta à primeira: “Não preparei nada de especial. Mas hoje é dia de menu de degustação ao jantar.” Preferimos assim. De qualquer forma, já percebemos que não sairemos desiludidos. “Talvez amanhã queiram acompanhar-me nas minhas lides diárias, como a ida ao mercado.” Fica combinado. Antes do jantar juntamo-nos à prova de vinhos que decorre no Wine Bar, a antiga cisterna do convento. É um dos espaços mais marcantes do hotel. Hoje, o grande protagonista é o enólogo da Herdade do Esporão, Luís Patrão, que trouxe alguns exemplares, dispostos em torno de uma mesa de queijos e enchidos regionais. Provamos e somos elucidados a cada sabor e aroma. Com apenas 27 anos de idade, Luís Patrão cresceu com o vinho, aprendeu-lhe as artes, mas foi por acaso que encontrou David Baverstock, o famoso enólogo do Esporão, numa viagem à Austrália. Com esta idade, tem agora a seu cargo os tintos. Como este Private Selection Garrafeira 2004, “um excelente ano para os tintos alentejanos. Este foi produzido na nossa Adega dos Lagares. Foi feita a pisa a pé separada das castas Aragonês, Syrah e Alicante Bouchet, e cada uma delas estagiou em barricas de carvalho novo francês. Só depois decidimos qual a percentagem de cada um dos vinhos vamos usar”.

NA HORTA COM O CHEF. Às 6h da manhã do dia seguinte, já Nuno Noronha nos aguarda no exterior do Convento, junto da oliveira centenária. Está tão desperto como se acordasse a estas horas todos os dias: “Às segundas nem pensar, não há nada de interessante.” Seguimos para Évora mas não chegamos a entrar nas muralhas. É um pouco depois, em direcção a Reguengos, que paramos. Um corrupio de gente, entre caixotes e paletes. Junto do sr. Júlio, o fornecedor de peixe do Espinheiro e dos grandes restaurantes eborenses, Nuno pergunta: “Peixe-porco, não?”, “Havia, mas eram muito pequenos”, exclama o homem, ao lado de um cação com cerca de dez quilos. “Mande então entregar esses tamboris, por favor”, pede, e diz-nos: “Tinha pensado numa coisa com uns maravilhosos filetes, mas já tenho outra solução. Vamos, que vem agora o mais importante.” Tinha mesmo de ser muito importante, para justificar uma viagem de 70km para cada lado. Era. A quinta da Dona Estrela, que trata o chef por “menino”, fica em Vila Boim, já bem perto de Elvas. Produzem-se aqui os pequenos tesouros da cozinha típica alentejana sem recurso a fertilizantes e respeitando o seu ciclo natural. Coentros, orégãos, hortelã, poejo, salva, segurelha, manjerona, mas também tomates, laranjas, espinafres, alfaces, tudo o que se imagina poder ser encontrado num qualquer supermercado sem que se sinta a diferença no sabor. Nada de mais errado. >>>

DIANA SPA Os World Travel Awards elegeram-no o Melhor Spa Português e figurou, em 2006, na Hot List da “Condé Nast Traveller”. Antes ainda de conhecer os quartos, optámos pelo envolvimento Deluxe Chocolate (55 minutos, €90 ), mas tem à sua disposição os mais diversificados tratamentos de beleza e bem-estar. Do Reforço Imunológico (50 minutos, €90) ao Balanceamento dos Chakras com Pedras Quentes (1h50, €140), fica a certeza de uma experiência única.

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Desta horta partirá a essência da receita que Nuno Noronha confeccionará especialmente para nós. E é ele próprio que colhe o que precisa, no meio de uma confusão de perfumes. Antes do regresso, ainda nos sentamos à mesa desta simpática senhora e conversamos contagiados por este sotaque quente, genuíno, sob um tecto de enchidos pendendo à antiga. Ouvimos histórias de tractores furtados durante a noite e queixas de um certo “reumático do mais ruim”. Fazemos agora o trajecto inverso à conversa com Nuno Noronha. Não se vê a si próprio noutro sítio. Aqui chegou, depois de passar por algumas das cozinhas mais conceituadas, desde os 28 anos, na Catalunha e País Basco, aprendendo com Gerónimo Ferreira, Fausto Airoldi, José Cordeiro e Rui Calçada, chef do Penha Longa, que considera o seu grande mestre. “O Alentejo é ideal para o trabalho que eu quero desenvolver: pegar nas coisas autênticas, nos sabores mais ancestrais, e incutir-lhes a qualidade de apresentação e confecção ao mais alto nível. Nisso, os espanhóis são exímios. Mas o Alentejo tem esta gente, esta paisagem, este cheiro.”

TODAS AS QUARTAS-FEIRAS, até ao fim de Maio, um enólogo convidado traz a sua arte ao Convento do Espinheiro para uma PROVA DE VINHOS NO WINE BAR Nuno Noronha é um excêntrico ao seu estilo. Tem uma responsabilidade tremenda mas que não transparece nos seus gestos, de criança ainda à descoberta: “Todos os dias aprendo coisas novas. Todos têm algo para me ensinar, principalmente neste lugar. É por isso que o pessoal da cozinha é todo alentejano.” É então que me lembro da conversa com o director do hotel, Dinis Pires, de sorriso orgulhoso nos lábios: “Vamos fazer obras na cozinha.” Estranhei que pudesse ser um problema de condições. Não era. Dinis prosseguiu: “O Nuno precisa de um gabinete maior para fazer uma biblioteca com livros de cozinha, que todos os cozinheiros possam consultar e levar para casa.” À “minha brigada”, como lhe chama o nosso chef, conhecemo-la à chegada. Entramos na enorme cozinha apinhada de gente numa azáfama digna de uma versão não-animada do filme “Ratatouille”. Acompanhamos a confecção da “nossa” receita, lascas de bacalhau fresco num caldo de tomate cacho, orégãos e bouquet de espinafres vermelhos.

RESTAURANTE DIVINUS De decoração cuidada e serviço irrepreensível, o restaurante do Convento do Espinheiro é a antiga adega dos monges e serve gastronomia típica alentejana com um toque de nouvelle cuisine

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HÁ PEQUENOS SEGREDOS, como o tomate que é moído juntando-lhe água com gás, que lhe vai tirar a acidez: “Açúcar? Não quero cá geleias.” O bacalhau fresco foi marinado 24 horas em sal, azeite e lima, congelado e agora cortado em lascas finíssimas, depositadas sobre a calda de tomate com ervas (ultra-secretas) e coroado com espinafres vermelhos (não é uma espécie à parte, mas sim os mesmos de sempre, colhidos em início de crescimento). Provamos. Mil e um sabores e texturas. O viço dos espinafres, quase “crocantes”, contrastam com o aveludado do puré de tomate. Um fio de azeite e flor de sal coroam tudo isto. Mas há mais.


A NÃO PERDER ROTA DE SABORES TRADICIONAIS Todos os anos, de Janeiro a Maio, a Câmara Municipal de Évora organiza a Rota dos Sabores Tradicionais, nà qual participam os melhores restaurantes da região. O Convento do Espinheiro não é excepção e chef Nuno Noronha faz do restaurante Divinus um verdadeiro templo do bom gourmand. A cisterna gótica e Wine Bar do hotel é o cenário perfeito para as provas de vinhos que acontecem todas as quartas-feiras até ao fim de Maio, com um enólogo convidado. Um dueto de fados acompanha o jantar que se segue.


SENTEMO-NOS, ENTÃO, À MESA. Ainda hão-de chegar o Porco lacado num montado alentejano – a recriação num prato das cores, aromas e sabores desta característica paisagem –, Sopa de tomate no seu pingo de linguiça e, por fim, um delicioso Bombom de chocolate com cerejas cozidas no seu próprio caldo. São verdadeiras criações artísticas. Ainda assim, Nuno Noronha teima em não deixar-se fotografar sozinho. “Só com a minha brigada, repete. Tudo isto é graças a eles.” E foi também graças a eles que decidimos ficar para o jantar. Desta vez, a escanção Patrícia Ramos, ergue a fasquia. A ela se deve a carta com 250 vinhos do hotel. Deixamos que escolha qual acompanhará um Lombinho de porco de raça alentejana com poejo e alecrim, migas de coentros e espargos, um Caldo de feijão branco com cubinho de bacalhau frito e um Brandade de bacalhau com pasta de tomate, azeitona e ovo de codorniz, o grande sucesso do Divinus. Conversamos um pouco e chegamos à conclusão que temos mesmo os melhores vinhos aliados à melhor gastronomia. “Na sua grande maioria, os nossos vinhos são alentejanos. Não que sejam superiores aos do Douro ou Dão, mas porque são os mais procurados e porque o chef Nuno recuperou o mais genuíno desta terra. Temos de casar o seu trabalho com os vinhos que são próprios para estes sabores e aromas.” Todos aqui são unânimes: Nuno Noronha recuperou os sabores, os usos e costumes ancestrais, da matéria-prima à confecção dos pratos. Deu-lhes um novo alento, uma outra vida. Se isto não é Cozinha Sustentável... E

UMA RECEITA EXCLUSIVA... ... especialmente preparada para a blue pelo chef Nuno Noronha. Lascas de bacalhau fresco num caldo de tomate cacho, orégãos e bouquet de espinafres vermelhos, Lombinho de porco alentejano com poejo e alecrim, migas de coentros e espargos e Sopa de tomate no seu pingo de linguiça. Sabores Divinus!

A “BRIGADA” É assim que o chef Nuno Noronha chama à sua equipa. Faz questão que seja totalmente constituída por alentejanos, com quem ele próprio possa aprender

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“FIQUEM SÓ MAIS UM POUCO”... ... diz quem, apesar de representar um dos mais elegantes hotéis de Portugal, pratica a arte de bem receber. O check out foi feito há algumas horas e o entardecer já vai dourando a planície alentejana, mas vamos acedendo ao pedido...




GOURMET

Toscana

F É R I A S

C O M

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Aprenda a cozinhar as suas massas favoritas, e outros pratos de fazer crescer água na boca, durante um curso de cozinha na Toscana. Uns dias tranquilos, entre jantares ao ar livre, passeios pelos mercados de rua e saborosas degustações, é a nossa sugestão para as próximas férias. Com estadia marcada na quinta dos Ferragamo, uma morada absolutamente secreta que partilhamos consigo. Depois, perca-se por estradas secundárias e pelas colinas cobertas de vinhedos à descoberta de aldeias medievais perdidas no tempo. Respire fundo. É tempo de parar e reencontrar o prazer das coisas simples da vida. POR RACHEL VERANO FOTOS DE MARCO ANTÓNIO POMÁRICO



IL BORRO A quinta da famĂ­lia Ferragamo na Toscana jĂĄ foi propriedade dos Medici e inclui uma aldeia medieval recuperada, com casas para alugar


Foi na propriedade da família Ferragamo, um segredo muito bem guardado, que passámos os primeiros dias desta viagem gourmet pela Toscana. Tempo para descansar numa aldeia medieval recuperada, entre passeios no campo e uma visita a Arezzo, antes de seguirmos rumo à costa do Mediterrâneo para aprender a preparar deliciosas massas e antipasti.

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m 1990 a escritora norte-americana Frances Mayes foi de férias à Toscana. Tomada por uma súbita paixão pela terra de ciprestes e suaves colinas forradas de girassóis, comprou uma casa antes mesmo de embarcar de volta aos Estados Unidos. Uma villa de cor ocre e janelas verdes, de nome Bramasole, nos arredores de Cortona. A história ficou famosa, transformou-se num livro bestseller e chegou a Hollywood. “Sob o Sol da Toscana”, exibido em Portugal em 2004, revela-nos todos os motivos pelos quais Frances, vivida no ecrã pela actriz Diane Lane, se encantou pela região. E não são muito diferentes dos nossos. As cidades medievais erguidas no topo das colinas, as ruínas etruscas, o mar de oliveiras e vinhedos, a arte, as pessoas, a gastronomia... Desde então a escritora passa metade do ano em Itália e metade em sua casa na Carolina do Norte. “A Toscana mudou a minha maneira de cozinhar, as minhas preferências arquitectónicas, o meu modo de escrever e até as minhas roupas”, disse-nos. “Os italianos sabem como viver intensamente e equilibrar o peso do trabalho na vida de forma a que haja sempre tempo para se divertirem. Tenho saudades todos os dias quando estou longe.” E quem não teria? Cortona é uma cidadela encantadora de pouco mais de 20 mil habitantes, toda feita de pedra. As suas ruelas e becos íngremes, que vez ou outra nos descortinam belas vistas do vale lá em baixo, são coloridos por bancas de flores e frutas e conduzem-nos invariavelmente às duas praças principais da cidade: a Piazza Signorelli e a Piazza della Signoria, onde o vaivém de gente alegre só cessa quando o Sol se põe. Um fim de tarde perfeito por ali, com o casario dourado pelo sol da Toscana daria início ao nosso roteiro de estradas secundárias e nenhum mapa. Um roteiro com cheiro e sabor a campo, entre jantares ao ar livre e à luz das velas, passeios pelos mercados de rua, visitas a adegas e animadas aulas de cozinha. É esta a nossa proposta: uns dias intensos pela mais autêntica zona rural italiana, em torno dos sabores genuínos da Toscana. Benvenuto a la dolce vita.

QUANDO IR A Toscana é diferente a cada estação do ano. Na Primavera os campos estão floridos e o verde é intenso. No Verão há a magia dos campos de girassóis e dos fenos dourados. As temperaturas são mais agradáveis entre os meses de Maio e Junho, e de Setembro e Outubro. Em Julho e Agosto os termómetros atingem facilmente os 40ºC, mas é também a época mais animada do ano, quando acontecem festas espectaculares, como o Palio de Siena, a corrida de cavalos mais antiga do mundo, ainda realizada em moldes medievais numa praça no centro da cidade, nos dias 2 de Julho e 16 de Agosto.

COMO IR A Alitalia (Tel.: 800.307.300, www.alitalia.it) tem voos directos para Roma e Milão, e a TAP (Tel.: 707.205.700, www.flytap.pt), para Roma. Entre as companhias low cost, a EasyJet (www.easyjet.com) voa de Lisboa para Milão, e a Ryanair (www.ryanair.com) do Porto para aquela cidade. Em qualquer dos casos a alternativa é tomar um outro voo interno para Florença ou Pisa, ou alugar um carro, que é a melhor forma de circular entre as vilas e cidades da Toscana.

ONDE DORMIR

2 Il Borro EE Borro, 1, San Giustino Valdarno, Arezzo

Tel.: +39.055.977.053, www.ilborro.it Duplo a partir de €200 (mínimo duas noites). Há diversas possibilidades de alojamento, desde as casas de aldeia aos moinhos ou à villa. Consulte o site para escolher o que melhor se enquadra nas suas necessidades. As casas da aldeia medieval são normalmente alugadas à semana e têm capacidade para alojar de três a sete pessoas, com tarifas a partir de €1.050 por semana.

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EM CASA DOS FERRAGAMO Já era noite quando deparámos com o imponente portão de ferro do Il Borro. Uma pequena estrada ladeada por ciprestes simétricos conduziu-nos ao interior da propriedade da família Ferragamo, onde passaríamos os nossos primeiros dias. A família, cujo apelido é sinónimo de uma das mais refinadas griffes italianas, adquiriu a propriedade que já pertenceu aos Médicis e à família real, no início da década de 90. Alguns anos depois iniciou as actividades de turismo rural. O terreno de 700 hectares abriga, para além da casa de veraneio da própria família, diferentes alternativas de hospedagem. Há a villa, uma mansão espectacular do século XIX com piscina interior e sala de bilhar, onde uma escadaria de mármore conduz às suites com belos tapetes e banheiras de ágata. Há também as quintas e as casas localizadas na aldeia medieval, uma pequenina aldeia no meio da propriedade com registos que remontam ao século XI. Aqui vivem apenas cinco famílias, há uma só rua principal e os carros não podem circular. Foi para lá que rumámos.

UMA ALDEIA SEM CARROS inserida numa propriedade agrícola de 700 hectares no Il Borro esperam-no passeios a cavalo pelos vinhedos e DIAS DO MAIS PURO SOSSEGO 10 PROGRAMAS IMPERDÍVEIS... ... recomendados pela escritora Frances Mayes, autora de “Sob o Sol da Toscana”: Descobrir as vilas medievais empoleiradas no topo das colinas Caminhar pelo campo Comer em trattorias familiares Fazer o roteiro artístico de Florença Visitar as cidades vinícolas e participar em degustações Ir ao mercado de antiguidades de Arezzo no primeiro fim-de-semana do mês Ir aos museus etruscos em Cortona, Volterra e Chiusi Perder-se pelas estradas secundárias Ir ao Festival del Sole, www.festivaldelsole.com, de música, em Cortona, de 2 a 12 de Agosto Saborear a cozinha toscana e comprar artesanato regional

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Do outro lado da velha ponte, é como se mergulhássemos no passado. Ao atravessá-la rumo à nossa casa na aldeia, sob um céu pejado de estrelas, soprava um vento húmido que balançava as folhas das árvores em redor. Caminhar por aquela rua iluminada por candeeiros amarelados, onde as casas têm placas de ferro e floreiras nas janelas, foi como voltar atrás no tempo. Séculos e séculos. A casa é simples mas completa: uma grande sala com lareira e cozinha no piso térreo; dois quartos, outra sala com lareira e a casa de banho no primeiro andar. Mas são os pormenores que marcam a diferença. E estes vão das janelas com cortinas românticas que se abrem para o pátio privado, debruçado sobre a mata, às amenities que incluem cremes à base de azeite e miniaturas de perfumes Salvatore Ferragamo.

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5 ALDEIAS ENCANTADORAS

. Cortona . Pienza . Montalcino . Montepulciano . San Gimignano 5 CIDADES A NÃO PERDER

. Florença . Arezzo . Siena . Lucca . Pisa

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O CENÁRIO DE CONTO DE FADAS mostrou-se ainda mais surpreendente ao amanhecer do dia seguinte. Cada portinha da aldeia revela-nos um pequeno segredo: um sapateiro a moldar sapatos manualmente; um ourives a desenhar jóias como no século passado; um marceneiro a talhar a madeira e a dar-lhe as mais variadas formas... A aldeia ganha vida a todo instante. E os dois únicos cães moradores do local abanam as caudas a cada novo visitante que se aproxima lá longe, do outro lado da tal ponte. Não são necessários mais do que cinco minutos para percorrer toda a aldeia. E muito menos do que isso para perceber a magia de se estar ali.


IL BORRO Na pequena aldeia medieval vivem apenas cinco famílias e alguns artesãos que mantêm vivas antigas tradições – há um sapateiro que faz sapatos à mão, um marceneiro, um ourives... E há ainda pequenas lojas de peças de cerâmica, vidro e artigos para a casa. Os carros não podem circular, pelo que é um óptimo sítio para deixar as crianças à solta


NO CORAÇÃO DA REGIÃO DE CHIANTI No Il Borro é dispensada especial atenção a tudo o que é artesanal. Cerca de sete mil oliveiras produzem os frutos que dão origem à limitada produção de duas mil garrafas de azeite extra virgem por ano. Há também uma pequena criação de vacas da raça Chianina, cujo corte mais famoso é a base da célebre Bistecca alla fiorentina, prato típico da região, servido na osteria da propriedade. E há ainda uma pequena vinicultura, a jóia da coroa. O cultivo das uvas Merlot, Cabernet Sauvignon, Sirah, Sangiovese e Petit Verdon, utilizadas nos blends dos três diferentes vinhos da casa, teve início em 1995, numa tentativa de resgatar a antiga tradição vinícola da região, interrompida há vários anos. A persistência de Salvatore Ferragamo (o neto), que cuida pessoalmente do sector dos vinhos, aliada à experiência do enólogo Niccolo d’Afflitto, surtiu efeito. Em 1999 foi realizada a primeira colheita e hoje a propriedade produz 200 mil garrafas por ano com os rótulos Polissena, Pian di Nova e Il Borro, o vinho premium. Toda a colheita e selecção das uvas é feita à mão.

NA LOJA DA ALDEIA MEDIEVAL... ... “Il Borro a Casa” pode comprar uma das duas mil garrafas de azeite extra virgem engarrafadas todos os anos na propriedade, bem como algumas garrafas de “Il Borro”, o vinho premium produzido por Salvatore Ferragamo (neto) e o enólogo Niccolo d’Afflitto

UMA VILLA EXCLUSIVA Além das casas da aldeia medieval, pode também alugar a magnífica villa da propriedade, com dez quartos, pavimentos de mármore, salões espaçosos e piscina interior

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A ADEGA DO IL BORRO Durante a estadia aproveite para fazer uma visita guiada Ă s antigas adegas e provar os vinhos da famĂ­lia Ferragamo



A UMA HORA DE FLORENÇA, o Il Borro é um excelente ponto de partida para descobrir as povoações toscanas de CORTONA, MONTALCINO, SIENA E AREZZO OS DIAS PASSADOS NO IL BORRO podem ser preenchidos com as mais variadas actividades. Há passeios a cavalo pelos vinhedos e pelas veredas abertas na mata, aulas de cozinha, de pintura ou de equitação; é possível organizar voos de balão ou saídas para a caça, e há ainda os arredores por explorar. Cidades pequeninas como Anghiari, Castiglion Fibocchi, Sansepolcro, a Cortona da escritora Frances Mayes e Arezzo, que está a escassos 20 quilómetros de distância e merece ser explorada com toda a calma. Não apenas porque tem um dos mais belos painéis de frescos de Piero della Francesca, guardado dentro da igreja de San Francesco depois de um restauro de 15 longos anos, mas também porque é lá que fica uma das praças mais sedutoras de Itália, a Piazza Grande, onde foram filmadas as cenas de “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni, vencedor de três Óscares em 1999: melhor filme estrangeiro, melhor música e melhor actor. Há outros tantos motivos mais, a saber: as ruas pedonais do centro histórico, cheias de lojas de produtos típicos e de garrafeiras; os simpáticos cafés; as óptimas lojas de antiguidades e velharias... Não basta? A Toscana não foi feita para os ponteiros dos relógios, para os mapas de estradas ou aparelhos de GPS. Perder-se é sempre um bom sinal. Poucos prazeres podem ser mais gratificantes do que enveredar por uma estrada de terra que sabe-se lá onde vai dar, e encontrar um castelo, uma velha abadia, um campo de girassóis que se estende até onde a vista alcança. São pequenas lembranças que levamos como nossas na memória para não mais esquecer. Numa destas escapadelas acabámos por descobrir a região perfeita para rodar sem rumo. Trata-se dos arredores de Pienza, uma cidade monocromática que se ergue no alto de uma colina cercada dos mais verdes campos que já vi. Ignore a sinalização e como recompensa verá, de uma só vez, todos os cartões-postais da região: estradas no meio do nada desenhadas suavemente por ciprestes, longos campos dourados de feno, casas de pedra isoladas no alto de colinas.

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CHARME ITALIANO Os campos e vilas da Toscana (em cima) são autênticos cartões-postais e proporcionam óptimos momentos. Em baixo, os passeios a cavalo no Il Borro e a Antica Bottega Toscana, uma lojinha gourmet em Arezzo a não perder

BOAS REFEIÇÕES

. Il Falconiere San Martino, arredores de Cortona Tel.: 0575.612.679, www.ilfalconiere.com O restaurante deste elegante hotel, membro da Relais & Châteaux, tem mesas ao ar livre para as refeições nos meses de Verão. Menu com receitas criativas e pormenores como fabrico do próprio azeite e vinho. €120

. Osteria Il Borro Il Borro, San Giustino Valdarno, arredores de Arezzo Tel.: 055.977.115, www.ilborro.it/theosteria.htm É o restaurante do Il Borro e serve óptimos pratos da cozinha regional, como a Bistecca alla fiorentina. Convém reservar com antecedência, pois está sempre cheio. €70

. Trattoria Il Saraceno Via Mazzini, 3A, Arezzo Tel.: 0575.27.644, www.ilsaraceno.com Restaurante familiar que serve um óptimo coelho assado no forno com finocchio, acompanhado de batatas. €50

. Taverna dei Barbi Podernovi, arredores de Montalcino Tel.: 0577.847.117, www.fattoriadeibarbi.it Instalado dentro de uma das principais propriedades vinícolas produtoras do Brunello di Montalcino, serve pratos típicos da região. Na propriedade são ainda produzidos artesanalmente queijos, salames, presuntos e azeites. €70.

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É no primeiro fim-de-semana de cada mês que decorre a feira de antiguidades de Arezzo, uma das maiores e mais antigas da região que anima a Piazza Grande e as ruas à volta. Deambulámos por ali, entre bancas improvisadas repletas de verdadeiros achados, antes de partirmos rumo à costa para um curso de cozinha toscana.

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DUAS ESCOLAS DE COZINHA entre Pisa e Lucca, para aprender a fazer as suas massas preferidas. Na Rhode School of Cuisine e na Toscana Saporita, com alojamento em villas de charme, desvendámos os segredos que fazem da gastronomia local uma das mais apreciadas do mundo

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ntes de deixar a Toscana não deixe de conhecer alguns ícones da região: o Tempio di San Biagio, nos arredores de Montepulciano, erguido no início do século XVI e um belíssimo exemplar de arquitectura renascentista; os vinhedos de Montalcino, famosos por darem origem a um dos melhores vinhos de Itália, o Brunello di Montalcino; e a espectacular Abbazia di Sant’Antimo, construída no meio de um vale de oliveiras, onde monges entoam cantos gregorianos várias vezes ao dia. E sobretudo, leve consigo os segredos da deliciosa cozinha local para que possa, de volta a casa, surpreender os amigos com um jantar tipicamente italiano.

SANDRA LOTTI Esta italiana de pai norte-americano é a chef e mentora da escola de cozinha Toscana Saporita e quem nos dá as aulas numa antiga adega quinhentista recuperada

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EM BUSCA DOS SABORES GENUÍNOS Nos dias que se seguiram seríamos apresentados a iguarias como bresaola, pecorini, prosciutti, carciofi – queijos, enchidos e outros produtos da região. Os jantares tornaram-se mais longos e também mais saborosos. As horas passaram a ser contadas pelos cafés, lanches, refeições e pequenas degustações. As calorias atingiram níveis inimagináveis – e deliciosos. Rumámos para os arredores de Lucca, já quase às margens do Mediterrâneo (que aqui se chama mar da Ligúria), e instalámo-nos no centro histórico da pequenina cidade de Vorno com um único propósito: aprender um pouco mais sobre a cozinha das massas, dos biscotti e das pizzas.


VILLA LUCIA Foi aqui que nos hospedรกmos durante o curso da Rhode School of Cuisine. Tem nove quartos com camas de dossel e frescos oitocentistas nos tectos e nas paredes, e estรก rodeada de jardins exuberantes



NO COLORIDO MERCADO DE PISTOIA, às quartas e sábados de manhã bem cedo encontra os ingredientes desta suculenta gastronomia: CARCIOFI, POMODORI, FUNGHI... Verdadeiro oásis cercado por um jardim secreto repleto de fontes, oliveiras, limoeiros e gazebos, a Villa Lucia, onde nos hospedámos, fica logo à entrada da cidade, rodeada por colinas e aos pés de uma imponente igreja. Uma pequena estrada ladeada por ciprestes e pequenos arbustos de lavanda leva à casa principal, um belo exemplar da arquitectura toscana do século XVIII. Recentemente, o minucioso trabalho de restauro incluiu a recuperação de frescos nos tectos e nas paredes e adicionou uma dose extra de conforto: ar condicionado, aquecimento central e casas de banho privativas em todos os quartos. Os nove quartos de hóspedes, espalhados por três andares decorados com móveis de época, têm nomes de pintores do Renascimento: Caravaggio, Rafael, Miguel Ângelo, Giotto, Botticelli... Em cada um deles há cortinas de seda esvoaçante nas janelas, banheiras antigas e muitos mimos: flores sempre frescas, chocolates, pilhas de toalhas e roupões branquinhos, amenities da Bulgari.

É MIKE RHODE, O PROPRIETÁRIO, quem me leva a conhecer um dos maiores encantos da Villa Lucia. Depois de passarmos por arcadas centenárias, pela piscina e por amplos salões, descemos à cave. E então deparamo-nos com uma espectacular cozinha de paredes de pedra com uma enorme lareira, iluminada por pequenas janelas abertas próximas ao tecto. Naquele momento estava a ser preparada uma cheirosa tarte de morangos com baunilha. Uma antiga banheira, descoberta durante o processo de restauro, decora a sala de entrada para a cave, onde centenas de garrafas repousam silenciosamente à espera de mais uma das (muitas) comemorações que acontecem por ali. “Este sítio é mesmo muito especial”, diz Mike, um americano de Nova Iorque que se mudou décadas atrás para a Europa e hoje se dedica a administrar pequenos paraísos. Além da Villa Lucia, tem também outros dois hotéis, um na Riviera Francesa e outro em Marrocos. >>>

CURSOS DE COZINHA

. Rhode School of Cuisine Villa Lucia, Vorno, Lucca Tel.: +39.0583.971.457 www.rhodeschoolofcuisine.com Uma semana de curso, com alojamento numa das três casas da Villa Lucia, todas as refeições e vinhos durante as aulas e alguns passeios pelas cidades vizinhas custa a partir de €2.040. Os acompanhantes pagam um pouco menos.

. Toscana Saporita Via Emilia Sud, 237, Stiava, Lucca Tel.: +39.0584.92.781 www.toscanasaporita.com O curso de uma semana custa €1.740 por pessoa e inclui as aulas de cozinha, o material, todas as refeições e bebidas, o alojamento em quarto duplo, transfers e visitas na região.

ONDE DORMIR

2 Villa Lucia EE

Vorno, arredores de Lucca Tel.: +39.0583.971.457 www.luxurypropertyrentals.com Independentemente de fazer ou não um curso de cozinha, as três casas da propriedade podem ser alugadas juntas ou separadamente, sempre à semana. A principal, também chamada Villa Lucia, custa €20.000 por semana. A casa Joshua e a a casa Cameron têm ambas seis quartos e podem ser alugadas por inteiro ou apenas alguns quartos, a partir de €5.000 por semana.

BOAS COMPRAS

. Antica Bottega Toscana Corso Itália, 24, Arezzo Tel.: 0575.24.645 www.anticabottegatoscana.it Óptima loja de produtos típicos da região. Vende desde massas a queijos e biscoitos.

OS MERCADOS DE FRESCOS... ... fazem parte do roteiro matinal de quem vem fazer um curso de cozinha na Toscana. É aqui que se escolhem os melhores legumes, frutas, peixe, queijos, enchidos e outros produtos que vão ser usados na preparação dos pratos. Em baixo à esquerda, a villa onde ficam instalados os hóspedes da Toscana Saporita

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PIZZA, ZABAIONE OU TAGLIATELE são algumas das receitas que vai aprender a fazer os cursos são para pequenos grupos, e proporcionam BONS MOMENTOS COM OS AMIGOS

APRENDA COM A SANDRA LOTTI { DA TOSCANA SAPORITA }

Cantucci (na imagem)

. Torre 150g de amêndoas doces por alguns minutos no forno e corte-as.

Há ainda duas outras casas na propriedade e numa delas funciona a reputada Rhode School of Cuisine, membro do movimento Slow Food. Completamente reformada para este propósito, tem uma grande cozinha/sala de aulas, uma sala de refeições e um amplo terraço onde são servidos os jantares nos dias de Verão, à luz das velas e lamparinas. Os programas de gastronomia têm a duração de uma semana e acontecem, geralmente, em inglês. Paz, uma gaulesa sempre de flores na cabeça e sorriso no rosto, é a responsável pela programação e pela recepção aos participantes. Organiza desde passeios à colorida feira de Pistoia, onde os alunos aprendem a escolher queijos, peixes e verduras, até visitas a Pisa e Florença, não muito longe dali. Enquanto isso, no comando das panelas e frigideiras fica o chef Mário Presi, um italiano de Pádua que já trabalhou nos prestigiados restaurantes Pont de la Tour e Cantina del Ponte, em Londres. Na Villa Lucia, Mário dá aulas de cozinha todos os dias a pequenos grupos, que aprendem a preparar verdadeiras especialidades como salada de Panzanella com flor de courgette frita, galinha à caçador com polenta ou zabaione, além de outros pratos mais simples como pizza, gelato, gnocchi... Mamma mia! No final, provam-se os resultados, sempre acompanhados dos bons vinhos da região, escolhidos para complementar cada prato na perfeição.

. Coloque-as numa batedeira com 1 chávena de farinha de trigo, 1 chávena de açúcar e uma pitada de sal.

. Junte dois ovos e misture até obter uma massa homogénea. Forre uma assadeira com azeite e farinha e disponha rolos compridos e finos da massa.

. Asse-os até que fiquem dourados (25 minutos), retire-os do forno, corte-os em fatias e leve-os novamente ao forno por mais 10 minutos.

. Para acompanhar, sirva Vin Santo, um vinho de sobremesa típico da Toscana.

A POUCO MAIS DE UMA HORA DALI, Sandra Lotti ensina um grupo de americanos e canadianos a preparar cantucci, o famoso biscoito feito com amêndoas e assado duplamente. É o acompanhamento perfeito para o Vin Santo, o vinho de sobremesa típico da Toscana. Sandra, uma italiana de pai norte-americano, é dona da Toscana Saporita, outra escola de cozinha dedicada a ensinar os segredos gastronómicos da região, também esta membro do movimento Slow Food. As aulas decorrem na antiga adega de uma villa do século XV, transformada numa cozinha moderna e totalmente equipada, mantendo apenas os pavimentos de terracota originais e as velhas traves de madeira do tecto. Durante a estadia, os participantes ficam alojados nos pisos superiores, em quartos decorados com antiguidades e peças do mundo rural italiano. >>>

ESCOLA DE COZINHA TOSCANA SAPORITA Há três cursos à escolha, conforme a época do ano e os produtos frescos disponíveis nos mercados da região. Na quinta de Camporomano, onde fica esta escola, produzem-se azeites e compotas caseiras que pode levar para casa no fim da estadia

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UMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL que culminou num jantar à luz das velas... ...momentos blue que o convidamos a viver, e que GOSTÁMOS DE PARTILHAR CONSIGO

Qualquer um pode inscrever-se nas aulas de cozinha, desde principiantes que vêm aprender a preparar pratos do dia-a-dia, aos chefs que vêm em busca dos segredos da gastronomia toscana. Há três programas à escolha – Festival da Primavera, Abundância de Verão e Colheita de Outono – que se debruçam sobre os produtos frescos disponíveis em cada época do ano.

À MESA Salada de rúcula com presunto, Bistecca alla fiorentina, Zabaione ou Tiramisu são alguns dos pratos que vai aprender a fazer durante estes dias e saborear às refeições

SIMPLES PRAZERES. Os alunos anotam atentamente cada pormenor, mas do lado de fora o sol começa a sair detrás das nuvens timidamente, depois de um grande temporal. É tempo de descobrir a região, sem perder uma visita às cidades históricas de Lucca e Pisa, e à encantadora Viareggio, autêntica Mónaco italiana cheia de charme e glamour, com uma marina onde nos meses de Verão atracam alguns dos melhores iates do país. Com o bom tempo, os funcionários da propriedade agrícola de Camporomano, onde fica a escola de cozinha, voltam a engarrafar o azeite, o jardim volta a colorir-se, um senhor acende o forno a lenha e vai torrar uns feixes de gravetos para fazer a própria vassoura. O campo volta a ter vida, uma vida vagarosa e cheia de pequenos significados, como quase já não existe. Da Toscana levamos muito mais do que simples recordações, paisagens ou monumentos. Levamos também o pretexto perfeito para juntar os amigos no regresso a casa, em torno dos pratos da saborosa cozinha italiana. Porque são estes momentos, assim partilhados, que trazem mais sentido à vida. Enquanto o Sol desce no horizonte e pinta os campos da Toscana de tons dourados, fazemos um último brinde a estes dias, para que se voltem a repetir sempre. E >>>

O BRINDE FINAL Tanto na Toscana Saporita como na Mike Rhode School of Cuisine (na imagem), os cursos acabam com um jantar para provar os pratos preparados durante as aulas. É o momento alto da estadia, quando os participantes se reúnem à volta da mesa, trocam contactos e prometem novos encontros

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ADRENALINA

O SONHO AMERICANO

ASPEN É o clássico dos clássicos das estâncias de ski, o must dos resorts. Para lá de ter sido a primeira nos EUA, Aspen, antiga cidade mineira, tem muito mais encantos que os que lhe deram a fama de “estância mais ‘in’ do planeta” e refúgio de celebridades. E o sonho americano está ao alcance de (quase) todos nós. POR KATYA DELIMBEUF

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FOTOS MANUEL GOMES DA COSTA



São os pormenores que fazem Aspen: as taças de chocolate quente servidas no sopé das montanhas, antes de se ir para as pistas. Os esquis transportados para qualquer uma das quatro montanhas, a pedido. A simpatia dos locais, que sorriem na rua, mesmo sem nos conhecer. O après-ski e o convívio nos hotéis ou nas piscinas aquecidas... Ou nas lareiras exteriores onde se assam marshmellows...

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ack Nicholson aproximou-se da mesa, no restaurante, e disse, estendendo a mão: “Olá, eu sou o Jack Nicholson, ouvi dizer que era minha vizinha.” Ao que a senhora retorquiu: “Não, deve estar equivocado. Você é que é meu vizinho.” A senhora em questão era a mãe de Rick Deane, bisneto de um dos cinco fundadores de Aspen. E é esta atitude dos aspenitas (o nome é esquisito, mas é mesmo assim) em relação às celebridades que ajudaram a dar fama a este pedaço do Colorado, que faz com que continuem a vir para cá. “Aqui eles sentem que ninguém os chateia, nem lhes vai pedir autógrafos”, diz Rick. E por isso, inguém se espanta se se cruzar com Goldie Hawn, Kurt Russel ou Jack Nicholson num corredor de supermercado, ou se escolher o mesmo restaurante que Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones.

PARA TODOS OS GOSTOS... São 90 os restaurantes em Aspen. Do japonês ao italiano, espanhol e mexicano, passando pelo americano típico, há de tudo um pouco. Aqui, no Little Annies, a referência são as carnes: costeletas, bifes e hambúrgueres. Também tem pastas e opções vegetarianas

A reputação de Aspen como estância de ski mais in do planeta tem a duração breve de duas semanas: entre o Natal e o Ano Novo. Mas para além da feira de celebridades que marca este período do ano, há uma série de outros bons motivos para vir até cá. A começar pela paisagem: não é à toa que se diz que esta é a estrada mais bonita do Colorado... As árvores vergam sob o peso da neve, de um lado e de outro do caminho, num cenário recortado por montanhas e vales. A densa vegetação de abetos parece um exército de setas a apontar para o céu. E até há um tipo de árvore com direito a nome local: as “aspen trees”, cujas folhas redondas e pequenas mudam de cor ao longo das estações – do verde ao amarelo, do laranja ao vermelho, até ao tronco branco, nu. >>>

O PRIMEIRO RESORT DOS EUA A tijoleira vermelha é uma das marcas de Aspen, cidade mineira fundada em 1889 – assim como as árvores nas pistas. Além do mais, Aspen é conhecida como Meca cultural, onde a arte e a música são presenças assíduas – desde a mais tenra idade…

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GALERIAS E MURAIS É outra das marcas de Aspen. Quantos são os resorts de ski que as têm às meias dúzias? E quantos podem gabar-se de ter Picassos ou Matisses à venda na montra? As pinturas murais são outro dos testemunhos do tempo das minas

A estrada de montanha leva-nos até aos 3.6oo metros de altitude, a Independence Pass, onde o vento sopra forte e onde Kevin Costner celebrou recentemente o seu casamento, na propriedade que ali comprou. No caminho, passa-se por cidades mineiras que já tiveram os seus tempos áureos. Essa é também a história de Aspen, uma antiga cidade de minas de prata, fundada em 1879, por cinco homens de Leadville. E é aqui que voltamos ao início desta história – e deste artigo – e ao bisavô de Rick, Joshuah W. Deane. Mineiro e advogado em part-time, foi juiz em Aspen até morrer, em 1936 – era o único que percebia alguma coisa de leis. E esta referência justifica-se, pois é a ele que temos de agradecer o facto de termos esta Aspen. É que na época havia quem quisesse construir as minas no vale e a cidade em seu redor, na encosta. Atraídos pela febre da prata, em 1893 já a população de Aspen somava 12 mil habitantes. E a cidade contava seis jornais, quatro escolas, três bancos, luz eléctrica, um hospital moderno, dois teatros, uma ópera... e um pequeno distrito de bordéis... Ufa...!! O DESTINO TROCOU AS VOLTAS à próspera cidade mineira em 1893, quando o governo indexou o dólar ao ouro, acabando com o reinado da prata. As cidades com este tipo de minas esvaziaram-se; algumas, como Ashcroft, a 2okm daqui, tornaram-se cidades-fantasma. Em 1935, só 7oo pessoas viviam em Aspen. Em 1948, o avô de Rick Deane deixou de ter dinheiro para pagar a renda e perdeu a sua propriedade – por 51 dólares. Quando começou a Segunda Guerra Mundial e os EUA se envolvem no conflito, foi criada uma divisão de montanha para combater nos Alpes italianos, que procurou recriar as mesmas condições da guerra. A “10th Mountain Division” acabou por estar na origem daquela que viria a ser a estância de ski em Aspen. Muitos dos que ali treinaram, como o austríaco Friedl Pfeiffer, planearam voltar em tempo de paz. 124

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UTE CITY RESTAURANT Recebeu o nome de uma das tribos índias que povoou Aspen antes do homem branco – os ute. Aqui, o ambiente é simpático e a “pasta Lobster Cappellini” imperdível


RESTAURANTE UTE CITY Foi um banco e o cofre ainda cobre uma das paredes. Mais do que simples refeições, é um regresso ao passado…


KEMOSABE Esta loja de chapéus e botas de cowboy existe há 13 anos em Aspen e já é uma referência. Aqui, a western culture é uma realidade. Ou não estivéssemos no Faroeste dos filmes...


RESTAURANTE MONTAGNA O restaurante do Little Nell, o hotel das celebridades, é reputado pela sua alta cozinha. É o mais badalado e o mais caro dos sítios para ficar em Aspen

A VIDA DOS COWBOYS E DO COLORADO é revisitada em muitos pormenores Tempos míticos que fazem parte de um IMAGINÁRIO COMUM RICK DEANE, O BISNETO DO FUNDADOR, tem 6o anos, todos eles vividos em Aspen, no rancho que os pais fundaram nos anos 5o: o Tlazy 7. O nome tem origem na marca de ferraduras que se punha no gado, e que neste caso, visualmente, tem o aspecto de um T e um 7 deitado. Para além dos passeios a cavalo, no Verão, são sobretudo os snow mobile tours (passeios de motoquatro na neve) as actividades mais populares do rancho. Bono Voxx, o vocalista dos U2, Will Smith e Sydney Poitier são alguns dos que “vêm até cá todos os anos”, assegura-nos Rick, que não se imagina a viver noutro lugar. Ele lembra-se bem das várias fases de Aspen, e de “já no tempo da 1o.a Divisão de Montanha, virem para cá muitas pessoas de todas as nacionalidades, interessantes e diferentes”. Uma noite, recorda, “estava sentado com o John Wayne no Red Onion (um saloon do tempo das minas que ainda hoje existe, onde todos os ski bums – “vagabundos do ski” – se encontravam). A certa altura, entrou um hippie, de cabelo comprido, calças à boca-de-sino. Nesse momento, lembra-se que Wayne disse: “Não vou beber no mesmo sítio que um hippie. Pegou no homem pelas calças e atirou-o porta fora.” B L U E

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3 HOTEL JEROME q qq O primeiro hotel de Aspen é, para nós, também o mais europeu e aquele que tem mais identidade e carácter. O lobby de madeira, com pesados cadeirões e uma enorme lareira, fervilha de pessoas a ler jornais. A partir de €296

DA PRATA AO SKI. Em 1947, Aspen abriu as portas como estância de ski, inaugurando a mais longa lift do mundo. Três anos mais tarde, foi a primeira cidade a receber uma competição internacional. Em 1958, as montanhas de Buttermilk e Aspen Highlands juntaram-se à Aspen Mountain, e a última, Snowmass, abriu dez anos depois. Ao todo, são quatro montanhas com 47okm de pistas, para esquiadores de todos os níveis – do iniciado (Buttermilk) ao intermédio (Aspen Mountain) e expert (Aspen Highlands). Até 2oo7, Aspen vai ser anfitriã dos X-Games, altura em que a cidade recebe 6o mil pessoas em quatro dias. Hoje, tem uma população residente de 54oo habitantes, mas sobe aos 3o mil durante a época alta. O aeroporto de Aspen fica a cinco minutos de carro pela auto-estrada e é aí que aterram cerca de 16 voos diários, das três companhias que voam para esta montanha. Isto, é claro, sem contar com os jets privados. Há muitos factores que fazem de Aspen um sítio agradável, tanto de Inverno como de Verão. A começar pela dimensão da cidade, humana e cuidada, rodeada por montanhas, com ruas paralelas e perpendiculares e edifícios de tijoleira vermelha.

GENUÍNO O Jerome mantém os padrões originais do papel de parede dos idos de 1800, o chão de tijoleira, a decoração sóbria e confortável. Reinam os tapetes pesados, as poltronas para os “reis”

MOBÍLIA DE ÉPOCA Todos os móveis são comprados em lojas de antiguidades, ou em viagens ao Oriente. Das camas altas e fofas à madeira escura

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HOTEL JEROME A fachada do hotel mais antigo de Aspen, construído em 1889. Com o 1.º elevador do Mississipi, vinham muitos para subir do r/c ao 1.º andar... em meia hora!


COTTAGES DE LUXO A zona residencial é rica em casarões escondidos por espaços verdes amplos e desafogados. É aqui que moram muitas das celebridades que têm residência em Aspen. À medida que nos afastamos da Main Street, para dentro


2 HOTEL ASPEN MEADOWS qq

Construído ao estilo Bauhaus, a seguir à 2.ª Guerra Mundial por europeus sequiosos de criar um novo pólo de cultura (à volta do hotel), o Aspen Meadows prima pela integração na natureza, e pelas linhas depuradas e minimalistas. A partir de €175

HOTEL ASPEN MEADOWS, um exemplo de modernidade em Aspen… Uma relação elegante e discreta entre DESIGN E NATUREZA OS ESPAÇOS VERDES, os bancos de jardim, o chilrear dos pássaros, o carreiro de água que percorre as ruas – tudo convida a um passeio a pé. E, depois, há os pormenores que fazem Aspen: o chocolate quente e os bolinhos oferecidos na base da montanha, antes de ir para as pistas; os esquis que são transportados sem qualquer custo pela Four Mountain Sports – para qualquer uma das montanhas, a pedido do cliente; o après-ski e as provas de vinho, onde os clientes aproveitam para partilhar as experiências do dia; a piscina aquecida ou as lareiras exteriores, circulares, onde os toros de madeira ardem e as crianças assam marshmellows. Sensação mais acolhedora e familiar não há... O minuto em que se sentar à volta de um destes fire-pits e se embrulhar numa manta será o mesmo em que o tempo deixará de passar. E ficará apenas a sensação de calor, de torpor, de dormência... e uma vontade de permanecer aqui para sempre... É claro que tudo isto se paga e Aspen é um destino apenas possível a bolsas recheadas. Mas na terra da abundância que é a América, o dinheiro não escasseia – basta dizer que os polícias de Aspen andam ao volante de Saabs... Ao mesmo tempo, é um mito e um exagero considerar que esta estância só é acessível a milionários. É que há quartos de hotel a 8o dólares por noite, com pequeno-almoço e après-ski incluído. Como é óbvio, não estão ao lado das pistas nem dão pelo nome de Little Nell, St. Regis ou Jerome, os musts de Aspen. Mas permitem desfrutar, com conforto, todas as actividades e o ambiente da cidade.

NA ALDEIA FANTASMA DE ASHCROFT A 20 minutos de Aspen, uma aldeia abandonada, por causa do crash da prata. Perfeito para lutas de bolas de neve…

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A ALDEIA FANTASMA DE ASHCROFT, hoje vazia, solitária... ...uma curiosidade para recuperar os TEMPOS ÁUREOS DAS MINAS DE PRATA UMA PALAVRA TAMBÉM para a simpatia dos locais, sempre de sorriso pronto na rua, mesmo que não nos conheçam de parte alguma. É o que explica Chris Davenport, campeão do mundo de extreme-ski, ao dizer que “a maior parte das pessoas que aqui vive sente-se afortunada por chamar a isto casa”. Ele próprio veio para cá depois da universidade – cursou História, no Colorado – e considera que foi fácil integrar-se nesta comunidade. “Todos se conhecem. Mas o que mais gosto é que as pessoas têm paixão pela vida. Esquia-se todos os dias, no Verão faz-se paraglide, bicicleta, trekking... É um estilo de vida saudável.”

OXYGEN BAR Para quem sofre com a altitude e a falta de oxigénio, há um menu imperdível: 5, 10 ou 20 minutos de oxigénio, para dores de cabeça, dores musculares... ou ressaca

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Chris começou a esquiar aos 4 anos, nas montanhas de Attitash, em Boston, a sua cidade de origem. “Era o desporto da família.” Aos 7 anos, começou a competir, e foi assim até aos 20. Mas o que verdadeiramente mudou a sua vida foi uma competição de free-skiing que fez – e adorou. Em 1994, alcançou um óptimo resultado e foi convidado para o campeonato mundial de extreme-ski no Alasca. “De repente, tornei-me campeão do mundo!” Em 2ooo, renovou o título e agora dá aulas de free-style e heliski. Na sua “embaixada” de representação de Aspen, conheceu pessoas como Kevin Costner, Antonio Banderas, Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones – que considera “uma mulher muito bonita, exterior e interiormente”. No entanto, não acredita que essa seja a essência de Aspen. Garante que “gostava de viver em Aspen a vida toda” e que “para lá do ski, há pessoas interessantíssimas, do meio da cultura e das artes”.


SKY HOTEL A piscina aquecida do Sky, ao lado do bar lounge 39 Degrees, é um dos locais obrigatórios do après-ski em Aspen. Difícil de perceber porquê?


39 DEGREES LOUNGE BAR À lareira, com a companhia certa, uma bebida e a temperatura exterior inversamente proporcional à que está cá dentro. Muito, mas muito conforto... no Sky Hotel…


3 SKY HOTEL qqq

O hall de entrada do Sky diz tudo: o único ‘design hotel’ de Aspen prima pela diferença, os móveis com assinatura – e o convite ao convívio. Uma longa mesa com jogos logo à entrada acolhe hóspedes e famílias que se conhecem melhor logo ali. A partir de €25O

O HOTEL SKY rompe com os tradicionais interiores da região... ...e faz a diferença pela APOSTA NA ORIGINALIDADE DA DECORAÇÃO PARA LÁ DO SKI. De facto, existe a ideia de que Aspen é também uma Meca cultural – ao que não é estranho o facto de muitos produtores, actores, realizadores e galeristas terem aqui residência. Para o ilustrar melhor, basta referir que, nas várias galerias de arte da cidade, é comum haver desenhos de Picasso e Matisse na montra... Depois, Aspen, apesar dos seus 5.4oo habitantes, tem a sua própria companhia de ballet, a sua ópera (a Wheeler Opera House, uma das primeiras dos EUA, fundada em 1889) e uma orquestra sinfónica de qualidade internacional. No Verão, o Festival de Música assegura uma temporada de música clássica com cinco concertos diários – sempre esgotados! Há ainda o Aspen Institute, construído na altura da Bauhaus por europeus sequiosos de criar um centro de cultura após a II Guerra Mundial, que assegura debates, conferências e concertos o ano inteiro. Junte-se-lhes as várias salas de cinema, os festivais gastronómicos e vinícolas, as dezenas de joalharias e lojas das marcas mais conceituadas (Gucci, Louis Vuitton, Bulgari, Ralph Lauren...) e temos, não a tradicional estância de ski, mas uma verdadeira cidade – cosmopolita. Acrescente-se a esta veia cultural uma vida social intensa, que passa, por exemplo, por mais de noventa restaurantes de todas as espécies e qualidades – do japonês ao francês, italiano, americano e até a um espanhol com influência marroquina. Há de tudo, para todos os apetites. Fazemos uma paragem no Mogador, o tal espanhol de inspiração árabe. É com felicidade que constatamos que há vinhos portugueses na lista. Escolhemos um Vinha do Fojo, do Douro, e matamos saudades de casa. Na cozinha, longe dos olhares públicos, um recanto forrado de azulejos marroquinos esconde uma mesa redonda para dez pessoas. “Chamamos-lhe os Dez Mandamentos e servimos sempre dez pratos diferentes”, explica o chef, Barclay Dodge, um aspenita que viveu alguns anos em Espanha e Marrocos. “Se se é de cá, tem de se sair daqui, nem que seja por uma temporada. Porque isto não é o mundo real”, defende. Mas este sonho americano não é impossível de alcançar.

CONFORTO ACESSÍVEL Dos hotéis de gama alta, o Sky é o mais acessível – e é o sítio mais animado para o après-ski. A opção dos quartos com vista para a montanha até é a mais em conta...

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VENHA CONNOSCO NA PÁG. 140

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AVENTURA

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NA SOMBRA DE KAREN BLIXEN Deve absorver-se com os olhos e esquecer-se a narrativa dos factos. Há lugares onde a palavra não quadra e toda e qualquer tentativa subjuga-se diante da beleza inenarrável. O Quénia é o mundo empírico, o mundo antigo, o mundo da celebração, o mundo do silêncio. POR TIAGO SALAZAR | FOTOS DE MANUEL GOMES DA COSTA



Karen Blixen não demorou mais de três parágrafos da sua obra-prima, “África Minha”, a oferecer-se de corpo inteiro a uma terra com tanto de hostil como de compensadora. “O panorama era imensamente vasto. Tudo o que se via respirava grandeza, liberdade e uma incomparável nobreza”


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ete arrobas de peso, metro e meio de altura e a cultura de um paquiderme. Este é Harif, o guia, o mestre, o amigo, o guru, o condutor da gloriosa máquina voadora também conhecida por Toyota Hiace onde galgamos a savana ondulante a caminho das terras masai. A empresa de um safari requer um homem assim, um homem de qualidades capaz de discorrer sem bruá sobre temática tão variada que tanto pode ser a virtude da mulher sudanesa como a ortodontia felina. Falamos agora de abutres, hienas e chacais, no seguimento de acalorada conversa do bestiário político de Nairobi. Harif acha parentesco entre a ave corcunda à beira da estrada que rapina os restos de uma zebra e um certo Leopoldo, deputado à nação que entendeu rapinar os direitos históricos dos masai, os antigos pastores-guerreiros expropriados dos seus domínios e convertidos a bonecos de feira. Havemos de lá chegar para ver a obra de sanha. Antes, muito antes, desvenda-se para lá da janela embaciada por séculos de bruma e de pó a África do primeiro homem. Montanhas, florestas, vales, planícies de cores secas e queimadas destilam--se na paisagem incomparável como se fosse esta a essência de um continente. A beleza em excesso paralisa e nada ocorre senão fundir-me sem resistência neste vigor de mundo antigo. Karen Blixen não demorou mais de três parágrafos da sua obra-prima, “África Minha”, a oferecer-se de corpo inteiro a uma terra com tanto de hostil como de compensadora. “O panorama era imensamente vasto. Tudo o que se via respirava grandeza, liberdade e uma incomparável nobreza.” A prosa vivida do avesso de Blixen subjuga-me quando escrevo. Leva séculos de avanço de talento e de observação diante de um viajante de quinzena apertada no garrote do calendário e poucos recursos líricos. África não se compadece com visitas de médico e almas empedernidas.

HOMEM DE QUALIDADES Harif, o nosso guia, revelou-se um elemento precioso no êxito da jornada. Condutor exímio, enciclopédia viva do mundo animal (vegetal, mineral…) e sobretudo um amigo. Para recorrer aos seus serviços deve contactar a Across Africa Safaris

Há que ir com o grande gozo de preencher vários dias em branco ao ritmo que apetecer. Em boa parte da narrativa, e a mais fecunda, Blixen ocupa-se na poética da paisagem e fá-lo como quem já assinou pacto de sangue. Sei, sinto do que fala quando fala do vento do Oriente a que dão o nome de monção e que era a montada favorita do rei Salomão, o mesmo vento que sopra nas costas de África e da Arábia. Vento que sopra directamente contra os montes Ngong e parece atirar a terra (e a Toyota Hiace) para a correnteza dos ares. “Melhor seria – diz Harif contra si falando – fazerem esta viagem de avioneta, como Karen Blixen e Dennis Finch Hatton.” As panorâmicas do livro são quase todas resultado de voos que partiam da fazenda de Blixen, nos arredores de Nairobi, e cruzavam o país do Uganda até à Tanzânia como a ave fabulosa das Mil e Uma Noites. Entre as rotas favoritas de Blixen estava invariavelmente o colossal Rift Valley, que se espraia desde o lago Turkana, na ponta norte, e toca ainda os lagos Baringo, Bogoria, Naivasha e Nakuru, este último santuário de metade da população mundial de flamingos e cenário da cena de abertura do filme “África Minha” e que, garanto-vos, foi das coisas mais bonitas que vi (só faltava a Meryl Streep a ler-me poemas de Yeats). >>>

VIVER NO CAMPO Da esquerda para a direita: aurora no parque Masai no rasto dos leões; guerreiro Samburu com trajes e ornamentos tradicionais na reserva de Shaba; Sarova Lion Hill Lodge na margem do lago Nakuru, onde se filmaram as principais cenas de “África Minha” e onde pode dormir por cerca de €50 por pessoa; manada de elefantes nas terras masai. Retratos do dia-a-dia no Quénia

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LAGO NAKURU O maior santuário mundial de flamingos e pelicanos onde foi filmada a cena de abertura “Africa Minha”, o filme de Sydney Pollack com Meryl Streep e Robert Redford nos papéis de Karen Blixen e Dennis Finch Hatton. A maravilha das maravilhas

À falta de Streep e um aeroplano, seguimos o trilho de Blixen por terra na medida do possível, pois ou não há acessos por estrada ou o que eram campos abertos para voos e cavalgadas são agora parques privados ou coutos de caça furtiva. Todos os safaris partem de Nairobi, e quem chega não deve perder a ocasião de dormir uma noite no célebre Stanley Hotel, poiso de ilustres como Clark Gable, Ava Gardner, Hemingway ou a própria Blixen antes de comprar a sua “farm in Africa”. O hotel data de 19o2 e é uma espécie de museu e arquivo fotográfico dos dias gloriosos da Velha Albion na versão vitoriana colonialista chauvinista. Foi renovado e não cheira a bolas de naftalina, parecendo-se com qualquer hotel de 5 estrelas internacional, excepto em matéria de espólio. Daqui, as hipóteses dependem do investimento e do número de dias que pretenda safariar. Os safaris mais curtos duram um dia e volta, pois há parques com vida selvagem logo à saída de Nairobi – e coisa pouca como gazelas Thompson e Grant, girafas Rotschild, topis, impalas, chitas, elefantes, búfalos…. Mas ainda o melhor, em matéria de gestão de dias e dinheiros, é escolher no máximo três parques (para 8 a 1o dias de viagem) e se não embarcar na avioneta muna-se desde já com cinta ortopédica e uma dose suplementar de paciência para a aventura na estrada. Fizemos os trajectos entre o lago Nakuru e o parque Masai Mara, com desvios aos parques de Tsavo e Samburu e soube-nos a pouco. A média de três dias por parque será suficiente para um vislumbre seguido de paixão irremediável, mas se lhe interessa ir além do coup de foudre e inteirar-se dos hábitos do mundo animal, opte por reduzir o número de parques e estender o número de dias. Julgamos que a melhor proposta é escolher uma de três opções: Nakuru e Masai Mara, Nakuru e Tsavo, Nakuru e Samburu seguido de uns dias de praia ou em Mombaça ou em Zanzibar para recuperar do pó e do pasmo.

OS VOOS DE BLIXEN. Eis o testemunho aéreo invejável que não poderemos confirmar mas que está ao alcance de qualquer viajante nas opções dos organizadores de safaris. “Quando estamos sentados em frente de um piloto, sem nada a não ser espaço à nossa frente, sentimos que ele nos está a transportar em cima das palmas das suas mãos estendidas.” Nesse dia, Blixen e Finch Hatton aterram em Naivasha, o lago que se divisa ao longe no nosso caminho, antes de chegar ao Nakuru, guardado pela coluna pretoriana dos montes Ngong, que a escritora não hesita em classificar entre os mais bonitos do mundo. Dali, num fundo de aguarela queimada pelo sol, não lhes vejo as cristas nuas em volta dos quatro picos elevando-se e correndo lado a lado com o avião para depois se afundarem e achatarem no prado. Mas até onde se pode ver da janela do furgão é uma mesma epifania. Paramos então longe da estrada e da poeira que se entranha como um narcótico e que é o pior desta jornada magnífica – não há mais de 5okm seguidos decentes em todo o Quénia – para inspeccionarmos a primeira grande lição de vida animal segundo as preciosas informações da nossa enciclopédia Harif-Larousse.


LAGO NAKURU, último santuário de metade da população mundial de flamingos e cenário da cena de abertura do filme “África Minha” e que, garanto-vos, foi das coisas mais bonitas que vi (só faltava a Meryl Streep a ler-me poemas de Yeats)…



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2 SAROVA MARA CAMP q q Detalhes do alojamento no parque Masai Mara, uma evocação dos acampamentos dos pioneiros. Dorme-se em tendas de chão de madeira decoradas com móveis de antiquário (duplo a partir de €71 por pessoa), e terminam-se os serões à lareira entre conhaques, solos de viola de caixa e histórias do tempo em que os animais falavam

QUERIA ESTAR ALI AGORA CONTIGO sob a asa de um Hawker Hurricane de carnagem azul cobalto num dia de Verão de 193o. O vento de há pouco estacou por completo. Não há nuvens nem bruma no céu. Não há nada na savana nua além de sarças ardentes e tufos de árvores imóveis que se podem contar pelos dedos. Estou certo que nunca senti esta quietude, esta comunhão terna, delicada e poderosa que vem dos confins do tempo. Sente-se o borbulhar do sangue a correr nas veias como um mar distante. Sente-se o torpor de um corpo demasiado ínfimo para o monumento da paisagem. Não me peçam mais palavras. Olho Harif e vejo nos seus olhos a nostalgia de um leão africano que não sabe viver noutro lugar. De repente, o silêncio desfaz-se com um ruído seco, como um esgravatar de réptil na areia gretada. – “Chacal às nove horas a 5oo metros.” – atesta Harif sem pestanejar. A tripulação, que se resume as dois pategos de cidade, move as cabeças em uníssono acertando apenas no sentido dos ponteiros do relógio. Do chacal, nem a sombra, nem o riso sórdido que difere da hiena apenas nos decibéis, este menos estridente. Harif garante que o bicho continua por lá, nas nove horas e 5oo metros, e precisa apenas de um olho aberto para confirmá-lo. Os binóculos desandam à esquerda e à direita e helas, dou com o bicho esparramado de borco a imitar um basalto em astúcias alimentícias, pois a menos de 2o metros um rato do campo dá conta de um texugo. Eis a masterclass ao vivo da lei do mais forte e da grande roda da vida. Há sinais infalíveis para descortinar animais à distância e um deles é o cheiro. “Eles cheiram-nos, e nós cheiramo-los a eles”, explica Harif, que usa um perfume barato “para despistar a fauna”, e gaba-se de ter um nariz de javali (a fisionomia confere). Nestes dias de safari teremos a prova deste faro prodigioso a que se deve juntar um olho de lince ou de chita: “Os citadinos não olham para lá do nariz. Não se habituam a esticar os olhos. São como músculos: se não lhe damos que fazer empenam.”

MASAI MARA. Cada parque do Quénia é um habitat singular que vai da savana arborizada (caso do Tsavo e do Nakuru) de ervas altas e florestas em galeria ao longo dos cursos de água, a savanas nuas e estepes (Masai Mara e Samburu) com ocasionais florestas de acácias. Do ponto de vista humano, distinguem-se a zona de criação de gado e outra sem pecuária por causa da mosca tsé-tsé, ambas com períodos alternados de chuva e seca. Para o viajante, importa reter as mudanças bruscas na paisagem que se transfigura por completo consoante a estação, aparecendo no lugar das savanas nuas prados floridos.

PETER & PETER Chamam-lhes Dupond e Dupont e são os anfitriões mais carismáticos do Sarova Mara Camp. A versão minimal é o homem de serviço à copa, autor de cocktails explosivos e devoto de Hemingway (cujo fantasma diz andar por ali). O gigante da floresta não é o último guerreiro masai mas serve com eficácia as funções de porteiro da noite

PERDIDOS NA SAVANA SEM FIM, os lodges do Quénia convidam a momentos únicos e a DORMIR NA COMPANHIA DOS BICHOS B L U E

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PARQUE MASAI MARA. Logo após o período das chuvas, que vai de Março até Maio, é quando acontece a migração de gnus, zebras, gazelas e impalas e que tem o seu ponto alto em Julho, nos domínios Masai. As estatísticas contam, números redondos, uma caravana anual de mais de 1 milhão e 4oo mil bestas, entre 55o mil gazelas, 2oo mil zebras, 64 mil impalas e restantes gnus…



Diante deste fenómeno de cortar a respiração, que se explica muito simplesmente pela demanda de água e alimento, nada se compara, nem as procissões do Ganges ou a memória mística das caravanas da seda. Espalhadas por centenas de quilómetros como a caravana do circo de Bufallo Bill, as bestas são o maior espectáculo coreográfico do Masai Mara. Dançam, cantam e devoram o pasto regressando a casa dois meses depois, aos planaltos do Serengeti, na Tanzânia, do outro lado do rio Mara. Muitas morrerão nas garras dos predadores, o leopardo, a chita e o leão, que rondam as pradarias dissimulados no pasto e a fauna… de turistas.

RITMOS DE SEMPRE, SAVANAS INFINITAS, esta é a África dos safaris onde nos fundimos na paisagem ÁFRICA MINHA, SUA... DE NINGUÉM

NA TERRA DOS 5 GRANDES Os turistas são um fenómeno inevitável que não serve de alimento aos leões. Pare o carro e deixe que os leões rujam e as caravanas passem…

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O AVISO VINHA DE CASA E NÃO HÁ COMO FUGIR-LHE. Para embarcar num safari é certo e sabido que vai ter companhia humana além das bestas e das savanas. O negócio dos safaris é dos mais lucrativos e não há limite de entrada de veículos nos parques, o que torna a ideia romântica de expedição uma floresta de enganos. Mas nem tudo está perdido, pois as manadas de turistas resumem-se aos momentos de ver a família leonina ou o recreio dos elefantes. Ligados por walkie-talkies, os guias estabelecem um pacto de não agressão e tratam de avisar onde pára o leão ou a chita. Localizado o animal, todos convergem à uma e cercam-no como domadores de circo ou aves de rapina. Esta é a hora deprimente, a das flashadas e das histerias colectivas de quem se vê num zoo do tamanho da Península Ibérica, que, contudo, se pode ultrapassar com espírito de resistência. Não demora muito para as hordas se cansarem de registar o banquete dos leões e partirem para a próxima caçada. Chega então a hora de desligar o motor (ou de aguentar os cavalos) e ficar ali o tempo que for preciso até que os animais se esqueçam da nossa presença e passem ao activo sem constrangimentos. Foi assim que vimos o elefante africano na sua tarefa de construtor a partir troncos como palitos ou uma família de babuínos em asseios matinais. Foi assim que vimos o espreguiçar das chitas depois de uma sesta copiosa e o pequeno-almoço dos leões, isto é, um entrecosto de zebra e antílope.


SINAIS DO TEMPO O uso de colares de missangas, brincos, piercings e tatuagens sempre fez parte dos hábitos estéticos dos guerreiros masai para quem nada disto é sinal de desorientação sexual ou tendências frívolas e fugazes da moda


SALTOS EM ALTURA É uma prova de virilidade conhecida por dança ipid e que faz parte do ritual de passagem a guerreiro. Os melhores saltadores chegam a elevar-se um metro acima do chão. A NBA ainda não se lembrou de contratar reforços por estas bandas…


NÃO MAÇAI OS MASAI. Antes de o governo tomar conta dos parques, os domínios dos masai começavam à saída de Narok, a última cidade num raio de centenas de quilómetros. A actual linha fronteiriça fica a 84km de Narok e é nessa zona intermédia que vivem os actuais herdeiros da mais célebre das tribos da África Oriental, a maioria junto às cancelas do parque à cata da misericórdia dos turistas. Quem vá imbuído do espírito de Livingstone não pode esperar um encontro histórico, a não ser que queira escrever a revisão moderna dos outrora ferozes guerreiros da savana. Não há como encontrar uma aldeia não turística num programa de safari e nem Harif conhece atalhos que levem a semelhante raridade. Resta então a visita da praxe, que não deixa de ser um momento étnico singular, a começar pelo cruzamento de culturas. Temos assim um aglomerado circular de prodigiosas casas feitas de bosta seca de vaca (inodora) e chaminés de zinco e uma população coberta por túnicas de açafrão e escarlate, missangas, quispos de enchumaços e sapatos de tiras de borracha vulcanizada e chuteiras Nike. À entrada da aldeia, um misto de corpo diplomático e cobradores de entradas (35 euros por cabeça, preço mínimo garantido) recebe o visitante e logo ali demonstra as suas habilidades com uma sucessão de saltos em altura conhecidos por a dança ipid. É uma prova de virilidade segundo o código masai e que faz parte do ritual de passagem de moran (adolescente) a guerreiro. Neste caso é uma estratégia de marketing bem montada.

OLHEIROS DA NBA PONHAM-SE EM CAMPO. O ritual consta ainda de um espantoso cântico coral e da rapação masculina do crânio bem como do ornamento do corpo para a cerimónia eunoto e da rapação do velocino púbico para a ala feminina (dado não confirmado). Os masai são vaidosos e as suas longas cabeleiras de tranças pintadas de ocre – coloradas com um gel pastoso de terra e banha de vaca – são motivo de concursos. Continuam a ser nómadas, no sentido de levarem o gado a pastar até onde haja água e pasto, e a acreditar que todas as vacas da terra lhes pertencem. A fama de grandes amantes está intacta, a provar pelos sorrisos galhardos das suas mulheres, e o manejo hábil do arpão, da faca e da zagaia não sugerem a reforma do guerreiro.

NADA MUDOU NO ESTILO DE VIDA MASAI desde os tempos pré-históricos. Nómadas, guerreiros, pastores, destemidos... são A MEMÓRIA E A COR DA SAVANA



PARQUE TSAVO . Cada parque do Quénia é um habitat singular que vai da savana arborizada de ervas altas e florestas em galeria ao longo dos cursos de água (caso do Tsavo e do Nakuru), a savanas nuas e estepes (Massai Mara e Samburu) com ocasionais florestas de acácias


FINCH HATTONS TENTED CAMP Uma das luxuosas tendas deste lodge no parque de Tsavo, a melhor e mais romantizada proposta de estadia no parque Tsavo Oeste, a caminho de Mombaรงa


NOSTALGIA VITORIANA E COLONIALISTA, o Finch Hattons é uma evocação que parece ter sido TIRADA DOS LIVROS DE KAREN BLIXEN Ir a cavalo a uma aldeia masai, como escreve Blixen, deixou, porém, de ser possível e o espírito só arqueja de alegria diante das centenas de quilómetros de terreno aberto que se divisam de qualquer montada, mesmo do tejadilho de uma Toyota Hiace. Há agora vedações, fossos e estradas e os grandes vagabundos vagueiam apenas quando o gado está sedento ou as tsé-tsé fazem raids mortíferos. Desse tempo sobra a consciência da calma, “da existência de uma pessoa vinda de um mundo apressado e ruidoso para um país parado”. O contacto com o “homos econumicus” trouxe para as aldeias masai um fenómeno deplorável: o lucro a qualquer preço. E para ser rico já não basta ser dono de uma generosa manada (que se traduz ainda no número de esposas) mas também ter sentido do negócio. Nas traseiras da aldeia passou a haver um mercado com bancas de artesanato (umas iguais às outras) cuja venda reverte para um fundo comunitário que diz, Francis, o sonhador, levará à compra dos territórios perdidos. Kaninu, o realista, diz que a pátria dos masai é agora uma conta bancária. Dado curioso e inalterado são os hábitos carnívoros dos povos africanos, porventura mais próximos do vegetarianismo e do respeito pelo mundo animal. Do que vimos, o rito mantém-se como Fernand Braudel o descreveu na sua “Gramática das Civilizações” (edições Teorema), ou seja, na maior parte das tribos africanas, só se consome carne nas grandes festas. As cabras e os carneiros que os agricultores quicuios do Quénia criam em algumas clareiras à volta dos campos estão reservados aos sacrifícios e cerimónias públicas. Os seus vizinhos nómadas, os pastores masai, vivem dos produtos dos seus rebanhos, mas os animais são demasiado preciosos para que os matem. A carne que dá força e virilidade é sempre rara e objecto de cobiças, cruamente expressas nos cantos de caça dos pigmeus.

3 FINCH HATTONS TENTED CAMP qqq

Deck de uma tenda do Finch Hattons sobre um lago que serve de piscina a hipopótamos e crocodilos. Sala de jantar com lustres de cristal, fotografias a sépia e atmosfera do All England Cricket Club

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MIKE Guarda florestal das Mzima Springs no interior do parque Tsavo Oeste. Atrás de Mike está um lago habitado por uma comunidade de hipopótamos. No interior da guarita de colmo que se vê à retaguarda há um observatório subaquático


MZIMA SPRINGS. Em Tsavo Park. Fotografia tirada a partir da guarita referida na legenda anterior. Além dos hipopótamos, habitam as águas do lago tartarugas, crocodilos e uma população “chinesa” de peixes


PARQUE SAMBURU. O mais selvagem dos parques do Quénia, na reserva de Shaba, a norte do território. Lugar de savanas nuas e estepes até onde a vista alcança



SAROVA SHABA LODGE A proposta de estadia mais conseguida no interior da reserva de Shaba no parque de Samburu. Estrutura de tipo colonial, com avarandados e decks a toda a volta. Dos quartos envolvidos na floresta ouve-se o coro dos animais nocturnos.


2 SAROVA SHABA LODGE q q Das tendas sofisticadas às cabanas rústicas dos masai este sorriso esteve sempre presente no Sarova Shaba Lodge… como o rugido do leão, a aerofagia dos hipopótamos e a gargalhada das hienas Duplo a partir de €77 por pessoa

QUEREMOS QUE O TEMPO NÃO PASSE queremos que a medida das horas verta das clepsidras. ÁFRICA É O TERRITÓRIO DA FELICIDADE A TRADIÇÃO NO TSAVO E SAMBURU. Da geração Blixen e Hemingway, para nomear apenas dois dos mais ilustres tribunos de África, sobra a ideia romântica de acampamento que tem o seu esplendor no parque Tsavo, lugar do Finch Hattons, e no Sarova Shaba Lodge, na reserva nacional de Shaba, os mais próximos da tradição de campanha. Do parque Tsavo, criado em 1948 fica a nota sumária da sua área colossal, mais de oito mil quilómetros quadrados de savana árida e pântanos que se divide em dois, East e West. O Finch Hattons fica na metade oeste, no sopé dos montes Chyulu com vistas panorâmicas do Kilimanjaro. Nasceu como tributo ao caçador, cuja avioneta se despenhou no Tsavo Este (e não ali como se pôs a circular), e pretende ser o mais próximo de um acampamento pioneiro. O resultado são 34 sumptuosas tendas dispostas sobre um pequeno lago que é a piscina natural da comunidade de hipopótamos, crocodilos e centenas de aves que competem entre si para os títulos de barítono e tenor. Além das tendas, uma piscina, uma sala de estar (com sofás de chintz e retratos de Blixen, Hatton e do corso de amigos) e outra de jantar com empregados saídos das páginas do “África Minha” e clientela do All England Cricket Club, o Finch Hattons estende-se por um oásis alimentado por uma ribeira que corre entre paredes de lava e que tem a sua celebração nas quedas de água de Mzima. Enquanto o resto da paisagem é seca a maior parte do ano, a do Finch Hattons nunca perde o verde luxuriante. Os aposentos limitam-se a uma cama de mogno, uma escrivaninha, um guarda-fatos, uma casa de banho palaciana e um deck com duas espreguiçadeiras sobre a face do lago. Por curiosidade, a única queixa do livro de reclamações devia-se ao ruído excessivo dos babuínos. q

TUSKER A nossa eleita entre as cervejas do Quénia. Fresca e pela tardinha foi como caiu melhor. O governo (e o escriba) advertem que o Quénia à mistura com Tusker pode causar habituação ou estados críticos de êxtase

VENHA CONNOSCO NA PÁG. 140

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VIAGEM


D E K O VA L A M … … AT É C O C H I M

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DESLIZAR DE BARCO NO RIO, SENTIR O CHEIRO A MARESIA e a brisa morna no rosto, ou deixar-se embalar por uma massagem que nos liberta de todo o stress da civilização... Esta é uma Índia serena, longe dos roteiros turísticos habituais. Com os hindus a venerarem cerca de três milhões de deuses, é fácil perceber que este é um lugar abençoado por paisagens de rara beleza, onde as pessoas dão mais valor ao lado espiritual da vida. De Kovalam até Cochim, uma proposta de férias para recarregar baterias, junto às águas do Mar Arábico.

POR

TERESA

CÂMARA

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FOTOS ANTÓNIO NASCIMENTO


DE KOVALAN… …ATÉ COCHIN

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K OVA L A M – VA R K A L A

{ 1 . ª E TA PA }

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erala é um dos sítios mais tranquilos à face da terra. Fora da rota do turismo de massas e em alternativa aos grandes centros urbanos, é uma outra Índia que se vai revelando ao longo da costa sudoeste do país, entre o Mar Arábico e uma cordilheira interior de montanhas. Para chegar aqui toma-se um voo interno de Mumbay, a antiga Bombaim, para Thiruvananthapuram. A capital de Kerala é tão impronunciável quanto desprovida de lugares que mereçam uma visita mais demorada, e serve apenas como porta de entrada na região. A uns escassos 15km encontra-se Kovalam e, num dos promontórios rochosos, um dos hotéis mais bem cotados da região, o Leela Kovalam Beach Resort. Depois de uma longa viagem intercontinental, deixou-nos abrandar e entrar ritmo de férias. É aqui que se encontra uma das poucas sequências de baías da costa sul, e não tardará muito a sentir o apelo das praias de areias brancas e águas mornas.(ver caixa).

O hotel tem por único vizinho o castelo Halcyon, um edifício com mais de 1oo anos outrora habitado pelo marajá do antigo reino de Travancore. Os quartos estendem-se em cascata desde o topo até à praia, com vista garantida para o mar. As cinco estrelas do Leela oferecem interiores de bom-gosto decorados num estilo contemporâneo, com tons de terra e madeiras à vista. Espaços que apetece desfrutar na companhia de um bom livro, ou simplesmente a descansar. No exterior, uma infinity pool confunde as suas águas com o azul do mar Arábico. Um dos pontos fortes deste hotel é a gastronomia. No restaurante buffet – mais concorrido ao almoço –, cerca de 2o pratos, entre caris, sambars, biryanis, vindaloos, dhals e chutneys deixam no ar os aromas irresistíveis da cozinha local. Ao pôr-do-sol, recomendamos um jantar no Tides, o restaurante ao nível da praia com um ambiente mais cuidado, luz de velas e uma ementa à la carte, da qual se destacam os pratos de marisco. Um daqueles momentos perfeitos que lhe vai ficar na memória. 4

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3 THE LEELA KOVALAM BEACH RESORT EEE

Um resort de cinco estrelas integrado no grupo Palaces & Resorts, a 15km do aeroporto de Thiruvananthapuram. Tem 187 quartos e suites, distingue-se pela localização, boa cozinha e por uma oferta de qualidade em tratamentos ayurvédicos. Duplo a partir de €270

O HOTEL LEELA KOVALAM, com interiores de bom gosto e ambiente descontraído, revelou ser o melhor ponto de partida PARA DESCOBRIR A COSTA SUL DA ÍNDIA

3 PRAIAS A NÃO PERDER: SAMUDRA BEACH A mais próxima do hotel Leela Kovalam. HAWAH BEACH Tem resistido à invasão das construções e é bordejada por coqueiros. Almoce um arroz frito com gambas na esplanada do restaurante Sea View, com uma Kingfisher – a cerveja indiana de eleição – a acompanhar. LIGHTHOUSE BEACH Tem vários restaurantes à escolha, e pode fazer uma massagem ayurvédica ou perder-se nas lojas de artesanato. Compre umas calças à pescador, práticas, leves, a “farda” ideal para passear pela Índia e entrar no espírito local.

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VARKALA, A “GOA DE KERALA”, já foi uma praia alternativa a Kovalam mas hoje afirma-se como um destino por direito próprio. Uma faixa de restaurantes, pequenos bungalows e lojas de artesanato, perfilados à beira de uma falésia de onde se avista um imenso horizonte e três quilómetros de praia. Ao primeiro olhar Varkala é apenas isto, mas numa estadia mais prolongada aprende-se muito sobre uma certa forma de estar muito indiana... É fácil chegar aqui. De Thiruvananthapuram parte uma das linhas férreas mais importantes da Índia, que acompanha toda a costa oeste até Bombaim. Varkala fica a apenas uma hora de caminho e, neste apeadeiro, deve apanhar-se um tuck-tuck para percorrer os 3km que faltam até à beira-mar. Optámos por fazer o trajecto de táxi, não tanto pelo conforto, mas pela curiosidade de viajar nos típicos táxis brancos dos anos 5o que vemos nos filmes de bollywood. Diga que quer ir para North Cliff, para o Hill View Beach Resort. É lá que tudo se passa. Ao contrário de South Cliff, onde vive uma pequena comunidade de indianos, à faixa norte afluem hippies, backpackers e viajantes, gente à procura de lugares alternativos às férias de pacote. O ambiente chill out nesta varanda que a natureza esculpiu à beira-mar é o chamariz principal. Ele sente-se em especial à tarde, quando os corpos bronzeados regressam da praia e se estendem, lânguidos, nas muitas esplanadas para beber sumos de fruta, cerveja ou chais (o chá indiano) enquanto ouvem Buddha Bar, Ravi Shankar, Café del Mar e Shiva Moon. Por tudo isto Varkala é uma espécie de Goa, sem os psicadelismos e as festas trance na lua cheia.


A PISCINA DO LEELA KOVALAM... ... funde-se com as águas do Mar Arábico. Deixe-se ficar para ver o pôr-do-Sol



1 HILL VIEW BEACH RESORT E

É uma das melhores opções de alojamento em Varkala. Escolha um dos quartos do primeiro piso, com melhor vista para o mar. Um pequeno pátio privado com coqueiros garante alguma privacidade. Duplo a partir de €25

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ROMPER COM TUDO O QUE É FÚTIL, regressar às coisas simples da vida... alcance o enriquecimento interior NUMA SESSÃO DE HATHA IOGA Ao segundo dia, sigo pelo único caminho existente na vila, ao som das muitas máquinas de costura dos alfaiates que fazem roupa por medida, encomendada na véspera. Descubro uma das descidas para a praia que me leva até ao mar, quase sempre agitado por estas bandas. Durante um banho prolongado, sinto-me numa banheira de hidromassagem quente, em tamanho gigante. Os olhares tranquilos à minha volta denunciam quem se deixa ficar mais tempo por aqui. Em pouco tempo Varkala já se entranhou. A ARTE DO HATHA IOGA. Além da praia, este é o sítio ideal para pensar um pouco mais em si. As tabuletas que vamos encontrando anunciam sessões de diferentes tipos de ioga, shiatsu, reiki, massagens ayurvédicas, aulas de culinária, o filme do dia em determinada esplanada… Vou ao encontro de Sunil Kumar, mestre de ioga e de filosofia indiana. Tem um corpo franzino, e fala seis línguas – sânscrito incluído. Viveu e estudou num ashram (retiro holístico) durante 12 anos, dá aulas há dez em universidades e resorts de Kerala e Tamil Nadu, e há três que faz uma paragem obrigatória em Varkala. Sigo as suas indicações numa aula de hatha ioga. “Bridin, bridau... bridin, bridau”. Sunil orienta vários exercícios respiratórios que nos permitem desacelerar o corpo e a mente. Como os demais indianos, não atina com o “th” do inglês, o que lhe dá um sotaque cómico. Mas a sua cantilena soa como música aos meus ouvidos. O mestre faz uma sequência de saudações ao Sol e passa para um conjunto de asanas destinadas a trabalhar todas as partes do corpo. Dobra-se em posturas irreais, desafiando a própria anatomia humana, num misto de aula com show de malabarismo. Dá o seu melhor, para depois ver em cada um de nós o que é possível melhorar, e o seu empenho e disponibilidade saltam à vista. No fim pagamos 1oo rupias, cerca de dois euros. >>>

SUNIL KUMAR... ... é mestre de ioga e filosofia indiana há mais de dez anos. Encontra-o na rua principal em North Cliff, ao lado do Funky Art Café, cujo proprietário (em cima, à direita) é outras das figuras emblemáticas de Varkala

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PRAIA DE PAPANASAM É aqui que os peregrinos hindus se vêm banhar em dias de culto para lavar os seus pecados. Venha de manhã e ao fim da tarde, e junte-se aos que praticam ioga à beira-mar


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VARKALA De todo o nosso percurso, este é o melhor sítio para compras. No regresso da praia, espreite a enorme variedade de roupa, sapatos, incenso, peças de decoração e outro artesanato de vários pontos da Índia

BACKPACKERS E VIAJANTES concentram-se na zona de North Cliff encontram em Varkala um DESTINO ALTERNATIVO ÀS FÉRIAS DE PACOTE Sunil Kumar tem uma visão bastante crítica sobre os ocidentais que vão para a Índia fazer ioga e diz, em tom de desabafo, que o fazem sem entender a sua verdadeira essência. Aparentemente, existem novas escolas de ioga que “exportam” esta forma de vida indiana à medida das necessidades dos ocidentais: aumentar o autocontrolo, o poder, o ego. Quando é precisamente o inverso… Faça como eu: convide-o para o chai sob o pretexto de poder aprender alguma coisa sobre filosofia indiana, e deixe fluir a conversa. UM PASSEIO À BEIRA-MAR. Varkala é também um local de peregrinação hindu. O Templo de Janardhana Swamy tem cerca de 2ooo anos, e descobre-se num passeio a pé descendo o rochedo até à Temple Road. As divindades parecem acabadas de pintar, e dentro do recinto existem algumas árvores sagradas – admirável, a árvore venerada pelas crianças, cheia de bonecas penduradas nos seus ramos! A própria praia Papanasam, reza a lenda, é uma praia sagrada onde os peregrinos se vêm banhar nos dias de culto para se lavarem dos seus pecados. No extremo oposto da falésia, outra caminhada leva-nos por um coqueiral cerrado até encontrarmos uma vila de pescadores. Se for bem cedo, verá o grande trabalho de equipa que é necessário para pescar algum peixe com os métodos artesanais. Aventure-se um pouco mais a norte até deparar com uma mesquita de um branco imaculado, completamente isolada no meio do verde. Uma visão possível nestas paragens. B L U E

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Varkala entranha-se no espírito. Apesar de ser pequena e serena, a presença de viajantes de todo o mundo dá-lhe uma dimensão cosmopolita.

PARA JANTAR E AO SERÃO… A Varkala que hoje percorremos passou a constar do mapa há apenas dez anos, quando alguns estrangeiros (ingleses, alemães e franceses) com olho para o turismo montaram um pequeno negócio. Existiam então três restaurantes. Hoje há 5o, um autêntico quebra-cabeças na hora de decidir qual a esplanada mais apetecível. Aqui ficam, pois, algumas sugestões. Entre os restaurantes que experimentámos, e que juntam uma boa refeição, boa música a uma decoração cool, estão o Sea Side e a Kerala Coffee House. Para um up-grade na cozinha vá até ao Funky Art Café, na ponta norte de Varkala, onde o peixe é fresquíssimo e há bons pratos vegetarianos. No entanto, só passa música country, algo desadequada à paisagem. Ao pequeno-almoço, nada como o L´Italiano – bom café, boas tostas e boas saladas de frutas. As noites prolongam-se um pouco no Blue Moon, com R&B, soul, hip-hop, cerveja fresca e alguns cocktails conhecidos reinventados por indianos. Qualquer semelhança... AS MUITAS LOJAS DE VARKALA são uma tentação constante. Depois de as “namorar” por dois dias, faça o périplo pelas mais originais com uma missão a cumprir: encher uma mala com peças made in Índia. Calças de algodão, vestidos de seda, túnicas com motivos étnicos, T-shirts com deuses hindus, sandálias de couro, colares de prata, o melhor incenso de Bangalore... A variedade é estonteante, pois a roupa vem de várias regiões da Índia – Caxemira, Nepal, Tibete, Rajastão. Numa das livrarias, junto à minha literatura de viagem um livro em segunda mão de Osho, o guru que congregou no seu ashram, em Pune, pessoas de mais de cem nacionalidades. Pelo meio, as agências de viagens, alertam para a dimensão deste país e fazem sonhar qualquer viajante com tarifas reduzidas para o Sri Lanka e para as Maldivas. Detenho-me num cartaz que anuncia as Backwaters. No coração de Kerala, as Backwaters são a “rede viária” de uma região onde as populações se deslocam de canal em canal desde sempre. Para quem procura uma Índia mais calma, ou quer ter umas férias dentro das férias, deslizar silenciosamente de barco no rio parece uma boa ideia. É para lá que vamos nas próximas páginas. 12

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N AV E G A R N A S B A C K WA T E R S { 2 . ª E TA PA }

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proposta é simples: deslizar por águas calmas, absorver a natureza em bruto, saborear a boa gastronomia de Kerala, observar o dia-a-dia das populações ribeirinhas, ler um bom livro… Dois dias a navegar nas Backwaters, uma malha de 44 rios e 22 lagoas que os indianos consideram “o País dos Deuses”. E, à chegada, um tratamento de ayurveda no melhor resort da região. Depois de uma hora de táxi rumo ao interior de Kerala, a paisagem transforma-se por completo. Surgem agora diversos canais ladeados de coqueiros, por onde navegam barcos de toda a espécie. A ideia de passar dois dias a bordo de um houseboat, o barco mais famoso da região, é tentadora. Basta contactar a Tourindia (ver guia), a agência local que decidiu transformar, desde há 18 anos para cá, os típicos barcos de transporte de arroz numa atracção turística. No porto de Quilon, embarcamos naquele que nos servirá de hotel flutuante e a que os locais chamam de “Ferrari”. Duas suites, à popa e à proa, e um piso superior com zonas para refeições e chill out justificam a categoria topo de gama. SANTUÁRIO NATURAL. O barco merece só por si a viagem. É feito apenas com os materiais que a natureza dá (como a madeira, bambu, couro e fibra de coco), e enquadra-se na perfeição com a paisagem circundante. Biju, o nosso guia, anda na casa dos 3o anos e conhece a região como a palma da mão. À medida que seguimos para norte, diz-nos com orgulho que as Backwaters estão entre os “5o Places of a Lifetime” mencionados no National Geographic Chanel. Este autêntico paraíso, com 1.5ookm de extensão e 9oo de circuito navegável, é um rico ecossistema que alimenta florestas e arrozais imensos; terra fértil, conhecida como “a tijela de arroz da Índia”. 14

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2 DORMIR NUM HOUSEBOAT... EE

... com todos os confortos e refeições incluídas. O barco com um quarto duplo custa €160 por dia

O TEMPO CORRE DEVAGAR nestas águas tranquilas são momentos únicos que pode viver NUM BARCO-CASA MUITO ESPECIAL Nas Backwaters há um santuário de aves migratórias, lugar de passagem para cucos, patos selvagens e cegonhas da Sibéria. Dezenas de corvos negros e os famosos kingfisher (os pássaros que deram nome a uma marca de cerveja), acompanham-nos durante algum tempo. A cada paragem, grupos de crianças aproximam-se curiosos. Rapidamente, juntam-se mais amigos, os primos e, por fim, os familiares mais velhos. Passear nas margens e contactar com a população é uma das maiores recompensas desta viagem. Chegamos ao centro do lago Ashtamudi onde ancoramos às seis da tarde, hora em que o movimento dos barcos é substituído pelas redes de pesca. Com o pôr-do-sol o céu cobre-se de nuvens, e começamos a ouvir canções de devoção hindus e acordes de cítara que parecem emanar da copas das árvores. Por mais viagens que faça, jamais esquecerei a magia deste momento, no meio de um lago ao lusco-fusco. Biju diz que o ritual venera Devi, a Deusa da Prosperidade.

UM CHEF SÓ PARA SI A tripulação do Houseboat inclui um cozinheiro que faz milagres no pouco espaço disponível. Durante o passeio nas Backwaters, o peixe – fresquíssimo –, grelhado ou em caril, é prato obrigatório

A VIDA A BORDO DO HOUSEBOAT começa com um deslizar quase imperceptível que se pode observar das janelas dos quartos. Segue-se um pequeno-almoço de frutas tropicais, a primeira de quatro refeições cozinhadas no momento onde não falta a abundância de sabores. O peixe, grelhado ou em caril, é prato obrigatório. Ao segundo dia rumamos para Alappuzha, a região que todos afirmam ser a mais bela. Não tanto pela cidade, a que pomposamente chamam de “Veneza do Oriente”, mas pela paisagem em redor, de vegetação mais cerrada, e onde os canais se estreitam permitindo acompanhar mais de perto a vida nas margens.

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COMO FAZER O PASSEIO DE HOUSEBOAT? Pode fazer vários percursos de um, dois, ou três dias, com pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar incluídos. Escolhemos a agência Tourindia, tourindiakerala.com, com mais de 20 anos de experiência, e a que oferece as casas-barco mais originais e amigas do ambiente. Para saber mais, consulte o guia da reportagem no final desta edição.

O ENCONTRO COM AS GENTES DAS MARGENS, com vidas tão diferentes da nossa que dão valor às coisas mais simples, são MOMENTOS QUE MARCAM A VIAGEM Por entre o verde luxuriante, as vilas vão desfilando perante os nossos olhos. No piso superior do houseboat, sinto-me num camarote a ver um documentário vivo de antropologia cultural. Alguns apeadeiros são animados por pequenos mercados – os homens cozem redes de pesca ou martelam em estaleiros de barcos; as mulheres batem peças de roupa nos degraus à beira rio, circulam com potes de água em caminhos de terra, debulham arroz; as crianças brincam, mergulham, ou voltam da escola nos seus uniformes. Todos acenam. É uma lição de vida sentir que estas pessoas conseguem ser felizes na sua simplicidade. O cozinheiro milagroso, Vargheese, oferece o chá das cinco. “Masala tea or milk tea”? Sim, alguns hábitos nunca mudam até nos lugares mais recônditos da ex-colónia inglesa. Nessa noite o Vargheese prepara um jantar muito elogiado: caril de peixe, caril de vegetais, arroz, sambar de vegetais e ananás com especiarias. A tranquilidade do serão é um convite à boa conversa. Biju fala da naturalidade com que se encaram os casamentos arranjados, tema intrigante para um ocidental. “É melhor assim!”, diz convencido. “Foi a minha irmã que escolheu a minha mulher.” O facto de ser da montanha foi a característica que mais o entusiasmou. “Queria ter um motivo para mudar de cenário. Casei, e apaixonei-me cinco meses depois.”

O COZINHEIRO VARGHEESE De saída para o mercado local onde se abastece de peixe fresco, legumes e frutas tropicais. Foi ele que nos preparou todas as refeições a bordo

NO KUMARAKOM LAKE RESORT. De novo em terra firme para mergulhar na grande piscina do melhor resort da região. Vemo-la assim que o houseboat atraca na margem do lago, no pequeno porto do Kumarakom. As primeiras impressões perduram durante a estadia e combinam hospitalidade, requinte e tradição. B L U E

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OS PASSADORES DE ROUPA Uma profiss達o reservada aos homens e praticada nas ruas ao ar livre


SANTUÁRIO NATURAL com 900 quilómetros de circuito navegável este é o refúgio de inúmeras aves e A “TIGELA DE ARROZ DA ÍNDIA”



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NO RESTAURANTE VEMBANAD Experiemente os pratos da cozinha de Kerala pela mão do chef do Kumarakom, Biju Mohamed

O KUMARAKOM LAKE RESORT orgulha-se em mostrar a cultura da região foi o vencedor do prémio World Travel Awards como o MELHOR HOTEL DA ÍNDIA O charme e o bom-gosto do Kumarakom são visíveis em cada canto do resort. Os conjuntos de villas, construídas segundo a arquitectura do reinado de Travancore, estão separadas por canais, tal como as aldeias da zona. No interior, esculturas de madeira, pinturas murais com mitologia hindu, fechaduras de cobre e outras peças completam a decoração. E é neste jardim tropical, entre flores exóticas, bananeiras, bambus e coqueiros, claro – Kerala significa “terra dos coqueiros” em malaiala –, que nos deixamos ficar mais dois dias. À medida que conhecemos o resort, passeando ao som de karnatic, a música clássica indiana que se ouve por todo o lado, vai-se desenhando um conceito. Um pouco da cultura de Kerala, seja erudita ou de rua, está representada em diversos espaços do hotel. Podemos ver representações de Kathakali (teatro clássico indiano), ou ser presenteados com um concerto de música durante o jantar. Mas também encontramos pelo jardim o indiano que vende cocos, snacks, ou o chai da tarde, tal como em qualquer rua da região. Os hóspedes assim o justificam, pois apesar de encontrarmos muitos ocidentais, os jardins são coloridos por saris de seda esvoaçantes e casais de indianos em lua-de-mel. >>>

AYURVEDA NO KUMARAKOM Entre os tratamentos disponíveis, experimente o Dhara, um fluido contínuo de cocções ou óleo na testa. É relaxante, e usado no tratamento da neurastenia e para tonificar corpo e mente. Em alternativa, o Andaja kizhi, uma massagem ritmica de 45 minutos a uma hora com um preparado de ovos e ervas medicinais em pó, amarrado em sacos de algodão e aquecido em óleo. Receitas milenares que o vão deixar como novo...

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Cerca de 50 villas de excepção para desfrutar das Backwaters a partir da margem do lago Vembanad. Em todos os quartos, as cabeceiras das camas são pintadas à mão. Escolha uma das 22 Heritage Villas perto da piscina com jacuzzi. Duplo a partir de €180

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ATRAVESSE O LAGO VEMBANAD para sentir o ritmo urbano de Alappuzha regresse ao Kumarakom para gozar o pôr-do-Sol junto ao MAIOR LAGO DE KERALA Numa viagem que não deixou espaço para reclamações gastronómicas, o topo das nossas preferências ficou no Kumarakom. Embora o restaurante The Vembanad tenha um menu de marisco e uma localização apetecíveis, os nossos passos sempre nos levaram ao restaurante buffet, onde pudémos experimentar uma maior diversidade de iguarias. OS BENEFÍCIOS DA AYURVEDA. Quando lhe apetecer dar um pulo fora de portas, vá de barco-táxi até Alappuzha pois sabe bem sentir o pulsar de uma cidade mesmo sem monumentos a assinalar. Se prefere a natureza, informe-se na recepção do hotel sobre as visitas ao santuário de aves. E deixo para o fim duas sugestões imperdíveis: Reserve uma manhã para si e marque uma massagem geral ayurvédica, pois está num dos melhores sítios para o fazer. Esta massagem, nascida no Sul da Índia, é aplicada com óleos preparados à base de produtos naturais segundo receitas com cinco mil anos. O outro conselho é muito simples: Contemple o pôr-do-Sol na longa piscina com jacuzzi que se confunde com o lago Vembanad, o maior de Kerala. Imagina um lago tão grande, que ele próprio tem horizonte? É assim Vembanad, a via marítima que liga Kumarakom a Cochim, a nossa derradeira paragem. >>>

A PISCINA DO KUMARAKOM... ... tem jacuzzi e é o ponto de encontro dos hóspedes que, ao fim da tarde, são atraídos pela música clássica tocada num barco do resort

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E M C O C H I M À P R O C U R A D O VA S C O

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Sabeis que estais na Índia, onde se estende Diverso povo, rico e prosperado De ouro luzente e fina pedraria, Cheiro suave, ardente especiaria Luís Vaz de Camões Os Lusíadas, Canto VII

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nstalados como em casa de amigos, esperam-nos três dias na agitada Cochim, terra de Vasco da Gama. Entre os vestígios da presença portuguesa, um roteiro pelos antiquários e livrarias da cidade, com tempo para apreciar os sabores indianos em jantares demorados. O remate perfeito desta viagem no Sul da Índia. E se há nomes que vivem no nosso imaginário de aventuras além-mar, Cochim é certamente um deles. Foi aqui que os portugueses assentaram arraiais no século XV, de olhos postos no monopólio do comércio de especiarias. E é precisamente um cheiro forte a especiarias, uma mistura inebriante no ar, que deixa adivinhar estarmos próximos desta cidade. Cochim é o extremo norte das Backwaters, capital económica de Kerala, a “Rainha do Mar Arábico”. Árabes, egípcios, gregos, chineses, judeus, portugueses, holandeses e britânicos, todos rumaram à costa de Malabar e aqui deixaram marcas. O cruzamento de culturas, as igrejas católicas, sinagogas, mesquitas, templos hindus e traços de arquitectura colonial, são visíveis por toda a cidade. Do outro lado do delta, a meia hora de ferry, Ernakulam é a cidade-irmã abastecedora, mais indiana e cosmopolita mas menos interessante. Ficamos pelo ambiente tranquilo de Forte Cochim, a parte antiga, entre as muralhas construídas pelos portugueses. NO CORAÇÃO DE COCHIM. Numa das ruas mais centrais, a Princess Street, entramos num hotel escolhido a dedo. Desta vez, não é o mais requintado nem porventura o melhor, mas é, sem dúvida, o mais acolhedor. Há duas boas razões para nos sentirmos em casa no The Old Courtyard Hotel. Primeiro, porque estamos num edifício de arquitectura colonial portuguesa com 2oo anos de história. Segundo, porque o casal de proprietários, Rose e Jacob, recebem os seus hóspedes com o mesmo carinho com que recuperaram este hotel heritage a partir de escombros.

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LEGADO PORTUGUÊS Entre os templos de várias religiões de Cochim, visite a igreja quinhentista de Nossa Senhora da Esperança

NA CASA ONDE VIVEU O NAVEGADOR existe hoje uma pensão e uma agência de viagens em Cochim TODOS SABEM QUEM É VASCO DA GAMA Depois de uma entrada discreta, deparamos com um pátio interior – o courtyard – com sequências de arcos ao longo de três pisos, escadarias, portas de madeira escura, e uma grande mangueira que dá sombra à esplanada do restaurante. No interior, descobrem-se quartos espaçosos com camas de dossel nas suites e mobiliário colonial europeu.

A CASA DE VASCO DA GAMA Santhosh Tom diz-se orgulhoso de viver na antiga casa do descobridor do caminho marítimo para a Índia

Viramos a esquina e estamos no coração de Cochim. Comece por cirandar pela praça Vasco da Gama, colada àquele que é “um dos melhores portos naturais do mundo”. Entre as bancas de rua, descobrem-se peças de artesanato local, vendedores de especiarias, pescadores e restaurantes. “Mam, do you want fish?”, “mam, come and have a chai!”, são frases que se ouvem por todo o lado. Os indianos têm um conceito de fast food que me agrada: as bancas de peixe vendem a colheita do dia que é grelhada logo de seguida num dos restaurantes improvisados. Very fast. A cidade é pequena e dispensa, portanto, qualquer guia. Sugiro-lhe que alugue uma bicicleta por um dia (e por 5o cêntimos), no posto de Turismo próximo do hotel. Que bem que sabe pedalar ao fim da tarde pelas River Road e Church Road, passar pelo antigo Club inglês e imaginar o esplendor de outros tempos dos grandes bungalows holandeses. Cochim está cheia de edifícios históricos que precisam de reparação, mas as notícias locais dão conta de alguns passos nesse sentido. >>>

VERY BRITISH Há hábitos que não se esquecem, e tanto o cricket como o chá das cinco fazem parte do dia-a-dia dos indianos. O Tea Pot, perto do posto de trusimo, foi a primeira casa de chá da cidade. Tem uma grande variedade de chás e infusões, para acompanhar com bolos caseiros

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A CULTURA POPULAR INDIANA... ... manifesta-se pelas ruas de Cochim e surpreende-nos a cada esquina. O elefante é um dos animais mais respeitados por aqui, e compete com o trânsito da cidade

NA ZONA DE MANTTANCHERRY, o bairro judeu de Cochim, perca-se nas lojas de ANTIGUIDADES E ESPECIARIAS

BOAS COMPRAS... Na Crafters Antique Shop e na Heritage Arts, ambas em Manttancherry, encontra verdadeiros achados. Este é um lugar único para trazer peças de decoração e mobiliário

Entro na Igreja de São Francisco, considerada a mais antiga da Índia e que disputa os fiéis católicos com a Basílica de Santa Cruz, a dez minutos a pé. Os sapatos ficam à porta, tal como nos templos hindus e muçulmanos. Ao fundo, uma turma de alunos do ciclo rodeia o primeiro túmulo de Vasco da Gama, prestando atenção às explicações do professor. A milhares de quilómetros de Portugal, é impossível ficar indiferente àquela cena. Decidi prestar a minha própria homenagem; durante a minha estadia em Cochim, conheceria as pessoas que habitam hoje a casa onde viveu o português que abriu o caminho marítimo para a Índia. De regresso ao The Old Courtyard, somos recebidos pelo cheiro da boa comida que se espalha pelas mesas do pátio, e pelos acordes de música tradicional tocada ao vivo. O ambiente propício para uma pausa num dia que parecia longo. A proprietária, a filipina Rose, tem paixão pela cozinha e faz uma ementa dinâmica com vários pratos de marisco e um delicioso bolo de chocolate. Os mexilhões gratinados tornaram-se obrigatórios desde que o guia “The Lonely Planet” decidiu elogiá-los depois de uma visita anónima. Adormeço entre lençóis de um branco imaculado, embalada pelo aroma do jasmim fresco que encontrei na almofada. PASSEAR NAS RUAS. Uma das melhores formas de começar o dia em Cochim é dar uma volta pelo paredão frente ao mar, para observar o movimento da faina. A luz é estupenda! Os pescadores puxam as redes em movimentos sincronizados a partir de uma plataforma fixa, e correm para ver o resultado. Convidam-me a participar, e explicam que o sistema é muito antigo, introduzido pelos portugueses.

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PAIXÃO INDIANA O cricket, herdado dos tempos do domínio britânico, faz as vezes do futebol enquanto desporto nacional. Na rua, peça um sumo de fruta fresca e nutritiva... à confiança

A REGIÃO DE KERALA é a mais limpa da Índia e a que oferece melhor qualidade de vida tem a maior taxa de sucesso escolar do país e é UM EXEMPLO DE DESENVOLVIMENTO Dedico o resto da manhã a ver alguns monumentos, para depois me perder no bairro das compras. Quando o fizer, combine com um tuck-tuck uma ida a Manttancherry passando por vários pontos de interesse. 6o rupias (pouco mais de €1) chegarão para contratar um motorista que vai esperando enquanto conhece o Palácio Holandês (construído pelos portugueses e oferecido ao Rajá de Cochim), o Templo Janista, o armazém que exporta gengibre para todo o mundo (um óptimo sítio para comprar diferentes tipos de chá), e o Spice Market, ideal para se abastecer de pimenta, cardomomo, caril, chillies, canela, cominhos, sementes de mostarda e tantas outras especiarias que não reconhecemos à primeira vista. Siga pela Bazar Road, onde estão os retalhistas de especiarias, e deixe-se ficar pela Sinagoga pois a partir daqui é a pé que vai explorar a zona. NA ROTA DOS ANTIQUÁRIOS. Manttancherry, em especial o quarteirão judaico, é o local ideal para vasculhar relíquias em antiquários que têm o tamanho de armazéns. Dois bons exemplos são o Crafters Antique Shop e a Heritage Arts, ambos na Jew Town Road. Mobiliário antigo e clássico, estátuas de mármore, divindades hindus, jarras chinesas, máscaras, caixas e caixinhas, murais, artigos religiosos, ventoinhas, portas, janelas e pilares retiradas de palácios decadentes... são milhares de objectos a preços muito convidativos. “Aqui existem antiguidades recolhidas um pouco por toda a Índia, bem como peças fabricadas”, diz o empregado. Ao menos é sincero. As grandes lojas exportam para mais de 5o países, e, para que fique com uma ideia, o transporte ronda os €2oo por metro cúbico.

UM DIA EM COCHIM 08h Passeie de manhã bem cedo pelo porto, para ver os movimentos dos pescadores com os seus engenhos de pesca portugueses. 10h Tome o pequeno-almoço ocidental no Kashi Art Café, na Burgher Street. 11h Vá até Manttancherry e perca-se nas lojas de antiguidades, de artesanato e no Spice Market. 14h Almoce camarões-tigre e lagosta acabada de pescar numa das esplanadas da praça Vasco da Gama. Passe pela Basílica de Santa Cruz e ouça algumas orações católicas em hindu. 17h Beba um chá no TeaPot, na Peter Celli Street, e depois espreite a boa colecção de livros na livraria Idiom, ao virar da esquina. 21h Vá até à Malabar House para um jantar indo-mediterrânico, e prepare-se para um espectáculo nocturno de Kathakali na praça principal.

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AO SERÃO...

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... aproveite os jardins do hotel Malabar House (à esquerda), ou o pátio interior do the Old Courtyard (em baixo)

O THE OLD COURTYARD, de arquitectura portuguesa, foi a nossa escolha para dormir em Cochim prove os mexilhões gratinados de Rose, a proprietária APAIXONADA PELA COZINHA E se lhe sobrar tempo, ainda tem as lojas de artesanato, alfaiates, joalharias e perfumarias com óleos e fragrâncias naturais... Alguns artistas contemporâneos –indianos ou não – têm emprestado um novo colorido às galerias de arte que vão abrindo neste bairro. Outra paragem obrigatória é a livraria Incy Bella, na Synagogue Street. Num espaço pequeno encontram-se editoras especializadas em história, cultura, religião e espiritualidade indianas, para além de uma boa colecção de livros esotéricos, romances, guias de viagem e de medicinas alternativas. PARA AS REFEIÇÕES, há uma maior variedade de restaurantes em Forte Cochim. Aconselho o Kashi Art Café, na Burgher Street. Há 11 anos que este café-galeria (com exposições de pintura, escultura ou fotografia) presenteia os viajantes com um menu pequeno mas continental, bom para variar dos caris indianos. É aqui que vai encontrar o café mais parecido com a nossa “bica”, e bolos deliciosos para acompanhar. Prove também o café gelado, absolutamente viciante! O Chariot Beach, na Princess Street, é mediano mas tem uma esplanada exterior agradável, tal como os demais concorrentes na praça principal. Para uma refeição mais requintada, vá até ao restaurante do Hotel Malabar House (ver guia). Esta é, aliás, uma das melhores alternativas de alojamento em Cochim, assim como a Trinity, outra propriedade do mesmo casal. Se preferir ficar em grande estilo numa antiga Residência Britânica, a opte pelo Bolgatty Palace Hotel, na ilha Bolgatty. Sempre que avistar uma multidão na rua e grandes holofotes em pleno dia, isso é... Bollywood! É das cenas mais pitorescas que se podem encontrar, e a expressão de um grande fenómeno social no país que tem a maior produção de cinema do mundo.

BOAS REFEIÇÕES… OU NÃO! A gastronomia indiana pode ser para todos os gostos... ou talvez não! Deixamos-lhe aqui algumas dicas na hora de escolher o jantar, para evitar dissabores. A cozinha de Kerala é muito condimentada, logo, sempre que perguntar se é spicy a resposta será afirmativa. Se quiser saber se é picante, pergunte se é spicy-hot. Os pratos misturamos gostos dos povos que por aqui passaram, e pode sempre contar com peixe, côco e especiarias.

Na tentativa de oferecer uma grande variedade, a maioria dos menus são como “livros” com 12 páginas. Mas os pratos pseudo-ocidentais nem sempre resultam bem. Saiba que se pedir uma pizza, uma pasta ou um taco, dificilmente matará saudades dos sabores de Itália ou do México. Se, pelo contrário, escolher da lista indiana terá certamente surpresas muito agradáveis.

Em Cochim, onde existe uma grande oferta de peixe grelhado, a tendência é para deixá-lo muito tempo nas brasas. Se preferir menos seco, terá que dar algumas indicações.

>>> 1 THE OLD COURTYARD E

Classificado como Hotel Heritage, é o que apresenta a melhor relação qualidade/preço em Cochim. Tem também um dos restaurantes mais concorridos da cidade, cujo ambiente ganha vida à hora do jantar. Os proprietários, Jacob e Rose, propõem pequenos programas de férias que integrem Cochim e praia. Duplo a partir de €40

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Venha de manhã bem cedo até ao porto da cidade, observar o bailado dos pescadores com as redes de pesca tradicionais... herdadas dos portugueses

Outro espectáculo único nestas paragens é o Kathakali, o clássico drama dançado de Kerala. Data do século XVII e tem as suas raízes na mitologia hindu. Vá 45 minutos mais cedo e assista à transformação dos actores (masculinos como manda a tradição) em reis, demónios, heróis ou estados de espírito. É mesmo no centro, na praça Vasco da Gama. VASCO DA GAMA JÁ NÃO MORA AQUI. E já que se fala neste senhor, é tempo de descrever a casa onde ele viveu. Não é uma mansão como se poderia esperar, e está bem perto da igreja onde foi sepultado. Nela encontrámos Santhosh Tom, um comerciante dono de uma pensão (nada aconselhável por sinal) e de uma agência de viagens, ambas na antiga casa do navegador. Tom vive ali há 4o anos com a sua família, mãe, mulher e dois filhos. Católico fervoroso e bom conversador, conta que é com muito orgulho que vive na casa por onde passou um dos maiores navegadores de todos os tempos. E que é por isso que a sua agência se chama “Vasco”. E não seria melhor chamar-lhe Vasco da Gama? “Não”, respondeu, “aqui em Cochim toda a gente sabe quem é o Vasco”. UMA EXPERIÊNCIA A REVIVER. Naquela tarde, depois de um passeio com Jacob e Rose, percebemos que mesmo as viagens mais bem planeadas nos reservam boas supresas. Os proprietários do The Old Courtyard inauguraram recentemente um hotel tranquilo a uma hora de Cochim, com uma praia completamente inexplorada. E nós éramos os primeiros a desfrutar deste retiro. Um segredo bem guardado para descobrir numa próxima oportunidade. Das praias de Kovalam ao ambiente cool de Varkala, das águas calmas das Backwaters às ruas de Cochim, as malas vão cheias de imagens, amigos e memórias. Um circuito que nos deu a conhecer o melhor do Sul da Índia, e que recomendamos vivamente. Longe de qualquer stress, foram dias ao nosso ritmo, com vista para o Mar Arábico. e

VENHA CONNOSCO NA PÁG. 106

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