Ano 4 • Número 185
Uma visão popular do Brasil e do mundo
R$ 2,00
São Paulo • De 14 a 20 de setembro de 2006
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Em Santa Catarina, fábricas de mutilados João Zinclar
Empregadores não reconhecem mais de dois mil acidentes de trabalho em indústrias de móveis de São Bento do Sul
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rabalhadores de indústrias de móveis de São Bento do Sul (SC) são pressionados por seus patrões a ir além de seus limites. Mal pagos e com jornadas longas, sofrem acidentes. No ritmo frenético, guiado pelos prazos sempre curtos de encomendas para exportação, perdem dedos e se cortam nas máquinas. Foram 2.597 ocorrências entre 2000 e 2003. Estas, entretanto, não são
reconhecidas pelos empregadores e ficam subnotificadas. De acordo com o INSS, há apenas 496 casos de acidentes de trabalho. Para prevenir mais mutilações e coibir as pressões dos patrões, os funcionários das indústrias se organizam e fortalecem o sindicato local. São apoiados pela Fundacentro, entidade ligada ao Ministério do Trabalho. Pág. 4
China: crescimento com desigualdade social Três décadas após a morte de Mao Tse-Tung, líder revolucionário chinês, o socialismo encontra-se definitivamente suplantado pelo pragmatismo econômico. O novo modelo faz o país crescer,
Cartunista é Empresas lucram com telefonia; e ameaçado por grupo de Israel povo perde
Em Campinas (SP), no dia 7, manifestantes exigiram a independência que o Brasil ainda não conquistou
No Grito, 300 mil vão às ruas política e pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce, no 12º Grito dos Excluídos. O padre Júlio Lancelotti, um dos participantes das atividades do dia 7, resumiu assim o caráter
dos protestos: excluídos não são somente moradores de rua e desnutridos; são todos os que têm a dignidade lesada pela precariedade dos serviços públicos. Pág. 5
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amg2000/flickr/creative commons
Passados 184 anos do Dia da Independência do Brasil, 300 mil pessoas saíram às ruas com pouco para comemorar. Nesse dia 7, elas foram reclamar por mais empregos, decência na
em média, 8% ao ano. Mas a desigualdade de renda dobrou e metade da população de 1,3 bilhão de habitantes vive com menos de dois dólares por dia. Pág. 7
EDITORIAL
Na força da indignação
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ilhares de pessoas saíram às ruas para protestar no dia 7. Motivado pelas injustiças e pela grave crise política, que coloca em xeque a chamada democracia burguesa e seu sistema de representatividade, o 12º Grito dos Excluído, mobilizou cerca de 300 mil pessoas, em 1.500 municípios. Em Aparecida do Norte (SP), houve 10 mil manifestantes, acompanhados por representantes da coordenação do Grito Continental de 13 países latino-americanos, que vão promover o 8º Grito Continental, em 12 de outubro. Os protestos, cujo lema era “Na força da indignação, Sementes de transformação”, foram espaços de articulação de organizações sociais. E de cobrança por mudanças na política. O grito dos excluídos, uníssono, reage à pauperização da população, que se manifesta nos índices de desemprego, fome e violência. Mais de 10% das pessoas não têm trabalho, nas seis principais capitais do Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o mais alto índice dos últimos quinze meses. Cresce também a informalidade e a terceirização, que aprofundam a precarização do trabalho. Cansados de tantos escândalos, o povo sai às ruas também para exigir novas formas de fazer política. E o grito de indignação ecoa contra todas as formas
de corrupção: mensalões, vampiros, sanguessugas, gafanhotos. E é preciso sempre se mobilizar para banir esses aproveitadores que carcomem os locais onde se instalam, da sociedade civil às diferentes esferas do governo. O grito dos brasileiros expressa a revolta contra a atual política econômica. O povo não quer esmola, quer trabalho. Ou seja, não se resolve o problema da exclusão apenas com políticas compensatórias, ainda que necessárias. O povo grita contra a prioridade que é dada ao superavit primário, aos altos juros e ao pagamento das dívidas, em detrimento das políticas de bem-estar social. Grita-se por mudanças estruturais, que priorizem a reforma agrária, a distribuição de renda e o resgate das dívidas sociais. Nesse sentido, o Grito coloca um questão fundamental, que é o fortalecimento de um novo sujeito histórico. Ou seja, os movimentos sociais. E deixa claro que não basta se mobilizar pelas eleições, mas é preciso debater e construir um projeto verdadeiramente popular, nacional. Um projeto para o povo brasileiro. E que não bastam as políticas sociais como o Bolsa Família; por melhor que sejam as políticas sociais, tendem ao retrocesso, se não houver mudança de nossa estrutura fundiária, o que implica o fim do latifúndio, o assentamento de famílias sem terra, a proteção do meio ambiente e,
em especial, da região amazônica, ameaçada pelo desmatamento e poluição. O grito do povo representa o descontentamento com o capital rentista, financeiro e especulativo. Representa a revolta contra a ação das transnacionais, que não têm compromisso com a soberania nacional. Assim, se colocou também, no dia 7, a indignação contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Patrimônio nacional, entregue pelo governo de Fernando Henrique Cardoso a preço de banana. O povo exige que seja reestatizada. E a campanha pela anulação da privatização da Vale, que já está nas ruas, e pretende mobilizar a sociedade em defesa desse patrimônio público. Portanto, todos devemos participar! São gritos e mais gritos, incessantes. Não se calam com cestas básicas. Gritos de milhares de pessoas que querem ser protagonistas políticos, sujeitos da história, participantes das decisões dos rumos da política no país. Os governos podem até se fingir de surdos. Mas o grito, a cada ano, continua crescendo. E crescerá sempre, enquanto existirem injustiças sociais.
CONSPIRAÇÃO – Grupo de acadêmicos estadunidenses defende a tese de que o 11 de setembro foi planejado pelo próprio governo dos EUA; fachos de luz preenchem o vazio deixado pelas torres gêmeas Pág. 6
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De 14 a 20 de setembro de 2006
DEBATE
CRÔNICA
Na profunda escuridão do mar nome estadunidense pomposo não correspondia ao rapaz. Stuart Edgar Angel Jones era apenas um jovem da classe média carioca, como tantos outros que, desde 1967, participou alegre das mobilizações estudantis contra a ditadura militar. Seu nome complicado deveu-se a tropeço do coração da mãe, a mineira Zuleika Gomes Netto, que conheceu, em Belo Horizonte, onde morava e estudava, o estadunidense Norman Angel Jones, filho e neto de missionários protestantes. O casamento foi curto. Já no Rio, Zuleika, ou Zuzu, pros íntimos, teve que segurar a barra e meter a cara na costura pra sustentar o rebento de nome estranho e duas filhas que o seguiram. Desde Minas, fazia vestidos pra primas com qualidade e imaginação. Em meados de 1950, casada, ganhava uns pilas costurando pra fora saias baratas. Zuzu não era mulher de brincadeira. Desquitada, fez da necessidade virtude, foi à luta com mil idéias na cabeça e um tesourão na mão. Na época, sobretudo no Brasil, os costureiros chiques lançavam modas complicadas, tudo meio copiado dos estranjas, pras burguesas enricadas, enquanto as costureiras suavam na máquina de costura produzindo o riscado pelos bam-bam-bans da moda. Zuzu pôs fim ao semimonopólio masculino. Tornou-se figurinista, criando literalmente moda nacional capaz de vestir a mulher de todo dia, dessas que correm apressadas atrás do ônibus no caminho do batente. Levou simplesmente pras passarelas o jeito, a feminilidade e a simplicidade da brasileira comum. Sobretudo, Zuzu revolucionou a moda servindo-se de panos populares como a chita, o gorgorão, o zuarte e, até mesmo, o tecido de colchão! Propôs moda pra população, baseada em invenção, trabalho e alegria de viver, emancipada da ditadura do tecido caro. Em inícios dos anos de 1970, abriu butique e levou sua criação pros States. Enquanto Zuzu abraçava as nuvens, o pimpolho via o mundo desabar. Em fins de 1968, chegara ao fim a recessão. A economia cresceu, iniciou o “Milagre”, alimentado por empréstimos e abertura internacional que ainda hoje continuamos a pagar. O crescimento das exportações e, sobretudo, do emprego e consumo, principalmente das classes médias e altas, isolou a oposição, reprimida duramente. Filho de dona Zuzu não era de desencilhar o cavalo ao primeiro pinote. Com alguns poucos milhares de companheiros, partiu pra agarrar o tigre à unha. Saltou do movimento estudantil à luta armada, no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), um dos tantos grupos que sonharam iniciar a revolução isolados, nem que fosse no início, dos trabalhadores. Em 1970, Stuart Angel já vivia, sob o nome de Paulo, na clandestinidade, acompanhado por Sônia Maria, a companheira de vida, ideal e calvário. Preso no Grajaú, na manhã de 14 de junho de 1971, foi levado para a Base Aérea do Galeão, para ser torturado, sem interrupção e medida. Ao cair da noite, estropiado, foi amarrado a um jipe, com a boca no cano da descarga.
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Marcelo Barros
Márcio Baraldi
Mário Maestri
O ozônio na atmosfera
Avisada pelo telefone da queda do filho, como tantas outras mães, Zuzu iniciou a dilacerante vigília nas portas cerradas dos quartéis e centros de tortura na esperança de, ao menos, impedir um assassinato frio. Diante da recusa cínica de militares e policiais de reconhecerem a prisão, enterrou-se na alma de Zuzu a certeza da morte do filho, confirmada por carta de militante, preso em cela próxima ao local da tortura.
Filho de dona Zuzu não era de desencilhar o cavalo ao primeiro pinote. Com alguns poucos milhares de companheiros, partiu pra agarrar o tigre à unha. Zuzu Angel não se afundou na dor. Recolheu o fuzil caído, retomando a seu modo o combate do filho. Por cinco anos, em terrível guerrilha democrática, disparou forte contra os ditadores com a poderosa munição de mulher que se construíra com o poder da criatividade, da decisão e do trabalho. Passou a denunciar, aqui e lá fora, as barbaridades que os militares queriam esconder. Em desfiles, substituiu as cores alegres e os papagaios coloridos por sinistros tecidos estampados com pássaros mortos e anjos amordaçados. Envolveu na sua luta clientes e amigos famosos, do Brasil e EUA. Distribuiu a deputados estadunidenses e ao fúnebre Henry Kissinger dossier sobre o filho, para que não dissessem que não sabiam o que se fazia no Brasil. Vigiada, difamada, ameaçada, Zuzu não ensarilhou as armas, até que, na madrugada de 14 de abril de 1976, encontrou a morte quando seu carro foi precipitado ribanceira abaixo, na Estrada da Gávea. Não completara cinqüenta anos. Uma semana antes, entregara documento a Chico Buarque para ser publicado caso algo lhe ocorresse. Testemunha presenciou jipe militar afastar-se do local do acidente. O filme “Zuzu Angel” deve ser visto. Com coragem, exatidão e sem pieguice, retrata a vida e a luta dessa mulher emblemática, que merecem ser apresentadas ao público, rompendo o silêncio orquestrado sobre fatos dilacerantes e crimes mesquinhos ainda impunes. O filme
não chega porém jamais a registrar a tensão dos fatos que apresenta. Em “Zuzu Angel”, Sérgio Rezende não repete o feito de “Lamarca”, de 1994, umas das principais obras do cinema político nacional. Nesse filme, fixa magistralmente o perfil de Lamarca, o militar-guerrilheiro valente, desprendido e politicamente inconcluso. As últimas cenas, com o capitão carregado nas costas pelo fiel Zequinha, camponês e operário nos panos de guerrilheiro, através dos sertões baianos, em direção ao derradeiro fim, constitui candente metáfora do isolamento e trágicas ilusões da guerrilha no Brasil. Em “Zuzu Angel”, Patrícia Pilar, sempre superficialmente bela, jamais incorpora a dor e destemerosidade de Zuzu Angel. O filme registra também com dificuldade a euforia das mobilizações de 1968 e, sobretudo, o angustiante isolamento dos combatentes cercados pela repressão, nos anos de 1970. Porém, nada impede que a emoção invada o espectador ao escutar, com o filme concluindo, a música “Angélica”, escrita após a morte de Zuzu, por Chico Buarque, seu amigo e companheiro na luta. “Quem é essa mulher? Que canta este estribilho. Só queria embalar meu filho. Que mora na escuridão do mar.” Mário Maestri é historiador e professor universitário. Correio eletrônico: maestri@via-rs.net
Esta semana começa com o quinto aniversário dos atos terroristas nos Estados Unidos e se encerra com o dia internacional de defesa da camada de ozônio. A ONU, que instituiu o 16 de setembro como um dia para chamar a atenção dos governos e dos povos sobre a grave e urgente situação dessa camada que protege a terra, se surpreende com o fato de que, em poucos anos, esse problema, antes quase restrito a especialistas, está se tornando assunto de amplo interesse. A razão pode ser o fato de que, em vários lugares do mundo, constata-se um aumento de doenças provocadas pela exposição das pessoas aos raios ultravioletas do Sol. Pais obrigam filhos a irem para a escola com a cabeça coberta e governos municipais vigiam praias e balneários para impedir que as pessoas se exponham ao sol em certas horas do dia. De fato, a vida no planeta Terra precisa de que se mantenha o que resta da camada de ozônio. O que aconteceu é que, desde os anos de 1960, usa-se produtos em formulação aerosol e vários produtos de uso doméstico e industrial utilizam um elemento químico (clorofluorcarboreto) indissolúvel. A reação desses produtos químicos causa a destruição na camada de ozônio, o que aumenta a entrada de raios UV na atmosfera, causando problemas como o câncer de pele, catarata, diminuição do fitoplâncton e redução das colheitas. Em 1987, diversos governos do mundo assinaram o Protocolo de Montreal, que se comprometia a substituir os produtos que usam esse tipo de elemento químico por outros componentes que não causam essa destruição (elementos biodegradáveis). Depois da Conferência Mundial da Terra no Rio de Janeiro (Rio 92), vários governos assinaram o Protocolo de Kyoto, que se comprometia a diminuir em uma década em 12% as emissões de gases tóxicos jogados sobre a atmosfera. As mais recentes pesquisas confirmam que os países mais poluidores são os mais ricos e ditos “desenvolvidos”. O governo dos EUA – onde pelo volume de consumo é maior a responsabilidade pela destruição da camada de ozônio – não aceitou assinar o protocolo de Kyoto. Segundo o presidente Bush, isso prejudicaria os interesses econômicos do país.
Nenhum ato terrorista está ameaçando o futuro da espécie humana e de toda a vida no planeta Terra. Nesta semana, 5º aniversário dos atos terroristas nos Estados Unidos, o governo de Bush e de seus aliados intensificam a propaganda – expressa e subliminarmente – de que a maior ameaça para a humanidade é o terrorismo. E uma coincidência intrigante deixa muita gente sem resposta: como a cada pesquisa de opinião (mais) desfavorável a Bush ou Blair, algum plano diabólico de terroristas carregando bombas líquidas em mamadeiras para explodir aviões é desmascarado por esses (autonomeados) paladinos do planeta. Renova-se, então, o endosso da sociedade para novas medidas repressivas e de restrição às liberdades civis. Por abominável que seja – e é – nenhum ato terrorista, está desde agora destruindo milhares de espécies vivas e ameaçando o futuro da espécie humana e de toda a vida no planeta Terra. As empresas e governos que investem em um modelo de desenvolvimento depredador da natureza e opressor da humanidade praticam uma forma de terrorismo estrutural. Cada vez mais parece evidente que o terrorismo dos grupos extremistas não será jamais vencido apenas com medidas de repressão e atos de guerra. No entanto, perderão suas bases e apelo se a sociedade internacional exigir dos governos uma política mais justa com relação aos países pobres, que sempre foram vítimas da colonização. A destruição da camada de ozônio e, por conseguinte, das condições de vida na Terra, nunca será detida apenas com medidas de força ou assinatura de protocolos diplomáticos. É necessário que se detenha o ritmo e o estilo desse desenvolvimento poluidor e que se descubra valores de convivência social e alegria na sobriedade e na valorização da vida própria e de todos os seres vivos. Medidas repressivas não bastam para impedir um novo 11 de setembro. Comemorar o 16 de setembro, dia da defesa da terra, da água e do ar sobre o planeta, será avançar no cuidado como vivemos o cotidiano e celebrar a vida no calendário humano e do coração. Marcelo Barros é monge beneditino e autor de 30 livros, dos quais está lançando Dom Helder, Profeta para o nosso Tempo, Goiás, Ed. Rede da Paz, 2006
Editor-chefe: Nilton Viana • Editores: Jorge Pereira Filho, João Alexandre Peschanski, Marcelo Netto Rodrigues • Repórteres: Beto Almeida, Claudia Jardim, Dafne Melo, Igor Ojeda, Luís Brasilino, Tatiana Merlino • Fotógrafos: Alícia Peres, Alderon Costa, Anderson Barbosa, César Viegas, Douglas Mansur, Flávio Cannalonga, Gilberto Travesso, Jesus Carlos, João R. Ripper, João Zinclar, Leonardo Melgarejo, Luciney Martins, Maurício Scerni, Renato Stockler, Samuel Iavelberg, Ricardo Teles • Ilustradores: Kipper, Márcio Baraldi, Maringoni • Editor de Arte: Rodrigo Itoo • Pré Impressão: Helena Sant’Ana • Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho • Jornalista responsável: Nilton Viana – Mtb 28.466 • Administração: Valdinei Arthur Siqueira • Programação: Equipe de sistemas • Assinaturas: Salvador José Soares • Endereço: Al. Eduardo Prado, 342 - Campos Elíseos - CEP 01218-010 - Tel. (11) 2131-0800 - São Paulo/SP - redacao@brasildefato.com.br • Gráfica: GZM Editorial e Gráfica S.A. Conselho Editorial: Alípio Freire • César Sanson • Frederico Santana Rick • Hamilton Octávio de Souza • José Arbex Jr. • Kenarik Boujikian Felippe • Leandro Spezia • Luiz Antonio Magalhães • Luiz Bassegio • Marcela Dias Moreira • Maria Luísa Mendonça • Mario Augusto Jakobskind • Milton Viário • Nalu Faria • Neuri Rosseto • Pedro Ivo Batista • Ricardo Gebrim
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De 14 a 20 de setembro de 2006
NACIONAL Anderson Barbosa
TELEFONIA
Sem concorrência no mercado, operadoras cobram altas taxas da população por serviços insatisfatórios
Os emblemas e as cores dos orelhões mudaram, mas a prometida livre concorrência não veio junto com a abertura do setor de telecomunicações; ao lado, sem-teto despejada de ocupação em São Paulo, no final de 2005, se utiliza do orelhão para montar seu barraco na calçada
Do monopólio estatal ao oligopólio privado Gisele Barbieri de Brasília (DF)
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CONTROLE DO MERCADO A Telemar, que atua no Rio de Janeiro e em outros 15 Estados do Norte e Nordeste, detém 93,5% do mercado, enquanto as
empresas autorizadas têm apenas 6,5%. Nas regiões Centro-Oeste e Sul, a Brasil Telecom tem 93,1% do mercado e as outras empresas (autorizadas) possuem 6,9%. Em São Paulo, a Telefônica tem 94,6% dos clientes, e as autorizadas apenas 5,4%. O controle de mercado não gera aumento no acesso a telefones. A teledensidade – indicador internacional do setor de telecomunicações que considera o número de telefones em serviço para cada grupo de 100 pessoas – é baixa. Até dezembro de 2005, somente 21,5% da população contava com o serviço. O percentual está praticamente estacionado desde o ano 2000, quando a teledensidade chegou a 22,1%.
Com a privatização, o acesso a uma linha telefônica ficou mais fácil, mas pagar a conta tornou-se um problema. Segundo estudo do Idec, de 1998 até o final de 2005 a tarifa telefônica aumentou 118%, em média. A inflação, no mesmo período, foi de 63%. O cálculo do Idec aponta que, em sete anos, as empresas telefônicas teriam recebido R$ 13 bilhões a mais, só com o aumento do preço das assinaturas. Na época da privatização, o contrato com o Estado colocava cláusulas para limitar os aumentos de tarifas. Mas não são respeitadas pelas concessionárias.
TAXA ILEGAL Na falta da concorrência na telefonia local, as empresas procuram garantir um núme-
ro alto de assinaturas. Hoje, manter uma assinatura sai em torno de R$ 40 mensais, valor que segundo as operadoras é necessário para os serviços de manutenção da linha. Já o Idec afirma que estudos comprovam que R$ 10 seriam suficientes para os serviços. “O Idec entende que a cobrança da assinatura é ilegal, você tem que pagar por um serviço que efetivamente foi consumido. Se o consumidor não tiver que pagar aquela taxa de entrada todo o mês, já facilitaria. Mesmo que não se entenda que seria o caso de excluir a assinatura, R$ 40 é muita coisa”, alega a advogada do Idec. Outros serviços como as tarifas de longa distância, serviço no qual há concorrência, os valores cobrados são menores.
Consumidores reclamam de tarifas extorsivas O controle da telefonia por algumas empresas, garantindo-lhes tranqüilidade no mercado e altos lucros, não beneficia os consumidores. As corporações são alvo freqüente de reclamações por parte de seus clientes. Nos últimos anos, encabeçam a lista de reclamações da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). No balanço da instituição de 2005, a telefonia fixa liderou a lista dos mais reclamados, com 2.585 queixas, deixando as empresas de telefonia móvel e fixa nas cinco primeiras posições do levantamento.
O Procon considera o problema crônico, pois o quadro não se modificou nos últimos cinco anos. Os principais motivos das reclamações são: cobranças indevidas, a forma de tarifação e a falta de detalhamento das contas. A Fundação encaminhou à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) algumas propostas de melhorias baseadas nas reclamações dos consumidores, e atribui grande parte dos problemas à falta de monitoramento das empresas. As reclamações quase não afetam o patrimônio líquido das corporações. A Brasil Telecom, por exemplo, fechou
o segundo trimestre fiscal de 2006 com lucro líquido de 52% – superando o registrado no mesmo período do ano passado em R$ 105 milhões. As empresas do grupo Telemar encerraram o segundo trimestre fiscal com faturamento de R$ 4 bilhões. As três principais concessionárias de telefonia fixa local no Brasil possuem cerca de 92% dos telefones (acessos) fixos em serviço. No segundo trimestre de 2006, o lucro destas chegou a R$ 1,17 bilhão.
LUCRO MÁXIMO Os reajustes tarifários são de responsabilidade de cada operadora, porém a Anatel es-
Douglas Mansur
assaram-se oito anos desde a privatização do Sistema Telebrás, estatal que controlava a telefonia fixa brasileira, cujo ramo de atividade foi dividido entre as empresas Telemar, Brasil Telecom e Telefonica. A proposta de privatização que, em tese, pretendia estimular a concorrência justa, criou um oligopólio de corporações. As pequenas empresas, chamadas espelho, que detêm concessões limitadas, não conseguem concorrer com as grandes operadoras. De acordo com dados de um estudo feito por um dos diretores da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), José Pereira Filho, em julho deste ano, Telemar, Telefônica e Brasil Telecom possuem 93% do mercado. As empresas-espelho, mesmo sendo aproximadamente 60, administram apenas 7% desse mercado. A falta de concorrência é mantida pelo fato de as três grandes concessionárias atuarem em regiões diferentes do país, tendo assim consumidores distintos. Mesmo com o domínio do mercado na telefonia fixa e sem o risco de perderem clientes para outras empresas, os serviços prestados são os campeões de reclamação nos serviços de proteção ao consumidor. “Acredito que alguns fatores levaram a essa situação. A idéia inicial era de que as empresas-espelho entrariam no mercado, não teriam concessões, portanto não teriam obrigações, como acontecem com as conces-
sionárias. Por outro lado, as concessionárias teriam suas obrigações. Entendia-se que as empresas autorizadas, por entrarem no mercado sem essas obrigações de universalização, teriam o interesse de atender todos os clientes. Mas elas acabaram optando pelo mercado corporativo, que é mais lucrativo. Como elas não são obrigadas a oferecer o serviço para todos os grupos, optaram pelo grupo que oferece mais lucratividade”, explica Daniela Batalha, advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) pretende lançar, ainda em 2006, o Plano Geral de Metas de Competição (PGMC), conjunto de diretrizes para estimular a concorrência na telefonia fixa e diminuir as disparidades entre empresas. É um reconhecimento de que a privatização não deu certo, pois os recursos gerados pelos serviços de telefonia fixa são concentrados por algumas grandes empresas. Os contratos de concessão de telefonia fixa, assinados no ano passado, prevêem que as concessionárias devem instalar Postos de Serviços de Telecomunicações (PSTs) com quatro orelhões e quatro linhas de acessos à internet cada um. Esses postos teriam que funcionar de 8h às 20h, todos os dias. Pelas regras em vigor, até o fim de 2010 as concessionárias, entre elas a Telefônica, a Telemar e a Brasil Telecom, terão que instalar 7.800 postos. Em 1º de janeiro de 2007, postos deverão estar instalados em 30% dos municípios com até 50 mil habitantes e 6% nos municípios com população superior. Em 2010, todos os municípios do País têm que ser atendidos. Mas as grandes empresas têm um histórico de descumprimento de decisões da Anatel. (GB)
REFORMA AGRÁRIA
MST ocupa Incra em Porto Alegre Raquel Casiraghi de Porto Alegre (RS)
Enquanto, no dia 7 de setembro, Curitiba (PR) estava concentrada nos desfiles do Dia da Independência, 45 famílias de catadores de materiais recicláveis ocuparam um depósito estadual para garantir um novo espaço de trabalho, já que o antigo barracão que utilizavam para guardar, pesar e vender seus materiais foi perdido há pouco tempo devido à impossibilidade de pagar o aluguel. “Não buscamos moradia aqui, só queremos o espaço para trabalhar”, ressalta Maria de Lourdes (na foto), uma das responsáveis pela organização dos catadores. A organização ainda não conseguiu se livrar dos atravessadores, que acabam ficando com 30% do preço do material recolhido. (Pedro Carrano)
tipula o valor máximo que esses índices podem atingir. Como a Agência não determina um piso tarifário, mas um valor máximo de reajuste, as concessionárias optam pelo índice limite. Fato gerado por não existir outras empresas que estimulem a concorrência – ou por um Estado que cobre o bem-estar da população. As distorções e cobranças abusivas acabam também por inibir o crescimento no número de usuários da telefonia fixa. Em 2005 foram 39,6 milhões de assinantes. Número pouco acima dos dados de 2001, que eram 37, 4 milhões. (GB)
Anatel quer incentivar concorrência
Cerca de 300 agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, no dia 12, o prédio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no centro de Porto Alegre (RS). As famílias cobram do Ministério e do Instituto a liberação das nove áreas prometidas, em julho deste ano, para assentamento imediato. Também reivindicam o assentamento das 2,5 mil famílias sem terra gaúchas – meta estipulada pelo próprio governo federal no plano de reforma agrária no Rio Grande do Sul.
Ivanete Tonin, integrante da direção estadual do MST, relata que o governo federal ainda não desapropriou nem as áreas antigas, como a Fazenda Dragão, em Eldorado do Sul, e a Fazenda Três Pinheiros, em Capão Bonito. A dirigente também reclama da indefinição sobre a Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul, área considerada irregular. “Nós estamos aqui para exigir que o governo federal cumpra o seu plano da reforma agrária. A situação das famílias é desesperadora; são pessoas que participaram da Marcha de São Gabriel em 2003 e, desde lá, somente 300 famílias foram assentadas”, argumenta. Em julho deste ano, o Incra anunciou nove áreas para o
assentamento de 510 famílias, nos municípios de São Luiz Gonzaga, Bossoroca, Itacurubi, Santana do Livramento e Jóia. Nessa última cidade, o MST ocupa a Granja da Saúde desde o início de setembro. Nenhuma dessas áreas foi liberada até o momento. Em nota, o movimento relata que, no início do governo Lula, a meta de assentamentos no Rio Grande do Sul era de cerca de 15 mil famílias. No entanto, apenas 320 foram atendidas. Depois de diversas mobilizações do MST, o Incra se comprometeu em assentar 1,07 mil famílias em 2006, mas até o momento apenas 98 foram assentadas. Já o governo estadual não assentou nenhuma família. (Agência Chasque – www. agenciachasque.com.br)
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De 14 a 20 de setembro de 2006
NACIONAL SANTA CATARINA
Fatos em foco Hamilton Octavio de Souza
Trabalhadores mutilados Ritmo frenético de trabalho e pressão dos empregadores causam acidentes, em São Bento do Sul Fotos: Leonardo Wexell Severo
Propostas diferentes O candidato do PT à presidência, Luíz Inácio Lula da Silva, tem enfatizado na campanha eleitoral algumas reformas no próximo mandato, entre as quais a política (partidária e eleitoral) e a da educação. Mas os seus aliados do poder econômico, que mandam no governo atual, falam em outras reformas prioritárias, como a da previdência, a cambial e a fiscal – todas, é claro, do interesse do capital privado. Setembro – 1 O 33º aniversário do golpe militar no Chile e o assassinato de Salvador Allende foram lembrados dia 11 de setembro, em Santiago, com a entrega de coroas de flores no monumento ao ex-presidente. Participaram da cerimônia dirigentes dos partidos socialista e comunista, representantes de outros grupos de esquerda, movimentos sociais e militares expulsos das forças armadas. Setembro – 2 Pesquisas recentes indicam que 60% dos cidadãos estadunidenses não se sentem seguros em seu país após o atentado de 11 de setembro de 2001, quando as torres gêmeas de Nova York foram derrubadas. Isso prova que os ataques do governo Bush a vários países não surtiram efeito internamente, mesmo porque 30% dos pesquisados acham que o atentado pode ter sido obra da própria CIA. Censura tucana Está fazendo sucesso nos meios jornalísticos e universitários o vídeo de Marcelo Baeta Rocha, sobre a censura e o autoritarismo do governo Aécio Neves (PSDB), de Minas Gerais, contra veículos da imprensa e jornalistas. O vídeo reúne depoimentos de vários perseguidos. Eles mostraram alguns podres do governo mineiro e o descaso com a população. Coisa vergonhosa O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho acaba de ser indiciado pela Polícia Federal no crime de prevaricação, que é a corrupção de funcionário público – algo bastante comum entre ocupantes de cargos administrativos – e também em crimes ligados ao esquema de quebra de sigilo bancário e funcional. Como pode alguém com essa ficha policial ser candidato a deputado pelo PT? Vitória alemã O outrora combativo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC não conseguiu evitar as demissões programadas pela empresa multinacional Volkswagen do Brasil. O máximo que o sindicato conseguiu foi aumentar a indenização dos demitidos que se inscreverem no programa de voluntariado. Mais uma vitória do capital estrangeiro – em um momento em o país precisa gerar muitos empregos. Movimento capitalista Analistas financeiros consideram que o bom momento da economia mundial (crescimento alto em vários países, expansão do comércio, nenhuma crise financeira nos últimos anos) tende a acabar em breve. Isso significa que o Brasil pode ter perdido o bonde da fase boa, viveu duas décadas perdidas e corre o risco de ficar novo período sem crescimento expressivo do PIB. Haja paciência! Desmatamento ativo O Ministério do Meio Ambiente comemorou com estardalhaço a pequena queda no nível médio de desmatamento da Amazônia. Na verdade, quem analisar os dados com cuidado vai verificar que essa queda ocorreu em apenas dois Estados, Rondônia e Matos Grosso, devido à retração da soja e da pecuária, principais fatores para o desmatamento. O problema não está resolvido. Violência gera... Responsável pelo famoso massacre do Carandiru, em 1992 (quando 111 presos foram mortos pela tropa de choque da PM), o coronel Ubiratan Guimarães, deputado estadual pelo PTB, acabou assassinado no último final de semana. O jornal Valor Econômico, dos grupos Folha-Globo, deu a seguinte manchete: “Bancada da bala em SP perde seu principal deputado estadual”.
À esquerda, Everaldo, perdeu o dedo quando chanfrava uma mesa de madeira, tinha 20 anos, recebeu 12 salários mínimos de indenização; à direita, José Adelino, perdeu quatro dedos da mão na fresa, instrumento de corte que molda as peças, sua mão foi puxada pelo motor, aposentado por tempo de serviço aos 50 anos
Leonardo Wexell Severo de São Bento do Sul (SC)
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veraldo de Souza e José Adelino Novak mostram as mãos, sem dedos, mutiladas. Querem falar sobre o que sentiram, deixar de ser número na estatística, ecoar o grito que não saiu quando sofreram o acidente, ditado pela pressão que embala o ritmo frenético das encomendas de móveis no interior de Santa Catarina. Em São Bento do Sul, município de 74 mil habitantes no Norte catarinense, enquanto crescem as exportações de móveis, principal atividade econômica do município, os Fundacentro – cria- aumentam da em 1966, é uma casos de acidenentidade ligada ao tes de trabalho. Ministério do Trabalho, que realiza A avaliação é estudos e investigaresultado de um ções para promover melhores condições estudo da Funde vida para os dacentro em São trabalhadores. Bento do Sul, cidade pólo do Estado responsável por 46% do total de móveis exportados pelo Brasil. A maioria das vítimas (62%) é composta por trabalhadores mal remunerados – que ganham de um a dois salários mínimos mensais –, com até 29 anos. As partes mais atingidas são dedos, que correspondem a 40,7% das ocorrências, e mãos, que ficaram com 17,8%. Os acidentes ocorridos crescem com as jornadas que ultrapassaram oito horas, ou seja, com horas extras, indo de 6,4% para 8,1% em três anos. A concentração dos laudos médicos no único hospital da cidade e o apoio do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário de São Bento do Sul facilitaram a realização do estudo de caso sobre a subnotificação dos acidentes de trabalho e suas características na indústria moveleira do município. A coleta de dados, realizada entre 2000 e 2003, apurou 2.597 ocorrências – 1.113 na indústria de móveis, com “uma tendência de alta no número de infortúnios ao longo dos anos”, como revela a Fundacentro.
SUBNOTIFICAÇÃO A existência de subnotificação foi confirmada pela confrontação com as 496 Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) entregues pelas empresas ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Comparando os dados oficiais com os 2.597 acidentes
coletados na pesquisa, conclui-se que apenas 19,1% dos infortúnios foram registrados pelo INSS”, afirma a Fundacentro. De acordo com a entidade, o mascaramento dos acidentes é resultado da grande massa de trabalhadores na informalidade, da falta de fiscalização federal e dos problemas estruturais do próprio INSS.
Em todo o Norte catarinense, existem apenas dois fiscais do Trabalho. Em São Bento do Sul, há mais de 2.500 empresas instaladas.
PREVENÇÃO DE ACIDENTES A situação melhoraria se não houvesse tanta intransigência por parte do patronato, que ainda teme a Comissão
Vítimas do lucro do patrão “Ninguém agüenta, é difícil de sobreviver a tanta pressão”, denuncia o operador de máquina Everaldo de Souza. Ele culpa a cobrança de seus chefes por “mais e mais produção” por seu acidente, e o da maioria de seus colegas. “Perdi o dedo para uma serra muito grande em uma indústria de móveis que já faliu”, conta. Perdeu o dedo quando chanfrava uma mesa de madeira. “Chamávamos bico de diamante aquela ponta da mesa, bonita, cortada em ângulo. Eu tinha apenas 20 anos e me indenizaram pagando 12 salários mínimos”, diz. Em condições como essa, soma-se tudo: lesões por esforço repetitivo, doenças nos braços, cortes nos pulsos e mutilações. Segundo Souza, as empresas não dão segurança adequada. “Quando emitem a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), as condições precárias do serviço são encobertas. Preenchem o documento na empresa e não mandam para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)”, diz. A estratégia do empregador é não reconhecer o acidente de trabalho, que o obriga a pagar uma indenização ao funcionário. O auxílio-doença comum é pago pelo Estado, e tem duração limitada. Quando tinha 16 anos e trabalhava na Indústria de Móveis Claudino – que já faliu –, Altair Leandro perdeu o polegar em um acidente com um formão, além do movimento do dedo médio e do indicador. Não recebeu indenização. “Não entendia de lei e o dono da empresa colocou o meu pai em uma casinha. Pelo fato de sermos pobres, ficamos sem ação”, conta. Quando seu pai morreu, o empregador obrigou Leandro
a abandonar a casa. “Mas o dinheiro é o de menos, o que mais sinto mesmo é o fato de que eu estava começando a aprender a tocar gaita. Aí foi para o espaço”, desabafa.
PRESSÃO E MAIS PRESSÃO Aposentado por tempo de serviço, aos 50 anos, José Adelino Novak perdeu, em 1984, quatro dedos da mão esquerda na fresa, instrumento de corte que molda as peças. Trabalhava como operador de máquina, e a exaustão da serragem juntava poeira, que entrava no mecanismo. Sua mão foi puxada pelo motor, que girava em grande velocidade. “Antes, era principalmente o problema do maquinário. De uns anos para cá, é mais da pressão dos gerentes e supervisores, que ficam cutucando o tempo inteiro. Eles dão em cima, tem a meta, o produto para ser exportado, vira pressão em cima de pressão, e quase nada de fiscalização”, revela Novak. Segundo ele, são os novos funcionários que mais se acidentam. Novak afirma que a participação dos trabalhadores no sindicato garantiu com que estes se impusessem sobre a pressão dos empregadores. “Quando tinha uma máquina com problema, a gente simplesmente deixava ela parada, sem tocar, até que viesse o eletricista arrumar e deixar em condições de uso. É preciso que o trabalhador tenha consciência da força da sua união e cuide da sua saúde. Principalmente nas firmas que exportam, que dizem: tal dia tem que embarcar, a pressão não tem limite, e a terceirização também é grande. Como aposentado, aconselho os mais novos a ter mais consciência e cuidado”, conclui. (LWS)
Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), diz Airton Edson Martins de Anhaia, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul. “Quando há Cipas atuantes, o trabalhador não apenas fica melhor preparado para se prevenir, como é informado sobre os seus direitos, sobre os prazos legais para indenização, recuperação e tratamento. As empresas deveriam investir sério em treinamento, valorizar a prevenção e a organização no local de trabalho. Infelizmente, não é isso o que acontece”, destaca. O sindicalista denuncia ainda que, “na maioria absoluta das empresas, quando o fiscal do trabalho aparece, só ele entra, e o Sindicato fica na porta”. “Como temos apenas dois fiscais para cobrir todo o Norte catarinense e as empresas são as primeiras condenadas a indenizar em caso de mutilação, acaba havendo manipulação nas CATs e subnotificação”, ressalta. Integram o sindicato 12 mil trabalhadores – 10 mil em São Bento do Sul e 2.000 em Campo Alegre, também no Norte catarinense.
DEMISSÕES EM MASSA A condição dos trabalhadores de São Bento do Sul piorou, revela o presidente da Confederação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira (Conticom), Waldemar Pires de Oliveira. Segundo ele, a valorização do real em relação ao dólar levou à diminuição das exportações e a “demissões em massa”. Na região, foram 3.000 trabalhadores demitidos nos últimos doze meses, de acordo com dados da Conticom. “Claro que o câmbio é um problema real, pois diminuíram as encomendas do exterior, mas também não podemos permitir que os empresários joguem mais esse ônus nas costas dos trabalhadores, que não viram a cor do dinheiro obtido com seu suor nos momentos de prosperidade. Muitas vezes, o número de demissões é desproporcional à retração, o que acaba garantindo altos lucros com o aumento da produtividade, às custas da saúde e da segurança do trabalhador”, acrescenta Oliveira. A situação em São Bento do Sul motivou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) a colocar a questão da saúde e da segurança no trabalho como um dos destaques da sua Campanha Nacional Unificada, lembra a secretária nacional de Comunicação da organização, Rosane Bertotti, que esteve em São Bento do Sul, no começo de setembro.
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NACIONAL
MOBILIZAÇÃO
Douglas Mansur/Novo Movimento
Independência só com cidadania Grito dos Excluídos reúne milhares de pessoas nas principais capitais do país, reivindicando ética e políticas contra o desemprego objetivo de denunciar todas as situações de exclusão e assinalar as possíveis saídas e alternativas para o país. Os eixos das propostas neste ano foram a reestatização da Vale do Rio Doce e exigência de ética na política, além de cobrar ações contra o desemprego. O secretário do Grito dos Excluídos Continental, Luiz Bassegio, aponta também para a necessidade de desenvolvimento de uma nova política econômica, voltada para o atendimento das dívidas sociais brasileiras. “A situação social do Brasil se deve à sua política econômica”, avalia.
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ete horas da manhã de 7 de setembro. Zona Leste de São Paulo. Um jovem de 26 anos recebe de uma senhora alguns pedaços de papelão. Leandro de Oliveira Primo, seu nome. Um carrinho cheio de papéis velhos, seu ganha-pão. Vergonha por catar papéis? Não. Esperança? “Sei que um dia vou ter uma vida melhor”. Leandro faz parte dos 16,7% dos trabalhadores da região metropolitana de São Paulo que estão desempregados. Segundo pesquisa da Fundação Dieese/Seade, em julho, apenas na Grande São Paulo, havia 1,68 milhão de desocupados em busca de um posto de trabalho. Um contingente um pouco superior à população de Porto Alegre(RS). Para reivindicar mais empregos, justiça social, saúde, educação, respeito ao meio ambiente e tantos outros temas, no mesmo dia 7, 300 mil pessoas saíram às ruas em diversas cidades em todo o país para, juntos, lançarem o 12º Grito dos Excluídos. A iniciativa surgiu em 1994 com a proposta de ser uma extensão da Campanha da Fraternidade, promovida anualmente durante a Quaresma pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Trata-se de um amplo movimento de manifestações populares com o
VONTADE DE MUDAR
Em São Paulo, o 12º Grito dos Excluídos reuniu mais de 10 mil pessoas que caminharam da Praça da Sé até o Parque do Ipiringa, onde D. Pedro I declarou a colônia livre de Portugal. “Dia 7 de setembro, nada temos a comemorar / Que independência é essa que existe neste lugar? / A não ser o povo jogado nas ruas, ou os desempregados a vagar. / Crianças fora da escola vivendo a mendigar”, declarou ludicamente o poeta e militante do MST da Grande São Paulo, Jonas Bahia.
ENTREVISTA
“Uma expressão da luta popular”
Fábio Pozzebom/ABr
Em Porto Alegre (acima), manifestantes fizeram uma caminhada iniciada no Largo Glênio Peres, reunindo a CUT, pastorais da juventude, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB). Para Luiz Antonio Pasinato, da Comissão Pastoral da Terra, o tema do Grito dos Excluídos deste ano, que fala em indignação, não tem a ver apenas com a corrupção na política. “É também um grito de indignação contra todas as formas de exclusão que geram a miséria do povo brasileiro.
CMI/Mídia Independente
Leonardo Melgarejo
Cerca de 10 mil pessoas participaram do ato em Aparecida do Norte (SP), principal local das mobilizações. Houve também protestos nas principais cidades do País (veja abaixo e ao lado). “Tradicionalmente, se pensa que Dia da Independência é dia de parada militar, de demonstração de força bélica. Aqui, estamos mostrando a força da esperança, que o povo quer vida, paz e justiça. E essa indignação que o povo apresenta é semente de esperança”, completa o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral da Rua. O religioso aponta que se engana quem pensa que os excluídos são somente os moradores de rua, os desem-
pregados e os desnutridos. Segundo o padre, excluídos são todos os que têm a dignidade lesada nos hospitais e em outros serviços públicos. Dom Ladislau Biernaski, representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Curitiba (PR), conta que o clamor dos movimentos sociais busca um maior investimento do governo nas questões sociais. “Queremos saber para onde vai o orçamento do país, se para o agronegócio ou para o trabalhador da terra?”, questiona, referindo-se aos investimentos atuais de R$ 40 bilhões no agronegócio, enquanto a agricultura familiar fica com somente R$ 10 bilhões. Os protagonistas do Grito são cidadãos como Bruno Queiroz, que participou do ato em São Paulo e sonha em cursar uma faculdade. “Educação é o que está faltando em nosso país. Quem tem dinheiro, tem mais facilidade para cursar uma faculdade”, diz o jovem de 20 anos. Será que ele terá de esperar 29 anos para ingressar na universidade, como Ismael Geraldo dos Santos, que obteve uma bolsa de estudos para cursar Direito aos 49 anos, graças à Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro)? “Espero que, um dia, não precisemos mais do terceiro setor para impulsionar nosso país”, comenta o universitário Ismael.
Em Curitiba (acima), na mesma avenida Cândido de Abreu em que houve o desfile de estudantes e a exibição extravagante das Forças Armadas e da Aeronáutica, um outro grupo organizou o Grito dos Excluídos, numa caminhada pacífica, ainda que quase impedido de fazer o evento. Este ano, o Grito também arrastou consigo a indignação com a corrupção e o pedido pela anulação do leilão da Companhia Vale do Rio Doce, hoje nas mãos do capital financeiro. (Com informações de Pedro Carrano e Agência Brasil)
Em Brasília (ao lado), o Grito reuniu 10 mil pessoas simultaneamente ao desfile de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios. Entre as faixas, palavras de ordem como “Só se comemora independência com justiça social” ou “Água e energia não são mercadoria”, em referência à campanha contra os preços altos da energia elétrica. Um grupo de trabalhadores também pede o direito de emplacar carroças para trabalhar regularmente nas ruas do Distrito Federal.
O tradicional protesto realizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e movimentos sociais, sempre em 7 de setembro, tem uma conquista a comemorar: ganhou uma batalha na opinião pública. Para dom Luiz Demétrio Valentini, essa data já está marcada como o Dia do Grito dos Excluídos e se consolidou como expressão de luta do povo latino-americano. Brasil de Fato – Qual é o balanço que o sr. faz das manifestações do 7 de setembro? D. DemétrioValentini – O “Grito” entrou na história. O 7 de setembro, na opinião pública, já se firmou como o dia do Grito dos Excluídos. É impressionante verificar a garra e o entusiasmo dos promotores do “Grito”, sobretudo nas capitais dos Estados, onde o Grito encontra, pelo que parece, um contexto mais simbólico para expressar suas demandas. BF – Quem são os excluídos de hoje? D. Demétrio – A reflexão sobre os “excluídos” levou à constatação de que existem muitos fatores de exclusão. O principal é de ordem econômica e social: os “excluídos” dos benefícios da economia, que assim ficam excluídos da ordem (“desordem”) social. Sem esquecer outras exclusões, por motivo de cultura, raça, religião. Porém, existe um fenômeno interessante: os “excluídos” começam a tomar consciência de sua exclusão, assumem sua situação e se sentem sujeitos da luta pela superação da exclusão. O Grito dos Excluídos está devolvendo dignidade e esperança aos excluídos. BF – Há uma tendência de os movimentos sociais se unirem? D. Demétrio – Em todo o caso, cresce a consciência de que a dispersão favorece a
manutenção da exclusão. A realização da “Assembléia Popular”, em Brasília, no mês de outubro de 2005, reunindo um leque muito grande de Pastorais da Igreja e de movimentos sociais, revela bem a disposição de somar forças na reivindicação de políticas públicas voltadas para a superação da exclusão. Penso que o início do novo mandato presidencial será a oportunidade para os movimentos sociais apresentarem com força suas demandas ao governo.
não anulando o voto, nem votando em branco, pois isso favoreceria os candidatos da direita. O Grito dos Excluídos, que é contra a exclusão, desta vez propõe uma exclusão bem concreta: excluir do voto os comprovadamente flagrados em corrupção. Ao mesmo tempo, relativizam as eleições, conscientes de que a urgência maior nem é tanto delegar responsabilidades aos eleitos, mas articular a cidadania, para que tenha força política de colocar o Estado a serviço do bem comum.
“O Grito está devolvendo dignidade e esperança aos excluídos”
BF – Qual é a importância de esse movimento se espalhar pela América Latina como vem ocorrendo? D. Demétrio – A rápida adesão a esta iniciativa, nascida no Brasil, revela sua força simbólica para todos os países da América Latina, como expressão de sua luta comum contra a dominação hegemônica do Primeiro Mundo, sobretudo dos Estados Unidos. O “Grito Continental” se tornou expressão da aspiração dos povos da América Latina por um mundo mais justo e mais solidário, menos dominado e menos dependente dos Estados Unidos. (ESL)
BF – Os governos têm dialogado com o “Grito”? D. Demétrio – Não existe uma interlocução oficial entre os organizadores do Grito e as instâncias do governo. Mas dá para perceber que o governo se deu conta da importância política do Grito, sobretudo para que o Dia da Pátria volte a ser celebrado de maneira popular e ao mesmo tempo com consciência política. O Grito exerce uma função democrática muito positiva: é contundente e, ao mesmo tempo, é disciplinado e bem articulado nacionalmente. O Grito se constituiu em contribuição valiosa para recuperar o sentido histórico e o simbolismo político do “Dia da Pátria”. BF – Como o sr. observa o “Grito dos Excluídos” dentro do cenário eleitoral? Existe alguma tendência por parte dos movimentos sociais? D. Demétrio – Existe, sim. O Grito e os movimentos sociais, ao mesmo tempo, valorizam e relativizam as eleições. Valorizam, convidando para votar,
Arquivo Brasil de Fato
Eduardo Sales de Lima da Redação
Quem é Nascido em São Valentim (RS), em 31 janeiro de 1940, dom Luiz Demétrio Valentini cursou Filosofia no Seminário Maior de Viamão (RS) e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Atualmente, dom Demétrio é bispo de Jales e presidente da Cáritas Brasileira.
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INTERNACIONAL WORLD TRADE CENTER
Bush planejou os atentados? Igor Ojeda da Redação
Pentágono
Acadêmicos defendem a tese de que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram organizados pelo governo dos EUA
Ataques sob suspeita Scholars for the 9/11 Truth apresenta oito justificativas para a tese do “trabalho interno”:
O
1. O ponto de derretimento do aço, 1.537°, é cerca de 500º mais alto que a temperatura máxima que o fogo causado por combustível de aviões pode atingir (982°). Ou seja, o incêndio não causou o derretimento do aço das torres. 2. O laboratório, que certificou o aço usado na construção das torres, afirmou que o material, queimando a uma temperatura de mais de 1.000°, levaria pelo menos seis horas para se enfraquecer de forma significativa. O incêndio foi muito breve e “frio” para causar o enfraquecimento do aço, quanto mais para derretê-lo. 3. Não havia força suficiente para que o a queda de um andar sobre o inferior provocasse o colapso do segundo. 4. As quedas da Torre Sul em 10 segundos e da Norte em 11 segundos foram mais rápidas do que o tempo de uma queda livre, apenas com a resistência do ar (pelo menos 12 segundos). Isso seria impossível sem o uso de poderosos explosivos.
Purdue News
Acima, o Pentágono parcialmente destruído; ao lado, simulação indica o ângulo que o avião teria de estar de acordo com o resultado do impacto. Abaixo, o porquê do Pentágono receber este nome
5. Poças de metais derretidos foram encontrados nos subsolos do WTC até cinco semanas depois, um efeito que não poderia ter sido produzido pelo cenário oficial.
dezena de “contra-provas” que negam a versão oficial.
6. A queda do prédio nº 7 do WTC apresentou o padrão clássico de uma demolição controlada: diretamente para baixo, para dentro de suas próprias fundações, e colapso abrupto, com os andares caindo todos ao mesmo tempo. O Nist não apresentou explicações sobre o assunto.
IMPLOSÃO DE TORRES A principal delas (veja outras no quadro ao lado) é a de que os impactos dos aviões não seriam suficientes para causar a queda das torres. Ou seja, na visão dos acadêmicos, elas teriam sido implodidas. Segundo artigo do jornal inglês The Guardian, algumas pessoas ouviram e viram o que acreditaram ser explosões nas torres antes dos impactos dos aviões. A explicação do Nist para o fato é a de que os aços usados na construção dos edifícios derreteram devido ao incêndio provocado pelo combustível das naves, fazendo com que os prédios viessem abaixo. No entanto, segundo o Scholars for the 9/11 Truth, a temperatura máxima que a queima desse tipo de combustível pode atingir, cerca de 1.000°, em condições perfeitas, estaria muito abaixo do ponto de derretimento do aço – aproximadamente 1.537°. O egípcio Mohamed Habib, diretor do Instituto de Cultura Árabe (Icarabe) e professor de zoologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), concorda que as Torres Gêmeas
7. O buraco causado no prédio do Pentágono foi muito pequeno para o impacto de um avião de passageiros de cem toneladas, com 38 metros de comprimento de uma asa a outra e uma cauda que fica a 13,4 metros do solo. O tipo e a quantidade de entulho não condiziam com um Boeing 757: sem asas, fuselagem, assentos, corpos, bagagens, cauda.
Pentágono
governo de George W. Bush mente. Falsificou documentos, dizendo que o Iraque detinha armas de destruição em massa, para justificar a invasão do país. Negou a existência de prisões secretas da Agência Central de Inteligência (CIA), hoje comprovadas. A ausência de escrúpulos e de credibilidade do governo estadunidense levam pessoas a suspeitar de tudo o que declara. Tudo mesmo. O ponto máximo – e mais grave – dessa desconfiança está relacionado com o evento que mudou os rumos do mundo: os atentados de 11 de setembro de 2001, que atingiram as Torres Gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York, e o prédio do Pentágono, em Washington. As explicações oficiais da administração Bush sobre os ataques que mataram cerca de três mil pessoas, feitas principalmente pelo Instituto Nacional para Padrões e Tecnologia (Nist, na sigla em inglês), não estão convencendo um grupo de acadêmicos e estudantes que fazem parte do Scholars for the 9/11 Truth (Acadêmicos para a Verdade sobre o 11/9), associação com mais de 350 membros, de diversas áreas como história, física, matemática, assuntos militares, psicologia e filosofia. Para a entidade, o governo dos EUA tem sido desonesto com sua população em relação aos atentados de 2001. Usando argumentos científicos, defende a tese de que os ataques, na verdade, foram planejados e executados por membros do próprio governo estadunidense, com o apoio da CIA: o chamado “inside job”, ou trabalho interno. De acordo com artigo de um dos fundadores do Scholars for the 9/11 Truth, James Fetzer, professor de filosofia na Universidade de Minnesota e ex-oficial da Marinha, os membros da entidade, com base em pesquisas realizadas sobre o 11 de setembro, já estabeleceram mais de uma
8. Se o vôo 93, que não atingiu nenhum alvo, tivesse caído como dizem ter acontecido, teria causado um campo de entulhos do tamanho do quarteirão de uma cidade. Na verdade, os entulhos estavam distribuídos por uma área de aproximadamente 20,7 quilômetros quadrados, o que poderia ser explicado se o avião tivesse sido atingido no ar.
não caíram devido ao choque das aeronaves. Para ele, a hipótese do “trabalho interno” se explica também pela incapacidade tecnológica de supostos terroristas árabes. “Quando analiso o 11 de setembro, vejo que os atentados em Nova York e em Washington representam uma ação, em termos técnicos, extremamente sofisticada”, diz. Ainda segundo Habib, “aquela não foi pilotagem manual, humana, e sim automática, feita por um sistema computadorizado totalmente
eficiente para os dois aviões fizessem aquelas manobras, aquelas curvas, e entrarem com aquela precisão nas duas Neoconservadoris- torres”. mo – inspirado na Para obra do matemático os dee filósofo alemão Leo Strauss, propõe f e n s o r e s uma síntese entre da teoria valores éticos e da consmorais extraídos da religião judaico-cris- p i r a ç ã o , tã e a consolidação os EUA prática da idéia de que os EUA são planejaportadores do “desram os tino manifesto” de serem a primeira ataques entre todas as napara jusções do planeta. tificar as
invasões do Afeganistão e do Iraque – e futuras intervenções na Síria e no Irã –, com o objetivo de garantir o abastecimento de petróleo, além de garantir a oportunidade para restringir liberdades civis de seus cidadãos. Eles chamam a atenção sobretudo para o documento “Reconstruindo as Defesas da América: Estratégias, Forças Armadas e Recursos”, elaborado em 2000 por neoconservadores republicanos, onde está escrito que
as mudanças pretendidas por eles para Pearl Harbor – Em 7 de dezembro de as Forças 1941, aviões japoArmadas neses bombardearam a base militar do país estadunidense provalocalizada na baía de Pearl Harbor, no velmente Havaí, destruindo levariam diversos navios m u i t o de guerra. O presidente dos EUA, tempo, Franklin Delano “se faltar Roosevelt, batizou o ocorrido como o um even“Dia da Infâmia” e to catasdeclarou guerra ao e Japão, dando início trófico à participação na II catalisaGuerra Mundial. dor com um novo Pearl Harbor”.
CHILE
da Redação Centenas de bandeiras vermelhas e faixas com lemas revolucionários cobriram as ruas centrais de Santiago, no dia 9 de setembro. Cerca de 10 mil manifestantes caminharam pela capital chilena para lembrar o aniversário de 33 anos do golpe encabeçado pelo general Augusto Pinochet, com apoio dos Estados Unidos. Em 11 de setembro de 1973, o presidente socialista Salvador Allende foi assassinado pelos militares golpistas no Palácio La Moneda. A ditadura implantada no país até o ano 2000 deixou, como saldo, 3 mil mortos e desaparecidos. A manifestação foi convocada por organizações de direitos humanos, correntes de esquerda e familiares das vítimas do regime militar. A marcha terminou no
Cemitério Geral de Santiago, em frente do Memorial dos Detidos e Desaparecidos, um muro de mármore no qual estão esculpidos os nomes dos presos políticos cujos rastros se perderam nos tempos de Pinochet.
Fotos: Reprodução
O 11 de setembro que os EUA esqueceram e pertencem a todos cidadãos”, disse.
MEMÓRIA
FERIDAS ABERTAS O protesto, no entanto, foi marcado por distúrbios e confronto com a polícia, sinais de feridas abertas na sociedade chilena no período da ditadura que estão longe de cicatrizar. Segundo a Agência de Notícias Prensa Latina, os protestos – que duraram três dias – foram os mais violentos dos últimos anos. Houve barricadas, tiroteios, incêndios, saques e apagões em Santiago. Cerca de 250 mil pessoas ficaram sem eletricidade, e o serviço de metrô foi paralisado pela intensidade dos confrontos. Não há um balanço definiti-
O presidente chileno Salvador Allende resiste bravamente até a morte, de arma em punho e capacete em meio aos seus seguranças, no Palácio presidencial de La Moneda, no dia 11 de setembro de 1973
vo, mas foram detidas mais de 250 pessoas, vários menores de idade entre eles. Para o senador Alejandro Navarro, os distúrbios mostram uma “frustração que muitos chilenos têm com a impunidade, a exclusão e a marginalização de amplos setores da sociedade”. “Esse tipo de violência não pode
ser combatido com mais repressão, mas sim com maior democracia e justiça social”, disse Navarro. Bombas foram lançadas contra o Palácio de La Moneda e contra instalações da Polícia Militar. Até mesmo a deputada Isabel Allende, sobrinha do presidente assassinato, manifestou surpresa:
“Jamais pensei que voltaria a ver uma chama no La Moneda”, em referência ao estrago provocado pelo artefato jogado no palácio. A presidente chilena, Michelle Bachelet, condenou o ato. “Os símbolos pátrios, como a bandeira, como o La Moneda, devem ser preservados. São símbolos da democracia
Apesar dos incidentes, a maior parte dos manifestantes cobrou, pacificamente, a punição dos militares ligados ao regime de Pinochet e prestaram uma homenagem a Allende. “Presente, presente, Allende está presente”, gritavam centenas de pessoas, inclusive alguns já mais velhos do Grupo de Amigos do Presidente (GAP), que o protegeu durante seus três anos de governo socialista (1970-1973). “Hoje é um dia de tristeza, mas também de regozijo porque recordamos a Allende e o grande gesto que ele fez pelo povo do Chile que vai perdurar para sempre”, afirmou Guillermo Teillier, presidente do Partido Comunista (PC). (Agências internacionais)
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INTERNACIONAL
CHINA
Reprodução de obra do artista Andy Warhol
De Mao à euforia do mercado Trinta anos após a morte do Grande Timoneiro, o modelo econômico chinês provoca crises sociais, cada vez mais explosivas A identidade de Mao Tse-Tung, e sua influência no regime político chinês, passa por uma revisão desde a sua morte, em 1976: de culto a déspota utópico, passando por monstro
Dominique Bari de Pequim (China)
mas a desigualdade de renda dobrou e metade da população vive com menos de dois dólares por dia. Os protestos crescem: de camponeses sem terra que não têm o que comer, operários que querem mais do que um dia de folga por mês, estudantes que exigem a abertura democrática do país. Em 2005, foram contabilizados 87 mil protestos, de acordo com fontes oficiais. O governo chinês, cujo presidente é Hu Jintao, tenta encontrar um novo equilíbrio. Nas orientações do 11º Plano de Cinco Anos (2006-2010), do Partido Comunista da China (PCC), se coloca a necessidade de manter o crescimento econômico – aumentar o Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 8,9 trilhões de dólares, em 45% até 2010 – e estimular o surgimento de uma sociedade harmoniosa, colocando a prioridade no bem-estar da população. “A nova missão histórica da China é reduzir os riscos políticos do fosso entre ricos e pobres”, declarou o primeiro-ministro Wen Jiabao, em março.
“N
ão há nada pior do que a água que estagna”, disse o líder chinês Mao Tse-Tung. Trinta anos após a morte do Grande Timoneiro, a frase bem que poderia embalar os recentes fenômenos da China – cuja economia cresce, em média, 8% ao ano, há pelo menos 10 anos. O país, com 1,3 bilhão de habitantes, é o principal pólo de atração de transnacionais, que procuram mão-de-obra barata e incentivos fiscais. A revolução utópica de Mao foi suplantada pelo pragmatismo econômico, cujo símbolo é Deng Xiaoping, sucessor do Grande Timoneiro. A filosofia de Xiaoping foi colocar o desenvolvimento industrial e agrícola como “verdade central” do país, mesmo que isto leva a mudanças no regime socialista chinês, fundado em 1949. O crescimento econômico – que faz do país o segundo mais rico do mundo – não se faz sem mazelas. A China conseguiu tirar da pobreza extrema 300 milhões de pessoas,
MUDANÇA NA ECONOMIA A eficácia do Plano depende da evolução econômi-
ca, contestam grupos ligados à Nova Esquerda chinesa, corrente de intelectuais que pretendem reformular o regime socialista. Vencem as restrições do governo e pretendem reescrever a história contemporânea do país. Outra corrente – chamada liberal – se opõe à reformulação e defendem a adoção de uma política mais voltada a atender os interesses do mercado. Em 1997, quando a China inicia acordos com os Estados Unidos para entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC), que aconteceria em 2001, o historiador Wang Hui publica o artigo “O pensamento chinês contemporâneo e a questão da modernidade”, que se torna o manifesto da Nova Esquerda. Descreve a sociedade chinesa como estando capitalizada, o que levou a uma modificação do Estado. Conclui: “Os problemas chineses devem ser diagnosticados ao mesmo tempo que os do capitalismo, rumo à globalização. O Ocidente não pode ser um modelo para criticar a sociedade chinesa”. Hui desfaz a ilusão de uma economia de mercado liberadora, oposta em um
Estado poderoso. Ele identifica as manifestações estudantis de 1989, que exigiam a abertura democrática do regime, à luta contra o sistema mundial dos mercados. “Há um continuum entre esses protestos e os contra a OMC em Seattle (EUA), em 1999, e contra o Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington (EUA), em 2000”, escreve. Tais fenômenos exige, revela o historiador, repensar e renovar o socialismo chinês. A Nova Esquerda enfrenta a resistência dos liberais, que se estruturam no final dos anos de 1990. Pregam que o regime tenha como inspiração o mundo ocidental, se abra para a prática democrática e não se mantenha com o discurso antitotalitário. São os advogados da mundialização, que consideram ser uma alavanca para a democratização. Alguns estão próximos ao governo, e querem combinar mundialização e planificação da economia. Outros consideram que o mercado totalmente aberto pode acabar com as desigualdades sociais e a corrupção nas esferas do governo. (L´Humanité - www.humanite.fr)
Alain Roux Mao Tse-Tung é geralmente visto como um ser lendário, nascido de uma epopéia, a Grande Marcha, refugiado em um templo virtuoso, entre 1937 Grande Marcha – périplo de um e 1948, e ano, iniciado em vitorioso 1934 e realizado pelo Exército Verem1949 melho da China em na guerra várias regiões do civil conpaís para escapar aos militares natra Tchang cionalistas, que os Kai-Chek perseguiam para conter a revolução como São comunista liderada Jorge derpor Mao Tse-Tung. rotando o dragão. Para a população, em meados do século 20, era um herói, um defensor dos fracos contra os opressores. O filho de camponeses, nascido em 1893, tornara-se alvo de culto. Foi preciso esperar até 1980, quatro anos após a morte de Mao, para descobrir os fracassos de seu governo: fome generalizada, violência, caos econômico. A responsabilidade recaía, de acordo com integrantes do Partido Comunista da China (PCC), sobre Mao. As decisões econômicas do Grande Timoneiro, e sua obstinação, abalaram a imagem do socialismo chinês. O Grande Timoneiro se tornava uma caricatura, um tirano mesquinho, como o descrevera Simon Leys, em As Novas Vestimentas do Presidente Mao, livro publicado em 1972. Deng Xiaoping, que monopolizou o cenário político chinês, após a morte de Mao em
Natalie Behring/flickr/creative commons
As duas faces do Grande Timoneiro
Em Pequim, chineses fazem fila para tomar sorvete no MacDonald’s
1976, teve espaço para desenvolver reformas econômicas que levariam à apresentação do “socialismo de mercado”. O legado do Grande Timoneiro era afastar tudo o que ele havia feito. A modernização econômica, que não atingia a área política, recebeu a adesão de camponeses e intelectuais. A economia chinesa, estagnada desde 1966, saltou para frente. Mas cresceram as desigualdades sociais. Em 1981, o comitê central do PCC fez um balanço dos 26 anos de governo Mao: de acordo com a organização, 70% de sua obra fora positivo, e 30% nefasta. Criava uma distinção entre o pensamento de Mao, o fundamento do regime socialista e a política de Mao, representada pelas falhas de seu governo. O Grande Timoneiro não fora fiel a ele mesmo.
O balanço está correto. Mao não é o maior monstro do século 20, como a mídia estadunidense quer fazer crer. É fruto de uma época cruel, que condicionou seu comportamento. Quando tinha 20 anos, sua província natal, Hunan, era saqueada por militares em guerra. Em sua vida política, decidiu resistir à violência pela violência: “Na China, o poder está na ponta do fuzil”, disse. Outro mote de sua política era recuperar o atraso chinês. Mao acreditava que o Estado é que devia assumir esse papel – por isso, levou à concentração estatal da economia em 1956. Organizou a revolução industrial, que se realiza, de fato, atualmente. Também se deve entender a tradição do despotismo oriental, na qual Mao se
insere. Na Ásia, da necessidade de controlar imensos rios, surgiram precocemente Estados centralizados, que escravizavam grande parte dos camponeses. Foi o caso da China. A oposição era banida. Deve-se procurar a compreensão da política chinesa pós-1949 na base social do maoísmo. O culto de Mao, como relata o historiador Cai Zhongguo, é resultado da mentalidade camponesa, dominante na China. Combinava-se a adoração ao líder a uma resistência à civilização moderna, que rompia com valores tradicionais. Mao entendeu isso, dizendo em 1958 que construiria o socialismo rápido, acabando com a miséria: “A China é pobre e está nua. E é sobre uma página branca que se escreve os mais belos poemas”. Por fim, há um elemento fundamentalmente político, a concepção de partido para Mao, calcado no leninismo. O centralismo democrático é a forma de atuar do PCC, mas é agravado pelo personalismo do líder supremo. O autoritarismo é mortal para o socialismo autêntico, assim como o socialismo chinês atual, distante do povo, se torna uma nova forma de capitalismo. (L´Humanité – www.humanite.fr) Alain Roux é professor emérito do Instituto Nacional das Línguas e Civilizações Orientais (Inalco) da França
A mudança do regime chinês 1949 Mao Tse-Tung proclama a República Popular da China, após 22 anos de guerra interna. Alia-se à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) contra os Estados Unidos. 1953 O governo inicia políticas para reconstruir o país: reforma agrária, desenvolvimento industrial e controle da economia. 1957 Mao lança a Campanha das Cem Flores, com o objetivo de estimular o debate nacional sobre os rumos da Revolução Chinesa. Posteriormente, entre 400 mil e 700 mil dos que criticaram o regime comunista são enviados para campos de trabalho forçado. 1959-1960-1961 Durante os “Três Anos Negros”, como são conhecidos na China, entre 20 e 30 milhões de pessoas morrem de fome, em virtude do colapso do modelo agrícola. 1966 Mao lança a Revolução Cultural na China, com a intenção de combater o surgimento de categorias sociais privilegiadas e revitalizar o processo revolucionário chinês. A política, que pretende romper com o modo de vida ocidental, só será interrompida 11 anos depois. Centenas de milhares de pessoas são perseguidas e assassinadas pelo governo. 1976 Morte de Mao, em 9 de setembro. 1982 Deng Xiaoping, mais influente líder chinês após a morte de Mao, lança o programa “Construção do Socialismo da China”, em que prega o desenvolvimento de uma política de mercado. Abre o país a investidores estrangeiros. 1989 Manifestações de estudantes tomam a Praça da Paz Celestial, na capital Pequim, e exigem a abertura democrática do regime. São violentamente reprimidas pelo governo. 1990 Abertura da primeira lanchonete McDonald´s na China, símbolo do capitalismo estadunidense, e da Bolsa de Valores de Xangai, fechada havia 40 anos. 2001 A China entra na Organização Mundial do Comércio (OMC), com o aval dos Estados Unidos e da União Européia. 2004 Revisão da Constituição chinesa, que reconhece o acúmulo de patrimônio privado como legítimo. 2005 Os governos chinês e indiano assinam um acordo comercial, definindo uma aliança entre os dois países que mais crescem no mundo. O comitê central do Partido Comunista da China (PCC) lança um programa para reduzir a desigualdade do país e desenvolver as áreas rurais.
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CULTURA
De 14 a 20 de setembro de 2006
ARTE ENGAJADA Em página na internet, grupo de extrema direita israelense ameaça o cartunista Carlos Latuff
Chargista brasileiro na mira de Israel Dafne Melo da Redação
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umas de suas checagens costumeiras na internet, para se informar sobre a repercussão de seu trabalho pelo mundo, o cartunista brasileiro Carlos Latuff teve uma surpresa: um site de um grupo israelense, aparentemente ligado à extrema-direita do partido Likud (www.likudnik.co.il), publicou um artigo sobre as suas charges. Usando inúmeras delas como ilustração, o texto faz ameaças: “Deveriam ter cuidado desse Carlos há muito tempo, de um jeito ou de outro”. O motivo da indignação do grupo são as séries de charges que Latuff faz criticando duramente a atuação de Israel no Oriente Médio (veja suas charges em http: //latuff2.deviantart.com/), algumas já publicadas pelo Brasil de Fato. No artigo, o autor do texto identifica Latuff como “o cabeça de uma das maiores indústrias de propaganda e incitamento contra Israel”. E prossegue: “Ele destila veneno por toda parte. O dano que ele está fazendo a Israel, junto à juventude mundial, é enorme. É um dos mais influentes anti-sionistas da rede mundial de computadores”, diz o texto. Em seguida, reconhece o talento do inimigo: “Ele tem um talento gráfico fantástico, é um grande cartunista”.
INTOLERÂNCIA Latuff diz que não sabe ao certo se o grupo é oficialmente ligado ao Likud, e acredita que seja alguma organização “ligada ao partido oficial, corrente de transmissão, formada por membros ou simpatizantes”. O Brasil de Fato entrou em contato com a organização, mas não obteve resposta. De resto, as ameaças e críticas ao seu
Acima, no Clube dos países ocidentais, no primeiro quadro, piadas sobre o Islã; no segundo, piadas sobre o Holocausto Abaixo, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, dizendo que quer uma guerra de dimensão regional, Gaza, Beirut, Damasco e Teerã
“Israel iniciou o seu quinto dia de bombardeios como parte da operação que se seguiu após a captura de dois de seus soldados pelo Hezbollah. Mais de 80 libaneses foram mortos, incluindo mulheres e crianças”. Um soldado israelense comenta: “Escutei que em 1942 os nazistas massacraram civis em Lidice (uma vila da então Tchecoslováquia) como vingança pela morte de um oficial nazista!”. O outro responde: “Pois é, os bons e velhos nazistas nos ensinaram muito”
trabalho sempre aparecem em “páginas e blogs de orientação direitista”, conta o cartunista – costumeiramente acusado de “nazista” e “anti-semita”. Latuff rebate: “Esse tipo de alegação faz parte de uma estratégia manjada, empregada pelos que apóiam os crimes israelenses, em uma tentativa de associar ao anti-semitismo todas as críticas ao Estado de Israel”. Ele lembra, como exemplo, a recente acusação de antisemitismo por parte do líder da comunidade israelense na Alemanha contra um ministro do gabinete da chanceler Angela Merkel, por ele ter afirmado que Israel utilizou bombas especiais de fragmentação no Líbano, fato que foi reconhecido pela Organização das Nações
Unidas (ONU). “Israel usa sempre a desculpa de que suas bombas mataram centenas de civis no Líbano porque o Hezbollah usava os libaneses como escudos humanos. IsraHell [Hell, em inglês, significa inferno] nunca mata ninguém que não merecesse ser morto. Esse é o conceito reforçado no Ocidente pelos Estados Unidos e Europa”, protesta o cartunista.
CAUSAS JUSTAS Latuff acredita que, devido às temáticas que aborda em suas charges (que podem ser reproduzidas livremente desde que citada a autoria), as ameaças são esperadas. “Quando decidi expor a violência e corrupção da polícia brasileira na série A Polícia Mata!, estava preparado para qualquer reação negativa por
parte da Polícia, leia-se ameaças. Quando decidi apoiar a causa palestina, após minha viagem à Cisjordânia, em 1999, também me preparei para as reações. Mas chama atenção o alcance quase onipresente do lobby sionista”, diz. Sobre sua arte, Latuff diz que recebe críticas inteligentes de bom grado e as responde com atenção. “Ninguém é obrigado a gostar do que faço. Faço o que faço pelo o amor que tenho pelo povo palestino. Já comentários idiotas, são deletados de cara. Não tenho tempo a perder com ‘fascistinhas’. Meu tempo e meus esforços são para os palestinos, iraquianos, sem-terra, sem-teto, todos aqueles, enfim, que demandam terra, teto e justiça”, finaliza. Acima, no Canal de Crimes de Guerra de IsraHell (corruptela com inferno, em inglês), a previsão do tempo para o Oriente Médio apresentada por Olmert: “Infelizmente, nós tivemos que parar a chuva de bombas sobre o Líbano, mas o tempo em Gaza continua o mesmo”
Ao lado, Latuff