Tabloide especial: “Fome, desemprego, corrupção e mais de 570 mil mortos”

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FOME

Pobreza e desemprego crescem e 20 milhões de brasileiros passam por insegurança alimentar - Pág. 4

PRIVATIZAÇÕES Governo quer vender Correios e Eletrobras e quem paga a conta é você Pág. 2

POVO NAS RUAS

Atos pelo Fora Bolsonaro são convocados para o dia 7 de setembro em todo o país Pág. 4

Edição Especial Nº 15 / 2021 Circulação nacional Distribuição gratuita

Gestão Bolsonaro

FOME, DESEMPREGO, CORRUPÇÃO E MAIS DE 570 MIL MORTOS


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Ed. especial Nº 15 / Circulação Nacional - www.brasildefato.com.br

Privatizações

Fotos: Deni Williams / Fernando Frazão Ag. Brasil

Quem paga a conta é você! Venda dos Correios e Eletrobras terá impactos na soberania, no preço e na cobertura de serviços essenciais Privatizar "tudo que for possível" é a linha do governo Bolsonaro

▶▶A venda do patrimônio público é

um dos objetivos do governo Bolsonaro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse que quer privatizar “tudo que for possível”. As duas empresas da vez são os Correios e a Eletrobras, e quem pagará essa conta são todos os brasileiros. A empresa privada que comprar os Correios terá domínio sobre todo o território nacional, o que configura ameaça à soberania. Se os empresários avaliarem que levar correspondências a determinado município é muito caro, deixarão de prestar o serviço. Hoje, os trabalhadores dos Correios pegam até barco e enfrentam todo tipo de adversidade para garantir 100% de cobertura. O edital ainda não foi lançado. Mas, como ocorreu com outras empresas privatizadas, o governo deve perder todo o poder de regulação, deixando os novos donos decidirem qual preço cobrar. “Você vai cair num oligopólio de poucas empresas privadas com grande poder de mercado, um sistema extremamente perverso para o consumidor, porque terá duas ou três empresas que operam como se fossem monopolistas.

Você acaba caindo numa situação onde o serviço não é bom, mas é muito mais caro do que o público”, analisou o economista Marco Antônio Rocha, em entrevista ao Brasil de Fato. E a luz? No caso do sistema Eletrobras, a soberania nacional, a cobertura e o preço do serviço também estão em jogo. O aumento previsto nas contas de luz é de 25%. Assim como no caso dos Correios, a empresa que vencer o leilão poderá suspender o fornecimento de energia a determinado município ou vilarejo se avaliar que não vale a pena financeiramente. “A privatização autorizará a recontratação da energia ao preço de mercado. A receita saltará para R$ 20,5 bilhões por ano, e o lucro líquido da Eletrobras e dos acionistas que a comprarem aumentará em R$ 16 bilhões por ano”, avaliam Gilberto Cervinski e Fabiola Antezana, especialistas em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Este valor será cobrado de 75 milhões de brasileiros com aumentos na conta de luz pelos próximos 30 anos, tempo de concessão previs-

EXPEDIENTE Esta é uma edição especial do Brasil de Fato. Circulação nacional gratuita, em setembro de 2021. Edição: Daniel Giovanaz e Nina Fideles

Reportagem: Daniel Giovanaz Revisão: Leandro Melito Jornalista responsável: Nina Fideles (MTB 6990/DF). Artes e diagramação: Fernando Bertolo

Correios

O governo pretende realizar um leilão no primeiro semestre de 2022. Falta só a aprovação do Senado para a venda de 100% da empresa, que teve lucro líquido de R$ 1,53 bilhão em 2020.

Eletrobras

A Medida Provisória 1031/2021, que autoriza a privatização da Eletrobras e suas subsidiárias, já foi aprovada. Faltam a sanção de Bolsonaro, a definição das regras de venda e a aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU).

to no processo de privatização”, completam, alertando para o risco de apagões. Hoje, o Estado controla 62% do sistema Eletrobras, do qual fazem parte empresas como Chesf, Eletronorte, Furnas, Eletrosul e Cepel. Ao todo, são 125 usinas, 71 mil quilômetros de linhas de transmissão e 335 subestações de eletricidade, operadas por 12,5 mil trabalhadores.

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Você Sabia R$ 3,3 bilhões Foi o valor que a mineradora Vale do Rio Doce (hoje apenas Vale) foi vendida em 1997. Somente as suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$ 100 bilhões à época.

1998 Foi ano em que a Telebrás foi privatizada. Hoje, o Brasil tem uma das tarifas de telefonia mais caras do mundo e as operadoras são recordistas de reclamações no Procon.

1997 Foi o ano que a Argentina privatizou seus correios com a promessa de aumentar a eficiência. A ideia deu tão errado que a empresa precisou voltar ao controle do Estado, em 2003, com um rombo de US$ 300 milhões, o que hoje equivale a R$ 1,5 bilhão.

312 Foi o número de cidades, em mais de 36 países, que reestatizaram o tratamento de água e esgoto após piora no serviço e preços abusivos.


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Se gritar "pega ladrão"...

Governo Bolsonaro se afunda em denúncias de corrupção e mentiras Entenda por que a situação do presidente está cada vez mais complicada na Justiça

CoM MAis DE 130 PEDiDos DE iMPEAChMENT, BoLsoNARo DEPENDE Do ChAMADo CENTRÃo E Dos MiLiTAREs PARA sE MANTER No PoDER

▶ Jair Bolsonaro foi eleito em 2018 com

CaSO DaS VaCINaS Mesmo alertado pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF), Bolsonaro não pediu abertura de investigação sobre as denúncias de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin. O preço do imunizante, US$ 15 por dose, era o maior entre todos oferecidos ao governo. O crime de prevaricação (deixar de cumprir um dever por interesse ou má-fé) pode ser punido com 3 meses a um ano de prisão.

"Isso é coisa do Ricardo Barros [líder do governo na Câmara].” Jair Bolsonaro, segundo relato de Luis Miranda

Foto: EvARisTo sA / AFP

a promessa de acabar com a corrupção. De lá para cá, o que não faltam são indícios de crimes. Com 130 pedidos de impeachment, ele se mantém no poder graças a uma aliança com parlamentares do “centrão”, que representam a velha política. Entenda algumas das suspeitas que recaem sobre Bolsonaro, que alega inocência.

BlOQuEIO DaS INVESTIGaÇÕES

uM DÓlaR POR DOSE

Bolsonaro teria interferido em investigações da Polícia Federal ao cobrar a troca do chefe da corporação no Rio de Janeiro e ao exonerar o então diretor-geral. O caso configura corrupção passiva, e o julgamento no STF ocorrerá em setembro.

O empresário Luiz Paulo Dominguetti afirma que recebeu de representantes do Ministério da Saúde uma oferta de propina por vacinas da AstraZeneca. A reunião foi feita em um shopping center de Brasília, e o pedido de propina era de US$ 1 por dose, totalizando US$ 400 milhões.

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu. (...) Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe, troca o ministro.

"Ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo (…)que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo".

Jair Bolsonaro, reunião ministerial em abril de 2020

Luiz Paulo Dominguetti, em entrevista à Folha de s. Paulo

Forças Armadas envolvidas até o pescoço ▶ Os militares continuam calados diante

das denúncias de corrupção, e não é por acaso. Eles nunca tiveram tantos cargos no alto escalão quanto no governo Bolsonaro. As principais suspeitas de irregularidades no Ministério da Saúde foram na gestão de Eduardo Pazuello, general da ativa do Exército. Durante a oferta de propina de US$ 1 por dose, estava presente o tenente-coronel da reserva e ex-diretor de Logística do Ministério, Marcelo Blanco. O coronel Elcio Franco, que era o número 2 de Pazuello, teria participado das pressões pela compra da Covaxin. Embora os militares neguem participação nos casos de corrupção, o avanço da CPI compromete ainda mais a imagem das Forças Armadas.

aMEaÇa ÀS ElEIÇÕES Bolsonaro ainda é investigado no STF por propagar notícias falsas e fazer declarações infundadas sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas, ameaçando a realização de eleições em 2022. As condutas de Bolsonaro configuram os crimes de calúnia, difamação, injúria, incitação ao crime, apologia ao crime, associação criminosa e denunciação caluniosa.

“Olha, eu jogo dentro das quatro linhas da Constituição, e jogo, se preciso for, com as armas do outro lado. Nós queremos paz, queremos tranquilidade” Jair Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan


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Tudo caro

Com desemprego e preços nas alturas, fome atinge 20 milhões de brasileiros fantasma da fome ao Brasil. Em 2020, ela atingiu um a cada dez brasileiros, segundo dados da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). “Antes, eu comprava carne, enchia o freezer para o mês todo. Hoje, a gente come carne duas vezes no mês, e às vezes não tem nem um ovo”, afirma Maria Eliane Pereira dos Santos, 52 anos, auxiliar de serviços gerais desempregada. A crise, que começou antes do coronavírus, é o resultado de escolhas feitas no Brasil desde 2016. A mudança na política de preços da Petrobras transformou a gasolina e o gás de cozinha em artigos de luxo. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) perdeu 99% do seu orçamento, aumentando a pobreza no campo e esvaziando as panelas na cidade. TaPa-BuRaCO O Brasil tem 14,8 milhões de desempregados, e a demora de Bolsonaro em comprar vacinas atrasou a recuperação da economia. O auxílio emergencial, com valor médio de R$ 250, será

Reportagem especial do BdF sobre a volta da Fome ao Brasil

23% Foi a proporção da população brasileira que, entre 2018 e 2020, deixou de comer por falta de dinheiro ou precisou reduzir a quantidade e qualidade dos alimentos ingeridos. (Fonte: FAO)

Foto: Pedro stropasolas

▶ A pandemia trouxe de volta o

pago até outubro de 2021. O benefício é menos da metade do que era em 2020 e não garante comida na mesa. Esse é o drama do baiano Edson dos Santos, 53 anos, desempregado e em situação de rua. Ele é um dos 60 milhões de brasileiros que dependem de doações para sobreviver na pandemia. “Tem um bom tempo que eu não vou no mercado. É muito caro, e eu tô sem condições de tomar café em uma padaria. Antigamente, com R$ 2 ou 3 a gente tomava um cafezinho e comia um pãozinho. Agora, só um café preto mesmo, e pronto”, relata. No começo de agosto, Bolsonaro também disse que queria reajustar o valor médio do benefício para R$ 400. Uma semana depois, mudou de ideia e indicou que aumentará para cerca de R$ 283. Enquanto isso, os preços continuam subindo. No fim de junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reajustou em 52% o valor da bandeira vermelha no patamar 2 das contas de luz. Em 12 meses, o país teve alta de cerca de 85% no preço do óleo de soja, 48% no arroz, 38% nas carnes, 22% no feijão preto, 11% no leite e 24% no gás.

CoM 14,8 MiLhÕEs DE DEsEMPREGADos E ATRAso NA CoMPRA DAs vACiNAs, hÁ ATRAso NA RECuPERAÇÃo DA ECoNoMiA

Mães desempregadas contam como estão se virando

Fotos: Pedro stropasolas

Famílias brasileiras fazem milagre para alimentar os filhos em meio à crise, que começou antes da covid

Dez anos atrás, eu enchia meu carrinho no mercado. Hoje, quando vou, saio com uma sacolinha. Recebo R$ 150 de auxílio e só dá para pagar a conta de luz. Meu aluguel foi para R$ 500, e dependo de doações para sobreviver.”

Ou pago o aluguel, ou faço alguma coisa em relação à alimentação das crianças. Eu vou na feira, cato, peço, porque não tem como. Um pacote de fralda, um fardo de leite, custa R$ 50. Não cabe no orçamento do auxílio.”

Eu recebo Bolsa Família, e agora auxílio emergencial, mas dependo de ajuda. Quando eu estava trabalhando, conseguia dar uma alimentação mais saudável para as crianças. A gente comia macarrão, ovo, essas coisas. Agora, a gente compra o gás e sobra só R$ 200 para todo o resto.”

Sônia de Jesus, 55 anos

Jaqueline Félix, 22 anos

Aline Silva, 22 anos

Povo nas ruas pelo FORA BOLSONARO ▶ No dia 7 de setembro, novos atos contra o

governo Bolsonaro foram convocados. Apesar das limitações impostas pela pandemia, milhões de brasileiros têm ido às ruas pedir “vacina no braço e comida no prato”. Em todos os atos anteriores, manifestantes usaram máscaras, álcool em gel e buscaram respeitar o distanciamento social.

#24j, são paulo, foto: Coletivo Resistência

#24j, Rio de Janeiro. foto: stefano Figalo


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