Brasil de Fato Especial - Bolsonaro quer impedir sua aposentadoria

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Edição Especial Nº 11 / 2019 Circulação nacional Distribuição gratuita

REFORMA DA

PREVIDÊNCIA

BOLSONARO QUER IMPEDIR SUA

APOSENTADORIA


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ED. ESPECIAL Nº 11 / CIRCULAÇÃO NACIONAL - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

PREVIDÊNCIA SOCIAL

COMO É HOJE NO BRASIL

Tá na lei!

Art. 194

▶▶A Previdência Social é uma con-

1988

quista da Constituição de 1988. A lei garante que, quando uma pessoa perde a capacidade de trabalhar, ela terá recursos necessários para uma vida digna.

...assegurar os direitos à saúde, à previdência e à assistência social.

De onde vem o dinheiro da Previdência Social?

Se todo mundo contribuir... Além disso, mais de 3,8 mil municípios brasileiros dependem dos valores recebidos por aposentados e pensionistas para movimentar a economia local. De acordo com a Frente Nacional de Prefeitos, em 2017, os R$ 557,2 bilhões recebidos por meio da Previdência Social nos municípios foi 5,6 vezes maior que os R$ 96,2 bilhões que o governo federal repassou para as cidades pelo Fundo de Participação.

...todo mundo consegue se aposentar. Hoje, a Previdência funciona com o sistema de repartição simples. Ou seja: o dinheiro utilizado para pagar as aposentadorias vem dos trabalhadores, dos empregadores e do governo. Esse é um sistema solidário, em que todos são responsáveis pelo bem-estar daqueles que não podem trabalhar. Por exemplo: idade avançada, doença e licença maternidade.

SISTEMA DE REPARTIÇÃO SIMPLES

▶▶A Seguridade Social é como um guar-

da-chuva em que estão a Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que se trata da principal política pública brasileira para a redução das desigualdades sociais. Esse sistema tem uma fonte própria de receitas por meio de tributos exclusivos, além de outras fontes como o PIS/Pasep. E ainda tem a parte dos trabalhadores e dos empregadores.

Dos 5.570 3.800

Empresas

Trabalhadores

Governo

municípios brasileiros dependem dos aposentados e pensionistas para movimentar a economia

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA 1

SÓ INTERESSA AOS BANCOS

Na proposta de Bolsonaro, o dinheiro arrecadado dos trabalhadores seria entregue para os bancos

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Os bancos administrariam esses fundos, reaplicando esse montante em outros mercados

A Previdência privada

E quando o trabalhador atingir os requisitos mínimos para se aposentar, o banco seria responsável pelo pagamento de sua aposentadoria

Só o trabalhador paga

▶▶A Proposta de Emenda à Constituição

(PEC) nº 6 proposta por Jair Bolsonaro quer passar a aposentadoria dos brasileiros para os bancos. É o chamado sistema de capitalização. A Previdência, portanto, seria privatizada. O texto da PEC prevê esse sistema, mas ele seria detalhado somente depois, com uma lei complementar.

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E como funciona?

▶▶Com a capitalização, outros benefícios garantidos pelo Sistema de Seguridade Social estariam descobertos, como seguro doença ou acidente.

▶▶Enquanto na Previdência

Social todos contribuem - trabalhador, empregador e governo-, na Previdência privada haverá contribuições apenas do trabalhador. Além disso, o banco cobrará taxas para administrar a “poupança”.


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O Brasil pode garantir aposentadoria para todos

E por que o governo diz que a conta não fecha?

E tem mais!

▶▶Até 2015 a Previdência sempre ar- ▶▶De um lado, o governo federal fala recadou mais do que precisava para pagar as aposentadorias. Mas, com a crise econômica, aumentou o desemprego e a informalidade, reduzindo a contribuição por parte do Estado, dos empregadores e dos trabalhadores. Mas, se o governo tivesse guardado o dinheiro que sobrou durante 25 anos do que era arrecadado para a Previdência, haveria um fundo de mais de R$ 1 trilhão para usar agora na crise, conforme cálculos do economista Eduardo Moreira.

que já está faltando dinheiro para as aposentadorias e os benefícios do INSS. Por outro, especialistas da Associação Nacional de Auditores Fiscais dizem que esse cálculo está errado. Veja por que: o governo pode retirar 30% do dinheiro arrecadado para a Seguridade Social, onde está a Previdência, para outras despesas. É a chamada Desvinculação dos Recursos da União (DRU).

92 bi

Recursos retirados da Previdência para pagar juros aos bancos

52,4 bi

58 bi

63,4 bi

63,1 bi

▶▶Desde 2008, segundo levantamento ▶▶Jair Bolsonaro quer perdoar do Congresso Nacional, foram retirados cerca de R$ 500 bilhões da Seguridade Social. Só em 2017, foram R$ 113 bilhões. O governo, por sua vez, diz que o déficit da Previdência em 2017 foi de quase R$ 182 bilhões. Se falta dinheiro, portanto, ele é menor do que o valor retirado nos últimos anos (R$ 500 bilhões).

as dívidas previdenciárias das empresas do agronegócio com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). O valor estimado em sonegação desse imposto pode chegar a R$ 17 bilhões. O projeto tramita no Congresso Nacional.

Qual o verdadeiro rombo?

▶▶Trabalhadores com carteira assinada

têm o valor do INSS descontado todo mês na folha. Alguns empresários, por sua vez, não pagam seus impostos.

61 bi

Grandes empresas devedoras da Previdência Social no Brasil:

45,8 bi 38 bi

Latifundiários também não pagam

38,7 bi

R$ 448,9 milhões

Itaú Unibanco

R$ 79,7 milhões Marfrig (indústria alimentícia) R$ 22,2 milhões Frigorífico JBS 2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

Fonte: ANFIP

Fonte: Procuradoria Geral da Fazenda Nacional

Quem lucra?

▶▶Estimativa da Associação Nacional dos

Fiscais da Receita Federal (Unafisco) aponta que o lucro dos bancos com essa reforma da Previdência chegaria a R$ 388 bilhões por ano. Em 2018, mesmo com a crise econômica, os quatro maiores bancos do país bateram lucro recorde: R$ 69 bilhões, um crescimento de quase 20% (Economatica).

Em cenários de crise...

▶▶Especialmente quando a economia está em

Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil

baixa, o desemprego aumenta e cresce também a informalidade. Os trabalhadores podem não conseguir poupar para pagar o banco. O país tem hoje 13,4 milhões de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais de 1,2 milhão de pessoas entraram para a lista de desempregados nos primeiros três meses deste ano, em comparação com os últimos meses de 2018.

Propostas de Paulo Guedes para Previdência falharam em diversos países • De 193 países, apenas 30 privatizaram seus sistemas de Previdência Social, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Desses países, 18 já reverteram a privatização para o modelo estatal. • No Chile, a privatização da aposentadoria foi implantada em 1981. As mudanças foram coordenadas por José Piñera, que estudou na Universidade de Chicago, na mesma época que Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro. • Atualmente, os chilenos estão se aposentando com apenas um terço do salário mínimo. Se fosse aqui no Brasil, seria como receber em torno de R$ 300. As taxas de suicídio de idosos no Chile subiram e hoje estão entre as maiores do mundo. Fontes: Organização Internacional do Trabalho e Anfip | Foto: José Cruz/Agência Brasil


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Histórias de quem não sabe como vai se aposentar Katarina de Lima Fernandes

Nádia Cristina

Tempo de contribuição: Katarina passou a contribuir para a Previdência Social em 2018, quando assumiu uma vaga de residência em Psicologia. Ela começou trabalhar, no entanto, aos 15 anos, mas só teve carteira assinada aos 25 anos.

“Comecei a trabalhar aos 15 anos, dando aulas particulares na adolescência. Aos 20, passei a trabalhar vendendo doces”. Como é hoje: É possível se aposentar por idade (65 anos para homens e 60 para mulheres) ou após cumprir 35 anos de contribuição, no caso de homens, ou 30 anos, no caso de mulheres.

Se a reforma for aprovada: Não haverá mais aposentadoria por tempo de contribuição. Foi determinada uma idade mínima de aposentadoria, sendo 65 anos para homens e 62 anos para as mulheres, além de um período mínimo de contribuição de 20 anos. Se atender esses requisitos, o trabalhador terá direito a 60% da contribuição média. Se quiser receber 100% do valor, ele terá que contribuir ou ter carteira assinada durante 40 anos. No caso de Katarina, se ela conseguir ficar empregada com carteira assinada todos os anos até a aposentadoria, ela terá que trabalhar até os 62 anos, mas só receberá 60% da média de contribuição. Na regra atual, ela trabalharia até 57 anos e receberia 100% da média de contribuição.

Enzo Araújo de Melo

51 anos, professora de história da rede estadual do Paraná

25 anos, psicóloga em Cabo de Santo Agostinho (PE)

Nunca contribuí. Comecei a pensar nisso ano passado”

O Brasil de Fato conversou com pessoas que estão apreensivas com as possíveis mudanças na Previdência Social. Confira alguns cenários de aposentadoria:

Eu nem fiz o cálculo ainda por medo do que me espera” Tempo de contribuição: Nádia é professora há 22 anos. A primeira carteira assinada foi em 1987, aos 20 anos de idade, trabalhando em outras áreas.

Como é hoje: Professoras do serviço público podem se aposentar com benefício integral com 25 anos de contribuição e 50 anos de idade. Para professores, é 30 anos de contribuição e 55 anos de idade.

Se a reforma for aprovada: Para novos professores, sejam homens ou mulheres, a aposentadoria será a partir dos 60 anos de idade e 30 anos de contribuição. Nesse caso, porém, o valor será reduzido para 80% da média das contribuições previdenciárias. Para receber o valor integral, só contribuindo por 40 anos. No caso de Nádia, se a reforma for aprovada este ano, ela só poderá se aposentar a partir de 56 anos, mesmo quando atingir, pelas regras atuais, a idade e o tempo de contribuição.

21 anos, estagiário e garçom em Bangu (RJ)

Eu nunca vou aposentar na minha vida. É isso que eu estou vendo” Tempo de contribuição: Começou a trabalhar aos 16 anos, mas nunca teve carteira assinada. Mesmo assim, tinha planos de se aposentar quando completasse 50 anos.

“Depois de muitos anos de trabalho, nós merecemos a aposentadoria para que possamos aproveitar o resto de nossas vidas e descansar o corpo e a alma”. Como é hoje: É possível se aposentar por idade (65 anos para homens e 60 para mulheres) ou após cumprir 35 anos de contribuição, no caso de homens, ou 30 anos, no caso de mulheres.

Se a reforma for aprovada: Não é possível prever os termos da aposentadoria de Enzo ou mesmo se ele irá se aposentar, pois ele ainda não começou a contribuir para a Previdência Social.

E no campo...

Para os idosos

Trabalhadores rurais, mulheres e homens, passam a ter a mesma idade para aposentadoria: 60 anos. Hoje, as mulheres no campo podem pedir aos 55 e homens, aos 60. No lugar de ter de provar 15 anos de atividade rural, terão de contribuir por 20 anos com, no mínimo, R$ 50 mensais por pessoa.

A proposta enviada pelo governo Bolsonaro quer que idosos sem meios de se sustentar aguardem até os 70 anos para receber integralmente o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Hoje, é pago um salário mínimo a partir de 65 anos. Bolsonaro quer pagar R$ 400 a partir dos 60 anos de idade, e não o mínimo.


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Antonio Cruz | ABr

A Previdência é viável:

o que falta ser feito

Especialistas e entidades, como as centrais sindicais e a Associação Nacional de Auditores Fiscais (Anfip), apontam alternativas que podem garantir os recursos necessários para que a Previdência atenda a todos

Calcular contribuição pelo faturamento ▶▶Hoje as empresas pagam a Previdência Social

sobre o valor da folha de pagamento, considerando o total de trabalhadores. Muitos setores da economia, no entanto, por conta do desenvolvimento tecnológico, conseguiram aumentar o faturamento e cortar postos de trabalhos. Os bancos e as montadoras de carros são exemplos dessa situação. A Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (Cobap) defende que uma solução para a Previdência seria calcular a contribuição previdenciária das empresas pelo faturamento delas, e não pela folha de pagamento. Assim, setores com um pequeno número de trabalhadores, mas com alta produtividade média, pagariam um valor maior para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

ESPECIAL REFORMA DA PREVIDÊNCIA Para saber mais sobre Previdência Social e as mobilizações contra a proposta do governo, acesse o site especial do Brasil de Fato

Taxar grandes fortunas ▶▶O Imposto de Renda também aprofunda a

desigualdade entre ricos e pobres. Esse imposto possui caráter progressivo para quem recebe até 40 salários mínimos. Isso significa que, após atingir o valor de aproximadamente R$ 39 mil, o tributo passa a ser regressivo. Quer dizer que quanto maior o salário, menos a pessoa paga. Se houvesse tributação sobre grandes fortunas e patrimônio, os ricos pagariam mais ao Estado. Essa arrecadação poderia ser destinada ao fortalecimento da Previdência e outros gastos sociais.

Cobrar contribuições do agronegócio ▶▶Defendidas arduamente pela bancada rura-

lista no Congresso Nacional, as empresas desse setor, atualmente, concentram suas vendas no exterior, e não precisam recolher a contribuição previdenciária. Quando a venda é para o mercado interno, elas pagam uma alíquota de 2,6% sobre o faturamento. Tais exportações atingiram um recorde de mais de R$ 408 bilhões em 2018.

Cortar isenções das empresas ▶▶Grande parte das empresas brasileiras foram

liberadas de parte da contribuição previdenciária patronal na folha de pagamento. Essa desoneração é dada aos empresários com a justificativa de que a diminuição da carga tributária das empresas irá potencializar a economia. Empresas com grandes lucros, no entanto, acabam contribuindo muito menos do que deveriam. Segundo cálculos da Receita Federal, as isenções custam à Previdência cerca de R$ 242 bilhões por ano.

Cobrar mais dos mais ricos ▶▶Quase 50% da carga tributária brasileira está

concentrada nos impostos indiretos, que são taxas inseridas nos preços de toda e qualquer mercadoria. Por exemplo: ao comprar um quilo de arroz, um trabalhador paga o mesmo imposto que um grande empresário. Ou seja, essa compra pesa mais no bolso de quem tem menos dinheiro. Além disso, desde 1996, os impostos sobre lucros e dividendos das pessoas físicas são isentos na declaração do imposto de renda. Ou seja, ao declarar determinado bem como lucro ou dividendo, não há tributação. A maior parte dos endinheirados recorre a essa opção.

Não pagar

juros aos bancos ▶▶Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, a dívida pública pode chegar a R$ 4,3 trilhões em 2019. No ano passado, o governo pagou R$ 352,2 bilhões com juros da dívida. Entre 2011 e 2014, nove bancos se revezaram entre os cinco principais credores da dívida pública brasileira: Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal, HSBC, Goldman Sachs (EUA), Itaú, Unibanco e Citibank. Ou seja: todos os anos, o governo se compromete a pagar uma fortuna a bancos que já possuem uma margem de lucro enorme, submetendo-se aos juros abusivos do mercado financeiro.


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Quem são os estudantes das universidade federais

70%

são de famílias de baixa renda

Corte em pesquisas

▶▶Não é só a assistência estudantil que poderá

62%

Mauro Pimentel | AFP

ser impactada pelos cortes. A diminuição de bolsas de pesquisa pode interromper estudos sobre câncer, dengue e HIV no Rio de Janeiro. A Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Federal do Rio de Janeiro estão entre as instituições de referência que serão prejudicadas com as medidas do Ministério da Educação.

Redução do orçamento atinge diferentes áreas, como assistência estudantil, custeio das instituições e pesquisas científicas

▶▶Natural de Cabo Frio, na região dos Lagos,

Thaís Marques, 19 anos, se mudou para Niterói, no Rio de Janeiro, para estudar Jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF). Para se manter na universidade e ajudar a irmã, que é estudante do curso de Biomedicina, ela compartilha seu único ganho: uma bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no valor de R$ 400. “Entramos numa fase bem difícil financeiramente porque meu pai ficou desempregado. Em 2018, começamos a fazer ‘coisas por fora’, vender bolo, fazer trança. Já aconteceu de a gente pegar o dinheiro e ir direto para o mercado comprar o que comer”, conta. Recorrer aos “bicos” para se manter na universidade é um caminho comum de muitos estudantes da graduação. “E essa situação pode piorar. O corte de verba anunciado pelo Ministério da Educação traz a perspectiva de que o orçamento do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) não avance”, alerta Cassiana Simões, coordenadora de assistência estudantil da universidade. Ela aponta que o perfil socioeconômico ainda é determinante para permanência na universidade. Ainda que tenha impacto direto nas verbas que são destinadas a pagar contas de água, luz e serviços terceirizados, o corte no MEC também poderá atingir os alunos que fazem parte do Pnaes. O programa, criado em 2008 pelo governo Lula, apoia a permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de graduação das instituições federais de ensino superior com auxílio moradia, alimentação, transporte e creche.

Educação sob ataque

▶▶Para o professor aposentado Paulo Arantes,

do departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), “depois dos cortes, virá a privatização do ensino". Ele aponta que, com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), a educação pode ser atingida pelos planos do ministro da Economia, Paulo Guedes, que defende a transferência das políticas de Estado para a iniciativa privada. A irmã do ministro, Elizabeth Guedes, é presidenta da Associação Nacional de Universidades Privadas (Anup), entidade que representa monopólios educacionais privados.

Manobra

▶▶Após anunciar cortes em torno de 30% do

orçamento da Educação, Bolsonaro disse que liberaria uma verba de R$ 1,6 bilhão para que fossem reinvestidos no setor. A professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Esther Dweck, afirma, no entanto, que não houve recuo, mas sim uma manobra do governo para simular uma devolução do valor. “Em 2 de maio, o governo fez um corte que não contou para ninguém. Foram mais R$ 1,6 bilhão, além dos R$ 5,8 bilhões anunciados em março. Eles fizeram esse bloqueio preventivo sem anúncio. Em 22 de maio, quando saiu o relatório bimestral, que avalia o que está acontecendo com as receitas e despesas, eles viram que não era necessário fazer esse bloqueio extra de R$ 1,6 bilhão e devolveram esse valor. O corte está mantido, não houve recuo”, apontou a professora.

são filhos de mães que não têm curso superior

51%

são negros

Concluíram o ensino médio em escola pública:

2003

2019

37%

60%

Cortes na educação 30 DE ABRIL

Governo anuncia corte de 30% no orçamento de três universidades públicas (UnB, UFBA e UFF) com justificativa de “balbúrdia”.

1° DE MAIO

Ministro da Educação, Abraham Weintraub, estende cortes para todas instituições federais. Um total de R$ 5,8 bilhões.

2 DE MAIO

Bolsonaro bloqueia mais R$ 1,6 bilhão sem fazer anúncio. Corte total chega a R$ 7,4 bilhões.

15 DE MAIO

Greve Nacional da Educação reúne milhões de pessoas em todos os estados.

22 DE MAIO

Governo desbloqueia R$ 1,6 bilhão do orçamento da Educação. Corte de R$ 5,8 bilhões é mantido.

30 DE MAIO

Novo ato nacional mobiliza 1,8 milhão de pessoas contra cortes na educação e reforma da Previdência.

Fonte: Andifes

Bolsonaro ameaça a educação pública


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Paulo Freire: mestre da educação ▶▶O educador pernambucano, autor de quase

Ato em São Paulo em frente ao MASP, no dia 15 de maio, contra cortes em universidades públicas

Mídia NINJA

Atos lotam ruas em defesa da educação ▶▶Dois grandes atos em defesa da Educa-

ção, nos dias 15 e 30 de maio, mobilizaram juntos mais de 3 milhões de pessoas em cerca de 200 cidades em todos os estados. O Levante pela Educação reagiu aos cortes de mais de 30% em instituições federais de todo o país. Os manifestantes também protestaram contra a proposta de reforma da Previdência, que ameaça o direito à aposentadoria. A próxima mobilização está marcada para 14 de junho com a greve geral contra a reforma da Previdência. “Não é só [corte] nas universidades públicas. Vai desde a educação infantil até a pós-graduação. O que está por trás? A privatização. Pagar mensalidades nas universidades. Isso nós não vamos permitir. Quem produz ciência e tecnologia para a sociedade são as universidades públicas. Elas são um patrimônio público porque são pagas com impostos”, disse a deputada estadual Maria Izabel

Manifestações reivindicam prioridade do governo para educação

Noronha, a Bebel (PT), que é presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).

Cortes na educação básica

▶▶Em 2007, os investimentos no Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) eram de R$ 6 bilhões. Em 2013 e 2014, o orçamento chegou a R$ 17,5 bilhões, incluindo também construção de creches e escolas em tempo integral. Hoje, o orçamento está em R$ 5 bilhões. “Essa foi a maior queda proporcional, sem dúvida alguma”, apontou Esther Dweck, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Nelson Almeida | AFP

40 obras, é um dos brasileiros mais homenageados no mundo. Paulo Freire ganhou dezenas de títulos de doutor honoris causa de universidades da Europa e da América. Em 1986, recebeu o prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para a Paz. O modelo educacional de Paulo Freire, patrono da Educação Brasileira, parte do princípio da humanização do ensino e do reconhecimento da história e da cultura do aluno que, junto com o professor, vai construindo o processo de aprendizagem. Em vez de cartilhas, ele trabalhava conceitos da realidade. Para um trabalhador rural que pouco cultivou as letras, mais do que juntar as sílabas e compreender que está escrito ‘tijolo’, por exemplo, era necessário entender quem faz o tijolo, quem são os que constroem as casas e quem são os donos delas. Durante a ditadura civil-militar brasileira (1964 - 1985), o método de alfabetização do pedagogo foi considerado uma ameaça à ordem. Paulo Freire precisou ficar exilado durante 16 anos em outros países. A obra revolucionária do educador faz com que ele seja o terceiro cientista brasileiro mais citado em trabalhos acadêmicos da área de humanas no mundo, segundo levantamento do Google Scholar.

Arquivos Paulo Freire


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Trabalhadores farão greve geral em 14 de junho Mais de 40 milhões cruzaram os braços contra a reforma da Previdência em 2017

▶▶Pesquisa do Instituto Datafolha, de abril,

aponta que 51% dos brasileiros são contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n°6 apresentada ao Congresso Nacional por Jair Bolsonaro (PSL). Nos últimos anos, apesar da insistência dos governos de Michel Temer

ARMANDINHO

(MDB) e Bolsonaro para aprovar mudanças na aposentadoria, as mobilizações de trabalhadores têm resistido às alterações. Um exemplo é a greve geral de 2017, que impediu que o texto proposto por Temer fosse à votação. Uma nova greve está marcada para 14 de junho. Todas as centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo se uniram com a promessa de parar inúmeras categorias e mobilizar movimentos populares, assim como foi em 2017. Alexandre Beck

Algumas categorias que vão parar: ▶▶ Motoristas de ônibus, ferroviários e metroviários

▶▶ Metalúrgicos

▶▶ Professores de instituições públicas

▶▶ Trabalhadores da construção civil, da indústria têxtil e da alimentação

▶▶ Petroleiros

▶▶ Químicos

COMO PARTICIPAR →→ Enviar mensagens nas redes sociais →→ Conversar com amigos e familiares →→ Participar de atividades das centrais sindicais ou de movimentos populares →→ Formar comitês de mobilizações na escola ou no trabalho →→ Participar de assembleias da sua categoria →→ Paralisar atividades no dia 14 de junho Fonte: Frente Brasil Popular

Ato em defesa da educação no dia 15 de maio em Brasília. Manifestações mobilizaram milhões de pessoas em todos os estados contra cortes de 30% em instituições federais. Entidades sindicais e movimentos populares apostam que os protestos reforçam a adesão à greve geral de 14 de junho. A ideia é repetir a greve contra o fim da aposentadoria em 28 de abril de 2017, quando 40 milhões de trabalhadores paralisaram as atividades. Sérgio Lima | AFP

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Expediente: Edição especial. Circulação nacional gratuita. Junho/2019 | Reportagem: Ana C aldas, C amila Maciel, Clívia Mesquita, Juca Guimarães, Lu Sudré, Mariana Pitasse e Vinícius Sobreira | Edição: C amila Maciel e Nina Fideles | Revisão: Bia Pasqualino | Jornalista responsável: Nina Fideles (MTB 6990/DF ) | Artes e diagramação: Fernando Badaró, Fernando Bertolo e Michele Gonçalves | Contato: brasildefato.com.br / jornalismo@brasildefato.com.br


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