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10 | mobilizações

julho de 2013

Mobilizações pedem 10% do PIB para a saúde

PROTESTOS Maiores investimentos, contratações de novos profissionais e melhoras na estrutura são algumas das medidas que precisam ser tomadas para se melhorar a saúde no país Jadson Marque/Folhapress

José Coutinho Júnior de São Paulo (SP)

Uma das principais reivindicações nas ruas tem sido a melhoria da saúde pública no Brasil, com a destinação de 10% dos recursos do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor. O Sistema Único de Saúde (SUS), apesar de gratuito, apresenta várias deficiências e ainda está longe de ser um sistema que de fato consiga atender às necessidades de todo o povo brasileiro. Parte disso se deve ao subfinanciamento do sistema pelo governo: apenas 4% do PIB é investido na saúde pública, que atende a 68% dos brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). “É impossível termos um sistema público, universal e de qualidade com

a quantia de recursos investidos hoje no Brasil”, afirma o médico e diretor do Sindicato dos Servidores Públicos de Belo Horizonte (Sindibel) Bruno Abreu Gomes.

“É impossível termos um sistema público, universal e de qualidade com a quantia de recursos investidos hoje no Brasil” Segundo ele, o setor privado investe mais que o dobro do que o público, e ele atende no máximo 40 milhões de pessoas, e os outros 150 milhões de brasileiros ficam a cargo do SUS. “Cuba, Noruega e Canadá inves-

Protestos pedem a melhoria da saúde pública, com a destinação de 10% dos recursos do PIB

tem pelo menos 10% do seu PIB em saúde pública”, garante. O sistema de saúde privado também é responsável por limar re-

cursos do setor público. Os planos de saúde, utilizados por 24% da população, segundo o Ibope, cobrem procedimentos mais simples e rentáveis,

e negam aos pacientes atividades de alto custo, como transplantes e quimioterapias, que acabam sendo feitas pelo SUS. Além disso, usuários

de planos de saúde conseguem isenção de imposto, o que diminui a receita do setor público. Os recursos insuficientes criam um dos principais problemas do SUS: a estrutura precária. “O serviço de urgência e emergência é um grande gargalo. Em um hospital de grande porte, encontramos macas pelos corredores, profissionais sobrecarregados, subvalorizados, e muitas vezes ausência de equipamentos e profissionais adequados para resolver esses problemas”, afirma Bruno Abreu. A baixa quantidade de leitos hospitalares é também um grave problema. De acordo com o primeiro vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, a maioria dos hospitais do país possui em média 50 leitos, quando o ideal seria entre 150 e 200.

Médicos estrangeiros, uma alternativa Governo planeja trazer médicos de países como Cuba, Portugal e Espanha, para atuar nas regiões mais carentes de São Paulo (SP)

Outro grave problema é a falta de médicos e a sua má distribuição pelo país. De acordo com uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o número de médicos aumentou de 59 mil para 400 mil (aumento de 557%) nos últimos 40 anos, chegando a dois profissionais para cada 1.000 habitantes; no entanto, sua distribuição é desigual. Enquanto a região sudeste tem 2,7 médicos

para cada mil habitantes, a região nordeste tem metade desta quantia. Para suprir essa demanda, o governo planeja trazer médicos de diversos países, como Cuba, Portugal e Espanha, para atuar com medicina preventiva nas regiões mais carentes de médicos e de estrutura. A medida tem causado polêmica em muitos setores, inclusive no Conselho Federal de Medicina, que afirma que a vinda dos médicos seria uma falsa solução aos proble-

“Não dá para falar em saúde sem transporte público de qualidade, sem moradia de qualidade, políticas públicas e trabalho digno” mas da saúde, além de desvalorizar o profissional brasileiro. Segundo Bruno Abreu,

hoje a distribuição dos médicos é regulada pelo mercado, não pelas necessidades das pessoas. “Para aumentar a quantidade de profissionais atuando pelo país, apoiamos a vinda de médicos estrangeiros para trabalhar no Brasil, desde que venham atender à população carente e desassistida e desde que o governo não abra mão da tarefa de formar médicos brasileiros”, pondera. “Precisamos urgentemente ampliar vagas em escolas de medicina, fa-

cilitando o acesso de jovens pobres, negros e de periferia, que muitas vezes não têm o acesso a uma escola de medicina”, alerta. Além de maior investimento financeiro, é preciso que se mude a forma de pensar a saúde no país. Um dos princípios do SUS, ainda não cumprido, é a regionalização da saúde. Ou seja, ao invés de investir em grandes hospitais, que não dão conta de atender a todos, privilegiaria hospitais locais e postos

de saúde, em constante contato para resolver os casos de forma preventiva. Para Bruno Abreu, também é preciso que se pense a saúde para além de serviços médicos. “Não dá para falar em saúde sem transporte público de qualidade, sem moradia de qualidade, políticas públicas e trabalho digno; saúde é condição de vida. Outras políticas e o atendimento de direitos sociais são fundamentais ao povo”, conclui. (JCJ)


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