Edição 010 do Brasil de Fato RJ

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brasil | pág. 7

entrevista | pág. 4

Maioria apoia Constituinte

Sistema penal só “A presidente do para os pobres Brasil é a Fifa”

A presidenta Dilma Rousseff propõe um plebiscito para que a população decida sobre a convocação de uma assembleia constituinte, que discutiria uma reforma política para o país.

Os pobres só são enxergados como assunto de polícia. Segundo a professora Vera Malaguti, as UPPs , por exemplo, geram o policiamento da vida cotidiana do povo das favelas.

Antônio Araújo/Câmara dos Deputados

esporte | pág. 15

Edição

O baixinho Romário fala como a relação entre Copa do Mundo e política tem violado a soberania do país para satisfazer os lucros privados de uma entidade internacional.

Uma visão popular do Brasil e do mundo

Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013 | ano 11 | edição 10 | distribuição gratuita | www.brasildefato.com.br | facebook.com/brasildefato Celso Pupo/Folhapress

esporte | pág. 16

cidades | pág. 9

Trabalhadores querem parar o país no dia 11 Os protestos em todo o país deverão assumir uma nova etapa. No dia 11 de julho, quinta-feira da semana que vem, centrais sindicais e movimentos sociais farão, na Candelária, grande ato da classe trabalhadora. Na mesma data, as organizações sociais e sindicais estão mobilizando os trabalhadores para o “Dia Nacional de Luta”, com paralisações, greves, atos e manifestações em todo o país. Jose Lirauze/ABI

cultura | pág. 12

Wilson Moreira busca patrocínio Compositor de clássicos das rodas de samba, como Senhora Liberdade e Gostoso Veneno, está à procura de patrocínio para um novo disco, agora com composições inéditas.

mundo | pág. 10

Botafogo vence Figueirense Um gol solitário de Rafael Marques garantiu a vitória

Bolívia culpa EUA por crise Governo boliviano denuncia que os EUA estão por trás do pouso forçado do avião de Evo Morales na Áustria, por suspeita de que ex-técnico da CIA, Edward Snowden, estivesse a bordo. O vice-presidente boliviano Álvaro Linera


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Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

editorial | Brasil

Paralisação nacional por reformas e mudanças OS PROTESTOS que eclodiram pela indignação da juventude serviram para provocar muitas mudanças na política brasileira. O governo Dilma teve que sair de seu pedestal e veio dialogar com as ruas propondo uma reforma política, uma constituinte e um plebiscito popular. E, finalmente, passou a se reunir com todos os setores organizados. As elites, através da Rede Globo, tentaram controlar as ruas e dar uma pauta direitista. Tampouco conseguiram. Tentaram atiçar uma polícia despreparada e infiltrar

Dia 11 é dia de todo o povo ir para a rua e lutar por mudanças econômicas e sociais para o Brasil

grupos fascistas e serviços de inteligência das polícias para provocar violência e descaracterizar o movimento. Também, tampouco conseguiram. Quanto mais reprimem, mais o povo fica revoltado. A juventude nas ruas teve um só pon-

to unitário: fora a Rede Globo! Agora, chegou a vez do povo organizado nos movimentos sociais, nas pastorais e no movimento sindical. Pela primeira vez, depois da derrota de 1989, não se via uma unidade popular tão ampla. Nos últimos dias, diversas plenárias nacionais uniram partidos de esquerda, todos, todas as centrais sindicais, e mais de 70 movimentos sociais organizados. E dessa unidade tirou-se uma plataforma política comum, que extrapola a luta pelo transporte público gratuito e de qualidade e avança para

as reformas estruturais de que a classe trabalhadora precisa e luta há muito tempo. Há uma prioridade que é fazer a reforma política, que abarque desde a exclusividade do financiamento público de campanha até o direito da população de convocar plebiscitos populares sobre qualquer tema, com um por cento dos eleitores. Portanto, precisamos lutar pelo plebiscito popular e pela realização de uma constituinte que possam avançar ainda mais nas reformas estruturais. E, para pautar todos esses temas entre a classe trabalha-

dora, foi marcado o 11 de julho como um dia nacional de luta. Precisamos nos organizar, nos mobilizar, e transformar essa data numa grande mobilização popular, que consiga brecar os setores conservadores na mídia, no Judiciário e no Congresso. E pressionar o governo para que tenha coragem de avançar ainda mais, e conseguir de fato mudanças na melhoria das condições de vida de toda a população. Portanto, dia 11 é dia de todo o povo ir para a rua e lutar por mudanças econômicas e sociais para o Brasil.

editorial | Rio de Janeiro

Só o povo pode mudar o jeito de se fazer política O FINANCIAMENTO das campanhas eleitorais no Brasil por parte dos capitalistas está por trás de boa parte dos esquemas de corrupção. É simples de entender: o endinheirado financia o candidato, que, uma vez eleito, compensa o “padrinho” com negócios e vantagens às custas do dinheiro público. E como as campanhas estão cada vez mais caras, cresce a cada eleição a influência do poder econômico nas eleições, deformando o resultado dos pleitos. É por isso que as bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado são formadas, em sua maioria, por representantes dos megaempresários, dos latifundiários e dos banqueiros. Esses parlamentares – que defende interesses contrários aos do povo brasileiro – vêm impedindo, ao longo da história, a tramitação e a aprovação de projetos relevantes para a população, capazes de mudar para melhorar a vida das

Redação Rio: redacaorj@brasildefato.com.br

Para anunciar:

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Os inimigos da reforma política já mostram suas garras na imprensa, no Judiciário e no Congresso, o que, na verdade, não é nenhuma surpresa

pessoas. Não é à toa que, entra ano sai ano, o Congresso debate projetos de reforma política, mas na “hora h” engaveta as propostas, mantendo tudo como está. A proposta de plebiscito popular encaminhado pela presidenta Dilma ao Congresso é, portanto, uma oportunidade de ouro para que o povo tome para si a responsabilidade de mudar os destinos do país, abrindo caminho para uma legislação eleitoral e partidária sintonizada com os anseios da população e com a soberania popular. O exercício da atividade político-parlamentar tem de dei-

xar de ser privilégio dos que podem desembolsar rios de dinheiro nas campanhas e se transformar num instrumento de afirmação da cidadania, ao alcance de todos. Longe de onerar os cofres públicos, o financiamento público das campanhas eleitorais certamente contribuirá para livrar o erário público das investidas de corruptos e corruptores. Também o voto em lista fechada significaria um importante passo no sentido de valorizar os programas e o perfis ideológicos dos partidos, em detrimento das carreiras individuais e campanhas personalizadas, marcas registradas da

política atualmente. Temos uma grande batalha pela frente. Os inimigos da reforma política já mostram suas garras na imprensa, no Judiciá-

rio e no Congresso, o que, na verdade, não é nenhuma surpresa. Essa elite mesquinha e preconceituosa sempre teve urticária só de ouvir falar em soberania popular.

Editor-chefe: Nilton Viana • Editores: Aldo Gama, Marcelo Netto Rodrigues, Renato Godoy de Toledo • Subeditor: Eduardo Sales de Lima • Repórteres: Marcio Zonta, Michelle Amaral, Patricia Benvenuti • Correspondentes nacionais: Maíra Gomes (Belo Horizonte – MG), Pedro Carrano (Curitiba – PR), Pedro Rafael Ferreira (Brasília – DF), Vivian Virissimo, Daniel Israel e Cláudia Santiago (Rio de Janeiro –RJ) • Correspondentes internacionais: Achille Lollo (Roma – Itália), Baby Siqueira Abrão (Oriente Médio), Claudia Jardim (Caracas – Venezuela) • Fotógrafos: Carlos Ruggi (Curitiba – PR), Douglas Mansur (São Paulo – SP), Flávio Cannalonga (in memoriam), João R. Ripper (Rio de Janeiro – RJ), João Zinclar (in memoriam), Joka Madruga (Curitiba – PR), Leonardo Melgarejo (Porto Alegre – RS), Maurício Scerni (Rio de Janeiro – RJ) • Ilustrador: Latuff • Editor de Arte: Marcelo Araujo • Revisão: Marina Tavares Ferreira • Jornalista responsável: Nilton Viana – Mtb 28.466 • Administração: Valdinei Arthur Siqueira • Endereço: Al. Eduardo Prado, 676 – Campos Elíseos – CEP 01218-010 – Tel. (11) 2131-0800/ Fax: (11) 3666-0753 – São Paulo/SP – redacao@brasildefato.com.br • Gráfica: Info Globo • Conselho Editorial: Alipio Freire, Altamiro Borges, Aurelio Fernandes, Bernadete Monteiro, Beto Almeida, Dora Martins, Frederico Santana Rick, Igor Fuser, José Antônio Moroni, Luiz Dallacosta, Marcelo Goulart, Maria Luísa Mendonça, Mario Augusto Jakobskind, Milton Pinheiro, Neuri Rosseto, Paulo Roberto Fier, René Vicente dos Santos, Ricardo Gebrim, Rosane Bertotti, Sergio Luiz Monteiro, Ulisses Kaniak, Vito Giannotti • Assinaturas: (11) 2131– 0800 ou assinaturas@brasildefato.com.br


Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

Tiago Silva

opinião | 03

Luiz Dalla Costa

Precisamos lutar contra os leilões do petróleo

Igor Fuser

Ainda somos periferia DE ACORDO COM o Banco Mundial, o índice de pobreza no Brasil é de apenas 11, enquanto a pobreza “extrema” praticamente sumiu: 2,2%. Alguém acredita? Os critérios do banco definem como “pobre” quem ganha menos de US$ 2 dólares (R$ 4,44) por dia, ou R$ 134 por mês. Já a faixa da miséria corresponde a um rendimento diário inferior a US$1,25 dólares (menos de R$ 90 mensais). Isso significa que um casal com três filhos e renda mensal equivalente a um salário mínimo (R$ 678) já não pode mais ser considerado pobre, oficialmente. Parabéns! Foi com raciocínios des-

se tipo que as autoridades de Brasília passaram a trombetear, de alguns anos para cá, uma ascensão do nosso país no cenário internacional em escala similar à da suposta elevação social dos pobres e miseráveis na sociedade brasileira. Nosso novo status seria o de “país emergente”, legítimo candidato a uma vaga no clube dos ricos. Até mesmo a expressão “Brasil potência”, arquivada desde que a crise da dívida externa sepultou a megalomania da ditadura militar, voltou a aparecer na cena pública, aqui e ali. Foi necessário o atual tsunami político para que o país voltasse a se olhar no espelho.

Nossa economia está se desindustrializando e o capital estrangeiro prossegue o avanço iniciado no período neoliberal, com a compra maciça de empresas e de terras. A própria exploração do pré-sal, oportunidade ímpar para a conquista da autonomia, está sendo desperdiçada pelos leilões das reservas de petróleo, em benefício das transnacionais. O povo brasileiro só teria a ganhar se as autoridades admitissem que, na divisão global do poder e da riqueza, nosso lugar se situa ao lado dos países periféricos. Igor Fuser é jornalista e professor

João Brant

Sob efeito das ruas PASSAMOS POR DUAS semanas de intensa mobilização em centenas de cidades no Brasil. Os protestos, na verdade, continuam. A sensação é de um vulcão em erupção que continua soltando fumaça e pode voltar a emitir lava a qualquer momento. Estamos num momento com dois fluxos fortes: um é o de apropriação e questionamento da política, que faz os brasileiros fortalecerem seu protagonismo, coloca a política no centro de várias agendas e faz com que se abra uma enorme oportunidade de formação, com debates, assembleias populares etc. O segundo, que me parece tão importante quanto o pri-

meiro – e é a principal lição do Movimento Passe Livre – é a possibilidade de obter vitórias concretas a partir de mobilizações com uma pauta concreta, única, conquistável e que parta da conjuntura dada, não da imaginada. Ou, nas palavras de uma turma que sabia bem o que fazia, a análise concreta da situação concreta. Abandonar essa segunda linha em nome do velho modelo da esquerda de mobilizações por mil pautas genéricas me parece um grande erro. O movimento se alimenta de vitórias, e precisa encontrar centralidade nas suas ações. Ao mesmo tempo, não adianta acharmos que a pauta se define de cima pra baixo.

É preciso lançar fagulhas, balões de ensaio, e testar hipóteses. Mas não devemos deixar de orientar nossa busca dessa pauta forte que una e ajude a envolver parte da turma com pouca formação política que está nas ruas. A esquerda não tem, e nem deve ter, o monopólio das ruas. Vamos aproveitar este momento e fazer a disputa em cima dos temas que representam a democratização da política e a conquista de direitos civis, políticos e sociais. João Brant é radialista, membro da Coordenação Executiva do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.

NA HISTÓRIA DO BRASIL veremos que uma das grandes mobilizações do povo brasileiro foi a denominada luta O Petróleo é nosso!, que culminou com a criação da Petrobras no ano de 1953, juntamente com a aprovação do monopólio do petróleo para a União. Em 1997, durante a ofensiva neoliberal, o governo FHC modificou a lei para atender aos interesses das petrolíferas de países importadores do petróleo, como os Estados Unidos e a Europa, abrindo a possibilidade para empresas privadas realizarem a exploração em território nacional. Este cenário de disputa se ampliou no Brasil a partir de 2006, ano em que a Petrobras anunciou uma das maiores descobertas de petróleo do mundo, uma extensa área petrolífera localizado na área do pré-sal na costa brasileira, que segundo o Presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Moraes, pode chegar a uma reserva de 100 bilhões de barris.

Convocamos todo o povo brasileiro, em especial a juventude, para lutar contra os leilões do petróleo; esta riqueza do pré-sal é estratégica para o país

Recentemente, o governo brasileiro anunciou que irá leiloar parte do pré-sal em outubro deste ano, o chamado campo de Libra, onde se prevê a existência de 12 bilhões de barris, praticamente a mesma quantidade que havia sido descoberta em 59 anos da Petrobras. O interesse é exportar petróleo bruto, sem industrialização no Brasil. Segundo o Dieese, os lucros com a exploração dessa reserva podem chegar a 840 bilhões de dólares (R$ 1,8 trilhões), dos quais, pelo regime de partilha, parte ainda pode ficar com o Estado. Entretanto, os royalties representam menos de 10% de tudo isso. Esta enorme riqueza do petróleo descoberto na área do pré-sal é estratégica para o país. Pode ser de controle público ou privatizá-lo. Pode promover a industrialização ou exportar petróleo bruto. Pode enriquecer as empresas privadas internacionais ou resolver os problemas sociais que as manifestações populares estão reivindicando nas ruas. As perguntas que estão colocadas neste momento são: devemos leiloar, privatizando e entregando o nosso petróleo para as empresas multinacionais? Devemos exportar petróleo bruto além das nossas necessidades de consumo só para satisfazer os países que são grandes consumidores como os Estados Unidos e a Europa? Nossa resposta é NÃO! Nem leiloar, nem privatizar e nem exportar petróleo bruto para sustentar a grande indústria mundial do petróleo. O petróleo tem que ser nosso! Por isso, convocamos todo o povo brasileiro, e neste momento em especial a juventude do nosso país, para lutar com todas as forças contra os leilões do petróleo. Luiz Dalla Costa é da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)


04 | entrevista

Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

Sistema penal historicamente se voltou contra os pobres JUSTIÇA Segundo a professora Vera Malaguti Batista, os pobres só são enxergados como assunto de polícia. Segundo ela, as UPPs são um exemplo disso, pois geram o policiamento da vida cotidiana do povo das favelas conferenciadrogas2011.wordpress.com

Ou seja, são dois elementos fundamentais para que as coisas continuem do jeito que estão. Por isso, atacam e criminalizam quem questiona o sistema. É o caso de movimentos sociais, como o MST. Em vez de se questionar o que leva as pessoas para a rua, cria-se um pensamento de que só é possível fazer justiça pelo sistema penal. E isso esconde os conflitos sociais que estão por trás.

Sheila Jacob do Rio de Janeiro (RJ) Nas últimas semanas, manifestações encheram as ruas de diversas capitais no Brasil para exigir a redução do preço das passagens e outros direitos. Nesses atos, a violência policial ficou evidente porque atingiu parte da população normalmente afastada da repressão que ocorre diariamente nas favelas. Em entrevista ao Brasil de Fato, a professora Vera Malaguti Batista, do Instituto Carioca de Criminologia (ICC), critica o aumento do poder de punição em vez de se garantir uma verdadeira segurança, que passa pela garantia de direitos como saúde, educação, transporte, moradia, lazer etc. Segundo ela, a repressão é histórica e sempre se voltou contra os pobres e os militantes sociais. “Eu diria que o poder punitivo e a mídia comercial são o centro do poder do capitalismo contemporâneo. Ou seja, são dois elementos fundamentais para que as coisas continuem do jeito que estão”, afirma a professora. Brasil de Fato – Como a senhora avalia o sistema penal? Vera Malaguti – Ao analisarmos pelo viés marxista a história de crimes e punições, entendemos que o sistema penal foi criado para controlar a força de trabalho dos pobres e para servir ao processo de acumulação do capital. Ele é completamente seletivo desde sua origem, ou seja, é voltado para um determinado grupo. No Brasil, isso está bastante evidente. Bas-

A professora Vera Malaguti Batista

“Países seguros não são aqueles que têm grande contingente policial, mas sim os que garantem saúde, educação, transporte, moradia, lazer etc.” ta analisar quem está nas prisões para vermos que é uma juventude pobre, negra e favelada. Também existe a perseguição aos movimentos sociais... Os militantes sempre foram vistos como criminosos. Isso se torna mais evidente hoje com as grandes manifesta-

ções que estão tomando as ruas. Mesmo que seja um movimento complicado, com várias faces, muitos dos que participam das marchas são vistos como perigosos pelo simples fato de protestarem. Um dos problemas dos governos Lula e Dilma foi ampliar o estado de polícia. Países seguros não são aqueles que têm grande contingente policial, mas sim os que garantem saúde, educação, transporte, moradia, lazer etc. O fato de o sistema penal se voltar contra determinado grupo faz parte da nossa história, não é? A primeira prisão no Brasil foi feita para escravos e africanos. Nossas polícias foram criadas e desenvolvidas para conter essas populações.

Carregamos a marca dessa história no nosso pensamento coletivo. Até a década de 1930, só o homem branco e proprietário era considerado cidadão. O conceito de cidadania se ampliou depois, mas não no estado punitivo. Os pobres só são enxergados como assunto de polícia. As UPPs são um exemplo disso, pois geram o policiamento da vida cotidiana do povo

das favelas. E qual o papel da mídia comercial para justificar essas ações? Os jornais e canais de maior audiência legitimam essa “adesão subjetiva à barbárie”. Criam um espetáculo que faz com que se comemore quando alguém é preso. Eu diria que o poder punitivo e a mídia comercial são o centro do poder do capitalismo contemporâneo.

Recentemente o advogado do Thor Batista disse que ele foi condenado apenas por ser rico. Como a senhora avalia essa declaração? Ele quis dizer que deve-se julgar alguém pelo que fez, e não pelo que é. Por ironia, é isso que ocorre diariamente com a população que pertence a uma classe distinta da do cliente dele, porque milhares de pessoas são condenadas diariamente por sua cor, onde moram e quanto ganham. É claro que o Thor precisa ser julgado e responder pelo crime que cometeu, mas para a gente o que interessa mesmo é que o pai dele [Eike Batista] deixe de ser o dono do Rio de Janeiro. A nós interessa que as decisões públicas parem de servir a interesses privados e sirvam à população. Reprodução

“A nós interessa que as decisões públicas parem de servir a interesses privados e sirvam à população”


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cidades | 05

Manifestações tomam conta do Rio PROTESTO No dia 11 de julho, quinta-feira da semana que vem, centrais sindicais e movimentos sociais farão na Candelária grande ato da classe trabalhadora; a atividade faz parte do Dia Nacional de Luta Pablo Vergara

ria de Souza, presidenta da Associação de Moradores e Amigos do Horto (Amahor), este é o primeiro de vários atos que irão ocorrer no Rio, pois as favelas ameaçadas de remoção precisam lutar pelo direito de o trabalhador residir em áreas nobres que estão sendo entregues à especulação imobiliária.

Vivian Virissimo do Rio Janeiro (RJ) Depois que um milhão de cariocas saíram às ruas, muitas outras manifestações já ocorreram na cidade e com diferentes bandeiras. O próximo grande ato já tem data e local definidos: será no dia 11 de julho, quinta-feira, na Candelária. Na mesma data, centrais sindicais e movimentos sociais estão mobilizando os trabalhadores para o “Dia Nacional de Luta”, com paralisações, greves, atos e manifestações em todo o país. Confira algumas bandeiras que colocaram o povo do Rio na rua nos últimos dias: Fora Globo: pela democratização dos meios Protestos contra a Rede Globo foram convocados no Rio e em São Paulo nesta quarta-feira (3). “Nossa principal crítica é a manipulação da cobertura das recentes manifestações, que desqualifica grupos progressistas e enaltece os conservadores”, contou Arthur William, integrante da Fale Rio que, junto com o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), convocou o ato no Rio. Os manifestantes também destacaram a denúncia que a Rede Globo sonegaria impostos à Receita Federal e coletaram assinaturas para o Projeto de Iniciativa Popular (PLIP) do novo marco regulatório da mídia. “Uma sociedade só é democrática se o direito à comunicação estiver garantido”, afirmou.

Ato reuniu cerca de 2 mil manifestantes na Avenida Brasil diante da favela Nova Holanda, local da chacina

Chacina da Maré: pela desmilitarização da polícia Um ato ecumênico realizado nesta terça-feira (2) reuniu 2000 pessoas que criticaram a ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que resultou na morte de 12 moradores do Conjunto de Favelas da Maré. A mobilização aconteceu na Av. Brasil, em frente à favela Nova Holanda, local da chacina. Organizado por entidades da Maré, a manifestação “Estado que mata, nunca mais!” lamentou as mortes e pediu a desmilitarização da polícia. A chacina ocorreu segunda-feira (24), quando um protesto de moradores de Bonsucesso bloqueou o trânsito na Av. Brasil. Ao tentar conter um suposto arrastão que ocorria simultane-

amente, o sargento do Bope, Ednésol Jerônimo dos Santos Silva, foi morto. Em busca das pessoas que teriam promovido o arrastão, o Bope entrou na Nova Holanda e novo tiroteio vitimou doze moradores. Maraca é nosso: contra privatização do Complexo No último domingo (30), dia da final da Copa das Confederações, o Comitê Popular da Copa convocou o ato “Copa das Manifestações” para pedir a anulação da privatização do Maracanã e o fim das remoções forçadas. “A privatização do Maracanã é um processo questionável pois teve um investimento público muito grande. E o entorno, um espaço que era público e servia pa-

ra 10 mil pessoas, vai virar estacionamento e shopping”, critica Renato Cosentino do Comitê. Outro ato, marcado para a tarde, acabou resultando em confronto com a Polícia Militar (PM). Minutos antes de a seleção entrar em campo, a ação da PM foi marcada pelo excessivo uso de bombas de efeito moral. Até mesmo torcedores que estavam dentro do

estádio sentiram os efeitos do gás lacrimogêneo, usado no confronto do lado de fora. Pelo fim das remoções arbitrárias Cerca de 500 manifestantes estiveram no Jardim Botânico no último sábado (29) para protestar contra a ameaça de despejo de mais de 500 famílias do Horto. Segundo Emília Ma-

Por transporte público de qualidade O centro do Rio voltou a ser palco de mobilizações na última quinta-feira (27). Desta vez o destino foi a sede da Fetranspor. Durante o trajeto, os cerca de 20 mil manifestantes, a maioria representantes de movimentos sindicais e de partidos políticos, eram festejados por pessoas que estavam nos prédios, que jogavam papel picado e piscavam as luzes. “Um transporte público de qualidade é uma necessidade para o trabalhador, pois possibilita que ele fique menos tempo dentro dos ônibus e aproveite esse tempo para a sua família”, afirmou Antonio Neto, integrante do Fórum de Lutas Contra o Aumento da Passagem que convocou o ato. Pablo Vergara

“Manifestantes também destacaram a denúncia que a Rede Globo sonegaria impostos à Receita Federal” Entre as reivindicações, o fim da violência policial


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Reforma agrária produz alimentos saudáveis CAMPO Demora na regularização das terras atrapalha produção e dificulta o crédito. Mesmo assim, assentamentos produzem alimentos para entidades filantrópicas, feiras e grupos de consumidores Alan Tygel

Alan Tygel do Rio de Janeiro (RJ) Mesmo com diversos problemas no andamento da reforma agrária, assentamentos e acampamentos do estado do Rio de Janeiro conseguem produzir alimentos saudáveis a preços acessíveis para a população. Segundo Cosme Gomes, agricultor e coordenador do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a prioridade da reforma agrária é a produção de alimentos saudáveis. “Incentivamos a produção agroecológica, pois o uso de venenos prejudica a nós e ao meio ambiente”, explica Gomes. O técnico agrícola Carlos Gouveia presta assis-

Feira da Reforma Agrária: alimentos saudáveis a preços acessíveis

tência a três assentamentos da região sul do estado. Nos municípios de Piraí e Barra do Piraí são produzidos leite, hortaliças, aipim, inhame, batata doce, além de plantas medicinais. Para Gouveia, o problema não está na produção.

“A mídia diz de que o povo ocupa terra e não produz, mas muitas das vezes é por conta das carências estruturais dessas áreas”, destaca Gouveia. Exemplo disso é o assentamento Terra Prometida, que se situa na divisa entre os municípios de

Nova Iguaçu e Duque de Caxias. Seis anos após a criação do assentamento, ainda não há água, luz e nem pavimentação nas estradas. “Isso dificulta a produção de culturas mais sensíveis, como o tomate, pois o transporte pelas

estradas de terra causaria muitas perdas”, observa Gomes. Mesmo assim, o assentamento é um grande produtor de aipim. Além da venda em feiras na região (ver endereços e horários abaixo), os agricultores fazem a venda a um grupo de consumidores que se organiza para comprar diretamente de produtores agroecológicos. Tania Franco, da Rede Ecológica, explica as vantagens da compra direta:“Nessa prática, o consumidor vai se conscientizando de sua responsabilidade social e seu papel. Além disto, organizamos visitas aos produtores, pois achamos fundamental que o consumidor conheça a realidade do trabalhador que produz o alimento que o sustenta”.

Região norte do estado concentra a maior parte da produção Um vez por ano, toda a produção dos acampamentos e assentamentos do MST no RJ é reunida na feira estadual do Rio de Janeiro (RJ) O agricultor Hermes Oliveira é responsável pela produção em 11 áreas do MST nos municípios de Campos dos Goytacazes, São João da Barra e Cardoso Moreira. Ele explica como funcionam os Programas de Aquisição de Alimentos que obriga municípios a comprarem da agricultura familiar 30% dos alimentos para entidades sem fins lucrativos. “Entregamos para hospitais, APAE, asilos, associação de moradores de comunidades

carentes, entre outros. Com isso, o MST, de certa forma, está cumprindo um de seus maiores propósitos, que é proporcionar alimentos saudáveis para a população que não pode pagar caro pela comida”. Os produtos entregues são aipim, limão, maracujá, abacaxi, abóbora, couve, alface, salsinha e cebolinha. O próximo passo na região é a reativação de uma cooperativa e a criação de uma agroindústria para embalagem de produtos e desidratação de frutas. Um vez por ano, toda

a produção dos acampamentos e assentamentos do MST no RJ é reunida na feira estadual da Reforma Agrária. A última edição foi realizada no largo da carioca, e comercializou ao todo toneladas de alimentos. Mas para Cosme Gomes,o papel da feira vai além da venda de alimentos.“É uma prestação de contas por nós que estamos no campo e fazemos a luta por reforma agrária e justiça social. É um dever político de diálogo com a sociedade que apoia a luta pela terra”, afirma. (AT)

REFORMA AGRÁRIA ONDE ENCONTRAR OS PRODUTOS Queimados: Quintas-feiras, na estação de trem. Nova Iguaçu: Quartas-feiras, na Praça Rui Barbosa Duque de Caxias: Domingos, na praça de Xerém e no primeiro domingo do mês, no Shopping Caxias. Campos dos Goytacazes: Terças, pela manhã, no campus central da UENF Terças, pela manhã, no campus Centro do IFF Terças, à tarde, no campus Guarus do IFF Cardoso Moreira: Sexta-feira, na praça principal (AT)

SINDICAL

Privatização da água Metalúrgicos, carteiros, trabalhadores da Cedae, enfermeiros, dentre outras categorias, decidiram no congresso da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), realizado em junho, que uma de suas principais atividades em 2013 será a luta contra a privatização da água e por saneamento básico para todos.

Dez anos de Muca O Muca (Movimento Unificado dos camelôs) comemora o seu 10º aniversário nesta sexta-feira (5), a partir das 18h, no Buraco do Lume – anfiteatro da rua São José (perto da Av. Rio Branco. A festa conta com show dos Siderais e discotecagem, além de exposição de fotos e de vídeos.

Danny Glover em assembleia O ator hollywoodiano Danny Glover participou dia 28 de junho de assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba em frente à montadora Nissan/ Renault, em São José dos Pinhais. O ator, que também é ativista pelos direitos humanos, veio buscar apoio para os trabalhadores da montadora nos EUA.

Nova Central mobiliza bases O III Congresso Nacional da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) foi encerrado dia 8 de junho, após quatro dias de atividades, em Luziânia (GO). Os delegados aprovaram pauta que irá nortear os trabalhos da entidade para os próximos quatro anos.


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Constituinte trará reforma política com mais qualidade MUDANÇA Pesquisa Datafolha mostrou que 73% dos brasileiros apoiam a constituinte Valéria Martins

Mariana Desidério de São Paulo (SP) A presidenta Dilma Rousseff anunciou dia 24 uma proposta ousada: chamar um plebiscito para que a população decida sobre a convocação de uma assembleia constituinte, que por sua vez discutiria uma reforma política para o país. A ideia veio como resposta às manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas nas últimas semanas. Abriuse uma possibilidade real de mudança para um dos principais problemas da democracia brasileira hoje: o nosso sistema político-eleitoral. No mesmo dia, porém, a proposta da constituinte foi duramente atacada por políticos, tanto da oposição quanto da base do governo. A maioria dos juristas também rechaçou a ideia. Um dos principais argumentos contrários é que a constituinte seria um esforço

desnecessário, já que a reforma pode ser feita no próprio Congresso. Para Ricardo Gebrim, advogado e integrante da organização Consulta Popular, a resposta contrária evidencia o medo da classe dominante de perder os poderes adquiridos com o sistema atual.

“É uma bandeira que não podemos deixar morrer, não podemos jogar a toalha antes de lutar por ela” “O povo não tem nada a perder com essa constituinte. Quem tem a perder são os que estão ganhando com esse sistema político”, afirma o advogado. Apoio De fato, a proposta da

presidenta foi bem recebida pela população. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 29 mostrou que 73% dos brasileiros apoiavam a constituinte. Na outra ponta, deputados e senadores estão entre os principais beneficiados pelo atual modelo. Não à toa, postergam a reforma política há mais de uma década. Para o ministro aposentado do STF Francisco Rezek, ex-juiz da Corte Internacional de Justiça de Haia, a presidenta Dilma parte da premissa correta de que os atuais membros do Congresso não são os mais indicados para a empreitada. Em entrevista ao site Consultor Jurídico, ele afirma que a ideia da constituinte é a melhor possível. “Um colegiado que fosse eleito só para tratar da reforma política, que não fosse constituído pelos membros regulares do Congresso, teria mais qualidade”, disse.

Dilma com governadores e prefeitos para propor plebiscito que autorize constituinte

Após o rechaço à proposta, Dilma recuou. Agora, discute-se a alternativa de submeter a um plebiscito somente alguns pontos relacionados à reforma política. Por esta proposta, o Congresso elaboraria perguntas sobre temas como o financiamento de campanhas eleitorais, e essas ques-

tões seriam colocadas para a população. Para Gebrim, este modelo pode levar a uma reforma de baixa qualidade. “Quem estabelecerá as perguntas do plebiscito é esse Congresso, que não tem nenhum interesse em fazer uma mudança profunda. Vamos ficar aprisionados numa farsa de

reforma política”, afirma. Segundo ele, o que enfrentaria os verdadeiros problemas é a proposta que a presidenta Dilma lançou de fazer uma constituinte exclusiva. “É uma bandeira que não podemos deixar morrer, não podemos jogar a toalha antes de lutar por ela”, destaca.

Movimentos querem financiamento público de São Paulo (SP) Um dos principais temas a ser discutido pela reforma política é o modelo do financiamento das campanhas eleitorais. Hoje, o financiamento é basicamente privado, o que dá às grandes empresas enorme influência sobre os candidatos. Além disso, as campanhas bem-sucedidas custam milhões de reais, excluindo da disputa candidatos que não sejam ligados ao poder econômico. Por conta destes problemas, uma das principais bandeiras dos mo-

vimentos sociais para a reforma política é o financiamento público de campanha. Segundo José Antônio Moroni, integrante da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, os recursos privados estão entre os principais responsáveis por corromper o sistema político brasileiro. “O financiamento privado cria um vínculo entre quem financia e quem foi eleito. Isso leva à corrupção e faz com que o Congresso aprove leis que não correspondem

“O financiamento privado cria um vínculo entre quem financia e quem foi eleito. Isso leva à corrupção” ao que a maioria do povo quer. São projetos que atendem a quem está financiando”, afirma. A Plataforma busca garantir que temas como este sejam discutidos na reforma política. Propõe, por exemplo, que, caso

a reforma aconteça através de um plebiscito, as perguntas feitas à população sejam elaboradas numa conferência nacional, diminuindo o poder dos congressistas sobre a consulta à população. Dentre outros temas prioritários para a entidade estão a autoconvocação de plebiscitos e referendos pelo próprio povo (hoje eles só podem ser convocados pelo Congresso) e a consulta obrigatória à população em decisões que envolvam privatizações e grandes projetos de impacto socioambiental. (MD)

ENTENDA O QUE É Assembleia Constituinte – É um organismo criado para propor uma reforma ou a criação de uma Constituição. Geralmente, ela é composta a partir da eleição de representantes específicos para este fim e é diluída quando conclui seus trabalhos. Plebiscito – É quando os eleitores são convocados a decidir sobre uma questão específica para o país. Diferente do referendo, no plebiscito os cidadãos votam o assunto antes que a lei seja aprovada, para aprovar ou rejeitar as opções propostas. Reforma política – É um conjunto de propostas debatidas no Congresso Nacional para tentar melhorar o atual sistema eleitoral e político brasileiro, com o objetivo de proporcionar maior correspondência entre a vontade dos eleitores e a realidade política do país (MD).


08 | brasil

Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

Royalties garantem educação de qualidade só em 2020 CONTRA OS LEILÕES Petróleo do Campo de Libra no pré-sal resolveria com mais rapidez problemas históricos da educação. Diretor da Aepet defende que leilão de outubro seja barrado Samuel Tosta

Vivian Virissimo do Rio de Janeiro (RJ) Educação de qualidade é uma das principais bandeiras levantadas nas recentes mobilizações. Em pronunciamento oficial, a presidenta Dilma Rousseff pediu que o Congresso votasse projeto de lei que estabelece 100% dos royalties do petróleo para a educação, com prioridade à educação básica. Prontamente, na mesma semana, o Congresso iniciou os debates e aprovou o projeto com alterações: 75% para educação e 25% para saúde. Só que estudos da consultoria legislativa da Câmara de Deputados apontam que o orçamento só terá um salto significativo em 2020. “Esse valor em royalties representa menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). É preciso que se diga que não vai ser uma arrecadação imediata, vai levar um bom tempo. Só em 2020 o repasse poderá chegar a 2%.” alerta o diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Fernando Siqueira.

É preciso que se diga que não vai ser uma arrecadação imediata, vai levar um bom tempo

Ele lembrou ainda que o Plano Nacional de Educação (PNE) estipula em 10% e hoje temos cer-

ca de 5,6% do PIB destinado à educação. “Foi uma medida demagógica para apagar o incêndio das passeatas e fazer média com estudantes. É demagógico porque só teremos retorno em 2020”, completou. Segundo o estudo da Câmara, baseado em dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Petrobras, o dinheiro do petróleo para educação chegaria a R$ 196 bilhões em 2020. Em 2011, a verba da educação alcançou R$ 219 bilhões.

Com estimativa total de 15 bilhões de barris, o primeiro leilão do pré-sal já está marcado para outubro

Barrar leilão de Libra Siqueira apontou como solução para resolver a precariedade da educação que a população se mobilize para barrar o leilão do Campo de Libra, localizado no pré-sal. Ele explica que a legislação prevê essa possibilidade quando há interesses nacionais em jogo. “Libra é considerada a melhor descoberta do mundo nos últimos 30 anos. Para atender a um interesse nacional, como é o caso da educação, o governo federal pode ceder à Petrobras determinada área sem leilão”, disse. Segundo ele, como a Petrobras já apurou onde ficam as reservas, os trabalhos poderiam começar daqui a um ano.

A expectativa de produção gira em torno de 20 a 30 mil barris por dia, comercializados a 100 dólares o barril. Para garantir esses recursos para educação e outros interesses nacionais, a exclusividade de exploração de Libra precisaria ser da Petrobras, ao contrário do que está sendo planejado pela ANP com a atração de dezenas de empresas estrangeiras para participar do leilão. Com estimativa total de 15 bilhões de barris, o primeiro leilão do présal já está marcado para outubro. “A Petrobras perfurou o campo, encontrou os poços, gastou 70 bilhões de dólares e ainda não foi ressarcida pela ANP. Para piorar, se o leilão não for barrado, o Campo de Libra corre o risco de ser arrematado por empresas estrangeiras que formam um cartel internacional”, criticou Siqueira. Outras alterações Além de também prever recursos dos royalties para a saúde, o novo texto aprovado na Câmara torna obrigatório destinar 50% do Fundo Social do Pré-Sal, e não só o rendimento, como previsto no projeto original. Outra mudança importante é que o projeto atual prevê o uso de recursos dos royalties e da participação especial dos contratos, inclusive dos já existentes, desde que os poços tenham entrado em operação comercial após 3 de dezembro de 2012. O projeto tramita no Congresso, ainda será analisado pelo Senado e, se aprovado, terá sanção presidencial.

Manifestação realizada no Centro do Rio contra a realização dos leilões do petróleo

Hidrelétricas devolvidas ao governo podem ser privatizadas As manifestações populares exigem o cancelamento imediato das privatizações da Redação O Ministério de Minas e Energia (MME), juntamente com a Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estão planejando privatizar 12% do potencial hidráulico brasileiro instalado, proveniente de hidrelétricas construídas nos anos 1960/70. São as barragens mais antigas, que já foram pagas pelo povo brasileiro e podem oferecer a tarifa mais baixa do país. Os contratos destas usinas estão sendo encerrados e todas estão sendo devolvidas para o patrimônio nacional da União. No entanto, o

MME e a Aneel querem entregar para as transnacionais. A usina hidrelétrica Três Irmãos, localizada em Andradina, interior de São Paulo, pode abrir a série de privatizações. A usina, antes controlada pela estatal Companhia de Energia de São Paulo (Cesp), teve seu contrato de concessão vencido em 2011 e já está sob propriedade da União. Além de Três Irmãos, que deverá ser privatizada nos próximos meses, estão previstas as licitações de mais 11 usinas, como Ilha Solteira e Jupiá da Cesp, Jaguara, Três Marias, São Simão,

Volta Grande da Cemig, e Governador Parigot da Copel, além de 23 Pequenas Centrais Hidrelétricas. Sabemos que as privatizações significaram, entre outras consequências, o aumento das tarifas, inclusive tornando-as como as mais altas do mundo. Se transferidas estas usinas para empresas transnacionais, a tarifa tende a aumentar, a qualidade dos serviços piorar e trabalhadores tendem a ser demitidos. As manifestações populares exigem o cancelamento imediato destas privatizações.


Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

brasil | 09 Marcello Casal Jr./ABr

Trabalhadores engrossam protestos Centrais sindicais e movimentos reunidos: mobilizações devem ganhar a adesão da classe trabalhadora organizada

MOBILIZAÇÕES Centrais sindicais e MST promovem manifestação no dia 11 para cobrar demandas da classe trabalhadora Patrícia Benvenuti da Redação Convocadas, em sua maioria, por estudantes engajados contra o aumento das tarifas do transporte público, as mobilizações ganham a adesão da classe trabalhadora organizada. Assim, as centrais sindicais e movimentos sociais promovem, no próximo 11 de julho, um dia de paralisação nacional. As manifestações são convocadas pelas centrais sindicais (CUT, CTB, Força, UGT, CSP/Conlutas, CGTB, CSB e NCST) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que farão paralisações e atos em todo o país. O objetivo é pressionar o governo a atender demandas que beneficiem os trabalhadores. A pauta de reivindicações, composta por oito pontos centrais, foi entregue à presidenta Dilma Rousseff depois da Marcha da Classe Trabalhadora, realizada por todas as centrais em março deste ano. Até o momento, porém, não houve qualquer avanço nas questões, como explica o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do

“O objetivo é pressionar o governo a atender demandas que beneficiem os trabalhadores”

Brasil (CTB), Wagner Gomes. “Já tivemos uma série de reuniões com o governo, e a coisa não tem andado. Por conta disso vamos começar a nos movimentar”, afirma. A unidade das centrais em torno do tema é destacada pelo secretáriogeral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna. Segundo ele, as ações conjuntas são ainda mais necessárias diante da situação atual da economia. “Com os tempos que estamos vivendo hoje, com a alta dos juros e da inflação, é importante ter essa unidade das centrais sindicais para fortalecer aquilo que foi negociado em Brasília”, diz. Os protestos que vêm ocorrendo há cerca de um mês por centenas de cidades brasileiras também motivam as entidades. Para o secretário nacional de Finanças da

Central Única dos Trabalhadores (CUT), Quintino Severo, o momento é positivo para se obter conquistas. “Estamos há um bom tempo fazendo mobilizações com a pauta da classe trabalhadora e, dado o momento conjuntural, evidentemente que a possibilidade de conquista é maior”, avalia. De acordo com o membro da coordenação da CSP-Conlutas, José Maria de Almeida, as manifestações dos trabalhadores deverão aumentar a força dos protestos até agora protagonizados pela juventude. “Queremos fazer uma grande paralisação nacional para aumentar a força das mobilizações que estão nas ruas e forçar o governo a atender as demandas dos trabalhadores e da juventude”, frisa. Pautas A plataforma unitária das centrais e do MST inclui pontos como aumento dos investimentos públicos em educação, saúde e transportes; redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução dos salários; cancelamento dos leilões do petróleo; realização da reforma agrária e o fim do

fator previdenciário. A questão da precarização das condições de trabalho também aparece na pauta, simbolizada na luta contra o Projeto de Lei (PL) nº 4.330/04. De autoria do deputado Sandro Mabel (PMDBGO), o texto propõe a regulamentação da tercerização nos setores público e privado. O PL tem sido duramente criticado pelas centrais sindicais, que veem na proposta uma forma de flexibilizar ainda mais os direitos trabalhistas. Quintino Severo, da CUT, lembra que os terceirizados enfrentam hoje as piores condições de trabalho, na medida em que não contam com direitos assegurados pela legislação. Se a matéria for aprovada, a tendência é de que a situação se agrave. “Esse projeto permite terceirizar tudo, atividade-meio e atividade-fim, fazendo com que acabem, de uma vez, todas as relações de contrato de trabalho no Brasil”, pontua Severo. A votação do projeto de lei na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara está prevista

para julho. Além desses pontos, as organizações apoiam outros temas, como a reforma política e o plebiscito popular sobre o assunto; reforma urbana; democratização dos meios de comunicação; e o fim da violência e repressão contra a juventude negra, povos indígenas e movimentos sociais em geral.

“É importante ter essa unidade das centrais sindicais para fortalecer aquilo que foi negociado em Brasília”

Exigências a Dilma Para reforçar as exigências junto ao governo, representantes das centrais se reuniram com Dilma Rousseff em 26 de junho, em Brasília. Durante o encontro, a presidenta enfatizou que não aprovará qualquer projeto sem acordo prévio entre trabalhadores, empresários e governo. Além disso, garantiu que o diálogo com as centrais sindicais se-

rá permanente e que, até agosto, será dada uma resposta a todas as reivindicações. A reunião, porém, gerou críticas das centrais. De acordo com os sindicalistas, durante a audiência, a presidenta falou por 40 minutos, deixando apenas cinco minutos para cada representante das entidades. Ao final, não houve encaminhamento de nenhum dos pontos apresentados. Para Juruna, da Força Sindical, Dilma precisa ter uma postura diferente, mais aberta ao diálogo com os diferentes atores do país. Outra mudança necessária, de acordo com José Maria de Almeida, é o abandono do atual modelo econômico, que segue privilegiando os setores econômicos mais fortes. Ele defende que, sem a adoção de outro tipo de política, as demandas dos trabalhadores não poderão ser efetivamente contempladas. Para Wagner Gomes, da CTB, a expectativa é de que a mobilização nacional do dia 11 consiga destravar as pautas dos trabalhadores. Caso isso não ocorra, a tendência é de que o movimento se intensifique.


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Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

Exército egípcio anuncia deposição de Mursi

NOVAS ELEIÇÕES General das Forças Armadas fez o comunicado oficial, informando também a suspensão da Constituição Wilson Dias/ABr

Milhares de pessoas pró e contra o governo também saíram às ruas e se concentraram em praças

de São Paulo (SP) As Forças Armadas do Egito, por meio do general Abdel Fattah el-Sisi, anunciaram, na quartafeira (3), que Mohamed Mursi não é mais o presidente do país. Foi anunciado também que haverá um governo de transição, comandado por Maher El -Beheiry, presidente do Tribunal Constitucional, e responsável pela convocação de novas eleições, que serão antecipadas. A Constituição do Egito foi suspensa e os militares apoiarão o governo interino até que as novas eleições sejam realizadas, disse Sisi. Ele acrescentou que o Exército não quer tomar o poder, mas apenas auxiliar o povo, que pedia ajuda. Após o tér-

O ex-presidente egípcio Mouhamed Mursi: eleições serão antecipadas

mino do anúncio, milhares de pessoas começaram a comemorar na Praça Tahrir pela saída de Mursi do poder. De acordo com a agência de notícias estatal Me-

na, donos de emissoras e apresentadores de televisões religiosas islâmicas foram detidos no Cairo por forças de segurança egípcias depois do pronunciamento de Si-

si. Além disso, algumas emissoras foram tiradas do ar, como a Al Jazeera. Declaração Por meio de uma breve declaração em sua página

do Facebook, o presidente egípcio Mohamed Mursi havia dito poucos minutos antes que “não aceitará nunca renunciar de forma humilhante a sua pátria, sua legitimidade e sua religião”. “Que saibam nossos filhos que seus pais e avôs foram homens que não aceitam a injustiça e que não aceitarão nunca renunciar de forma humi-

lhante”, dizia a mensagem. As Forças Armadas do Egito tomaram hoje as ruas do país e cercaram o palácio presidencial logo que expirou o prazo do ultimato de 48 horas que haviam dado ao presidente Mursi para que negociasse com a oposição. Milhares de pessoas pró e contra o governo também saíram às ruas e se concentraram em praças. Fontes de segurança egípcia afirmam que tanto Mursi quanto os principais líderes da Irmandade Muçulmana, seu partido, estariam impedidos de sair do país. Algumas fontes declararam também que Mursi estaria em prisão domiciliar, mas não houve confirmação quanto a esse fato.(Opera Mundi) Enzo De Luca/ABI

Bolívia acusa EUA de orquestrarem pouso forçado IMPERIALISMO Vice-presidente e ministro da Defesa bolivianos disseram que proibições ao voo de Evo foram orientadas pelos EUA de São Paulo (SP) O vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, indicou que, para La Paz, os Estados Unidos orquestraram pouso forçado do presidente Evo Morales em Viena, Áustria. “Este obstáculo na viagem de Evo foi instruída pelo governo dos EUA, que teme um camponês, um indígena, um homem honesto que defende a soberania de nossa pá-

tria. É uma afronta a todos os bolivianos”, disse o presidente interino. O ministro da Defesa da Bolívia, Rubén Saavedra, que estava no avião com Morales, também acusou o governo dos EUA de estar por trás da proibição. “Isto foi orquestrado, arranjado pelo Departamento de Estado estadunidense, que, utilizando alguns países europeus, provocou esta situação, com a suspeita que no avião presiden-

cial estivesse o senhor Snowden”, disse Saavedra em Viena. Por outro lado, o ministro confirmou que a Itália negou ao avião boliviano o sobrevoo de seu espaço aéreo, enquanto a Espanha deu seu sinal verde e a França revogou sua proibição inicial. Ex-CIA O responsável de Defesa se referia aos rumores que o ex-técnico da CIA, Edward Snowden, que se

O vice-presidente boliviano Alvaro Garcia Linera denuncia o sequestro de Evo

encontra na área de trânsito do aeroporto de Moscou há nove dias, estivesse a bordo do avião oficial do presidente da Bolívia, algo que tanto Morales como o próprio Saavedra desmentiram categoricamente. “O que queremos é denunciar a atitude abusi-

va, prepotente e discriminatória das autoridades do governo da França, especialmente, e também de Portugal, que não permitiram que o avião presidencial do Estado boliviano pudesse cumprir seu itinerário”, declarou Saavedra. O governo da Bolí-

via convocou “os povos e governos progressistas da América Latina a se manifestarem” porque a “América Latina está sendo pisoteada”. “Colocaram em risco a vida de nosso presidente. Hoje a Bolívia é Evo Morales”, acrescentou García Linera. (Opera Mundi)


Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

cultura | 11 Divulgação

Mataram Meu Irmão ENTREVISTA Cineasta Cristiano Burlan, autor de Mataram Meu Irmão, Irmão, fala sobre o seu filme, que é um retrato cruel da violência nas grandes periferias urbanas

Cena do filme Mataram Meu Irmão

Maria do Rosário Caetano de São Paulo (SP) O cineasta Cristiano Burlan tinha tudo para estar morto, como o irmão Rafael Burlan da Silva, assassinado em 2001, aos 22 anos. Em entrevista ao Brasil de Fato, o diretor de Mataram Meu Irmão, consagrado pelo júri oficial e pela crítica, no último É Tudo Verdade (Festival Internacional de Documentários de São Paulo), contou trágicas histórias da família, em especial a de Rafael Burlan. Brasil de Fato – Mataram Meu Irmão é um filme que fala sobre seu irmão Rafael, assassinado com sete tiros em outubro de 2001. O que o motivou a contar esta trágica história? Cristiano Burlan – Estou cansado de ver a morte de milhares de brasileiros tratada como mera estatística. Empenheime, então, praticamente sem dinheiro, em realizar um documentário que contasse o que se passou quando meu irmão foi assassinado, aos 22 anos.

No filme, em primeira pessoa, você relembra que seu irmão fumava crack e que fora assassinado de forma brutal... Numa sexta-feira à tarde, eu estava lendo um livro, Demian, de Hermann Hesse. Deixei a leitura e fui ver o que estava passando na tevê. Era um filme bobo, desses programados em sessões vespertinas. Vi, pela primeira vez, meu irmão Rafa fumando “pedra” (crack) com um amigo dele, o Carioca. Mal sabia eu que a vida dele, que estava apenas começando, seria interrompida algum tempo depois. Como convenceu seus familiares a se exporem tanto? Todos os meus parentes e amigos que estão no filme se dispuseram a falar com toda franqueza, pois confiam em mim. Minha tia Belmira só guarda boas lembranças do sobrinho. Meu primo, Anderson, que viu meu irmão ser assassinado naquele outubro de 2001, também teve problemas com drogas. Foi internado aos 13 anos. Ele lembra que, jun-

to com um amigo, Chiquitão, passava de moto e viu três conhecidos em volta de Rafael. Meu irmão, segundo o testemunho de Anderson, foi cobrar R$ 200,00, que tinha a receber por um carro que roubara para a quadrilha. Ao invés de receber a grana, ele recebeu sete tiros dos “pésde-pato” (policiais contratados por comerciantes para matar ladrões de seus estabelecimentos). O filme deixa a periferia de São Paulo. Vemos um avião descer em Uberlândia-MG, onde mora sua irmã Kelly. Em certo momento, ela pergunta, depois de lembrar da morte de Rafael, de seu pai e de sua mãe: “será nossa sina morrer desta maneira?”. Vocês dois vivem este tormento no dia a dia? Vivemos, claro. A morte – e Kelly deixa isto muito claro – nos acompanha desde a infância. Vimos muitos de nossos amigos e vizinhos morrerem. Depois, a morte entrou na nossa família. Quem é aquele rapaz desconfiado, que entra

na casa de Kelly, e pergunta “o que o Cristiano está aprontando?” Ele é um amigo da família (Dorival Bispo dos Santos). Conviveu com meu irmão em Uberlândia, para onde nos mudamos, junto com minha mãe, quando ela se separou do meu pai. Kelly responde à desconfiança dele dizendo que eu estava gravando um filme sobre o Rafael, e pede que ele relembre a infância do meu irmão e o tempo que ele passou em Uberlândia. Eu digo a Kelly que ela está dirigindo o filme. Ela retruca: “é isto dirigir um filme? Então é muito fácil”.

Por que você realizou um longametragem que expõe de tal maneira sua família e a você mesmo? Se existe uma função neste filme, além das questões pessoais e familiares, esta função é levantar uma reflexão sobre a violência. A quantidade de mortes que acontece em São Paulo, esta violência que hoje aparece nos telejornais, não me espanta. Esses números, estas estatísticas, são difíceis de esconder hoje em dia. Mas na época em que eu morei no Capão Redondo, nos anos de 1990, a região de Jardim São Luís, Jardim

Ângela e Capão Redondo era conhecida como “Triângulo da Morte”.

Divulgação

Quando o filme será lançado? Meu filme está percorrendo os festivais. Pretendemos lançá-lo (a distribuição é da Lume Filmes, do maranhense Frederico Machado), em dezembro. Espero que o filme estimule o debate, pois a questão da violência urbana é gravíssima, exige soluções urgentes.

“Não me assombram os números que a polícia apresenta nos programas de tevê. Hoje os números são mais óbvios”

O cineasta Cristiano Burlan

A situação melhorou ou ainda é tão trágica quanto na época dos “pés-de-pato”, dos “justiceiros” pagos pelos comerciantes? Hoje em dia é mais difícil esconder as estatísticas dos crimes. Não me assombram os números que a polícia apresenta nos programas de tevê. E não é que hoje se mate mais que nos anos 1990. Hoje os números são mais óbvios. A realidade não se alterou em profundidade, mas a questão ganhou espaço na mídia.

(A íntegra desta entrevista encontra-se em: www. brasildefato.com.br)


12 | cultura

Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

O mestre Wilson Moreira MÚSICA Um dos maiores compositores do samba procura patrocínio para novo disco Luísa Cortes

Luísa Côrtes do Rio de Janeiro (RJ) Parceiro de Candeia, Nei Lopes, Paulo César Pinheiro, Elton Medeiros, entre outros, Wilson Moreira é uma unanimidade no meio do samba. Sempre com um sorriso no rosto e ótimas histórias, o “alicate” – apelido em referência ao seu firme aperto de mão – recebe todos com carinho e muita educação. Compositor de clássicos das rodas de samba, como Senhora Liberdade, Coisa da Antiga, Candongueiro e Gostoso Veneno, Moreira está à procura de patrocínio para um novo disco de composições inéditas, aguarda a finalização de um documentário sobre sua história e é anfitrião dos eventos quinzenais no Centro Cultural Solar Wilson Moreira, na Praça da Bandeira. O primeiro contato de Moreira com a música veio dos seus ancestrais, por isso, faz questão de respeitar as tradições e influência do jongo, lundu, calango, entre outros ritmos. “Não conheci meu avô, mas minha mãe me

Compositor de clássicos das rodas de samba, como Senhora Liberdade, Coisa da Antiga, Candongueiro e Gostoso Veneno, está à procura de patrocínio

contava que ele tocava caxambu, sanfona, gostava de dançar jongo. Minha família era de Minas, veio para o Rio, para a região de Vassouras, Paraíba do Sul, Avelar, Andrade Costa. Já meu pai era de Realengo, bairro onde nasci”, conta Wilson, que completa 77 anos em dezembro. Mesmo sendo um compositor reconhecido e gravado por Zeca Pagodinho, Clara Nunes, Beth Carvalho e muitos outros nomes de peso, Wilson aponta para as dificuldades de se viver de música no Brasil. “O João Nogueira disse uma vez pra mim: ´lar-

AGENDA SAMBA DE LEI Toda Sexta-feira, a Pedra do Sal recebe o Samba de Lei, roda de samba que propõe a preservação do ritmo carioca. Embalando a noite, um repertório que vai de sambas de enredo a clássicos de Noel Rosa. Começa às 19h, com entrada gratuita, no Largo João da Baiana, na Zona Portuária. MORAES MOREIRA O cantor Moraes Moreira faz apresentação gratuita em homena-

O compositor Wilson Moreira

ga esse negócio de presídio, agora, você é um artista´. Eu respondi: ´tá maluco, João?´. Eu passei num concurso para agente penitenciário, antes eu ficava sempre desempregado. Preciso de um emprego, só vive de música Reprodução

O músico Morares Moreira

gem aos 40 anos de lançamento do disco Acabou chorare, dos Novos Baianos. No show, ele promete não apenas reviver todos os grandes sucessos do clássico LP, mas também apresentar

músicas de seu mais recente trabalho. O evento acontece neste sábado (06), às 20h, e domingo (07), às 19h, no Espaço Furnas Cultural, em Botafogo.

quem está na mídia, os grandões. E hoje continua a mesma coisa”. Durante mais de 30 anos trabalhando no presídio de Bangu, onde se aposentou em 92, Wilson Moreira ganhou inspiração para compor, em ARRAIÁ DO ÍNDIO Com uma proposta de festa diferenciada, o Arraial do índio Caxiri na cuia promete adicionar tradições indígenas ao espírito da festa de São João. Além da celebração aos nossos ancestrais, a festa conta com uma grande variedade de comidas típicas indígenas, brincadeiras e até narração de histórias passadas entre gerações. A festa acontece domingo (07), das 15h às 22h, na Aldeia Tamoio (antiga aldeia Maracanã), localizada na rua Godofredo Viana, 64, Tanque, em Jacarepaguá.

parceria com Nei Lopes, o clássico Senhora Liberdade. “Muita gente acha que é música de preso, um dia eu disse pro Nei que meu trabalho era tranca. Ele é advogado, assim, reunimos nossas experiências FESTA JUNINA DO LAVRADIO Como acontece tradicionalmente, a Lapa recebe no primeiro sábado do mês de julho a tradicional Feira do Lavradio. Nesse dia (6), além do repertório junino e a apresentação de quadrilha, a feira conta com um show do grupo Multibloco. O evento é gratuito e acontece das 10h às 19h, na Rua do Lavradio. PORTO E CIRCO O grupo Circo Crescer e Viver está apresentando o espetáculo Porto, em que recriam o ambiente portuário de uma cidade através da magia circen-

e acabou em samba. Há um tempo, trabalhando no presídio, tocou a música em um radinho de pilha. Um dos presos, que também gostava de música, veio me dar um abraço. Bonito, né?”, relembra Moreira. se. O evento é gratuito, ficando a cargo do público ao final decidir o quanto ele vale. Está em cartaz até o dia 28 de Julho, de quinta-feira à sábado, às 20h, e domingo, às 18h, na rua Carmo Neto, 143, em Cidade Nova. Reprodução

Cena do espetáculo Porto


Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

variedades | 13

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS www.coquetel.com.br

© Revistas COQUETEL 2013

Método indutivo e didático de Sócrates

Grupo que dá suporte político ao governo Significa “errado” na correção da prova

Forma de governo do Vaticano

Cantor lírico como Pavarotti Dois estaFluido do dos norcárter destinos

Sustentar; Mulher (?), heroína alimentar de HQs Comitê olímpico Aparelho Indis(sigla) para tecer cutível

T E A Letrasímbolo do Partido Verde

R Vendedor de doces “Rei (?)”, peça

Nós, em italiano Perdão geral Formação insular comum no Pacífico Afecção da pele Soleira da porta

“High”, em HDTV

Interjeição de alegria Préstimo; utilidade

do QUADRINHOS quebUmralin -cabeça S O Grátis! CLÁSSIC 0 50 E ANOS 40

(?) aegypti, o mosquito da dengue

LIVRO 2 NAS BANCAS E LIVRARIAS

(?) Batista, narrador esportivo 3/noi. 4/camp — lear. 5/aedes — biota — valia. 8/duelista. 9/maiêutica.

BANCO

HORÓSCOPO

T E A R

Poema cantado na antiga Grécia

M C A O R I A V O I O L H T A F O O S D ES E O

Os animais e vegetais de uma região Estímulos; Minha e incentivos (?): nossa

Solução

EDIÇÃO AL ESPECIA

I N C O N T E S T A V E L

Tecido (?): é afetado pela osteoporose

A N I S T I A

Supremo Tribunal Federal (sigla)

B N M A I E U S T T E O C R B A L E I L E A R P I O R A A C D U E L C A M P B I O A T R A T U A U V A L I A

Inferior aos demais Cada um dos lutadores de esgrima Campo, em inglês

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ASTROLOGIA - Semana de 4 a 10 de junho Semana traz elementos astral que ajudam na reflexão; período recomenda atenção para não agir de maneira individualista.

Áries

(21/3 a 20/4) Momento para avaliar bem antes de decisões importantes. Assuntos antigos podem aparecer e exigem esclarecimentos. Na vida amorosa, cuidado com impulsividade e controle a ansiedade.

Touro

(21/4 a 20/5) Semana favorece na solução de assuntos importantes. Paciência nas relações mais próximas. Procure rever padrões e conceitos. Na vida amorosa, evite a indiferença com quem se relaciona.

Gêmeos

(21/5 a 20/6) Período para valorizar o contato com amizades e esclarecer mal entendidos. A semana requer atenção e cautela com as finanças. No amor, seja mais carinhoso e converse mais.

Câncer

(21/6 a 22/7) A semana propicia novos contatos profissionais. Procure refletir sobre assuntos e novos objetivos. No amor, cuidado com posturas radicais. Decisões importantes marcarão sua vida amorosa.

Leão

(23/7 a 22/8) Período propenso para buscar novos desafios. Evite questões burocráticas, como temas jurídicos. Momento exige atenção com atitudes extremas ou impulsivas. No amor, seja paciente e evite polêmicas.

Virgem

(23/8 a 22/9) Momento bom para questões relacionadas ao trabalho. Evite gastos desnecessários e supérfluos. Procure maior concentração em atividades novas. No amor, momentos intensos e reveladores exigem cautela.

Libra

(23/9 a 22/10) Semana propícia para esclarecer divergências e solucionar assuntos do cotidiano. Questões familiares exigem mais atenção e empenho para a solução. Na vida afetiva, evite desgaste com assuntos banais.

Escorpião

(23/10 a 21/11) Momento trará reflexões sobre conceitos e obriga mudança de postura, principalmente junto a certas convivências. Período especial para cuidados com o corpo e saúde. Na vida amorosa, cuidado com assuntos delicados.

Sagitário

(22/11 a 21/12) Período bom para contatos e relações sociais. Semana exige atenção com as finanças. Evite gastos desnecessários. No amor, compreensão com valores e conceitos sobre quem se relaciona.

Capricórnio (22/12 a 20/1)

Semana boa para lidar com as questões familiares e na vida amorosa. Seja paciente com opiniões divergentes. Procure estreitar mais seus vínculos afetivos com quem se relaciona.

Aquário

(21/1 a 19/2) Momento exige atenção com os problemas mais sérios. Evite posturas individualistas nas relações de trabalho. No amor, mais atenção com a maneira de se expressar.

Peixes

(20/2 a 20/3) Período propício para tomar decisões sobre questões mais rotineiras. Priorize o que é verdadeiramente essencial. No amor, relações mais intensas, boas conversas ajudam manter maior vínculo afetivo.


Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

14 | esporte

opinião | Bruno Porpetta

É pra rir? O Brasil, com justiça, sagrou-se campeão da Copa das Confederações. Jogou muito contra a Espanha na final, anulando a troca de passes dos europeus e dando até espetáculo. Além disso, conseguiu formar um time. Muito mais do que o título, era importante sair da competição com uma base para a Copa do Mundo. Dentro do campo, tudo vai se encaminhando. Fora dele, também. Também? Sim! Segundo a FIFA, as manifestações estão diminuindo e o futebol continua lindo e sorridente. Afinal de contas, foi a segunda melhor média da história da competição, perdendo apenas para a edição mexicana em 1999. A nota da organização brasileira subiu de 7,5 para 8, segundo Blatter, e este não vê problema algum com o país. Marin agradeceu a todo mundo pelo apoio à

seleção. Até porque, enquanto o time jogava, não vinha nenhum repórter sueco fazer perguntas sobre suas relações com a ditadura, além da falta de transparência nas contas da CBF. Ronaldo quase ergueu um cartaz e saiu em passeata ao tirar o seu da reta, e Ricardo Trade, do COL, disse que precisamos limpar os banheiros e falar inglês. Pra completar, vem a Polícia Militar do Rio com um vídeo na internet onde, educadamente, entrega panfletos à “população”, pregando a paz, a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, e outras autoproclamações para limpar a própria barra e a do governador Sérgio Cabral. Que bom que o Brasil acordou com tamanho bom humor, a ponto de produzir piadas como estas. Imagina na Copa! Bruno Porpetta é autor do blog porpetta.blogspot.com

brasileirão | 6ª rodada Flamengo X Coritiba

Brasil busca retomar a ponta na Liga Mundial VÔLEI Após primeira derrota no campeonato, seleção enfrenta búlgaros Alexandre Arruda/CBV

da Redação A seleção brasileira masculina de vôlei está em Brasília (DF) para uma missão difícil na Liga Mundial. O time fará duas partidas contra a Bulgária para tentar tirar do adversário a liderança do Grupo A, na sexta-feira (5) e no sábado (6). O Brasil é o segundo colocado da chave com 13 pontos ganhos em seis partidas disputadas. A Bulgária lidera o grupo com um ponto a mais. É a chance de tentar a reabilitação diante de sua torcida. Os duelos contra a Bulgária podem valer a recuperação, já que na última semana o time teve apertada vitória e uma surpreendente derrota em duelos realizados com a França em São Paulo. Surpresa Aliás, a seleção brasi-

Bernardinho comanda treino da seleção brasileira masculina de vôlei em Brasília (DF)

leira sofreu sua primeira derrota na Liga Mundial na manhã de sábado (29). No Ginásio do Ibirapuera, a França dominou o time comandado pelo exigente técnico Bernardinho e venceu a partida por 3 sets a 1. Um dia antes, no jogo disputado na sexta-feira (28), o Brasil já havia da-

do sinais de instabilidade ao abrir 2 a 0 e ganhar apenas no tie-break. No dia seguinte, os franceses ignoraram o Ginásio do Ibirapuera praticamente lotado e nem precisaram de cinco sets para devolver o revés. Responsável por 26 pontos, 22 de ataque, três de bloqueio e um de

saque, o francês Earvin Ngapeth terminou a partida disputada em São Paulo como principal pontuador. No time brasileiro, Lucarelli respondeu com 21 pontos, 19 de ataque e mais dois de bloqueio. O Brasil só depende de suas forças para avançar para a fase final.

Sab | 06/07 | 18h30 | Arena Pernambuco

Seleção feminina cai no Mundial juvenil

Portuguesa X Cruzeiro

VÔLEI Brasil perde a chance de se tornar heptacampeão na República Tcheca

Sab | 06/07 | 18h30 | Mané Garrincha

Atlético PR X Grêmio Sab | 06/07 | 18h30 | Durival Britto

Náutico X Ponte Preta

Sab | 06/07 | 21h00 | Canindé

FIVB

Internacional X Vasco

da Redação

Dom | 07/07 | 16h00 | Centenário

Bahia X Corinthians Dom | 07/07 | 16h00 | Fonte Nova

São Paulo X Santos Dom | 07/07 | 16h00 | Morumbi

Goiás X Vitória Dom | 07/07 | 16h00 | Serra Dourada

Botafogo X Fluminense Dom | 07/07 | 18h30 | Arena Pernambuco

Atlético MG X Criciúma Dom | 07/07 | 18h30 | Independência

A seleção brasileira sub-20 de vôlei feminino sub-20 foi derrotada na semifinal pela China por 3 sets a 0, e acorda do sonho do heptacampeonato. A partida ocorreu no dia 29 de junho. As chinesas começaram na frente e não foram ameaçadas no primeiro set. O cenário se repetiu na segunda parcial, mas com mais equilíbrio no início:No en-

tanto, as brasileiras acabaram errando muito e perderam pelo mesmo placar do set inicial. No último set as chinesas fecharam o jogo. Zhu Ting foi a principal jogadora da partida com 21 pontos marcados. Vice no ano passado, o hexacampeão Brasil agora disputa o terceiro lugar. No domingo, às 12h30 (de Brasília), a equipe enfrenta o perdedor do duelo entre Itália e Japão.

Time sub-20 de vôlei feminino: derrota de 3 a 0 para a China


Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

esporte | 15 Alexandra Martins/Câmara dos Deputados

“A presidente do Brasil, no momento, é a Fifa” O deputado Romário (PSB-RJ) em audiência da Comissão de Turismo e Desporto

ENTREVISTA Romário fala ao Brasil de Fato e expõe como a relação entre Copa do Mundo e política tem violado a soberania do país para satisfazer os lucros privados de uma entidade internacional Pedro Rafael de Brasília (DF) Desde que assumiu o mandato de deputado federal, em 2010, obtendo mais de 146 mil votos, o baixinho Romário (PSB/ RJ) tem se especializado em outro tipo de artilharia: a política. Nesse campo, seus principais adversários são o presidente da CBF e os desmandos da Fifa no país. Romário critica o paradoxo entre os exorbitantes gastos com a Copa do Mundo de 2014 e o cancelamento das grandes obras prometidas que poderiam beneficiar de fato a população. A isso se adiciona a ingerência da entidade máxima do futebol, a Fifa, para organizar a competição no país. “Eles montaram um Estado dentro do Estado”, ataca. A moldura fica ainda mais “revoltante” na figura do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa, José Maria Marin, político remanescente da ditadura militar, dono de uma biografia de triste memória.

Brasil de Fato – No país do futebol, o povo optou por sair às ruas em vez de ficar em casa vendo os jogos da seleção brasileira. Para você que hoje detém um mandato parlamentar no Congresso, de que maneira essas mobilizações podem influenciar nosso sistema político daqui para frente? Romário – Acredito que os políticos perceberam que o povo está atento a tudo que fazemos e que não está satisfeito com o que tem visto. Apoiei e continuarei apoiando todas as manifestações pelo fim da corrupção e dos desvios do dinheiro público. A mudança precisa acontecer e a melhor hora é agora. O comportamento de senadores e deputados nos últimos dias, acelerando votações de temas importantes, sinaliza mudança de rumo? Como é têm sido suas conversas com colegas de parlamento? Há uma clara sinalização de que as manifestações tiveram efeito imediato, mas é difícil saber

se essas respostas não evidenciam apenas um medo de derrota nas urnas em 2014. Vejo muitos discursos inflamados na Câmara esses dias, porém sabemos que poucos são realmente conectados com a população. Acha que o plebiscito sobre reforma política proposto pelo governo é um caminho de mudança significativa? Ainda não tenho opinião formada sobre o assunto. Reforma política é um tema muito complexo, a grande maioria da população não tem conhecimento sobre o assunto. Porém, com certeza, temos que utilizar mais os mecanismos de participação popular.

A Fifa está entre os principais alvos dos manifestantes. Qual a explicação para que uma entidade privada internacional consiga impor ao Estado brasileiro tantas exigências econômicas, políticas e sociais? A Fifa anunciou que terá R$ 4 bilhões de lucro, livre de impostos, na Copa de 2014. Seu faturamento contrasta com a total falta de um legado efetivo. As obras de mobilidade e outras melhorias estão atrasadas e outras nem saíram do papel. Acho natural que a população se revolte ao perceber que está servindo para que a Fifa encha os bolsos sem ganhar praticamente nada em troca. O verdadeiro presidente do Brasil hoje se chaFabio Rodrigues Pozzebom/ABr

“A África do Sul gastou quatro vezes menos para organizar o Mundial de 2010”

ma Fifa. Ela chega aqui e monta um Estado dentro do Estado.

“A Fifa anunciou que terá R$ 4 bilhões de lucro, livre de impostos, na Copa de 2014”

Você costuma apresentar dados estarrecedores sobre a natureza dos gastos para essa Copa do Mundo. O que é que o povo brasileiro precisa saber sobre isso? Precisa saber a quantidade de dinheiro que o Brasil está investindo nessa Copa. Saber para onde está indo e como está sendo usado. Quando o Brasil foi escolhido para organizar o Mundial de 2014, o orçamento para o evento era de 23 bilhões de reais, mas agora ronda os 28 bilhões de reais. A África do Sul gastou quatro vezes menos para organizar o Mundial de 2010, e o Japão e a Alemanha quase um terço para organizar

os de 2002 e 2006, respectivamente. O “Fora, Marin” também aparece com força nas ruas. Como o clamor desses protestos pode se converter em mudanças na CBF se isso não depende exatamente do poder público? Protocolamos na CBF uma petição pública pedindo a saída do Marin do comando da instituição com mais de 50 mil assinaturas. Por mais que seja uma empresa privada, ela usa as cores do nosso país, nosso hino antes das partidas, além de todo o apelo popular. São, dessa forma, representantes do Brasil e precisam mostrar uma boa imagem tanto aqui como lá fora. Na sua avaliação, que tipo de legado a Copa do Mundo pode deixar para o Brasil? Teremos um pequeno avanço de infraestrutura, mas muito abaixo do prometido e do esperado pelos brasileiros; porque as principais obras são para atender os turistas.


16 | esporte

Rio de Janeiro, de 4 a 10 de julho de 2013

Fogão supera Figueirense

FATOS EM FOCO

COPA DO BRASIL Time comandado por Oswaldo de Oliveira conseguiu importante vantagem Paulo Dimas/VIPCOMM

da Redação Com o fim da Copa das Confederações, os torcedores esquecem um pouco da seleção e voltam a concentrar a atenção em seus clubes. Pela terceira fase da Copa do Brasil, Botafogo e Figueirense se enfrentaram em Volta Redonda. E o clube da estrela solitária levou a melhor, com uma vitória apertada de 1 a 0. Pouca gente foi ao estádio Raulino de Oliveira acompanhar a partida. Espantados pelo frio ou pela preguiça, pouco mais de mil torcedores assistiram ao jogo. Os botafoguenses que se aventuraram, no entanto, foram recompensados pelo esforço. Gol solitário Os dias parados pareceram atrapalhar as equipes que fizeram uma primeira etapa morna. Mesmo assim, o clube carioca, capitaneado por Seedorf, levava mais perigo. Aos 28 minutos, após cruzamento de Lodeiro, o atacante Rafael Marques venceu a zaga e ca-

beceou para abrir o placar para o Botafogo. Ainda no primeiro tempo, Maylson teve uma boa oportunidade, mas acabou desperdiçando e os catarinenses foram para o vestiário atrás do placar. Segunda etapa As duas equipes voltaram um pouco mais concentradas para o segundo tempo, construindo mais chances de gol. Rafael Costa, aos 24 do segundo tempo, teve uma das melhores chances criadas pelo Figueirense em toda partida, mas permitiu boa defesa do goleiro Jefferson. Aos 39, o atacante desperdiçou outra boa chance batendo por cima do gol botafoguense uma bola dominada na área. No final, o resultado acabou sendo justo, já que o clube carioca dominou a maior parte do jogo e aproveitou melhor as chances criadas. Botafogo e Figueirense fazem o jogo de volta no dia 24 de julho, às 21h50, no estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis.

Brasília, a nova casa do Mengão

Times voltam a se enfrentar no dia 24, em Florianópolis

FICHA TÉCNICA

Botafogo

1X0

Jefferson, Lucas, Bolívar, Dória, Julio Cesar, Marcelo Mattos, Gabriel, Lodeiro (Renato), Seedorf, Vitinho (Sassá) e Rafael Marques

Figueirense

Tiago Volpi, André Rocha, Thiego, Douglas Silva, Wellington Saci, Nem, Ronaldo Tres, Maylson (Tchô), Diguinho, Ricardinho (Pablo) e Rafael Costa

Raulino de Oliveira | Volta Redonda (RJ) | 03/07 | 21h50

Aniversário no Maracanã FLUMINENSE Em meio a críticas contra a privatização do estádio, que sempre foi um patrimônio público, clube deve assinar contrato da Redação No próximo dia 21, Fluminense e Vasco vão “reinaugurar” partidas de clubes no novo Maracanã. Mandante do clássico que marcará a volta dos clubes ao estádio, o Fluminense completa 111 anos de fundação exatamente no dia 21 de julho. Em meio às inúmeras

críticas pela privatização do estádio, que sempre foi um patrimônio público, o clube deve assinar um contrato de utilização do Maracanã pelos próximos 35 anos. O futuro compromisso prevê benefícios como um vestiário exclusivo para o clube (o estádio conta com quatro) e uma loja oficial dentro

Três dos próximos quatro jogos do Flamengo serão no estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF). Além da partida contra o Coritiba, sábado, pela sexta rodada do Brasileirão, o time enfrentará na capital federal o Vasco, dia 14 de julho, também pelo nacional, e o ASA de Arapiraca, pela Copa do Brasil. A delegação rubro-negra viaja para a capital federal após o treino da manhã de sexta (5).

do estádio, entre outros. Antes de pegar o Vasco, o Fluminense joga outro clássico pelo Brasileirão, contra o Botafogo, pela sexta rodada, no próximo domingo (7). A partida será realizada na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife, em Pernambuco.

Reizinho pode voltar ao Vasco

Bruno Haddad/Fluminense F.C.

Rafael Sobis passa por Diguinho em treinamento na Urca

O meia Juninho Pernambucano, 37 anos, rescindiu, na quartafeira (3), seu contrato com o New York RB, dos Estados Unidos. O brasileiro explicou que estava insatisfeito com seu desempenho nos gramados e não teve uma boa relação com o treinador da equipe, Mike Petke. Pela equipe, ele disputou 13 jogos oficiais e não fez nenhum gol. Sobre o futuro, o meia afirmou que pensará no que vai fazer.


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