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MINAS
Belo Horizonte, 20 a 26 de março de 2020 Allen Ramos
Em tempos de pânico, o melhor remédio é manter a calma INSPIRA E EXPIRA Profissionais da saúde dão dicas sobre como cuidar da saúde mental em situações de quarentena e isolamento Larissa Costa Cuidar da saúde mental já não é uma coisa fácil, sobretudo em tempos de coronavírus. Com o pânico instalado, o medo e a ansiedade podem ser tornar grandes inimigos no autocuidado e na prevenção contra a doença. O alerta é feito por especialistas, que ressaltam: para lidar com esta crise, o melhor é manter a calma. Segundo a médica de família Iracema de Almeida Benevides, a tendência é que o pânico e a ansiedade aumentem nos próximos dias, especialmente agora que há um crescimento na incidência dos casos. “É preciso termos a capacidade de usar o ‘medo’ de uma maneira produtiva e focar no que precisa ser feito, como a lavagem correta das mãos, o aprendizado de novas formas de cumprimento social, de não se tocar e beijar, cuidados com os objetos e superfícies, proteção aos idosos”, comenta a médica, que segue o referencial da Medicina Antroposófica para orientações e cuidados preventivos com a saúde.
Fake news é o pior remédio
A psicanalista Paula de Paula, que também é professora de psicologia da PUC Minas, avalia que o excesso de informações é uma das principais causas de ansiedade e até de paranoia. Segundo ela, é muito perigoso se informar somente pelo WhatApp. “Não podemos ficar acreditando em
Converse com as crianças
todas as postagens. As pessoas precisam fazer o exercício de averiguar, procurar o que é fake news”, aponta.
Ansiedade e o medo também podem ter como causa as desigualdades sociais Paula pondera que a ansiedade e o medo também podem ter como causa as desigualdades sociais, uma vez que a muitos trabalhadores são informais ou vivem de pequenos comércios. “Essas pessoas podem ficar alarmadas por uma questão que não tem a ver com o medo da doença, mas o medo de como vai ser no final do mês para pagar as contas”, diz.
Dicas para lidar com o isolamento Muitos trabalhadores têm a possibilidade de trabalhar de casa, evitando o convívio social e, consequentemente, evitando a transmissão do vírus, e contribuindo para a proteção coletiva. A quarentena, portanto, não deve ser entendida como punição. Ao contrário, como aponta Iracema, pode ser um momento de buscar novos hábitos e desacelerar. “Já que está em casa, as pessoas podem comer mais devagar. Podem também preparar os alimentos de uma maneira mais pausada e curtir a preparação; tomar mais sucos à base de frutas e fazer receitas para as quais até então não tiveram tempo”, sugere a médica. Frutas cítricas, como laranja e limão, devem ser consumidas à vontade. Além disso, ela aconselha pensar em um dia de cada
A quarentena pode ser um momento de buscar novos hábitos e desacelerar, diz médica vez, planejar uma rotina curta e segui-la. Ela sugere manter o corpo ativo em casa, realizando alongamentos, atividades físicas simples, tomar dez minutos de sol e fazer exercícios respiratórios de inspiração e expiração. Tudo isso ajuda a manter a calma e o foco. A médica alerta para evitar o consumo de álcool e evitar ao máximo o anti-inflamatório ibuprofeno, muito usado em cólicas menstruais. Esse medicamento pode favorecer o desenvolvimento do vírus.
Com as crianças, a dica é organizar o dia com elas e aproveitar o tempo, por exemplo, realizando brincadeiras lúdicas. No entanto, Paula afirma que a presença das crianças em casa pode ser um motivo que gere mais ansiedade tanto para elas, quanto para as mães, principalmente aquelas que não poderão ficar em quarentena. Além dos laços de solidariedade, que podem facilitar o cuidado com os pequenos, uma forma de amenizar a ansiedade é conversar com os filhos sobre o que está acontecendo, sobre os motivos de não ter aula, sobre cuidados de higiene e mudanças de hábitos que envolvem contato físico. “As crianças também sofrem ou com a mudança do hábito ou porque o adulto não se preocupa em explicar para ela a situação. É preciso encontrar meios para conversar com elas, dentro da capacidade de entendimento que cada uma tem”, diz a psicanalista.