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OPINIÃO
Belo Horizonte, 27 de agosto a 2 de setembro de 2021
OPINIÃO
Romeu Zema, o pequeno
João Paulo Cunha Zema dessa vez se superou. Na reunião do fórum de governadores convocada para defender as ameaças à democracia em razão das investidas de Bolsonaro contra o Supremo e o Congresso Nacional, o governador de Minas foi voz dissonante e fez questão de defender o presidente e atacar... o Supremo e o Congresso Nacional. Recusou-se mais uma vez a assinar documento contra as ações antidemocráticas do ex-capitão e propôs um entendimento, na forma de reuniões com os poderes da República. Pelo visto, é o único homem público brasileiro – talvez secundado pelo melífluo e reticente Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado – a crer numa eventual mudança de rumo da bile de ódio que circula no corpo do presidente. O governador mineiro se manifestou, com sua tradicional dificuldade de expressão no vernáculo, para lembrar que tanto o Judiciário quanto o Legislativo também tinham defeitos. Em seguida, apelou para uma reunião com os poderes que ele mesmo acabara de colocar em suspeição. Poderia parecer apenas um chamamento
ao diálogo e ao entendimento, o que mesmo assim seria criticável dado o histórico beligerante do presidente, mas a atitude é mais perigosa do que uma simples dissensão. Em jogo a democracria O que estava em jogo não era a avaliação dos demais poderes ou as pautas de interesse do governador mineiro. Zema viu um debate de ideias em que está manifesta uma ameaça real à democracia no país. Tudo poderia ser resumido na simples filiação do governador mineiro à base de apoio de Jair Messias. No entanto, trata-se de algo muito mais grave. Romeu Zema, ao matizar os arroubos ditatoriais de Bolsonaro como expressão de uma divisão política convencional, deixa claro que não se alinha à defesa da democracia como princípio fundante do Estado brasileiro.
Acredita que merecerá condescendência do mais insensível dos presidentes do planeta
Zema terá seu papel minúsculo reconhecido pela história Para ele, o presidente exerce pressão legítima ao pedir impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes, cabendo aos governadores, no máximo, acionar o “deixa disso” e tocar o bonde de seus interesses. Em sua lógica de comerciante, quem sair na frente leva vantagem. Zema acha que é esperto, mas é apenas mesquinho. Acredita que vale a pena trocar republicanismo por boa vontade; democracia por autoritarismo (desde que seja a seu favor); respeito ao cargo por perspectiva de reeleição. Para quem se lançou contra a política tradicional, é uma capitulação e tanto. O governador mineiro do Novo se apresentou na eleição como uma pessoa vitoriosa na iniciativa privada, fora da política tradicional, sem rabo preso com partidos e disposto a aplicar o receituário neoliberal de menos Estado e mais gestão. O tempo cuidou de mostrar que cada uma dessas afirmações é falsa.
Renato Cobucci / Imprensa MG
Em tudo prevaricou, mentiu ou tegiversou Em tudo o que diz respeito ao interesse público, o governador prevaricou, mentiu ou tergiversou. Em primeiro lugar, pela vinculação com seu partido, o Novo, que nada mais é que a tentativa de estabelecer uma legenda de empresários que detestam o Estado pelo simples fato de que ele pode estabelecer limites para suas ambições. Único governador da legenda no país, tem demonstrado uma incapacidade espantosa para compreender seu papel num cenário complexo de forças e instituições que compõem a democracia. Está isolado numa sigla que não reconhece sua liderança. Agastou-se com servidores, com os deputados e prefeitos e com os movimentos sociais. Tem sido voz dissonante entre governadores e não emite sinal de liderança para
Assim como Aécio eAnastasia, deixará legado de prejuízos
a bancada mineira no Congresso. Incompetência universal Fracassou em todas as políticas públicas, exatamente por não entender de política e ter alergia a tudo que é público. Tem sido assim na educação e na saúde, por exemplo. O estado na pandemia não ofereceu uma alternativa pedagógica aos estudantes mais vulneráveis e resumiu sua atuação sanitária à logística. Empreendedor e individualista, o secretário de estado da saúde furou a fila da vacina. Sua única bandeira constante tem sido a privatização de empresas públicas, mas sem a capacidade de gerar confiança em possíveis compradores e muito menos de avançar junto ao Legislativo e aos servidores das estatais. Exemplo de incompetência universal, desagradou o capital, o trabalho e a política. Assim como Aécio e Anastasia, também vai deixar como legado prejuízos no campo moral. A começar pela covardia, que pode acabar em vergonha para todos os mineiros. Na trajetória da ameaça à democracia sob Bolsonaro, Zema terá seu papel minúsculo reconhecido pela história. Porque até nisso ele é um homem menor.