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Romeu Zema, o pequeno

OPINIÃO

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Renato Cobucci / Imprensa MG

João Paulo Cunha

Zema dessa vez se superou. Na reunião do fórum de governadores convocada para defender as ameaças à democracia em razão das investidas de Bolsonaro contra o Supremo e o Congresso Nacional, o governador de Minas foi voz dissonante e fez questão de defender o presidente e atacar... o Supremo e o Congresso Nacional.

Recusou-se mais uma vez a assinar documento contra as ações antidemocráticas do ex-capitão e propôs um entendimento, na forma de reuniões com os poderes da República. Pelo visto, é o único homem público brasileiro – talvez secundado pelo melífluo e reticente Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado – a crer numa eventual mudança de rumo da bile de ódio que circula no corpo do presidente.

O governador mineiro se manifestou, com sua tradicional dificuldade de expressão no vernáculo, para lembrar que tanto o Judiciário quanto o Legislativo também tinham defeitos. Em seguida, apelou para uma reunião com os poderes que ele mesmo acabara de colocar em suspeição. Poderia parecer apenas um chamamento ao diálogo e ao entendimento, o que mesmo assim seria criticável dado o histórico beligerante do presidente, mas a atitude é mais perigosa do que uma simples dissensão.

Em jogo a democracria

O que estava em jogo não era a avaliação dos demais poderes ou as pautas de interesse do governador mineiro. Zema viu um debate de ideias em que está manifesta uma ameaça real à democracia no país.

Tudo poderia ser resumido na simples filiação do governador mineiro à base de apoio de Jair Messias. No entanto, trata-se de algo muito mais grave. Romeu Zema, ao matizar os arroubos ditatoriais de Bolsonaro como expressão de uma divisão política convencional, deixa claro que não se alinha à defesa da democracia como princípio fundante do Estado brasileiro.

Acredita que merecerá condescendência do mais insensível dos presidentes do planeta Zema terá seu papel minúsculo reconhecido pela história

Para ele, o presidente exerce pressão legítima ao pedir impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes, cabendo aos governadores, no máximo, acionar o “deixa disso” e tocar o bonde de seus interesses.

Em sua lógica de comerciante, quem sair na frente leva vantagem. Zema acha que é esperto, mas é apenas mesquinho. Acredita que vale a pena trocar republicanismo por boa vontade; democracia por autoritarismo (desde que seja a seu favor); respeito ao cargo por perspectiva de reeleição. Para quem se lançou contra a política tradicional, é uma capitulação e tanto.

O governador mineiro do Novo se apresentou na eleição como uma pessoa vitoriosa na iniciativa privada, fora da política tradicional, sem rabo preso com partidos e disposto a aplicar o receituário neoliberal de menos Estado e mais gestão. O tempo cuidou de mostrar que cada uma dessas afirmações é falsa.

Em tudo prevaricou, mentiu ou tegiversou

Em tudo o que diz respeito ao interesse público, o governador prevaricou, mentiu ou tergiversou.

Em primeiro lugar, pela vinculação com seu partido, o Novo, que nada mais é que a tentativa de estabelecer uma legenda de empresários que detestam o Estado pelo simples fato de que ele pode estabelecer limites para suas ambições. Único governador da legenda no país, tem demonstrado uma incapacidade espantosa para compreender seu papel num cenário complexo de forças e instituições que compõem a democracia. Está isolado numa sigla que não reconhece sua liderança.

Agastou-se com servidores, com os deputados e prefeitos e com os movimentos sociais. Tem sido voz dissonante entre governadores e não emite sinal de liderança para

Assim como Aécio eAnastasia, deixará legado de prejuízos

a bancada mineira no Congresso.

Incompetência universal

Fracassou em todas as políticas públicas, exatamente por não entender de política e ter alergia a tudo que é público. Tem sido assim na educação e na saúde, por exemplo. O estado na pandemia não ofereceu uma alternativa pedagógica aos estudantes mais vulneráveis e resumiu sua atuação sanitária à logística. Empreendedor e individualista, o secretário de estado da saúde furou a fila da vacina.

Sua única bandeira constante tem sido a privatização de empresas públicas, mas sem a capacidade de gerar confiança em possíveis compradores e muito menos de avançar junto ao Legislativo e aos servidores das estatais. Exemplo de incompetência universal, desagradou o capital, o trabalho e a política.

Assim como Aécio e Anastasia, também vai deixar como legado prejuízos no campo moral. A começar pela covardia, que pode acabar em vergonha para todos os mineiros. Na trajetória da ameaça à democracia sob Bolsonaro, Zema terá seu papel minúsculo reconhecido pela história. Porque até nisso ele é um homem menor.

Viviane Sarmento Mulheres com deficiência e a luta contra o patriarcado e o capacitismo

Muitos paralelos existem entre os significados sociais atribuídos aos corpos femininos e os corpos com deficiência. Tanto o corpo feminino quanto o das pessoas com deficiência são considerados historicamente desviantes e inferiores; ambos são definidos a partir de uma lógica social, cultural e econômica e, por isso, categorizados a partir de uma norma.

Entretanto, a discursiva equação que desvincula o feminino da deficiência nunca deixou de ser comum. Tais nexos estão alicerçados na ideia socialmente naturalizada da deficiência como um corpo biológico disfuncional e socialmente invalidado. Essa construção tem consequências graves e diárias, implícitas e explícitas.

Um exemplo são as perguntas constantes sobre a sexualidade da mulher com deficiência: ela transa, sente prazer, fica grávida, alguém pode amá-la, é lésbica? Ou ainda, as dúvidas onipresentes sobre a possibilidade de uma vida com deficiência gerar ou cuidar de outrem, as quais respaldadas no argumento eugênico de um trabalho de tratamento bioético social, esterilizam essas mulheres.

Esses exemplos ilustram o fato de que tudo que se refere à essencialização do feminino, mas se choca com a realidade de mulheres com deficiência, coaduna-se proporcionalmente com um julgamento de “impossibilidade social de existência”. Isto porque rompe com o ideário de corpo e indica a representação do oposto ao empregado pelo autogoverno, autodeterminação, autonomia e progresso fundantes na ideologia neoliberal.

Precisamos trazer para a centralidade das discussões feministas a deficiência como pauta porque antes de mais nada ela se funde nas injustiças sociais e é através de mulheres subversivas como Rosa Luxemburgo, Frida, Maria da Penha (todas com deficiência) que estabelecemos a própria desordem. Uma recusa da lógica subordinada de ideal. Violar a norma é ser anticapacitista. Viviane Sarmento é doutora em Educação e professora da UFAPE e pesquisadora sobre os significados sociais da deficiência e militante da Marcha Mundial Mulheres (MMM).

Violar a norma é ser anticapacitista

Leia os artigos completos no site brasildefatomg.com.br

Samuel Átila Onde está a terceira dose da vacina?

Nos últimos dias, têm se acalorado o debate sobre a necessidade de uma terceira dose da vacina contra a covid-19. Diversos estudos mostram que a imunidade promovida pelas vacinas reduz com o tempo, principalmente em populações com baixa imunidade, como no caso dos idosos. A aplicação de uma dose extra, se torna ainda mais importante no contexto do surgimento de novas variantes do novo coronavírus.

Nessa linha, países como os Estados Unidos, anunciaram a aplicação de uma terceira dose na sua população, em um cenário de alta de casos e mortes, e baixa procura vacinal.

O ministro da saúde, Marcelo Queiroga, sinalizou a inclusão no Programa Nacional de Imunizações de uma dose de reforço inicialmente para idosos e profissionais da saúde, ainda sem dar mais informações.

No entanto, um em cada três brasileiros ainda não tomou nenhuma dose da vacina, e apenas 25% da população se encontra com o esquema completo. O quadro é ainda mais preocupante a nível mundial.

Menos de 35% da população mundial recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19. Mais de 80% das vacinas foram para países de alta e média renda, enquanto no continente africano, apenas 2% se vacinaram completamente.

Diante disso, a Organização Mundial da Saúde pediu um freio na terceira dose, até que pelo menos 10% da população do mundo esteja vacinada. Como aplicar uma terceira dose onde bilhões de pessoas não tomaram nenhuma?

Precisamos sim de novas doses, mas talvez ainda não seja o momento ideal. Devemos ainda avançar, e muito, na vacinação da primeira, aumentar a produção mundial de vacinas, distribuir não só para quem pode comprar.

Só podemos vencer essa pandemia se vencermos todos juntos. Não adianta um país aplicar a terceira, quarta, quinta e outros, dose nenhuma. Samuel Átila é integrante da Rede de Médicos e Médicas Populares no Ceará

Só 35% da população mundial recebeu ao menos uma dose

ACOMPANHANDO

Na edição 338... Volta às aulas presenciais é “insanidade”, avaliam professoras ... E agora Aulas presenciais só serão seguras com vacinação de crianças e adolescentes

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou na última segunda-feira (23) o documento “Recomendações para o retorno às atividades escolares presenciais”, baseado em evidências e informações científicas e sanitárias, nacionais e internacionais, sobre o retorno às atividades escolares. O grupo “acredita que as vacinas devam ser igualmente protetoras contra a covid-19 em adolescentes”. Deixa claro, no entanto, que o plano de retorno às atividades presenciais de ensino deve ser aprovado após ampla discussão com a comunidade escolar e continuamente atualizado.

CPI da Covid: “esquecimentos” e silêncio marcam depoimento de Ricardo Santana

CORRUPÇÃO Empresário esteve presente no jantar em que se pediu propina na compra da AstraZeneca

Felipe Mascari Rede Brasil Atual

O depoimento do empresário José Ricardo Santana na CPI da Covid, na quinta-feira (26), foi marcado por uma série de “esquecimentos” e também pelo direito de ficar em silêncio. O depoente, que não prestou compromisso de dizer a verdade, foi convocado por ter participado do jantar em que teria sido feito o pedido de propina na compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.

Ricardo Santana chegou à CPI da Covid amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, para não dizer nada que pudesse incriminá-lo. A partir disso, a testemunha recorreu à falta de memória quando questionado diversas vezes. Como, por exemplo, em relação a seu salário como funcionário da Anvisa ou de encontros realizados por ele.

Quando decidiu responder às perguntas, o depoente foi superficial e não entrou em detalhes. Em outros momentos, usou o direito de ficar em silêncio. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), se revoltou com o andamento da sessão. “A gente precisa manter cautela e sangue frio, mas é dito de maneira descarada que ele não se lembra de nada. Não lembra como conheceu as pessoas ou como participou de uma negociação de vacina”, criticou. Cristiane Sampaio

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) validou, por oito votos a dois, a norma que concedeu autonomia ao Banco Central (Bacen). Com isso, segue em vigor a Lei Complementar 179/2021, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e aprovada pelo Congresso Nacional em fevereiro deste ano.

A medida foi judicialmente questionada por PT e Psol. Os dois partidos apontaram inconstitucionalidade. O teor da ação avaliada pelo Supremo, no entanto, não se debruçou sobre o conteúdo da nova legislação, e sim sobre as questões técnicas que definem o rito de avaliação desse tipo de medida.

O relator do caso na Corte, ministro Ricardo Lewandowski, votou pela procedência parcial do pedido feito pelo PT e pelo Psol.

Edilson Rodrigues /Agência Senado

Relação com lobista

Logo no começo da sessão, o relator Renan Calheiros (MBD-AL) exibiu um áudio de Ricardo Santana em conversa com o lobista Marconny Albernaz sobre a elaboração de um plano para o Ministério da Saúde. De acordo com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), as informações colhidas pela CPI da Covid mostram que o empresário conheceu o lobista na casa de Karina Kufa, advogada do presidente Jair Bolsonaro.

Porém, ao ser questionado sobre sua relação com Marconny e Karina, Ricardo disse “não se recordar das circunstâncias” em que foi apresentado ao lobista e não se lembrou também de quem mais estava na casa da advogada.

Ricardo Santana informou que, ao deixar a Anvisa, foi convidado para fazer parte da equipe do Ministério da Saúde pelo ex-diretor de logística Roberto Ferreira Dias. Ele também disse não se lembrar de como conheceu Dias, nem detalhou sua relação com o ex-diretor, mas afirmou que saiu da agência para trabalhar no Ministério da Saúde sem remuneração.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) insistiu, perguntando quando o depoente havia deixado o Ministério da Saúde, informação importante para estabelecer a cronologia da negociação de imunizantes. Ele afirmou se lembrar apenas da data em que preencheu os formulários para assumir um cargo no ministério, 25 de março.

Para os senadores, deixar um trabalho remunerado para ficar sem salário reforça a tese de que “ele era um lobista dentro do Ministério da Saúde”.

Memória curta de Ricardo Santana

O empresário Ricardo Santana também foi perguntado sobre o jantar em que teria ocorrido o pedido de propina na compra da AstraZeneca. O depoente afirmou não ter presenciado nenhum pedido de vantagem indevida durante jantar realizado, em 25 de fevereiro, em Brasília.

Santana acrescentou que foi um “encontro social” com o então diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, mas chegaram à mesa o cabo Luiz Dominguetti Pereira e o militar Marcelo Blanco. Novamente, ele disse “não se lembrar de detalhes” e afirmou que “conversaram sobre amenidades”.

A testemunha também foi questionada sobre as viagens à Índia pagas pela Precisa Medicamentos – empresa investigada por irregularidades na compra da Covaxin. Sobre o tema e sua relação com a Precisa, preferiu ficar em silêncio.

Renan perguntou se Ricardo Santana já havia prestado serviços para a Precisa, mas o empresário usou novamente o direito ao silêncio.

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