Edição 351 do Brasil de Fato MG

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Tânia Rêgo / Agência Brasil Mídia Ninja

750 mil em conflito com mineração

Bom de bola, bom de escola!

De 823 ocorrências de conflitos em todo o país, 45% aconteceram em terras mineiras

Depois da pelada da rua e a derrota do time do Palmito, todo mundo ganhou chup-chup

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CRÔNICA 13

MG Minas Gerais Belo Horizonte, Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021 • edição 351 • brasildefatomg.com.br • distribuição gratuita

Dois golpistas, um só projeto

Bolsonaro passou dois meses ameaçando dar um novo golpe no país, convocou atos antidemocráticos, gritou bravatas contra o Supremo e o Congresso e terminou a semana nos braços dos que o colocaram na presidência, os mesmos que deram um golpe há cinco anos no Brasil. Comunicado do presidente nesta quinta (9), recuando de suas declarações, foi redigido por Temer, mostrando que, entre os dois, há profundas semelhanças e pouquíssimas diferenças I BRASIL 2, 6, 7, 8 e 9

SOS: Rede Minas e Rádio Inconfidência

Cuba: primeiro país a vacinar crianças

Cárceres: visitas do bem

Direito Constitucional, Empresa Mineira de Comunicação deveria receber 3% dos gastos de publicidade do governo, recebeu 0,83%

Cuba desenvolveu cinco vacinas próprias contra covid-19 e é o primeiro a vacinar crianças de 2 a 11 anos

Visita aos detentos está reduzida a um familiar a cada 30 dias, com duração de 3 horas

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MUNDO 10

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OPINIÃO

Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

EDITORIAL

Verde e amarelo anti povo no mês da independência Chegamos a setembro, mês da independência do Brasil. Independência que nunca foi realizada. O amor à pátria serve apenas de discurso para aqueles que vendem os nossos bens naturais, negligenciam a saúde do povo e implementam um projeto de retirada de direitos que cada vez mais piora as condições de vida do povo brasileiro. O presidente da República chama de idiota quem diz que é preciso comprar feijão em vez de fuzil, enquanto

ESPAÇO DOS LEITORES “Parabéns Patos de Minas!” Neides Abreu comenta cobertura do 27° Grito dos Excluídos, no dia 7 de setembro -“Foi ótimo. Parabéns e gratidão” Carolina de Moura comenta cobertura do 27° Grito dos Excluídos, no dia 7 de setembro -“Que saudades, Dona Geralda! Melhor comida do mundo é a dela!” Elizabete Custódio sobre a matéria “Festival Cauê mostra que maior riqueza de Moeda (MG) são as pessoas e não o minério” -“Uai, mas ele não disse que está colocando tudo em dia?” Idene Maria comenta o artigo “’Bomba relógio’: dívida de Minas ‘explode’ com Zema, R$ 30 bilhões em dois anos”, de José Prata Araújo -“Absurdo. Formas de trabalho escravo. Espero que seja feita justiça” Júlia Zuza sobre a reportagem “Presidente da Cooxupé no Sul de Minas desconta 30% do salário de trabalhadores e é autuado” -“Uma vergonha notória” Rogerio Zola Santiago comenta matéria “Empresários, sindicatos e jornalistas mineiros repudiam nota bolsonarista da Fiemg”

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Temos 41 novos bilionários e 15 milhões de desempregados mais de 20 milhões de brasileiros passam fome. Ao mesmo tempo, o Brasil produziu, em 2020, 41 novos bilionários e, de outro lado, quase 15 milhões de desempregados. Bolsonaro se recusava a comprar vacinas e, propagando o negacionismo - contrário às medidas sanitárias -, perdemos já quase 600 mil pessoas para a covid-19. Não há, nesse governo, projeto para o povo brasileiro. Em meio a essas contradições, chegamos ao dia 7 de setembro. Dia repleto de manifestações (pró e contra o governo). Vimos, nas ruas, de um lado, o discurso vazio de defesa da pátria, mascarando uma defesa cega de Jair Bolsonaro e em contraponto a defesa da democracia, do povo e da vida! Defesa da Fome x Defesa da Vida De um lado, pessoas de verde e

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

amarelo, usando os símbolos nacionais, com mensagens de ameaça à democracia, ao STF e ao Congresso Nacional. Do outro, o Grito dos Excluídos com o lema “Vida em Primeiro Lugar”, conectado a pautas como participação popular, comida, saúde, trabalho e renda, somando forças com a Campanha Nacional Fora Bolsonaro em defesa do impeachment do presidente. Também no dia 7 de setembro, foi o aniversário de quatro anos de duas importantes ocupações urbanas na capital mineira. A Ocupação Carolina Maria de Jesus, organizada pelo MLB, e a Ocupação Pátria Livre, organizada pelo MTD, que carrega no nome a esperança da real liberdade da nação. Essas comunidades deixam uma importante mensagem: na luta popular e por direitos, junto ao povo e com organização e trabalho coletivo, é possível construir uma nova história.

Luta popular melhora a vida O povo resiste e é ele quem faz a nação, por meio do seu trabalho, da solidariedade, da resistência, da luta, e assim vamos construindo o Brasil que queremos. Afinal, que amor à pátria é esse que deseja a morte dos seus? Existe nação sem um povo? Não. Não existe. E é dever do Estado e de seus governantes agirem para melhorar as condições de vida da população. É momento de reivindicar para o povo brasileiro a pátria Brasil. Que só será livre e independente se o seu povo assim o for.

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conselho editorial minas gerais: Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Ênio Bohnenberger, Felipe Pinheiro, Frederico Santana Rick, Helberth Ávila de Souza, Jairo Nogueira Filho, Jefferson Leandro, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, José Luiz Quadros, Juarez Guimarães, Laísa Campos, Marcelo Almeida, Makota Celinha, Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Robson Sávio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Edição: Amélia Gomes, Elis Almeida, Frederico Santana, Larissa Costa, Rafaella Dotta e Wallace Oliveira Redação: Amélia Gomes, Ana Carolina Vasconcelos, Larissa Costa, Rafaella Dotta, e Wallace Oliveira. Colaboração: André Fidusi, Anna Carolina Azevedo, Débora Borba, Joana Tavares , Marcelo Gomes. Colunistas: Antônio de Paiva Moura, Beatriz Cerqueira, Bráulio Siffert, Macaé Evaristo, Eliara Santana, Fabrício Farias, Iza Lourença, João Paulo Cunha, Jonathan Hassen, José Prata Araújo, Makota Celinha, Moara Saboia, Portal do Bicentenário da Independência, Renan Santos, Rogério Hilário, Rubinho Giaquinto, Sofia Barbosa, Tarifa Zero Administração e distribuição: Paulo Antônio Romano de Mello e Vinícius Moreno Nolasco. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Revisão Luciana Golnçalves Tiragem: 10 mil exemplares. Razão social: Associação Henfil Educação e Comunicação


Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021 Divulgação

Declaração da Semana “Quero meu país de volta! Não podemos fazer com que o discurso fascista e horroroso seja propagado dessa maneira. Não é liberdade de expressão. O discurso de Bolsonaro é contra nós. É contra a vida. É contra o Brasil”

GERAL

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Números da Semana 300 mil

pessoas protestaram em cerca de 200 municípios brasileiros contra o presidente Bolsonaro. Os atos marcaram o 27º Grito dos Excluídos, que aconteceu no dia 7 de setembro.

Restaurantes populares reabertos em BH

Karoline Barreto / CMBH

Daniela Mercury

Desde quarta (8), as quatro unidades dos restaurantes populares de BH reabriram suas portas ao público em geral. Algumas regras, como obrigatoriedade do uso de máscaras, exceto no momento de comer e beber, e o distanciamento nas filas e das mesas, foram adotadas para evitar aglomeração. O atendimento com marmitex ainda será mantido. O almoço é R$ 3, o jantar R$ 1,50 e o café da manhã é R$ 0,75. As refeições servidas para as pessoas em situação de rua são totalmente subsidiadas pela prefeitura e os beneficiários do Bolsa Família pagam metade do valor.

Própolis é ótimo para a saúde

Instituto Biológico

Naturalmente, o própolis ajuda as abelhas a limpar a colmeia e a afastar predadores. Com diversas propriedades medicinais, é usado há milhares de anos como bactericida, cicatrizante, antioxidante e anti-inflamatório. Qualquer pessoa pode incluir o própolis em sua dieta para prevenir doenças, é só colocar algumas gotinhas em sucos, no mel ou mesmo na água com limão. O melhor própolis é o orgânico, pois não é contaminado com metais pesados e não apresenta resíduos de agrotóxicos.


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MINAS

Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

Para familiares, visitas a pessoas encarceradas devem ser retomadas integralmente

Em BH, custo da cesta básica tem alta de 20% em um ano

SISTEMA PRISIONAL Neste momento, a cada 30 dias, um familiar pode realizar a visita presencial, cuja duração é de três horas

Em agosto, o custo da cesta básica em Belo Horizonte chegou a R$ 574,53, isto é, 52,23% do salário mínimo. No acumulado em 12 meses, a cesta básica ficou 19,98% mais cara em BH e todos os itens da cesta registraram alta nesse período. Um dos principais vilões tem sido a carne chã de dentro, que encareceu 30,73% em um ano.

Carlos Alberto /Imprensa MG

Defesa dos direitos humanos

Larissa Costa Desde o mês passado, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), por meio da portaria nº 14, autorizou o retorno gradual das visitas presenciais às pessoas privadas de liberdade custodiadas nas penitenciárias federais. Em Minas Gerais, a retomada das visitas nos 194 presídios e penitenciárias já estão sendo realizadas, segundo o Depen-MG, desde o ano passado, de acordo com os protocolos exigidos pelo Minas Consciente. Neste momento, em que todas as macrorregiões estão classificadas como onda verde – exceto o Triângulo do Sul, que está na onda amarela –, a cada 30 dias, um familiar pode realizar a visita presencial, cuja duração é de três horas. Na onda amarela, a duração da visita passa para 20 minutos. A medida já é um alívio para muitas famílias que ficaram meses sem poder ver seus filhos, companheiros, irmãos, maridos que estão sob custódia do Estado no sistema prisional. Roberta Farias, da Associação El Shaday de Apoio ao Recuperando e Família defende que “hoje, com tudo o que vem acontecendo, com a liberação de estádio, a liberação

de bares, a visita não voltou como deveria voltar. E para fazer a visita, tem de ser agendado e são poucas as pessoas que conseguem por causa das datas, que não são em finais de semana”, comenta. “A pessoa tenta o dia inteiro e o telefone só dá ocupado”, afirma. Roberta relata que na penitenciária de Francisco Sá, após um ofício encaminhado para a promotoria e uma greve de fome realizada pelos presos, foi autorizada a visita de 16 pessoas por pavilhão nos finais de semana. “E mesmo assim é muito pouca gente. É um descaso muito grande. E com os presos vacinados, acho que o protocolo deveria ser este: liberar as visitas exigindo que quem for entrar esteja vacinado também”, avalia. Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), até o momento, 42.821 presos foram vacinados contra a covid-19 pelo menos com a primeira dose. A população carcerária em Minas Gerais é de 72 mil pessoas.

60% dos presos já foram vacinados em MG

De acordo com Maria de Lourdes de Oliveira, uma das coordenadoras da Pastoral Carcerária, as visitas – tanto de familiares quanto das organizações que prestam assistência religiosa, são uma ferramenta de controle social para a prevenção de tratamentos cruéis e degradantes, de tortura, de maus tratos às pessoas que estão privadas de liberdade. “Durante a pandemia, muitos pediam socorro”, conta. De acordo com o artigo 41 da Lei de Execução Penal, é direito da pessoa privada de liberdade receber visita de cônjuge, de companheira, de parentes e amigos em dias pre determinados. Valdênia Geralda de Carvalho, professora da Escola Superior Dom Helder Câmara e conselheira do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh), afirma que“a supressão do sistema de visitação presencial e a adoção de visitas virtuais tem um cunho extremamente impessoal e frio. Nada se equipara ao calor humano e ao contato pessoal”, avalia.

No mês de agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Restrito (IPCR) registrou alta de 0,45%. Esse índice mede os custos das famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos, incluindo itens não-alimentícios e outros itens de alimentação, para além dos contemplados no cálculo da cesta básica. No acumulado em 12 meses, a inflação foi de 10,15%.

Colégio Federal de Viçosa adota sistema de cotas Após um ano de mobilizações, estudantes do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa - Coluni UFV conquistam adoção de sistema de cotas na escola. O sistema será adotado a partir do ano de 2022, conforme previsto na lei 12.711/2012 e adotado pela maioria das instituições. Considerada a melhor escola pública do Brasil de acordo com o ranking do ENEM de 2019, o Coluni, tinha entre os ingressantes, 70% que se declararam brancos. Em reunião, no dia 29 de setembro, por unanimidade, o colegiado da instituição aprovou a adoção do sistema de cotas a partir de 2022. As inscrições para o processo seletivo estão abertas.


Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

Zema não investe o mínimo estabelecido por lei em comunicação pública SUCATEAMENTO Governo destinou menos de 1% do recurso gasto com publicidade para a Empresa Mineira de Comunicação, mínimo seria 3%

MINAS

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Em Minas, pelo menos 750 mil pessoas tiveram conflito com a mineração no ultimo ano

Bernardo Dias /CMBH

Gil Leonardi /Imprensa MG

Rafaella Dotta

Trabalhadores com salários congelados Amélia Gomes Sob a gestão de Romeu Zema (Novo) a comunicação pública mineira vai de mal a pior. E nem mesmo a lei, consegue deter o descaso do governador com a Rádio Inconfidência e a Rede Minas. Dados obtidos no Portal da Transparência de Minas Gerais mostram que de setembro de 2019 a setembro de 2020, o governo do estado destinou às emissoras apenas 0,83% do valor gasto com publicidade. De acordo com o artigo 130 da Lei 23.304/19 devem ser reservados à Empresa Mineira de Comunicação, entidade que engloba a Rede Minas e Rádio Inconfidência, “três por cento dos recursos destinados à publicidade governamental, incluídos os destinados aos órgãos e entidades da administração direta e indireta e empresas controladas pelo Es-

tado”. Com isso, a dívida do governo com a EMC, somente de 2019 a 2020, está em torno de quase um R$ 1,5 milhão.

Zema insiste em descumprir um direito constitucional Os dados foram solicitados pelo jornalista e integrante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Aloisio Lopes. “O governador vetou esse artigo da lei, no entanto a ALMG derrubou o veto. Mas o Zema insiste em descumprir um direito constitucional. Isso é apenas um dos inúmeros exemplos do descaso do governo com a comunicação pública”, denuncia o ex conselheiro do Conselho Curador da TV Minas.

Os trabalhadores da Rádio Inconfidência fizeram greve entre o dia (2) e o dia (8) de setembro, contra a aprovação do Plano de Cargos e Salários (PCS) proposto pelo governo. O PCS, que não passou por consulta aos trabalhadores, propõe uma reestruturação nos cargos e carreiras ampliando a desigualdade entre concursados e comissionados. Há três anos, os funcionários concursados estão com salários congelados. Apesar disso, no ano passado os cargos de comando da EMC tiveram uma reposição de 11 anos do INPC. Com isso, o salário bruto de apenas 18 servidores comissionados da Empresa consome cerca de 40% dos gastos da rádio com a folha salarial.

O Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração lançou um importante levantamento das violações cometidas pelo setor minerário. Ao todo, foram contabilizadas 823 ocorrências de conflitos em todo o país, envolvendo ao menos 1 milhão de pessoas. O Mapa dos Conflitos da Mineração no Brasil levantou que, dos casos mapeados, 45% aconteceram em terras mineiras, tendo Pará (14,9%) e Bahia (9,8%) na sequência. Já em relação ao número de pessoas atingidas, Minas Gerais concentra 75%, ou seja, mais de 750 mil pessoas, seguido por Alagoas (66 mil pessoas), Pará (cerca de 50 mil pessoas) e Roraima (cerca de 43 mil pessoas). Número de atingidos pode chegar a milhões

O número de atingidos é preocupante, mas pode ser ainda maior. Letícia Oliveira, da coordenação estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Minas Gerais, avalia que os rompimentos das barragens da Samarco/Vale/BHP Billiton em Mariana e a barra-

gem da Vale em Brumadinho, respectivamente, podem ter atingido 500 mil e 600 mil pessoas diretamente. Os impactos indiretos certamente chegariam a milhões de pessoas. “No mapa estão os conflitos que conseguiram ser mapeados. Porém, às vezes as pessoas não falam, ou estão em lugares mais afastados, onde as pesquisas e mídias não conseguem chegar”, comenta. Ela relembra ainda as barragens em risco de insegurança nível 3 que existem em Minas Gerais, como no distrito de Macacos e Barão de Cocais, em que a população ainda não voltou para suas casas. “E, nesse caso, toda a região sofre o impacto. A desestruturação econômica e das relações sociais reverberam para outras comunidades”. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), 482 municípios mineiros têm atividades minerárias atualmente e receberam a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos (CFEM) em 2020. O Mapa conseguiu levantar conflitos em 121 municípios mineiros, o que sugere a existência de uma subnotificação de registros em que se baseia o levantamento.


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

OPINIÃO

Instituições mereciam destino melhor João Paulo Cunha De onde menos se espera é que não sai nada mesmo. A reação dos presidentes da Câmara e do Senado, do Supremo Tribunal Federal e do Procurador Geral da União se resumiu a uma sequência de vexames. As chamadas instituições, por meio de seus representantes, depois de enxovalhadas grosseiramente por Bolsonaro, numa fila de crimes vomitados no 7 de setembro, não reagiram à altura. É preciso ser muito ingênuo para alimentar expectativas com Lira, Pacheco, Fux e Aras. Cada um deles, dentro do estilo que os caracteri-

za e dos interesses que representam, preferiu a via do discurso, mais ou menos indignado, a assumir a responsabilidade da ação em suas áreas de responsabilidade.

Rodrigo Pacheco, em vez de agir, preferiu a inação Os analistas políticos da mídia corporativa bem que tentaram criar uma atmosfera de reação a Bolsonaro, dando estofo ao que foi vazio e reticente. A própria imprensa, pelo menos par-

te dela, parece ter se anistiado da adesão ao horror em que ajudaram a meter o país, usando pela primeira vez a palavra golpismo para descrever ações golpistas. O que é quase uma revolução para empresas que até poucos meses atrás haviam banido de seu vocabulário a expressão “extrema direita” e “fascismo”. Presidentes dos poderes não vão fazer nada Não adianta buscar sinais de dignidade e respeito ao cargo. As falas dos presidentes de poderes e do PGR foram apenas sinalizações que não vão fazer nada. Na verdade, já não fizeram, mesmo com a demonstra-

ção inequívoca de crimes que eles mesmos fizeram questão de destacar. Todos, de certa forma, sol-

Não devemos ter expectativas com Lira, Pacheco, Fux e Aras taram um “vai trabalhar, vagabundo”, para o presidente. Mas não seguiram o próprio conselho. O presidente da Câmara, Arthur Lira, depois de dar um perdido antes e durante os atos antidemocráticos, reiterou que vai

se manter sentado sobre as dezenas de pedidos de impeachment. O senador Rodrigo Pacheco também tem em mãos atitudes objetivas a serem tomadas à frente do Senado, como desaprovar a indicação do candidato indicado pelo presidente ao STF. Mas em vez de agir para transformar, preferiu protestar pela inação. Luiz Fux, presidente do Supremo, foi o mais duro no conteúdo e iracundo na forma. No entanto, seu esperado pronunciamento foi puro anticlímax. Ninguém, cioso de suas responsabilidades e poder, diz que não vai tolerar ilícito, simplesmente não tolera. ANÚNCIO


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OPINIÃO

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Arthur Guimarães/ TV Globo

Olívio Filho

A crise reforça o consumo de alimentos ultraprocessados

Tietagem de Queiroz em ato golpista: corrupção nunca foi a questão Foi extremamente didática a recepção que Fabrício Queiroz teve de fãs de Jair Bolsonaro na manifestação golpista realizada no Rio, na terça (7). O operador das “rachadinhas”, como são carinhosamente conhecidos os desvios de salários dos servidores da Assembleia Legislativa do Rio, foi tietado e tratado como estrela. Melhor, como um “pica do tamanho de um cometa” - para usar a icônica expressão por ele adotada para explicar o tamanho de seu medo em relação às investigações do Ministério Público sobre as maracutaias de corrupção. E ele tinha razão. Em novembro do ano passado, Queiroz veio a ser denunciado junto com o ex-chefe, Tudo pode ser o ex-deputado estadual e hoje senador, Flávio Bolsonaro, por lavagem de dinheiro, apropriação indébita, resumido à palavra “papai” organização criminosa e peculato. O desenrolar desse processo avança vagarosamente por conta de disputas sobre o foro e provas nos tribunais. Mas, no geral, tudo pode ser resumido à palavra “papai”. Da mesma forma, Queiroz, que já ficou escondido na casa do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia, e depois passou um tempo preso em meio ao processo das rachadinhas, está mais solto do que nunca. Deve estar se sentindo protegido. Ganha um pão com leite condensado quem descobrir quem é o seu anjo da guarda e vier me contar. Há uma parcela de 15% da população que acredita em absolutamente tudo o que Jair diz, segundo o Datafolha. Esse grupo põe fé quando Bolsonaro diz que acabou com a corrupção no Brasil e que garantiu transparência total - mesmo que ele, não responda a razão de Queiroz ter depositado R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle. Mas há uma parcela dos bolsonaristas radicais que sabe que Messias é mito, mas não é santo - e não se importa com isso. Para eles, não há problema algum se Bolsonaro tirar o seu cascalho. Leonardo Sakamoto é jornalista e fundador da ONG Repórter Brasil.

Leia os artigos completos no site brasildefatomg.com.br Estes são artigos de opinião. A visão dos autores não expressam necessariamente a linha editorial do jornal Brasil de Fato

Olivio José da Silva Filho é gastrônomo, doutorando em Política Social pela Universidade de Brasília.

ACOMPANHANDO

Leonardo Sakamoto

As transformações dos hábitos alimentares no Brasil não é algo novo e tem se intensificado desde o final do século 20. Como demonstra a Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos no Brasil, realizada pelo IBGE, houve um incremento da participação dos ultraprocessados e a diminuição de alimentos in natura ou minimamente processados no total de calorias consumidas nos domicílios brasileiros. Em geral, a pesquisa identi- Pandemia ficou que, em média, a partiacelera cipação na composição nutricional dos alimentos in natu- desigualdade ra ou minimamente processa- alimentar dos passou de 53,3% em 20022003 para 49,5% e a participação de ultraprocessados, que era de 12,6% passou para 18,4% na edição atual da pesquisa. O atual sistema alimentar brasileiro é resultado de uma reestruturação produtiva iniciada na década de 1970 e intensificada a partir da década de 1990, na qual o capital financeiro passa a comandar todo este sistema. Essa financeirização do sistema agroalimentar provocou mudanças como: a produção de commodities ao invés de comida; o aumento da financeirização das terras e da natureza; a volatilidade dos preços dos alimentos a partir da especulação; os supermercados como o principal meio de abastecimento dos segmentos da alimentação, higiene, limpeza e de utilidades domésticas; a diminuição do papel de outras formas de comercialização como as feiras livres, os mercados municipais, etc.; e o aumento da disponibilidade de alimentos ultraprocessados para os consumidores. Se o aumento do consumo de ultraprocessados já era uma realidade, a pandemia acelera ainda mais essa tendência. Isso significa que ela pode reforçar as desigualdades, deixando em margens mais estreitas a realização do consumo e a segurança alimentar dos mais pobres.

Na edição 350... R$ 3,45 bilhões por mês a mais do bolso dos mais pobres ... E agora “Culpa não é de São Pedro, mas é pra ele que governo precisa rezar” Na quarta-feira (8), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirmou que a capacidade dos reservatórios das usinas hidrelétricas brasileiras deve ficar abaixo de 19%, patamar registrado na crise hídrica de 2014. Mais um elemento de alerta para o futuro próximo da geração de energia no Brasil. Embora o governo venha dizendo que o problema é consequência da estiagem, especialistas no setor elétrico apontam que o problema é de gestão ineficiente e práticas empresariais questionáveis.


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BRASIL

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“Deus, Pátria, Família”: Bolsonaro usa lema da Ação Integralista Brasileira em carta à nação FASCISMO Presidente assinou o documento com a expressão do movimento fundado na década de 1930 Divulgação

Paulo Motoryn e Igor Carvalho Em sua declaração à nação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assina o documento com a expressão “Deus, Pátria, Família”, que é o lema da Ação integralista Brasileira (AIB), movimento com inspiração no fascismo italiano, fundado em 1932 por Plínio Salgado. Os integralistas brasileiros usavam símbolos e rituais que os aproximavam

Mais uma expressão fascista do presidente

Integralistas realizam saudação semelhante à nazista nos anos 1930

dos similares europeus, como o uso do verde na indumentária, a letra grega sigma no logotipo do movimento e a saudação anauê. Não é a primeira vez que o presidente Bolsonaro, ou pessoas de seu círculo de confiança, utilizam símbolos e expressões que os conectam com o integralismo, o fascismo ou o nazismo.

No dia 24 de março, o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, aparecia na TV Senado, atrás do presidente da Casa, o senador Rodrigo Pacheco, quando fez um gesto de “OK” com as mãos, mas com três dedos retos, em forma de W. O gesto é classificado pela Liga Antidifamação (ADL), entidade com sede

nos Estados Unidos, que combate o antissemitismo, como forma de identificação entre supremacistas brancos. Houve também o caso emblemático do ex-secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, que em janeiro de 2020, copiou uma citação do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels. Em outra ocasião, em 17 de maio de 2020, ex-companheiros de armas de Bolsonaro, no momento do cumprimento, estenderam o braço direito para o alto e gritaram “Bolsonaro somos nós”. O episódio foi encarado por especialistas como uma alusão ao nazismo.

Nas redes bolsonaristas, base do presidente se divide e expressa confusão e tristeza INCRÉDULOS Apoiadores se mostram decepcionados, mas ainda mantêm esperança de que o “mito” esteja sendo forçado a agir assim Vinícius Segalla Dois dias depois das manifestações do dia 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) protagonizou dois recuos, na quinta-feira (9), e que deixaram sua base de apoiadores nas redes sociais dividida, confusa e contrariada. Primeiro, veio o pedido para que os caminhoneiros que o apoiam deixassem de obstruir rodovias e voltassem ao trabalho. Depois, veio uma nota oficial recuando em seu discurso proferido em São Paulo no dia 7, em que chamou o ministro Alexandre de

Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “canalha” e disse que não cumpriria ordens judiciais que partissem do magistrado. Com isso, o núcleo duro de apoio a Bolsonaro rachou. O primeiro sinal veio do economista Rodrigo Constantino, um dos mais sólidos - até hoje - apoiadores do presidente.

Aparentemente se sentido vencido, ele declarou “game over” (fim de jogo) em suas redes sociais, citando também um discurso de Bolsonaro proferido nesta quinta em que faz elogios à China. Ele não foi o único. Ainda que incrédulos, não foram poucos seus apoiadores que expressaram contra-

riedade com os recuos do presidente, mesmo que mantendo a esperança de que se trata de algum tipo de estratégia do “mito”, ou medidas que teria sido forçado a tomar pelas forças políticas que lutam para “comunizar” o país. Já nos grupos de WhatsApp de apoio ao presidente, o que se viu nesta quinta-feira (9) é um esforço para a manutenção do apoio a Bolsonaro, com intensa proliferação de teorias que explicam os motivos para as recentes atitudes do “mito”, como pode se ver abaixo.

Bolsonaro recua ISOLADO Presidente afirma que nunca teve intenção “de agredir quaisquer dos Poderes” Igor Carvalho Na tarde da quinta-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) divulgou uma declaração à nação em que ameniza o tom de seu discurso e recua da radicalização. No texto, o mandatário diz que “nunca teve a intenção de agredir quaisquer dos poderes”. “A harmonia entre eles (Poderes) não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news”, afirmou o presidente. A declaração vem após dias de tensão, que foram estabelecidos após as manifestações da última terça-feira (7), em favor de Bolsonaro, mas que levaram às ruas pautas antidemocráticas, defendidas pelo presidente e sua família, como o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e intervenção militar.


Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

BRASIL

99 Nelson Jr./ STF

Líder dos caminhoneiros anuncia racha no movimento e acusa agronegócio de bancar paralisação Chorão afirma que Antonio Galvan, presidente da Aprosoja, e o pecuarista Adriano Caruso financiam levante pró-Bolsonaro Reprodução

Igor Carvalho Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e líder da greve dos caminhoneiros em 2018, acusa o agronegócio de financiar a paralisação de parte da categoria, que teve início na última quarta-feira (8), e que continuou na quinta-feira (9), com o fechamento de diversas rodovias pelo país. Perguntado, em entrevista ao Brasil de Fato, respondeu. “Ficou claro, desde o início da convocação, que o Antônio Galvan, que é o presidente da Aprosoja, e o Caruso, que é do Agro e está lá em Brasília, é que estão convocando”. “Existem vários representantes do agro lá em Brasília, nesse movimento de direita. Nós temos conhecimento que um movimento desse é caro, bancar esse movimento é caro. Nós, os transportadores autônomos não estamos bancando isso”, enfatizou Chorão. Antônio Galvan, presiden-

Somos mais de 1,6 milhão de transportadores, tem gente de esquerda, direita, apartidário te da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de ter financiado os atos antidemocráticos em defesa do presidente Jair Bolsonaro (STF), que ocorreram em Brasília na última terça-feira (7). Alexandre de Moraes, ministro do STF, determinou, na última segunda-feira (6), o

bloqueio das contas da Aprosoja Brasil e Aprosoja Mato Grosso. Galvan é presidente da primeira e ex-presidente da segunda. Caruso, citado por Chorão, é pecuarista presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Bovinos e Bubalinos (ABEBB) e dono da Global Exports Live Catlle. “Eu não acho justo levantar o nome dos caminhoneiros. Dentro do nosso segmento, que são mais de 1,6 milhão de transportadores, tem gente de esquerda, de direita, apartidário, enfim, não tem como levantar uma pauta dessa nesse movimento, somente as pautas da categoria”, reclama Chorão.

Fora Bolsonaro e Grito dos Excluídos: mais de 200 cidades tiveram atos no 7 de setembro As manifestações contra o governo do presidente da República Jair Bolsonaro ocuparam as ruas de mais de 200 cidades do Brasil e do exterior na terça-feira (7), feriado do Dia da Independência. Organizados

pelo Grito dos Excluídos e pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro e Frente Brasil Popular, ao lado de partidos políticos, centrais sindicais e movimentos populares, os atos dão sequência às jornadas de

mobilizações, iniciadas em maio. Em Minas, a atividade conteceu em mais de 20 cidades. O já histórico Grito dos Excluídos, que chega à sua 27ª edição consecutiva mantém o lema “Vida em Primeiro Lugar”.

Entenda: o que o STF pode fazer diante da crise institucional Segundo integrante da ABJD Rogério Dultra dos Santos, responsabilidade política é dos ministros do STF O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, fez um pronunciamento no dia (8) considerado contundente, ainda mais se comparado com a fala do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ambos fazendo referência às falas de Jair Bolsonaro no 7 de Setembro. Contudo, para o professor de Direito da Universidade Federal Fluminense, Rogério Dultra dos Santos, o discurso poderia ter apresentado soluções efetivas para a crise institucional vivida pelo Brasil. “Na forma, o discurso do Fux foi duro, mas ele poderia ter sido mais incisivo porque, na verdade, passou a bola para o Congresso Nacional dizendo que o que Bolsonaro fez foi crime de responsabilidade”, apontou o integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Ele lembra que os atos de Bolsonaro nas manifestações configurariam tanto crime de responsabilidade quanto crime comum. No caso do crime de responsabilidade, caberia à pre-

sidência da Câmara dos Deputados a abertura de um processo de impeachment que pudesse apurar seu cometimento. Já em relação ao crime comum, que no caso seria o de desobediência, previsto no artigo 330 do Código Penal, o procurador-geral da República, Augusto Aras, teria que oferecer denúncia para iniciar o rito de processamento. Em vista do cenário, Dultra resume as três alternativas pelas quais Bolsonaro poderia ser responsabilizado pelos atos de 7 de Setembro: processo por crime comum, abertura de processo de impeachment na Câmara dos Deputados e a possibilidade de cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A responsabilidade política de duas destas três alternativas recaem sobre ministros do STF. Estamos em uma situação muito gravosa que requer medidas enérgicas dos poderes da República. E o mais rápido possível”.


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MUNDO

Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

“Atos bolsonaristas contra instituições significam desespero com as pesquisas” GOLPE NY Times, The Guardian, El País, Telesur alertam para manifestações que pedem atos além da fronteira da legalidade

Peru: presidente toma posse, reduz preço do gás, cria auxílio e 260 mil postos de emprego Jose Luis Cristobal /AFP

Paulo Lopes /AFP

Os atos golpistas estimulados pelo presidente Jair Bolsonaro, neste feriado de 7 de setembro, que foram registrados pelo Brasil, ganharam repercussão em diversos jornais internacionais, que alertaram para os discursos antidemocráticos das manifestações.

Para o britânico The Guardian, os protestos encabeçados por Bolsonaro colocam a democracia brasileira “no limite”. O espanhol El País afirmou que Bolsonaro convocou “seus fiéis a tomarem as ruas”, tendo como “objetivos finais”, “angariar apoio popular”, o “ataque sistemático à divisão de poderes e ten-

tar reverter as pesquisas eleitorais”. O jornal norte-americano The New York Times afirmou que as manifestações antidemocráticas foram convocadas por Bolsonaro após uma “queda nas pesquisas [eleitorais]”, “economia turbulenta” e “investigações judiciais” contra o presidente.

Governo da Venezuela e oposição concluem primeira rodada de negociações no México Michele de Mello Terminou no dia (6), na Cidade do México, a primeira rodada de negociação entre governo da Venezuela e oposição, mediada por representantes do governo mexicano e norueguês, além da observação de Rússia e Holanda. Os primeiros encontros concluíram com a assinatura de dois acordos parciais: o primeiro

se refere à defesa do território do Esequibo, em disputa há mais de 100 anos com a Guiana; o segundo está relacionado à proteção social dos venezuelanos, buscando a liberação de fundos públicos bloqueados no exterior. O setor opositor representado por Juan Guaidó e o governo de Nicolás Maduro já haviam assinado um acordo, em junho de 2020, para criar um fundo de combate à pandemia, que seria ali-

mentado com os ativos líquidos da Venezuela depositados em bancos estrangeiros, estimados em US$ 7 bilhões (cerca de R$ 35 bilhões), e administrado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), mas na prática, a iniciativa nunca se estabeleceu. Já em junho deste ano, os Estados Unidos suspenderam as sanções vinculadas à compra de vacinas e outros produtos relacionados à crise sanitária.

O presidente do Peru, Pedro Castillo, ofereceu suas primeiras declarações oficiais após o discurso de posse, no dia (6), anunciando uma série de medidas para diminuir os efeitos da pandemia de covid-19. Castillo criou o bônus Yanapay de 350 soles (cerca de R$ 440), que será pago a partir de 13 de setembro, para cerca de 13 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Cerca de 70%

da população economicamente ativa do Peru está empregada no setor informal. Para diminuir os gastos mensais dos trabalhadores, o presidente determinou a redução de 11 soles (R$ 13) no preço do gás de cozinha. Também assinou um decreto para a transferência de 299 milhões de soles (cerca de R$ 375 milhões) a fim de criar 260 mil postos de emprego temporários em todo o território nacional.

Cuba é o primeiro país no mundo a iniciar vacinação contra covid-19 em crianças de 2 a 11 anos

Nesta segunda-feira (6), Cuba iniciou a vacinação contra covid-19 em crianças de 2 a 18 anos com as vacinas desenvolvidas pelo próprio país: Soberana 02, Soberana Plus e Abdala. Cuba é o único país da América Latina a desenvolver cinco vacinas próprias contra o vírus Sars-Cov2. Até o dia 4 de setembro haviam sido aplicadas 14,6 milhões de doses, com 4,1 milhões de cubanos com o ciclo completo de imunização.


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Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

ENTREVISTA 11

“Bolsonaro trata governadores como inimigos a serem exterminados”, afirma governador DEMOCRACIA Flávio Dino (PSB) tem sido voz destacada de oposição ao presidente no Fórum Nacional dos Governadores Reprodução

José Eduardo Bernardes O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), integra uma frente de resistência ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), dentro do Fórum Nacional dos Governadores. Nesta entrevista ao Brasil de Fato ele fala da organização de governadores neste período de pandemia, do Supremo Tribunal Federal e da relação com o presidente da República. Brasil de Fato: Governadores e as federações sempre tiveram um papel importante na história do Brasil e o Fórum Nacional dos Governadores se tornou, talvez por conta da pandemia, um importante espaço, com projeção inédita. Como tem funcionado a organização por lá? Flávio Dino: A Federação, em um país extenso territorialmente como o Brasil, traz múltiplas virtudes, entre as quais a contenção de abuso de poder. Exatamente porque o presidente da República tem muito poder, mas não tem todo o poder, os governadores, os prefeitos e cada um eleito no âmbito dos seus respectivos territórios, exercem papel importante. E nós vimos isso agora na pandemia. Se o presidente da República tivesse um poder hierárquico sobre os governadores ou prefeitos, nós teríamos já, a essas alturas, mais de 1 milhão de mortes, seguramente, porque ele teria imposto negacionismo e a negligência como padrão de política pública.

“O Supremo é uma instituição humana sujeita ao momento histórico”, afirma Dino

Essa ideia de contenção, de controle recíproco e, portanto, de preservação da autonomia constitucional dos estados e dos municípios, é vital. O Supremo Tribunal Federal, corretamente, protegeu a Federação. Isto trouxe a possibilidade de os governadores liderarem o combate à terrível pandemia do coronavírus. O Fórum Nacional de Governadores tem sido muito demandado em razão disto. Nós não temos ali homogeneidade, mas nós temos conseguido fazer mediações na direção correta, sobretudo no que se refere à temática da saúde pública, à temática democrática, proteção à democracia e também no que se refere às próprias condições de funcionamento da Federação. Eu desejo que, em outro momento, um próximo presidente da República volte a dialogar com os governadores, que não os veja maioria como ini-

De 27 governadores, 20 estão mobilizados na defesa da Constituição

migos. A situação que nós temos hoje é essa. Lamentavelmente, Bolsonaro trata praticamente todos os governadores como seus adversários, seus inimigos a serem exterminados e não como interlocutores legítimos que devem ser respeitados e ouvidos. O Fórum tem uma divisão que não é muito determinada, mas somente 15 governadores assinaram uma carta de repúdio ao presidente da República. Essa divisão é fruto das disputas dentro do Fórum? Essa amplitude da maioria no Fórum varia, depende do

tema. Nós já tivemos manifestações importantes, subscritas por 25 governadores, outras por 15, mas sempre pela maioria. Mesmo essa última, de apoio ao Supremo, não conseguiu uma envergadura maior, mas nós tivemos lá 15 governadores que assinaram. Não significa que os outros 12 estejam do lado de Bolsonaro. São apenas fatores locais, fatores profissionais. Mas o que é importante frisar é que nós temos maioria para o campo democrático e eu diria que em média, dos 27, seguramente, 20 governadores, pelo menos, estão mobilizados em torno da defesa da Constituição e da democracia. O STF tem sido um contraponto ao Congresso e ao Executivo. Mas temos visto algumas questões sendo decididas unilateralmente pelo Judiciário. A Corte está entrando em uma seara perigosa? O que fica de legado após essa era Bolsonaro? O Supremo é uma instituição humana e como tal, sujeita ao momento histórico. Na ditadura você viu ini-

Se dependesse do presidente, teríamos mais de um milhão de mortes cialmente o Supremo silente, depois o Supremo reagiu, começou a proferir decisões em defesa da legalidade, em defesa da lei, em defesa da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa. Se você olhar os abusos da Lava Jato, o Supremo demorou a reagir e poderia ter evitado muita coisa de lamentável que aconteceu no Brasil, mas reagiu. Ainda que tardiamente o Supremo vem corrigindo os atos ilegais. E nesse período do Bolsonaro, do mesmo modo, acho que o Supremo inicialmente teve uma posição de observar. Mas se você olhar os temas fundamentais, o Supremo tem sido muito assertivo, como no tema da saúde pública, da federação, das liberdades, do combate às fake news. ANÚNCIO


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VARIEDADES

Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021 Tânia Rêgo / Agência Brasil

Nossos direitos LEI AMPLIA PRAZOS DE EXAMES PARA GRÁVIDAS E PUERPERAS

Bom de bola, bom de escola! Na minha adolescência, joguei muita pelada de rua. Minha diversão predileta. A pelada de rua sempre é a mais gostosa de todas as peladas. Tem sabor especial, com uma pitada que incendeia a molecada e muito improviso. O carro que passa na hora exata do gol. A vizinha chata que quer furar a bola, porque bateu em seu portão e fez o maior barulho. É a diversão e o sorriso na cara que valem. O resto é resto. Geralmente, são dez minutos ou dois gols. O time que fizer os dois gols em dez minutos vai ficando em campo. Para maior equilíbrio dos times, os melhores jogadores são separados, ficando em times diferentes. Em nossa pelada, e, geralmente, no meu time, tinha um tal de Lula que era o bicho, de tão bom de bola. Ele gostava de jogar no time dos sem camisa. Ele falava que os sem camisa eram mais livres, mais alegres. E esse time do Lula foi virando o campeão das peladas nas quebradas. Todo mundo queria jogar e ganhar da gente. Um belo dia, fomos convidados para disputar com o time da quebrada de baixo. Eles eram da escola do time do Palmito. Ele tinha pernas brancas e bem fininhas. Era ruim de bola, mas abria a caixa de ferramentas. Dava muita porrada. Estava valendo um troféu bem grande, um engradado de Coca-Cola, uma caixa de chup-chup e

uma bola da Adidas. A rua dos caras estava lotada. Ganhar deles seria quase que impossível. Combinamos que eles jogariam de camisa. A gente, como sempre, jogaria sem camisa. Começa o jogo. Eles fazem um gol logo no começo. Palmito fez um gol de mão. Um gol roubado, que o juizão, com medo da torcida deles, validou. A pressão era muito grande. Empatamos no finzinho do primeiro tempo. Os dois times estavam dando o sangue. Começa o segundo tempo. Jogo disputado. Lá e cá. Faltando pouco para acabar, Lula pega a bola lá atrás, dribla um, dois, três, joga de baixo das pernas de outro, dá um drible da vaca e um totozinho, na saída do goleiro. Um golaço, mermão! Houve invasão de campo e muitas ameaças. O juizão encerrou o jogo. Pegamos o troféu, o engradado de Coca-Cola, a caixa de chup-chup e a bola da Adidas, e saímos no pinote. Só paramos na rua da nossa quebrada. No outro dia, na escola, a resenha foi só sobre a pelada e a derrota do time do Palmito. A zoação foi geral! Todo mundo ganhou chup-chup e Coca-Cola. Lula era o cara. Além de bom de bola, o cara é bom de escola, tirou dez na prova de matemática. Quebramos muitos ovos na cabeça dele para comemorar. Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte

A Lei 14.152/2021, que já foi sancionada, estabelece mais previsões que buscam proteger a saúde de gestantes e puérperas durante a pandemia. Pela norma, foram estendidos os prazos de validade para prescrições médicas e exames de pré-natal e também do acompanhamento do período puerperal. O prazo de validade passa a ser o da gestação ou do puerpério. Também foi autorizado o uso de pedidos de exame e de prescrições médicas em formato eletrônico. Tais me-

didas têm por objetivo evitar o deslocamento de gestantes somente para renovar receitas, ou pedidos de exames, se expondo a riscos de contaminação pela covid-19. Outra medida estabelecida pela lei é a facilitação do acesso de grávidas e puérperas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), no caso de necessidade de cuidados intensivos e internações durante a pandemia, garantindo atendimentos que são essenciais às gestantes.

Jonathan Hassen é advogado popular

AMIGA DA SAÚDE Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Unico de Saúde I Coren MG 159621

Tenho diabetes e nunca tratei direito. Há dois anos, comecei a ter problemas de ereção, agora nem com remédio consigo resolver. O que eu faço? Estou desesperado com isso. Anônimo, 45 anos. Primeiramente você precisa procurar um médico e controlar o diabetes, pois isso coloca não somente sua sexualidade em risco, mas também a sua vida. Peça ao médico um encaminhamento ao urologista, para uma avaliação do seu aparelho sexual. É importante avaliar se há algum comprometimento da parte funcional do pênis e ver qual o melhor tratamento para o seu caso. Procure cuidar da saúde como um todo, manter uma alimentação saudável, praticar alguma atividade física, cuidar da saúde mental, pois tudo isso interfere na sexualidade. O diabetes é uma doença que, quando descompensada, coloca em risco a saúde sexual, tanto dos homens, quanto das mulheres. Isso porque danifica os vasos sanguíneos que levam sangue para os órgãos genitais. Não deixe de se cuidar e procurar ajuda em um serviço de saúde.

Um abraço e até a próxima. :: CONHEÇA O CANAL DA AMIGA DA SAÚDE NO SPOTIFY! ::

Se você tem alguma dúvida sobre saúde e vida saudável, manda um zap para mim! O número é (31) 9 8468.4731.


Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

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www.malvados.com.br Separamos aqui uma combinação infalível para você conquistar o coração da sua parceira. Trata-se da junção entre limpeza e um bom jantar. Em outras palavras, a demonstração de

SEQUILHOS DE POLVILHO

afeto e cuidado. Pode ter certeza que é a melhor declaração!

por Sayonara Salum

Pixabay

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

Medula; tutano

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Parque florestal Feminino de "ator"

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Camareira

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Letra com cedilha Tirar (o esmalte)

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Exercitar o (?): fazer ginástica

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1 5 9 14 13

Coral Abrigo da futura borboleta

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Rodrigo Lombardi, ator brasileiro

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Por um (?): por pouco Fruto 1 roxo Camada poluída nas metrópoles 1

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Frauda

De (?): de Dito memória popular Formação Tempo de corais (símbolo)

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Objeto para puxar água (pl.)

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Velho, em inglês Objeto celeste

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9 Magia feita com um boneco

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Otaviano Costa, ator Sufixo de 6 "poderosa"

7 10 A desculpa do mau perdedor

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(?) medida: a roupa feita por 11 encomenda

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106, em algarismos romanos

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Que não está cozido

Centímetro (abrev.)

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Oposto de "diferente"

Santos Dumont, o Pai da Aviação

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Sílaba de "varrer"

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Ingredientes 2 xícaras de polvilho azedo ou doce 1 xícara de arroz branco bem cozido 100 g de queijo parmesão ralado fino 50 mg ml de azeite 2 ovos Dica: em relação à diferença dos polvilhos, o doce vai deixar o biscoito mais suave e macio, já o azedo deixa com uma casca mais dura.

3 Sufixo de "espanhol"

6 2 10

Solução

S D

3

Rogério Ceni, técnico (fut.)

F

A Z A R

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Buraco para esgoto das águas

2

S O B

(?) drive: avalia o desempenho do carro

1

O L

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Atravessada Olavo Bilac, poeta

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La Paz e Bogotá são suas capitais, respectivamente Estou (bras.)

B B E T O O O L D A I E S ER V T R I A R A M O V E O O C R O D O A S U L A O C C M V E R BI I G U A

N

Agradecido por favor recebido

1

(?) expiatório: aquele que leva a culpa

L F A A T Z A R A IA T R E I R Z C L O R R O L

1

© Revistas COQUETEL

Carroceria (pop.) Realiza; executa

A AN A L G R C R U O B P T E S C B U E A R C M I O C O R P A T O

O setor que engloba Que não sa- a lavoura be ler e es- e a criação crever (pl.) de gado

Modo de preparo Em uma tigela, misture todos os ingredientes. Amasse até obter uma massa homogênea; Modele a massa como você preferir, pode ser em bolinhas achatadas ou em rolinhos. Se por acaso a massa não ficar no ponto para modelar, não tem problema. Pode fazer os biscoitos com a colher mesmo; Depois de modelados, leve os sequilhos ao forno pré aquecido a 180° e asse durante mais ou menos 20 minutos. Na metade do tempo vire os biscoitos para dourar do outro lado.


14 CULTURA 14

Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

Festival Cauê mostra que maior riqueza de Moeda são as pessoas e não o minério

forumdoc.mg.2021 Divulgação

SERRA DA MOEDA Evento acontece de forma virtual com música, culinária, causos e mais expressões artísticas Divulgação

Entre os dias 10 e 19 de setembro acontece mais uma etapa do forumdoc.mg.2021. A programação será transmitida no canal do YouTube do forumdoc. Entre os destaques, na sexta (10), às 19h, acontece a sessão comentada Eles Sempre falam por nós (Carina Aparecida, 2018). No sábado (11), às 17h, a sessão comentada conta com a participação de Cacica Kawany Tupinambá, sobre os filmes Nuhu yãgmu yõg hãm: essa terra é nossa! (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu, Roberto Romero, 2020) e Mulheres no Front (Eduardo Coutinho, 1996). A programação completa pode ser vista no www.itinerancia2.forumdoc.org.br/. Ana Carolina Vasconcelos Até outubro, acontece, de forma online, o 1º Festival de Arte e Cultura da Serra da Moeda, o Cauê. Idealizado e produzido pela cantora e compositora Sol Bueno, o festival conta com mais de 60 mostras e 10 oficinas. O nome Cauê, que em tupi significa gavião, traduz os significados que expressam o festival de que “natureza e cultura, arte e sensibilidade podem trazer novos olhares em seus voos”, como explica Sol. A programação conta com produção audiovisual, apresentações musicais, causos, histórias, mostras de culinária e gastronomia, artesanato, cultura popular, fotografia e poesia, além de oficinas e palestras formativas na área da cultura. A ideia de construir o festival teve início a partir do mapeamento das atividades artísticas e culturais da região da Serra da Moeda, realizado pelo Co-

letivo Cauê Cultural, há cerca de dois anos. Sol Bueno aponta que “o coletivo Cauê Cultural tem um trabalho de defesa do meio ambiente e do bem viver” e que “o festival pretende mostrar as riquezas que a Serra tem”. Muito visada pela mineração, a Serra da Moeda possui apenas um município sem atividade minerária, Moeda. “É preciso ter luta o tempo todo. Porque, além de entrar nas áreas de interesse e ampliar território, a mineração não pode destruir um território que é símbolo de fortalecimento para outras lutas”, afirma Sol. “Enquanto estão levando o minério, olha o quanto de riqueza que existe aqui e que existe porque vivem nessa terra”, completa. Visibilidade A organização do festival se preocupou em fazer recortes étnico raciais e de gê-

nero em sua construção. Desde o início, procurou-se garantir a participação de pessoas moradoras de comunidades periféricas, rurais e quilombolas, além de pelo menos 50% de mulheres. Sol avalia que as expectativas foram superadas. “A quantidade de mulheres foi bem maior que 50%, na equipe de trabalho e nas apresentações. E esse festival é preto!”, comenta. O público e os artistas que compõem o festival são também predominantemente das áreas rurais. Acompanhe Ao todo, serão apresentados dez episódios que podem ser acessados na página do Coletivo Cauê, no YouTube. Mais informações e novidades estão disponíveis na página do Coletivo Cauê Cultural no Instagram ou pelo e-mail: coletivocauecultural@gmail.com.

Divulgação

“A tensão” de Leandro Erlich A partir do dia 15 de setembro, 19 obras do argentino Leandro Erlich, um dos nomes mais provocativos da arte contemporânea, estarão em cartaz no CCBB de Belo Horizonte. Entre os elementos, o artista trabalha com barco e elevador flutuantes, janelas para jardins imaginários e até uma piscina em que o visitante pode entrar de roupa e ficar submerso sem medo de se afogar. “A tensão”, nome da exposição, revela um dos prováveis sentimentos que os visitantes possivelmente terão diante das instalações. O funcionamento é de quarta a segunda, das 10h às 22h. Não há bilheteria física, a entrada é gratuita, mas os ingressos devem ser emitidos pelo site bb.com.br/ cultura.


Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

ESPORTE

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Paralimpíadas na TV pública: a experiência por trás das câmeras COMUNICAÇÃO Emissoras públicas fizeram cobertura de alto nível dos Jogos de Tóquio

Luis Ferreira, do Rio de Janeiro Os Jogos Paralímpicos de Tóquio encerraram-se oficialmente no domingo (5) com recordes e marcas históricas para os atletas do Time Brasil. Nossos atletas deixaram o país no honroso sétimo lugar no quadro de medalhas, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes (72 no total). A certeza de que o paradesporto brasileiro está num ótimo caminho pode ser comprovada em modalidades como o atletismo, a natação, o goalball, o futebol de 5, o vôlei sentado, o parataekwondo e a paracanoagem. Vimos a despedida de Daniel Dias, o maior medalhista paralímpico da história, o choro de Beth Gomes, recordista mundial no lançamento de disco, os golaços da Seleção Brasileira de Futebol de 5, a consagração de Carol Santiago nas piscinas com três medalhas de ouro e muito mais. E também vimos que a nossa TV pública cumpriu seu papel com louvor, ao le-

var a emoção das Paralimpíadas para todo o país, em sinal aberto, com mais de 111 horas de transmissão em treze dias de competições. O que vocês vão ler aqui é a experiência de quem esteve no meio das engrenagens durante todo esse período. Os relatos de mais um funcionário público concursado que convive com as ameaças de privatização da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), da perda do seu emprego, da precarização do serviço público. Tudo começa no dia 24 de agosto. A TV Brasil foi a única emissora que transmitiu a cerimônia de abertura em sinal aberto para todo o país, com mais de três horas de transmissão ininterruptas. Ver as mensagens que chegavam dos amigos (que eram avisados por meio das redes sociais da transmissão) era gratificante e indicava que estávamos no caminho certo. Falamos muito sobre deficiência. Mas há deficiência que existe no nosso raciocínio e na nossa percepção de todas as coisas ma-

ravilhosas que nossos atletas estavam fazendo lá em Tóquio. Muito mais do que o ufanismo bem característico desta ou daquela emissora mais famosa, nos preocupamos em falar do que

Emissoras públicas tiveram uma contribuição inestimável na formação de uma identidade nacional estava acontecendo, das adaptações realizadas em cada prova e do potencial de cada atleta que competia. A única “superação” mencionada era a superação do atleta em si. Superar suas marcas, ser o mais rápido, o mais forte e quebrar recordes. Talvez a principal missão da sua TV pública foi lembrar a todos que Daniel Dias, Carol Santiago, Beth Gomes, Ricardinho, Parazinho e vários outros são atletas de alto rendimento.

E gente como a gente também. Enquanto a imprensa comercial insistiu em fechar os olhos para as Paralimpíadas e só colocava boletins no ar em pequenos pedaços da programação, a TV Brasil esteve firme. Existem problemas? Claro! Como em qualquer outra emissora de TV ou rádio. Há pessoas de dentro da empresa que jogam contra, que usam o cargo para aparecer “bem na fita” para este ou aquele diretor e/ou político, que se aproveitam do sucesso da nossa transmissão para “vender seu peixe”. É lógico que os ataques à comunicação pública não vão cessar. Acredito até que eles aumentem, já que cada funcionário público concursado mostrou (pela milésima vez) que tem capacidade de entregar um serviço de qualidade altíssima, mesmo com a falta de recursos e a estrutura pior que a das emissoras comerciais. Mas o que nenhum desses ataques mostra é que emissoras históricas, como a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Rádio Nacional da

Matsui Mikihito / CPB

Amazônia, as rádios MEC AM e FM e várias outras tiveram uma contribuição inestimável na formação de uma identidade nacional. E que cada uma delas ainda se faz muito presente no imaginário de cada cidadão brasileiro. Não me refiro apenas às transmissões esportivas. Falo de música, literatura e mais uma série de coisas incríveis. A TV Brasil tem uma excelente programação infantil, programas culturais dedicados à música brasileira de altíssima qualidade e que ainda cumprem a missão de levar competições como a Liga Nacional de Futsal e o Campeonato Brasileiro da Série D para todo o país. Por fim, é preciso dizer que a transmissão das Paralimpíadas deixa uma pontinha de esperança em cada funcionário. Ainda que os problemas existam dentro e fora da EBC. Ainda que o fardo seja pesado. Ainda que tenha gente jogando contra sentando do nosso lado todos os dias. Sigamos. A gente há de vencer mais essa.


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Belo Horizonte, 10 a 16 de setembro de 2021

Prefeitura libera jogos com torcida em BH

ESPORTES

DECLARAÇÃO DA SEMANA FIVB

Bruno Cantini /Atlético Mineiro

Na tarde desta quinta-feira (9), o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, anunciou que está novamente autorizada a presença de público nos estádios de futebol da capital. O anúncio foi feito logo após reunião com representantes dos três clubes e de torcidas organizadas. Para tanto, os organizadores dos jogos deverão seguir as normas sanitá-

rias, como uso de máscaras, fechamento dos portões uma hora antes do início dos jogos, interdição

das ruas durante as partidas e ocupação máxima de 30% da capacidade do estádio.

Gol contra

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“Tudo o que esse crápula quer é desviar a atenção do esquema de rachadinhas que sua família está envolvida, das mortes por covid, da fome, do horror que estamos vivendo com esse governo sórdido. Que bom que somos muitos contra esse horror!”

A Chapecoense perdeu para o Fluminense na Arena Condá, por 2 a 1, na terça (7), e completou o primeiro turno do Brasileirão sem nenhuma vitória! É o pior turno da história dos pontos corridos. A Chape se encontra, hoje, a 14 pontos do Bahia, o primeiro clube fora do Z4.

Carol Solberg, jogadora de vôlei de praia, medalhista de prata do circuito mundial. SE A ARENA É DO

JACARÉ,

QUER DIZER QUE JÁ

@ANDREFIDUSI

FOI VACINADA! UFA!

Gol de placa O Brasil superou as metas do Comitê Paralímpico Brasileiro e o número de medalhas de ouro nas Paralimpíadas de Tóquio! Além de um ouro a mais em relação a Londres 2012, os atletas paralímpicos do país subiram ao pódio 72 vezes, igualando o recorde da Rio 2016.

Silêncio no Brooklin

Elenco inchado?

Autossabotagem

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Fabrício Farias

Com a chegada do argentino Mauro Zárate e a saída do atacante Lohan, o América agora conta com 42 jogadores no elenco, um número considerado elevado em situações normais para um time que disputa apenas uma competição. Com a pandemia e os recorrenDecacampeão tes surtos, justifica-se ter um pouco mais de opções para todas as posições. Mas 42 atletas é um número bastante exagerado. A dispensa ou o empréstimo de jogadores que não tiveram ou não aproveitaram chances no time titular precisa acontecer, a fim de aliviar a folha de pagamento. O meia Bruno Nazário, os atacantes Chrigor, Léo Passos, Luiz Fernando e Yan Sasse, e o goleiro Leo Lang são alguns dos que podem ser dispensados.

Após tantas atribulações, pandemia e impedimento do maior clássico sul-americano do futebol, por questões dos protocolos sanitários, temos uma disputa do Brasileirão. Domingo (12), o Galo encara o Fortaleza no Ceará, na abertura do segundo turno. E, teoricaÉ Galo doido! mente, sem antes encerrar a primeira etapa – seria contra o Grêmio. O Atlético seguirá como favorito em tudo, independentemente dos resultados. Conquistou a condição em campo, diriam, com convicção, os atleticanos. Não estou aqui para contestar. A caminhada é longa. Os obstáculos também. Não sou pessimista. Apenas comemoro com a conquista. E sou ainda mais taciturno com o futuro. Quem nos garante, até o momento? “Silêncio no Broocklin, Alegria no Caiçara”, dizia Jorge Benjor.

Salve, nação! Estamos de volta à Arena do Jacaré, nossa casa por quase dois anos, entre 2010 e 2012. O adversário é a Ponte Preta, sob o sol inclemente das 11h. A mudança tem a ver com a liberação de torcida no estádio, em Sete Lagoas.La Outras equipes, com razão, enBestia Negra tendem ser uma injustiça o Cruzeiro ter torcida e elas não. Em campo, o time segue sem empolgar, apesar da série invicta. A diretoria busca soluções paliativas para a crise. Mudar para a Arena do Jacaré por questões econômicas, tudo bem, mas para tirar vantagem sobre os rivais com a torcida não é o melhor caminho. A demora em iniciar um processo efetivo de reconstrução do clube já é uma autossabotagem. Saudações celestes!

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