Edição 362 do Brasil de Fato MG

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Belo Horizonte, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2021

Comunidades do entorno da Serra do Brigadeiro discutem projeto alternativo à mineração ZONA DA MATA Para organizações sociais, proposta de mineradora é incompatível com as necessidades da população Gilselene Mendes

MINAS

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Projeto na Assembleia Legislativa que facilita mineração ameaça Serra da Moeda PERIGO Monumento natural necessário para o abastecimento da Grande BH é alvo de mineradora Moisés Silva

Ana Carolina Vasconcelos “Se a mineração avança, toda a nossa região de riquezas naturais fica ameaçada”, ressalta Adriana Aparecida de Morais Ribeiro, moradora do município de Muriaé. Com o objetivo de impedir que a ameaça se torne realidade, um encontro reuniu mais de 100 representantes das comunidades do entorno na Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata de Minas Gerais, na última terça (16), e apontou a construção de um projeto alternativo ao avanço da mineração no território. Com cerca de 50 organizações representadas, aglutinadas pela Comissão Regional de Enfrentamento à Mineração, o coletivo decidiu priorizar a construção da agroecologia, o cuidado com as águas e com a biodiversidade, o turismo, a religiosidade e a cultura popular. Para os moradores, essa opção é parte fundamental do projeto de desenvolvimento do entorno da Serra que interessa à população. “Estamos falando de uma região reconhecida pela Lei

23207, de 2018, como Polo Agroecológico e de Produção Orgânica, em que predomina a agricultura familiar que abastece os municípios do entorno e que coloca alimento

Moradores decidiram priorizar a construção da agroecologia, o turismo, a religiosidade e a cultura popular nas escolas. Falamos também de uma região que é berço de água, de animais e de plantas. Não tem como a gente aceitar e cruzar os braços com o avanço da mineração”, enfatiza Adriana, que é membro do Centro de Estudo Integração Formação e Assessoria Rural da Zona da Mata e da Cooperativa dos Produtores da Agricultura Familiar Solidária Resistência A luta das comunidades contra o avanço da minera-

ção no território começou na região há cerca de uma década. Desde o ano de 2003, a mineradora Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que já realiza extração em Miraí e São Sebastião da Vargem Alegre, procura expandir seu projeto para o entorno da Serra do Brigadeiro, incluindo parte considerável da zona de amortecimento do parque. Para Jean, o projeto de mineração de bauxita apresentado pela CBA é incompatível com o modo de vida das famílias agricultoras, que vivem da agroecologia e da produção de alimentos saudáveis. Ele aponta que a população está convencida de que o empreendimento não trará avanços para a região. “A gente não é rico, mas a gente não quer se vender para um projeto incerto, temporário, altamente impactante e destrutivo”, afirma Jean. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) foi procurada pelo Brasil de Fato MG, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

Wallace Oliveira O monumento natural da Serra da Moeda, a população do município de Moeda e até mesmo o abastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) podem estar sob ameaça, com um projeto de lei (PL) que tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O PL 3300/2021, do deputado Tiago Cota (MDB), retira da área de proteção ambiental 12,81 hectares, permitindo a atuação de mineradora para extrair minério de ferro no local. Embora a proposta inclua outra área de 75 hectares, a mudança é prejudicial, segundo moradores. “A área que a mineradora quer explorar é a crista da serra, o topo. É uma área de recarga hídrica. A água absorvida por aquela região alimenta as bacias do Paraopeba e do Rio das Velhas. Isso tem uma importância grande para comu-

nidades rurais, quilombolas, para agricultura e pecuária da região”, afirma Sol Bueno, integrante do Coletivo Cauê e Instituto Aqua XXI. Além disso, as duas bacias afetadas integram o sistema que abastece a RMBH. Por outro lado, conforme explica o ambientalista Cléverson Vidigal, membro da ONG Abrace a Serra da Moeda, a área que o PL 3300 propõe acrescentar não tem as mesmas propriedades da área almejada pela empresa. Isso significa que haverá uma perda, em termos de preservação. Cléverson também relata que há um histórico de degradação de nascentes pela mineração. “Moeda é o único município no Quadrilátero Ferrífero que, por força de leis municipais, proíbe a mineração. Temos um tombamento de 2004, um decreto de 2008 que cria duas reservas biológicas na serra e ainda existe o plano diretor, que é veementemente contra a mineração”, afirma Cléverson.


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