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OPINIÃO
Belo Horizonte, 26 de novembro a 2 de dezembro de 2021
OPINIÃO
Destruição ou golpe, o que vier primeiro
João Paulo Cunha Bolsonaro não é candidato a presidente em 2022. É candidato a ditador. Para assumir esse papel, que sempre desejou, tem dois caminhos, que ele trilha em paralelo: o golpe e a reeleição num contexto de esvaziamento da democracia. Desde que foi eleito, Jair Messias se sente acuado pelas instituições, pela independência dos poderes e pela democracia. Percebeu que não manda como deseja. E estabeleceu seu plano para o primeiro governo: acabar com as instituições, minar os poderes da República e destruir a democracia. Se essa estratégia falhar, o golpe entra em cena. Destruição, cooptação, corrupção
Essa lógica explica o governo do ex-capitão: a destruição. Será no cenário de terra arrasada que se construirá seu projeto autoritário. E entrará então em cena sua pauta prioritária, que hoje aparece de tempos em tempos, quase sempre como uma aberração, apenas para alimentar seu gado mais fiel. Para isso precisa afastar todos
os limites dados pela Constituição. Executivo
O primeiro enfrentamento se deu dentro de casa. Bol-
Já emplacou Nunes Marques, um juiz fraco que vota automaticamente com o governo sonaro precisava exterminar a funcionalidade do próprio Executivo, destroçando por dentro a máquina pública e suas corporações mais responsáveis. Para isso, se cercou de militares incompetentes e servis, simbolizados pelo general da ativa Eduardo Pazuello, que como ministro da saúde comandou o pior programa de combate à covid em todo o mundo. O serviço público foi atacado pelo vírus do autoritarismo, da perseguição política e do alinhamento ideológico. A corrupção se assenhorou de cargos estratégicos, como mostrou a CPI do Senado. Legislativo
Papel dos demais poderes era limitador para seu projeto
O papel dos demais poderes era ainda mais limitador para seu projeto. A começar pelo Legislativo. Depois de tentar cooptar as bancadas com seu cacife eleitoral e apoio popular em torno de bandeiras regressivas, caiu
na real e se submeteu ao jogo que sempre criticou. Instituiu o toma lá dá cá 2.0, rifando o comando do orçamento. Manobrou para conquistar a presidência da Câmara e do Senado, trazendo de novo o Centrão como crupiê das verbas públicas. As dezenas de pedidos de impeachment estacionaram nas gavetas, as verbas secretas cresceram exponencialmente, e, recentemente, o calote de precatórios foi autorizado e o teto furado com beneplácito dos partidos.
Calote de precatórios foi autorizado e o teto furado Judiciário
O terceiro embate foi com o Judiciário. Tosco, o dito cujo pensou no primeiro momento em fechar o Supremo com apoio de parte do Exército e de seu exército particular de idiotizados pelas redes. Retrocedeu da burrice política e se concentrou na tática de minar por dentro as instituições. Estabeleceu como meta ampliar sua capacidade de indicar magistrados. Além das vagas decorrentes das aposentadorias, aprovou o aumento de cargos na Justiça Federal e terá dezenas de novas nomeações para os tribunais federais ainda este ano. Mas o filé está no Supremo.
PGR tem sido porto seguro para os crimes pelos quais respondem os filhos do presidente Para interferir na Corte, já emplacou Nunes Marques, um juiz fraco que vota automaticamente com o governo. Espera agora a sabatina de André Mendonça, para aplacar a ira nada sagrada dos evangélicos reacionários. O ex-advogado geral da União tem histórico de perseguição de opositores, como servidores públicos e movimentos sociais. Na mão direita a Bíblia, na esquerda o chicote. Espera aprovar o fim da PEC da Bengala, retrocedendo a aposentadoria dos ministros do STF dos atuais 75 para 70 anos. Ganharia assim o poder de indicar dois novos capa-pretas ciosos do mantra “um manda outro obedece”, somando quase metade das vagas. PGR
A Procuradoria Geral da República também mereceu o mesmo empenho. A nomeação de Augusto Aras consagrou não apenas um engavetador, mas um defensor ad hoc do presidente e de sua família. De olho no
cargo que tem e no que almeja (ministro do STF), Aras não fazia parte da lista tríplice da instituição e tem demonstrado um servilismo quase imoral. O mais recente foi tirar o corpo fora em relação ao relatório da CPI da Pandemia, que envolve o presidente e outras autoridades em crimes gravíssimos. O PGR pediu prazo e depois anunciou que mandaria o pacote recebido pelos senadores para o STF, praticamente como o recebeu, sem pedir qualquer investigação ou abrir inquéritos. Lava as mãos. A Procuradoria tem sido também, junto ao STJ, um porto seguro para os crimes pelos quais respondem os filhos do presidente.
Se não der certo pelas urnas, aciona o plano B Ditadura
Bolsonaro quer ser presidente de um Estado autoritário, com o Executivo aparelhado, o Legislativo comprado e o Judiciário dominado. Sem democracia, sem competência, sem representatividade e sem Justiça. Não é preciso desenhar o nome desse monstro. Ele está levando adiante esse trabalho destrutivo desde o primeiro dia e espera usufruir de sua obra a partir de 2023. Se não der certo pelas urnas, aciona o plano B.