Cultura | p. 7
Direitos | p. 6
Greca não quer artistas nas ruas
Quilombo Invernada Paiol de Telha, de Reserva do Iguaçu (PR), está prestes a ser o primeiro a receber titulação do Incra
Reprodução Bloco Ela Pode Ela Vai
Decreto de prefeito de Curitiba restringe atividades dos que se apresentam em locais públicos
Quilombo prestes a regularizar terras
PARANÁ
Ano 4
Edição 108
24 a 30 de janeiro de 2019
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana
A VÍTIMA PODE SER
VOCÊ!
Decreto de Bolsonaro que facilita a posse de armas deve aumentar número de homicídios, que já vem crescendo no Paraná e no país Brasil | p. 4 Getty Images
Divulgação | TETO
RENASCIMENTO DAS CINZAS Casas da Ocupação 29 de março são reconstruídas por moradores, movimentos sociais e entidades, sem auxílio da prefeitura ou do estado
Paraná | p. 5
Ratinho Jr. corta na educação Recursos são retirados de áreas essenciais do Estado. Saúde e segurança também sofrem com a tesoura
Esportes | p. 8
Futebol raiz Time do Paraná vence copa que reuniu equipes de quatro estados com show da torcida
22 | Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 24 a 30 de janeiro de 2019
O rápido fim das OPINIÃO Qual a postura ilusões com o dos trabalhadores governo Bolsonaro frente ao governo Bolsonaro? EDITORIAL
E
nganou-se quem achou que a sempre fizera parte. Agora, diante vitória de Jair Bolsonaro à pre- das denúncias, a tentativa do senasidência representaria o fim da cor- dor Flávio Bolsonaro (RJ) de intervir rupção e o início de uma era sem os junto ao Supremo Tribunal Federal vícios do pior tipo de política. Antes (STF) e usar o foro privilegiado joga mesmo do início do governo, a fa- por terra todo o discurso com que o grupo de Bolsonaro mília Bolsonaro já foi eleito. Mesmo o se mostrou elitista, Antes mesmo ex-juiz Sérgio Moro, quando surgiram na condição de Mias denúncias de do início do nistro da Justiça, uso de movimengoverno surgiram tem se revelado cotação financeira irdenúncias de nivente com os esregular e também cândalos iniciais do enriquecimento movimentação governo. pessoal a partir da financeira Pressionado, estrutura de manirregular uma das saídas posdatos – além de sussíveis do atual gopeitas mais sérias a verno é tentar aceserem comprovadas, caso do envolvimento com mi- lerar os ataques contra os direitos trabalhistas, para prestar contas aos lícias no Rio de Janeiro. Quando atribuía o problema da banqueiros. Mas diante disso cabe corrupção ao PT, o clã Bolsonaro, ao povo brasileiro se organizar e exina verdade, não questionava a cor- gir um projeto popular de verdade. rupção do sistema político, do qual E não mais mitos.
SEMANA
André Machado,
Dirigente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região
N
os primeiros dias do governo Bolsonaro, seis centrais sindicais assinaram uma carta ao novo presidente propondo um diálogo. As lideranças nacionais do sindicalismo enfatizaram no documento que o “jogo democrático” depende de um processo de negociação entre governos e representantes dos trabalhadores. A carta sequer foi respondida. Bolsonaro está focado em aprovar a proposta de reforma da previdência que estabelece o regime de capitalização, o mais prejudicial para os trabalhadores e mais desejado pelo mercado. Qualquer diálogo com os sindicatos começaria com esse impasse. Assim, o governo tentará uma comunicação direta com os trabalhadores, sem a intermediação dos sindicatos, na busca de convencê-los a abrir mão do atual modelo de previdência, alegando sua falência; e, para corroer a resistência, a apoiar medidas de enfraque-
cimento dos sindicatos, utilizando como justificativa a moralização das entidades. Não é coincidência o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, ter declarado que a transferência da questão sindical para seu ministério tem a intenção de “eliminar qualquer vestígio de corrupção”. Ou seja, a cruzada contra a “corrupção” será, mais uma vez, como foi para derrubar a Dilma e prender o Lula, o argumento falso para recrutar os próprios trabalhadores para atuarem contra suas organizações, facilitando a adoção das medidas econômicas desejadas pelo governo. A estratégia está anunciada. Mas, se o governo se incomoda com os sindicatos, é porque estas entidades têm, de fato, um grande potencial para brecar os seus planos. Na realidade, os sindicatos têm diante de si uma oportunidade para restabelecer um diálogo com suas bases. Se forem capazes, como ocorreu na greve geral de abril de 2017, aumentam as chances do sucesso da preservação dos direitos previdenciários dos brasileiros e, ao mesmo tempo, o fortalecimento das organizações sindicais.
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 108 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm, Laís Melo e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO André Machado, Guilherme Uchimura e Julio Carignano ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/ bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113
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Geral | 3
Paraná, 24 a 30 de janeiro de 2019
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
Menos comissionados O MP de Contas do Paraná está obrigando a Câmara Municipal de Curitiba a diminuir a quantidade de cargos comissionados sob pena de multa. O órgão recebeu reclamação do SindiCâmara de que o número de comissionados era maior do que o de concursados.
Menores salários O governo do Paraná anunciou pente-fino em salários de servidores estaduais e comissionados. A expectativa é economizar 2% com a folha de pagamento. Para o presidente da APP Sindicato, Hermes Leão, “que a economia anunciada possa reverter em cumprimento dos reajustes salariais em atraso dos servidores”.
Dívida grande Sete estados declararam calamidade financeira. O Paraná, ainda não. A dívida atual com a União é de R$ 9,3 bilhões.
Cobertor Curto O desemprego está em 12,4 milhões. Além do fim do Ministério do Trabalho, políticos têm poucos recursos para gerar empregos. Curitiba tem orçamento de R$ 8,2 bilhões para 2019. Desse total, apenas R$ 5,3 milhões são para a Secretaria do Trabalho. Já o fundo Municipal do Trabalho tem R$ 36 mil.
É ESSE?
“Causou-me surpresa ver meu nome mencionado de forma negativa por defender e me manifestar a favor do meio ambiente” Disse a modelo Gisele Bündchen em resposta à ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Em entrevista, a ministra disse que quem fala mal do Brasil no exterior são “maus brasileiros”. Para Gisele, os responsáveis pelo desmatamento ilegal e a grilagem de terras públicas é que são os verdadeiros “maus brasileiros”.
Guilherme Uchimura
A Justiça do Trabalho deveria acabar?
Divulgação
Familiares de suspeito de matar Marielle trabalhavam para Flávio Bolsonaro Redação | BdF SP Até novembro do ano passado, o senador eleito e ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL) empregava em seu gabinete a esposa e a mãe do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) como o comandante do Escritório do Crime – organização suspeita de ter assassinado Marielle Franco e Anderson Gomes, segundo informações do jornal O Globo. Nóbrega é acusado de envolvimento em homicídios há mais de uma década e foi homenageado por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em duas ocasiões: em 2003 e 2005. O capitão também é amigo de Fabrício Queiroz, investigado por movimentações ilegais pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Raimunda Veras Magalhães, a mãe, e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, a esposa, tinham cargos com salário de R$ 6.490,35. Elas foram exoneradas em 13 de novembro de 2018, sendo que, em agosto, o jornal O Globo havia noticiado a existência do Escritório do Crime. Raimunda aparece como uma das servidoras do gabinete que repassaram dinheiro para a conta de Queiroz, que teria indicado as duas mulheres para o cargo. Segundo dados da Receita Federal, Raimunda é dona de um restaurante no bair-
ro do Rio Comprido, que fica em frente à agência 5663 do Banco Itaú, onde foi feita a maior parte dos depósitos na conta de Fabrício Queiroz. Ao todo, foram 17 depósitos não identificados que somam R$ 91.796. Segundo integrante do Ministério Público Federal, os valores eram repetidos: indício de lavagem de dinheiro. Flávio Bolsonaro divulgou uma nota dizendo que as contratações foram feitas por Fabrício Queiroz. “Não posso ser responsabilizado por atos que desconheço, só agora revelados com informações desse órgão.” Reprodução
Questionado sobre o tema, a resposta de Jair Bolsonaro foi sim. No dia 3 de janeiro, em entrevista ao SBT, o presidente afirmou que estuda a possibilidade de extinguir a Justiça do Trabalho. Em sua visão, “algo está errado: é o excesso de proteção”. Afinal, o que isso significaria para a vida do povo brasileiro? Estamos falando de um ramo do Judiciário especializado em julgar, sobretudo, conflitos entre patrão e trabalhador. Esta é uma conquista histórica da classe trabalhadora – consolidada de maneira semelhante não apenas no Brasil, mas também em países como Alemanha e Reino Unido. Todo empregado sabe que, infelizmente, a violação de direitos trabalhistas é uma prática corriqueira entre nós. A garantia desses direitos depende, pelo menos, da atuação de magistrados e outros trabalhadores especializados no tema, acostumados em lidar com as peculiaridades das relações de trabalho e com a desigualdade de poder entre patrão e trabalhador. É como se alguém, falando em economizar água decidisse juntar no mesmo cômodo a cozinha e o quarto de sua casa. Daria certo? A existência da Justiça do Trabalho não é um custo a ser reduzido. Sua extinção, sim, seria uma grande irresponsabilidade. *Mestre e doutorando em políticas públicas e membro da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap)
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Brasil de Fato PR
Paraná, 24 a 30 de janeiro de 2019
A vítima da arma pode ser você Número de homicídios vem crescendo no Brasil e decreto de Bolsonaro que facilita a compra deve piorar situação. No Paraná, mais de 3 mil pessoas são assassinadas por ano Reprodução | TVBrasil
Para Isabel Figueiredo, aumento de armas em circulação significa aumento do número de homicídios
Frédi Vasconcelos
S
egundo dados mais recentes, o número de homicídios no Brasil chegou a 62 mil pessoas em 2016. E, pela primeira vez, foi superado o índice de mais de trinta mortes a cada 100 mil habitantes. As informações, que constam do Atlas da Violência 2018, mostram que, no Paraná, também em 2016, 3.080 pessoas perderam a vida violentamente. A taxa de homicídios a cada 100 mil
habitantes é pouco menor que a nacional, de 27,4. Números que mostram, junto com a informação de que mais de 70% dos homicídios são cometidos por arma de fogo, o quanto temerário foi o decreto do presidente Jair Bolsonaro (PSL), no começo deste ano, que facilitou a posse de armas. Isabel Figueiredo, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz que a liberação aumenta a violência. “A cada 1% a mais de armas
em circulação (mesmo legais), isso significa 2% a mais de homicídios”, diz. Isso num país que, segundo dados do Mapa da Violência, entre 1980 e 2014 ocorreram perto de 1 milhão mortes à bala. E a situação foi piorando. No começo dos anos 1980, para cada 100 pessoas assassinadas, cerca de 40 eram por armas de fogo. No início dos anos 1990, chegamos a 71,1%. Escalada que só foi interrompida pela Estatuto do Desarmamento, de 2003. Desse ano até 2016, os índices se mantiveram praticamente os mesmos. Para o professor Daniel Cerqueira, que fez pesquisa sobre esses números, se não fosse o estatuto do desarmamento, a taxa de homicídios seria 12% maior do que a de hoje. O que torna incompreensível a decisão de Bolsonaro de facilitar a aquisição de armas. Outro ponto importante é que a presença de armas em casa aumenta a possibilidade de morte por acidente ou suicídio. “Uma casa com arma de fogo tem cinco vezes mais chance de ter um acidente ou suicídio”, afirma a pesquisadora Isabel Figueiredo.
NÚMEROS Homicídios crescem no Brasil 62 mil 50 mil
2006
2016
No período de 2006 a 2016, o número de homicídios cresceu de 50 mil para 60 mil
A cada 100 mil habitantes 30,3
25,4
2006
2016
No período de 2006 a 2016, o número de homicídios a cada 100 mil habitantes também cresceu
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Aumentam homicídios de mulheres Paraná teve 238 mortes em 2016 Segundo o Atlas da Violência, em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no país, taxa de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras. Em dez anos, observa-se um aumento de 6,4% nesse tipo de crime. No Paraná, foram 238 mortes em 2016, crescimento de 4,4% no mesmo período de dez anos. Embora o estudo não aponte quantas dessas mulheres foram vítimas de feminicídio, atribui-se a esse tipo de violência boa parte dos homicídios. E no Atlas é discriminada a existência de três categorias:
O estudo não aponta quantas mulheres foram vítimas de feminicídio, mas atribui-se a esse tipo de violência boa parte dos homicídios o feminicídio reprodutivo, feminicídio doméstico e feminicídio sexual. No reprodutivo, são casos de morte decorrente
de aborto, de políticas de controle do corpo feminino. Já o feminicídio sexual é o que ocorre por meio de agressão sexual com força física. E o feminicídio domiciliar, ocorrido nas residências, com pessoas conhecidas, e que ocorrem em maior proporção. Para o enfrentamento desse tipo de violência, o estudo recomenda que, “além de dar visibilidade aos crimes, é fundamental a manutenção, a ampliação e o aprimoramento das redes de apoio à mulher, previstos na Lei Maria da Penha.”
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Paraná, 24 a 30 de janeiro de 2019
Cortes de Ratinho Jr. atingem principalmente a educação
ENTREVISTA
Lula aponta preocupação com a soberania nacional
Outras áreas como saúde e segurança também sofreram com diminuição de recursos Ana Carolina Caldas
U
ma das primeiras medidas do novo governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), foi baixar decreto contingenciando 20% do orçamento para 2019. Isto quer dizer que despesas estão suspensas até segunda ordem. O valor total é de R$ 8,1 bilhões e entre as áreas mais afetadas estão Educação, com corte de 1,6 bilhão, saúde, com R$1,1 bilhão e segurança pública, com R$825 milhões. Em nota, a APP Sindicato, que representa os professores e trabalhadores da Educação no Paraná, infor-
ma que o valor representa 20% dos recursos para a área. “É dever do Estado investir 30% do seu orçamento em educação. Essa porcentagem, conquistada pela luta dos(as) trabalha-
“É inadmissível cortar gastos naquilo que é primordial para a sociedade” dores(as), garante o mínimo para o funcionamento da educação pública no Paraná.” Para o professor Hermes Silva Leão, presidente da APP, “é inadmissível
cortar gastos naquilo que é primordial para a sociedade. Temos os menores salários dentro dos servidores do executivo e já sofremos na carne os cortes devido às más gestões dos últimos governos.” A justificativa do governo é que a medida serve para equilibrar as contas. “O contingenciamento vai garantir o equilíbrio fiscal do Paraná, compatibilizando a execução de despesas com a efetiva entrada de recursos, mantendo assim a estabilidade econômica estadual,” disse o governador em nota a imprensa. Com informações da APP Sindicato
José Fernando Ogura | ANPr
REDUÇÃO Em 2015 foram R$608 milhões a menos que o ano anterior para a educação Em 2016 foram R$ 307 milhões a menos com o novo corte no orçamento da educação feito pelo ex-governador Beto Richa Em 2017 foram menos R$ 300 milhões Em 2018 o governo do Paraná não investiu o mínimo exigido pela Constituição em saúde e educação e deixou de aplicar R$ 159 milhões nas duas áreas somente no primeiro quadrimestre
Foro Marsella
Pedro Carrano
M
ensagem do ex-presidente Lula à Vigília Lula Livre, enviada por Mônica Valente, secretária de relações internacionais do PT, mostra sua preocupação com a soberania nacional e a integração entre os países do sul, ameaçadas pelo atual governo de Bolsonaro. “Essas atitudes que tem anunciado em termos de política externa, é um grave retrocesso para o povo brasileiro”, avalia Mônica. Em entrevista ao Brasil de Fato, a secretária afirma também que Lula ganha apoio internacional na mesma medida em que a mídia comercial tenta isolá-lo. Brasil de Fato | Em um momento quando países protegem suas economias, como você vê as sinalizações do atual governo para uma abertura da economia brasileira? Mônica Valente | Quando o presidente Lula diz que uma das lutas mais importantes é a luta pela soberania nacional, ele vai ao encontro dessa temática mundial. Bolsonaro tem anunciado uma postura isolacionista do Brasil e submissa aos interesses das empresas norte-americanas e agora do governo norte-americano. E fragiliza muito o Brasil quando ele, por
exemplo, recebe o presidente da Argentina e acorda flexibilizar o Mercosul para que os países do Mercosul possam fazer tratados bilaterais, de país a país, sem a necessidade de passar pelo Mercosul. Isso é um grande retrocesso, porque qualquer criança sabe que uma negociação em bloco favorece muito mais esse bloco do que se cada um negociar (sozinho). Então, nesse sentido, essas atitudes que Bolsonaro tem anunciado em termos de política externa, é um grave retrocesso para o povo brasileiro, para a economia. Há uma tentativa dos meios de comunicação de naturalizar a prisão de Lula. Neste sentido, a luta pelo Nobel da Paz é uma forma de manter essa luta forte? O que impressiona muito é que, cada vez mais gente e lideranças internacionais vão chegando a essa conclusão, de que a prisão não é justa, de que não cometeu crime, e que foi uma prisão política para impedi-lo de disputar as eleições. E isso eu digo que é impressionante porque essa tentativa de naturalização que os meios de comunicação privados tentam passar não acontece na prática. Tanto é que há muitos líderes internacionais querendo visitar o presidente Lula.
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Paraná, 24 a 30 de janeiro de 2019
Ocupação 29 de março, reconstrução a partir das cinzas
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Com ausência do poder público, população e movimentos reerguem a vida da comunidade Laís Melo
A
rticulações, trabalho voluntário, organização e união são as chaves que marcam o processo de reconstrução da Ocupação 29 de Março, na CIC, incendiada criminalmente em dezembro do ano passado, durante uma ação policial. Tão rápido quanto o fogo se alastrou e destruiu as casas, foi a reação de solidariedade da população, movimentos sociais e entidades, que passaram a erguer às próprias mangas as casas dos atingidos, diante da ausência do município e do estado. “O processo de reconstrução foi sendo feito pela comunidade, pela população, por organizações que já nos acompanhavam e outras entidades não organi-
zadas, engenheiros, professores e pessoas de várias profissões. Os parceiros da ONG Teto construíram 21 casas rapidamente e o MST segue aqui com a gente fazendo um trabalho fantástico de mapeamento das pessoas atingidas, medição do terreno, conseguiram doações e seguem construindo em mutirão. Já foram construídas 40 casas e outras 17 estão bastante avançadas em sua finalização”, conta Valdecir Ferreira da Silva, que mora na comunidade desde que ela surgiu. Como aponta Joabe Mendes, da direção estadual do MST, a reconstrução significa enfrentar as mazelas do incêndio, mas também outras causas mais profundas. “Desde o início das ocupações no complexo, há sete anos, o MST está junto com o MovimenGiorgia Prates
No Natal, festa solidária levou presentes e alegria para comunidade
to Popular por Moradia (MPM) e as organizações por luta pela terra urbana. No dia do incêndio ficamos muito tristes e logo já estávamos aqui ajudando com comida, lona, construção dos barracos improvisados. A nossa luta é a mesma: No campo fazemos a luta pela reforma agrária e contra o latifúndio, aqui é pela reforma urbana e contra a especulação imobiliária”. Mais por construir Sem iluminação pública, saneamento, esgoto e com instalação de água precária, para além de seguirem o trabalho de reconstrução das casas, a população local e parceiros realizam atos de pressão sobre prefeitura para garantir direitos básicos, enquanto segue erguendo casas, colocando postes, construindo banheiros comunitários e organizando oficinas de biofossas, entre outras. “A comunidade tá voltando a criar corpo, reconstruindo com um respeito muito grande ao MPM e às coordenações locais, com pessoas sérias e comprometidas que estão replanejando a comunidade. Mas tá todo mundo muito assustado, a indenização que as famílias mais querem é a consolidação da área, que a prefeitura regularize o terreno da Ocupação 29 de Março e das ocupações em volta”, aponta Joabe.
Quilombo Paiol de Telha pode ser primeiro titulado no Paraná Incra adquiriu áreas que formam o quilombo. Falta registrar a escritura em nome da associação quilombola Franciele Petry Schramm Em um cenário de desafios, quilombolas do Quilombo Invernada Paiol de Telha - Fundão, localizado na cidade de Reserva do Iguaçu (PR), têm muito a comemorar. Foi oficializa-
da, na tarde da terça-feira (22), a obtenção de parte das terras que formam o território tradicional da comunidade. Essa é a primeira vez que o Incra obtém uma área no Paraná para a titulação de um quilombo. A aquisição é o passo fi-
nal do processo de desapropriação. Para que o território seja titulado, basta que a escritura seja encaminhada para transferência da matrícula do imóvel da Agrária para o nome do Incra, que emitirá o título. A expectativa é que esse processo ocor-
ra em menos de um mês. O Paiol de Telha foi a primeira das 38 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Palmares no Paraná. Presidente da Associação Quilombola Pró-Reintegração Invernada Paiol de Telha Fundão, Heleodo-
ro Mariluz Marques se emociona. “É um momento histórico. A gente já pode falar: é nosso!”, comemora. “É resultado de luta após luta, de muitas idas a muitas instâncias. É resultado do trabalho de cada pessoa da comunidade”, lembra.
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Prefeitura de Curitiba não quer artistas na rua Decreto publicado traz inúmeras restrições, diminuindo locais e tempo para apresentações Fotofolia
Ana Carolina Caldas No centro de Curitiba, na terça 15, artistas de rua organizaram um grande protesto contra o decreto publicado pela prefeitura de Curitiba, que restringe a atuação de artistas pela cidade. Sem diálogo, sem debate na Câmara Municipal, o decreto do prefeito Rafael Greca diminui, por exemplo, de 4 para 2 horas a permanência máxima do artista, restringe as apresentações a apenas dois locais da Rua XV e ainda limita a apenas quatro o número de artistas que poderão se apresentar por dia. Raul Nemes, músico e artista de rua há três anos, explica que “o decreto cria inúmeros artifícios jurídicos para burocratizar o trabalho do artista de rua, que é livre. “Com esse decreto te-
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Paraná, 24 a 30 de janeiro de 2019
DICAS MASTIGADAS
Salada de macarrão com sardinha Ingredientes 250g de macarrão parafuso 4 colheres (sopa) de suco de limão 1 pimenta dedo-de-moça sem sementes, cortada em tirinhas 1 cebola roxa cortada em meias-luas finas 1 e meia xícara (chá) de tomates-cereja 1 pote de iogurte natural (170 g) 3 latas de sardinha sem espinhas escorridas e picadas sal, azeite de oliva e coentro a gosto Divulgação
remos que entrar em uma lista de espera e serão permitidos apenas 4 artistas por dia. Se chove no seu dia, você vai perder seu ganha pão, vai passar fome”, diz. Contra a Constituição Caroline Mattar Assad, representando o escritório do advogado Elias Mattar, que Arquivo Pessoal
faz a defesa dos artistas de rua, explica que “o decreto fere o artigo 5º. da Constituição Federal, que rege o direito à liberdade de expressão, o direito de ocupar a cidade, por exemplo. Estamos estudando o documento e iremos, no momento certo, entrar com providências.”
Blocos do pré-Carnaval na mira da Prefeitura Ana Carolina Caldas
Palhaço Chameguinho, 30 anos como artista de rua Conhecido como o “Sombra” de Curitiba ou Palhaço Chameguinho, o artista Carlos Roberto Gomes completa 30 anos de arte de rua em 2019. Em 1997, passou dois meses acorrentado no centro da cidade, local onde se apresenta diariamente, em protesto contra proibição da prefeitura. “Na época também queriam proibir, vinha a Guarda Municipal me tirar e cheguei a ser preso.” Ao ser perguntado se as pessoas se incomodam com ele, diz que “são trinta anos deste trabalho, posso sustentar minha família, tenho uma casa e pago minhas contas. Então, acho que a população gosta do artista de rua.”
Modo de Preparo Coloque o macarrão para cozinhar em água fervente com sal. O ponto é al dente, misture os demais ingredientes e reserve. Escorra o macarrão, passe em água fria para interromper o cozimento e misture ao molho (que é a mistura dos outros ingredientes). Sirva gelado.
Há 20 anos surgia em Curitiba o bloco de carnaval independente Garibaldis e Sacis, organizado em 1999 por amigos e artistas para ir contra a crença de que Curitiba não tinha bom carnaval. Com esse pontapé, outros blocos foram surgindo e, hoje, mais de dez foram formados e organizam suas saídas de forma espontânea e via internet. Entre as mudanças que vieram com o decreto do prefeito Greca, os blocos de pré-Carnaval também passam a ter restrições de horário, trajeto e
local. A prefeitura informou em sua página que “não admite eventos convocados pela internet sem que sejam apontados quem são organizadores.” Para Fernanda Camargo, integrante da Bloca Ela Pode, Ela Vai, “as saídas dos
blocos representam acesso gratuito a lazer e cultura. Compreendemos que o poder público deva ser parceiro, promovendo infraestrutura e segurança, sem que para isso seja preciso exercer coerção às manifestações culturais”, afirma.
Para ficar por dentro 25/01 Garibaldinhos (para crianças) – Memorial de Curitiba – 18h30 26/01 Saí do armário e me dei bem – Paço da Liberdade - 15h 27/01 Siribloquinho – São Francisco – 14h30
27/01 Garibaldis e Sacis, Bloco Pretinhosidade e Bloca Ela Pode Ela Vai – Vila Torres – (horário a definir) 03/02 Bloco Segura o Curitiba e aguenta o baculejo – Rua Ermelino de Leão, 472 – 15h
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Futebol raiz, Trieste é campeão Equipe paranaense levantou caneco de torneio amador que buscou resgatar o futebol com costumes antigos
C
Julio Carignano
om a intenção de recuperar a essência e a autenticidade do futebol brasileiro, aconteceu no último fim de semana, no estádio Couto Pereira, a primeira edição da Taça Kaiser de futebol amador. Reuniu vencedores de campeonatos amadores em Minas Gerais, no Paraná, Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Na final, o Atlético Itoupava, de Blumenau (SC), vencedor do Campeonato Regional da Liga Blume-
nauense de Futebol, enfrentou o Trieste, atual campeão da Liga Amadora da capital paranaense. Ambos se classificaram após partidas vencidas nos pênaltis. Mas a decisão não foi nada equilibrada. O Trieste entrou em campo com atletas com passagens por equipes profissionais, entre eles Rodrigo Mancha (ex-Coritiba), Lino (ex-São Paulo), Raul (ex-Atlético-PR), Hideo (ex-Paraná Clube), Jair (ex-Paranavaí) e Marcelo Soares (ex-Foz do Iguaçu), além do atacante Fernando FeiJulio Carignano
Athletico contrata atletas com experiência na Libertadores Redação A Libertadores da América é uma das prioridades do Athletico para 2019, por isso contratou atletas que já disputaram o torneio. O mais experiente é o atacante Marco Ruben, que jogou três edições da Libertadores, disputou 19 jogos e marcou 11 gols. Em 2016, fez nove gols e terminou como o vice-artilheiro pelo Rosario Central. Já zagueiro Bambu jogou só os 39 minutos finais do empate sem gols do Santos com o Independiente, pelas oitavas de final da Libertadores de 2018. Léo Cittadini participou de duas Libertadores pelo Santos. Na primeira, em 2017, atuou contra The Strongest e Sporting Cristal. Na segunda, em 2018, enfrentou Estudiantes (duas vezes) e Nacional-URU (também duas vezes). Já Tomás Andrade, ex-Atlético-MG, disputou a Libertadores de 2017 com a camisa do River Plate. Ele jogou nas vitórias sobre Melgar e Jorge Wilstermann e na derrota para o Independiente Medellín.
jão, com passagens pela seleção brasileira de Futebol 7. Atropelaram os catarinenses com três gols no primeiro tempo (Jair, Murilo e Marcelo Soares) e outros três na segunda etapa (Hideo, Lino e Marcelo Soares). Atmosfera raiz Nas arquibancadas, os torcedores levaram ao Couto Pereira a atmosfera do verdadeiro futebol raiz. Gente de todas as idades, crianças brincando de bola em meio à arquibancada, bandeiras, bateria e cerveja liberadas. Alegria que contagiou principalmente os triestinos. “O futebol amador é tudo para mim e minha família. Quando ficamos um tempo sem jogos a gente sente muita falta”, afirmou Marcia Aparecida de Oliveira, que acompanha há mais de 20 anos a equipe criada pela colônia italiana no bairro Santa Felicidade.
“FUTEBOL DE VERDADE”
Julio Carignano
A primeira edição da Taça Kaiser também teve a presença de Dadá Maravilha, artilheiro de três campeonatos brasileiros e campeão mundial pela Seleção em 1970. O torneio em Curitiba foi uma oportunidade de retornar ao Alto da Glória, uma vez que o ex-centroavante também teve passagem pelo Coxa. E Dadá entregou o caneco aos vencedores. “Vencidos e vencedores se tornaram heróis, pois a festa foi grandiosa. Os dois times vibraram e mostraram amor à camisa, coisa que a gente não tem mais visto no futebol profissional. Precisamos resgatar o verdadeiro futebol que nos fez os melhores do mundo neste esporte”, comentou.
Arrecadar é preciso
O preço do recomeço
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Na última coluna do ano passado, antecipamos que 2019 marcaria o exercício orçamentário mais penoso para o Coritiba nas últimas duas décadas: a previsão inicial de receitas neste ano era de 55% em relação à de 2018. Citávamos também a necessidade de buscar anunciantes para a mídia estática no Couto Pereira, bem como de franquear o acesso ao estádio das famílias beneficiárias do bolsa-família, por exemplo, vinculado a algum patrocinador privado. Nos primeiros dias deste mês de janeiro, a situação se agravou: o governo Bolsonaro determinou à Caixa que suspendesse a publicidade em camisas de clubes de futebol, o que implica menos R$ 4,6 milhões nos cofres alviverdes. Razão a mais para a união da família coxa-branca no sentido de sensibilizar o empresariado para que invista no retorno do Verdão à Série A do futebol brasileiro. Com urgência. Coritibanos de todo o mundo, uni-vos!
A derrota do tricolor diante do Operário preocupou, mas ainda é cedo para cravar que teremos mais uma temporada desastrosa. Além dos méritos do adversário, que atravessa um momento único em sua história, pesou sobre o Paraná a velha máxima de ter de reconstruir o time todo para a temporada. Dos onze que começaram a partida, apenas o goleiro Thiago Rodrigues, o lateral Juninho, o meia Andrey e o atacante Keslley faziam parte do elenco de 2018, sendo que os dois últimos vieram da base. Querer que um time montado em tão pouco tempo inicie o campeonato em alto nível é demais. Às vezes acontece, como ocorreu em 2017, mas é raro. Apesar do resultado, o Paraná teve alguns bons momentos na partida e pareceu ser melhor em relação ao que começou 2018, o que ainda é muito pouco diante da expectativa da torcida.