Brasil de Fato PR - Edição 109

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Brasil | p. 6

Cultura | p. 7

Geral | p. 3

Privatização de presídios

O advogado que há 300 dias visita Lula

Ratinho Jr. quer adotar modelo que fracassou nos EUA

A periferia é o centro do carnaval Bloco Pretinhosidade resgata raiz popular e negra do carnaval

Giorgia Prates

Entrevista: Manoel Caetano

PARANÁ

Ano 4

Edição 109

31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2019

distribuição gratuita Ricardo Stuckert

www.brasildefato.com.br/parana

Lula é impedido de ir a enterro do irmão Justiça do Paraná, TRF4 e Supremo fazem o que nem a ditadura teve coragem Brasil I p. 6 Ricardo Stuckert

MAIS UM CRIME DOS DONOS DA VALE Busca de lucro a qualquer preço ajuda a explicar o desastre

Editorial | p. 2

Venezuela ameaçada Especial | p. 4 e 5

Ameaça de invasão visa ao controle do petróleo


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EDITORIAL

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Brasil de Fato PR

Paraná, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2019

Venezuela sob golpe

mundo assiste a mais uma tentativa de golpe na América Latina. Desta vez, o palco é a Venezuela. Juan Guaidó, chefe do Legislativo, ignorando o resultado das eleições que reelegeram Nicolás Maduro, declarou-se presidente da Venezuela. Guaidó conta com o apoio dos EUA e de outros países com governos de direita, como o Brasil de Bolsonaro (que vem mostrando submissão aos EUA). Os interesses dos EUA têm a ver com o petróleo venezuelano. O país latino-americano sofre com a crise econômica internacional, que assola diversas nações, inclusive o Brasil, e suporta um grave bloqueio internacional. Há embargo tanto por parte dos bancos internacionais, que dificultam simples transações financeiras, quanto por países aliados aos EUA. Além disso, há controle e manipulação de preços de bens básicos pelos donos de grandes redes de supermercados,

Há controle e manipulação de preços de bens básicos pelos donos de grandes redes de supermercados, opositores de Maduro opositores de Maduro. Por isso, acreditar que uma intervenção neste país é para defender a democracia mostra-se como pura ingenuidade. O resultado das eleições venezuelanas, que elegeram Maduro, precisa ser respeitado: isso sim é defender a democracia. Busca-se, assim, sufocar economicamente a Venezuela e fragilizar Maduro para derrubar seu governo. Não há dúvidas: a soberania da Venezuela está em jogo, o que afeta a todos nós.

Meritocracia no olho dos outros é refresco

OPINIÃO

Felipe Pinheiro,

diretor do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG)

E

m poucas semanas de governo já parece explícita a contradição entre o discurso e a prática de Jair Bolsonaro. O governo que acabaria com a tal “mamata”, em referência ao que era tratado como “aparelhamento do Estado” e “toma lá dá cá”, tratou de distribuir cargos a aliados e amigos por critérios não necessariamente considerados “meritocráticos” ou “técnicos”. As indicações envolvendo um amigo pessoal do atual presidente para uma gerência da Petrobrás, assim como a decisão de promover o filho do vice-presidente, Hamilton Mourão, para o alto escalão do Banco do Brasil, simbolizam bem o quanto a demagogia do período eleitoral tem perna curta.

SEMANA

Mas, para além do estelionato eleitoral de Bolsonaro e sua equipe, é importante refletirmos sobre essa tal da meritocracia. Hoje, com a responsabilidade de governar o País

O governo que acabaria com a tal “mamata”, em referência ao que era tratado como “aparelhamento do Estado” e “toma lá dá cá”, tratou de distribuir cargos a aliados e amigos e responder à altíssima expectativa por melhorias para a população, Bolsonaro tem visto que meritocracia nos olhos dos outros é refresco. Aquele que

bradava aos quatro ventos contra indicações “políticas” e “ideológicas”, hoje usa como principal critério de indicação o alinhamento político-ideológico de seu staff. É natural que Jair Bolsonaro e Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, busquem quadros de confiança política para cargos estratégicos em suas gestões. Mas, quando desconsideram a necessidade mínima de qualificação ou passam por cima de procedimentos internos, demonstram total desrespeito ao bem público e à população brasileira. No final das contas, se a “nova era” tinha como princípio a tão falada meritocracia, essa lógica já foi completamente desmascarada para garantir a promoção de um amigo de Jair Bolsonaro. Cabe denunciarmos que essa ladainha de “meritocracia” não faz sentido.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 109 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm, Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bárbara Lia e Felipe Pinheiro ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Paraná, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2019

Ex-governador Beto Richa é preso pela segunda vez

FRASE DA SEMANA

O ônibus vai subir em Curitiba? Reuniões 1 de fevereiro é a data para ocorrer o reajuste do transporte coletivo de Curitiba e RMC. O prefeito Rafael Greca já se reuniu com o governador Ratinho Júnior para tentar manter o subsídio dado ao transporte da capital. Custos A tarifa de Curitiba está em R$ 4,25, mas a Coordenação da Região Metropolitana (Comec) define a tarifa técnica em R$ 4,71. No governo de Beto Richa, o subsídio dado pelo governo do estado era de R$ 71 milhões. Compadres Os governadores Beto Richa e Cida Borguetti deram subsídios aos prefeitos Luciano Ducci e Rafael Greca, aliados políticos. A única vez que o modelo foi suspenso ocorreu com Gustavo Fruet. Data-base Um dos argumentos para elevar a tarifa é o reajuste dos motoristas e cobradores. No dia 25, em assembleia, “a categoria estabeleceu, por unanimidade, o requerimento de um reajuste salarial de 10% na negociação do acordo coletivo”. Fiscalização O ex-vereador e agora deputado estadual Goura vai cobrar transparência: “Vamos nos reunir com a Comec e o governo para saber qual vai ser a política de subsídios.

“Eles escolheram de forma muito consciente não fazer o que tem que ser feito”,

Redação

disse a ambientalista Maria Teresa Corujo, que foi a única a votar contra o aumento da operação do local em que rompeu a barragem da Vale, em Brumadinho.

Divulgação

Ratinho Jr quer privatizar presídios com modelo que não deu certo Ana Carolina Caldas Em entrevista à Globo News, o governador do Paraná, Ratinho Jr., defendeu privatizar a gestão dos presídios. Ao se referir ao modelo de sua preferência, citou o que acontece nos Estados Unidos. Modelo que o próprio o governo americano está voltando atrás. Em 2016, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou que as prisões federais privatizadas voltariam para o governo. A subsecretária de Justiça dos EUA, em memorando na época,

disse que “as prisões privadas tiveram papel importante durante um período difícil, mas o tempo mostrou que têm desempenho inferior se comparadas às nossas instalações.” E “não oferecem o mesmo nível de serviços correcionais, programas e recursos, não apresentam redução significativa de custos e não mantêm o mesmo nível de segurança e proteção.” A decisão do governo dos EUA se deu após a publicação do órgão equivalente ao Ministério da Justiça brasileiro, que analisou 28 unidades prisionais. Entre os dados leSindarspen

vantados, classificam-se as prisões privadas como mais perigosas que as públicas, com falhas na fiscalização, maior número de agressões, contrabandos e motins etc. Combate a organizações criminosas O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná, Ricardo Miranda, contrário à proposta de privatização, cita principalmente a importância de profissionais concursados para combater as organizações criminosas. “Só quem consegue fazer o real enfrentamento às organizações criminosas hoje são os agentes penitenciários, por serem profissionais concursados, treinados e preparados para a função. Como poderemos assegurar que um trabalhador que pode ser demitido a qualquer momento vá fazer o enfrentamento a líderes de organizações criminosas?”, questiona.

Na sexta-feira, 25, o exgovernador Beto Richa foi preso, pela segunda vez, agora por conta da Operação Integração, denunciado por corrupção passiva e organização criminosa. De acordo com a investigação do Ministério Público Federal, MPF, o tucano e seu contador, Dirceu Pupo Ferreira, teriam agido para modificar o depoimento de testemunhas. As investigações referem-se a esquema de corrupção que beneficiaria concessionárias de pedágio em troca de propina. Segundo o MPF, Richa teria recebido ao menos R$ 2,7 milhões. E, nesta semana, a Justiça Federal questionou a Polícia Federal (PF) por que o ex-governador do Paraná foi levado para o Regimento de Polícia Montada, unidade da Polícia Militar (PM), em prisão especial, enquanto outros presos estariam sendo levados para cadeias comuns. Até o fechamento desta edição não houve resposta da PF. Gilmar Mendes O presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, aceitou pedido da defesa de Richa (PSDB) e decidiu manter o ministro Gilmar Mendes como relator dos inquéritos que envolvem as prisões do tucano. Mendes foi quem libertou Richa da última vez. Orlando Kissner | ANPR


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Paraná, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2019

Hidrelétrica Retiro Baixo

Entre 5 e 10. fev

Hidrelétrica Três Marias Encontro com o rio são Francisco

BARRAGENS DA VALE EM TODO BRASIL ESTÃO COM ALGUM NÍVEL DE PREOCUPAÇÃO DE ROMPIMENTO**

Entre 15 e 20. fev

RIO SÃO FRANCISCO PODE SER ATINGIDO PELA LAMA DE REJEITO ATÉ O DIA 20 DE FEVEREIRO

99

MORTOS

259

DESAPARECIDOS*

56

BAHIA, SERGIPE E ALAGOAS TAMBÉM PODEM SOFRER COM A LAMA CASO O REJEITO CHEGUE AO VELHO CHICO

APENAS 780, DAS 24 MIL BARRAGENS NO BRASIL, PASSARAM PELA VISTORIA DE ALGUM ÓRGÃO DE FISCALIZAÇÃO EM 2017**

LAMA DESTRÓI BRUMADINHO E AMEAÇA REGIÃO DA BACIA DO RIO PARAOPEBA

Três anos depois do maior desastre ambiental da história do Brasil, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), o mundo assiste a mais uma tragédia. Desta vez o número de mortos é infinitamente maior e a destruição ambiental de proporção semelhante. No último dia 25 de janeiro, por volta da uma da tarde, 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração foram despejados sobre comunidades e rios, após o rompimento da barragem Mina do Feijão, localizada em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte. Para o pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Luiz Jardim, um dos maio-

res especialistas em mineração do Brasil, o episódio de Brumadinho, assim como o de Mariana, não podem ser classificados apenas como uma tragédia, mas sim como um crime socioambiental. • XX A maior culpada MORTOS E XXX é a própria mineradora Vale. DESAPARECIDOS* Isso porque, segundo o professor, o desastre foi consequência de uma tentativa de manter altas margens de lucro com a exploração do minério de ferro. Para isso, as mineradoras aumentam a produção ao mesmo tempo que passam a cortar custos, que vai desde a demissão de funcionários a descuidos com o monitoramento ambiental. "O tipo de comportamento corporativo é que leva essas barragens a romperem", afirma.

A privatização da antiga Companhia Vale do Rio Doce, em 1997, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), provocou a demissão de milhares de trabalhadores da companhia. Até então a Vale era uma das mais lucrativas estatais brasileiras. A venda do controle acionário da empresa para o Consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional, do empresário Benjamin Steinbruch, foi fechada em R$ 3,3 bilhões, o que representava apenas 27% do capital total da empresa. O recurso utilizado para a compra foi disponibilizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a juros subsidiados. Na época, o valor de mercado da em

São José da Varginha 29.jan

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Privatização da Vale: o lucro acima da vida

RIO PARAOPEBA PRIMEIRO CURSO D’ÁGUA ATINGIDO; AFETA 35 MUNICÍPIOS E UMA POPULAÇÃO DE MAIS DE 1,3 MILHÃO DE HABITANTES. ELE É UM DOS PRINCIPAIS AFLUENTES DO RIO SÃO FRANCISCO.

presa era avaliado em mais de R$10 bilhões. Somente as suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$100 bilhões. O então presidente FHC convidou dois bancos internacionais para avaliar a companhia que seria leiloada. Um dos critérios determinados pelo governo foi de que a avaliação deveria se restringir apenas ao fluxo de caixa existente naquele momento, não levando em conta as reservas de minério de ferro. A Companhia Vale do Rio Doce foi criada em 1942 com recursos do Tesouro Nacional. Durante 55 anos, foi uma empresa mista e o seu controle acionário pertencia ao governo. Uma das principais mudanças na gestão da empresa, após a privatização, foi a imposição de um modelo de mineração predatório, resultando no aumento substantivo da produção e extração minerais e diminuindo a participação dos trabalhadores e das comunidades no planejamento da empresa. Hoje a Vale atua em 30 países ao redor do mundo e em 13 estados brasileiros.

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Histórico de violações da Vale vai muito além de Mariana e Brumadinho Maior mineradora do Brasil e terceira maior do mundo, a Vale S.A carrega vários crimes ambientais e tragédias humanas em sua história recente. Em 2015, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), liberou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, matando 19 pessoas. A barragem era de propriedade da mineradora Samarco, da qual a Vale é uma das donas, junto com a anglo-australiana BHP Billiton. Mesmo depois do crime de Mariana, e de uma política de reestruturação societária em 2017, as ações da Vale se valorizaram 83%. Em 2018, a empresa chegou ao seu maior valor de mercado dos últimos sete anos: cerca de R$ 300 bilhões. Neste mesmo ano, a mineradora anunciou um lucro líquido de R$ 5,75 bilhões no terceiro trimestre, com o recorde de produção de 104,9 milhões de toneladas de minério de ferro.

Mesmo antes das catástrofes socioambientais em Mariana e em Brumadinho, as contaminações da atividade mineradora já eram objeto de denúncia. Publicado em 2014, o livro “Recursos Minerais e Comunidade: impactos

EM 2012, A VALE FOI ELEITA A PIOR EMPRESA DO MUNDO

humanos, socioambientais e econômicos”, organizado pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), catalogou 1,5 mil documentos e relatou o estudo de caso de 105 territórios, espalhados em 22 estados brasileiros, que sofreram impactos da mineração. Em janeiro de 2012, a mineradora foi eleita a pior empresa do mundo pelo Prêmio Public Eye People's, premiação realizada desde o ano 2000 pelas ONGs Greenpeace e Declaração de Berna. O motivo: uma “história de 70 anos manchada por repetidas violações dos direitos humanos, condições desumanas de trabalho, pilhagem do patrimônio público e pela exploração cruel da natureza”. O impacto negativo da empresa não milhões de metros se restringe ao Brasil. Em Piura, no Peru, cúbicos de rejeito onde a empresa explora fosfato, o transde mineração porte mal feito da substância causou a despejados contaminação do ar e da água, afetando milhares de moradores e pescadores da região. Em Moçambique, mais de 1,3 mil famílias foram atingidas pela poluiMina ção atmosférica decorrente da explorado Feijão ção de carvão. Em Nova Caledônia, um arquipélago que fica na Oceania, foi constatado o vazamento de substânCentro administrativo cias químicas em um rio próximo a uma unidade da empresa, causando a da Vale morte de cerca de mil peixes.

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Juatuba 19 MUNICÍPIOS DE MINAS GERAIS DEVEM SER DIRETAMENTE ATINGIDOS

Inhotim

Brumadinho

*Até o fechamento desta edição * Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA)

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Paraná, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2019

Lula é impedido de comparecer ao enterro de irmão

Brasil de Fato PR Pedro Carrano

Ricardo Stuckert

Redação

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Exclusivo: Entrevista com o advogado que visita Lula todos os dias

ex-presidente Lula não teve o direito de ir ao enterro de seu irmão mais velho, Vavá, falecido no dia 29. Isso porque os juízes de primeira e segunda instância passaram por cima da lei e usaram argumento de falta de meio de transporte e de segurança para não liberar. A defesa do ex-presidente recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o ministro Dias Toffoli autorizou a saída de Lula quando o corpo já estava sendo sepultado. “A decisão chegou tardiamente, é inviável e impossível de ser cumprida. E estabelece condições que o presidente jamais aceitaria. Não se submeteria à condição de se reunir com a família em um quartel”, criticou Manoel Caetano, um dos advogados do ex-presidente (confira entrevista ao lado).

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Ana Carolina Caldas Lula recebe a visita do advogado curitibano Manoel Caetano às tardes, com exceção de sábados e domingos. O advogado é quem traz informações sobre o processo, mas também acabou virando o amigo que debate política, que ouve o resumo dos livros lidos pelo ex-presidente e testemunha momentos emocionantes, como a visita do ex-presidente do Uruguai, José Mujica. Em entrevista exclusiva para o Brasil de Fato, Caetano relata momentos marcantes desses encontros:

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A primeira visita e as famílias de Garanhuns “Nunca tinha conversado mais de que meia hora com o presidente. Fiquei pensando como iria iniciar essa conversa com ele. Cheguei lá, ele já me chamou pelo nome pois sabia que era eu que iria visitá-lo como advogado. Falei que tínhamos algo em comum, que meus pais eram da cidade que fica a 50km de Garanhuns, cidade que Lula nasceu. Daí em diante, fomos transformando estas visitas em amizade. ” O recado para Chico Buarque “Entre os momentos mais recentes, cito a emoção de Chico Buarque ao receber por escrito um bilhete de Lula mandando seu pesar pela morte da cantora Miúcha, irmã de Chico. Quando o Chico recebeu ficou emocionado, com a voz embargada e disse que não acreditava que o Lula ali preso ainda tivesse preocupações tão sensíveis com as pessoas.” Visitas ilustres “Na conversa que ele teve com Mujica eu estava junto. E ver aqueles dois senhores donos de histórias tão importantes, conversando frente a frente, foi de muita emoção. A maioria das pessoas sai dizendo ‘olha presidente viemos aqui preocupados em trazer consolo e estamos saindo muito melhores do que entramos’. Lembro também da visita do ex-prefeito da Cidade do México (Cuauhtémoc Cárdenas). O Lula, inclusive lembrou dos filhos dele, o que fez o Cárdenas se emocionar”.


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BrasilCultura de Fato PR7

Paraná, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2019

Pretinhosidade resgata raiz popular do Carnaval em Curitiba Giorgia Prates

Pré-carnaval aconteceu na Vila Torres, na periferia da cidade

Palhaço protesta contra proibição de arte de rua

Redação No último final de semana de janeiro, as ruas do bairro Vila Torres, periferia de Curitiba, receberam o bloco Afro Pretinhosidade no que Diorlei Aparecido do Espírito Santo, coordenador do grupo, chamou de “um carnaval recíproco, pois a comunidade e o comércio local receberam gente que veio do centro e estes, por sua vez, honraram aquele espaço, que é original do carnaval. Essa é uma festa popular que nasce das periferias.” “O bloco é formado por 95% de pretos e pretas e nosso objetivo vai além do Carnaval, queremos inserir as reflexões sobre as questões raciais e valorizar a cultura da periferia, que muitas vezes é deixada de lado”, explica Angela Maria da Silva, também coordenadora do bloco.

Ana Carolina Caldas

Em uma parceria com a ONG Passos da Criança, que atende a crianças e jovens da Vila Torres, o bloco organizou a sua primeira saída do pré-Carnaval no bairro. “As crianças da ONG recebem aulas de percussão e participam do bloco”, conta Diorlei. Os ensaios aconte-

LUZES DA CIDADE Bárbara

Lia

Dói em mim este país Convidada a homenagear Vinícius de Moraes no centenário de nascimento (2013), na Semana Literária Sesc, escolhi seus poemas do exílio. Em casa eu lia “Pátria Minha” (ensaio solitário), a voz embargava, caía em prantos. Nem sabia que breve cairia como luva aquele início do poema: “A minha pátria é como se não fosse”. Ouvimos ameaças de exílio. Os “vermelhos”. Autoexílio já aconteceu. Viver em outro país sob um céu sem o Cruzeiro do Sul, como Vinícius no exílio. “E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz À espera de ver surgir a Cruz do Sul”. Mas... E este não lugar? E esta sensação de que esta não é a minha pátria? Isto dói bem mais. Sentir saudade de sua pátria em seu próprio chão faz adoecer. Direitos Humanos vilipendiados via extinção de ministérios. Ameaças. Vexame internacional. Zero grau de separação entre o presidente eleito e as milícias cariocas. Brumadinho. Mar de lama. Dor. Dói em mim este país. Como dói.

cem desde janeiro de 2018 junto à comunidade da Vila Torres. “O bloco Afro Pretinhosidade é um bloco periférico que veio para resgatar essas raízes cada vez mais.”. As próximas saídas acontecem nos dias 3 e 17 de fevereiro, às 14h30, na Praça Santos Andrade.

Nesta semana aconteceu novo protesto, no centro de Curitiba, contra o decreto do prefeito Rafael Greca que dificulta a apresentação de artistas de rua na cidade. Durante o ato, Carlos Alberto Gomes, o Palhaço Chameguinho, que trabalha há mais de 30 anos como artista na cidade, resolveu se acorrentar para chamar a atenção do poder público. Segundo ele, ficará acorrentado até que o decreto seja revogado. Esta é a segunda vez que Carlos se acorrenta contra a proibição de seu trabalho. “Em 1997, fiquei dois meses acorrentado. Só saí quando ganhei o direito de trabalhar com uma liminar, iniciativa de um advogado. Neste ano, não será diferente. Acho absurdo um prefeito tratar arte de rua como crime”, conta.

DICAS MASTIGADAS

Quiche de frigideira

Ingredientes 1 xícaras (chá) de farinha de trigo 1 copo de leite 2 ovos sal a gosto Meia colher de manteiga 1 xícara de bacon picadinho 1 cebola pequena 3 dentes de alho 1 copo de folhas e talos de brócolis folhas de rúcula 100 gramas de queijo

Modo de Preparo Bata os ovos numa vasilha e em seguida misture o leite, o sal, a farinha, a manteiga e misture até formar uma massa homogênea, meio líquida. Pique e separe em vasilhas diferentes o brócolis, a cebola, alho e o bacon. Frite o bacon, retire o excesso de gordura e em seguida refoge as folhas e talos. Despeje a massa sobre as folhas e talos refogados, cubra com lascas de queijo e folhas de rúcula e feixe fritar ou assar em fogo baixo, frite ou asse por 3 minutos de cada lado e sirva. Obs: As folhas, talos e carnes podem ser substituídas conforme o que tiver na sua geladeira. Tire a carne e tenha uma opção vegetariana.

Reprodução


de Fato PR 8Brasil Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2019

Torcedor sem tutela Por Cesar Caldas A Federação Paranaense de Futebol rendeu-se, na quarta-feira, à vontade do Athletico-PR, de inviabilizar a presença do torcedor do Coritiba ao maior clássico estadual. Para isso contribuiu comunicado do Ministério Público, de que iria investigar eventual violação de princípios pela FPF e pelo Tribunal de Justiça Desportiva para, eventualmente, acionar o Poder Judiciário. A nota fez a FPF recuar de determinação anterior, gerando clima de insegurança aos alviverdes. Do texto do MP extrai-se preponderância de sua preocupação com a necessidade de efetivo maior da PM em caso de separação das torcidas. O torcedor-consumidor coritibano vê-se desprotegido em seus direitos, coagido fisicamente e tolhido em sua liberdade, exatamente por quem deveria zelar pelo cumprimento da legalidade, pela segurança pública e pela organização da partida.

Curitiba contra o líder Time de vôlei feminino está na oitava posição na principal competição brasileira Frédi Vasconcelos

Velhos conhecidos Por Marcio Mittelbach Quem diria que depois de toda aquela catástrofe de 2018 teríamos um reserva do quilate do Maicossuel. É evidente que a titularidade é uma questão de tempo, mas como é bom ver o cara entrando em campo como um menino em busca de oportunidade. Os dois gols na vitória sobre o Foz provam que, sim, ele está a fi m de escrever novos capítulos da nossa história. Outro velho conhecido que tem se destacado é o técnico Dado Cavalcanti. Está mostrando que valeu a pena o investimento feito nele no final do ano passado. E o aproveitamento dos garotos da base saiu do papel. Ao mesmo tempo, o técnico demonstra ter segurança na escalação dos contratados. O clássico com o Atlético no domingo, 3, e o jogo diante do Itabaiana de Sergipe pela Copa do Brasil, no dia 6, serão os dois primeiros testes de fogo para a dupla.

Athletico usa MP para se explicar Redação Com a polêmica causada pela recusa do Athletico em vender ingressos para a torcida visitante no clássico com o Coritiba, o time da Baixada limitou-se a reproduzir em seu site nota do Ministério Público favorável a sua decisão. Além de questionar a competência da “justiça desportiva, o principal argumento do MP é que a proposta de não separar as torcidas foi questionada junto ao Poder Judiciário por duas vezes e, em ambas, foi reconhecida a ” legalidade do que prevê o projeto-piloto ... de não reservar espaço para a torcida visitante.” E conclui que esse projeto “no Athletico já foi incorporado às práticas do clube – e busca, resumidamente, reduzir as ocorrências de atos de violência entre torcidas rivais dentro e fora dos estádios e a quantidade de efetivo policial nos dias de jogos.”

Frédi Vasconcelos

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a última partida disputada em casa, na sexta-feira, 25, o time feminino do Curitiba Vôlei enfrentou nada mais nada menos que o Praia Clube, de Uberlândia-MG, o líder da Superliga, o principal torneio brasileiro entre clubes. Em jogo, a permanência entre os oito primeiros colocados que vão disputar a fase final do campeonato. O ginásio lotado e os gritos da torcida empolgaram, mas não foram suficientes para evitar a vitória por 3 a 0 das mineiras, mostrando a diferença que ainda existe em um time que subiu este ano para a primeira divisão e outro que conta com jogadoras que já passaram ou ainda estão na seleção brasileira, como as centrais Fabiana e Carol, as ponteiras Rosa Maria e Fernanda Garay, além de jogadoras da seleção dos Estados Unidos.

No Curitiba, os destaques são a central argentina Juliana Lazcano, a levantadora Ana Cristina, capitã da equipe e com passagens pela seleção brasileira, e a curitibana Mari Aquino, vice-campeã da última edição da Liga dos Campeões da Europa. E que chegaram este ano para reforçar o time que foi campeão da Superliga B em 2018. Trazendo Curitiba de volta para o principal torneio feminino de vôlei do país depois de 14 anos. Antes, o Paraná participou da temporada 2003-2004,

com o Rexona Vôlei, que depois se transferiu para o Rio de Janeiro. Na terça, 29, o Curitiba Vôlei voltou a jogar, agora fora de casa, e perdeu por 3 sets a 2 para o Balneário Camboriú Vôlei. Mantendo ainda a oitava posição, com 17 pontos em 14 jogos, mas correndo risco de ser ultrapassado na reta final por times mais tradicionais como o Pinheiros, de São Paulo, e o Brasília Vôlei, na classificação para a fase seguinte, em que jogam os oitos melhores time no formato mata-mata.

PRÓXIMOS JOGOS EM CASA Dia

Horário

16/2

20h

26/2

20h

13/3

A definir

Jogo

X Pinheiros Curitiba X Barueri Curitiba X Minas Curitiba

Os jogos acontecem no ginásio da Universidade Positivo e os ingressos custam R$ 24 (inteira) e R$ 12 (meia).


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