Arquivo Pessoal
Cultura | p. 7
Viver de arte
Geral | p. 3
Contra aumento da passagem
Atriz Ana Rosa Tezza fala do ofício de fazer teatro
PARANÁ
Ano 4
Edição 112
Entidades vão às ruas no dia 26 por transporte público
21 a 27 de fevereiro de 2019
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana
BOLSONARO ATACA APOSENTADORIA DE TRABALHADORES
Divulgação
Se aprovada, proposta de reforma prejudica empregados e mais pobres Brasil | p. 5 Divulgação
Sem universidade pública, sem pesquisa Instituições sofrem com cortes no orçamento Cidades | p. 4
Brasil | p. 6
Trabalhadores organizados na Volvo Rogério “Chacal”, da comissão interna, fala dos desafios enfrentados pelos metalúrgicos
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 21 a 27 de fevereiro de 2019
Um ministro da OPINIÃO Somos um país educação às avessas soberano? EDITORIAL
S
e depender do ministro da Educação do governo Jair Bolsonaro, muito brasileiro não tem que estudar. Em entrevista ao “Valor”, publicada em 28 de janeiro, Ricardo Vélez Rodrigues afirmou que “a ideia de universidade para todos não existe”, e defendeu que as vagas no ensino superior sejam reservadas a uma elite. Mas Vélez não é o único. O descuido com a educação persiste desde o governo anterior. A aprovação, por exemplo, da Emenda Constitucional n.º 95, de 2016 (conhecida como “PEC da Morte”), impediu investimentos na educação por 20 anos. Assim como na gestão de Temer, o governo Bolsonaro não vai
priorizar o ensino superior. Porém, como apontou a diretora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivana Bentes, “o país mudou e abriu um horizonte que não existia com as cotas sociais, raciais e pré-vestibulares comunitários”. Exemplo disso é a estudante Leticia Christine, de 19 anos, que entrou em segundo lugar, pelo ENEM, na Federal do Rio deste ano. Ela estudou no pré-vestibular comunitário da Portela, o cursinho gratuito com aulas na quadra da escola de samba. Ainda assim, o acesso é muito restrito. O pensamento do ministro parece funcionar às avessas: em vez de expandir, ele quer limitar as universidades.
SEMANA
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Patrus Ananias,
deputado federal (PT)
U
m general brasileiro irá integrar, nos próximos meses, o Comando Sul (SouthCom) das Forças Armadas americanas. A informação foi dada pelo almirante americano que comanda a divisão voltada para a segurança americana na América Latina. A informação é preocupante e não pode ser tratada com a naturalidade aparente. Um general brasileiro, um militar com alta patente, passará a servir no Exército americano. Somos ou não somos um país soberano? Um general brasileiro a serviço das forças armadas americanas é um forte indicativo de que estamos de novo a caminho de ser colônia dos Estados Unidos. Existem hoje grandes embates globais de poder. China e Estados Unidos se debatem nas questões da tecnologia e da inteligência artificial, apontando para um futuro próximo. Rússia e Estados Unidos se enfrentam no campo militar, na
disputa geopolítica global. A tentativa explícita dos Estados Unidos em transformar o Brasil em seu feudo particular entra no âmbito dessas disputas. Dominar o Brasil significa ter portas abertas para transformar a América Latina em um fornecedor de matéria-prima abundante e mão de obra extremamente barata, além de dar pleno controle aos estrangeiros sobre nossas águas, nossa energia elétrica, nossas telecomunicações. É uma nova colonização, que representa a entrega da soberania nacional, a entrega de nossas riquezas naturais e de todo o patrimônio que é do povo brasileiro. Os BRICS representavam uma frente contra essas polaridades estreitas e por isso foram tão combatidos pelos norte-americanos. Então, retorna a dúvida: somos um país soberano, com projeto próprio para o futuro? Ou a intenção é que nossa pátria sirva apenas aos interesses de fora, que aqui aportam apenas quando existe possibilidade de ampliar os lucros e levar para longe nosso patrimônio?”
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais na Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 112 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Gabriel Carriconde ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113
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Brasil de Fato|PR Geral 3
FRASE DA SEMANA
Mulheres são vítimas nas ruas e nas redes A agressão a Elaine Caparróz, no Rio de Janeiro, acentua mais uma vez como as mulheres são vítimas de um país em que o poder público desdenha do feminicídio. Elas são alvo nas ruas, em casa e nas redes sociais. Segundo o Instituto Maria da Penha, uma mulher é vítima de violência física ou verbal a cada dois segundos no país. Já a taxa de feminicídio no Brasil é a quinta maior do mundo, segundo a OMS. Na Câmara, a vereadora Josete (PT) cobrou ação do poder público: “Todos os dias vemos uma situação diferente envolvendo uma mulher agredida ou morta. Esses casos não podem ficar apenas nas estatísticas, é preciso focar em medidas de prevenção e políticas públicas mais efetivas”. Uma pesquisa do Instituto Avon revelou que em 2017 o assédio foi o 26º assunto mais comentado na internet. “Somente nos últimos três anos, as menções cresceram 324%, com destaque para um novo tipo de assédio, o virtual, que cresceu mais de 26 mil%”, informa o relatório. 96% dos haters são homens e 79% são brancos.
ASSEDIADORES
96%
dos haters são homens
79%
dos haters são brancos
“Todas essas regras contra os pobres têm que ser derrubadas, retiradas do texto” disse o governador Flavio Dino (PCdoB) em reunião de governadores sobre a reforma da Previdência.
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Entidades questionam possível reajuste da tarifa do ônibus em Curitiba Paula Zarth Padilha,
Terra Sem Males
O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, tem sinalizado que em breve aplicará reajuste na tarifa de ônibus da capital, que desde fevereiro de 2017 está congelada em R$ 4,25. Esse congelamento veio atrelado à extinção da chamada “domingueira”, valor mais baixo que antes era cobrado aos domingos. O problema é que, ainda que sem reajuste há dois anos, a tarifa é alta. “Há todo um histórico no transporte público de Curitiba que nos indigna e que mobiliza as pessoas a lutarem por um transporte mais justo e democrático. Em meio a fraudes em licitações, denúncias do Ministério Público e foto do Prefeito jantando com Donato Gulin, Priscila Murr
um dos mais influentes empresários do transporte curitibano, é imperativo que se questione: quais as reais justificativas para o reajuste da tarifa?”, explica Luiz Calhau, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR). A gestão municipal ainda não divulgou qual será o novo valor e nem quando ele será implementado, mas diversas divulgações institucionais colocam investimentos e gastos do transporte coletivo como justificativas veladas para esse reajuste ocorrer agora: como o encontro de Greca com o novo governador Ratinho Jr para tratar da renovação ou não do subsídio do governo estadual para integrar a região metropolitana; a data-base em fevereiro dos motoristas e cobradores de ônibus do sistema; as isenções (como de idosos e estudantes), que representam apenas R$ 0,80 na tarifa de R$ 4,25, entre outras justificativas. Panfletagem junto à população A Plenária Popular definiu uma agenda de lutas, que inclui panfletagem junto à população e um ato contra o reajuste, que será realizado na terça-feira, 26 de fevereiro, a partir das 17h30, na Praça Rui Barbosa. O movimento também articula realização de audiência pública na Câmara Municipal e a solicitação de uma audiência com o prefeito Greca.
Universitários são agredidos pela PM Na noite do dia 18, estudantes em confraternização de retorno às aulas, no campus da UFPR, em Palotina, região Oeste do Paraná, denunciam agressão, abordagem truculenta e quebra de celulares por parte da Polícia Militar na região. Em vídeo realizado por testemunhas do fato, atesta-se que houve ataque contra os estudantes com o uso de spray pimenta, quebra de celulares e marcas de agressões nos corpos. Além disso. A PM realizou revista em uma mulher, que também passou por xingamentos e hostilidade. Até o fechamento dessa edição, a redação não recebeu o posicionamento oficial da PM sobre o fato.
Pela criminalização da homofobia Organizações em defesa da luta LGBTI organizam vigília, nos dias 20 e 21 de fevereiro, na Boca Maldita, centro de Curitiba, como forma de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para que reconheça a necessidade de criminalização de crimes de homofobia e transfobia – uma vez que o Congresso Nacional até o momento vinha travando o tema.
de Fato PR 4Brasil Cidades
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Sem verbas públicas pesquisas sobre agrotóxicos seriam interrompidas Pesquisadores da UFPR falam da importância dos investimentos para evitar fim de estudos Ana Carolina Caldas
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ocê já imaginou ter em casa um reagente para descobrir se um alimento que você vai consumir contém agrotóxico? Pois esta é uma das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na Universidade Federal do Paraná (UFPR). No Brasil, 80% das pesquisas em ciência e tecnologia estão ligadas a programas de universidades públicas. Porém, com o corte de recursos federais que acontece desde 2017, esta e outras pesquisas estão em risco. De 2010 a 2018 o orçamento para Ciência e Tecnologia passou de 10 bilhões para 1,4 bilhão. Coordenadora de estudos voltados para diminuir o uso de agrotóxicos, a professora Elisa Orth, do curso de Química, da UFPR, diz que “as pes-
quisas envolvem recursos públicos para alunos de iniciação científica à pós-graduação com bolsas para que possam se dedicar. Sem este tempo, sem autonomia dos pesquisadores, as descobertas não seriam possíveis.” Para ela, os cortes que vêm acontecendo trazem um quadro preocupante. “A atual realidade nos assusta muito. Estamos tentando nos preparar, mas podem destruir a ciência brasileira.” Para Elisa, sua missão é contribuir com a vida do brasileiro. Uma de suas linhas atuais de estudo é voltada para estoques de agrotóxicos. “Por exemplo, anualmente agrotóxicos vêm sendo proibidos. E o que foi comprado e está em barris? Tem que destruir aquilo. Nós queremos ajudar com reagentes para que aquele barril que é tóxico possa ser neutralizado”, explica.
SÓ UNIVERSIDADES PÚBLICAS FAZEM PESQUISA Segundo pesquisa divulgada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), produzida pela Clarivate Analytics – ligada à multinacional Thomson Reuters, praticaPUBLICIDADE
mente só há produção de pesquisa científica em universidades públicas e, nas empresas, apenas Petrobras e indústrias farmacêuticas realizam investimento relevante nessa área.
Sensores detectam contaminações em alimentos O professor Ivo Hummelgen, do curso de Física da UFPR, realiza e coordena pesquisas com sensores eletrônicos que podem ser utilizados para detectar agrotó-
xicos nos alimentos. “Fizemos trabalhos em parceria com o setor de Patologia Básica da UFPR, em que começamos a trabalhar com morangos e descobrimos
que através de um arranjo de sensores e uma análise da resposta deles é muito fácil de descobrir se um morango está contaminado com o fungo específico ou não. O mesmo se um morango é orgânico ou tem agrotóxico”, explica. Essa linha de pesquisa vem sendo desenvolvida há cinco anos, com financiamento público voltado para alunos, infraestrutura e parcerias com Universidades da África do Sul.
Ana Carolina Caldas
Incentivos no governo Lula A professora Elisa Orth recebeu, em 2015, o Prêmio L’Oréal para mulheres em Ciência, que faz parceria com a Academia Brasileira de Ciência e a Unesco. São escolhidos oito cientistas destaques no Brasil. “Fui uma das escolhidas e atribuo este e outros prêmios que recebi a todo o investimento público que tive durante o governo Lula”, destaca Elisa.
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“Tínhamos aumentos dos valores das bolsas, peguei essa época em que tudo deslanchou, pude viajar para outros laboratórios para
poder terminar parte da minha pesquisa. Não tenho dúvida que sem esses investimentos não teria sido premiada internacionalmente.”
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Reforma de Bolsonaro piora aposentadoria de trabalhadores Empregados e pobres seriam os mais afetados. Militares escapam da emenda enviada ao Congresso Frédi Vasconcelos
O
presidente Jair Bolsonaro (PSL) entregou ao Congresso Nacional, na quarta-feira (20), proposta de reforma da Previdência que piora a aposentadoria de todos que já estão trabalhando e penaliza também os trabalhadores rurais e mais pobres. Os únicos que escaparam foram os militares, que, segundo, o governo, terão regras específicas discutidas mais tarde. Como proposta geral, acaba a aposentadoria por tempo de serviço e os trabalhadores só poderão se aposentar com 62 anos (mulheres) e 65 anos (homens), desde que tenham contribuído por pelo menos 20 anos. Assim, se aposentariam com 60% da remuneração. Para atingir 100%, te-
riam de contribuir por 40 anos (leia sobre principais mudanças ao lado). Outros afetados são os trabalhadores rurais e os mais pobres. Bolsonaro está propondo elevar a idade de aposentadoria do benefício de prestação continuada (BPC) de 65 para 70 anos e exigir que trabalhadores rurais façam uma contribuição anual mínima de R$600. Os servidores públicos também passariam a contribuir com alíquotas maiores. Para quem recebe mais que o teto do INSS, o percentual variaria de 11,68% a 16,79% da remuneração. A proposta prevê ainda três possibilidades de regra de transição para quem já está no sistema previdenciário, todas com prejuízo para os trabalhadores.
ENTENDA ALGUNS PONTOS DA PROPOSTA DE BOLSONARO PARA A APOSENTADORIA
Trabalhadores de empresas privadas
Acaba a aposentadoria por tempo de contribuição. Idade mínima passaria para 62 anos (mulher), 65 anos (homem), com Transição no mínimo 20 anos de contribuição. Para As idades mínimas de receber 100% do valor 62 anos (mulher) e de contribuição teria de 65 (homem) com 20 trabalhar por 40 anos. A anos de contribuição partir de 2024, haveria passarão a valer após gatilho aumentando essa um período de transição idade mínima de acordo de até 14 anos. Regras com a expectativa de de aposentadoria e vida da população. pensão permanecem as mesmas para os que Aposentadoria já recebem o benefício rural ou já cumpriram os requisitos. Nesse Passaria a ter idade período existirão três mínima de 60 anos opções para a transição para homem e mulher. de quem já está no Passaria a ter contribuição sistema. Todas com anual mínima de R$ perdas de direitos para 600. Contribuição os trabalhadores. mínima de 20 anos.
Trabalhadores rejeitam reforma de Bolsonaro
Sindicato dos Bancários | SP
Redação, com informações da CUT Trabalhadores protestaram dia 20 (quarta) contra o fim de suas aposentadorias em todo o País. Em São Paulo, onde foi realizada a Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora, rejeitaram as mudanças nas regras e prometeram lutar. “Não existe reforma, o que Bolsonaro apresentou hoje é o fim da Previdência, fim da Seguridade Social no País”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas. Durante a assembleia foi elaborado calendário de lutas que prevê mobilização nos locais de trabalho e nos bairros em todo o país. “Na convocação de grandes atos unitários, destacamos o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e o 1º de Maio, Dia do Trabalhador”, diz trecho do documento aprovado pelos trabalhadores na Assembleia Nacional.
Servidores públicos (RPPS) Só existirá aposentadoria por idade com mesmas regras do setor privado. Tempo de contribuição: 25 anos, sendo 10 de tempo no serviço público e 5 no cargo. Cálculos dos benefícios seguiria mesma regra do regime geral.
Professores do setor privado Idade mínima: 60 anos para todos Tempo de contribuição: 30 anos
Professores do setor público Idade mínima: 60 anos para todos Tempo de contribuição mínima: 30 anos para todos, sendo 10 de tempo no serviço público e 5 no cargo
ORGANIZAÇÃO
Curitiba terá Plenária contra reforma da Previdência no sábado As mobilizações contra a reforma da Previdência começam de maneira unificada entre dezenas de centrais, sindicatos, entidades e movimentos sociais, com uma plenária no próximo sábado, dia 23, às 9h30, no Sintracon, Rua Trajano Reis, 538, Curitiba. Participam da plenária entidades como Cefuria, Frente Feminista, Frente Única de Cultura do Paraná, Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, Sindseab, Sinditest, Intersindical, CSP Conlutas, Mandato profa. Josete, PLP, UNA LGBT/PR, PT, PSOL, PCdoB, PCB, MST, MPM, Unidade Classista, CUT/PR, entre outras.
Brasil de Fato PR 6 Brasil
Para o trabalhador, o atual governo não é a melhor coisa Frédi Vasconcelos
R
ogério “Chacal”, da Representação Sindical Interna da Volvo, fala do momento atual vivido pelos trabalhadores na fábrica em que trabalha e dos desafios para manter direitos. Brasil de Fato | Falando da organização interna dos trabalhadores na Volvo, como está hoje, e qual o impacto da recessão econômica na indústria de caminhões? Rogério “Chacal” | Organizar os trabalhadores numa fábrica não é missão fácil, porque estamos numa parte do país em que boa parte preferiu o governo que está aí. Apesar das lutas do próprio sindicato de tentar mostrar que seria uma aventura de alto risco para os trabalhadores, boa parte apoia. E agora a gente percebe que algumas pessoas começaram a se dar conta de que pro trabalhador não é a melhor coisa. Até por causa das reformas, a famosa carteira “verde-amarela”, que dá opção de emprego, mas não resguarda os direitos. O pessoal começou a perceber as muitas trapalhadas deste começo de governo.
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tanto fundamento porque hoje é uma empresa líder de mercado. Eles quiseram se aproveitar do momento e implantar medidas que são o contrário de tudo que a gente imagina que seja bom pro trabalhador. É redução do piso salarial, terceirização, alguns itens que estão na nova legislação trabalhista e que conseguiram impor. No nosso caso, os direitos foram mantidos, mas tivemos três anos de queda por causa da economia. Chegamos a produzir, em 2014, 80 veículos da linha pesada por dia. Em três anos caiu para 30. Tivemos muitas demissões e discussões com a empresa para tentar minimizar os impactos sociais. A partir de 2016 o mercado começou a retomar, hoje estamos fazendo 74 caminhões dessa linha. E tivemos 300 contratações agora em janeiro. À época da crise, foram demitidas 800, 900 pessoas. Os trabalhadores da Volvo entenderam essa reforma traba-
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lhista e a da Previdência? Sim, sobre a trabalhista já estão começando a ter uma noção mais forte porque já está repercutindo, como falamos, no caso da GM. A da previdência ainda não, porque vai ser apresentada agora. E a gente ainda não sabe as regras de transição. Está todo mundo com medo, mas ainda não entendendo o que pode significar. Um pouco mais adiante a gente vai conseguir ter uma ideia mais clara. A Volvo é umas das únicas montadoras que implantaram as 40 horas semanais de trabalho. Qual a importância disso. Temos isso desde 1996, fomos uma das primeiras empresas no Paraná a fazer esse acordo. Permanecem até hoje as 40 horas, e isso traz um benefício grande para o trabalhador porque permite que ele tenha um tempo maior para dedicar a sua família, ao lazer. Isso traz bastante benefícios para o trabalhador. Frédi Vasconcelos
A crise econômica dos últimos anos impactou vocês? As ameaças da GM de fechar fábricas se não reduzisse direitos também teve reflexos? A gente acompanhou esse drama aí da GM e acho que não teria
MP-PR indicia estudante que fez vídeo incitando violência contra negros
Ana Carolina Caldas Nesta semana, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) apresentou denúncia criminal contra o estudante de direito, Pedro Bellintani Baleotti, qualificando sua atividade como crime. No segundo turno das eleições de 2018, o paranaense de Londrina divulgou um vídeo, vestindo uma camiseta com a foto de Bolsonaro, em que dizia que era ho-
ra de “matar a negraiada”, além de dizer que com o resultado das eleições estaria “armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”. De acordo com a denúncia do MP-PR, o jovem praticou crime de racismo, “desejando a morte das pessoas negras” e contribuindo “para incitar a discriminação contra os negros […], proferindo palavras
impróprias e pejorativas”. Ele responderá pela prática do crime de racismo qualificado, que prevê pena maior (reclusão de dois a cinco anos e multa), de acordo com o parágrafo 2º do artigo 20 da Lei do Racismo (Lei Federal nº 7716/89), na medida em que “a discriminação e o preconceito de raça e de cor” foram praticados por intermédio de meios de comunicação social, provocando grande repercussão social.
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LUZES DA CIDADE Bárbara Lia
Os heróis ouvem (e tocam) jazz
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Para viver de arte tem que gostar do afeto e do coletivo A atriz Ana Rosa Tezza é dona do espaço cultural Ave Lola e diz que o teatro gera emprego e, principalmente, autoestima Ana Carolina Caldas Há oito anos, a atriz e diretora Ana Rosa Tezza é proprietária do espaço cultural Ave Lola, situado no centro de Curitiba, próximo à Universidade Federal do Paraná. Ana, que tem mais de 30 anos atuando nas artes cênicas, acredita que para viver de arte é preciso gostar do afeto e do coletivo. Por isso, conta com uma equipe que chama de “trupe”, responsável por concretizar os projetos do Ave Lola. Em entrevista para o Brasil de Fato, a atriz e diretora conta que para se tornar dona de um teatro, trilhou um longo caminho de aprendi-
zado. “Trabalho com arte desde os 18 anos. Para chegar neste lugar, de ter um teatro, foi um aprendizado longo, pois minha família não é das artes, sou filha de médica e advogado. Foi algo que fui descobrindo sozinha, encontrei pessoas que me trouxeram até aqui.” Sobre viver de arte no Brasil, Ana diz que o teatro por si não gera lucro, mas gera trabalho. “O que fazemos é Teatro Experimental, que requer pesquisas, um público menor a cada exibição e, portanto, não estamos inseridos na indústria de massas. Não acho que o teatro por si só seja lucrativo. Mas ele gera emprego sim e, principalmente, autoestima.”
AGENDA CULTURAL
Peça conta a saga de três mulheres que se encontram na Amazônia O quê: O espetáculo “A Pequena Abelha e a Árvore Alta”, da Trupe Ave Lola, conta história de três mulheres de povos distintos trazidas pelo destino. Elas são desafiadas a enfrentar medos e ameaças de uma dura realidade. Tudo acontece ambientado na época do ciclo da borracha, na Manaus de 1911. A peça baseia-se no conto “Pequena-abelha, a Irmã de Árvore-alta”, da escritora acreana Jamilssa Melo e na obra do renomado cineasta Hayao Miyazaki. Classificação indicativa: 14 anos Quando: Até 24 de março, às quintas, sextas e sábados às 20h | Domingo às 19h Onde: Ave Lola Espaço de Criação – Rua Marechal Deodoro, 1227 Quanto: Pague o quanto vale
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Brumadinho. Perda de tantas vidas. Aniquilação da natureza. Em meio à dor uma luz humana nada na lama, desce dos helicópteros, caminha entre escombros. Talvez a única beleza deste início Joka Madruga de 2019: os bombeiros. Isto traz à tona uma memória. O nome dele era Léo Castanho, um tenente do Corpo de Bombeiros que nos socorreu na noite de núpcias quando nosso carro colidiu com um caminhão. Ele não estava em serviço naquela noite, viajava com a família. Fez aquilo por puro amor. Ele esperou que o médico nos examinasse na cidade mais próxima e, às três da madrugada, nos deixou em Curitiba, sãos e salvos. Nunca mais o vi e nem à sua família. Anos a fio o pai dos meus fi lhos dava notícias do Léo. A última notícia foi da sua morte. Agora, ao procurar por ele, leio em uma coluna de Aramis Millarch: “Em sua juventude, Léo Castanho era um dos melhores pistonistas da cidade, apaixonado por jazz”. Hoje vou ouvir jazz em homenagem ao bombeiro-mor e pedir ao universo: proteja todos os bombeiros do mundo, amém.
DICAS MASTIGADAS
Crepioca Ingredientes Massa 1 ovo 1 copo cheio de Goma de tapioca Sal a gosto 3 colheres de queijo ralado
Reprodução
Recheio 1 copo de cenoura ralada ½ copo de pedacinhos de queijos Folhas (alface, rúcula, agrião) Orégano, coentro picado, cebola 1 colher de requeijão cremoso 1 tomate Sal a gosto 1 colher de azeite Modo de Preparo Em uma vasilha misture o ovo com gema e clara com a goma de tapioca e o sal e bata bem com um garfo até ficar lisa e homogênea. Em outra vasilha misture todos os ingredientes do recheio. Despeje a massa numa frigideira com um pouco de azeite, uma camada bem fina. Salpique o queijo sobre a massa e fique de olho pra não queimar no fundo. Retire a massa do fogo e acrescente o recheio e dobre a massa sobre o recheio. Dica: o recheio pode ser substituído pelos ingredientes que quiser, ou pelos que tiver na sua geladeira. Pode ser doce ou salgado.
Brasil de Fato PR 8 Esportes
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Decisão na metade do caminho Coritiba e Toledo duelam no domingo no Couto Pereira por turno e vaga na final do Paranaense Gabriel Carriconde
C
hega ao fim a primeira metade do Campeonato Paranaense com duas equipes em momentos diferentes disputando o caneco da Taça Barcímio Sicupira Jr, nome do primeiro turno da competição. Coritiba e Toledo se enfrentam no domingo, 24, no Couto Pereira. A equipe coxa-branca chega à decisão num momento conturbado dentro e fora dos gramados, após a
eliminação precoce na Copa do Brasil para a equipe do URT, de Minas Gerais. A derrota custou o cargo do técnico Argel Fucks e aprofundou a turbulência política no clube. Já o Toledo espera surpreender a equipe da capital e repetir o feito do Operário, em 2015, quando a equipe alvinegra saiu campeã do Couto Pereira e ergueu o Campeonato Paranaense pela primeira vez em sua história. Esta é a primeira decisão de um campeonato na história do Toledo. Divulgação
Coritiba: vencer para respirar
Toledo: vencer para fazer história
Nada como uma vitória para diminuir a tensão no futebol. Esse pode ser o caso do Coritiba se ganhar o primeiro turno do campeonato. O alviverde está em meio a uma turbulência que teima em não passar, desde a sua queda para a série B. A permanência na divisão de acesso da elite do futebol nacional aumentou a crise de nervos no clube com sucessivos erros da gestão de Samir Namur. O presidente contava com uma classificação na Copa do Brasil para aliviar os cofres combalidos com uma queda de mais 50 milhões de reais em receitas anuais. A eliminação precoce para os mineiros do URT fez a crise se instaurar mais uma vez no Alto da Glória. Numa semana decisiva, o clube ainda não anunciou um novo técnico e deve contar com o auxiliar Matheus Costa dirigindo a equipe para a decisão no domingo.
Se o Coritiba vive um momento de tensão, o Toledo é só euforia. A equipe, que teve a melhor campanha entre os times de fora da capital disputa sua primeira decisão de campeonato em 15 anos de história. Após eliminar o favorito Operário nas semifinais, o time do técnico Agenor Picinnin chega como franco atirador no Couto Pereira, e deverá tirar proveito da tensão e da obrigação de vencer por parte do adversário alviverde. O elenco do Porco vem trabalhando forte durante a semana e deverá ter alterações para a partida decisiva. O atacante Wainy ainda é dúvida graças a um edema na coxa e será reavaliado na sexta-feira. Já o lateral-direito Everton e o zagueiro Fandinho devem voltar para equipe titular, após cumprirem suspensão.
Tudo outra vez
O nome dele é polêmica!
Estamos prontos?
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Por Roger Pereira
O Coritiba poderá, no domingo (24/2), conquistar a Taça Barcímio Sicupira – nome de um dos cinco maiores jogadores da história do futebol paranaense. Para tanto, bastará vencer no tempo regulamentar ou nos pênaltis o Toledo, clube para o qual outro resultado seria façanha inimaginável. A vitória alviverde, contudo, não aliviará a angústia de seu torcedor, que vê desperdiçados três dos cinco meses de preparação para a Série B, ainda sem um time para chamar de seu. Tal qual na temporada anterior, o ainda desconhecido treinador com a missão do acesso à primeira divisão chegará ao clube com curtíssimo tempo para conhecer um elenco de cuja formação não participou e escolher as peças que se enquadrem ao esquema tático que pretenda utilizar. A qualidade é baixa: o Coxa derrotou apenas dois dos oito adversários medíocres que enfrentou neste ano.
Estava tudo caminhando para um desfecho positivo. Quarenta e seis minutos do segundo tempo, o Paraná na frente do placar desde o primeiro tempo. Mas eis que um jogador do Londrina bate uma falta com perfeição e leva a decisão para os pênaltis. Mesmo com o adversário desperdiçando duas cobranças, o Paraná acabou eliminado. Não bastasse esse cenário, em entrevista para uma rádio o atacante Jenison, autor do gol no tempo normal e que converteu um dos pênaltis, rasgou o verbo. Criticou os mais novos e disse que continuará fazendo seus gols independente do resultado, que o Paraná é um “trampolim” para a sua carreira. Jenison, como todos, estava de cabeça quente e acabou falando demais. Se continuar com a mesma efetividade certamente será perdoado pelo torcedor. Mas e quando ao restante do elenco? Dado Cavalcanti será capaz de impedir que o ambiente seja contaminado?
O time principal do Athletico Paranaense realizou, na última quarta-feira, diante do Guarani do Paraguai, apenas a sua segunda partida no ano. Se a estratégia de poupar os principais jogadores no estadual mostrou-se eficaz no ano passado, com a conquista do Paranaense e o time “voando” na reta final da temporada, o pouco ritmo de jogo preocupa nas primeiras partidas. Ao contrário da temporada passada, o calendário de 2019 não permite tempo para que a equipe adquira ritmo durante as competições. A estreia em partidas oficiais será na competição mais importante do ano, a Libertadores. Competição bem mais curta que o Brasileirão, em que um tropeço pode ser fatal. Será que, com apenas essa rotina de amistosos, o elenco do Furacão, que sofreu várias alterações em relação ao time campeão da Sul-Americana, estará pronto para a estreia na Liberta?