Brasil de Fato PR - Edição 115

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Divulgação

Esporte | p. 8

Brasil | p. 4

Quem mandou matar Marielle?

Ex-presidente da FPF tem prisão decretada

Um ano depois, falta responder essa questão

Divulgação

Futebol e polícia

PARANÁ

Ano 4

Edição 115

14 a 20 de março de 2019

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana

MULHERES TOMAM AS RUAS E protestam no 8 de março contra a reforma da previdência e por direitos

Brasil | p. 4 Fotos: Giorgia Prates

Brasil | p. 5

Brasil | p. 6 5

Brasil | p. 6

Assassinatos em Suzano

Universidade pública

Entrevista Manuela D´Ávila

Liberação de armas aumenta risco

Faltam recursos para estudantes

O espaço da mulher na política


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 14 a 20 de março de 2019

Marielle vive, Lula Livre!

Sociedade doente

EDITORIAL

OPINIÃO

E

minha com as mãos”. Livre para acreditar que sua crenservidor técnico da UFPR, ça ou religião pode se sobrediretor da Central Única por às outras. dos Trabalhadores (CUT) e integrante do Conselho do Há uma grande parceBrasil de Fato Paraná la da classe média brasileira que sempre almejou importé pouco tempo, quan- tar para terras tupiniquins do ouvíamos uma notí- o estilo de vida americano. cia sobre chacinas em esco- Fomos copiando tudo o que las, estudantes ou ex-alunos há de pior por lá. As fakeque entravam armados em news, mentiras, manipulaestabelecimentos de ensino ções, o lobby organizado por atirando a esmo, matavam e grandes corporações e, claferiam vários, essas notícias ro, a descrença no Estado. vinham de terras distantes, Fizemos isso em ações de ao norte do continente, nos uma parcela partidária do judiciário que EUA. se inspirou As tragéFomos nos EUA para dias em escocopiando tudo vazar esculas americatas ilegais, fanas sempre o que há de zer conduções foram mais pior por lá. coercitivas à um sintoma As fakenews, margem da de uma socielei e, até mesdade doente. mentiras, mo, condenar A crença abmanipulações e prender um soluta na liestadista sem berdade indisequer consevidual como alicerce de uma sociedade guir lhe imputar um crime gerou problemas protegi- que seja. Choca a notícia da “trados pelo discurso ultraliberal. E não estou falando aqui gédia” em uma escola na reapenas do acesso de adoles- gião metropolitana de São centes a armas de fogo, car- Paulo. Infelizmente, notíros e outras tecnologias. Fo- cias como essa, antes restrimos nos aproximando cada tas ao noticiário internaciovez mais de um pensamen- nal, parecem se tornar cada to que, supostamente, esti- vez mais frequentes. Portanmula o indivíduo a ser “li- to, para além das vidas ceivre”: livre para ofender, para fadas nesta manhã em Sudestilar seu ódio, para mar- zano, precisamos colocar a car posição e expor seus mão na consciência e percepreconceitos. Livre para ber qual o tipo de sociedade ensinar crianças a fazer “ar- estamos construindo.

Barra da Tijuca. Antes da prisão, Bolsonaste dia 14 é uma data de luto e luta. ro cuidou de atacar jornalista filha de repórCompleta-se um ano do assassinato da ter investigativo do RJ, numa clara tentativereadora carioca Marielle Franco e do mova de desmoralização. Durante anos, Flávio torista Anderson Gomes. As investigações Bolsonaro defendeu a leganesta semana resultaram lização das milícias e mesna prisão de duas pessoas, mo o pai foi contrário à insuma delas, o ex-PM Ronnie Enquanto isso, talação de CPI. Tudo deve Lessa, é ligado às milícias o ex-presidente ser investigado até o final! no Rio de Janeiro. Lula segue na Enquanto isso, o exHá fortes sinais da res-presidente Lula segue na ponsabilidade dos dois prisão devido a um prisão devido a um aparpresos no crime. Porém, apartamento que tamento que nunca usou e ainda segue a questão: nunca usou e não não está em seu nome. Ou quem mandou matar Maseja, a Justiça no país está rielle Franco? Há sinais griestá em seu nome cada vez mais seletiva e potantes de proximidade dos litizada. presos com o clã dos BolsoAos trabalhadores, cabe naro. Coincidências? Lessa se organizar para reagir contra um governo mora no mesmo condomínio do presidente desastroso. Marielle Vive! Lula Livre! da República, num condomínio de luxo na

SEMANA

Daniel Mittelbach,

A

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 115 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Porém.net ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Brasil de Fato| PR Geral 3

Paraná, 14 a 20 de março de 2019

FRASE DA SEMANA

Crianças precisam da sua ajuda Divulgação

As crianças estão pedindo a sua ajuda. Não é bem elas, mas a Ciranda, que é uma organização não-governamental (ONG) fundada em 1998, em Curitiba, com o objetivo de produzir um trabalho mais sistemático de cobertura e análise do que a imprensa paranaense publica sobre infância e adolescência. A ideia é realizar um almoço no dia 13 de abril, no Restaurante Dom Antonio, a partir das 11h para arrecadar fundos e reativar os trabalhos. Desde 2012, a instituição passa por dificuldades financeiras gravíssimas, que foram aguçadas no fim de 2014 e que obrigaram a instituição a paralisar as atividades. No encontro #CriançaDeNovo serão realizadas algumas atividades culturais (como show de mágica confirmado) e também uma banda (Tributo à Legião Urbana). Além disso, haverá contação de histórias e teatro. O almoço pelas crianças custa R$ 50. Menores de cinco anos não pagam e entre 6 e 12 pagam R$ 25. Mais informações, mande Whatsapp para (41) 9700-7652.

Quem mandou matar Marielle e qual a motivação desse crime?

Tarifa na Justiça O deputado estadual Goura e a vereadora Josete entraram esta semana com recurso contra a decisão da Justiça que autorizou o aumento de ônibus para R$ 4,50 em Curitiba, uma das tarifas mais altas do país.

Questiona Monica Benício, companheira de vereadora assassinada, em entrevista ao Brasil de Fato. Lembrando que demorou um ano da execução para a prisão de suspeitos de ter atirado.

Prefeito ataca

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Em comparativo, barragens no Paraná concentram volume de água maior que Brumadinho Pedro Carrano Aconteceu no dia 12 a audiência pública “Atingidos por Barragens”, proposta pelo deputado estadual Tadeu Veneri (PT), ao lado de outros oito deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), contando com a presença de representante do secretário de estado de Meio Ambiente. A audiência apontou o problema das famílias atingidas e sem condições de reparação até o momento. Estavam pre-

sentes lideranças da região sudoeste e centro do estado, atingidos por nove barragens ao longo da bacia do Iguaçu e baixo Iguaçu. Já na região do Vale do Ribeira, existe além de hidrelétricas a ocorrência de três barragens de mineração, explica Robson Formica, dirigente do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Em nove reservatórios ao longo do leito do rio há um volume de água superior a casos vistos em que barragens romperam. A Usina HidreléPedro Carrano

trica Santa Clara apresenta, por exemplo, 545 milhões de metros cúbicos, ao passo que, como comparativo, 12 milhões de metros cúbicos de dejetos eram armazenados em Brumadinho (MG). Preocupação “Os reservatórios são seguros, mas o que preocupa é a administração”, diz Sergio Vieira da Fonseca, coordenador dos eletricitários do sul do Brasil - Intersul, que critica a lucratividade de empresas como Copel e ENG, sem a devida contrapartida social. Maristela da Costa Leite, da direção nacional do MAB, questiona se a barragem do Baixo Iguaçu apresenta um plano de construção, o que aumenta o potencial de risco. “A Vale, a ENG se autofiscalizam e a população não tem acesso a essas discussões”. Ela reivindica uma política estadual de monitoramento e fiscalização das UHs no estado. Uma vez que o povo não tem acesso a essas informações.

Na quarta-feira (13), na Assembleia Legislativa, o deputado Goura rebateu os ataques do prefeito de Curitiba, Rafael Greca, que atribuiu indevidamente ao parlamentar o uso político da tarifa do transporte e prejuízos ao FUC (Fundo de Urbanização de Curitiba).

Goura responde

“O prefeito não pode falar em uso político da tarifa e de demagogia. Muito menos insinuar que aqueles que lhe fazem oposição sejam cretinos. Quem não é capaz de discutir publicamente questões públicas é o prefeito Greca, que tem prática em ser autoritário e antidemocrático”, disse.

Ação civil pública Na mesma resposta, Goura disse que a ação que pediu a suspensão do aumento da passagem se baseou na Ação Civil Pública do Ministério Público proposta em agosto de 2018. “Queremos a suspensão de qualquer aumento até que seja julgada a Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público por conta da apuração feita na Operação Riquixá. O MP aponta que existem fortes indícios de corrupção, fraude, de imoralidade administrativa e de prejuízo ao erário público”, afirmou.


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Paraná, 14 a 20 de março de 2019

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Milhares de mulheres nas ruas no 8 de Março por direitos Em Curitiba, mais de 7 mil participaram de manifestação, que reuniu trabalhadoras da cidade e rurais, indígenas, pessoas de ocupações das periferias, do movimento trans, entre outras Fotos: Giorgia Prates

Redação

E

m dezenas de cidades do Paraná aconteceram manifestações no 8 de março relatadas ao Brasil de Fato por colaboradores de diversas regiões, com milhares de mulheres lutando por direitos sociais, contra a reforma da previdência e o atual governo, pela causa indígena, por reforma agrária, pelos direitos de todos os gêneros e por justiça em relação ao assassinato da vereadora Marielle Franco. Em Curitiba, mais de 7 mil mulheres participaram de atividades, que aconteceram desde o começo da tarde e se encerraram perto das 20h, mesmo com a chuva que caiu na capital. Para Juliana Mittelbach, da Frente Feminista, uma das organizadoras, a manifes-

tação superou as expectativas. “A gente sai daqui com a avaliação de ter trazido de 7 mil a 10 mil mulheres para as ruas. Isso mostra como as pautas feministas, nossos debates, estão chegando à sociedade.” Por todo o estado Dezenas de cidades do Paraná tiveram manifestações

em todas as regiões do Estado. Entre elas, Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Francisco Beltrão, Guarapuava, Quedas do Iguaçu e Catanduvas. Em Florestópolis, Porecatu e Centenário do Sul ocorreram audiências públicas propostas pelas sem terra, dentro da jornada nacional que estão fazendo.

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Suspeitos de matar Marielle são presos Para viúva, ainda não responderam o mais importante: quem mandou matar Marielle? Redação

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policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos, foram detidos por uma força tarefa da Operação Buraco do Lume, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro e por promotores do Ministério Público. A investigação do Ministério Público e da Polícia Civil aponta que os policiais são respon-

sáveis pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, há cerca de um ano. Mas há diversos pontos ainda a ser esclarecidos, como questiona a companheira de Marielle, Monica Benício, em entrevista ao Brasil de Fato. “Não podemos esquecer que a resposta mais importante ainda não nos foi dada: Quem mandou matar Marielle e qual a motivação desse crime? Mais importante do que termos ra-

tos mercenários serem responsabilizados pelo que fizeram, é a questão urgente e necessária, que é saber quem foi que mandou matar Marielle”, questiona. Policial mora no mesmo condomínio de Bolsonaro Ronnie, um dos acusados pelo assassinato, mora no mesmo condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem uma casa, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.


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Paraná, 14 a 20 de março de 2019

Acesso a armas aumenta possibilidade de tragédias como a de escola em Suzano Dez pessoas morrem após atentado de dois jovens a escola em que haviam estudado não há ideia da motivação do crime.

Redação

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té o fechamento desta edição, dez pessoas haviam morrido após atentado de dois jovens a escola em Suzano, cidade na Região Metropolitana de São Paulo. Foram assassinados cinco estudantes, duas funcionárias da escola e um dono de locadora de veículos. E há informações de que os dois jovens responsáveis pelo atentado se suicidaram. Ainda há cerca de dez feridos. Segundo informações da polícia, Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25, haviam estudado na Escola Esta-

dual Raul Brasil e, na manhã da quarta-feira, 13, antes de irem à escola, entraram numa locadora de veículos,

mataram uma pessoa e roubaram um carro e seguiram para o local onde assassinaram as outras pessoas. Ainda

Armas aumentam tragédias A maior possibilidade de obtenção de armas de fogo promovida pelo governo Jair Bolsonaro vai na contramão das medidas necessárias para que tragédias não se repitam. Essa é a opinião de especialistas em segurança pública ouvidos pelo Brasil de Fato. Para Ivan Marques, do Instituto Sou da Paz, a medida do governo Bolsonaro é negativa. “O decreto da primeira semana de governo aponta para a situação contrária, aumenta para o incremento do fluxo de ar-

mas. Qualquer medida que aumento o fluxo de armas vai gerar esse tipo de consequência”, critica. Daniel Cerqueira, conselheiro do Fórum Nacional de Segurança Pública, concorda. E complementa, apontando que as sinalizações do governo estimulam atos violentos. Ele fala em um “kit desastre” – composto pelo decreto e pela proposta de ampliação da legítima defesa para policiais – que está levando a sociedade a um processo de “embrutecimento”. A combinação das medidas normativas com o clima político, em sua opinião, pode levar a um aumento de casos desse tipo.

Recursos para auxiliar estudantes em universidades são insuficientes Ana Carolina Caldas

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assistência estudantil nas universidades públicas não consegue mais atender à demanda que cresce a cada ano. São estudantes que entram na universidade, porém têm dificuldades para se manter. Segundo a pró-reitora de Assuntos Estudantis da Universidade Federal do Paraná (UFPR), professora Maria Rita Cesar, “com o orçamento anual muito semelhante de ano para ano, não conseguimos mais atender toda a demanda dos que preenchem o perfil de situação de vulnerabilidade.”

Auxílios como auxílio permanência, auxílio-refeição, auxílio moradia e auxílio “creche” são pagos a estudantes mediante um processo de avaliação socioeconômica, com recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) criado em 2010, no governo Lula. Segundo Maria Rita, “estes recursos conseguem atingir 15% dos estudantes de graduação presencial. Entretanto, há um número bastante elevado de alunos que não são atendidos pela limitação de recursos. A cada ano, a procura pelos auxílios aumenta exponencialmente.”

Arquivo Pessoal

Marcela Negri, 32 anos, estudante de Pedagogia desde 2016

REALIDADE

“Moro na Região Metropolitana, acordo às 6h da manhã para levar minha filha para escola e eu vou para meu estágio obrigatório. À tarde pego, dois ônibus para chegar até a UFPR. Volto para casa à meia noite. Aliar os estudos, maternidade e a parte financeira é o que mais pesa.”

“Acordo às 5 da manhã e vou para a faculdade, tomo café no restaurante universitário. Faço estágio à noite e à tarde vou atrás de bolsas de iniciação científica para ajudar na parte financeira e na minha formação. Minha família está toda desempregada e as maiores dificuldades estão no transporte e aquisição de material didático.”

Arquivo Pessoal

Juliana Ertes, 19 anos, estudante de Letras na UFPR desde 2017


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Giorgia Prates

Saídas para crise precisam incluir políticas que emancipem a mulher, diz Manuela Ana Carolina Caldas

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odas as vezes em que conquistou um mandato eletivo, Manuela D´ávila conseguiu um feito importante, foi a vereadora mais jovem eleita, aos 25 anos, deputada federal por dois mandatos e, mais recentemente, a deputada estadual mais votada em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Depois de ter concorrido a vice-presidente no ano passado, inicia 2019 sem mandato, e diz estar muito feliz com sua vida atual em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, concedida quando veio a Curitiba, na segunda-feira, 11, para lançar o livro “Revolução Laura”, que parte de anotações suas durante a campanha presidencial e reflexões sobre a maternidade e o espaço da política. Brasil de Fato. Você veio a Curitiba para lançar o livro “Revolução Laura”, que leva o nome da sua filha. Manuela D´Ávila. É um livro de amor. Ter vivenciado uma campanha, no caso eu como candidata a vice-presidente da República, junto com a minha filha, Laura, foi um processo de tomada de consciência de como é difícil as mulheres ocuparem um espaço público. Mas, também, como é possível adap-

tar e mudar esses espaços quando nos impomos. O livro parte de anotações minhas ao longo dessa trajetória, que tenta falar sobre uma experiência inédita de uma mulher com uma criança amamentada concorrendo a uma eleição presidencial. Depois de 14 anos na política parlamentar, você inicia 2019 sem mandato. Quais são seus planos? Estou muito feliz. Para mim, é a possibilidade de voltar a militar desde este lugar do movimento social que é a minha origem, tendo mais liberdade de tempo para conversar, ouvir e formular conjuntamente saídas para a crise tão grave que o Brasil vive. Para fazer tudo isso, criei um instituto junto com outras pessoas para trabalhar o tema das fakenews e as redes de ódio. E de que forma é possível conscientizar a população a respeito das fakenews? A gente precisa dar a dimensão adequada para esse tema, como algo que estrutura o que estamos vivendo, e não como algo periférico. Queremos que as pessoas compreendam o impacto das redes de ódio nas vidas das pessoas. E resgatar um valor que se perdeu, que é a empatia. A ideia de que

o outro tem direito ao mesmo que eu tenho. Quando a gente resgata a ideia de empatia também é mais fácil criar um projeto de desenvolvimento mais justo pata o Brasil. E a questão é: se a gente acha que conquistar para gente é o suficiente ou se a gente acha que é para todos. De que forma você acha que é possível reconquistar a base social, já que setores de esquerda já fizeram essa autocrítica? Precisamos reaprender a ouvir. Existe um lugar de fala e existe um lugar de escuta. Nós ao nos organizarmos coletivamente na resistência precisamos fazer essas duas coisas: a fala e a escuta. Isso tudo PUBLICIDADE

“Precisamos reaprender a ouvir. Existe um lugar de fala e existe um lugar de escuta”

no sentido de construir de forma clara um projeto de desenvolvimento para o país que dialogue com as angustias da população. Considerando que historicamente o feminismo tem várias fases, atualmente qual a luta primordial das e para as mulheres? Eu acho que o principal eixo do feminismo na atual conjuntura é o proje-

to de enfrentamento à crise, porque não é casual que no mundo inteiro as mulheres sejam as mais mobilizadas. É porque as crises e a saídas de austeridade punem principalmente as mulheres. Numa sociedade machista, as mulheres é que utilizam os serviços do Estado de forma prioritária. Se a saída de austeridade propõe o congelamento do PIB por 20 PUBLICIDADE

anos, são as mulheres que terão trabalho mais precarizado com ausência de vagas em creches para os seus filhos. O estado é responsável por um conjunto de serviços que permitem que a mulher seja mais ou menos emancipada. Para mim, ao pensarmos nas saídas para crise precisamos pensar em políticas públicas que emancipem a mulher.


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Artistas de rua de Londrina lançam campanha para revitalizar espaço cultural

LUZES DA CIDADE Pedro Carrano

O corpo e o sonho

A meta é conseguir 35 mil reais até 24 de março para melhorar o espaço, a acessibilidade e a segurança Divulgação

O cenário do sonho dele é sempre igual, sonho atrás de sonho: os amigos de infância buscando algo, atravessando ruas e casas desertas que podiam até ser um cenário locado para gravações de um filme pósGiorgia Prates -apocalíptico. Já os sonhos dela são carregados de detalhes, podem ser à beira de rios ou na areia cor de pêra onde os pés se afundam. Dia desses, ela sonhara uma imagem de uma senhora moradora de rua, abaixo de uma ponte, cuja fome na verdade era aplacada pelas pombas. Naquele despertar de manhã, quando os olhos dos dois se tocaram, ainda lacrimosos e embaciados, logo veio a narrativa ansiosa: Ele teve um sonho à beira de uma praia que se estendia como se o mar fosse na verdade um filete de rio. Já ela havia revisitado a infância, como sempre acontecia nos sonhos dele. Na troca de impressões, o mais desnorteador não foi isso. Mas, à medida que os dois corpos se moviam na cama, por segundos perceberam que não haviam trocado somente os sonhos, mas que haviam trocado de corpos – e um estava no interior do corpo do outro.

DICAS MASTIGADAS

Redação Em mais de 2 anos de utilização do prédio situado na Avenida Duque de Caxias, o movimento de artistas de rua de Londrina (MARL) realizou muitas ações culturais, transformando um local que estava abandonado há anos em um espaço de referência para a cultura londrinense. No “Canto do MARL”, como ficou conhecido, são realizadas oficinas de teatro, dança, música, capoeira, ensaios e apresentações de grupos artísticos, estágios conveniados a grupos de pesquisas vinculados às universidades locais (UEL, UNOPAR), intercâmbios com artistas de outras localidades e o tradicional Feirão da Resistência e da Reforma Agrária. Um termo de permissão de uso foi concedido ao movimento, dando a possibilidade de continuidade do processo de revitalização.

Campanha A campanha intitulada “Canto do MARL – 2ª etapa” tem como objetivo as adequações do prédio para as exigências do Corpo de Bombeiros, ampliação, estruturação e acessibilidade de cinco banheiros ao público, ajuste das janelas do barracão, instalação de tablados e cortinas para ensaios e apresentações; reforço da estrutura de segurança, embelezamento da fachada, aquisição de equipamentos de som, além das despesas administrativas. A campanha de fi nanciamento coletivo funciona na internet e é possível doar de 10 reais a 6 mil reais. A meta é conseguir 35 mil reais até dia 24 de março.

Para ficar por dentro Para participar, acesse o site: https://benfeitoria. com/cantodomarl

Salada de grão-de-bico e abobrinha Ingredientes Ingredientes 2 1/2 xícaras (chá) de grão-debico cozido 1 cebola cortada em rodelas 1 abobrinha grande cozida cortada em cubos 20 tomates cereja cortados ao meio 1 pitada de sal 1 xícara (chá) de maionese 1 pé de alface pequeno

Divulgação

Como fazer Numa frigideira, doure a cebola numa colher de sopa de azeite. Em uma tigela grande misture o grão-de-bico, a abobrinha, os tomates, a cebola e tempere com o sal. Acrescente maionese e orégano e misture delicadamente até que fique homogêneo. Reserve. Forre uma saladeira ou prato grande com as folhas de alface. Cubra com a salada reservada e sirva em seguida ou mantenha em geladeira até o momento de servir. Dica para obter 2 xícaras e meia de grão-debico cozido, cozinhe 1 xícara (chá) de grãos crus com 4 xícaras (chá) de água e sal em panela de pressão por 40 minutos ou utilize grão-de-bico em lata.


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 14 a 20 de março de 2019

Futebol, caso de polícia Justiça manda prender ex-presidente da Federação Paranaense por estelionato e outros crimes a terceiros devido ao cargo Frédi Vasconcelos que ocupava, para facilitar o cometimento dos crimes, residente da Federaatuando em diversos setoção Paranaense de Fures da FPF”, afirma trecho tebol, FPF, por mais de duas do processo. décadas, Onaireves Moura Entre os teve expedido, crimes narnesta semaOnaireves é rados estão na, mandado apropriação de prisão por considerado dinheicrimes comecomandante de de ro de cessão tidos quanuma quadrilha de direitos de do dirigia a transmissão entidade. que desviou de partidas e A sentenrecursos da desvio de diça de prisão é Federação nheiro de arde 22 anos e recadação de 4 meses está Paranaenses cinco jogos do transitada de Futebol por Campeonato em julgado, muitos anos Brasileiro de não cabendo 2005, ocorrimais recurdos em Marinso. Na sentengá, no norte do estado. ça, Onaireves é considerado Junto com ele, foram concomandante de uma quadenadas mais nove pessoas. drilha que desviou recurMoura já tinha sido preso sos da FPF. “O réu utilizava em 2000 por apropriação ina estrutura da federação e o débita de recursos da preprestígio que possuía frente

Divulgação

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Onaireves, da FPF, teve prisão decretada. Ricardo Teixeira, exCBF, se sair do Brasil pode ser preso

vidência. Em 2006, foi detido pela segunda vez por ter um bingo e deixou de pagar obrigações previdenciárias. CPI do Futebol Iniciada em 2015, a CPI do Futebol do Senado encerrou seus trabalhos em 2016 de maneira inconclusiva. O texto oficial, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), não pediu nenhum indiciamento

sobre contratos e negociações da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e seus dirigentes. Já um segundo relatório, de autoria dos senadores Romário (PSB-RJ) – presidente da CPI – e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi apresentado como voto em separado e pedia o indiciamento de nove pessoas, entre elas os três últimos

presidentes da CBF: Marco Polo Del Nero, José Maria Marin e Ricardo Teixeira. Eles eram acusados de estelionato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entre outros crimes. Marin acabou sendo preso em processo nos Estados Unidos. Os outros se encontram refugiados no Brasil, sem poderem sair do país para não serem presos.

Popa e proa

O que vão fazer com a grana?

Vai ter festa na Baixada?

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Roger Pereira

Se não há barco que bem navegue com a extremidade de ré e a ponta do leme, também não há um bom time sem bom goleiro e centroavante matador. O Coritiba, que já tem em Wilson (contundido) um guarda-metas seguro e de qualidade técnica acima da média, carecia de um substituto à altura. No ataque, desde a saída conturbada de Kléber, o clube não tinha um defi nidor de jogadas clássico, com inteligência espacial para se posicionar na área e boa pontaria no arremate a gol. Desse modo, foi providencial a chegada de Alex Muralha – goleiro que chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira, mas que caiu em desgraça perante a torcida do Flamengo por algumas falhas típicas de más fases emocionais. Mais importante ainda foi a chegada de Rodrigão. Com cinco gols em cinco jogos, pode ser o centroavante de que tanto o alviverde precisa.

A frustração de receitas para 2019, da ordem de R$ 6 milhões, reacendeu um assunto na Vila Capanema. Trata-se da possibilidade de venda total ou parcial da sede social. A decisão chegou a ser dada como certa em 2015, quando os “paranistas do bem” assumiram o clube, mas ficou em segundo plano em meio a questões como o acordo judicial que equilibrou o pagamento das dívidas trabalhistas. A venda pode ser, sim, uma boa saída. Mas por si só não nos garante a estabilidade de que precisamos. Tão importante quanto o debate sobre vender ou não vender é a discussão sobre o que será feito com o dinheiro. Certamente um estádio com maior conforto dará mais atrativos para o clube do que as piscinas. No entanto, sócios e sócias precisam ter a segurança de que não estamos mais uma vez queimando patrimônio para garantir nada além de uma sobrevida financeira.

Nesta quinta (14) o Athletico faz seu primeiro jogo em casa na Libertadores. A partida diante do Jorge Wilstermann é, ainda, a primeira do elenco principal do atual campeão da Sul-Americana diante do seu torcedor em 2019. Tudo isso dá ao jogo um caráter especial, o que indicaria a possibilidade de casa cheia na Arena da Baixada. Mas, assumindo o risco de me equivocar, esta coluna não vislumbra um público superior a 30 mil pagantes na importante partida. E, mais uma vez, a política de preços atleticana será a responsável por isso. Em litígio com a torcida organizada, o clube elevou de R$ 150 para R$ 250 a mensalidade para os sócios do setor Buenos Aires, o local preferido dos Fanáticos. Para quem não é sócio (e novas associações não estavam sendo aceitas, na véspera do jogo, com uma fidelização de seis meses), o ingresso avulso custará nada menos que R$ 200. Assim fica difícil.


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