Mundo| p. 4
Paz com voz Entenda o processo de transição na Colômbia da guerra de guerrilhas para a disputa no parlamento
Giorgia Prates
O que seria de um jornal sem as pessoas que o distribuem, incentivam, divulgam? Sem o ânimo de jovens como o estudante Guilherme Nunes, 18, que faleceu no dia 18 deste mês. Desde muito cedo “Gui” já estava nas lutas sociais por um mundo melhor e assim será lembrado sempre. Toda a equipe do BDF PR fica com um vazio imenso.
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GUILHERME, PRESENTE!
PARANÁ
Ano 4
Edição 120
25 de abril a 1 de maio de 2019
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana Leandro Taques
APOSENTADO É GENTE, NÃO É NÚMERO Por que a gente tem de passar necessidade no final da vida? BRASIL | p. 5
Emerson Leal | STJ
Esportes | p. 8
Brasileirão desigual Campeonato começa no sábado
Geral | p. 3
Aumento da água Conta subiu 111% desde 2012
Paraná | p. 6
Salário congelado Servidores do estado cobram reajuste
CONDENAÇÃO DE LULA É “LOUCURA” Um dos maiores juristas brasileiros analisa julgamento no STJ Geral | p. 3
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 25 de abril a 1 de maio de 2019
O santo do pau oco e a reforma da Previdência
EXPEDIENTE
EDITORIAL
P
rovavelmente criada pelo povo, a expressão “santo do pau oco” remete ao Brasil colônia. Para fugir de altos impostos cobrados por Portugal, as pessoas recorriam às figuras de san-
tos ocas, preenchendo seu interior com ouro ou outras preciosidades a fim de escapar da fiscalização. Hoje em dia, a expressão significa, por exemplo, condutas ou fatos que parecem
SEMANA
OPINIÃO
dadeiro santo do pau oco. Mesmo tramitando há dois meses na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, não estão disponíveis os números que sustentam a ideia de que, para o país não afundar, é necessário aprovar a tal reforma. O Ministério da Economia teria decretado sigilo sobre dados técnicos, recusando-se a apresentar estudos e pareceres que fundamentam os argumentos do governo federal. O tema mostra-se como mais um vazio no projeto de Bolsonaro, que está pedindo para a população abençoar um projeto sem, no entanto, mostrar o seu conteúdo. É o santo do pau oco dos dias atuais, que desonestamente esconde os impactos da reforma ou ainda pior: os desconhece por completo.
O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 120 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes, Giorgia Prates Leandro Taques DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte
Nossos Direitos, nossos sonhos, nossa luta Silvano Mendes,
Cientista social e professor da rede estadual de ensino de São Paulo
J
positivos, mas que na realidade não o são. A depender das posições de Jair Bolsonaro e de sua equipe do Ministério da Economia, a reforma da previdência se apresenta como um ver-
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ornada de trabalho de 8 horas, férias remuneradas de 30 dias, 13° salário, FGTS, aviso-prévio, direito a greve, irredutibilidade salarial, licença-maternidade, faltas justificadas e seguro desemprego. Todos esses direitos são avanços da classe trabalhadora, foram conquistados tendo como ferramentas a união e a luta. Muitos perderam a vida por acreditar e lutar por melhores condições de trabalho. O fizeram pensando em seus filhos e companheiros. Estamos vivendo um presente
mento do país. de ataques às conComo diz o Aprovaram a quistas dos trabalei que flexibililhadores, e a tá- samba enredo da za as relações tratica usada é a de Estação Primeira balhistas no Brarecusar os fatos de Mangueira: [...] sil, tirando o poder do passado, desde negociação dos construindo assim Deixa eu te contar/ A sindicatos e coloa História e a luta história que a história cando o trabalhados trabalhadores. dor diretamente A recusa ao passa- não conta/ O avesso para negociar com do é uma caracte- do mesmo lugar/ Na quem o emprega. rística dos gover- luta é que a gente se Os banqueiros, nos autoritários. industriais, latiHoje eles ata- encontra [...] fundiários e outros cam a unidade dos que detêm grande trabalhadores, elegeram o sindicato como inimigo pes- parte da riqueza que nós, trabalhasoal do governo, alegando que essa dores, produzimos estão unidos com instituição atrapalha o desenvolvi- os representantes do atual “gover-
no” para defender os seus interesses e, assim, atacar os trabalhadores e os representantes sindicais e sociais. Querem um trabalhador submisso e sem direitos. Estamos vivendo um momento único. É necessário olhar para o trabalhador ao nosso lado e enxergar nele o nosso passado de luta e conquistas, ser solidário. Querem nos dividir, roubar nossos direitos e apagar as nossas conquistas. No decorrer da História a resistência e consciência dos trabalhadores foram e continuam sendo a única “arma” poderosa que nós possuímos para garantir nossos direitos e um futuro digno para os que estão por vir.
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Paraná, 25 de abril a 1 de maio de 2019
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
Tarifa da Sanepar subiu 111,25% desde 2012 Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a Sanepar é responsável pelo segundo maior reajuste em sete anos. A empresa paranaense aumentou o valor pago pelos consumidores em 111,25% entre 2012 e 2018. O índice fica um pouco atrás do Rio de Janeiro, que reajustou os preços em 112,14%, e não soma a nova tarifa autorizada pelo governador Ratinho Júnior (PSD) de 12,13%. Os aumentos nas taxas de água e de esgoto no Paraná estão muito acima da média do país entre 2012 a 2018. Enquanto no Brasil o aumento ficou em 78,53%, contabilizando 19,13% acima da inflação, no Paraná a política de preços reajustou em 111,25%, sendo 40,96% acima da inflação no mesmo período. O reajuste é alvo de críticas da oposição. Para o deputado estadual Tadeu Veneri (PT), a Sanepar deve mudar a política de remuneração dos acionistas, optando se quer distribuir água para a população ou somente distribuir dividendos para os sócios privados. “A continuar esta lógica, no próximo ano, o aumento da tarifa será de 15% e na sequência chegará a 36%”, alertou o deputado.
É ESSE?
“Bolsonaro quer destruir o legado de meu avô”
Naiara Bittencout
Quem julga os militares que dispararam 80 tiros?
Disse em entrevista à revista argentina “La Garganta Poderosa” a neta do educador, pedagogo e filósofo Paulo Freire, a também educadora Sofia Freire Dowbor. Para ela, “Bolsonaro propôs entrar com um lança-chamas no Ministério da Educação para destruir até o último vestígio do que meu avô nos deixou. Quer anular o pensamento crítico e o trabalho em grupo.” Divulgação
“Condenação de Lula é uma loucura histórica”, diz Celso Bandeira de Mello Redação Com o julgamento que reduziu a pena do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 12 anos e um mês para 8 anos, 10 meses e 20 dias de prisão pelo caso do tríplex de Guarujá, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) perdeu a chance de fazer história e justiça. A opinião é do advogado Celso Antônio Bandeira de Mello e do criminalista André Lozano. “A condenação é uma loucura sem prova. Enfim, reduzir a pena é o mínimo diante do que deveria ser feito”, diz Bandeira de Mello. Lula está preso há mais de um ano, desde 7 de abril de 2018. Além do pedido principal, a anulação da condenação de 12 anos e um mês pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), o que traria a liberdade para Lula, os ministros da
Quinta Turma rejeitaram a maioria dos pedidos dos advogados de Lula, entre os quais a prescrição dos crimes ou a argumentação de que o processo deveria ser enviado e julgado pela Justiça Eleitoral. Para Bandeira de Mello, a manutenção da prisão de Lula é “uma coisa que só seria possível num país onde já não há Poder Judiciário”. O jurista acredita que, no Supremo Tribunal Federal (STF), os rumos da situação
de Lula podem mudar. O criminalista André Lozano tinha expectativa de que o STJ barrasse, pelo menos, a acusação de corrupção contida na condenação. “A lei diz que corrupção é a pessoa solicitar vantagem indevida para praticar ou deixar de praticar ato de ofício. Isso significa que o ato de ofício precisar ser apontado no processo, e os ministros foram muito claros: não existe um ato de ofício para ser indicado”, explica. Divulgação
“ESPERO MAIS DO STF” Ainda haverá no Supremo Tribunal Federal (STF) julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADC) sobre o mérito da prisão em segunda instância. “A expectativa agora é o julgamento dessas ações. Eles não podem levar isso muito mais adiante. Até porque o país está numa situação muito estranha.”
Duas pessoas foram assassinadas com mais de 80 tiros disparados por integrantes do Exército contra o carro de uma família no Rio de Janeiro. Mas quem julga os autores dos disparos? Neste caso, a justiça militar, em lugar da justiça comum. A justiça militar é um dos ramos do poder judiciário brasileiro. Em tese, os crimes dolosos contra a vida, com intenção de matar, são de competência da justiça comum, do tribunal do júri, com participação popular. Ocorre que em 2017, a Lei Federal nº 13.491, pouco tempo antes da intervenção federal no Rio de Janeiro, ampliou as hipóteses de julgamento pela justiça militar. Dentre elas, quando o militar estiver cumprindo atribuições estabelecidas pelo presidente da República ou pelo Ministro da Defesa ou quando estiver em “atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária”, o que foi alegado nesse caso. A justiça militar é corporativa, os militares são julgados por seus pares. Não se discute aqui se é mais ou menos punitiva, mas qual a razão de haver uma justiça para os militares? Dentre os países democráticos da América Latina, o Brasil é um dos únicos que possui uma justiça militar que difere da justiça comum e pode julgar civis, o que evidencia traços do autoritarismo e corporativismo. Naiara é advogada popular
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Paraná, 25 de abril a 1 de maio de 2019
A paz com voz Ex-combatente colombiana esteve em Curitiba e fala sobre processo de transição para um país pacífico Pedro Carrano
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bases militares dos EUA estão instaladas no país
52 anos
É o tempo que durou a guerra do exército popular contra o exército oficial apoiado pelos EUA. O mais longo conflito armado do continente americano foi de 1964 até 2016
10 congressistas É o número de congressistas da Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC), 5 na Câmara e 5 no Senado
CONDIÇÕES DE VIDA Retirada de investimentos das universidades públicas
Fonte: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH – Pnud - 2015)
DESIGUALDADE NO PAÍS Historicamente, a desigualdade e expulsão de camponeses das terras levou-os a se organizarem em 1964 e formarem as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC). Passada a guerra, o desafio é reparar os graves problemas do país, ignorados pela elite desde a época dos combates. “Temos um grave problema com educação. Na Colômbia a educação não é gratuita. Tenho que pagar, se quero meu filho com uma profissão”, afirma Griselda. Luis Acosta | AFP
4332 País de crianças número 97 faleceram no no ranking estado de mundial Guajira (Brasil é o 75º)
Guerrilha e Feminismo Pedro Carrano
A ex-combatente faz questão de abrir o debate sobre o papel das mulheres na sociedade, em comparação com os direitos entre os combatentes. “Não havia na guerrilha tarefas específicas para as mulheres, não havia ofício especifico para mulheres, eu cozinho, tu cozinhas, ele cozinha, todos cozinhamos, ao combate vamos todos”, ela exemplifica que homens e mulheres na guerra tinham os mesmos deveres e direitos. “Vivemos uma espécie de feminismo e liberação nas guerrilhas”, disse.
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ocê sabe o que aconteceu na Colômbia em 52 anos de guerra? E como está sendo o processo de transição para paz neste país sul-americano? Griselda Lobo, senadora colombiana, do partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc), antiga organização político-militar, mas que hoje participa da vida institucional colombiana, relatou a transição de um povo que busca paz, e também uma lei de restituição de terras para os camponeses e direitos básicos, caso da educação. Embora os tempos duros sigam marcados para ela, os acordos de paz, por sua vez, assinados em 2016, devem ser cumpridos, independente do governo de plantão. Trata-se de uma política de Estado, hoje parte da constituição daquele país. Griselda elenca o compromisso da antiga guerrilha com a entrega das armas. “Na Colômbia, tivemos 52 anos de guerra. Somos uma guerrilha com proposta de país e de nação”, afirma. O problema para ela está na manutenção do paramilitarismo ligado ao tráfico, o que afeta as pessoas comuns. Há também assassinatos e perseguições de lideranças sociais. “Ha pouco foi assassinada uma líder, assim como líderes das periferias. Estão sendo assassinadas com violência”, denuncia. Ela aponta também os riscos de destruição de recursos naturais, caso da água, por parte de grandes mineradoras. PUBLICIDADE
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Paraná, 25 de abril a 1 de maio de 2019
“Por que tem de passar necessidade no fim da vida?” Aposentada tem medo de faltar dinheiro para o remédio. Situação piora com reforma da previdência e fim do aumento real do salário mínimo Ana Carolina Caldas
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conta não fecha nunca no final do mês para quem vive com um salário mínimo de aposentadoria. “A gente passa sempre apertado. E eu tenho muito medo que de falte para os remédios”, diz a aposentada Iracema Gomes, 71 anos, que trabalhou desde os 15 anos na roça, no Paraná, e depois como diarista. Ela é um dos exemplos dos milhares de aposentados que vivem com salário mínimo. O que ainda deve piorar se aprovada a reforma da previdência, em que o trabalhador rural poderá nem se aposentar se não conseguir contribuir todo ano. E
com a queda do salário mínimo, pois o governo Bolsonaro decidiu que vai acabar com a política de aumentos reais iniciada por Lula. O que afeta a vida de pessoas como Iracema. “Faz uns 9 anos, consegui aposentar pelo Fundo Rural. Moro hoje com uma filha que precisa de cuidados médicos e vivemos com meu salário mínimo e o dela, que
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é mínimo também,” conta. “A gente que é brasileiro trabalha a vida toda para ter aposentadoria. No fim do mês falta leite, carne e bastante coisa. A gente fica sem saber por que trabalha vida toda e tem que passar por necessidade no final da vida. E ainda estão querendo tirar a aposentadoria do pessoal. É uma grande covardia e injustiça.”
AUMENTO DA POBREZA A reforma da previdência e o fim da política de aumento real do salário mínimo agravará mais ainda o quadro de pobreza extrema no Brasil. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) cerca de 48 milhões de brasileiros vivem com salário mínimo.
Reforma da previdência passa em primeira comissão da Câmara Mídia Ninja
Redação
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Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, na noite da terça-feira (23), o relatório a favor da reforma da previdência. O parecer teve 48 votos a favor (da base de Bolsonaro) e 18 contra. A votação foi finalizada pouco antes da meia-noite. O projeto segue agora para avaliação de mérito em uma comissão especial. Durante a sessão, o relator da proposta, Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), apresentou uma complementação de voto com alterações após uma negociação de aliados do governo com membros do grupo tradicionalmente chamado de “Centrão”. “Foi uma mudança pequena.
Deputado Felipe Francischini (PSL) fez de tudo para aprovar proposta que retira direitos dos trabalhadores
Na verdade, não se negociou nada do que era mais importante. O que está por trás disso é que o governo usou cargos e emendas pra convencer deputados do Centrão a fechar acordo pra votar a reforma”, criticou o líder da bancada do PSOL, Ivan Valente (SP). Deputados do Paraná votam contra os trabalhadores Há seis paranaenses entre os deputados da Comissão de Constituição e Justiça que votaram na reforma de Bolsonaro que retira direitos dos trabalhadores. O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL), além de Diego Garcia (PODE), Luizão Goulart (PRB), Paulo Martins (PSC), Stephanes Junior (PSD) e Rubens Bueno (CIDADANIA).
Funcionalismo cobra fim do congelamento de salários Em audiência na Assembleia Legislativa, mais de 30 entidades cobraram reajuste. Governador Ratinho volta atrás e nega aumento Redação, com APP Sindicato
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m audiência na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), mais de 30 entidades cobraram que seja respeitada a data-base do funcionalismo e haja reajuste dos salários, que estão há mais de 3 anos congelados. “Estamos completando 44 meses sem reposição e perdendo o equivalente a dois meses de salário por ano. Nem estamos pedindo aumento real. Nosso interesse é o Estado forte e que o servidor faça parte desse Estado forte com seus direitos garantidos”, destacou a integrante da coordenação do Fórum das Entidades Sindicais, Marlei Fernandes. As perdas são de cerca de 17% até agora e devem aumentar de acordo com o que vem declarando o governador Ratinho Jr. Mudando a postura que tinha quando era deputado estadual e votou a favor do reajuste, neste ano já declarou à imprensa que, “É muito diPUBLICIDADE
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fícil ter (reajuste). Nós já estamos no limite prudencial (da Lei de Responsabilidade Fiscal). Isso já vem de 2018, do governo passado...” O deputado estadual Professor Lemos (PT) defendeu a reivindicação dos servidores e ressaltou que a audiência ocorreu por petição assinada por 16 deputados. “Queremos serviços públicos de qualidade e nossos servidores precisam de salários justos. Para isso, o go-
verno tem quem, no mínimo, respeitar a data-base”, afirmou. Para o presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Leão, é lamentável a necessidade de ter de exigir um direito que oferece dignidade aos servidores públicos. “Não é possível continuar com altos índices de adoecimento nas nossas categorias e ainda ameaças pelas redes sociais de retiradas de direitos”, disse.
GREVE NO 29 DE ABRIL Segundo a APP-Sindicato, há mobilização do funcionalismo para fazer greve no dia 29 de abril. Ocorrerá manifestação em Curitiba, com caravanas de todas as regiões do estado. A concentração será às 9h na Praça Santos Andrade. Em caminhada, os servidores seguirão até o Palácio Iguaçu para pressionar o governador. A data é um símbolo da PUBLICIDADE
luta dos trabalhadores da educação no Paraná. Em 2015, centenas de professores e funcionários de escola, que participavam de uma manifestação contra a retirada de direitos, ficaram feridos depois de serem atingidos por bombas de gás e balas de borrachas a mando do ex-governador Beto Richa (PSDB), o que ficou conhecido como “Massacre do Centro Cívico”.
Professora trans da UFPR recebe ataques Uma página do facebook chamada “UFPR Conservadora” profere ataques contra a professora doutora Megg Rayara de Oliveira, primeira professora negra e transexual na História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em função de seu trabalho acadêmico. Embasado com citações acadêmicas, o artigo “Sapatas Sagradas”, publicado por Megg no site https://peita.me/, gerou polêmica. Porém, a página, sem administrador visível, classificada como “causa” coloca-se com posts agressivos contra a mudança de gênero.
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Brasil de Fato PR 6 Paraná
Atingidos por barragens pressionam Copel e Neonergia por negociações Divulgação
Redação As pessoas atingidas pela Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu mobilizaram-se na cidade de Capitão Leônidas Marques, região Oeste do estado, denunciando que as empresas do consórcio responsável pela construção da usina, Neoenergia e Copel, não cumprem os acordos firmados. Os atingidos relatam que, desde o início da obra, o consórcio empreendedor Baixo Iguaçu viola os direitos das populações locais. Mais de 100 famílias ainda aguardam indenização com base nos compromissos as-
sumidos no “Termo de Acordo da Política, Diretrizes e Critérios de Remanejamento da População Atingida”, firmado pelo consórcio do Instituto Ambiental do Paraná, Ministério Público Estadual e Defensoria Pública Estadual. Em frente à sede da Copel, a atingida Neuza dos Anjos exigiu negociação, já que são seis anos sem resolução do conflito: “Estamos todos doentes com depressão porque a gente não recebe, estamos esperando, cada dia mais, a gente precisa tocar a vida da gente pra frente, porque são muitos anos perdidos já”, desabafa.
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BrasilCultura de Fato|PR 7
Paraná, 25 de abril a 1 de maio de 2019
Não há secretaria nem orçamento para a cultura no Paraná
LUZES DA CIDADE Pedro Carrano
Eu, velho
Gibran Mendes
Extinção de secretaria pelo governador e falta de recursos foram debatidos em audiência na Assembleia Legislativa Ana Carolina Caldas
Ana Carolina Caldas Audiência pública na Assembleia Legislativa, na quarta-feira 24, debateu temas como o Plano Estadual de Cultura e o Fundo Estadual de Cultura, com a presença de artistas de todo o Paraná, que expressaram insatisfação com a extinção da Secretaria Estadual de Cultura (SEEC) pelo governador Ratinho Jr. Ele fundiu as secretarias de cultura e comunicação, com o argumento de enxugamento da máquina administrativa.
Além do protesto pela extinção da secretaria, artistas trouxeram reivindicações e preocupações para a audiência, como o orçamento da cultura, que por lei deveria atingir 1,5% do orçamento, e atualmente está em 0,18%. Para Jessica Candal, representante da Frente Única da Cultura (FUC), “é difícil fazer o debate de cultura quando o Estado não tem secretaria nem orçamento.” Ela lembrou que é inédito, no Brasil, o acoplamento de cultura com comunica-
ção.” O que mostra a real intenção do governo, que é usar a cultura para fazer propaganda e não para fazer política de Estado, o que desejamos.” Pelo governo, estiveram presentes na audiência, o secretário estadual de Comunicação, Hudson Jorge, e a superintendente de Cultura, Luciana Casagrande Pereira. Ambos reafirmaram o compromisso de diálogo permanente com o setor e minimizaram o impacto da extinção da secretaria. “Não é uma nomenclatura que vai mudar nosso compromisso com a cultura”, disse Jorge. A atriz Nena Inoue, ganhadora do prêmio Shell de Teatro, rebateu dizendo que “não se trata de nomenclatura, mas de ideologia e estrutura”. Lembrou que tanto o Ministério da Cultura como as secretarias de cultura surgem no Brasil após a ditadura militar. “Então, nesse momento em que vivemos, com ataques à cultura, significa muito acabar com a secretaria, afirmou.
Desde criança, sempre fui velho. Ou melhor, sempre convivi com os velhos. Ou, mais que isso, sempre admirei suas narrativas seguras sobre o mundo. A ausência de ansiedade. O escritor Tolstoi dizia que os jovens têm o direito de ser conservadores. Porém, os velhos não: eles não têm por que se agarrar na insegurança, por já terem feito tanto. Podem se arriscar mais. Eu mesmo, criança, caminhava lentamente guiado por minha vó pelas esquinas da São Paulo dos anos 80, entre cães que admirávamos nos portões de casas de peles e paredes desgastadas, com a mesma curiosidade e sem medo algum naquela época. Acho que ainda cresci sob a cultura da admiração aos antigos, mas não sei se hoje isso impera no mundo da mercadoria rápida e descartável. Mas a resistência também tem raízes na velhice. Não é à toa que a juventude admira hoje as “loucuras” consequentes de Eduardo Suplicy, Luiza Erundina, Bernie Sanders, Pepe Mujica, Lula (mesmo na condição de preso político). Precisamos da força e disposição dos jovens para mudar este país, mas alçamos voos amparados pelas asas firmes desses velhos sonhadores!
DICAS MASTIGADAS
Moqueca de Peixe Ingredientes 1 kg de posta de peixe como robalo ou cação 1 limão 1 colher de chá de sal 1 cebola grande fatiada 1 pimentão amarelo fatiado 1 pimentão vermelho fatiado 2 tomates fatiados 200 ml de leite de coco 1 colher de sopa de azeite de dendê 3 colheres de sopa de coentro picado
Modo de Preparo Tempere as postas de peixe com o sal e o suco de limão. Espalhe bem e reserve. Em uma panela de ferro ou barro média faça uma camada com metade da cebola, dos tomates e dos pimentões. Por cima, coloque as postas do peixe, salpique metade do coentro, cubra com o restante da cebola, tomate e pimentões. Acrescente o caldo de limão da marinara, o leite de coco e o azeite dendê. Leve a panela ao fogo alto até ferver com a panela tampada, quando levantar fervura abaixe o fogo e cozinhe por aproximadamente 15 minutos, ou até que o peixe fique macio ao toque do garfo. Desligue o fogo e salpique o restante do coentro. Sirva em seguida com farofa e arroz.
Reprodução
Brasil de Fato PR 8 Esportes
Começa o Brasileirão da desigualdade Flamengo e Palmeiras, com orçamentos superiores a R$ 600 milhões, disputam com times como o CSA, que prevê receita de R$ 40 milhões no ano Frédi Vasconcelos
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Brasileirão 2019, que começa no próximo sábado, é um verdadeiro campeonato de desigualdades. Times como Flamengo e Palmeiras, dois dos candidatos ao título, têm orçamentos entre R$ 600 e 700 milhões de reais por ano. Enquanto CSA, de Alagoas, por exemplo, que deve lutar contra o rebaixamento, fatura cerca de 15 vezes menos, com R$ 40 milhões no ano. Abaixo dos dois novos-ricos do futebol brasileiro, vêm Corinthians e São Paulo, na casa dos R$ 400 milhões por ano. E o que junta esses times é que têm folhas salariais superiores a 10 milhões de reais por mês, e
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também chances de disputar o título brasileiro. Na terceira divisão da arrecadação entram times como Santos, Grêmio, Internacional, Cruzeiro, Atlético-MG e Atlhetico, que este ano devem ficar perto dos R$ 300 milhões por ano
O Atlhetico tem orçamento perto dos R$ 300 milhões e está no terceiro grupo de arrecadação, com possibilidade de disputar o título ou voltar à Libertadores
e que também têm chances, mais uns que outros, de disputar o título da competição. E que também contam com altas folhas salariais. Os cariocas Vasco, Botafogo, Fluminense e o Bahia ficam num limbo, entre a luta contra o rebaixamento e a possibilidade de uma classificação para a Libertadores ou Sul-Americana, com suas finanças não permitindo grandes investimentos, embora haja tradição e torcida. Já Avaí, Ceará, Chapecoense, o já citado CSA, Fortaleza e o Goiás, que volta este ano à série A, com orçamentos menores, terão de suar muito e ajustar seus times para evitar ir para a série B em 2020.
Série A 2019 Atlético-MG Atlético-PR Avaí Bahia Botafogo Ceará Chapecoense Corinthians Cruzeiro CSA Flamengo Fluminense Fortaleza Goiás Grêmio Internacional Palmeiras São Paulo Santos Vasco
TIMES DE DEZ ESTADOS O Brasileirão começa, depois de muito tempo, com apenas um time do Paraná na série A, o Athetico, depois que o Paraná caiu e o Coritiba não conseguiu subir em 2018. São Paulo e Rio de Janeiro concentram quase metade das vagas, com oito
times. Seguidos por Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Ceará, com dois times cada. Com apenas um representante, além do Paraná, estão Goiás, Bahia e Alagoas. Por Região, o Sudeste tem 10 times, o Sul, 5, Nordeste, 4, e o Centro-Oeste, 1.
Rola a bola
É pegar ou largar
Triste fim do Campeonato
Redação
Por Marcio Mittelbach
Por Roger Pereira
O Coritiba estreia este ano na Série B contra a Ponte Preta na próxima segunda-feira, 29/4, no Couto Pereira, contra a Ponte Preta, concorrente direto a subir para a primeira divisão. O time conta com uma espinha dorsal já definida, com jogadores como Wilson, Alan Costa, Fabiano, Vitor Carvalho e Rodrigão. Em outras posições ainda há dúvidas e reforços a ser contratados, mesmo com as atuais dificuldades financeiras. A escalação provável para enfrentar a Ponte deve ser Wilson, Sávio (Diogo Matheus), Alan Costa, Romércio, Fabiano, Vitor Carvalho, Elyeser, Thiago Lopes, Welinton Junior, Patrick Brey e Rodrigão. O centro-avante ainda é dúvida, já que vem ficando de fora dos treinamentos por conta de uma amigdalite. Mas quando rolar a bola, seja qual for o time, é hora de lutar pelo principal objetivo do ano, voltar para a série A em 2020.
O Paraná Clube não precisou ir longe para reforçar seu elenco para a Série B. Do time do fi nal da rua Engenheiro Rebouças devem vir por empréstimo o goleiro Lucas Macanhan, o zagueiro Eder, os meias João Pedro e Matheus Anjos e o atacante Bruno Rodrigues. Com exceção do goleiro, todos fizeram parte do elenco campeão estadual. Mas e o Athletico, o que ganha com isso? A contrapartida ofertada foi 60% dos direitos federativos de quatro atletas da base paranista. Atletas promissores, mas com exceção do lateral Raimar, todos ainda longe de chegar ao time de cima. O fato é que o Paraná não tem bala na agulha para sair ao mercado em busca de bons reforços. Entre empilhar a prateleira com apostas e trazer peças decisivas a “custo zero”, fico com a segunda opção. Afinal, de nada adianta investir no futuro se não tivermos um time minimamente competitivo no presente.
A fi nal do Campeonato Paranaense deste ano foi um reflexo do atual momento do futebol no estado. A decisão do estadual colocou frente a frente um time que declaradamente despreza a competição com um que, pela pontuação, seria rebaixado, como penúltimo colocado. O regulamento, que coloca na decisão uma equipe com metade da competição disputada, em cerca de um mês de jogos, permitiu ao Toledo ser fi nalista com apenas 12 pontos somados em toda a competição. Do outro lado, estava o Athletico, com seu time de aspirantes. Em litígio com a Federação Paranaense e dando ao campeonato a importância que ele tem (serve apenas para testar ou dar ritmo a jogadores que não estão no elenco principal), o Athletico foi, mesmo assim, bicampeão estadual. Além disso, mesmo com os reservas, teve, disparada, a melhor média de público do campeonato. Ao fi nal de mais um estadual sofrível, fica claro que o futebol paranaense depende do clube que o despreza.