Entrevista | p. 4
Cultura | p. 7
Nenhum deles tem razão
Teatro na rua
Candidato de esquerda a presidente da França fala sobre polêmica entre Bolsonaro e Macron
Festival começa em Curitiba Divulgação
Divulgação
PARANÁ
Ano 4
Edição 138
12 a 18 de setembro de 2019
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana
PUBLICIDADE Giorgia Prates
Grito dos Excluídos acontece em áreas nas quais moradores lutam por regularização
SEM MORADIA SEM EDUCAÇÃO Em Curitiba, manifestação cobra investimentos para Brasil | p. 5 educação pública e de qualidade
Giorgia Prates
Escola sem partido Deputados estaduais querem votar projeto inconstitucional Porém | p. 3
Correios em greve No Paraná 70% dos trabalhadores aderem, segundo sindicato Geral | p. 3
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Censura e autoritarismo ameaçam o Brasil
EDITORIAL
A
exaltação à censura e ao autoritarismo está cada vez mais evidente no cenário nacional. A declaração de Carlos Bolsonaro, nesta semana, de que “por vias democráticas, a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade” que ele o seu grupo almejam (diga-se de passagem) não é um fato isolado. No dia 6, o prefeito do Rio de Janeiro, Crivella, deu ordem para recolhimento de livro de história em quadrinhos em que dois personagens do mesmo sexo se beijam. A decisão contou com a chancela do Tribunal de Justiça do estado. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal (STF) posicionou-se sobre a ilegalidade da ordem. Mas o clima
Brasil de Fato PR
Paraná, 12 a 18 de setembro de 2019
de censura que ameaça a liberdade de expressão no país ficou no ar. João Doria, em São Paulo, mandou recolher apostilas que discutem diversidade de gênero. Em agosto, para citar outro exemplo, houve a censura do governo federal ao edital da Agência Nacional de Cinema sobre produções com a temática LGBTs. Uma das características dos regimes autoritários é justamente a perseguição aos livros, à cultura, ao direito de informação, à liberdade de pensamento. Jair Bolsonaro coloca o Brasil diante de um período autoritário. Defender a democracia é nossa tarefa histórica. Se não a fizermos, o país estará, ainda mais, sob as ordens de um repressor.
SEMANA
É possível sair da crise, mas não pelo caminho do Bolsonaro OPINIÃO
André Machado,
historiador, presidente municipal do PT Curitiba
J
air Bolsonaro está no poder há menos de um ano. Restringindo o debate ao campo econômico, área que ele diz ser dirigida por profissionais, a população não tem expectativas. Bolsonaro assumiu a agenda de setores empresariais, que pressionam para reduzir os gastos públicos e baixar o custo da mão de obra. Mas os efeitos dessas medidas adotadas geraram o seu inverso, reduzindo a renda da classe trabalhadora - aquela que tem mais propensão ao consumo -, diminuindo a demanda agregada e gerando pobreza, desemprego e estagnação. Os empresários simplesmente não investiram, os índices de desemprego continuam enormes, a renda média da população não se recuperou e o crescimento econômico foi mais uma vez adiado. Os poucos empregos gerados usam mão de obra precária, tal como o chamado “trabalho intermitente”, que ocupa pouco tempo do trabalhador e não ajuda na recuperação da renda. Em suma, a aposta única do governo é a retomada da confiança dos empresários para que a economia deslanche. Mas não basta reduzir os custos de produção para haver confiança e a indução de investimentos. Afinal, por que um
empresário investirá se não há demanda? Se houvesse a liberação de crédito para o setor privado de infraestrutura, até mesmo por meio do FGTS, em conjunto com o investimento público em obras com grande impacto social, o mercado de trabalho da construção civil responderia e a retomada econômica ocorreria de maneira mais robusta.
Bolsonaro assumiu a agenda de setores empresariais, que pressionam para reduzir os gastos públicos e baixar o custo da mão de obra
Esta não seria a única medida e sozinha não se sustenta. Isso porque, ao mesmo tempo, o país deveria rever as medidas tomadas de precarização do mercado de trabalho e apostar na melhoria de seus serviços públicos - o que exigiria a revogação dos limites impostos pela Emenda Constitucional-95, que congelou investimentos em Saúde e Educação.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 138 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Paula Zarth Padilha, Por Renato Almeida de Freitas e André Machado ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates, Leandro Taques e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113
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Paraná, 12 a 18 de setembro de 2019
FRASE DA SEMANA
“Onde está a Justiça?”
Inconstitucional, deputados do Paraná votam escola sem partido na segunda (16) O projeto “Escola sem partido”, também conhecido como “escola com mordaça”, deve ser votado na segunda-feira (16) pelos deputados estaduais do Paraná. A proposta de bancadas conservadoras foi apresentada em diversos municípios e estados do país. Em Curitiba, a iniciativa foi barrada por um mandado de segurança impetrado por vereadores da oposição. Já na Câmara dos Deputados, em Brasília, o projeto foi arquivado. O PL 606/16 é de autoria do deputado missionário Ricardo Arruda, do PSL, mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro e deve ser votado na segunda. Ele já teve diversos pareceres negativos pelo país, inclusive da Secretaria Municipal de Educação. O Ministério Público do Paraná também é contra a iniciativa, que leva censura ao ambiente escolar. O procurador de Justiça Olympio de Sá Sotto Maior Neto, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos, já afirmou que a escola deve tomar partido da fraternidade, da solidariedade, da participação política. A gente quer uma escola que forme cidadãos”. De acordo com lideranças contra o projeto, caso ele seja aprovado pelos deputados, a comunidade escolar irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Questiona Preta Ferreira, militante do movimento de moradia, que está presa há mais de 70 dias, segundo ela, sem provas. E acrescenta: “Eu pergunto aos governantes, a quem me colocou aqui: Cadê as provas? Qual foi a extorsão que eu pratiquei? É uma prisão política. A sociedade está vendo o que está acontecendo”.
Marcelo Cruz
Empresa abandona negociação e funcionários dos Correios iniciam greve Divulgação
Redação Os trabalhadores dos Correios, organizados em 36 sindicatos e duas federações, aprovaram na noite de terça-feira (10) greve por tempo indeterminado que pretende alcançar todo o país. A paralisação começou mais forte em São Paulo e no Rio de Janeiro. Segundo os sindicatos, cerca de 7 mil trabalhadores participaram das assembleias nessas duas capitais. Antes de cruzar os braços, os sindicatos fizeram dez reuniões com a empresa. Porém, a estatal abandonou a negociação sem fechar o acordo coletivo, que estava sendo mediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). A tensão entre trabalhadores e Correios envolve várias retiradas de direitos, como a exclusão dos pais dos empregados do plano de saúde. A proposta de reajuste oferecida pela estatal foi de 0,8%, bem abaixo da inflação no
período, que ultrapassou 3%. “A empresa abandonou as negociações e não deixou alternativas além da greve, que começou forte. A tendência é ampliar”, disse Douglas Melo, diretor da FINDECT e do Sindicato dos trabalhadores dos correios de SP. No Paraná No Estado, segundo informações do sindicato local dos trabalhadores dos Correios, o Sintcom, a greve começou na quarta-feira (11) com adesão de 70% dos trabalhadores, principalmente nos CDDs, CEEs e CEINT,
além de muitas Uds e Acs, com paralisação total em todas as regiões. Segundo nota do sindicato, “com a ameaça de privatização, este também é o momento de discutir a importância dos Correios para a sociedade, não apenas pelos impactos causados pela paralisação, mas pela necessidade de repensar as relações de trabalho, os problemas reais do povo brasileiro como o desemprego e – principalmente – o projeto de desmonte do Estado que quer destruir o patrimônio público brasileiro.”
Intervenção na Universidade Federal da Fronteira Sul Em 30 de agosto, estudantes da Universidade Federal da Fronteira Sul ocuparam a reitoria da universidade, localizada em Chapecó, após a nomeação arbitrária pelo governo federal de Marcelo Recktenvald, candidato que nem sequer chegou ao segundo turno na consulta prévia à comunidade acadêmica. Após um pedido de reintegração de posse por parte da reitoria, antes mesmo de qualquer diálogo, a juíza responsável optou por uma audiência de conciliação entre as partes, que ocorreu dia 10/09 (terça-feira). Nessa audiência foi acordado que a negociação de desocupação deverá ser realizada entre o Conselho Universitário e os estudantes. Ficando a cargo do conselho a criação de uma comissão para fazer a mediação. Durante a audiência, a parte que representava a reitoria chegou a insinuar, em claro tom de ameaça, que seria melhor a comunidade universitária subordinar-se à nomeação do Marcelo do que ser nomeado pelo governo Bolsonaro “um interventor de verdade”, reconhecendo desta forma seus lugares de interventores. Divulgação
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Líder europeu reivindica relações sociais de cooperação
ENTREVISTA
Líder do movimento dos Insubmissos e candidato à presidência, na França, Jean-Luc Mélenchon critica Bolsonaro, Macron e acordos de livre-comércio Divulgação
Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano
J
ean-Luc Mélenchon é líder do movimento França Insubmissa e teve 19,6% dos votos nas eleições presidenciais de 2017 em seu país. Em visita ao ex-presidente Lula, em Curitiba, concedeu entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraná, falando sobre o bate-boca entre o presidente brasileiro e o francês, liberalismo econômico e perseguição política por meio da justiça. Brasil de Fato Paraná– Como o senhor vê o bate-boca entre o presidente Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron, seu adversário político? Jean-Luc Mélenchon – Antes de tudo, Bolsonaro falou muito mal da esposa do presidente Macron, e em relação a isso não o perdoamos. Isso não é política, tem a ver com a condição humana e é insuportável. E o que quero dizer a Bolsonaro é uma piada: Ele disse que para ajudar o meio ambiente seria ne-
cessário ir ao banheiro um dia sim e outro não, então acho que para melhorar o meio ambiente ele deveria fechar sua boca a metade do tempo. Porém, para nós, o comentário do presidente francês também é um pretexto porque ele também está assinando uma autorização para destruir parte da floresta Amazônica da França, na Guiana Francesa. Então, nos parece bastante hipócrita em relação ao que disse a Bolsonaro. Além disso é um problema ver que um presidente da república num dia está a favor do tratado de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul e, no outro, está contra. Nós somos contra esses acordos de livre-comércio porque eles não têm a ver com cooperação, ao contrário, livre comércio é a lei do mais forte. A cooperação tem de ser positiva para os dois lados, nada a ver com esse tratado da Europa com o Mercosul. Falando desses acordos de livre comércio, sem as barreiras, os países mais fortes acabam tendo vantagens... Por que vamos tomar na França leite de vacas brasileiras
e vocês vão comer carne francesa? Não tem sentido. E o mundo inteiro, hoje, é uma mercadoria para o setor financeiro. Com isso, chegamos a um fracasso da civilização humana porque as mudanças climáticas já começaram. Produzir dessa maneira e viver dessa maneira nos conduzem diretamente a um fracasso. Hoje, Lula, os insubmissos, o PT e tantos outros movimentos sem-terra, somos os únicos que temos a bandeira do interesse geral humano. Parece que há duas coisas em comum entre a França e a América Latina neste momento, que é o crescimento da direita e o impacto da crise econômica na vida das pessoas... Sim, há uma virada para a direita, mas a América do Sul e um pouco a do Norte, à sua maneira, até os EUA, passaram por uma onda de democratização. E agora estão dizendo que essa onda já acabou. Não, por favor. O êxito de Andrés Manuel López Obrador no México, a vitória na Bolívia, a que se está aproximando na Argentina, a que esperamos no Uruguai. Então, a América do Sul nos dá um sinal bem forte. É o único lugar do mundo onde há isso. E, ao contrário, a Europa está regredindo, e regredindo ao PUBLICIDADE
pior. Com a destruição dos estados sociais e também o rebaixamento de uma consciência humanista porque a ultradireita está crescendo em toda a parte e, cinicamente, o Macron e outros ultracentristas a estão ajudando. Ao final, preferem a ultradireita a nós. É um momento muito difícil. Na Europa, a direita se apoia principalmente num discurso anti-imigração... Sim, há por toda parte racismo, o cultivam, o ensinam. Por isso sabemos que temos de lutar porque toda vez que há uma crise econômica, se dá algo venenoso na Europa e, ao final, a Europa entra em guerra, e essas guerras se tornam mundiais, e os outros depois são chamados a escolher em qual campo vão ficar. A Europa é muito perigosa para o mundo porque ela é chamada a dar o melhor de si algumas vezes, mas, o pior, muitas vezes.
O que é ultradireita? Partidos ou movimentos que se colocam contra os direitos populares e a favor dos lucros e dos mercados.
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Paraná, 12 a 18 de setembro de 2019 Giorgia Prates
Ato denuncia moradias precárias na CIC Comunidade 29 de março e ocupações da Cidade Industrial de Curitiba sofrem com descaso do poder público
Milhares voltam às ruas em Curitiba contra cortes na educação Manifestantes vestem-se de preto em luto pela educação e pela Amazônia Ana Carolina Caldas
O
Pedro Carrano
Colaboração: Paula Zarth Padilha
V
al, morador da área de ocupação Tiradentes, saudou o início do 25º Grito dos Excluídos, que aconteceu na Cidade Industrial de Curitiba, no dia 7 de setembro, em região que abri-
ga quatro áreas recentes de ocupação, organizadas entre 2012 a 2016. Em comum entre os quatro territórios, o descaso da prefeitura, as ameaças de despejo e violências contra os moradores, o que se casou bem com o lema nacional do Grito deste ano: “Este
sistema não vale”. “Meu grito hoje é que estão asfaltando trecho da estrada velha do Barigui, pensando nos caminhões que quebram. Mas não pensaram no saneamento e nas 1500 famílias habitantes das quatro comunidades”, denuncia Val.
A CAMINHADA E A LUTA POR DIREITOS
29 de Março Virou notícia quando, no dia 7 de dezembro de 2018, um incêndio considerado criminoso destruiu mais de 200 casas na comunidade. O terreno é público e não há ação de integração. Mas moradores protestam contra a falta de políticas do prefeito Rafael Greca (DEM) para a região.
Joka Madruga
Tiradentes Datada de 2015, a área está sob ameaça do crescimento do aterro sanitário da empresa Essencis, responsável por dejetos industriais, mesmo em região próxima à represa do Passaúna, que fornece água para a capital. Até o momento, há duas ações de despejo forçado revertidas. Leandro Taques
Joka Madruga
Nova Primavera Primeira ocupação do complexo de áreas. O juiz de primeiro grau deu liminar de reintegração, logo suspensa por recurso da assessoria no Tribunal de Justiça.
Giorgia Prates
Os caminhantes no roteiro do Grito dos Excluídos passaram pelas quatro comunidades. Após mais de sete anos da primeira ocupação local, pouca coisa mudou em termos de infraestrutura. Veja a situação abaixo de cada área:
Dona Cida Ocupada em 2016, uma das áreas mais ameaçadas, com três ações existentes, exigindo despejo forçado, ainda não cumpridas por questões processuais.
centro de Curitiba foi ocupado, no sábado (7), por manifestantes que saíram às ruas de preto em protesto contra os ataques do governo Bolsonaro. Movimentos sociais, sindicatos, organizações estudantis e da educação denunciaram, na Praça Santos Andrade, os cortes recentes nas verbas do ensino superior e o desmatamento na Floresta Amazônica. Mais de 5 mil pessoas se reuniram para a caminhada que seguiu até o Largo da Ordem. Novamente, como em outros atos, os estudantes eram a maioria. Daiane Duarte, estudante de História na PUC PR, disse que sua presença é porque está pensando no futuro. “Minha faculdade é particular, não tem programa de mestrado e eu desejo continuar estudando. Na minha área só tem curso na Federal. Com os cortes vão acabar os pro-
gramas, especialmente nas licenciaturas,” disse. Professor da Universidade Federal do Paraná, no curso de Artes Visuais, Felipe Prando estava com toda a família na manifestação. “Estou aqui porque isso é necessário diante de todo o desmonte da educação e pelo que as instituições públicas vêm sofrendo neste governo fascista.” Já o professor da rede estadual de ensino Francisco Manoel de Assis França disse que estar na rua é um modo de conscientizar quem ainda não percebeu a gravidade das medidas do atual governo. “Estamos sofrendo todas as agruras num governo que mente para a população diariamente. E que não respeita mulheres, negros e trabalhadores.” O final do ato contou com a participação de artistas, que fizeram uma grande celebração entoando músicas e palavras de ordem como “Fora Bolsonaro” e “Você não soube votar, eu avisei!” Giorgia Prates
Brasil de Fato PR 6 Brasil Pedro Carrano
Capoeira, trabalho de base, resistência Educador físico já ofereceu curso para 150 alunos na vila Canaã, no Novo Mundo
Pedro Carrano
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aldecir Ribeiro da Silva há cinco anos organiza aulas de capoeira na escola estadual Avelino Antônio Vieira, e três anos desse período são dedicados também a aulas na associação de moradores da Vila Canaã. Essa área integra o chamado bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, ao lado de outras áreas de ocupação. Esse educador físico conta que só no bairro já passaram cerca de 150 alunos pelo seu curso, que pode ser feito na rua ou na sede da associação de moradores, o que ele chama de “Esse trabalho de base na periferia, na ideia de resistência”, afirma. Silva busca conectar as aulas de capoeira dentro da cultura de matriz africana. Defende que essa conexão tem origem em sua própria família, de sete irmãos. Como professor, ele lamenta que hoje muitas famílias não estejam preocupadas PUBLICIDADE
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Filme sobre MST e agroecologia ganha prêmio da ONU Vídeo apresenta a produção agroecológica do assentamento Contestado, localizado na Lapa (PR) Leandro Taques
com “formação cultural e intelectual da criança”. “Já estivemos no corte de cana, ganhando pouco, muitos aos 40 anos com a expressão sofrida. Mas pude fazer especialização na universidade”, conta. Mesmos problemas Na vila Canaã, onde é vice-presidente da associação de moradores, na gestão 2018-2022, mora na quadra 28, como ele chama, e concorda que os problemas são os mesmos de vilas vizinhas, caso da Uberlândia e Formosa, onde as famílias seguem em espera pela legalização das moradias. Silva protesta contra a dificuldade de a Cohab negociar com os moradores e, depois de anos, ainda não oferecer prestações acessíveis. “Muitos vizinhos são pessoas sem emprego fixo nem entraram no perfil de parcelamento. Se não tem emprego fixo como vão fazer financiamento?”, questiona. PUBLICIDADE
Redação O curta-metragem “O que é agroecologia” venceu o Concurso Global de Vídeos da Juventude sobre Mudanças Climáticas – TVEBioMovies 2019, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O filme foi produzido pelos jovens Rafael Forsetto e Kiane Assis, e ganhou a categoria “alimentação e saúde humana”. Em três minutos, apresenta a produção agroecológica dos agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do assentamento Contestado, na Lapa (PR). O vídeo será apresentado no dia 23 de setembro na sede das Nações Unidas, em Nova York, e também na Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP 25) em dezembro, no Chile. O assentamento Contestado é reconhecido como referên-
cia em agroecologia. Em 2010, foi criada a Cooperativa Terra Livre, que atua exclusivamente com alimentos sem agrotóxico. Toda semana são entregues 8 toneladas de verduras, frutas, legumes e temperos agroecológicos em 105 escolas municipais da região. Em 2018, foram comercializadas 270 toneladas de alimentos orgânicos e agroecológicos. Para Rafael Forsetto, o vídeo ganha maior relevância diante do contexto brasileiro atual. “O filme mostra que o MST, movimento tão demonizado pelo atual governo, está na vanguarda desse movimento que visa a produzir alimentos saudáveis e proteger o meio ambiente. Sendo reproduzido numa escala tão grande, o filme pode combater a imagem negativa que alguns pintam o MST, através do belo trabalho que seus pequenos agricultores vêm fazendo em prol da biodiversidade.”
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Teatro organizado e nas ruas 4º encontro da rede paranaense de teatro de rua realiza plenárias e intervenções Redação O evento acontecerá de 13 a 16 de setembro e conta com a participação de grupos de teatro de rua de Curitiba, Londrina e Maringá, que se reúnem em plenárias para debater políticas públicas e demandas do trabalhar com arte nas ruas. Além das plenárias, acontecem intervenções e apresentações artísticas gratuitas e abertas ao público nas Ruínas São Francisco, na rua XV de Novembro, no espaço Marielle Franco e na Vigília Lula Livre, movimentando a cena cultural da cidade e promovendo intercâmbio entre artistas do Paraná. Confira a programação:
SEXTA - 13/9 9h - 12h Plenárias - Centro de Formação e Cultura Marielle Vive 14h 16:30h Plenárias - Centro de Formação e Cultura Marielle Vive 17h Espetáculo Andarilhos de Cordel (Cia Pedras-Maringá) Vigília Lula Livre SÁBADO - 14/09 10h Cortejo - Rua XV de Novembro 12h Espetáculo Brincarte (Cia Sacica-Curitiba) Rua XV de Novembro (Boca Maldita) DOMINGO - 15/09 9h - 11:30h Plenárias - Centro de Formação e Cultura Marielle Vive 12h Licença P’reu Passar (Circo e Teatro Éramos Três - Curitiba) - Praça João Cândido (atrás das Ruínas)
12h40 Pássaro em Chamas (Cia das Pulgas - Curitiba) - Praça João Cândido (atrás das Ruínas São Francisco) 15h30h - 17:30h Mesa: Arte pública, gênero e censura (mediação: Michele Lomba) - Centro de Formação e Cultura Marielle Vive
SEGUNDA - 16/09 9h Plenárias e ações de encerramento 11h30 Intervenção: Corpos Inquietos (alunos da Unespar-Curitiba) - Rua XV de Novembro (Boca Madlita) 14h Ações de encerramento Gibran Mendes
DICAS MASTIGADAS
Fusilli de salmão com favas e aspargos Ingredientes 6 aspargos frescos 350 gramas de fusilli 280 gramas de vagem 400 gramas de filé de salmão 3 colheres (chá) de raspas de limão 1 colher de sopa de suco de limão 1 colher de sopa de azeite 10 gramas de salsa fresca picada
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Modo de Preparo Corte os aspargos em pedaços pequenos. Cozinhe, em uma panela grande, o fusilli até que fique al dente. Nos últimos 2 minutos de cozimento adicione os aspargos e 280 g de favas sem as vagens. Escorra e devolva tudo à panela. Pegue uma frigideira funda, ponha água até a metade e deixe ferver. Junte à água os filés de salmão sem pele nem espinhas e cozinhe por 10 minutos. Com a ajuda de uma escumadeira, transfira o peixe para uma travessa. Depois de esfriar um pouco, use um garfo para dividir o salmão em lascas grandes. Acrescente à mistura de massa e vegetais as raspas de limão, o suco de limão e o azeite. Misture bem. Junte o salmão e a salsa picada. Tempere com pimenta-doreino moída e misture bem.
Por Renato Almeida de Freitas
Que mundo de merda a gente vive Estava pelos arredores do Largo da Ordem com meus amigos, conversando, ouvindo rap, quando brotou um tiozinho de uns 50 anos, estrábico divergente, chinelo de dedo, calça jeans batida, carrinheiro. Era conhecido de um dos presentes, parou, cumprimentou, conversou, ofereceu cigarro, três amigos aceitaram, ele fez questão de dar um para cada, disse que acabara de comprar o maço de “classic”. Um amigo perguntou sobre seu filho, que sempre o acompanha pelo centro. Ele, com um sorriso sincero no rosto, disse que tava em casa, que havia levado ele ao mercado, onde comprara salgadinho. “Dois tipos de salgadinho”. Disse ao filho para
que escolhesse algo, o filho escolheu uma caixa de ovos. “O menino gosta muito de ovo frito”. Presseguiu: “O mano aqui sabe, pode falar o que quiser, mas meu filho tá sempre bem comigo, tá sempre comendo alguma coisa, posso não ter nada, mas meu filho nunca fica sem comer!” Conversou mais um pouco, sempre humilde, olhando na ‘bolinha do olho’, deixou mais três cigarros com os meninos, disse que não tinha quase nada, mas o que tinha, acenando para o Classic, ele gostava de dividir. Esses são os “derrotados” do mundo capitalista, os vencedores, dizem, são os que estão em suas mansões, juntando tanto dinheiro que nem em mil reencarnações poderiam gastar.
Brasil de Fato PR 8 Esportes
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Copa dos Refugiados terá etapa em Curitiba Torneio quer mostrar a realidade de quem veio para o Brasil fugindo de guerras, fome e perseguição Redação
C
om o intuito de integrar por meio do esporte, o Brasil sedia mais uma Copa dos Refugiados e Imigrantes. O torneio de futebol busca mostrar as realidades das vidas dessas pessoas para o público brasileiro e, assim, contribuir com a luta contra os preconceitos, as discriminações e a xenofobia. Organizado pela ONG África do Coração, com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), a competição surgiu em 2014, em São Paulo. Na edição deste ano, o torneio, que começou no segundo fim de semana de agosto, está dividido em etapas regionais que acontecem nas cidades de Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, e São Paulo. A etapa de Curitiba terá as fases preliminares no dia 28 (sába-
do), no Centro de Educação Física e Desporto (CED), da Universidade Federal do Paraná. As disputas de terceiro e quarto lugares e a grande final serão domingo (29) no Estádio do Pinhão, em São José dos Pinhais. Participam da etapa paranaen-
se times formados por imigrantes e refugiados do Haiti, Venezuela, Argentina, Colômbia, Congo, Nigéria, Bolívia e Peru. A seleção campeã ganhará a taça e uma viagem ao Rio de Janeiro para disputar a final nacional, no Maracanã, em novembro. Divulgação
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Quem vai para a final? As semifinais do campeonato brasileiro feminino, série A1, iniciaram na semana passada. A Ferroviária recebeu o Kindermann, na Arena Fonte Luminosa, e o empate em 1x1 deixou tudo aberto para a decisão em Santa Catarina. As visitantes abriram o placar no final do primeiro tempo com gol de Carol, que subiu sozinha na área para cabecear. Parecia que o time de Araraquara ia amargar a derrota, mas, no fim do segundo tempo, Thaicyane guardou o seu e garantiu o empate em lance de escanteio. Na outra disputa, Flamengo e Corinthians se enfrentaram em Cariacica, no Espírito Santo. As alvinegras ampliaram sua marca e chegaram a 31 vitórias consecutivas ao vencer por 2x1. Os gols da vitória saíram dos pés de Erika e Victoria, enquanto do lado rubro-negro o tento foi marcado pela capixaba Ana Carla. O Flamengo precisa ganhar por dois gols de diferença para garantir a vaga na final e, talvez o que seja mais difícil, quebrar o recorde corintiano. Aguardamos as cenas dos próximos capítulos!
Aguçante no Café
Sangue novo
Arena Havan?
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Por Roger Pereira
Lançar-se aguçante, como um arpão pontiagudo mesmo, para golpear o Londrina é obrigação total do Coritiba, a ser cumprida na manhã do próximo sábado, 14/9. A superioridade tem que ser mostrada desde o início do jogo contra o tubarão de mentirinha – não há razão para caçar os verdadeiros. Existe uma imposição da tabela: depois de alcançar o G4, o Coxa esfriou, pois não vence há quatro jogos. De outra parte, não se admite outro resultado diante de um adversário que não conhece vitória há um mês e meio (oito rodadas) e que perdeu consecutivamente as cinco partidas mais recentes. Ao técnico Umberto Louzer não é dado o direito de justificar eventual esquema defensivo no norte paranaense pelo desfalque de quatro atletas. Suspensões e lesões ocorrem em todos os times e, no alviverde, essas ausências serão em parte compensadas pelo retorno dos titulares Rafael Lima e Robson.
O Paraná Clube anunciou nesta semana mais duas contratações. Só após a parada para a Copa América foram sete reforços mais o diretor de futebol, Alex Brasil. O perfil da maioria agrada: jogadores jovens, mas com passagens por grandes clubes do país. Apenas dois já estrearam, o meia Vitinho e o atacante Pimentinha. Entre os contratados, talvez a maior expectativa recaia sobre o atacante Judivan. Considerado uma joia no Cruzeiro, sofreu uma entrada criminosa jogando pela seleção sub-20, em 2015. Foram seis cirurgias até que voltasse a estar 100%. Será uma sombra e tanto para Jenison. De acordo com o site oficial, contamos hoje com 37 atletas. Mas na relação ainda faltam o zagueiro Fabrício, que ainda depende de documentação, e o meia Guilherme Nunes, que veio emprestado do Santos. Cabe agora ao técnico Matheus Costa extrair o melhor desse batalhão.
Enquanto estamos todos envolvidos na decisão da Copa do Brasil (e a coluna foi escrita antes do primeiro jogo), o Conselho do Athletico aprovou o aluguel do espaço anexo ao estádio para a Havan. Um contrato de R$ 3 milhões por ano, que deixa ainda mais clara a proximidade de Petraglia com o grupo apoiador de Jair Bolsonaro. O espaço onde será construída a Havan era destinado à “Areninha”, projeto de um ginásio multiuso, que deveria ser entregue junto com o estádio, em 2014, em contrapartida para o Estado pelo uso de recursos públicos na obra para a Copa do Mundo. Seria um espaço para atividades culturais e desenvolvimento de outros esportes, com algumas atividades e horários abertos à população. Não teve Areninha, não teve contrapartida e, agora, o espaço é entregue a um aliado político do presidente de nosso conselho, com comprometimento da imagem do clube e de sua reputação.