Divulgação
Cultura | p. 8
Apoie os artistas de rua Sem público, artistas de rua precisam do apoio do estado e da sociedade civil para se manterem
Brasil | p. 7
EXCLUSIVO Grupo denuncia exposição desnecessária de policiais a riscos
Larissa Prado
PARANÁ
Ano 4
Edição 161
9 a 15 de abril de 2020
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
Giorgia Prates
INCOMPETÊNCIA AGRAVA CRISE FALTA GÁS E PREÇO DO BOTIJÃO EXPLODE RECURSOS EMERGENCIAIS NÃO CHEGAM À POPULAÇÃO MAIS VULNERÁVEIS DEPENDEM APENAS DA SOLIDARIEDADE IRRESPONSABILIDADE DE BOLSONARO PIORA TUDO SERVIÇO: SAIBA QUEM TEM DIREITO A RECEBER
R$ 600
Entrevista | p. 5
Brasil | p. 6 4
Porém | p. 3
Gás e gasolina
Aulas, só com condições
R$ 50?
Petroleiros: Petrobras deve bancar gasolina e gás baratos
Professores criticam aulas a distância, sem condições para servidores e estudantes
Ratinho e Alep aprovam R$ 50 para população pobre
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 9 a 15 de abril de 2020
Saúde A solidariedade integral da do povo contra a População Negra irresponsabilidade e coronavírus de Bolsonaro
EDITORIAL
O
s recentes pronunciamentos do presidente mostram que Bolsonaro está mais interessado em permanecer no cargo do que com o número de mortos. De olho nas dificuldades econômicas que se agravarão no próximo período, ele condena o isolamento para, depois, poder dizer que o problema econômico não é responsabilidade dele. Os empresários aliados ao governo, por sua vez, manifestam-se colocando seus lucros acima da vida da população. O dono de uma rede de shoppings em Santa Catarina, por exemplo, fez chantagem: prometeu doar respiradores, mas só se suas lojas reabrirem. O momento exige tributar grandes fortunas, taxar lucros, distribuir renda.
OPINIÃO
Mas o governo e as empresas alinhadas a ele querem que os trabalhadores paguem, mais uma vez, a conta da crise. O auxílio emergencial veio, mas demorou e, não é demais lembrar, Bolsonaro queria que fosse menor (de apenas R$ 200,00). Enquanto o presidente e seus aliados colocam a vida da população em risco, o povo se organiza em ações de solidariedade aos que estão com o sustento comprometido. São diversas as iniciativas que estão se espalhando pelo país, na chamada campanha “Periferia Viva”. No Paraná, apenas o MST doou 5 toneladas de alimentos às pessoas que mais precisam. Há esperança. E ela vem do povo organizado.
SEMANA
Alaerte Leandro Martins,
Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo
A
saúde da população Negra teve atenção especial no Conselho Nacional de Saúde em 2006 e no Conselho Estadual de Saúde do Paraná, em 2010, quando foi aprovada pelos plenários a implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). Uma história que vem de longe mesmo. O que culminou com a formação de um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), em 1996, já vinha sendo pontuado por vários estudiosos e pelo próprio movimento negro. Além do GTI, ainda em 1996, sai o Decreto que dispõe sobre a inclusão obrigatória do quesito raça/cor e a padronização de informações sobre raça e cor dos cidadãos brasileiros e estrangeiros residentes no país, em todos os documentos civis e militares, a saber: amarela, branca, parda, preta e indígena, sendo a parda + preta = raça/etnia ou população negra. São altas as taxas de morbidade e mortalidade para população negra causadas por de-
terminantes sociais e, muito mais que isso, pelo racismo estrutural que vivemos no Brasil. Essa população sofre com as consequências desde a falta de saneamento básico até o agravamento de doenças crônicas como hipertensão e diabetes e transmissíveis, como ISTs/HIV/AIDS, mortalidade materna. São tantas as questões de saúde que afetam a população negra que em tempos de pandemia do corona vírus o que preocupa não é a falta de leito em UTI, mas a prevenção e promoção da saúde, a começar pelo saneamento básico. É necessário o isolamento social, manter-se distante uma pessoa da outra. Como, se muitas das famílias dormem todos em um único cômodo? E os ônibus lotados? Por estas questões é que precisamos sempre repetir o mantra: garantia de políticas públicas que atendam a saúde da população negra.
São altas as taxas de mortalidade da população negra causadas por determinantes sociais e pelo racismo estrutural
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 161 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Alaerte Leandro Martins, Anna Sandri, Juliana Maria e Letícia Archanjo ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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Paraná, 9 a 15 de abril de 2020
Geral | 3
FRASE DA SEMANA
Ratinho Junior destina apenas R$50 de auxílio para paranaenses em vulnerabilidade social A Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) aprovou o Projeto de Lei 219/2020 do governador Ratinho Junior (PSD) que autoriza a concessão de R$ 50 por três meses para pessoas em situação de vulnerabilidade. A medida está dentro do pacote de combate ao coronavírus e vai custar R$ 15 milhões. A Alep ainda rejeitou emenda da oposição que tentava elevar esse valor para R$ 150, sendo R$ 100 para compra de alimentos e R$ 50 para aquisição de medicamentos e material de higiene. “Temos R$ 240 milhões no Fundo de Combate à Pobreza. Dividido por 50 daria quanto? Esse auxílio é uma esmola. Não faz sentido `guardar` esse recurso para possíveis gastos futuros”, criticou o deputado Tadeu Veneri. Para ter direito aos R$ 50, a pessoa não pode “ser titular de benefício previdenciário ou assistencial, beneficiário do seguro-desemprego ou de programa de transferência de renda federal ou estadual, ressalvado o Bolsa-Família”. Também não pode ter renda individual superior a meio salário mínimo ou familiar total superior a três salários mínimos. A ajuda financeira também limita a R$ 100 o auxílio por família.
“Não temos um presidente, temos um criador de instabilidade” Disse a cantora Zélia Duncan em sua conta no Twitter após as ameaças do presidente Jair Bolsonaro de demitir seu ministro da saúde no meio da pandemia causada pelo coronavírus
Fake news insistem sempre, conhecimento resiste
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Como e quem pode receber o auxílio de R$ 600 Redação Um dia após o lançamento de site e aplicativo para o recebimento do auxílio de R$ 600 para informais e população de baixa renda, mais de 23 milhões de pessoas já haviam entrado nas plataformas e feito seus cadastros na Caixa Econômica Federal. Devem se cadastrar microempreendedores individuais (MEIs), trabalhadores informais sem registro e contribuintes individuais
do INSS que não estão inscritos no Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico). Os já inscritos no CadÚnico ou que recebem o Bolsa Família não precisam se inscrever. Para conferir se está inscrito no CadÚnico, o trabalhador pode digitar o número do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) no aplicativo e no site. Como receber? O valor será pago por bancos públicos federais por meio de
uma conta do tipo poupança social digital, aberta automaticamente em nome dos beneficiários, com dispensa da apresentação de documentos e isenção de tarifas de manutenção. A pessoa poderá fazer a transferência eletrônica do dinheiro paras outros bancos sem custos. Para mais informações, acesse https://www.brasildefato.com.br/2020/04/07/ renda-emergencial-site-da-caixa-cadastra-trabalhadores-a-partir-desta-terca
Quem tem direito ao auxílio?
T E
er mais de 18 anos de idade
star desempregado ou exercer a atividade na condição de microempreendedores individuais (MEI), contribuinte individual da Previdência Social ou trabalhador informal
P
N
ão receber benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou de outro programa de transferência de renda federal que não seja o Bolsa Família
N
ão ter recebido rendimentos tributáveis, no ano de 2018, acima de R$ 28.559,70
ertencer à família cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário mínimo (R$ 522,50) ou cuja renda familiar total seja de até 3 salários mínimos (R$ 3.135,00)
Muitos de nós, em algum momento da crise da Covid-19, pensamos estar seguros por sermos jovens. Essa dedução equivocada logo se traduziu em fake news na boca do presidente Jair Bolsonaro para justificar que continuássemos trabalhando. E em razão do difícil acesso à ciência no país, muitos colocaram suas vidas em risco. Mas Atila Iamarino, doutor em Microbiologia pela Universidade de São Paulo, nos alertou nas redes sociais do risco que corremos ao ignorar o conhecimento científico sobre o vírus Sars-CoV-2. Seu vídeo no Youtube foi acessado mais de 5 milhões de vezes e sua entrevista no programa Roda Viva foi o assunto mais comentado do Twitter no mundo. A educação superior pública da qual Atila é fruto – que produz 95% das pesquisas e tem Unicamp, USP e UEL como líderes no ranking de publicações sobre o novo coronavírus no Brasil - é alvo de cortes de bolsas e redução de recursos. Em um momento de grave crise sanitária, é necessário investimentos do Estado em nossas pesquisas, escolas e universidades públicas. Queremos que a vida de todo o povo brasileiro seja valorizada e, para isso, a educação deve ser assunto de jovens, estudantes, cientistas e da sociedade como um todo. Anna Sandri e Letícia Archanjo, militantes do Levante Popular da Juventude
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Organizações populares no Paraná planejam ações emergenciais
Pesquisadores da Federal do Paraná estudam diagnóstico rápido do coronavírus
Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo lançam documento com ações de solidariedade Pedro Carrano
A
s organizações populares do Paraná, as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, partidos de esquerda, movimentos do campo e da cidade reunidos no chamado Comitê Unificado (criado em 2019), centrais sindicais, e mandatos parlamentares reuniram-se para articular ações de solidariedade e a leitura sobre a situação política neste momento. A visualização é de uma crise econômica e sanitária que ainda terá consequências graves e de longo prazo para a classe trabalhadora. O governo Bolsonaro, por sua vez, é classificado como sem qualquer condição de seguir à frente do país neste momento de enfrentamento ao coronavírus, ao não aplicar de forma contundente a política
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A pesquisa acontece no Hospital de Clínicas, a partir de testes já adquiridos pelo Ministério da Saúde Marcos Solivan | UFPR
de isolamento social. Ao lado disso, cobrar do poder público nas três esferas – municipal, estadual e nacional -, medidas de amparo e políticas protetivas aos trabalhadores. Uma carta foi produzida pelo Comitê (confira no site) propondo medidas urgentes na capital e no Paraná. Ações Potencializar as redes de proteção e cuidado com o povo, esse foi um dos principais objetivos da reunião. Organizações, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), têm produzido até 1100 refeições para população em situação de rua, em articulação com entidades que realizam projetos sociais, e com o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR). Divulgação
Foto do início de 2020, em reunião anterior à pandemia de coronavírus
Ana Carolina Caldas
U
m grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) vem se concentrando em estudar os testes para o novo coronavírus. O objetivo é oferecer meios para diagnóstico mais rápido, ainda no começo da internação. A infectologista e professora coordenadora do grupo, Sônia Raboni, explica que “o teste deve ser realizado à beira do leito. Isso ajudará na orientação para onde deve ir o paciente, se para UTI, enfermaria ou retorno para isolamento em casa.” A proposta é fazer validação dos testes de diagnóstico rápido, a partir dos que já foram adquiridos pelo Ministério da Saúde e Hospital de Clínicas. No momento, o hospital utiliza para o diagnóstico da infecção o método molecular, quando se coleta o
material do paciente internado com suspeita da doença. A amostra, então, é levada e analisada no Laboratório de Virologia de Biologia Molecular para a identificação do vírus. Essa é uma técnica que demanda mais tempo para a sua execução. A pesquisa busca avaliar o desempenho de testes mais rápidos, comparando os resultados aos obtidos com a análise molecular. A intenção da pesquisa é saber mais sobre a dinâmica de produção dos anticorpos e avaliar o momento ideal para sua aplicação, visando melhoria do diagnóstico. Participam do estudo infectologistas do Complexo Hospital de Clínicas (CHC), da UFPR, a equipe responsável pelas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) do HC e estudantes dos cursos de Medicina e Farmácia da Universidade.
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“Gás de cozinha devia ser distribuído de graça” Presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro), Mário Dal Zott, critica os preços do botijão de gás, apontando o risco de faltar estoque. A Petrobras poderia neste momento ter outro tipo de política, voltada à população Giorgia Prates
Redação Nos bairros muitas vezes há falta de botijões, concentração e preços altos. Por quê? A Petrobras está abrindo uma caixinha de maldade, com medidas de exceção, mexendo com jornada de trabalho, transferindo a conta para os seus trabalhadores. O parque de refino nacional é reduzido por uma irresponsabilidade social da empresa. Agora seria hora de a Petrobras demonstrar a sua responsabilidade. Ela está com os tanques cheios de diesel e gasolina e vazio de gás de cozinha. Por um lado, é sinal que o pessoal está ficando em casa. Estamos com os estoques vazios de gás de cozinha e cheios de diesel e gasolina. Para você obter gás de cozinha, tem que tirar os outros derivados de petróleo, por isso aumentou a importação do gás. Estamos questionando Petrobras e governo: ao mesmo tempo que não vende, mantém mercado para importadoras, e vem diesel importado dos Estados Unidos. Falta neste momento uma política social e de produção interna? Se ela tivesse uma po-
lítica para ajudar a população, teria que disponibilizar de graça combustível para levar medicamentos para a população brasileira, gasolina para viaturas de ambulâncias e defesa civil. Mas a
preocupação está em ajudar os importadores, manter esse mercado e rentabilidade. Não será estranho se parar refinarias, os estoques estão no talo. Neste momento, para manter o povo em casa, o gás de cozinha deveria ser distribuído de graça. O Ministério Público de São Paulo entrou com investigação sobre os preços do gás, que saem a R$ 25 da refinaria e são vendido a até R$120. Está saindo R$ 25 e está saindo caro, os MPs de todos os estados deveriam investigar isso, distribuidoras aproveitando o momento de alta demanda para subir o preço, uma sacanagem com a população. O que significa para a Petrobras o gás de cozinha? Muito pouco para a rentabilidade dela. A Petrobras teria papel importante neste momento, se fosse conduzida de outra forma estatal, mas sabemos que é o mercado que manda nela. Nosso “presidente” é um boneco, não manda nada. Com uma canetada poderia incentivar isso, e a Petrobras não parar atividades. Primeiro passo é cortar importação e reduzir o preço dos combustíveis.
Coletivos fazem campanha para levar doações a populações vulneráveis Campanha “1milhãode1real” lança site para que cada um possa contribuir como puder Divulgação
Frédi Vasconcelos
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ários coletivos reuniram-se e lançaram a campanha ““1milhãode1real” para arrecadar recursos e comprar alimentos, produtos de limpeza e outras necessidades das populações vulneráveis em Curitiba, Região Metropolitana, Litoral e povos indígenas do Paraná. O site da campanha foi lançado nesta semana e permite que sejam feitas doações por vários meios. Em entrevista ao programa “Brasil de Fato 11h30”, na terça-feira, 7, a ativista social e ambiental e membro do coletivo Pare e Preste Atenção, Daniela Borges, explicou que a campanha surgiu da ideia de que cada um pode praticar mais a doação. “Um real é uma coisa tão sin-
gela, mas se a gente conseguir juntar 1 milhão de 1 real podemos ajudar tantas pessoas. E estamos também num projeto de mapeamento das populações que estão mais vulneráveis, quem está mais desatendido neste momento”, disse. O foco prioritário é repassar doações para populações em situação de rua, ocupações por moradia, comunidades periféricas, povos indígenas, catadores e catadoras de materiais recicláveis e artistas de rua em situação de urgência. No site, há várias formas de doação, por transferência bancária ou plataformas como PayPal. A doação mínima é de R$1, mas cada um pode contribuir com o valor que quiser. Para mais informações, acesse o site http://1milhaode1real. com.br/
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Paraná, 9 a 15 de abril de 2020 PUBLICIDADE
Para sindicato, estudantes carentes não conseguirão acompanhar ensino a distância APP Sindicato defende a imediata suspensão do calendário escolar no Paraná Ana Carolina Caldas
P
or iniciativa do governo do estado, o Conselho Estadual de Educação do Paraná (CEE-PR) aprovou, no fim de março, deliberação que autoriza escolas estaduais, municipais e particulares ofertar a modalidade de ensino a distância (EaD) durante a pandemia do coronavírus. A APP-Sindicato, entidade que representa os professores da rede estadual, votou contra a proposta. Para Taís Mendes, secretária de assuntos educacionais da APP-Sindicato, “As famílias, em sua maioria, não têm condições e estrutura para acompanhar os filhos.” E o estado, “não tem como garantir o acesso e a qualidade pedagógica para todos da mesma maneira’’, afirmou. Taís é representante do sindicato no conselho e declarou em seu voto que, “apesar de a legislação educacional permitir o EaD, as escolas não estão preparadas para essa ferramenta de ensino’’. A dirigente ainda afirmou que os estudantes extremamente carentes não terão
acesso aos conteúdos que as atividades não presenciais exigem. Dificuldade de acesso Um em cada três estudantes que tentaram vaga no curso superior nos últimos cinco anos por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não tem acesso à internet e a dispositivos como computador ou celular. Os dados são da plataforma Quero Bolsa, criada para estudantes buscarem auxílio e descontos para inscrição em faculdades particulares. Os números apontam para os prejuízos que a implantação dessa modalidade oferece para o ensino público. Andréa Cordeiro, profes-
sora no Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz ser entusiasta do uso das ferramentas tecnológicas na educação. Porém, como mãe de uma criança de 10 anos que estuda em escola particular, tem observado que existem muitas dificuldades para isso acontecer com qualidade. “Nós temos em casa toda a estrutura necessária, mesmo assim tenho sentido dificuldades. Imagina isso na rede estadual de ensino, que é diversa em sua realidade. Como a gente consegue fazer isso diante de tantas desigualdades de possibilidades de acesso e verdadeiro aprendizado?”, questiona. Giorgia Prates
RESPOSTA DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO
PARA DEPUTADO, “PROPOSTA É UM DESASTRE”
“A proposta de aulas a distância pela Secretaria da Educação foi a alternativa encontrada para evitar que os cerca de 1 milhão de alunos da rede estadual tenha seu processo de ensino e aprendizagem prejudicado por conta da pandemia do coronavírus. As escolas serão reabertas quando a situação for considerada segura. As aulas são transmitidas pela tevê aberta, YouTube e, em breve, via aplicativo Aula Paraná, ferramenta em fase de finalização. O aplicativo não vai consumir dados dos estudantes durante sua utilização. A presença será computada com base na entrega de atividades, que deve ser, preferencialmente, online. Estudantes que não têm acesso à Internet poderão entregar as atividades em papel nos seus colégios quinzenalmente, nos mesmos dias de entrega dos kits com alimentos da merenda, destinados a estudantes beneficiários do Bolsa Família, ou até sete dias depois que as aulas voltarem à normalidade”.
Durante sessão virtual da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), o líder da oposição, deputado estadual Tadeu Veneri (PT), qualificou a proposta de aulas a distância, neste momento, como absurda. “É um desastre. É a proposta mais absurda que ouvi nestes vinte anos. No interior, por exemplo, muitas pessoas não têm internet. A intenção pode ser boa. Mas, entre a intenção e a ação, há um espaço imenso,” disse. O deputado chegou a implorar que o Ministério Público interviesse. “Eu peço que os vereadores façam esse pedido para o MP, em suas cidades. Não há como fazer o acompanhamento dos alunos com qualidade, está gerando pânico nas famílias que perdem o conteúdo e começam a ligar para os professores.”
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Policiais Antifascismo denunciam coronel por contrariar medidas de prevenção Comandante da PM em Curitiba estaria fazendo reuniões em lugares fechados Divulgação
Lia Bianchini
E
m 3 de abril, o movimento Policiais Antifascismo do Paraná divulgou nota pública denunciando ações do coronel Hudson Teixeira que, segundo eles, violam medidas de segurança para prevenir que policiais sejam infectados pelo coronavírus. Comandante do 1º Comando Regional de Polícia Militar (CRPM), o coronel tem a função de coordenar o policiamento da cidade de Curitiba. De acordo com a denúncia, Teixeira “tem organizado reuniões com a tropa em anfiteatros e salas fechadas, contrariando as determinações dos governos federal e estadual, colocando os policiais militares em maior risco do que suas funções já exigem e também colocando os familiares dos policiais em um risco desnecessário”. Em entrevista ao programa “Brasil de Fato Onze e Meia”, o policial militar aposentado Martel Alexandre Del Colle (foto),
coordenador estadual do Policiais Antifascismo, informou que existem outras denúncias, de que o coronel tem aumentado o efetivo dentro das viaturas. A orientação de segurança é que cada viatura tenha apenas um policial. O coronel estaria escalando até quatro policiais em cada uma delas. “Se isso está acontecendo é muito grave porque temos um oficial descumprindo ordens de todos os seus superiores, como o governador e o governo federal. É preocupante”, afirmou Del Colle. O movimento Policiais Antifascismo pede a imediata investigação das denúncias e, caso sejam comprovadas, o afastamento do coronel e sua responsabilização por colocar a tropa em risco. O Brasil de Fato Paraná entrou e contato como a Polícia Militar para ouvir sua versão, e até o fechamento desta edição não obteve resposta. Caso respondam, sua versão será acrescentada à matéria no site www.brasildefatopr.com.br.
Entidades pedem ampliação de programas de aquisição de alimentos durante pandemia Iniciativa visa a atender famílias em situação de vulnerabilidade Lia Bianchini
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o final de março, o Senado Federal aprovou projeto de lei que garante a entrega de alimentos da merenda escolar, adquiridos via Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), durante a pandemia de coronavírus. Na justificativa do PL, afirma-se que “estados e municípios deverão garantir a manutenção de alimentos de forma a assegurar o direito humano à alimentação adequada e saudável mesmo fora do ambiente escolar”. Votado em caráter de urgência, o PL ainda não foi
sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. Entidades têm reivindicado que, além da manutenção do PNAE, o governo invista em uma compra emergencial de alimentos, ampliando a quantidade já prevista. Orientam, ainda, que sejam priorizados produtos da agricultura familiar, em vez de alimentos industrializados. “A merenda escolar não supre a quantidade de famílias que necessita. E quem a merenda não consegue atender, vai receber de onde? Não vai receber porque não tem de onde tirar”, diz Aline Pasda, presidente da Cooperativa de Agudos do Sul (Copasol-Sul).
A Copasol-Sul é uma das cooperativas inseridas no PNAE. A presidente explica que cada cooperativa entrega alimentos específicos para a merenda escolar. A Copasol-Sul, por exemplo, faz polpas de frutas e sucos. Pasda defende que o governo invista numa compra emergencial para ampliar essa demanda de alimentos. “Tem famílias que já estão em estado de vulnerabilidade, mas tem famílias que estão entrando por causa da pandemia. O que elas precisam é batata, feijão, carne. O suco é saudável, sim, mas a gente precisa ser realista”, diz a presidente.
Julio Carignano
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Artistas de rua, em tempos de isolamento social, dependem de doações para sobreviver Divulgação
Ana Carolina Caldas Um artista que trabalha nas ruas depende todos os dias do público e também do que é pago por quem gosta do que assiste. Em tempos de pandemia do coronavírus, com as recomendações de não aglomeração e isolamento social, esses trabalhadores da cultura foram os primeiros a sentir as dificuldades financeiras. Daí, Leonides Carlos Taborda Quadra, o palhaço Tico Bonito, de Cascavel, resolveu agir para que essa realidade ficasse um pouco menos difícil. “Tem muito artista que trabalha hoje para comer hoje. Não conseguimos passar o chapéu e ganhar para passar o mês. É no máximo para comida de amanhã”, conta Tico. Conhecendo bem a realidade dos artistas de rua, ele
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DICAS MASTIGADAS Geleia de caqui Por Juliana Maria
A cada semana, publicamos aqui receitas enviadas por consumidores de produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 6 caquis orgânicos maduros 1 xícara de açúcar mascavo 1/2 xícara de água Raspas de limão
entrou em contato com a Secretaria Municipal de Cultura de Cascavel e pediu que alguma ação fosse feita para garantir a sobrevivência desses artistas. A prefeitura, então, distribuiu cestas básicas para os artistas que trabalham na rua. Tico conta que a ideia acabou sendo divulgada também para os artistas de rua de Curitiba, que tentam fazer o exemplo de Cascavel ser seguido. “A Fundação
Cultural de Curitiba iniciou cadastramento com cerca de trinta artistas. Mas ainda ficaram faltando muitos outros, e a entidade não garantiu”, conta.
Modo de preparo Descascar os caquis e peneirar. Levar ao fogo médio com o açúcar e água. Ficar mexendo. Deixar ferver por uns 5 minutos ou até perceber que está cremoso. Acrescentar as raspas de limão. Guardar em vidro que foi esterilizado em água fervente. Uma delícia para acompanhar bolos, pães, bolachinhas. Reprodução
Para interessados em ajudar artistas de rua do Paraná, é possível entrar em contato pelo número: (45) 99947-9130
NINGUÉM PERDE A LIVE DE NINGUÉM Acompanhe a programação da Quarentena Cultural. Acesse a programação pelo Instagram no perfil @itupava1299 e curta shows de diversos artistas. Para entrar nessa rede colaborativa e doar recursos para a manutenção dos artistas, acesse: catarse.me/quarentenacultural 11 de abril • Música: Luana Godin/17h • Música: arthur vog/17h30 • Música: Caio Borges/18h 12 de abril • Música: Imperador Sem Teto/17h • Música: Lari Pulcherio/17h30 13 de abril • Música: Anacrônica/20h • Música: Ximu/ 20h30 14 de abril • Circo: Biaflora/ 16h30 • Música: Eugênio Fim/17h
15 de abril • Música: Yan Lemos/20h • Teatro: Guilherme Muniz/ 20h30 16 de abril • Performance: Eduardo Ramos/17h • Música: Giovani Caruso & Maria Paraguaya/ 17:30 17 de abril • Teatro: Gilca Rigoti/ 17h30 18 de abril • Música: Flávia Sebas/ 17h • Música: Felipe Brasil/ 17h30 • Música: Kaluan/18h
Reprodução