Brasil de Fato Paraná - Edição 167

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Cultura sem público

Divulgação

Cultura | p. 8

Paraná | p. 4

Arte na periferia

Entrevista com a atriz Nena Inoue descreve situação do setor

O ativista Renato Freitas fala do difícil diálogo nestes tempos

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PARANÁ

Ano 4

Edição 167

21 a 27 de maio de 2020

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

A batalha pela vida em Curitiba

Solidariedade urgente Cai arrecadação de campanhas. Doações seguem necessárias Cidades | p. 7

A ação dos profissionais da saúde pelas lentes de Giorgia Prates Paraná | p. 5 Giorgia Prates

Giorgia Prates

Opinião | p. 2

Brasil | p. Cidades | p.66

Editorial | p. 2

João Pedro assassinado

Milhões para donos de ônibus

O povo desrespeitado

Ex-secretário fala sobre execução de jovem pela polícia do Rio

Ministério Público questiona Greca, e repasse a empresas é adiado

Um governo incompetente, criado com fake news e irregularidades


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 21 a 27 de maio de 2020

Um governo que não respeita o povo EDITORIAL

C

hegamos a uma catástrofe social e sanitária no Brasil. Às mais de 270 mil pessoas infectadas pelo Covid-19 somam-se também os escândalos envolvendo corrupção, relação com milícias e o despreparo do governo de Jair Bolsonaro. A recente entrevista do empresário Paulo Marinho sugeriu que a Polícia Federal vazou informações sobre o caso Queiroz a Flávio Bolsonaro, em 2018, e atrasou as investigações para proteger a candidatura de Bolsonaro à Presidência. Este é o caminho até aqui de um governo baseado em mentiras e acordos em benefício próprio. Os problemas começaram com o golpe contra Dilma Rousseff (2016), pas-

sando pela prisão sem justificativas de Lula (que assumia a liderança nas pesquisas de intenção de voto). Acrescente-se a máquina de disparos das chamadas “fake news” para confundir a população. As ameaças à democracia crescem, com manifestações pedindo o fechamento do Congresso e do STF, apoiadas por Bolsonaro. Ele e seu grupo no poder são autoritários, desprezam o povo brasileiro, que tem em negros e negras, indígenas e trabalhadores os mais afetados pela pandemia, a quem a Presidência nem mesmo prestou luto, seja pela morte de cerca de 18 mil pessoas, seja por execuções policiais de natureza racista, como a que vitimou o jovem João Pedro Matos.

SEMANA

Brasil de Fato PR

João Pedro, 13 anos, estupidamente assassinado OPINIÃO

Luiz Eduardo Soares,

atuou como Secretário Nacional de Segurança Pública e Coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro

J

oão Pedro Mattos Pinto, 13 anos, estupidamente assassinado por policiais dentro de casa, brincando em família. Uma criança saiu da casa quando alguns tiros foram ouvidos, para avisar: “aqui só tem criança”. Policiais, diante disso, tomaram a casa por alvo. Lançaram uma bomba de efeito moral ao interior e invadiram a residência atirando. Onde no mundo se age assim? Qual gatilho mental dispara essa insanidade homicida? Que cálculo justificaria invadir uma casa, atirando? Alguém com um mínimo de bom senso, um mínimo de equilíbrio, poderia admitir uma ação assim covarde, tão absolutamente perversa? Não, não se trata de policiais individualmente perturbados, desqualificados. Não, de modo algum, se fossem casos patológicos os episódios dantescos não se repetiriam com tanta frequência. Eles seguem um padrão. Ano passado, 1.810 pessoas foram mortas por ações policiais no estado do Rio. Em 2020, os números continuam a aumentar. Vejam onde eles sempre acontecem. Vejam a cor das vítimas, onde

elas moram. Se não estamos diante de uma guerra aos pobres e aos negros, se esse banho de sangue, crescente ao longo dos anos, não é um genocídio, o que é, então? Pois eu lhes digo e desafio quem possa apresentar outra explicação, e lamento ter de dizê-lo de forma assim direta e até grosseira: o que está em curso é a história da escravidão escrita na pele dos negros e das negras, reescrita, reinscrita em seus corpos, para que não se esqueçam, para que não se esqueçam de seu lugar subalterno e não ponham a cabeça para fora, porque aqui impera o domínio branco e burguês. Eis aí o endereçamento da abjeção. E fiquem cientes: se não havia antes consciência suficiente sobre esse fenômeno que nos define como a sociedade-da-violência, vem aí (ei-lo aí, já, no meio de nós) o fascismo para que não paire mais nenhuma dúvida.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 167 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Luiz Eduardo Soares, Anna Sandri e Letícia Freitas ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 21 a 27 de maio de 2020

Geral | 3

COLUNA DA

FRASE DA SEMANA

Base de Greca aprova urgência na votação de empréstimo de R$ 60 milhões para asfalto A Câmara de Curitiba aprovou no dia 19 (terça) um requerimento de regime de urgência proposto pela base do prefeito Rafael Greca (DEM) que acelera a tramitação da votação de um empréstimo de R$ 60 milhões junto ao Banco do Brasil para novas obras de asfaltamento em Curitiba. Os debates foram marcados pelas críticas da bancada de oposição, que questionou as prioridades do prefeito durante a crise sanitária do coronavírus. A líder da oposição, vereadora Noemia Rocha (MDB), indagou a “urgência” de um projeto para asfaltar ruas em ano eleitoral. Ao falar sobre prioridades, ela recordou que outros projetos de lei que tinham como foco a pandemia não tiveram seu trâmite acelerado. O vereador Professor Euler (PSD) recordou que a Câmara de Curitiba já autorizou mais de R$ 1 bilhão em empréstimo para obras de pavimentação na cidade. O pedido não foi acatado pela maioria e, depois de um longo debate, o requerimento de regime de urgência recebeu 29 votos favoráveis e 8 contrários. Com isso, o empréstimo deve ser incluído na pauta de votações da próxima segunda-feira (25).

JUVENTUDE

“Fascismo não é ameaça, é fato”

Que solidariedade é essa?

Disse o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) em entrevista no programa “Painel Haddad”, no YouTube. Para ele, com o governo Jair Bolsonaro, o país passa pelo “pior momento da República brasileira”... Existe um governo fascista, um projeto fascista, e que num momento de pandemia significa a morte de milhares de pessoas”, afirma.

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RADAR DA LUTA

Por Frédi Vanconcelos

Bolsonaro péssimo e ruim Pesquisa XP Ipespe, divulgada na quarta-feira, 20, mostrou que pela primeira vez metade da população brasileira, 50%, considera o governo Jair Bolsonaro ruim ou péssimo. Para 23% é regular. Para 25% é ótimo/bom.

Popularidade no pé

Enem adiado Após pressão de estudantes, entidades e profissionais da educação, o governo anunciou o adiamento do Enem por 30 a 60 dias. Na terça, 19, o Senado aprovou a medida com o voto de praticamente todos os senadores. O único contrário foi Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Mesmo com anúncio do Ministério da Educação, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, exigiu que o presidente dê garantias da prorrogação, senão a Câmara vai votar medida que obriga o adiamento.

Encomendada pela XP Investimentos, empresa do sistema financeiro, o estudo vem sendo feito desde maio de 2018, ainda no governo Temer, que chegou a ter o recorde de 78% de ruim ou péssimo. Bolsonaro ainda não chegou lá, mas viu subir de 20% para 50% os que reprovam seu governo em pouco mais de um ano de mandato.

O pior ainda está por vir

O gato subiu no telhado

Em relação à pandemia, para 68% dos entrevistados o pior ainda está por vir. Apenas 22% avaliam que o pior já passou. E, ao contrário do presidente, 76% defendem o isolamento social como a melhor medida para frear a infecção. Para 14% o isolamento está sendo exagerado.

O mesmo Rodrigo Maia anunciou a formação de um grupo de estudo no Congresso Nacional para analisar o adiamento das eleições municipais de 2020. Por enquanto, segundo ele, a ideia é adiar de outubro para dezembro, sem ampliar o mandato dos atuais prefeitos e vereadores.

“Algumas vezes a transformamos [solidariedade] em um palavrão, que não se pode dizer.” A frase é do Papa Francisco em 2014. Mas após a chegada da Covid 19 ao Brasil, todos os dias nos deparamos com a palavra solidariedade. A palavra que ora é escondida, agora é banalizada nos noticiários com objetivo de distorcer seu significado. No entanto, a solidariedade está viva em nós e em nossa memória enquanto valor e prática, que marca momentos históricos na América Latina, como os processos revolucionários em Cuba, Nicarágua e Venezuela. Nossa solidariedade diz respeito à partilha do conhecimento até a partilha da terra e do alimento. A fome e a doença, consequências da soma da pandemia à falta de estrutura, se alastra pelas periferias do Brasil. E é no terreno fértil da solidariedade que semeamos a organização popular como saída para frutificar novas formas de relações, que sejam mais justas e levem em conta a vida de todos. Nomeada de campanha Periferia Viva, as ações de solidariedade acontecem nas cidades de Irati, Londrina, Curitiba, Francisco Beltrão e Foz do Iguaçu. Contribua com a construção da campanha! Entre em contato com a página do Levante PR no Facebook. Anna Sandri, advogada, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular Letícia Freitas, militante do Levante Popular da Juventude e estudante de Ciências Sociais


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Paraná, 21 a 27 de maio de 2020

“A gente ainda está em vias de construir um modelo alternativo de cultura” Renato Almeida de Freitas aponta desafios do trabalho cultural na periferia em tempos de pandemia Redação Paraná

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dvogado popular, promotor cultural em áreas de periferia, militante político e social, Renato Almeida de Freitas, analisa que, neste momento, marcado pela crise econômica e ausência de infraestrutura, o desafio é pensar uma produção cultural de acordo com a necessidade da população da periferia. Confira os principais trechos da conversa com Renato, durante o programa Brasil de Fato Onze e Meia.

Cultura das periferias “Por que a cultura é tão desvalorizada no Brasil e nas periferias? Eu mesmo quando tive contato, lá no início dos anos 90 com o rap nacional, com os Racionais, quando tinha 12, 13 anos, e desde então nunca vi o rap, e hoje com o funk, ser visto como cultura. Isso é uma expressão da periferia, que ficava confinada, não tocava nas rádios, não aparecia na TV, e que era dita a música dos “mano”. Havia uma criminalização muito grande do rap na época, nunca era visto como cultura, nesse patamar em que se colocam as apresentações artísticas, nessa gaveta nobre. E o resto do consumo cultural das periferias que, tradicionalmente, se dá pelas novelas, pelos filmes da “Tela Quente”, pelos programas de domingo, “Gugu”, “Faustão”, não estão ali para fazer ninguém refletir (...) As pessoas acham que aquilo é cultura e a outra cultura não tem valor. E as pessoas acabam não lendo um livro, indo a um teatro, não valorizando as expressões culturais do seu bairro, da sua comunidade, justamente porque elas são desvalorizadas”.

Desigualdade e racismo

O péssimo exemplo de Bolsonaro

“E a gente tem uma grande dificuldade para construir cultura num momento de pandemia porque este momento é sobretudo um momento de crise financeira. A realidade é que é primeiro uma crise de saúde, e em segundo plano uma crise financeira decorrente dessa crise de saúde, que o nosso governo não tem o comprometimento de encontrar soluções. E a gente já percebeu que o vírus afeta mais as pessoas da classe mais baixa, há uma questão de classe, as pessoas pobres vão morrer mais. Como já era de se esperar, por isso está lá em Manaus, está lá no Ceará, nas periferias dos centros urbanos absolutamente desiguais no Brasil. Em São Paulo o bairro da Brasilândia, que já estive lá, é um dos bairros em que mais está tendo morte pelo Covid-19. Depois da pobreza tem também o recorte racial, há a população indígena no Amazonas, a população negra nas periferias do Rio Janeiro e São Paulo, que são muito grandes. Então algumas pessoas em específico é que vão morrer”.

“Na periferia, as pessoas não estão levando a sério porque há uma guerra de narrativas, aqui onde a gente tem trabalho, na Vila Leonice, no Cachoeira, em Tamandaré, no Graziele, ou mesmo em Colombo ou no Bairro Alto, no Atuba, tenho dado um ‘rolê’ pela região, a gente faz campanha de arrecadação de alimentos, e nessa campanha tem o prazer de chegar nas pessoas, nas casas, e entregar as cestas básicas, mas também tem uma conversa para mostrar a gravidade do assunto, do vírus, do potencial de contágio (…) Então você vê que o senso que a gente tem sobre a doença não é o mesmo deles. Daí você vai conversar e eles dizem, ‘mas o presidente falou isso’, não sei quem falou aquilo. Ah, ‘a Globo mente’, Sim a Globo mente há muito tempo no Brasil, então se tornou portadora de uma verdade duvidosa. E construir cultura num ambiente desses que já começa a se tornar insalubre porque o risco de contágio é muito alto, é uma das tarefas mais difíceis”

Desafios para uma cultura popular “E a proposta que está tendo é de construir cultura em ambientes virtuais, mas essa não é uma proposta popular. As pessoas já não têm hábito de consumir cultura, de interagir com quem produz cultura nem quando as pessoas vão aos bairros delas, na internet é mais difícil. Para esses ‘streamings’ tem de ter uma internet boa, um computador bom, um ambiente sem ruídos em casa. Isso se torna, infelizmente, uma proposta para a classe média. A gente ainda está em vias de construir um modelo alternativo de cultura nestes tempos de pandemia que se preocupe com a segurança, mas também esteja no bairro. Esse é um grande desafio”. Giorgia Prates


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Paraná, 21 a 27 de maio de 2020

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Na luta pela vida No momento em que o Brasil ultrapassa mil mortes por dia por coronavírus, a fotojornalista Giorgia Prates, da redação do Brasil de Fato Paraná, aponta suas lentes e ouve profissionais que estão todos os dias na linha de frente da batalha pela vida Giorgia Prates, texto e fotos

“Pra nós, da área da saúde, para pegarmos Covid-19 é muito mais difícil. Me sinto seguro trabalhando aqui no HT por conta dos equipamentos e treinamentos de segurança. Estou muito mais protegido aqui dentro do que as pessoas nas ruas, nos ônibus.. lá fora.”

“É um privilégio estar aqui. Amo o que eu faço, a minha área é a enfermagem, uma área que eu escolhi por amor então, pra mim, eu sou muito feliz no que eu faço.” “A recomendação, o fluxo do estado é pela Unidade de Saúde, no pronto atendimento da UPA. A própria UPA vai direcionar se a pessoa vai pro HC, pro Hospital do Trabalhador ou se vai fazer o isolamento em casa.”

“Na UTI Covid-III, temos 5 pacientes positivos pra Covid-19. Na UTI Covid-IV, muitos outros pacientes, nem todos com coronavírus, mas todos eles muito graves.” “A gente está fazendo o nosso melhor diariamente. Alguns pacientes estão saindo de alta. mas todos os dias estão chegando novos pacientes.”

“Não temos a possibilidade de permitir a entrada dos familiares na UTI. Esse dia a dia em que a gente dá a notícia, por telefone, para nós, como equipe, também é muito angustiante. Muitas vezes as notícias são bem difíceis.”

Observação: o nome das pessoas ouvidas foi preservado para que não haja nenhum tipo de constrangimento. As fotos e os depoimentos foram feitos adotando todos os cuidados com a utilização de máscaras e equipamentos de proteção para não colocar em risco a vida de Giorgia ou dos profissionais do sistema se saúde.


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Paraná, 21 a 27 de maio de 2020 PUBLICIDADE

Ministério Público questiona Prefeitura sobre repasse de milhões a empresários de transporte Greca terá de responder por que deu dinheiro a empresas em lugar de combater pandemia diretamente Ana Carolina Caldas

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or enquanto, o prefeito Rafael Greca não poderá autorizar o repasse de milhões para empresários do transporte coletivo. Isso acontece porque o Ministério Público do Paraná (MPPR) abriu investigação para apurar irregularidades nos repasses. Segundo a promotoria, o objetivo é fazer com que o prefeito explique a lei 15.637/2020, proposta por ele e aprovada recentemente pela Câmara Municipal, que permitiria repasse de até R$ 200 milhões a empresas e seus donos. A investigação responde a denúncia feita pelo diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná, Senge, Luiz Henrique Calhau, e pelo integrante do Fórum Popular do Transporte Coletivo, Lafaiete Neves. A denúncia traz a falta de informações do projeto quanto à destinação dos recursos, bem como considera a transferência indevida, pois tais valores deviam ser utilizados de forma direta no combate à

pandemia do coronavírus pela prefeitura. A promotora Luciane Evelyn Cleto Melluso de Freitas deu um prazo de dez dias para que a Prefeitura preste informações claras sobre várias questões, como se chegou ao valor do repasse, para quais serviços do transporte coletivo seria utilizado o recurso, a discriminação das dotações orçamentárias a serem remanejadas, entre outras. Além da Prefeitura de Curitiba, também a URBS, responsável pelo gerenciamento do serviço, deverá prestar informações a respeito do projeto, em especial de que forma será feita a fiscalização do dinheiro aplicado, Para Lafaiete Neves, a ação do MPPR é de extrema importância para dar transparência que o prefeito não deu. “A promotora faz questionamentos que já deveriam ter sido incluídos no projeto, como de onde sairá o dinheiro”, diz Lafaiete. O repasse está suspenso até que todas as informações sejam prestadas ao MPPR.

JUSTIÇA

Sindicatos pedem decisão liminar Os sindicatos que compõem a Plenária Popular do Transporte entraram com ação com pedido de liminar no Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) para obrigar a Prefeitura de Curitiba a suspender o repasse de recursos públicos para empresas de ônibus da capital. É solicitada a intervenção do TCE-PR “para que se evite prejuízo fiscal nas contas do município”. As entidades pedem ainda que Rafael Greca seja intimado a se manifestar sobre irregularidades apresentadas na denúncia dentro de 15 dias. O pedido requer ainda que os repasses feitos com base na Lei n° 15.627/2020 sejam declarados ilegais, e a aplicação de multas em caso de descumprimento. (com informações do Senge-PR).

Colégio Estadual João Bettega sofre roubo do quadro de luz Problema dificulta as ações de solidariedade e distribuição de cestas que ocorrem no local Pedro Carrano

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esta semana, ocorreu roubo da caixa de luz do colégio estadual João Bettega, no bairro Novo Mundo, que recebe alunos de, no mínimo, cinco comunidades da região. As associações de moradores locais, ao lado da direção

do colégio, neste momento aguardam resposta do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar) para restabelecer a iluminação no local. Em tempos de isolamento social, o colégio segue distribuindo, em todas as quartas-feiras, cestas básicas para estudantes com

famílias cadastradas no programa Bolsa-Família. Sem luminosidade, o trabalho está dificultado. “Caso não venha a resposta, vamos acionar o Ministério Público, enviar um ofício das cinco associações de moradores da região. Sem luz não podemos ficar, de jeito nenhum. Se

acontecesse de a aula ter de voltar, neste momento não teria como”, protesta Fabrício Rodrigues, presidente da associação de moradores amigos das Vilas Maria e Uberlândia. Por sua vez, Claudete da Silva, presidenta da associação de moradores da Vila Leão, uma das cinco

da região, conta que a sede da associação também teve fiação elétrica roubada na mesma semana. Sintoma forte de piora das condições de vida da população. “Mas vamos receber de forma solidária outros materiais. Porque estamos sem luz”, afirma Claudete.


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Paraná, 21 a 27 de maio de 2020

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Volume de doações para campanhas de solidariedade diminui

Pandemia pode causar danos à saúde mental

Com imprevisibilidade de fim da pandemia, solidariedade é cada vez mais necessária Lia Bianchini

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esde o início da atual pandemia, movimentos e entidades articulam campanhas de doações a populações vulneráveis. No Paraná, pouco mais de dois meses após o início de campanhas, as organizações percebem diminuição preocupante na arrecadação. “Manter uma campanha permanente é muito difícil. No primeiro mês, a gente teve doações bem expressivas, quando entrou no segundo, já caiu 70%”, conta Líbina da Silva Rocha, do Instituto Democracia Popular (IDP). Assim como o IDP, outros movimentos de Curitiba têm contabilizado quedas na arrecadação. A campanha 1 Milhão de 1 Real, por exemplo, conseguiu arrecadar cerca de R$ 25 mil nas duas primeiras semanas. Agora, as doa-

ções estão menos expressivas. Para Daniela Borges, do coletivo que organiza a campanha, o governo estimulando o fim do isolamento social contribui para que a situação de vulnerabilidade agravada pela pandemia fique invisível. “As pessoas têm uma sensação de que as coisas não estão acontecendo, mas a situação está piorando, as demandas estão chegando mais do que antes e as doações diminuíram”, diz. Atuando em parceria com a campanha 1 Milhão de 1 Real, a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), no início de sua campanha recebia de 15 a 25 cestas básicas diariamente. Em maio, chegam de 2 a 4 cestas. A demanda por ajuda, no entanto, só aumenta. “Nós atendemos 1.200 pessoas. Temos uma lista com quase o dobro disso para entregar. As pessoas continuam li-

gando e reafirmando que não tiveram acesso ao auxílio emergencial, que não têm acesso à cesta básica do governo estadual”, explica Léo Ribas, da LBL. A situação está crítica também para a campanha do mandato coletivo Ekoa, que arrecada para a aldeia urbana Kakané Porã, de Curitiba. As doações no ponto de coleta fixo têm sido pequenas e o coletivo já teve de usar, antes do previsto, parte da vaquinha virtual para conseguir entregar os alimentos. “Os indígenas se alimentam não só no início da pandemia. Eles precisam no início, no meio e no fim. Nossa ideia é acompanhar eles durante todo esse percurso. Por isso, continuem fazendo doações”, afirma Thiago Bagatin, do Ekoa. Acesse o site do Brasil de Fato Paraná e veja como contribuir com essas campanhas. Giorgia Prates

Pessoas que já vivem em condições precárias são as mais atingidas, avalia professora da UFPR Lia Bianchini

A

lém de milhares de internações e mortes, o coronavírus tem abalado mesmo quem não foi infectado. Medo do contágio, desânimo, angústia, cansaço, sentimento de impotência, insegurança, medo do desemprego, necessidade do isolamento social, dinâmicas familiares conturbadas, a solidão pela falta de contato humano são algumas das reações na pandemia, que podem causar sofrimento psicológico. Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou relatório em que trata a saúde mental como algo “extremamente preocupante” e os serviços de saúde mental como “parte essencial de todas as respostas do governo à Covid-19. Eles devem ser expandidos e totalmente financiados”. Assim como a pandemia da Covid-19 tem atingido de formas mais graves as populações empobrecidas, estima-se que os danos psicológicos neste momento também sejam mais sentidos nessa camada da população. “A desigualdade e a pobreza não são produzidas pelo vírus, mas pioram as condições de saúde mental. Neste momento se produz ainda mais sofrimento para pessoas que estão vivendo condições de maior vulnerabilidade, de maior pobreza e com trabalho mais precário”, explica Melissa Rodrigues de Almeida, professora do departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para a professora, o momento atual é de “olhar para as necessidades subjetivas e acolher as pessoas em sofrimento nas suas diversas necessidades”. Ela aponta o Sistema Único de Saúde (SUS) e suas equipes multidisciplinares com profissionais da saúde mental como parte fundamental do processo de superação do “trauma psicossocial” trazido pela pandemia.


Brasil de Fato PR 8 | Cultura

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Paraná, 21 a 27 de maio de 2020

“Fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a retornar”, diz atriz Nena Inoue Epidemia paralisa atividades artísticas e dificulta sobrevivência de artistas Ana Carolina Caldas Os trabalhadores da cultura são uma das categorias profissionais mais prejudicadas com a pandemia do coronavírus. Como bem disse o humorista Gregório Duvivier, “artistas são aglomeradores.” Ou seja, as atividades culturais precisam de público. Sobre esse tema, a atriz e diretora teatral Nena Inoue conversou com a redação do Brasil de Fato e analisou a atual conjuntura para a cultura e seus trabalhadores. Nena é Prêmio Shell de Teatro 2019 pelo espetáculo “Para não Morrer.” Brasil de Fato – O atual governo, além de não valorizar a arte, não ofereceu ajuda neste momento de pandemia. Como você analisa a situação? Nena Inoue – Estamos vivendo num governo que extinguiu o Ministério da Cultura. O Ministério surge logo após da ditadura militar. Não por acaso, este governo extinguiu. Importante lembrar que, aqui no Paraná, também o Ratinho Jr extinguiu a Secretaria da Cultura. É o único estado brasileiro que não tem. Há uma desvalorização dos artistas, pois somos agentes que pensam e oferecem à população novos modos de pensar a realidade. Isso não interessa para governos como esses. BDF – Dados do IBGE mostram que temos 5 milhões de pessoas que trabalham no setor cultural e impor-

Delenize Dezgeniski

tante participação no desenvolvimento econômico do país...

Lei de Emergência Cultural

Nena – Mas o que vale é o que vem sendo mostrado para a população. Esses dados não são mostrados. Por exemplo, temos um crescente número de casos da Covid-19 e de outro lado um presidente que sistematicamente aparece defendendo o fi m do isolamento social. As mentiras de Bolsonaro têm virado verdade para parte da população. O povo traduz o que é dito e colocado como verdade, quando se bate na mesma tecla de uma ideia. E isso eles fazem bem. Então, a ideia de que artista é bandido e vagabundo aparece como verdade. Mesmo que neste momento muitos, em suas casas, estejam consumindo cultura. BDF- Já no início da pandemia o setor cultural precisou parar. Existem iniciativas de renda básica para esses trabalhadores? Nena – Fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a retornar. Não sabemos como será, se as pessoas terão medo de ir ao teatro por causa da aglomeração. Mas, além de redes de solidariedade entre artistas, temos uma articulação nacional acontecendo em torno do Projeto de Lei 1075, de iniciativa da deputada Jandira Feghali (PcdoB – RJ). O PL é a Lei de Emergência Cultural que visa a garantir recursos para artistas e espaços culturais neste momento da pandemia.

A Lei inclui a execução total do Fundo Nacional de Cultura para ações de fomento para agentes e espaços culturais (com subsídios de R$ 10 mil mensais), além de isenção de impostos e proibição de cortes de serviços essenciais para entidades do setor cultural, entre outras atividades.

DICAS MASTIGADAS

Espaguete ao molho de pinhão A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Júlia Orige

Ingredientes ½ kg de espaguete; 4 colheres (sobremesa) de óleo; 1 copo de água; 1 cebola orgânica picada; 3 folhas de manjericão; 1 tomate orgânico; 1 e ½ xícara de pinhão orgânico cozido moído; sal a gosto. Modo de preparo Cozinhar e escorrer o espaguete. Refogar no óleo a cebola, o tomate o manjericão picado, o pinhão e a água. Levar ao fogo, ferver até virar um molho. Se necessário, acrescentar mais água.


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