PARANÁ
Ano 5
Edição 266
21 a 27 de julho de 2022
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
NEGRAS MULHERES NO PODER
Giorgia Prates
Julho das Pretas traz reflexões sobre representação na política Artigo | p.2
Cidades | p.6
Editorial | p.2
Pré-candidatas defendem avanços no apoio a candidaturas de mulheres negras Brasil | p.5
Pátria armada
Ameaça de golpe de estado
Heliana Hemetério: mulher negra, mãe, avó, historiadora e ativista pelos direitos humanos Perfil Reexistências Negras | p.4
Casos de homicídio envolvendo agentes de segurança acendem alerta sobre armamento
Delirante, Bolsonaro ensaia não querer aceitar resultado das urnas
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 21 a 27 de julho de 2022
Golpismo de Bolsonaro sem apoio internacional N
EXPEDIENTE
editorial
o início desta semana, Bolsonaro (PL) reuniu-se com um grupo de embaixadores estrangeiros, ou seja, representantes oficiais de outros países no Brasil. Assim como na abertura da Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2021, Bolsonaro tentou passar a imagem falsa de um Brasil que vai bem na economia, passou bem pela
pandemia e “está voando”. Apesar do otimismo nas palavras, o governante falava em tom abatido – afinal vem perdendo nas pesquisas eleitorais. O assunto principal de Bolsonaro com os embaixadores eram as eleições de outubro. Sem trazer prova alguma, ele mais uma vez requentou alegações de desconfiança na seguran-
ça das urnas eletrônicas. O discurso foi tão constrangedor que os embaixadores presentes demoraram antes de aplaudir, de forma tímida, o que escutaram. No dia seguinte, o jornal estadunidense New York Times noticiou que o gesto de questionar as urnas para representantes internacionais soou como mais um passo
de Bolsonaro em direção a uma tentativa de golpe diante da futura derrota eleitoral. Em vez de conquistar apoio internacional, o presidente-candidato parece apenas estar se isolando mais, afundando-se em seu próprio atoleiro golpista. A sociedade precisa reagir e dizer não a esta terrível ameaça.
Negras Mulheres no Poder
Rede de Mulheres Negras
Organização sem fins lucrativos, autônoma e independente, fundada para reivindicar e ampliar a implementação de políticas públicas específicas. Teve início em 2006, quando mulheres se uniram com o objetivo de dar visibilidade e acolher as demandas da população negra. https://rmnpr.org.br/
J
O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 266 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Lia Bianchini e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Gabriel Carriconde COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Claudia Santos, Franciele Rodrigues, Jaqueline Deister e Luiz Ferreira ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO João Marcos Ribeiro CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr
SEMANA
opinião
Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016
ulho é considerado um dos meses mais importantes para as mulheres negras no Brasil, nele comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e no Brasil também se
comemora o Dia Nacional de Tereza de Benguela. Batizado pelo Instituto Odara, o Julho das Pretas é o mês de referência, de partida, de união e renovação. A ação envolve um engajamento de agenda conjunta com organizações e movimentos de mulheres negras do Brasil onde o objetivo é promover atividades, encontros e diálogos para celebrar o legado de luta com vistas à garantia de direitos. Este é um ano importante, pois há o resgate dos encontros presenciais, além da marca simbólica de 30 anos
desde que o movimento de mulheres negras da América Latina e Caribe declarou o 25 de Julho como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A data e o mês simbolizam a potência que a mulher negra tem em mudar agendas e debates políticos, concentrando forças na emancipação e fortalecimento das mulheres. Seguindo o tema Mulheres Negras no Poder, Construindo o Bem Viver, criamos uma ação em que mostramos o rosto e a voz das mulheres da organização para representar quem
luta por uma sociedade mais justa e livre de todas as formas de preconceito, discriminação e violência. Ecoar diante desta sociedade misógina, racista e de classe é resistir, e principalmente, como Cida Bento afirmou em live com a RMN-PR, é mostrar que “nós, mulheres negras, somos a reserva moral deste país”. A voz negra enaltecida ressignifica o presente e constrói o futuro, visibiliza cada filiada e promove a continuidade da Rede. O 25 de julho é sinônimo de existência, existência negra e queremos que ela seja viva!
Brasil de Fato PR
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Paraná, 21 a 27 de julho de 2022
FRASE DA SEMANA
Reprodução
A cantora declarou voto em Lula no primeiro turno. A revelação ocorreu diante do brutal assassinato do petista Marcelo Arruda cometido por um bolsonarista. Após o anúncio, o apoio se tornou um dos assuntos mais comentados no Twitter, em outras redes socias, repercutindo na imprensa em geral. Anitta fez mais do que declarar apoio. Ela entrou de cabeça na campanha de Lula, postando fotos “fazendo o L”, associado ao petista. Posteriormente, ela desautorizou a associação de sua imagem ao Partido dos Trabalhadores. A informação foi compartilhada até pelo presidente Jair Bolsonaro. A ação da cantora, no entanto, era uma armadilha. Ao dizer que vota em Lula, mas “não é PT”, ela dá voz a muitos eleitores que não são petistas, mas querem ou poderão votar em Lula. O alcance de Anitta nas redes sociais é gigante. No Instagram, ela tem 63 milhões de seguidores. No Twitter, são 17,7 milhões. No Tik Tok, 20,5 milhões. E foi nesta rede social que ela chamou Lula para seguir interagindo para derrotar Bolsonaro. “Ai papi cadê os vídeos no tik tok reagindo aos luliters, a gente sente falta de engajar quem ta aí sem fazer nada preguiçoso abandonou a carreira (contém humor)”, desafiou.
Resistindo, partilhando e preservando
disse Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em crítica a insinuações de que eleições podem ser fraudadas (leia mais em Notas BdF)
Marcelo Camargo | Agência Brasil
NOTAS BDF Por Redação
Basta
Fábio Pozzebom Agência Brasil
Anitta fez um L.
“É hora de dizer basta à desinformação”
Apego às mentiras O presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu um grupo de embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto, nesta segunda (18), para espalhar fake news e teorias da conspiração. No encontro, Bolsonaro atacou ministros do Supremo Tribunal Fe-
deral (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e colocou em dúvida o sistema eleitoral brasileiro. Entre as mentiras, o presidente fez acusações de que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas teoria que já foi desmentida com provas pelo TSE.
Na mesma noite, o ministro do STF e presidente do TSE, Edson Fachin, participava do lançamento da campanha de Enfrentamento à desinformação na Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraná. Sem citar nominalmente Bolsonaro, Fachin criticou as insinuações de possível fraude no sistema eleitoral brasileiro. “Mais uma vez a Justiça Eleitoral e seus representantes máximos são atacados com acusações de fraude, ou seja, uso de má fé. Ainda mais grave, é o envolvimento da política internacional e também das Forças Armadas, cujo relevante papel constitucional a ninguém cabe negar como instituições nacionais, regulares e permanentes do Estado, e não de um governo. É hora de dizer basta à desinformação e ao populismo autoritário que coloca em xeque a Constituição de 1988”, disse.
Na última quinta (14), aconteceu a 17ª Festa das Sementes, em Mangueirinha. Com o tema “Sementes Crioulas: Resistindo, partilhando e preservando”, a festa é uma ferramenta de resistência, defesa e multiplicação das sementes crioulas, contribuindo para a soberania do campo e da cidade. O evento é organizado pelo Fórum Regional das Organizações e Movimentos Sociais do Campo e da Cidade do Sudoeste do Paraná e teve apoio da Prefeitura de Mangueirinha, da Secretaria de Agricultura e da cooperativa de crédito Cresol. Mais de três toneladas de alimentos foram arrecadados e doados a cerca de 100 famílias em situação de vulnerabilidade em Mangueirinha. A ação é resultado de uma campanha de solidariedade promovida pela equipe organizadora e por quem participou do evento. As doações vieram de pessoas da agricultura familiar, atingidas por barragens, de assentamentos e acampamentos da reforma agrária, sindicatos, cooperativas e trabalhadoras e trabalhadores urbanos. “Semente é soberania alimentar. Hoje, no Brasil, temos 193 milhões de pessoas passando fome, pessoas que não vão ter o que comer, e nós precisamos estar cada vez mais unidos e lutando, para que a gente tenha soberania das sementes, a soberania alimentar, para que no Brasil ninguém mais passe fome”, disse Cristiane Katzer, do fórum regional.
Brasil del Fato PR 4 Perfi
Reexistências Negras
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“De quais mulheres negras nós estamos falando?”
Giorgia Prates
Claudia Santos*
A
provocação vem em sotaque carioca, voz grave e timbre inconfundível revelando a inquietude de Heliana Hemetério, em meio à juventude dos seus 70 anos. Mulher negra, mãe, avó, historiadora e ativista pelos direitos humanos, Heliana parece observar a vida com uma lupa, sem contaminar-se com as formalidades impostas à sua geração. É de personalidade expansiva, fala alto e com naturalidade, explana fatos gesticulando e foge de tabus, faz questão de transitar entre temas complexos. Demonstra talento em simplificar o debate sem esvaziá-lo e estes são alguns, entre tantos questionamentos que faz a si e aos movimentos sociais à sua volta: Em quais periferias estamos pisando? Qual a prática que embasa o seu discurso antirracista? E o feminismo branco, está celebrando o julho das pretas? É previsível que essas perguntas provoquem incômodo, especialmente aos grupos que se entendem como aliados. Entretanto, são indagações embasadas
nas vivências de uma mulher negra com mestiçagem portuguesa e histórico de racismo na própria família. Heliana relembra que sua avó materna viveu “amancebada com um português”. Ele até juntou-se, mas não transferiu a uma mulher preta o seu sobrenome, a fim de evitar pistas deste episódio. Diante disso, reciprocamente, também rejeita o “Neves” e apresenta-se como “Hemetério”, um protesto em respeito à honra de quem lhe deixou sobrenome, conhecimento e melanina como herança familiar. Se, por um lado, em sua família perpetua uma cicatriz sobre a solidão afetiva de uma matriarca, há, por outro, uma significante referência na árvore genealógica: Hemetério José dos Santos, educador, escritor e ativista contra o racismo. Esta é a origem de seu sobrenome peculiar, criado antes mesmo da abolição, por ele, bisavô de Heliana, a fim de deixar a sonoridade mais robusta, pois como descendente de escravos “José dos Santos” era um tanto “comum”, não à toa há tantas famílias “Silva”, “Santos” e sobrenomes semelhantes
incapazes de negar o passado do povo negro no país. “Esse lugar de preto que não é pobre foi complicado”, a frase ecoa enquanto Heliana tira os óculos e observa as lentes, sempre em direção à luz. O gesto mais se assemelha a um intervalo para a próxima reflexão e, de fato, é. “O racismo não acaba quando você conquista o dinheiro”, completa. Ela vem da Tijuca, Rio de Janeiro. Embora negra, reconhece que teve privilégios: estudou nos melhores colégios cariocas, é historiadora pela UFRJ, tem duas especializações, foi funcionária pública federal por longos
“O racismo não acaba quando você conquista o dinheiro”, diz. anos no IBGE, viajou o país e conheceu diferentes Brasis e, ainda assim, foi apresentada ao racismo. Por sorte, aprendeu a decodificar, mas apenas quando era realmente necessário, respondia com “carteiradas” para receber o respeito e espaço que sabia que deveria ter, por direito. Enquanto esteve no IBGE, atuou em organizações da sociedade civil organizada, fez parte do
Conselho de Comunidade Penal e vivenciou a jornada de encarceramento de mulheres negras, pobres, com baixo nível de escolaridade, de famílias desestruturadas e imersas em um submundo de carências. Em seu trabalho, construiu vínculos em comunidades e entendeu, além da teoria, como se constroem as relações no corpo a corpo de mulheres que dividem “uma parede e meia” enquanto vizinhas na “perifa”. *Coluna mensal de perfil de personalidades, ativistas, artistas, políticos, negros e negras. Leia o texto completo: www.brasildefatopr.com.br Giorgia Prates
HELIANA HEMETÉRIO DOS SANTOS Historiadora pós-graduada pela UFRJ, tem especialização em Gênero, Raça e Sexualidade com foco na violência racista e homofóbica. É conselheira nacional de saúde, vice-presidenta da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Travestis (ABGLT), membro da Rede de Mulheres Negras do Paraná, do Coletivo de Lésbicas Negras.
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Paraná, 21 a 27 de julho de 2022
“É preciso vencer a cultura que mantém eleitos homens brancos e ricos”
Arte: Gabriela Lucena
ALGUNS AVANÇOS
Pré-candidatas defendem que partidos progressistas avancem no apoio a candidaturas de mulheres negras Ana Carolina Caldas
P
esquisa da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2020, mostrou que o Brasil ocupa a posição 142 quando falamos em representatividade feminina no parlamento. A análise foi feita entre 193 nações. O quadro fica pior ainda quando falamos sobre mulheres negras eleitas no Brasil. Segundo dados do Movimento Mulheres Negras Decidem, nas eleições municipais de 2016 e 2020, a porcentagem de mulheres negras eleitas não passou de 5%. Primeira vereadora negra da história de Curitiba, Carol Dartora (PT), pré-candidata a deputada federal, aponta como parte da explicação para esse quadro o racismo e o machismo. “Apesar de 27% da população feminina brasileira se declarar negra, mulheres negras representam 2% no Congresso Nacional e menos de 1% na Câmara Federal. Isso não é porque as mulheres negras não gostam de política ou não querem participar. É fruto do racismo estrutural e da desigualdade de gênero, que criam inúmeras barreiras, econômicas ou subjetivas. É fruto da cultura machista e racista que não vê mulheres negras como possíveis lideranças”, destaca. Vencer cultura que elege homens brancos e ricos Para a enfermeira Juliana Mittelbach, que em 2022, pela primeira vez, é pré-candidata a deputada estadual pelo PT, a luta pela representação política das mulheres negras se dá pela superação do conservadorismo, racismo e da opressão de classe. “As mulheres negras ocupam os
2020
2021
Supremo Tribunal Federal (STF) determina repasse de recursos do fundo partidário equivalente ao número de candidatos negros e negras nos partidos
Emenda Constitucional determina que sejam contados em dobro votos a candidatas mulheres e candidatos negros para fins de distribuição de recursos do fundo partidário e do fundo eleitoral. Regra vale de 2022 a 2030
espaços de maior vulnerabilidade no Paraná. Por isso, é preciso vencer essa cultura que mantém eleitos homens brancos, ricos e de famílias tradicionais”, diz. Juliana lembra que na Assembleia Legislativa do Paraná, fundada em 1854, nunca houve uma mulher negra eleita. “É importante destacar que as candidaturas negras são majoritariamente populares, oriundas do movimento social e pessoas que estão no dia a dia lutando em suas comunidades”, pontua.
Senado pelo PDT, conta que o principal motivo para se filiar a um partido foi a vontade de fazer um trabalho de base para auxiliar candidaturas de mulheres negras. “É preciso superar a tentativa de nos invisibilizar, de silenciamento e a necessidade que a branquitude tem de que fiquemos na submissão, que a gente não levante a nossa voz. Por isso, é importante ter representações, não apenas para cumprir cota, mas para fazer a transformação estrutural”, aponta.
Superar a invisibilidade A advogada Eliza Ferreira, pré-candidata ao
Aumentar apoio dos partidos Pré-candidata a deputada estadual
pelo PSOL, Telma Melo lamenta que os partidos de esquerda tenham avançado muito pouco na valorização das candidaturas negras. “Os partidos ditos progressistas ainda continuam não sendo progressistas neste item, porque ainda há espaço para racismo e machismo”, diz. Telma defende que, se o partido tem como pauta a luta antirrascista, precisa contribuir para que candidaturas negras se elejam. “Se não tivermos espaço dentro dos partidos, não chegaremos aos espaços de poder nos parlamentos e no executivo”, conclui.
Divulgação
Lançamento coletivo, em Curitiba, das candidaturas de mulheres negras que constroem o movimento Juliana Mittelbach pré-candidata a deputada estadual | PT Telma Mello Pré-candidata a deputada estadual | PSOL Andréia de Lima Pré-Candidata a deputada estadual | PT Clemilda Santiago Neto Pré-candidata a deputada estadual | Rede
Eliza Ferreira da Silva Pré-candidata ao Senado | PDT Carine Piassetta Xavier Pré-Candidata a deputada federal | PDT Meire Moreno Pré-Candidata a deputada federal | PT (Casa das 13 Mulheres) Mariana Lopes Pré-Candidata à deputada federal | PSB
Brasil de Fato PR 6 Cidades
Brasil de Fato PR
Paraná, 21 a 27 de julho de 2022
Em Londrina, pessoas negras têm 70% mais chances de serem vítimas de violência policial Mortes decorrentes de confrontos com policiais aumentaram quase 10% no Paraná Giorgia Prates
Franciele Rodrigues, do Portal Verdade
“C
onfronto” é apontado como justificativa mais constante para mortes decorrentes de violência policial no Brasil. Dados do Anuário de Segurança Pública indicam que mais de 6 mil pessoas foram mortas por policiais civis e militares em 2021. Média de 17 mortes por dia. No Paraná, levantamento
do Ministério Público Estadual aponta que, em 2021, foram 417 mortes decorrentes de confrontos com policiais civis, militares e guardas municipais, aumento de quase 10% em comparação a 2020, quando ocorreram 380 mortes. Dos óbitos, a maioria das vítimas tinham até 29 anos (62,9%) e eram negras e pardas (53,3%). Londrina é o segundo município com mais mortes em supostos confrontos. “Por que o negro ainda é a
maior vítima de homicídios e porque grande parte da sociedade não se indigna com essa violência?”, questiona Cláudio Galdino, geógrafo e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). De acordo com Galdino, em Londrina, uma pessoa negra possui 70% mais chances de ser vítima de violência do que uma pessoa branca, embora a população negra represente em torno de 26% dos habilitantes. Ele destaca que a maioria das vidas perdidas é de jovens negros, cujas mortes são resultantes de violência policial, predominante associada à criminalidade e, portanto, apresentando a ideia de “confronto” como principal justificativa. “Essa ‘coincidência’ pode ser entendida como extermínio e não há uma tentativa efetiva de mudar esse quadro por parte do estado. O verdadeiro genocídio da população negra continua”, afirma.
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O que os últimos homicídios cometidos por policiais significam no debate sobre armamento? Jaqueline Deister, do BdF-RJ No início de julho, uma policial militar matou a irmã após uma discussão em São Gonçalo (RJ). Sete dias depois, um policial federal penal entrou numa festa temática do PT e matou o aniversariante, em Foz do Iguaçu (PR). As tragédias têm em
comum o fato de serem crimes de motivo torpe e protagonizados por agentes de segurança, profissionais teoricamente capacitados para o uso de armas de fogo. O que acende dois alertas: a saúde mental de policiais e o impacto social da flexibilização do acesso às armas de fogo para a sociedade civil.
Dados do Instituto Sou da Paz apontam que mais de 880 mil armas de fogo estão nas mãos de civis com registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CACs) atualmente no Brasil. “Com relação ao aumento das armas em circulação, dá uma preocupação nesses pequenos confrontos na so-
ciedade, brigas, de a letalidade aumentar e fragilizar a segurança pública”, diz o policial federal e pesquisador Roberto Uchôa. Em relação aos crimes cometidos por policiais, Uchôa aponta que há falhas graves nas instituições policiais no que tange ao treinamento continuado e ao acompanhamento psicoló-
gico dos agentes públicos de segurança. “São profissionais que passam por dificuldades, seja financeira, familiar, no trabalho e que não têm apoio da instituição para fazer um tratamento mental adequado, para melhorarem”, pondera. Leia a matéria completa em www.brasildefatopr.com.br
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BrasilCultura de Fato PR 7
Paraná, 21 a 27 de julho de 2022
Julho das Pretas será marcado por arte, resistência e reflexão política Em Curitiba, programação acontece no Museu Paranaense (MUPA) Redação
T
odos os anos, o Julho das Pretas aborda temas importantes relacionados à superação das desigualdades de gênero e raça, colocando a pauta e agenda política das mulheres negras em evidência. Com o tema “Mulheres Negras no Poder, construindo o Bem Viver!”, a edição de 2022 marca os 10 anos de realização do evento e os 30 anos que o movimento de mulheres negras da América Latina e Caribe declarou 25 de Julho como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Em Curitiba, parte da programação do Julho das Pretas acontece até o dia 26, no Museu Paranaense (Mupa). Telma Melo, uma das organizadoras do evento na cidade, destaca que a programação deste ano volta-se também para a reflexão sobre política institucional. “Além da denúncia do racismo, da invisibilida-
de das mulheres negras, de propor a superação das desigualdades de gênero e raça, em um ano eleitoral refletimos também sobre a questão de uma pauta antirascista e feminista e as mulheres negras no poder”, diz Telma. A programação será composta por atividades como oficinas, espetáculos e palestras. No domingo (24), a programação no Mupa contará com contação de histórias, performances e música. Na terça (26), a palestra “Mulheres negras: História, memória e legado de resistências” encerra o evento, com a fala de Giselle dos Anjos Santos, ativista, historiadora e que hoje atua no Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). Ela também é autora do livro “Somos todas rainhas”, que conta a história das mulheres negras no Brasil, e coautora do livro “Mujeres afrodescendientes en América Latina y el Caribe: Deudas de igualdad”.
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Programação Domingo, 24 de julho 10h e 11h20 Contação de história Ponto de um Conto, com Samara Rosa 10h45 Contação de história sobre heroínas negras brasileiras com Luana Mello 12h30 Performance teatral Memórias duma Baobá, com Isabel Oliveira (Coletiva Negra èmí wá) 13h Música Faraó Divindade do Egito, com Day Paixão. 14h Performance En-cruz-ilhadas (nós por nós), com Eliana Brasil 14h40 Dança CORPO VORARE, com Andreia Frag Terça, 26 de julho 19h Palestra Mulheres negras: História, memória e legado de resistências, com Giselle dos Anjos Santos Local: Museu Paranaense - Rua Kellers, 289 Alto São Francisco.
Palestra com a ativista Gisele dos Anjos Santos acontece no dia 26 de julho, 19h, no MUPAdestacam-se as mulheres negras como um grupo cujas características inatas são malogradas pelas privações impostas.
A artista Eliana Brasil irá realizar uma performance que narra o Brasil, onde em todos os descaminhos do presente, destacamse as mulheres negras como um grupo cujas características inatas são malogradas pelas privações impostas.
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PERFORMANCE
Marcelo Camargo | Agência Brasil
PALESTRA
Brasil de Fato PR 8 Esportes
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Paraná, 21 a 27 de julho de 2022
A Seleção Feminina e as coisas como elas são
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Estamos na semi!
Implantar uma mentalidade vencedora parece ser a grande missão de Pia Sundhage
A
inda que os críticos mais ferozes de Pia Sundhage falem alto nas redes sociais (e nos canais esportivos), é preciso reconhecer que o trabalho da treinadora sueca tem qualidade. Pela primeira vez em muito tempo estamos vendo uma sintonia entre a Seleção Feminina “principal” e as categorias de base. Há diálogo entre a equipe Sub20, a Sub-17 e os clubes que disputam o Brasileirão Feminino no sentido de aumentar a qualidade das nossas competições. É o tipo de legado que só vai ser visto daqui a alguns anos, com o crescimento das nossas jogadoras e dos nossos times no cenário mundial. Entre os críticos, existem aqueles que falem na “essência do futebol brasileiro” e voltem o olhar para o passado em busca de um desempenho que nunca existiu. Isso porque o Brasil sempre foi dependente de suas estrelas e sempre sofreu com a falta de estrutura no futebol femi-
nino. Este colunista pode apontar vários aspectos do trabalho de Pia Sundhage que não agradam muito. Ainda sinto falta de variações táticas dentro da formação escolhida por ela e vejo uma insistência em nomes que já não entregam o mesmo desempenho visto nos seus clubes. Por outro lado, a sueca acerta em cheio quando bate na tecla da parte física das nossas jogadoras. Não estou falando de condicionamento físico, mas de vencer duelos em campo, aguentar trancos e divididas de adversárias mais fortes e manter os níveis de concentração e
Local de jogo: assimetria colossal Por Cesar Caldas
Vitória contra o Cuiabá às 20 horas da próxima segunda-feira, 25/07, no Alto da Glória, deve posicionar o Coritiba entre o 2º e o 4º lugar dentre os mandantes do 1º turno do Campeonato Brasileiro. Por paradoxal que seja o desempenho, inclusive a improvável liderança nos jogos em casa a depender do resultado diante do Corinthians depois do fechamento desta edição, pode ser insuficiente para encerrar a etapa fora da Zona do Rebaixamento. A descomunal assimetria entre essa performance no Couto Pereira e a obtida nos jogos fora de seu estádio é inaceitável: o time conquistou apenas dois pontos (8%) em 24 disputados. É comum no futebol a obtenção de piores resultados longe da própria torcida, mas não nessa assombrosa desproporção – fruto de uma postura tática “medrosa” que atrai o adversário para perto (ou para dentro) de sua grande área defensiva.
intensidade altos durante todos os noventa minutos. Algo que vemos nas principais seleções da Europa. Há como se criticar o trabalho da treinadora sueca em diversos pontos e questionar algumas das suas escolhas. No entanto, nenhuma dessas críticas vai fazer algum sentido se o contexto não for observado. Até o momento, suas declarações parecem coerentes com o que se vê em campo. Implantar uma mentalidade vencedora é algo urgente na Seleção Feminina e essa parece ser a grande missão de Pia Sundhage. Thaís Magalhães | CBF
Luiz Ferreira, do BdF-RJ
A Copa América está finalizando a fase de grupos e o Brasil já garantiu matematicamente a sua vaga na semifinal. Fizemos 3 jogos, por enquanto, e garantimos 100% de aproveitamento, baliza zero e muitos gols. Pia Sundhage foi para a Colômbia, sede do torneio, com uma Seleção renovada e em busca de garantir a vaga tanto para a Copa do Mundo de 2023 quanto para os Jogos Olímpicos de 2024, além claro, do título e da manutenção da nossa hegemonia no continente. Estreamos no dia 9 contra a Argentina, no Estádio Centenário de Armênia, e a goleada por 4x0 saiu dos pés de Adriana (duas vezes), Bia Zaneratto e Debinha. O segundo jogo foi contra o Uruguai, no dia 12, no mesmo estádio, e vencemos as uruguaias por 3x0. Adriana marcou mais dois e Debinha, artilheira da Era Pia, também deixou mais um. Em seguida enfrentamos as venezuelanas e goleamos novamente por 4x0, Bia Zaneratto e Ary Borges fizeram um gol cada uma e Debinha balançou as redes duas vezes. Alcançamos 9 pontos e a classificação para a semi. Nosso último adversário da fase de grupos é o Peru, na quinta-feira, 20.
Hora da verdade
O grande jogo das quartas
Por Marcio Mittelbach
Por Douglas Gasparin Arruda
Julho ainda nem acabou, mas a torcida do Paraná já vive clima de decisão. Depois de uma primeira fase de regular para boa na “dezona”: 14 jogos, cinco empates, seis vitórias e três derrotas, o tricolor se credenciou para a segunda fase da competição na segunda posição do grupo G. Já no formato mata-mata, o tricolor enfrentará o Cascavel. A primeira partida será no próximo sábado, 23, no interior do estado. A promessa é de uma forte presença da torcida tricolor no Oeste. O jogo da volta está marcado para o dia 30, na Vila Capanema. O ano que vem depende diretamente das próximas seis partidas. Em caso de classificação diante do Cascavel, o tricolor chega nas oitavas-de-final. Mais uma classificação e chegaremos nas quartas e, aí sim, será a decisão. Em caso de classificação para as semis, o tricolor garante vaga na série C de 2023 e uma sobrevida. Mais do que nunca, é tempo de abraçar o time!
Pela quarta vez seguida a Copa do Brasil terá como confronto o jogo entre Athletico e Flamengo. Na última oportunidade, o Furacão levou a melhor: tendo empatado o primeiro jogo, na Arena, a missão no Maracanã era difícil, já que precisava da vitória. E ela veio em um impressionante 3 a 0, 2 de Nikão e um baile no Rio. Com tantos jogos seguidos em disputas importantes, era óbvio que o confronto acabaria se tornando mais acirrado. E o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, deixou sua preocupação clara com a entrada no STJD para reverter o mando de campo, já que desta vez a decisão ficou para a Baixada. Pelo feminino, o Furacão decide no sábado a vaga para as quartas contra o América-MG, às 15h. O empate já garante a classificação, mas com a vitória a chance é grande de passar em primeiro.