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Cidades
Criança negra é retirada de farmácia por segurança após funcionários acionarem botão do pânico
Caso aconteceu em uma unidade da rede Panvel, no bairro Portão, em Curitiba
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Gabriel Carriconde correto, mas que haveria um “suspeito” andando pelo lugar, o que fez os
Com crescentes casos de racismo funcionários acionarem o botão do e injúria racial, Curitiba foi pal- pânico. “Eu não entendo qualquer co de mais um episódio na segunda- outro motivo se isso não é um ato -feira (10). De acordo com a mãe da velado de racismo, eu duvido que se vítima, a psicóloga Patrícia Marluce, fosse uma criança branca, de olhos durante a ida a uma farmácia da rede azuis, teria sido enquadrada”, disse Panvel, no bairro Portão, seu filho de Patrícia. A mãe ainda relata que seu 11 anos foi parado pelo segurança da filho foi retirado do estabelecimento loja após funcionários terem aciona- pelo segurança e questionado “por do o “botão do pânico”, enquanto a que estava tão agitado, e o que estava criança andava pelos corredores. Pa- fazendo ali.” trícia relata que outras pessoas tam- Tanto a mãe quanto a criança bém estavam no local, mas seu filho prestaram depoimento no Núcleo foi o único a ser perguntado por que de Proteção à Criança (Nucria) e fiestava ali. “Tinha outras pessoas ali zeram boletim de ocorrência. Para dentro, queria saber por que ele [se- o advogado da família, Volnei Frangurança] foi justamente no menino ça, é impossível deslocar de racisnegro?”, questiona. mo o que aconteceu.
Ainda de acordo com a mãe, a “O segurança coagiu uma criança gerente da loja tentou justificar que negra, menor de idade, para sair da aquele não era um procedimento loja e questionou por que ele estava ali, por que estava tão agitado. Obviamente ele deve ter considerado que o menor estava com uma atitude suspeita dentro da loja. Não dá para deslocar do racismo já que havia outras pessoas no lugar, mas ele foi o único a ser abordado enquanto aguardava a mãe terminar de fazer suas compras”, afirmou.
Para Juliana Mittelbach, Coordenadora Executiva Adjunta da Rede de Mulheres Negras, o caso é mais um que demonstra o racismo estrutural, que leva a criminalizar a simples presença de negros e negras. “São os corpos negros que são identificados como ‘suspeitos’ por causa da cor. (…) É resultado de racismo estrutural quando uma mãe está pagando no caixa e seu filho que é negro é retirado pela segurança. É racismo quando questionam o lugar onde supostamente não deveríamos estar”.
RESPOSTAS OFICIAIS
O Nucria, via assessoria de imprensa da Polícia Civil, a rmou que “a ocorrência foi registrada e a Polícia Civil realiza diligências preliminares para apurar as circunstâncias dos fatos.” A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Farmácias Panvel e pediu explicações sobre o que ocorreu. Reproduzimos a seguir a nota enviada pela rede: “A Panvel repudia qualquer tipo de preconceito ou discriminação, seja racial ou de qualquer outra origem. Todos os nossos colaboradores são treinados e orientados a prestar o melhor atendimento aos nossos clientes e reforçamos sempre com nossas equipes o compromisso da empresa pelo respeito a todos.”
De volta à Câmara, Renato Freitas “agradece” a vereadores por levantarem debate sobre racismo
Giorgia Prates
Lia Bianchini
Na retomada do mandato como vereador em Curitiba, na segunda (10), Renato Freitas afirmou que sua volta à Casa é uma vitória na “batalha contra o racismo” e “contra a hipocrisia”. Freitas voltou à Câmara após decisão do STF e de ser eleito deputado estadual, cargo que deve assumir em 2023.
“Quero agradecer especialmente aos vereadores que tentaram me cassar. Afundados em sua própria cobiça, cegueira e ódio tornaram possível e pública uma questão tão importante: qual o papel da igreja na luta contra o racismo? Qual é o papel das casas legislativas, da sociedade, especialmente da sociedade curitibana, na luta contra o racismo?”, questionou.
Após a forte fala de Freitas, que chegou a citar nominalmente alguns colegas que trabalharam pela sua cassação, vereadores que se sentiram atacados pediram a palavra para rebater o discurso. Os discursos que se seguiram tentaram afastar a acusação de racismo. Osias Moraes (Republicanos), chamou Freitas de “experimento da esquerda” e afirmou que o vereador “não foi cassado por ser negro” e que nunca viu um vereador cometer racismo na Câmara.
Presidente do Conselho de Ética da Câmara, Dalton Borba (PDT) alertou que os discursos poderiam atacar a credibilidade jurídica da Câmara, lembrando que o parecer do relator do processo contra Freitas deixou provada apenas a acusação de fazer ato político dentro da igreja. “Não se deve, em prol da segurança jurídica e da própria credibilidade desta casa, imputar nenhum outro tipo de acusação, especialmente de ter cometido crime, porque crime ele [Freitas] não cometeu”, afirmou. Na sexta (7), a Câmara de Curitiba entrou com recurso no STF contra a decisão que permitiu a volta de Freitas à Casa.
Por que a mesa dos mais pobres está vazia
Com Bolsonaro, carne, leite, arroz e feijão, entre outros alimentos, subiram mais que o dobro da inflação
Frédi Vasconcelos,
com reportagem de
Pedro Carrano
Amesa dos brasileiros com renda mais baixa está cada dia mais vazia. É o que se pode ver ao comparar o aumento dos preços nos supermercados com os dados de consumo. Entre os preços que mais subiram desde o início do governo Bolsonaro estão os produtos da cesta básica. Os alimentos, na média, subiram 62% em Curitiba, mais que o dobro da inflação oficial, o INPC, que foi de 26,6% até setembro deste ano.
O estudo do Dieese “Inflação Alta e Renda em Queda” mostra que do começo de 2019 a setembro de 2022, os preços que mais subiram foram do leite (91,53%), a carne (81,9%), o feijão (55,7%) e
Agência Brasil
91,53%
aumento do preço do leite do começo de 2019 a setembro de 2022
o arroz (53,15%). Para comprar uma cesta básica, quem ganha um salário mínimo teve de trabalhar 124 horas só para adquirir os produtos básicos.
Como conta Neusa Felisberto, trabalhadora de conservação e asseio e moradora de área de ocupação em Curitiba. “Foi complicado agora na epidemia, porque eu ganho um salário mínimo para sustentar três pessoas. Carne na minha casa não entra... É uma vez por mês, quando recebo, e das carnes mais baratas. Tenho vivido muito com cesta básica. Vamos ver se daqui pra frente vai melhorar, porque cada vez que se vai ao supermercado, as coisas estão mais caras”, explica.
Mesma situação descrita por Aline Damiana, a “Polaca”, moradora da área de ocupação Dona Cida, também em Curitiba. “A minha dificuldade nesses quase quatro anos é grande. Sou mãe-solo e está bem mais complicado porque a minha filha se separou e está também comigo. Sobre a comida e a mistura, está bem difícil. Vivo de ajuda, de doação, faço uns biquinhos. Carne é uma vez na vida e outra na morte. Mistura em casa é ovo e o ‘cabo de reio’, o salsichão”, conta.
O susto no mercado
Uma pesquisa rápida da reportagem em aplicativo que permite comprar produtos mais baratos em Curitiba, mostra o tamanho da conta.
Um quilo de carne moída de segunda, sai em média 25 reais. A caixa com 12 leites longa vida, fica em torno de 60 reais. Um pacote de 5 quilos de arroz fica por volta de 15 reais e o quilo do feijão passa dos 5 reais.
Até por conta desses preços, que sobem a cada dia, o Dieese calcula que o salário mínimo necessário para uma família de quatro pessoas se alimentar, pagar água, luz e outras despesas seria, em setembro deste ano, de 6,3 mil reais. Bem distante do atual valor do mínimo, de R$1.212.
Do lado do consumo, dá para ver como esses preços estão afetando a vida das pessoas. Em 2021, o consumo de carne bovina no país foi o menor em 25 anos. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foram 26,5 quilos por habitante ao ano, 40% menos que na comparação com 2006, último ano do primeiro mandato do ex-presidente Lula, quando eram 42,8 quilos por pessoa. No leite a mesma coisa. O consumo atual é de 167 litros por pessoa, quando era de 175 em 2013, segundo a Associação Brasileira de Leite Longa Vida, ABVL.
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QUEDA NA RENDA
Dálie Felberg | Alep
O aumento dos preços e a queda no que as pessoas ganham ajuda a explicar por que Brasil voltou ao Mapa da Fome.
Pesquisa da Rede PENSSAN, feita entre novembro de 2021 e abril de 2022, mostra que 33,1 milhões de pessoas estão passando fome no Brasil. Mais da metade da população brasileira também está em insegurança alimentar, não sabe se vai ter o que comer no dia seguinte.
A pandemia piorou a vida de muitas pessoas, mas só isso não explica por que está tão difícil comprar comida e pagar as contas. No caso dos alimentos, o estudo do Dieese mostra que o maior consumo de outros países (exportação) e a subida do dólar foram algumas das causas do aumento dos produtos, além da queda de financiamento e de programa de estímulo a produtores, com cortes de verbas do governo federal.
“A cesta básica subiu mais que o dobro da inflação média no governo Bolsonaro. Isso afeta principalmente quem tem rendimento menor, que gasta mais com alimentação. E isso piora com a queda na renda, por conta da queda na qualidade das ocupações, aumentando o trabalho informal e por conta própria. A consequência disso é uma queda na renda, que hoje é similar à de 2012. Tudo isso afeta os mais pobres”, diz Sandro Silva, economista do Dieese no Paraná.
Moradores e pesquisadores pedem que área de exhospital vire bosque, não supermercado
Para pesquisador ambiental, Curitiba precisa de mais bolsões ecológicos
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Gabriel Carriconde lista Eloy Casagrande, o terreno cumpria uma função social e o Na rua Nilo Peçanha, no co- local poderia ser mais bem aproração do bairro São Francis- veitado com áreas verdes. “Ali co, área central de Curitiba, até foi um espaço de cura, inclusive 2012 um amplo terreno servia com o uso dos antigos pacientes de sede do Hospital Espírita de do bosque. E quando olhamos Psiquiatria Bom Retiro. Após seu para os espaços da cidade que fechamento, a área está prestes a deveriam ser preservados, com se tornar mais um supermerca- o aumento de bolsões verdes do da rede Angeloni. Contudo, para reduzir os impactos das ambientalistas, pesquisadores e mudanças climáticas, percebemoradores da região defendem -se que, nesse caso, se privilegia que ali seja criado um bosque mais o asfalto e o concreto”, diz. com área verde pública. Eloy ainda cita ainda os Por isso, no domingo (9), impactos ambientais da obra. manifestantes protestaram em “Ali existem lençóis freáticos, frente ao terreno e pediram ao lado do bosque há três naspara que a empresa reveja o em- centes e vão cavar por perto, o preendimento, e que a Prefeitu- que deverá afetá-las. Inclusive ra de Curitiba faça uma área de já existem outros mercados na lazer no espaço. Para o professor região”, diz. O professor conta da Universidade Tecnológica que não existiu preocupação Federal do Paraná e ambienta- no impacto social e ambiental e tampouco diálogo entre os moradores e o poder público.
O Grupo Angeloni afirmou em nota à imprensa, que “o processo de licenciamento para a construção da loja incluiu todos os estudos ambientais necessários para concessão de licença.” Ainda afirma “que os 4 mil metros quadrados formados por bosques nativos, dentro dos 17 mil metros quadrados adquiridos, serão integralmente preservados e mantidos, conforme compromisso assumido junto aos órgãos ambientais”, diz a nota.
A Prefeitura de Curitiba, via Secretaria de Urbanismo, cita que o terreno é formado por dois lotes de propriedade particular, “e num deles foi autorizada a construção do hipermercado. O alvará foi emitido em 25 de julho deste ano e determinou, segundo a pasta, a manutenção do bosque, situado na parte dos fundos do terreno”.
Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público e pela Promotoria de Meio Ambiente chegou a questionar o uso do terreno, mas a Justiça acabou negando o pedido do órgão.
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Viatura da Rone invade área de ocupação e agride moradores
Pedro Carrano Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar), do governo do Pa-
Na manhã da quarta (13), por vol- raná, na BR 277, no bairro Cidade Inta das 9h30, uma viatura da Rondas dustrial (CIC). Ostensivas de Natureza Especial - Po- Sem autorização judicial, a viatura lícia Militar (Rone) entrou de forma passou o portão de entrada do local irregular dentro da ocupação Inde- e quatro policiais dirigiram-se até a pendência Popular. A ocupação é re- casa de um morador, em busca de sucente, iniciada no dia 7 de setembro, postos objetos ilícitos e informações e fica localizada no barracão aban- do seu celular, chegando a agredi-lo. donado da antiga Companhia de Sem encontrar nada suspeito, a viatura sinalizou deixar o local, mas, no caminho, ainda coagiu outra família, perguntando sobre as doações de alimentos da cozinha comunitária, ameaçando voltar à noite e pressionando as famílias sem justificativa. A reportagem do Brasil de Fato Paraná tentou contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, mas até o momento não obteve retorno.