Brasil de Fato PR - EDIÇÃO 283

Page 1

Ano 5 Edição 283 17 a 23 de novembro de 2022 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br PARANÁ Arquivo Pessoal Divulgação RicardoStuckert Lula participa de conferência mundial do clima enquanto ocorrem pressões sobre economia no Brasil Coluna conta a história de pedagoga e estilista negra Perfil | p.6 RESISTÊNCIAS NEGRAS: DIRLEIA MATIAS Lula negocia para aumentar mínimo e pagar benefícios a mais pobres Brasil | p. 5 E o tal “mercado” tenta impedir mudanças na economia Miscigenação na música Sejamos antirracistas e antifascistas Mulheres serão prioridade Um campo em disputa Cantora Roseane Santos lança “Parda Latina Periférica” Para construirmos um tempo de respeito Professora paranaense integra GT de transição de governo GT sobre Educação mostra disputa no futuro governo Cultura | p. 7 Opinião | p. 2 Brasil | p. 4 Editorial | p. 2 A Copa das polêmicas Você já se preparou para torcer por Neymar, Vini e companhia? Esportes | p. 8

Mobilização para disputar os próximos 4 anos

Passadas duas semanas da eleição presidencial que deu vitória a Lula, iniciaram-se os movimentos de transição do governo. Na área da educação, uma primeira reunião ocorreu no dia 8, convocada por Fernando Haddad. A repercussão foi intensa, em alguns casos mais otimista, mas, por parte da maioria do campo progressista e das entidades representativas da educação, o cenário se anunciou preocupante.

A crítica vem principalmente pela composição do grupo, com uma maioria de representantes do setor empresarial, vinculados à linha liberal privatista da educação, embora o conteúdo síntese da reunião tenha sido a ampla defesa

do Plano Nacional da Educação, pauta fundamental. Na última segunda, no entanto, novos nomes foram oficializados no Grupo de Trabalho da Educação, dentre eles representantes do campo sindical, como Heleno Araújo, presidente da CNTE, das universidades, como o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, e representantes da gestão pública da educação, como o ex-ministro Henrique Paim. A reconfiguração aponta uma conjuntura importante para as forças populares, que se estende a todas as áreas do novo governo, será necessário manter uma intensa mobilização para incidir e unificar pautas centrais para disputar os rumos dos próximos quatro anos.

SEMANA

Sejamos antirracistas e antifascistas!

do clube Grêmio Náutico União, realizado no último dia 14 de outubro, em Porto Alegre, servem para expor a dura realidade do povo negro.

Na grande maioria das vezes, as vítimas sofrem em silêncio por não estarem empoderadas o suficiente para uma reação. Dessa forma, o racismo estrutural vai se perpetuando ao longo do tempo.

Existe uma tentativa de apagar a participação da raça de pele preta na formação econômica, social, cultural e religiosa do Estado. A afirmação da superioridade branca é algo presente no DNA do gaúcho e que não pode

A luta contra o racismo é perma-

Reprodução

nente, sobretudo nas relações de trabalho. É inadmissível que mulheres, especialmente as pretas, ganhem menos que os homens quando exercem a mesma função. A equidade salarial precisa virar realidade.

O povo negro está de olho nas investigações em andamento acerca do racismo sofrido por Seu Jorge. Que os racistas sejam devidamente identificados e penalizados na forma da lei! Só lograremos uma sociedade verdadeiramente livre, justa e democrática, quando nos livrarmos das mazelas do passado escravocrata, agravado pelo clima de ódio, intolerância e violência alimentado pelo fascismo.

Sejamos antirracistas e antifascistas para construirmos um tempo de respeito, justiça, igualdade e paz!

Agora é sua vez! Entre em contato por e-mail ou pelas redes sociais, comente uma de nossas matérias e apareça aqui no BdF impresso

FALA POVO

EXPEDIENTE

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 283 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano

REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM

NESTA EDIÇÃO Claudia Kanoni e Isis Garcia

ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires FOTOGRAFIA

Giorgia Prates REVISÃO Lea Okseanberg

ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume

DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO

OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian

CONTATO pautabdfpr@gmail.com

REDES SOCIAIS

/bdfpr @brasildefatopr

Paraná, 17 a 23 de novembro de 2022 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
Isis Garcia, Bancária e secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS
2 Opinião
Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016
editorial opinião

FRASE DA SEMANA

Precisamos pegar de volta tudo o que era da Petrobras, diz Estrella

O geólogo Guilherme Estrella defendeu a mudança radical na relação da Petrobras com o povo brasileiro. Em entrevista ao “SOS Brasil Soberano”, disse que a empresa deve deixar de bene ciar os rentistas e atuar de acordo com o interesse nacional. “Esse é o grande desa o para este nosso novo governo do presidente Lula, eleito democraticamente, que vai se iniciar formalmente em 1 de janeiro”, diz.

“Essa é a grande realidade perversa em relação à soberania nacional: a Petrobras de hoje não tem nada a ver com a Petróleo Brasileiro S.A. O que existe é um fundo de investimen-

to nanceiro no setor de petróleo; pior do que a ‘Petrobrax’ do FHC”, critica.

Para o geólogo, desta vez, a medida fundamental para o trabalho de desconstrução da Petrobras foi tomada ainda no governo Temer, com o m do marco regulatório do Pré-Sal e da exigência de a estatal atuar como operadora única na exploração dessas reservas.

“Precisamos recuperar tudo da Petrobras, para que ela seja o grande instrumento de geração de recursos para investimentos nas empresas brasileiras. Empresas de engenharia, do setor metal, mecânico”, a rma Estrella.

Disse a deputada eleita Marina Silva na viagem em que acompanha o presidente Lula na conferência mundial do clima, a COP27. Para ela, o Brasil: “precisará recompor equipes, recompor Orçamento. Não vamos nos esquecer que o Orçamento de 2023 está sendo feito pelo Bolsonaro, que não priorizou absolutamente nada que diz respeito ao meio ambiente, aos povos indígenas....”, continuou.

Pesca artesanal

O deputado estadual Goura (PDT) abriu consulta pública para receber sugestões ao Projeto de Lei Estadual da Pesca Artesanal. “Queremos que a sociedade, principalmente os pescadores artesanais e todos aqueles relacionados à atividade, contribuam na elaboração do projeto de lei. O objetivo é construir a melhor lei possível e que contemple a realidade do setor”, a rmou. A consulta pública está aberta até o dia 30 de novembro. Informações no site do mandato Goura.

Fotojornalismo paranaense

Saudade do Brasil Paranaenses na transição Brasil ouvido

Na conferência mundial do clima, a COP27, no Egito, o presidente eleito, Lula, pôs o Brasil novamente em evidência. Disse que: “O planeta que a todo momento nos alerta de que precisamos uns dos outros para sobreviver. Que sozinhos estamos vulneráveis à tragédia climática. Ignoramos esses alertas.

Gastamos trilhões de dólares em guerras que só trazem destruição e mortes, enquanto 900 milhões de pessoas em todo o mundo não têm o que comer.”

Lula também disse que o que mais ouviu foi que as pessoas estavam com “saudade do Brasil”. Respondia que o Brasil está de volta: “Para reatar os laços com o mundo e ajudar novamente a combater a fome no mundo. Para cooperar com os países mais pobres com investimentos e transferência de tecnologia. Para estreitar novamente relações com nossos irmãos latino-americanos e caribenhos... Para lutar por um comércio justo entre as nações e pela paz.”

Não existem dois planetas

Também lembrou das eleições no Brasil e que não existem dois brasis. Pegou o gancho para a rmar que também: “Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade, e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desigualdades entre ricos e pobres.” Aproveitou também para anunciar, a partir de 2023, no Brasil, a Cúpula dos Países Membros do Tratado de Cooperação Amazônica e a candidatura do país à sede da COP 30, em 2025.

Entre os nomeados para a transição para o futuro governo destacam-se paranaenses. Entre eles, na educação, o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo. No grupo de Transparência, Integridade e Controle estão os advogados Luiz Carlos da Rocha, Manoel Caetano e Juliano Breda. Também integram a transição a deputada Gleisi Hoffmann e a socióloga Janja da Silva, entre outros representantes do estado.

O Sindijor-PR terá exposição fotográfica sobre democracia a partir de 5 de janeiro de 2023. A proposta é aproveitar o momento pós-eleições para enaltecer o trabalho de fotojornalistas do Paraná. Os registros devem ter sido feitos em 2022 em qualquer uma das cidades do Estado por fotojornalistas profissionais registrados na DRT. Os profissionais devem enviar foto tamanho 24x34 em alta resolução para o email imagem@sindijorpr. org.br até 5/12, com preenchimento de formulário que pode ser encontrado no site da entidade. As melhores fotos serão selecionadas por comissão julgadora formada por convidados e diretoria do Sindijor e Arfoc-PR. A exposição acontecerá no bar e restaurante Barvinho. Informações (41) 3224-9296.

Como participar

Paraná, 17 a 23 de novembro de 2022 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
“O governo terá que reestruturar tudo que foi destruído”
Geral 3
NOTAS BDF Por Frédi Vasconcelos Reprodução Divulgação Agência Brasil

Vida das mulheres será prioridade, diz paranaense que está na equipe de transição de Lula

Ministério das Mulheres é apontado como uma das

Ana Carolina Caldas

medidas no novo governo

A

professora Maria Helena Guarezi é paranaense e integra a equipe de transição do governo Lula no grupo de trabalho de Políticas para Mulheres. Ela já participou no sábado, 11, da primeira reunião junto a outros nomes como Anielle Franco, do Instituto Marielle Franco; a economista Roseli Franco, Roberta Eugênio, diretora do Instituto Alziras, Eleonora Menicucci, ex ministra da Secretaria de Política para Mulheres e Aparecida Gonçalves, ex-secretária Nacional da Violência contra a Mulher.

No currículo, Maria Helena foi dirigente sindical na área da educação e trabalhou em Itaipu para a construção da igualdade entre homens e mulheres, com atuação premiada internacionalmente. Em entrevista

ao Brasil de Fato Paraná, analisa o governo Bolsonaro e destaca que é tempo de reconstrução de políticas e direitos das mulheres. Confira:

Brasil de Fato-PR – Como foi sua trajetória até chegar à equipe de transição do governo Lula?

Maria Helena Guarezi – Iniciei minha participação já na década de 70 nos grupos de jovens da Igreja Católica, depois nas comunidades eclesiais de base e em grupos ecumênicos, onde fui me dando conta das desigualdades sociais e de gênero. Já formada, em sala de aula, na participação sindical – onde iniciei em 1981–, e partidária (me filiei ao PT em 1986), além das atividades religiosas, a observação, a leitura e as reflexões coletivas foram me dando subsídios para entender a luta de

classe e defender a igualdade.

Estive na organização de base, na direção Estadual da APP Sindicato e também na direção estadual da CUT/ PR. Fui membro do Diretório Municipal e do Coletivo de Mulheres do PT, participei como consultora da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB Paraná, além de integrar o Conselho Estadual da Mulher do Paraná. Em 2003, Lula é eleito presidente e, em 2004, a convite da Gleisi Hoffmann, então diretora financeira da Itaipu Binacional, iniciamos um trabalho para a construção da igualdade entre homens e mulheres na empresa.

O trabalho no Programa Incentivo à Equidade de Gênero se estendeu para a região da Bacia do Paraná 3. Depois, por iniciativa e coordenação da Itaipu, propusemos e, junto com todas as outras empresas federais do setor elétrico-energético, consolidamos o Comitê Permanente da Equidade de Gênero do Ministério de Minas e Energia. Itaipu Binacional foi reconhecida com os 5 selos Pró-Equidade de Gênero e Raça da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, com os 7 Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU e com o Prêmio Oslo Business for Peace 2014 – Prêmio Oslo de negócios pela Paz.

Qual é a situação atual dos direitos e políticas públicas para mulheres? Bolsonaro governou a partir de uma política de extrema-direita, que também é defendida por

uma parcela da sociedade brasileira. Aproveitando-se desses grupos, expôs a população e, em especial, as mulheres, população negra e pobres a uma política econômica excludente, preconceituosa e violenta. Tal política teve sua expressão simbólica no próprio comportamento e posicionamento de Bolsonaro.

Toda sua política é agressiva, particularmente com as mulheres. Falar de política de alimentação, de participação política, de educação, de saúde, de moradia, de emprego, de meio ambiente, de trabalho, de cultura, de lazer, de previdência, de políticas para as cidades, enfim, todas elas afetam fortemente as mulheres que, além de sermos parte majoritária da população, fomos colocadas como sustentação invisibilizada da sociedade.

Mas um dos momentos mais dramáticos foi o período da pandemia, onde além da questão sanitária e de saúde que levou muitas vidas e das questões econômicas que atingiram particularmente as mulheres, houve aumento da violência doméstica, feminicídio e corte em todos os setores de apoio a essas mulheres.

O que é possível adiantar como diretrizes do governo Lula para esse setor? Todos pudemos contribuir para as propostas do plano de governo do candidato Lula e que foram apresentadas para a sociedade no processo eleitoral. Uma das coisas mais importantes da campanha é que teremos o Ministério da Mulher. Das propostas que já estão sendo debatidas no próximo governo, há o aumento real do salário mínimo, Auxílio Brasil/Bolsa Família e até o Programa Minha Casa Minha Vida, todos com impactos imediatos e cotidianos na vida das mulheres. Políticas para mulheres serão reconstruídas, transversais, essa é uma das prioridades do novo governo.

Paraná, 17 a 23 de novembro de 2022 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
4 Brasil
Políticas para mulheres serão reconstruídas, transversais, essa é uma das prioridades do novo governo”
Arquivo Pessoal

Desafios de Lula passam por aumentar salários e garantir auxílios

Novo governo tem de mudar economia enfrentando a especulação do “mercado”

liberais, e de Nelson Barbosa e Guilherme Mello, mais ligados ao PT, formam o grupo de trabalho econômico no governo de transição.

Entenda o que está em jogo agora

Desde a eleição, Bolsonaro sumiu e o país parece estar sem governo até 31 de dezembro. Até por isso, muito das especulações e do sobe-e-desce da economia vêm sendo atribuídos a falas do presidente eleito, Lula. Numa disputa em que os chamados “mercados” e mesmo a imprensa corporativa pretendem enjaular o próximo presidente para que ele não faça mudanças na economia que prometeu na campanha.

Num momento em que os truques de Bolsonaro para tentar ganhar a eleição já co-

meçam a dar com os burros n’água, como, por exemplo, alta nos preços, depois de uma deflação ocasionada pela tirada de impostos dos combustíveis dos estados. Além dos muitos furos no orçamento do ano que vem, enviado por Bolsonaro, que o novo governo vem tentando enfrentar desde já.

O discurso do presidente eleito contra a fome, no encontro com parlamentares aliados em Brasília, por exemplo, no último dia 10, foi usado nessa especulação, por conta de uma suposta flexibilidade fiscal e o rompimento do teto de gastos para garantir dinheiro para programas sociais.

“Qual é a regra de ouro deste país? É garantir que nenhuma criança vá dormir sem tomar um copo de leite e acorde sem ter um pão com manteiga para comer todo dia. Essa é a nossa regra de ouro”, disse Lula. O discurso “assustou” o mercado

especulativo e fez o índice Bovespa cair 3% e o dólar subir para R$ 5,32 em um dia.

Pressão Para a economista Juliane Furno, o sistema financeiro, que vem especulando a respeito das decisões que Lula tomará na economia, irá cumprir um papel de pressão política. “O mercado vai fazer o que já fez em outros governos Lula, que é pressionar politicamente o governo. O que provavelmente eles irão defender uma estabilidade nos preços, com controle da inflação e pressionar para um controle dos gastos do estado”, afirma.

O presidente eleito ainda não confirmou os nomes para comandar a economia e negocia com o Congresso um projeto de emenda à Constituição (PEC) para garantir o pagamento de 600 reais do Auxílio Brasil em 2023. Os nomes de Pérsio Árida e Lara Resende, mais

Com a pluralidade de visões da equipe econômica de transição, reunindo nomes históricos ligados ao PSDB, caso de Lara Resende e Pérsio Árida, Furno reflete que algumas linhas deverão ser seguidas. “Temos dois nomes mais ligados ao PT, o Pérsio Árida, que é mais liberal, e o Lara Resende, que é um crítico do teto de gastos. O que esse grupo irá desenhar em curto prazo é uma fuga do teto de gastos, em médio prazo é uma nova regra fiscal, que possibilite uma meta de gastos, e não só de contenção”, reflete.

Com o orçamento reduzido em diversas áreas sociais, como o Farmácia Popular, Auxílio Brasil, e até para a saúde, o desafio do futuro governo será garantir promessas de campanha como o aumento do salário mínimo e a recuperação de programas sociais, com um orçamento apertado, apresentado pelo governo Bolsonaro.

Teto de gastos Criado no governo Temer por uma emenda constitucional, o teto de gastos impede que o governo aumente seus gastos primários além da in ação por 20 anos desde a adoção da medida. Resumindo, não pode aumentar despesas com saúde, educação etc. É bom lembrar que a medida não impede o aumento das despesas com juros, o que bene cia os bancos e o tal “mercado”.

Salário mínimo e auxílios Nos últimos quatro anos, não houve aumento real do salário mínimo. Lula está tentando negociar com o Congresso medidas para voltar a dar aumento para o salário, além de garantir a continuidade do Bolsa Família e dos Auxílios Emergenciais maiores, que não têm recursos previstos no orçamento.

Geração de empregos Outro ponto importante, é conseguir recursos para programas como o Minha Casa Minha Vida para a geração de empregos no país. A queda na taxa de desemprego nos últimos meses está ligada principalmente ao crescimento do trabalho informal e com salários mais baixos.

Paraná, 17 a 23 de novembro de 2022 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
Gabriel Carriconde Divulgação
Redação
Brasil 5
3%
Divulgação
queda da Bovespa após discurso de Lula pelo fim da fome

Reexistências negras: Perfil de Dirleia Matias

Claudia Kanoni da população, segundo o IBGE, ainda aposta no apelo publicitário para se autoafirmar como “a capital europeia no Brasil”.

Aousadia de caber em sua própria vida parece ser uma marca de Dirleia Matias: mulher negra, de axé e de origem periférica, a curitibana revela uma alma emancipada dos padrões de beleza que, até então, são pactuados por sua terra natal.

É dona de cabelos crespos e de uma pele concentrada em melanina. Tem olhos redondos, avolumados e um riso frouxo sempre acompanhando a fala, gesto que revela a calma de quem escolhe a leveza como aliada e poupa prejuízos por antecipação. Diante disto, a pergunta que ecoa é: como desenvolveu a autoestima e aceitação de si mesma em meio a uma cidade que invisibiliza a beleza e a contribuição dos seus semelhantes? Curitiba, embora seja a capital mais negra do sul do país, com 24%

É, também, neste sentido que Dirleia estampa a força da própria história: nasceu em uma vila, no ápice da ditadura militar (1968) e numa região que até pouco tempo era parte das propriedades do imigrante alemão Robert Hauer. Hoje, é a tradicional Vila Lindóia que, assim como as 209 periferias registradas pelo IPPUC não compõe o cartão postal da cidade.

Cresceu ali, em uma casa simples sustentada por seus pais, dois vendedores ambulantes, e teve sua trajetória inspirada por sua mãe, também mulher negra, a quem agradece pela conquista de um diploma de ensino superior. “Com 19 anos a mãe já tinha quatro filhos, por isso, sempre

estimulou que estudássemos, conquistássemos nossa independência. Ela sabia que a educação era capaz de mudar aqueles ‘fins previsíveis’ na vida de uma mulher negra”, defende.

Mobilização na Universidade

A caminhada na educação começou em escolas da periferia. Enquanto aluna, criou vínculos para além da sala de aula; teve mestres. Criança, levantou a poeira das ruas brincando até tarde da noite; fez amigos. Enquanto jovem, foi em busca de um diploma; teve sonhos.

Na Federal do Paraná (UFPR) percebeu a timidez institucional quanto à questão racial. Questionou então qual a sua posição como cidadã negra numa sociedade racista e compreendeu a luta como resposta.

Aderiu ao movimento negro, realizou levantamento e descobriu que apenas seis alunos da reitoria também eram negros.

Comprovou que o letramento ainda estava restrito à população branca e mobilizou ações contra esse cenário, direcionou o olhar e procurou por seus pares.

Entre as atividades que desenvolveram está o Baluarte Negro, grupo constituído de mulheres negras que se reuniam para reflexões e promoção de ações culturais com enfoque na cultura afrobrasileira em Curitiba. O movimento cresceu e chegou a ser incluído na programação oficial de aniversário da cidade, uma coalizão feminista e negra em solo curitibano. Simultaneamente, Dirleia terminou a graduação e tornou-se pedagoga.

Criação da Duda Pimenta

Dirleia não se intimida diante da vida e contorna os obstáculos usando os próprios pés para alçar seu voo, reinventa-se ao conciliar a pedagogia com dois projetos pessoais: a escrita de um livro sobre a vida de seu avô e uma empresa de lingerie direcionada à moda “plus size”, especialmente para mulheres negras. O sorriso retorna ao rosto e ela, que acabara de revelar-se também escritora, apresenta sua nova marca autoral: Duda Pimenta.

Sem deixar a questão racial, apropria-se de uma outra discussão: as subjetividades em torno da autoestima das mulheres negras gordas, ou as chamadas “fora do padrão”. Dir-

leia expõe sua própria experiência ao revelar que sempre teve dificuldade de achar uma lingerie que a deixasse confortável com o reflexo do espelho. Assume que passou boa parte da vida dizendo a si mesma que vestia a numeração 48 e após assumir a direção da máquina de costura precisou fazer as pazes com um corpo cuja numeração estava acima do 50. Aprendeu sobre o chamado autoamor. “A nossa beleza é colorida. É crespa. É de todos os tamanhos e idades. O belo também está na pluralidade das mulheres negras!

Confira o perfil completo em www.brasildefatopr.com.br

Paraná, 17 a 23 de novembro de 2022 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
“Ela sabia que a educação era capaz de mudar aqueles ‘fins previsíveis’ na vida de uma mulher negra”
PUBLICIDADE Giorgia Prartes Foto: Giorgia Prartes 6 Perfil

Roseane Santos lança canção que olha nos olhos da miscigenação

Ana Carolina Caldas raça e identidade, diáspora negra, a condição de povos originários e colonização. Sem pretender dar conta de toda extensão de questões tão profundas, “Parda Latina Periférica” vem ao mundo como desabafo a partir da perspectiva de uma mulher negra, LGBTQIA+, com mais de 50 anos.

Acantora e compositora paranaense Roseane Santos dá mais um passo na carreira de “cantautora” e lança “Parda Latina Periférica”. “Bronzeia o negro, realça os olhos mel”, diz a canção que olha nos olhos da miscigenação, reconhecendo suas complexidades, belezas e violências. A novidade vem na sequência de “Fronteiriça” (2020), seu primeiro álbum autoral, e de “Livro Vivo vol. 1” (2021), parceria com Luciano Faccini e Faetusa Tirzah.

Escrito pela própria Roseane e musicado por Luciano, o novo trabalho propõe um trajeto por temas como

“Eu, que fui registrada como ‘parda’, envolta nas discussões sobre o colorismo. Essa canção surgiu a partir disso. Um debate complexo que, mais uma vez, traz foco para o racismo e que agora nos move para uma camada que separa os pretos de pele mais clara dos pretos de pele mais escura”, explica Roseane. “E

Amazônia Passa Aqui

As complexidades sobre o meio ambiente em escala global estão sendo tratadas nestes dias pela COP27, no Egito. Em Curitiba, para sensibilizar a população acerca desses temas, foram realizadas atividades promovidas pela Campanha Amazônia Passa Aqui desde junho deste ano.

Programação

A campanha deslizou pelas ladeiras de bicicleta, promoveu conversas com ambientalistas, ritos indígenas, sessões de filmes e danças em roda. Através de atividades para adultos e crianças, buscou sensibilizar nossa íntima relação com a Floresta Amazônica e Mata Atlântica, biomas de destaque nessas ações.

Encerramento Em 19 de novembro acontecerá o encerramento destas ações na Praça de Bolso do Ciclista e na Bicicletaria Cultural

seguimos assim, deixando o povo preto cada vez mais em situação de vulnerabilidade e sujeito à exploração. A escravidão acabou? Terei direitos iguais aos homens e mulheres brancas? Ou serei perseguida na rua e dentro dos supermercados? Alguns pretos podem não se entenderem como pretos ainda, mas os brancos sabem muito bem quem não é branco”, destaca.

A nova música, lançada no dia 16 de novembro, já está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Music e Youtube

DICAS MASTIGADAS

beterraba)

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Ingredientes

entre elas: Show Natal Brasileira, da cantora, compositora e ativista, Melina Mulazani, às 11h, na Praça de Bolso do Ciclista. Haverá também o cina de serigra as, no mesmo horário, na Bicicletaria Cultural. No mesmo local, às 16h acontece Lançamento do videomanifesto “Amazônia Passa Aqui”. E às 20h haverá roda de conversa com ambientalistas e show com Noe Carvalho. Para mais informações, acesse: https://amazoniapassaqui. com.br/

1 repolho roxo orgânico fatiado; 1 beterraba orgânica; ½ xícara (chá) de uvas-passas pretas; ½ xícara (chá) de maionese; ¼ de xícara (chá) de vinagre de maçã; 2 colheres (chá) de sal; Salsinha.

Modo de preparo Rale a beterraba. Pique a salsinha de forma grosseira. Lave bem o repolho fatiado em tiras finas. Deixe escorrer e depois tempere com sal e misture, amassando com as mãos e massageando bem o repolho. Aperte bem para tirar o excesso de água e transfira para uma tigela. Adicione o vinagre ao repolho e misture bem. Junte a beterraba ralada, as uvas-passas, a maionese e a salsinha.

Paraná, 17 a 23 de novembro de 2022 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
| Coleslaw (salada de repolho e Nova música autoral já está disponível nas principais plataformas como Spotfy e Youtube
Cultura 7
Reprodução Reprodução Reprodução

Catar recebe 22ª edição da Copa sob críticas e expectativa brasileira pelo hexa

Uma Copa do Mundo no Oriente Médio e no fim do ano. A 22ª edição do Mundial da Fifa, que começa no dia 20, é recheada de novidades e polêmicas. Com denúncias de desrespeito e violações aos direitos humanos e alegações de pagamento de propina à Fifa para escolha do país com sede, o Catar recebe as 32 seleções para a Copa do Mundo sob o ar pesado de críticas europeias, mas com torcedores ansiosos para ver uma geração de atletas em campo disputando o último mundial.

O Brasil tentará a sexta estrela e é uma das seleções favoritas, apesar das cobranças por conta da polêmica convocação do técnico Tite. Dentro ou fora das quatro linhas, o certo é que a Copa deve parar o planeta e fazer milhares de trabalhadores aproveitarem uma espécie de “feriado” à

tarde, já que os jogos iniciais brasileiros ocorrerão às 16h e às 13h em dias úteis.

Críticas Desde 1978, quando a Copa foi disputada na Argentina sob a ditadura do general Videla, um mundial não sofria tantas críticas. De acordo com o jornal inglês “The Guardian”, cerca de 6.500 trabalhadores imigrantes que construíram os luxuosos estádios climatizados morreram. Oficialmente, o comitê local admite a morte de 37 operários. As críticas também relatam inúmeros casos de violência e repressão à comunidade LGBTQIA+. De acordo com a ONG Humans Rights Watch, o governo catari tem prendido e torturado pessoas LGBT. Os seguidos casos vêm motivando boicotes de artistas que se recusam a cantar na abertura do campeonato, como a cantora Shakira, e protestos de seleções como Dinamarca e Estados Unidos.

Expectativa Esta edição do mundial será a última de grandes nomes do futebol mundial, casos de Messi (Argentina), Cristiano Ronaldo (Portugal), Lewandovski (Polônia) e Luka Modric (Croácia). Para Messi e CR7, levantar a taça pode ser a consagração de carreiras lendárias. Já o selecionado canarinho liderado por Vini Jr e Neymar tenta con rmar certo favoritismo. O Brasil chega com nove atacantes e vem botando medo na imprensa estrangeira. A caminhada do hexa começa na quinta, 24, às 16h, contra a Sérvia.

O tricolor é preto

Por Marcio Mittelbach

Precisando vencer um Cuiabá praticamente de férias (só seria rebaixado se o Ceará goleasse o Bragantino por 6 gols de diferença, igualando a façanha do Fortaleza), o Coritiba não conseguiu alcançar o 14º lugar na Série A que lhe garantiria a última vaga dentre os brasileiros para a Copa Sul-Americana de 2023. Além do prejuízo nanceiro de aproximadamente R$ 9 milhões, a derrota no Mato Grosso aumenta o desgosto do torcedor, pois o clube não participa de competição continental desde 2016, quando foi eliminado nas quartas-de-nal pelo então campeão da Libertadores (Atlético Nacional de Medellín). Nas próximas colunas, faremos um balanço do futebol do clube neste ano, que teve uma alegria (conquista do Estadual) e um alívio (a permanência na 1ª Divisão). Muito pouco para a expectativa criada desde o m da temporada passada.

Nada melhor para celebrar o Dia da Consciência Negra do que falar de um dos ancestrais do Paraná Clube: o Britânia Sport Club. A equipe foi fundada por operários, muitos deles negros, que batiam uma bola onde hoje é a Praça Eufrásio Correia, em frente à antiga Estação Ferroviária de Curitiba. Em homenagem a outro time de operários, o primeiro do país a aceitar negros, o Bangu Atlético Clube, o Britânia adotou as cores vermelho e branco e o uniforme com listras vermelhas verticais. O alto desempenho do Britânia subverteu a lógica do campeonato paranaense, que até então só aceitava times da aristocracia, fazendo o “clube dos pretos”, como cou conhecido, receber o convite para disputar o campeonato em 1916. O Britânia se tornou o primeiro time hexacampeão paranaense entre 1918 e 1923 e só perdeu força em 1930, com a criação do Ferroviário, que levou os melhores jogadores. Bem mais tarde, em 1971, os dois times se juntaram ao Palestra Itália e formaram o Colorado Esporte Clube.

ELAS POR ELA

Fernanda Haag Os últimos compromissos de 2022

A Seleção Brasileira de mulheres cumpriu seus últimos compromissos em 2022. A Data Fifa de novembro teve dois amistosos com o Canadá. Sim, aquele mesmo que nos eliminou nos pênaltis durante as Olimpíadas e acabou se sagrando campeão. Tinha um gostinho de revanche no ar. Outro aspecto a se destacar dessas partidas: a Seleção jogou em solo brasileiro, o que não tem sido tão frequente. O que não é muito produtivo, pois jogar em casa é fundamental para a torcida estreitar os laços com o selecionado. Mas vamos ao que interessa. O primeiro jogo ocorreu na sexta-feira, 11, na Vila Belmiro, e as canadenses acabaram vencendo por 2x1. As canadenses zeram 2 a 0 ainda no primeiro tempo com gols de Zadorsky e Leon. Debinha descontou após lindo passe de Kerolin, mas camos por aí. O cenário mudou no segundo jogo. A bola rolou na Neoquímica Arena na terça, 15, com público de 19.586 pessoas. O Brasil venceu também por 2x1. Bia Zaneratto abriu o placar, as canadenses empataram com Lawrence e a vitória veio nos acréscimos do segundo tempo com gol de Ana Vitória, após escanteio. Seguimos nos preparando, porque ano que vem tem Copa do Mundo!

Que legado vamos deixar?

Por Douglas Gasparin Arruda

Chegando ao m da temporada e a torcida rubro-negra tem muito o que comemorar, mas, também, precisa de uma mudança urgente. Terminamos o ano classi cados para a Libertadores, chegamos na nal mais importante do futebol latino-americano e subimos para a Série A no feminino. São conquistas importantes. Mas não dá mais para suportar os casos sequentes de racismo em nosso estádio. Nos tornamos uma das torcidas mais reconhecidas do Brasil por comportamentos vergonhosos e que poucas reexões trazem para o clube, e obviamente o fato do presidente ser um bolsonarista declarado não é um mero acaso nisso tudo. De nada adianta um clube construir uma história tão vitoriosa e produzir na arquibancada tantas histórias horríveis de racismo, que se repetem exaustivamente.

Paraná, 17 a 23 de novembro de 2022 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
8 Esportes
Por Cesar Caldas Sem torneio continental pelo 7º ano seguido Gabriel Carriconde
Jogo
Brasil
BRASIL
PRIMEIRA FASE XBrasil Brasil Brasil Sérvia Suíça Camarões 24/11 16h 28/11 13h 2/12 16h
de abertura será dia 20, entre Catar e Equador.
estreia na quinta, 24 TABELA DO
NA

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.