Ano 3 | Edição 72
PARANÁ
8 a 14 de março de 2018
distribuição gratuita Mídia Ninja
SEM MEDO DE SER MULHER
8 de março, Dia Internacional de Luta da Mulher. Um dia para durar o ano todo. Por igualdade de oportunidades, salários e direitos. Pelo fim da violência física e psicológica. Nesta edição, o Brasil de Fato Paraná traz reportagens e perfis que mostram a realidade e a força das mulheres brasileiras
Mulher, mãe e professora Paraná | p. 6 e 7 Mulheres do campo marcham em Curitiba Geral | p. 3 8 de março é dia de estarmos atentas e fortes Opinião | p. 2 Clementina de Jesus revolucionou a música Cultura | p. 11
2 | Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 8 a 14 de março de 2018
EDITORIAL
CHARGE
8 de março é dia de estarmos atentas e fortes H
á muito tempo as mulheres trabalhadores de todo o mundo travam uma luta constante por igualdade social e cultural, como o direito a salários igualitários, ao voto e ao divórcio. As desigualdades são estruturais e ligadas em sua raiz às contradições do mundo capitalista. O patriarcado (quando os homens é que têm poder) exerce papel de dominação econômica e de poder sobre a vida das mulheres. No Brasil, a resistência das mulheres encontra eco na história de libertação do povo negro, nas greves operárias, na defesa da terra, na sustentação das famílias em que as guerreiras do povo são a ponta de lança.
A reforma da previdência afeta centralmente às mulheres, especialmente as camponesas
OPINIÃO
Hoje se vive pior Dr. Rosinha,
médico e presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT-PR)
É
Uma série de direitos conquistados nessa trajetória estão sendo retirados desde o golpe de Estado de 2016. Destaca-se a tentativa, até agora sem sucesso, de reforma previdenciária do (des)governo Temer, que afeta centralmente às mulheres, especialmente as trabalhadoras do campo. Nessa proposta, o acesso à aposentadoria se daria somente aos 65 anos de idade, com no mínimo 25 anos de contribuição. A PEC 287 ignora as desigualdades de gênero presentes no mundo do trabalho e a dupla jornada que ainda é imposta à maioria das mulheres. Por isso, é fundamental reafirmarmos o 8 de março como dia de LUTA das mulheres. Por isso, precisamos estar atentas e fortes.
importante, para a reflexão, compararmos períodos e aqui comparo, para auxiliar na reflexão, dois períodos políticos e históricos recentes: o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de 1994 até 2002, e o período de governos do PT, de 2002 a 2016. A riqueza do Brasil, chamada de Produto Interno Bruto (PIB), em 2002 era de R$ 1,48 trilhão. Em 2013 era R$ 4,84 trilhões. Esses números indicam que, nos governos do PT, o Brasil cresceu mais e que este aumento da riqueza foi distribuído entre todos. A distribuição se dava a partir do cálculo do valor do salário mínimo. O salário mínimo era calculado com a soma da inflação
mais o crescimento do PIB. Esse método de cálculo fazia com que o salário mínimo fosse corrigido com valor acima da inflação. Era uma maneira
No governo do golpista e corrupto Temer (MDB), o salário mínimo foi corrigido em 1,81%, enquanto a inflação foi de 2,95%” de distribuir renda. Hoje, no governo do golpista e corrupto Temer (MDB), o salário mínimo foi corrigido em 1,81%, enquanto a inflação foi de 2,95%. Isto significa que você compra menos do que no ano passado. Isto prejudica as pessoas aposentadas e pen-
sionistas, cuja maioria recebe um salário mínimo. Outra questão: nos oito anos de governo Fernando Henrique, foram gerados, em média, 627 mil empregos por ano. Já nos governos Lula e Dilma, em 13 anos, foram gerados, na média, 1 milhão 790 mil empregos por ano. Hoje no Brasil há cerca de 13 milhões de pessoas desempregadas, o que representa 12,2% dos trabalhadores e trabalhadoras. Em 2002, quando Lula foi eleito presidente, a taxa de desemprego por coincidência era a mesma de hoje, 12,2%. No final de 2013, a taxa de desemprego era de 5,4%. Poderia continuar fazendo comparações em todas as áreas, mas ficarei só na questão do salário e do emprego/ desemprego, para mostrar que hoje a maioria do povo do Brasil vive pior que nos governos do PT (2002-2016).
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Sergipe e Paraná. Esta é a edição nº 72 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Ednubia Ghisi, Franciele Petry Schramm e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz e Julia Rohden COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Thaísa Biazin. Dr. Rosinha e Julio Carignano ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souzae Priscila Murr FOTOGRAFIA Lia R. Bianchini, Giorgia Prates e Valdete da Graça ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO redacaopr@brasildefato.com.br IMPRESSÃO Grafinorte (Nei)
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Paraná, 8 a 15 de março de 2018
FRASE DA SEMANA
QUE DIREITO É ESSE?
“Tentamos dar um passo a frente a um mundo onde todas as crianças possam crescer vendo personagens de filmes que se parecem, conversam e vivem como elas. A representação é importante”,
Naiara Bittencourt*
Quais são as medidas protetivas de urgência para mulheres vítimas de violência? A Lei Maria da Penha criou ferramentas para tentar impedir a violência doméstica e familiar contra as mulheres. Pela Lei, violência contra a mulher são todas as situações que causem sofrimento, desde agressão física a agressões psicológicas, sexuais, morais e patrimoniais (sobre bens e dinheiro). O(a) agressor(a), nestes casos, geralmente é próximo da vítima, pode morar na mesma casa ou ter alguma relação pessoal com ela. Como essas relações são delicadas, a lei prevê medidas de proteção urgentes, para evitar novas violências. As medidas protetivas devem que ser solicitadas pela mulher à autoridade policial (na Delegacia da Mulher, por exemplo) ou ao Ministério
Público, e serão decididas pelo(a) juiz(a) em 48 horas. As medidas contra o agressor podem ser: o afastamento do lar; a proibição de ter contato com a mulher e, em alguns casos, com filhas/os; proibição de frequentar lugares (como bares, local de trabalho da mulher, casa dos avós da criança); o pagamento de pensão provisória; e impedir a posse ou porte de armas. Já as medidas para as mulheres e seus filhos são: o encaminhamento a programa ou abrigo de proteção; voltar ao lar após o afastamento do agressor; garantia de pensão e de não perder dinheiro e bens, separação, entre outros. *Advogada popular da Terra de Direitos e militante da Marcha Mundial das Mulheres
disse o diretor de cinema Lee Unkrich, durante a premiação do Oscar. Unkrich recebeu o prêmio de ‘Melhor animação’ pelo filme Coco (A vida é uma festa, no Brasil), que conta a história de um garoto mexicano. Todos os atores que participaram da produção são latinos.
Divulgação
Mulheres do campo marcham em Curitiba contra a violência Lia R. Bianchini
Júlia Rohden, Curitiba (PR)
de ordem feministas, a favor da reforma agrária e contra o presidente Michel Temer. Algumas usavam maquiagem roxa nos olhos, representando a violência física que acontece a cada sete segundos com uma mulher brasileira. Juliana de Melo, mora em acampamento do MST em Rio Bonito do Iguaçu, e conta
Enchentes voltam a castigar famílias de Curitiba Redação, Curitiba (PR)
Ato integra atividades do Dia Internacional da Mulher organizado por movimentos populares
Cerca de mil trabalhadoras rurais de diversas regiões do estado marcharam pelo Centro da capital paranaense na nesta quarta-feira (7) para reivindicar a reforma agrária e o fim da violência contra as mulheres. O ato integra as atividades do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, e foi organizado por movimentos da Via Campesina, entre eles o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Agricultoras de assentamentos, acampamentos e quilombos caminharam da sede do INCRA até a Boca Maldita entoando palavras
3 | Geral
que depois que Temer assumiu a presidência não houve novos assentamentos da reforma agrária e a violência no campo aumentou. “Nós estamos aqui para denunciar a violência, em um sentido amplo, do capital contra todos os povos e territórios, e também a violência do agronegócio contra a mulher do campo”, afirmou a jovem.
A noite do último sábado (3) foi de tensão para cerca de 1,5 mil moradores de Curitiba e Região Metropolitana. Este é o número de pessoas atingidas por alagamentos causados após fortes chuvas, segundo boletim da Defesa Civil. Em 12 horas, choveu 68 mm, mais da metade dos 123 mm previstos para todo o mês, de acordo com Simepar.
A previsão do Instituto é de que as chuvas parem a partir de quinta, dia 8. Entre as 1,5 mil pessoas afetadas, 200 ficaram desalojadas e outras 300 casas foram danificadas. Escolas municipais e Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) tiveram o atendimento afetado no início da semana, em consequência das chuvas.
Protestos Manifestações por causa das enchentes aconteceram na região do CIC, Parolin, Novo Giorgia Prates Mundo e Barigui. As pessoas atingidas trancaram ruas com a queima de móveis estragados pelos alagamentos. As doações para as famílias atingidas devem ser direcionados principalmente às unidades da Fundação de Ação Social (FAS).
4 | Cidades
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Jornalistas do “O Diário” completam um mês de greve, em Maringá Os trabalhadores cobram salários atrasados desde outubro do ano passado Thaísa Biazin, Maringá (PR)
A
greve dos jornalistas do jornal “O diário”, veículo de comunicação localizado em Maringá, no noroeste do Paraná, acontece há cerca de 30 dias. A paralisação dos 15 funcionários começou no dia 7 de fevereiro, motivada pelo atraso no pagamento dos salários desde outubro do ano passado, além do 13°, férias, e o
Fundo de Garantia do tempo de serviço (FGTS), que não são depositados desde maio de 2016. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná, os atrasos de pagamentos começaram em junho de 2016, com pagamento parcelado ao longo deste período. Desde que a situação se estabeleceu, três jornalistas saíram, mas não foram ressarcidos até o momento. Muitos tiveram de vender bens ou faValdete da Graça
zer empréstimos para conseguir pagar as dívidas acumuladas. Durante a greve foram organizados seis protestos, com apoio de membros de Sindjor de Londrina e de diversos Sindicatos da cidade. Nas manifestações, os trabalhadores denunciaram a direção do veículo por estar retirando recursos para sócios da empresa. A atitude dos patrões vai contra a lei de Recuperação Judicial, que vem ocorrendo desde 2016. Os jornalistas também criticam o silêncio das mídias de Maringá à respeito da greve, apontando que o diretor tem usado de influência com os demais proprietários. Proposta O lado patronal ofereceu pagamento dos atrasados condicionado à venda de terrenos e propriedades do grupo empresarial, mas oferta não foi aceita pelos grevistas. De acordo com a jornalista e grevista Tais Nakakura, essa promessa feita anteriormente não foi cumprida: “Nós esperamos que a empresa faça uma proposta concreta, queremos garantias reais”. Em reposta, os jornalistas encami-
Jornalista do Brasil de Fato Paraná recebe homenagem na Câmara Julio Carignano, Curitiba (PR) Como parte das celebrações do Dia Internacional das Mulheres, a Câmara Municipal de Curitiba realiza nesta quinta-feira (8), às 20h, uma sessão solene onde serão homenageadas 32 mulheres de várias áreas de atuação na capital paranaense. Os nomes foram sugeridos pelas oito vereadoras da cidade, que puderam indicar até quatro pessoas cada. Uma das homenageadas deste ano será a jornalista Ed-
nubia Ghisi, editora do Brasil de Fato Paraná. Ela foi escolhida pela vereadora Professora Josete (PT) em virtude de seu trabalho na comunicação popular e pela atuação do veículo na divulgação das pautas dos movimentos sociais e de interesse da classe trabalhadora. Para Ednubia Ghisi, a homenagem é um reconhecimento a todas as mulheres que atuam na comunicação popular e no jornalismo alternativo. “Essas comunicadoras e jornalistas têm papel estraté-
gico neste momento de golpe e de manipulação da informação no país. É uma homenagem que eu recebo em nome de todas essas companheiras”, destaca. Além de Ednubia, o mandato da vereadora do PT irá homenagear a cantora e compositora Janine Mathias; a professora aposentada da Rede Municipal de Ensino Miriam Bialli; e Sara Gorsdorf, uma das fundadoras da Organização Terra de Direitos e articuladora do primeiro Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio no Paraná.
“O corte desse dinheiro também acarreta no desenvolvimento de doenças psicológicas, como já presenciamos com colegas na redação”, Tais Nakakura nharam para a direção um documento com a cobrança dos pagamentos em atraso, Plano de Demissão Voluntária (PDV) atrelado ao pagamento de todas as parcelas em atraso e estabilidade pelo período de dois anos. Além disso, cobram que não sejam descontados os dias parados e nem compensado em banco de horas, uma vez que essa medida não consta na convenção coletiva da categoria. Enquanto não há acordo, a greve continua por tempo indeterminado.
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5 | Cidades
Paraná avança a passos lentos para a humanização do sistema prisional Metodologia Apac está em pleno funcionamento nos municípios de Pato Branco e Barracão Daniel Giovanaz, Pato Branco (PR)
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Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) propõe uma alternativa mais barata e eficiente para execução das penas no Brasil – sem armas e sem policiais. Os detentos passam a ser chamados de “recuperandos”: trabalham, recebem assistência médica e psicológica, seguem um conjunto rígido de normas internas e são encaminhados para ressocialização. Criada pelo advogado Mário Ottoboni, a metodologia foi aplicada no interior de São Paulo, no início da década de 1970, e inspirou mais de 50 municípios, em oito estados brasileiros. Integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU) visitaram o país em 2006 e incluíram a Apac entre as medidas recomendadas para enfrentar a crise no sistema prisional. Naquela época, o número de condenados que reincidiam na prática de crimes era três vezes menor que nas unidades carcerárias
Daniel Giovanaz
tradicionais. O primeiro município paranaense a colocar o método em funcionamento foi Barracão, na fronteira com a Argentina, em novembro de 2012. Cinco anos depois, a reportagem do Brasil de Fato Paraná apresenta uma síntese dos avanços e dificuldades para consolidação da Apac no estado. Balanço positivo Conforme números divulgados pela Apac de Barracão, 40 pessoas cumprem pena naquela unidade: 26 em regime fechado e 14 em regime semiaberto. Dos 149 homens que foram submetidos à metodologia no município, apenas dois voltaram a cometer delitos – uma taxa de reincidência equivalente a 1,3%. No sistema comum, a porcentagem pode chegar a 70%. Apesar do sucesso da iniciativa pioneira, apenas um município do Paraná conseguiu reproduzir a experiência aos moldes de Barracão. Em Pato Branco, no Sudoeste do estado, a Apac funciona desde 2014 no bairro Jardim Floresta e também beneficia 40 ho-
Condenados à prisão em regime fechado se reúnem com a direção da Apac de Pato Branco
mens. Os recuperandos acordam às seis da manhã, arrumam as camas, tomam café e começam a labuta antes das sete. Parte deles produz artesanato, que é comercializado por meio de uma cooperativa. O valor obtido com as vendas é investido na própria estrutura da Apac. O objetivo não é apenas gerar renda. Paulo Roberto dos Santos aproveitou as técnicas aprendidas na Apac para fazer uma placa em homenagem à mãe e presenteá-la no Dia Internacional da Mulher. Para
a mesma ocasião, Ronaldo da Silva confeccionou uma caixa de madeira espelhada, com fotos do filho e da esposa. Todos os cargos de direção e gerência da unidade são ocupados por mulheres. A assistente social Rosa Pelegrini, que preside a Apac de Pato Branco, lembra que o terreno foi cedido pela Prefeitura e que o projeto só avança porque existe apoio da comunidade e do Tribunal de Justiça. Na estimativa da presidenta, foi possível “recuperar” até 80% dos condenados que passaram pela unidade. Fotos: Daniel Giovanaz
Ronaldo da Silva (à esquerda) confeccionou uma caixa de madeira espelhada com fotos do filho e da esposa. Paulo Roberto dos Santos (à direita) exibe homenagem para ser entregue à mãe no dia 8 de março
DESAFIOS Conseguir um terreno e obter recursos para construir uma Apac são as barreiras enfrentadas por aqueles que querem levar a ideia adiante no Paraná. Por isso mesmo, 11 municípios utilizam o método dentro do sistema prisional comum, de forma provisória, e outros 15 têm unidades alternativas de execução de pena em fase de implantação. É o caso de Prudentópolis, na região Sudeste. José Augusto Guterres, que atua como juiz naquela comarca, comemora a cessão de uma sede pela Prefeitura, no final de 2017, mas cita outro desafio à efetivação do método Apac. “Existe na sociedade, e entre algumas autoridades do Poder Judiciário, a ideia de que tudo se resolve com um encarceramento maior”, analisa Guterres. “Mas, quando a gente reúne as pessoas para apresentar estatísticas e soluções técnicas, fica clara a importância de se repensar esse discurso punitivista”. Conforme levantamento realizado pela Secretaria de Administração Prisional de Minas Gerais (SAP/MG) no ano passado, um recuperando da Apac custa ao Estado menos da metade do que um detento no sistema comum.
6 | Paraná
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7 | Paraná
Mulher, mãe e batalhadora: o retrato das professoras da rede pública estadual Políticas do governo Richa (PSDB) pioram a sobrecarga de trabalho das mulheres, maioria da categoria Júlia Rohden
Professora há dez anos em escolas públicas, Silvana Loch conta que redução de horaatividade gerou mais sobrecarga de trabalho
Júlia Rohden, Curitiba (PR)
S
ilvana Aparecida Loch acorda todos os dias às 7h, deixa o café preparado para o filho de seis anos e sai para trabalhar. Ela é professora de língua portuguesa em Campo Mourão, a 450 quilômetros da capital paranaense, e também integra o núcleo municipal do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP). Depois de passar a manhã no sindicato e a tarde na escola Darcy José Costa com alunos de turmas do sexto ao nono ano, Silvana chega em casa e se dedica às tarefas domésticas. Lava roupas, organiza a casa e prepara o jantar. A noite, precisa ainda preparar aulas ou corrigir provas. “Aí eu vou dormir, porque não sobra mais pique”, diz. A professora conta que a redução da hora-atividade, decisão do governo Beto Richa (PSDB) em 2017 que diminuiu duas horas semanais do tempo remunerado para preparação de aulas, gerou acúmulo de
tarefas escolares e domésticas (que ainda são atribuídas às mulheres e não aos homens). “Tenho que levar mais trabalho para casa do que já levava antes. E eu tenho as atividades domésticas, tenho filho e sou mãe solo”, relata.
Professoras temporárias tiveram redução de até 13,3% no salário em 2018. As merendeiras e funcionárias da limpeza recebem valores mais baixos do que o piso regional A secretária da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBT da APP, Lirani Franco, ressalta que a medida significou duas horas a mais por semana dentro de sala de aula e menos tempo para prepará-las. “As mulheres são as que sofrem mais,
porque elas passam a ter mais turmas e têm mais trabalho para levar para casa. E é importante lembrar que são as mulheres que fazem o serviço doméstico, então ficam ainda mais sobrecarregadas”, opina. Mulheres representam 84,4% do total de professores estaduais Silvana Loch é uma das 120 mil mulheres que trabalham como professoras em escolas estaduais do Paraná. Ela relaciona os baixos salários ao fato da maioria da categoria, 84,4%, ser mulher. “Historicamente educar e cuidar é uma tarefa que foi atribuída às mulheres. Os homens que entram na profissão ganham igual a nós, mas o salário é baixo porque é um trabalho classificado como feminino” comenta. Ana Lorena Bruel, do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que durante a década de 1970 o número de escolas aumentou e condições de trabalho pioraram. “Houve a entrada da mulher na profissão docente, mas ela foi
recebida em condições mais precárias que os homens e isso se mantém até hoje” analisa. No Paraná, além da redução da hora-atividade, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) adotou uma política que prejudica os docentes que foram afastados por cursos ou licenças médicas. Esses professores não conseguiram pegar aulas extraordinárias em 2018, aquelas aulas que vão além das 20 horas semanais obrigatórias e que ajudam a complementar a renda. “São políticas de ataque à educação e estão atingindo diretamente as mulheres, que são maioria na categoria”, afirma Lirani Franco. Trabalhadoras da educação tem baixos salários As professoras temporárias, contratadas via processo seletivo simplificado (PSS), também vivem uma situação complicada na opinião das entrevistadas. Isso porque em 2018 o governo Beto Richa diminuiu os salários em até 13,3% – o que significa quase R$ 378 a menos em relação ao ano anterior para professores PSS com nível superior que tra-
“As mulheres são as que sofrem mais, porque passam a ter mais trabalho para levar para casa e são elas que também fazem o serviço doméstico” Lirani Franco balhem 40 horas por semana. A estimativa é que em 2018 sejam mais de 20 mil educadores contratados via PSS para dar aulas nas escolas estaduais. Ana Bruel avalia que a contratação por PSS está sendo abusiva e em condições piores do que em décadas anteriores. “Hoje esses contratos são realizados durante os meses letivos, então, os professores são contratados em fevereiro e os contratos são rescindidos em dezembro. ficam sem salário no mês de janeiro, não sabem se serão re-con-
tratados no ano seguinte ou se continuarão na mesma escola. Essa política de contratação desmedida de professores temporários impacta diretamente na qualidade da educação”, afirma. As merendeiras, porteiras e funcionárias da limpeza (chamadas Agentes Educacionais I e majoritariamente mulheres) também recebem baixos salários. “Não há reposição dos concursados e por isso tem contratação temporária ou terceirizada, em condições extremamente precárias”, avalia Bruel, integrante do Núcleo de Políticas Educacionais da UFPR. A sindicalista Lirani Franco ressalta que as Agentes Educacionais I não recebem o piso regional (que varia entre 1.223,30 a R$ 1.414,60), mas o salário mínimo (R$ 954). “Pela lei elas deveriam receber o piso regional, que é uma equiparação salarial, mas o governador está pagando abaixo e isso já aconteceu também em 2016 e 2017”, informa. Esta matéria integra a série especial sobre mulheres que será publicada ao longo do mês de março Júlia Rohden
Gênero de professores estaduais do Paraná
Escolas fechadas no Paraná
15,6%
263
22.130 são homens
escolas estaduais fechadas
84,4%
No total (federais, estaduais e municipais) foram
120.445 são mulheres
1.038
Fonte: Laboratório de Dados Educacionais da UFPR com base nos microdados do Censo Escolar/INEP 2016
Fonte: Censo Escola 2017 - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP)
FECHAMENTO DE ESCOLAS E TURNOS Quando se formou em letras, Silvana Loch passou os primeiros anos atuando como professora em escolas do campo. Ela deu aulas em escolas localizadas em comunidades Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e também em outras escolas em áreas rurais. A última em que Silvana trabalhou, em Campo Mourão, foi fechada. De acordo com o Censo Escola 2017, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), outras 263 escolas estaduais do Paraná foram fechadas. A professora afirma que as escolas do campo são as principais prejudicadas. “O argumento [do governo] é que não compensa manter escola rural pelo número de alunos. Avaliam que é melhor colocar ônibus e levar os alunos para a cidade, mas não levam em consideração que tem alunos que moram muito longe, são muito novos e precisam pegar o ônibus de madrugada, quando ainda está escuro”, critica. Para a pesquisadora Ana Bruel, o governo não deveria considerar apenas a relação de custo. “É dever do Estado garantir o direito dessa população à educação”, avalia. Ela lembra que além das escolas rurais, há também o fechamento de turnos noturnos, frequentados especialmente por pessoas que precisam conciliar estudos e trabalho.
Paraná, 8 a 14 de março de 2018
STF autoriza investigação em conta bancária de Temer
Após pedido de habeas corpus negado, Lula recebe apoio de movimentos e parlamentares
É a primeira vez que um presidente tem os dados financeiros abertos por decisão judicial durante o mandato Presidência da República
Redação, São Paulo (SP)
O
Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a quebra do sigilo bancário do presidente golpista Michel Temer (MDB). A decisão veio à tona no dia 5, e faz parte da investigação de um suposto favorecimento da empresa Rodrimar, por meio da edição do chamado Decreto dos Portos, publicado em maio do ano passado. A investigação da Polícia Federal apura se Temer cometeu crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No inquérito dos portos, além do presidente Temer, são investigados o exdeputado Rodrigo Rocha Loures, o dono da Rodrimar Antônio Celso Grecco e Ricardo Conrado Mesquita, diretor da empresa de logística e que opera no
porto de Santos. A Justiça vai inspecionar as contas do presidente entre janeiro de 2013 a junho de 2017. É a primeira vez na história do Brasil que um presidente em exercício terá o sigilo de dados pessoais quebrado pela Justiça. Constrangimento Segundo o ministro da Secre-
taria de Governo, Carlos Marun, o presidente pretende tornar pública a divulgação das cópias dos extratos bancários. Marun disse ainda que o decreto sob suspeita não beneficiou a empresa Rodrimar. E que essa decisão do ministro Luis Barroso causou indignação e constrangimento ao governo.
Juliana Gonçalves , São Paulo (SP)
O
s ministros da 5ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) negaram por unanimidade, no dia 6, o pedido do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que ele não seja preso após condenação em segunda instância. Segundo defenderam os ministros em seus votos, o início do cumprimento da pena após a condenação ser confirmada em segunda instância não fere o princípio constitucional da presunção de inocência. Apesar do placar desfavorável no STJ, a defesa do ex-presidente ainda pode recorrer ao STF, o Supremo Tribunal Federal, na tentativa de impedir a prisão. A deputada Benedita da Silva (PT) afirmou que o processo de Lula é permeado de decisões políticas muito mais do que jurídicas. “Vamos esperar pelo STF para que a gente possa continuar acreditando na seriedade e transparência da Justiça. O que o Lula tem enfrentado ANÚNCIO PUBLICITÁRIO
Decisão sobre privatização da Eletrobras é adiada na Câmara Redação, Curitiba (PR) A Câmara dos Deputados adiou a instalação da Comissão Especial para debater o projeto do governo golpista de Michel Temer que trata da privatização da Eletrobras. A instalação estava prevista para ocorrer no dia 6, e tinha como objetivo acelerar a venda da estatal. O presidente da comissão, deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), acatou a questão
Comissão Especial do projeto não foi instalada, o que mostra dificuldade em aprovar a venda de ordem proposta pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT -SP), da oposição. O petista argumentou que a instalação só
pode ocorrer após todas as comissões permanentes da Câmara serem instaladas, o que não ocorreu até o momento. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) determinou que o projeto fosse distribuído a cinco comissões permanentes. A decisão do presidente da Comissão gerou reações entre trabalhadores da Câmara e sindicalistas que estavam no plenário. “Eletrobrás é nossa”, “Fora Temer”, gritaram em comemoração.
Alexandre Padilha
| Brasil
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nada mais é do que um golpe político, porque querem inviabilizá-lo para a disputa eleitoral”, afirma. Raimundo Bonfim, coordenador estadual da Central dos Movimentos Populares e membro da Frente Brasil Popular, afirmou que a decisão não pegou os movimentos de surpresa. A decisão “é a continuidade de uma perseguição política [num processo em que] já que não existem provas”, pontua. Com a decisão, Lula pode ser preso após julgamento do recurso do TRF-4, que ainda não tem data para ocorrer.
Brasil de Fato PR 9
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99 | Mundo De olho nos ruralistas
Após briga na Justiça para diminuir jornada, Sergio Moro desiste de cargo na UFPR Juiz pediu exoneração do quadro docente sem divulgar o motivo Juca Guimarães, São Paulo (SP)
M
oro, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), responsável pelo julgamento em primeira instância na Operação Lava Jato, entrou com um pedido de exoneração do cargo de professor adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), após disputa judicial contra a instituição para a redução da jornada de trabalho. Moro já estava licenciado da universidade, sem a remuneração de aproximadamente R$ 3,9 mil, desde fevereiro de 2017, segundo ele, para se dedicar às atividades de juiz federal. Como professor de Direito Processual, o juiz deveria cumprir uma jornada de 20 horas semanais, e foi esse o motivo da disputa judicial entre ele e a universidade. Em 2012, Moro foi trabalhar como assessor da ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF) e solicitou uma alteração na grade das aulas. Como teria que ficar de segunda a quinta-feira em Brasília, o professor Moro queria concentrar uma jornada mínima de aulas na UFPR às sextas. A universidade negou o pedido, pois o arranjo faria com que os alunos tivessem três aulas seguidas da mesma disciplina, o que prejudicaria o rendimento e o potencial de aprendizagem da turma. “Ele passou no concurso público para 20 horas e deveria ministrar oito aulas por semana e já entrou com um requerimento para trabalhar menos que isso. Moro está cometendo uma ilegalidade, porque este tipo de redução,
por lei, só era permitido a quem tinha funções administrativas na universidade”, disse a advogada Tânia Mandarino, do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD). Ação judicial Insatisfeito com a decisão da universidade, Moro entrou com uma ação judicial e perdeu em duas instâncias. No processo, Moro argumentou que além das três aulas seguidas às sextas, também queria repor aulas aos sábados, dia em que a universidade não tem expediente. De acordo com alunos do curso de direito da UFPR, Moro é um professor que apresenta bom conhecimento técnico, no entanto, tem uma didática fraca. “Ele já foi dar aula com escolta da Polícia Federal e com esquema de segurança”, relatou um aluno. A assessoria de comunicação da UFPR informou ao Brasil de Fato que a instituição ainda não recebeu o pedido formal de exoneração do professor. Segundo a universidade, foram concedidas duas licenças não-remuneradas para Moro. A primeira de 1º de fevereiro de 2017 a 1º de fevereiro de 2018. A segunda começou em 2 de fevereiro de 2018 e vai até 1º de fevereiro de 2019. Lula Marques
STF perdoa multas por crimes ambientais que somam R$ 8,4 bilhões Decisão do Supremo perdoa 75% das multas milionárias cometidas antes de 2008 zendeiros também respondem por processos judiciais por crimes contra o ambiente e 10 já foram processados Supremo Tribunal Federal (STF) por manter trabalhadores em conmanteve, no dia 28 de fevereiro, a dições análogas à escravidão. Os dez anistia a crimes ambientais cometidos maiores desmatadores desmataram antes de 2008, conforme determina- 98 mil hectares e deveriam pagar, em do pelo Código Florestal. O perdão de multas, R$ 166 milhões. O julgamento do Código Floresmultas aplicadas por desmatamento ilegal em áreas de preservação e reser- tal começou em novembro de 2017 va era o principal ponto criticado por no STF, mas teve de ser interrompiambientalistas, motivo de ações mo- do por um pedido de vista da ministra Cármen Lúcia. O Código Florestal, vidas no STF em 2012. Nesse mesmo ano, quando foi criado em 1965, é a legislação federal aprovado o Código Florestal, a Folha para regulamentar questões ambientais nas propriedaobteve uma lista sides rurais. Ele foi algilosa dos maiores A anistia a crimes terado em 2012 após desmatadores e inambientais muitas polêmicas. formou que a soma A lei determina, por das multas chegava cometidos antes exemplo, como será a R$ 8,4 bilhões. Cerde 2008 foi feita a preservação ca de 60% das mulde florestas e rios em tas acima de R$ 1 miprevista no Novo meio às plantações e lhão somam R$ 492 Código Florestal, à criação de gado. milhões e se referem em vigor desde A Procuradoria à destruição de 333 Geral da República mil hectares – cerca 2012 defendeu a inconsde metade da Palestitucionalidade da tina. A maioria das multas milionárias anistia por considerar que ela viola as foi aplicada pelo Ibama entre 2006 e regras de proteção ambiental e repa2008. Entre os desmatadores, 48 fa- ração de danos. Redação, site De olho nos ruralistas
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10 9 | Cultura
Paraná, 1 a 7 de março de 2018
Casas da Leitura têm programação especial sobre o Dia da Mulher Cido Marques
Redação, Curitiba (PR)
FIQUE POR DENTRO A poetisa latinoamericana
Varal literário com poemas, imagens e contos curtos de autoras latino-americanas. Com Equipe da Casa da Leitura Classificação: livre Quando: de 5 a 9, às 10h30 e às 17h Onde: Casa da Leitura Manoel Carlos Karam, Rua Batista Ganz, 453, bairro Santo Inácio
Diário de uma favelada
Roda de Leitura com trechos do livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, da escritora Carolina Maria de Jesus Com Francisco Lobo Classificação: 14 anos Quando: dia 14, às 14h30 Onde: Casa da Leitura Wilson Martins, Av. Mal. Floriano Peixoto, 8430, bairro Hauer
Escrevivências de Conceição Evaristo Serão lidos
textos da autora Conceição Evaristo, seguido de conversa sobre as impressões e sentimentos despertados pela obra. Com Eli Prado Classificação: 14 anos Quando: dia 15, às 14h30 Onde: Casa da Leitura Manoel Carlos Karam, Rua Batista Ganz, 453, bairro Santo Inácio
Hilda Hilst: antes de ser mulher, sou inteira poeta Roda de Leitura com poesias de uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século 20.
Com Alexander Brasil e Tatiane Phauloz Classificação: 14 anos Quando: dia 15, às 15h Onde: Casa da Leitura Hilda Hilst, Av. Prefeito Maurício Fruet, 2150, bairro Cajuru
Plural: Mulher(es)
Roda de Leitura com os contos “Vó, a senhora é lésbica?” de Natalia Borges Polesso, e “Presépio” de Carlos Drummond de Andrade. Ambos evocam questões acerca do feminino e seus desdobramentos na contemporaneidade. Com Alexander Brasil Classificação: 16 anos. Quando: dia 22, às 15h. Onde: Casa da Leitura Hilda Hilst, Av. Prefeito Maurício Fruet, 2150, bairro Cajuru.
PALAVRA CRUZADA
As Casas da Leitura realizam extensa programação determinada a discutir o papel das mulheres na sociedade brasileira. São diversas ações gratuitas, entre varais literários, cafés da manhã e rodas de leitura em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres. Os encontros com poesia e cafés da manhã também garantem discussões sobre a condição feminina, tendo uma Roda de Leitura exclusiva sobre a Hilda Hist, uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século 20. As atividades começaram no dia 7 e vão até o dia 22 de março.
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Brasil de Fato PR
Paraná, 8 a 14 de março de 2018
Clementina de Jesus: a voz que revolucionou o samba e a música brasileira
Divulgação
Clementina de Jesus e Hermínio Bello de Carvalho no espetáculo Rosa de Ouro
Revelada aos 63 anos, cantora e compositora deu voz à ancestralidade africana Emilly Dulce, de São Paulo (SP) Uma voz rouca, grave e rasgada sintetizava, nos anos 1970, a expressão de um Brasil com forte herança africana e singular formação religiosa. A dona da voz tão inconfundível tem nome: Clementina de Jesus da Silva. Neta de escravizados, nasceu no ano de 1901, na cidade de Valença, na região cafeeira do Rio de Janeiro. Foi só aos 63 anos que ela ganhou os palcos e revolucionou o samba,
após ter sido descoberta pelo poeta e futuro produtor musical Hermínio Bello de Carvalho. O jovem ficou fascinado pela sambista fluminense e passou a prepará-la para o espetáculo Rosa de Ouro, que a consagraria. A partir daí, Clementina de Jesus resgatou o conhecimento de seus antepassados e apresentou a cultura africana em 13 LPs. Ela participou em álbuns com grandes nomes da música popular brasileira, como Clara Nunes e Milton Nascimento. Raízes brasileiras Rainha Quelé, como ficou conhecida Clementina de Jesus, criou as filhas sozinha e trabalhou como empregada doméstica até o começo da vida artística. Quelé foi exemplo de força e luta para o povo brasileiro, como destaca Janaína Marquesini, uma das autoras do livro Quelé, A Voz Da Cor, que conta a história da artista. Divulgação
“Além da Clementina representar essa riqueza cultural tão grande, ela ainda traz na história dela todas as dificuldades que ser mulher no Brasil traz e, além de ser mulher, ela ainda era negra e pobre”, diz. O estilo de samba de Quelé era o partido-alto, cantado em forma de desafio e de improviso. Ela imprimiu em suas canções a luta contra a discriminação racial e o machismo. Para uma das escritoras da biografia, conhecer Clementina é entender um pouco da formação do povo brasileiro. “É preciso mostrar mais uma vez a importância das nossas raízes, da identidade e formação cultural do nosso país, que foi construído por mãos negras. A história dela ajuda a gente a fazer esse reconhecimento de como nós chegamos até aqui”. Em 7 de fevereiro deste ano, a mulher vitoriosa Clementina de Jesus completaria 117 anos.
11 | Cultura 11
AGENDA CULTURAL
Megg - A margem que migra para o centro O quê: Megg Rayara derrubou barreiras para chegar onde chegou. Para ela, seu diploma é um marco importante de uma luta não só pessoal mas, sim, coletiva. Pela primeira vez no Brasil, uma travesti negra conquista o título de Doutora. O documentário tem direção de Larissa Nepomuceno Moreira e Eduardo Sanches. Quando: Dia 10, sábado, às 15h. Onde: Cine Guarani, no Portão Cultural, ao lado do terminal do Portão. Quanto: Gratuito. Divulgação
DICAS MASTIGADAS
FEIJOADA Ingredientes
1 kg de feijão preto 1 cabeça de alho Temperos: coentro, cebolinha, cominho, pimenta do reino 1kg Carne seca e/ou lombo defumado 300g Linguiça 1kg Cenoura, berinjela, champignon e castanhas
Reprodução
Modo de fazer
1. Deixe o feijão de molho desde o dia anterior; 2. Para dessalgar as carnes, jogue água fervendo 3 ou 4 vezes, sempre tirando a água; 3. Cozinhe o feijão na panela de pressão por 30 minutos, junto com as carnes. 4. Numa frigideira, refogue a linguiça. Não precisa de óleo. Quando a gordura da linguiça sair, refogue o alho. 5. Junte duas conchas de feijão (só os grãos), depois amasse os grãos e jogue de volta à panela. 6. Para uma versão vegetariana, refogue o alho junto com a cenoura e a berinjela e junte ao feijão. 7. Na hora de servir, junte os cogumelos e a as castanhas. Sirva com arroz, farinha, couve refogada e laranja.
12 | Esportes
Brasil de Fato PR
Paraná, 8 a 14 de março de 2018
Titulares ou reservas Por Cesar Caldas O dilema coritibano para as três ultimas rodadas do segundo turno do Campeonato Paranaense é a utilização, ou não, do considerado titular nesses jogos. A alternativa seria poupar os atletas para foco exclusivo no jogo diante do Goiás, na próxima quarta-feira (14), no Couto Pereira, e na final do Estadual, mais adiante. O uso dos reservas serviria ao prosseguimento do processo de observação iniciado na vexatória derrota em casa para o Maringá, ao tempo em que permitiria aos efetivos descanso muscular e prevenção de contusões. A opção, contudo, embute um risco: perder a possibilidade de uma inter-temporada de treinos antes do início do Brasileiro. Isso só será factível caso o time alviverde conquiste o corrente returno, também chamado “Taça Caio Júnior”. Cabe à comissão técnica e à superintendência de futebol refletir. E decidir.
Paratiba sem álcool Por Marcio Mittelbach Semana passada, escrevemos sobre a impossibilidade de separar futebol e política. Um dos exemplos que demos sobre essa relação foi a possibilidade, ou não, de consumir bebida alcoólica nos estádios. Maldita boca! E não é que na segunda-feira, 5, o Tribunal de Justiça do Paraná decidiu suspender a lei que autorizou a venda de cerveja depois de dez anos? Dessa forma, o Paratiba realizado nessa quarta, 7, justo o de número 100, marcou o reinício da Lei Seca nos Estádios. De acordo com Ministério Público MP, que foi quem mexeu no vespeiro, não se pode vender bebida alcoólica nos estádios do Paraná porque contraria o Estatuto do Torcedor. O MP não cita números ou estudos que apontem para o aumento da violência nesses meses de liberação. Perguntar não ofende: onde estava o Estatuto na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016?!
Ele quer ser dono até da torcida Por Roger Pereira Sempre diferente, o Atlético avança na consolidação como clube empresa. Mas não uma Sociedade Anônima (S.A.), em que seus sócios têm voz e vez. O clube parece mais uma Companhia Limitada (Ltda.). Limitadíssima, por sinal. Uma empresa com dono. Seus sócios não são respeitados, suas opiniões são ignoradas e o seu dono vai direcionando a gestão do clube para a de uma empresa de luxo, destinada a atender apenas o público de alto poder aquisitivo. A nova investida é a “torcida oficial”. Isso mesmo. A diretoria do Atlético que comandar, até a torcida do clube. Subsidiando uma torcida que ficaria dependente do clube, alinhada aos pensamentos da diretoria, acrítica e manipulável. Controlar a torcida é o último passo para Mário Celso Petraglia poder apresentar-se como dono do Atlético, sem ninguém para questioná-lo.
Menos desafio das musas, mais donas da bola Jordania Souza,
Rio de Janeiro (RJ)
No último dia 21 de fevereiro, foi ao ar o quadro “Desafio das Musas”, um tremendo [e machista] gol contra do programa “Os Donos da Bola”, da TV Goiânia, afiliada da Rede Bandeirantes em Goiás. Na ocasião, a fotografa Karol Barbosa, musa do Goiás, foi exposta a uma série de perguntas de conteúdo sexual e de duplo sentido, feitas pelo apresentador Beto Brasil, com risadas de mau gosto dos comentaristas Álvaro Alexandre e Alex Dias, ao fundo. O caso ganhou repercussão nacional, com críticas severas às cenas constrangedoras. O próprio Goiás se posicionou contra a situação em seu Twitter oficial, de-
clarando que “medidas seriam tomadas em relação ao episódio”. Com a polêmica, a TV Goiânia retirou o programa do ar, após uma tentativa fracassada de tentar reverter o jogo, no mal sentido.
São raras as exceções de programas, “estilo bancada”, comandados por mulheres Mas, para além deste episódio, que não são os únicos vividos pelas mulheres no futebol, eu, como torcedora, fico incomodada com a falta de uma real participação das mulheres nessas “bancadas”. Nunca somos “as donas da
bola”! Quando convidadas, situações infelizes como essa da TV Goiânia acabam acontecendo, sempre reduzindo a mulher a seu corpo, beleza e roupa. O futebol segue em segundo plano. São raras as exceções de programas, “estilo bancada”, comandados por mulheres. Podemos citar o mais famoso, que é o “Jogo Aberto”, da própria Band, comandado pela jornalista Renata Fan. Torcedora fanática do Internacional, ela é uma das poucas mulheres que têm a oportunidade de discutir futebol. Representa, de fato, a mulher que vai ao estádio, chora, ri, xinga e ama seu time incondicionalmente. Que o cartão vermelho que os “Donos da Bola” receberam sirva para refletirmos sobre isso.
Corinthians estampa #RespeitaAsMinas O Corinthians lançou uma campanha que visa sensibilizar a sociedade para o combate ao assédio sexual e à violência contra a mulher. Na quarta-feira (7), durante na partida contra o Mirassol, em Itaquera, o Timão estampou #RespeitaAsMinas no espaço destinado ao patrocinador máster. Além disso, durante esta semana, estão sendo distribuídas cerca de 10 mil tatuagens temporárias com a frase “Não é não” na loja da Arena Corinthians. Divulgação
Reprodução
Após polêmica, Giba paga 10 meses de pensão atrasada aos filhos Após polêmica, exjogador de vôlei Giba pagou a pensão alimentícia dos filhos Nicoll e de Patrick, de 14 e 10 anos. No início de fevereiro, o ex-ponteiro teve prisão decretada, mas conseguiu liminar suspendendo a prisão até que se realize uma audiência – ainda sem data
marcada. A mãe das crianças, a romena e ex-jogadora de vôlei Cristina Pivr, afirma que o valor que estava em atraso equivale a 10 meses de pensão. Giba alega que estava “pagando menos” porque os valores estabelecidos pela Justiça não correspondem à sua possibilidade.