Matheus Lobo
Cidades | p. 6
Cultura | p. 7
O ódio dos ruralistas
Cultura e resistência na CIC Grupo Inquérito é uma das atrações de Sarau Periférico, que ocorre no sábado, 15
Bancada ruralista é contrária à demarcação de terras indígenas
Ano 3 | Edição 96
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PARANÁ
13 a 19 de setembro de 2018
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana
“HADDAD SERÁ LULA PARA MILHÕES DE BRASILEIROS”
Divulgação
Em carta, ex-presidente Lula lança candidato para disputar eleições à presidência em seu lugar Brasil | p. 5 Ricardo Stuckert
Aliados de Richa terão dificuldade de se livrarem de “padrinho” Ex-governador Richa é preso por acusação de ser “chefe de organização criminosa”. Esposa, irmão e secretários de governo também estão detidos Paraná | p. 4 Orlando Kissner | ANPR
Cultura | p. 7
Opinião | p. 2
Terra é vida
Terceirização: agressão
Documentário mostra ocupação premiada por recuperar Mata Atlântica
Artigo do advogado Claudio Ribeiro revela erro do Judiciário
2 | Opinião
EDITORIAL
Brasil de Fato PR
Paraná, 13 a 19 de setembro de 2018
24 dias de luta eleitoral
SEMANA
A
definição no dia 11 de setemques também por parte do Judiciário, bro da candidatura de Fernando hoje posicionado contra os trabalhaHaddad (PT) como cabeça de chadores. Organização e campanha nas pa, tendo Manoela D´Ávila (PCdoB) ruas serão fundamentais neste mocomo vice, surge após a perseguimento. ção política dos principais tribunais No geral, a chamada polarido poder Judiciário contra o ex-prezação política entre dois blocos sidente Lula, preso em contrários coloca Curitiba. Em carta, Alckmin (PSDB), BolLula indicou Haddad sonaro (PSL), MariOrganização como seu representanna Silva (Rede), Meie campanha te e candidato de conrelles (MDB), Álvaro nas ruas serão fiança. Dias (Pode) e AmoêO desafio, nesdo (Novo) como refundamentais ses 24 dias, é espalhar presentantes do proneste momento para todo o eleitoragrama neoliberal, de do do ex-sindicalista a ataques contra os tracerteza do seu víncubalhadores. Por oulo com Haddad. Mais que o desafio tro lado, Haddad (PT), Ciro (PDT) e da transferência de votos, iniciada já Boulos (Psol) defendem uma saída nas pesquisas recentes, a principal democrática e popular para a crise. candidatura de esquerda enfrentará Entre as três, a de Haddad tem reais a ofensiva dos meios de comunicachances de vitória e ao mesmo temção empresariais e tentativas de atapo apoio dos movimentos populares.
OPINIÃO
O fascismo já passou? Claudio Ribeiro,
advogado trabalhista
E
A ministra Cármen Lúcia deixa a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), e o país segue nas mãos de um Judiciário que atua de forma desencontrada e política. Dias Toffoli assume.
nquanto reunimos, pelo menos aqui em Curitiba, os ‘de sempre’, raros guerreiros, o Supremo Tribunal Federal, STF, declarou constitucional as terceirizações das atividades-fim. Com isso, não haverá mais concursos para servidores públicos, mas contratações a baixo salário de trabalhadores para suprir as necessidades funcionais do Estado. Mais uma vez o Excelso rasga a Constituição de 1988, desta vez rompendo até o princípio da isonomia, o princípio geral de defesa da dignidade do trabalhador, além de um sem número de dispositivos expressos que as classificam como ‘merchandage’, um
novo navio negreiro, com capataz de pirataria e tudo mais. Afinal o coração do sistema da legislação reguladora das relações de trabalho foi mortalmente atingido e está em ‘estado de óbito’. Os sindicatos sofreram corte das contri-
O pelourinho voltou com chicote nas mãos de um Judiciário agraciado com 16% de reajuste salarial para amparar o capitão do mato. E seremos todos, a força de trabalho, explorados até a exaustão
buições sindicais neste momento avesso da conjuntura nacional, estão vazios, perderam a força de convocação dos trabalhadores (e isto se deve também à adesão à correia da governabilidade). O pelourinho voltou com chicote nas mãos de um Judiciário agraciado com 16% de reajuste salarial para amparar o capitão do mato. E seremos todos, a força de trabalho, explorados até a exaustão, isto se houver empregos. É o inevitável acirramento das contradições ainda adormecidas deitadas em berço (esplêndido?) silencioso e sem mamadeiras para o choro de nossas lamentações. O fascismo não passará? Como não? Ele já passou e não percebemos? O Bolsonaro e o Amoêdo são apenas distrações para diversionismo.
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição nº 96 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Laís Melo e Franciele Petry Schramm COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Julia Rohden, Camila Vida, Matheus Lobo, Guilherme Uchimura, Gabriel Carriconde e Cláudio Ribeiro ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza, Lia R. Bianchini e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113
Brasil de Fato PR
No dia da Independência do Brasil, a Vigília Lula Livre recebeu o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile, para roda de conversa sobre os desafios do momento político atual. Stédile comparou o Brasil a um navio afundando e sem comando, usando a imagem do filme Titanic, no qual a primeira classe é a primeira a se salvar e as demais se distraem com a orquestra tocando. “A orquestra é a Rede Globo”, comparou. A partir da análise da crise econômica que, desde 2008, impacta o mundo e chegou ao Brasil, o dirigente compara que, quando a sociedade se afoga na crise, “tomar o bote” é ter o poder político para se salvar. “Tinham o Congresso, tinham o (Eduardo) Cunha, o judiciário, que é a burguesia que manda. Mas não tinham o controle do executivo, que era a Dilma (Rousseff) analisa Stédile. Stédile defende que, mesmo com o nome de Fernando Haddad como candidato à presidência pelo PT, Lula segue sendo a referência para os trabalhadores. Para ele, o próximo governo deve firmar-se em medidas populares e na convocatória às ruas. “Na primeira semana de janeiro, o governo deve fazer um plebiscito para que o povo decida a revogação das medidas dos golpistas, e convocar uma assembleia constituinte. Não vai passar pelo Congresso, vai ter que passar pelas ruas”, declarou.
É ESSE?
“É meu direito, enquanto negra, como mulher, de trabalhar. Eu estou trabalhando. Eu quero trabalhar”, disse a advogada Valéria Lúcia dos Santos, que foi indevidamente algemada e conduzida para a delegacia durante audiência em Duque de Caxias (RJ), após discordância com a juíza sobre acesso a um processo. A OAB planeja ato de desagravo à advogada e estuda outras ações judiciais sobre o caso.
Guilherme Uchimura*
Violências contra candidatos
Bruno Marins | OAB
Camila Vida e Pedro Carrano
Populações vulneráveis sofrem com falta de demarcação e educação ruim Frédi Vasconcelos Em entrevista, o candidato a deputado federal Luciano Palagano (PSOL) fala de seu trabalho com direitos humanos no oeste do Paraná. Brasil de Fato | O senhor trabalha com direitos humanos, com populações vulneráveis como os indígenas, como está a situação deles? Luciano Palagano | Há uma vulnerabilidade carencial muito grande, como no caso das crianças. Não há praticamente nenhuma escola nessas aldeias, se tem alguma estrutura é por trabalho voluntário. As crianças não têm carteira, sentam no chão. Todo ano tem de fazer arrecadação de materiais escolares. Falta água encanada, luz elétrica. Há relatos de famílias que para matar a sede pegavam água direto do lago de Itaipu, sem
3 | Geral
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
tratamento. E tudo que a gente requer do Estado, eles respondem que não podem fazer nada sem a demarcação das terras. Que outros grupos vulneráveis há na região? Temos a situação dos estrangeiros, haitianos senegaleses etc., que vieram trabalhar principalmente nos frigoríficos. A
Arquivo Pessaol
Stédile: menos Congresso, mais ruas
Paraná, 13 a 19 de setembro de 2018
gente tem um trabalho com uma entidade que combate lesões por esforços repetitivos, que hoje atende a mais de 600 pessoas. Posso dizer que hoje os frigoríficos da região são uma fábrica de mutilados. E como estão as escolas do Estado no interior? Sou funcionário de escola e posso falar com propriedade. Por falta de funcionários, em diversas escolas, determinados setores nem sequer abrem. Estão sendo também fechadas escolas rurais. Agora tem aluno que precisa se deslocar até 20 quilômetros para estudar. Outra questão é que professores e outros funcionários estão adoecendo. Dificilmente se encontrará uma escola em que não haja professores readaptados. Quem deveria estar de licença médica para se recuperar vai para uma função administrativa tapar buraco.
A liberdade e a integridade física estão entre os direitos mais básicos que temos. Há alguns séculos, foram conquistados e, desde então, fazem parte de nossas leis. O problema é que estes direitos nem sempre são garantidos por quem deveria. Muitas vezes são os próprios agentes do Estado – por meio da força policial ou de outros órgãos do sistema de justiça – quem os viola, como ocorreu durante a última semana em Curitiba com Renato Freitas e Edna Dantas, candidatos a deputados estaduais. Esse tipo de violência se torna ainda mais grave no contexto eleitoral. A soberania popular é exercida pelo voto, diz a nossa Constituição. Os atos arbitrários de prisão e agressão física realizados pelas forças policiais contra candidatos a cargos eletivos, especialmente no momento em que estes divulgam suas ideias e seus projetos à população, é uma grave ofensa não apenas aos seus direitos individuais, mas à própria ordem democrática. Os candidatos têm o direito de falar, e os eleitores têm o direito de escutar. Essas são as condições democráticas mínimas que o Estado deve garantir. Quando ocorre o contrário, toda a população perde: são os nossos direitos e a soberania popular que se colocam sob risco da intolerância e da violência. advogado e membro da Consulta Popular
4 | Paraná
Brasil de Fato PR
Paraná, 13 a 19 de setembro de 2018
Beto Richa, irmão, esposa e auxiliares são alvo de duas operações no mesmo dia
Orlando Kissner | ANPR
Prisão foi, segundo juiz, para evitar destruição de provas e a influência no depoimento de testemunhas Redação
O
ex-governador e candidato ao senado pelo PSDB, Beto Richa, sua esposa, Fernanda Richa, o irmão Pepe Richa e outros auxiliares tiveram prisão temporária de cinco dias decretada segundo o juiz Fernando Fischer, da 13ª Vara Criminal de Curitiba, pela possibilidade de destruição de provas e a influência no depoimento de testemunhas dentro das investigações da operação Rádio Patrulha, do Ministério Público paranaense. Richa foi acusado de liderar um esquema de propinas para direcionar a licitação do programa Patrulha do Campo, do governo do Pa-
raná, entre 2012 e 2014. Fernanda Richa estaria auxiliando o governador a lavar dinheiro em imóveis por meio das empresas da família que administra. Pepe Richa, ex-secretário de Infraestrutura do Estado, foi acusado de atuar diretamente na coordenação da fraude à licitação e auxiliar no esquema de pagamento de propinas. As investigações e a busca de provas foram feitas a partir de acordo de delação premiada do ex-deputado Tony Garcia. Pelos relatos de Tony, ele foi procurado por dois empresários para fraudar a licitação do Patrulha do Campo, que previa o fornecimento de maquinário para um programa de manuten-
ção em estradas rurais no interior do estado. Os R$ 72,2 milhões do contrato, valores da época, seriam superfaturados, com repasse de 8% do faturamento bruto como propina para o esquema. Lava Jato No mesmo dia da detenção de Richa e familiares, ocorreu a 53ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Piloto”, com 36 mandados, um deles na casa de Beto Richa, para busca e apreensão de provas. A Lava Jato investiga o pagamento de propinas a Richa e membros de seu governo pela construtora Odebrecht. Entre eles o ex-chefe de gabinete do governador, Deonilson Roldo, que teve seus bens bloqueados.
Outro lado Através de seu advogado, Luiz Fernando Pereira, Beto Richa emitiu um curto comunicado, chamado de “Mensagem ao povo paranaense”, em que afirma: “Enfrento com serenidade e confiança qualquer acusação, mas devo dizer que eu e minha família estamos sofrendo muito com a injusta condenação que nos está sendo imposta. Sou um homem público há mais de duas décadas, com a mesma honradez. Tenho a consciência em paz e sei que, no devido tempo, a verdade sempre se impõe. Garanto a você, que me conhece e para quem exerço com responsabilidade a vocação que Deus me deu: nada devo e sigo confiando na justiça”.
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Candidatos ao governo tentam se livrar de “padrinho” Redação Os candidatos ao governo do Estado Ratinho Jr (PSD), que foi secretário do governo Beto Richa em duas gestões, e Cida Borghetti, ex-vice governadora, tentaram se livrar do “padrinho” Beto Richa assim que foi preso. Ratinho deu declaração à “Gazeta do Povo” dizendo: “Quem fez coisa errada tem que ser punido. A Justiça está atuando com isenção e é isso que nós esperamos”. Cida disse em nota que: “Não aceito e não compactuo com nenhum tipo de desvio de conduta. Criei a Divisão de Combate à Cor-
rupção que tem total autonomia para investigar e está colaborando em todas as investigações”. O problema, como diz o candidato a governo do Paraná, Doutor Rosinha (PT), é que se quiserem jogar Beto Richa ao mar eles vão junto. “Eles estão acorrentados ao Beto Richa, ANPR
se jogar a pedra ao mar, eles estão acorrentados e vão junto”, diz. Sobre a interferência no resultado dessa prisão nas eleições, Rosinha diz que: “esse fato vai ser um alerta, levar a turma a pensar melhor o que significam as candidaturas ligadas ao Beto Richa”. Divulgação
Brasil de Fato PR
Paraná, 13 a 19 de setembro de 2018
5 | Brasil
Haddad e Manuela assumem candidatura à presidência A menos de um mês das eleições, cenário muda após veto a Lula. Especialistas analisam efeitos das novas candidaturas Redação
CARTA
Conheça trechos da carta de Lula lida na Vigília Lula Livre esta semana
A
pós decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que vetou a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a coligação O Povo Feliz de Novo oficializou, nesta semana, em Curitiba, a nova chapa com Fernando Haddad (PT) para presidente e Manuela D´Ávila (PCdoB) para vice. Para especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, a partir de agora, o PT terá desafios pela frente: em especial, a transferência de votos do ex-presidente, que liderava as pesquisas de opinião com mais de 10 pontos percentuais de vantagem para o segundo lugar, e a conquista de novos votos em um eleitorado fragmentado. Para a cientista política Maria Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos, “qualquer governo que assumir o país vai encontrar uma situação crítica. Então, se ele [Haddad] conseguir colar sua imagem ao ex-presidente Lula e às principais políticas sociais, de aumento do salário mínimo e de outras condições necessárias para que as pes-
soas tenham uma vida melhor, maior a chance desse eleitorado votar na proposta petista”, avalia. O historiador Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o PT teve ganhos políticos e eleitorais com a estratégia de levar o nome do ex-presidente como candidato até o último momento possível
EVOLUÇÃO NO DATAFOLHA De 21/8 a 10/9 Bolsonaro
Ciro
Marina
22% para 24%
10% para 13%
16% para 11%
Alckimin
Haddad
9% para 10%
4% para 9%
já reconhece como reprepelo calendário eleitoral. Ele sentante de políticas sociais, avalia que é “inegável” que de uma posição progressisLula permaneça como ator ta de esquerda, que é o PT”, político determinante para diz Secco. transferir votos a Haddad, Para a professora Maria Somas que há outros fatores corro Braga, a indicação de que influenciam a disputa. Manuela D’ÁviO profesla também tesor da USP tam“Fernando rá papel imporbém afirma que Haddad será tante. “Hoje é o partido recuo eleitorado feLula para perou seu presminino que, por tígio porque “o milhões de outro lado bloprojeto de direibrasileiros” queia a candidata naufragou”. tura de Bolsona“A direita envero ascender, pasredou pelo casar do patamar que parece minho do golpe parlamenque ele já chegou, que paretar; depois, de aplicação de ce um teto. Então, esse eleireformas altamente impotorado Haddad e Manuepulares sem legitimidade do la, que é fundamental nesgoverno para fazer isso. Ensa chapa, têm que fazer um tão, é óbvio que uma parforte trabalho para atingir te expressiva da população esse eleitorado feminino”, se voltaria para aquele insfinaliza. trumento político que ela
“Por ação, omissão e protelação, o Judiciário brasileiro privou o país de um processo eleitoral com a presença de todas as forças políticas. Cassaram o direito do povo de votar livremente. Agora querem me proibir de falar ao povo e até de aparecer na televisão. Me censuram, como na época da ditadura”. “Talvez nada disso tivesse acontecido se eu não liderasse todas as pesquisas de intenção de votos. Talvez eu não estivesse preso se aceitasse abrir mão da minha candidatura. Mas eu jamais trocaria a minha dignidade pela minha liberdade, pelo compromisso que tenho com o povo brasileiro”, continuou o ex-presidente. “Nós já somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros”, escreveu. “Um homem pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não. Nenhum opressor pode ser maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão chegar a todo mundo pela voz do povo, mais alta e mais forte que as mentiras da Globo.”
6 | Cidades
Paraná, 13 a 19 de setembro de 2018
Bancada ruralista alimenta discurso de ódio contra indígenas Parlamentares investem na tese do Marco Temporal para tachar guaranis de Guaíra e Terra Roxa de “invasores” e “paraguaios” Matheus Lobo
Júlia Rohden e Matheus Lobo
Próxima a uma antiga pedreira, a Tekoha Tatury é a retomada de terra mais recente em Guaíra e Terra Roxa
A
Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), conhecida como bancada ruralista, vem ganhando força nos últimos anos. O bloco político conta com 228 deputados e 27 senadores e afeta diretamente a vida dos indígenas. No oeste do Paraná, os Avá-Guarani das 14 aldeias de Guaíra e Terra Roxa são alvo do discurso da bancada ruralista, reproduzido por grande parte da população local que os enxerga como “invasores”. Gilberto Benitez, indígena que vive em Terra Roxa, conta que são constantes as ofensas verbais e violências contra os Avá-Guarani, como tentativas de atropelamento e ameaças de morte. “Aumentaram o preconceito e as ameaças. A maioria dos grandes produtores envolve a sociedade inteira contra os povos indígenas. De jeito nenhum querem que a gente fique nas terras”, denuncia. O secretário-executivo do Conse-
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lho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber Buzzato, avalia que o discurso da população de Guaíra e Terra Roxa não é caso isolado, mas parte de uma estratégia nacional da bancada ruralista de incitar o ódio contra os indígenas. “Evidentemente não é só a bancada ruralista, eles acabam sendo o sujeito político que se manifesta, mas por trás há interesses econômicos bastante concretos”, afirma. “Tem interesses de grandes multinacionais, que lucram com o modelo de
produção do agronegócio, seja com a venda de sementes transgênicas, de veneno ou das commodities”, opina. O historiador e indigenista Paulo Porto concorda que o agronegócio é um entrave para a demarcação. “Essa terra [demarcada] não vai produzir para o mercado. É isso o que está em jogo, é travar a lógica do capital”, afirma. Marco temporal A bancada ruralista investe na tese do Marco Tem-
poral, defendendo que os indígenas teriam direito apenas às terras que ocupavam até 1988, ano de promulgação da Constituição. A tese ignora os processos de expulsão de indígenas de seus territórios tradicionais, realizados há séculos por fazendeiros, milícias e agentes do próprio Estado. A Tekoha Guasu Guavira, reivindicada pelos Avá-Guarani, é exemplo de terra indígena que não seria demarcada caso o marco temporal fosse considerado, já que as terras começaram a ser retomadas a partir dos anos 2000. Ao longo do século 20, por exemplo, foram desterrados pela ação de empresas colonizadoras, a partir de 1940, e pelos alagamentos provocados pela construção da Usina Itaipu, em 1982. “A luta pela continuidade da nossa resistência é muito grande, porque não só os fazendeiros estão contra nós, mas os políticos, a bancada ruralista e o Congresso Nacional vêm lutando para exterminar os povos indígenas”, avalia o cacique Ilson Soares.
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DEPUTADOS CONTRA A DEMARCAÇÃO DE TERRAS Sérgio Souza (MDB) é um dos 20 deputados eleitos no Paraná que integram a FPA. Souza frequentemente se posiciona contra a demarcação de terras para os Avá-Guarani do oeste paranaense. Chegou a escrever uma carta para Michel Temer afirmando que ONGs financiadas por estrangeiros estariam cooptando lideranças indígenas para enfraquecer o direito à propriedade. Outro deputado federal com atuação marcada pelo discurso anti-indígena é Nelson Padovani (PSC). Em 2013, chegou a afirmar que os Guarani são estrangeiros por falarem sua língua nativa. “Até índio que não sabe falar português, índio importado do Paraguai, agora também quer as nossas terras”, disse.
Brasil de Fato PR
Paraná, 13 a 19 de setembro de 2018
Documentário mostra ocupação premiada por recuperar Mata Atlântica O filme será lançado em Curitiba, no próximo dia 14, e também distribuído fora do Brasil Julia Rhoden
proteção da biodiversidade. Antes, a terra era mal cuidada”, afirma Jonas. Em paralelo, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) está negociando a compra da terra com os antigos proprietários para viabilizar o assentamento das famílias.
Ana Carolina Caldas
ná, Associação Paranaense das Vítimas Expostas ao Amianto e Agrotóxicos e Ministério Público do Trabalho do Paraná. Ameaça de despejo Desde 2012 existe processo de reintegração de posse da propriedade e constante ameaça de despejo das famílias que fizeram do Acampamento José Lutzenberger um exemplo de produção de alimentos saudáveis. Atualmente, segundo Jonas de Souza, um dos
coordenadores do acampamento, o que é produzido ali atende a mais de 70 escolas da região, via Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Além das escolas, “toda a comunidade e cidade vem se beneficiando com o a
Campanha Entidades apoiadoras sentiram necessidade de dar visibilidade ao que acontece no acampamento para assegurar sua continuidade. Para isso, o documentário integra a campanha “Agrofloresta é Nossa Casa”, que tem como objetivo a luta contra o despejo das famílias. Para participar acesse www.facebook.com/AgroflorestaENossaCasa
AGENDA CULTURAL Sarau periférico O quê: O 6° Sarau Periférico acontece no sábado, 15 de setembro, na Ocupação Dona Cida – no CIC. A ideia é promover um debate qualificado sobre a Consciência Negra, sobre os problemas que afetam a periferia e o cenário político atual a partir das reflexões geradas pelas letras de RAP. Com a presença do “Grupo Inquérito”, com o lançamento do CD “Tungstênio”. Apresentações também de: Lipe Oliveira e Banda, Arquivo Negro e Rel Firma Zika Quando: sábado, 15 de setembro, a partir do meio-dia Onde: Ocupação Dona Cida, Cidade Industrial de Curitiba Quanto: gratuito Divulgação
Para ficar por dentro
Festival do conhecimento
Quando: Dia 14 de setembro, às 19h30 Onde: Centro de Formação e Cultura Marielle Vive | Rua Guilherme Matter, 362, Santa Cândida | Vigília Lula Livre Quanto: gratuito
O quê: No domingo, dia 16, acontece o Festival do Conhecimento na Associação Moradias Sabará I. Reúne vários coletivos culturais que se identificam com a cultura da periferia. Com artistas como Gambiaha Banda (rock’n’roll); Thiago Tocha (rap); Dj Pedro; Rogersince (rock/pop rock) e Rafael (música brasileira) Quando: 16 de setembro, domingo, a partir das 13h Onde: Associação Moradias Sabará I, Rua Ari Caramão Arruda, 151, CIC Quanto: gratuito
DICAS MASTIGADAS
Caldinho de Feijão
Reprodução
O acampamento José Lutzenberger, em Antonina (PR), ocupa parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, no litoral norte do estado e, desde 2003, concilia a produção de alimentos livres de agrotóxicos com a recuperação da Mata Atlântica. Por isso, a comunidade ganhou o prêmio Juliana Santilli, na categoria ampliação e conservação da agrobiodiversidade. E essa história de mais de 15 anos é tema do documentário “Agroflorestamento é Mais”, que será lançado em Curitiba, no Centro de Formação e Cultura Marielle Vive, na Vigília Lula Livre, no dia 14 de setembro, às 19h30, com participação do diretor e roteirista Beto Novaes e integrantes da comunidade. O filme foi produzido pela Fundação Oswaldo Cruz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Para-
117 | Cultura
Ingredientes 2 xícaras (chá) de feijão cozido 2 xícaras (chá) de água 1 cebola média 1/2 xícara (chá) de cheiroverde 1 xícara (chá) de bacon picado 2 dentes de alho picados Pimenta-do-reino a gosto Sal a gosto Salsinha picada para decorar
Modo de Preparo Cozinhe o feijão, em seguida bata no liquidificador com a água, a cebola e o cheiro verde até que fique homogêneo. Reserve. Em uma panela, refogue o bacon e o alho, em seguida despeje a mistura de feijão. Deixe apurar por cerca de 10 minutos em fogo médio. Tempere com a pimenta, o sal e salpique a salsinha picada. Sirva ainda quente com pão ou torradas
Reprodução
12 | Esportes
Brasil de Fato PR
Paraná, 13 a 19 de setembro de 2018
Futebol brasileiro é escanteado nas eleições Apenas dois candidatos a presidente falam sobre a gestão do esporte mais popular do país e o que farão em relação a entidades como a CBF Gabriel Carriconde
N
o Brasil, país de cinco títulos mundiais, mas que há décadas vem amargando fracassos dentro e fora de campo, com as últimas gestões da CBF afundadas em denúncias graves de corrupção, o esporte não tem tomado um lugar de relevância no debate eleitoral. Apenas duas candidaturas à presidência falam mais especificamente sobre o tema futebol, Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT). Em questões relacionadas ao esporte como um todo, Bou-
los, Haddad e Marina Silva (Rede) são as que dedicam mais espaço ao tema. Ciro Gomes (PDT) e Eymael (DC) falam na necessidade de investimento genérica. João Amoêdo cita junto com os debates a respeito de cultura e ciência. Os outros candidatos não abordam o tema. O que dizem os candidatos Fernando Haddad busca resgatar programas dos governos Lula e Dilma no setor. Ressalta a aprovação do Estatuto do Torcedor e outros projetos, como o Bolsa Atleta. Em relação à gestão
do futebol, um texto no site do partido diz que ‘’o governo criará o Programa de Modernização da Gestão do Futebol, que visa apoiar a estruturação a nível nacional dos clubes, inclusive do futebol feminino’’. Em relação ao calendário do futebol, o PT propõe: ‘’a construção de um calendário unificado que garanta atividade anual permanente para todas as séries e campeonatos’’. E que o futebol se tornará “vetor de desenvolvimento e promoção das capacidades do país, além disso, o governo federal vai contribuir para a viabili-
zação econômica das Arenas da Copa nos estados’’. O programa de Boulos indica medidas de intervenção do estado no futebol, com a ruptura “com os cartolas dos clubes’’ e de “democratização das entidades como a CBF e federações estaduais”. Propõe valorização das categorias de base dos clubes e recorrer a “uma taxa decrescente para as transferências internacionais de jogadores até 23 anos, forma legal para interferir no êxodo dos jovens atletas e proteger os clubes de formação, garantindo maior qualidade técnica para
o futebol disputado no país’’. Boulos também propõe mudanças no Estatuto do Torcedor, que qualifica como ‘’neoliberal’’. Entre elas, ‘’reverter a criminalização dos torcedores, coibir manifestações preconceituosas racistas, homofóbicas, regionais e sexistas e garantir os horários de realização das partidas adequados aos interesses dos setores populares’’. A proposta do PSOL ainda prevê intervenção do Estado em relação à negociação das cotas de TV com as emissoras, baseado no modelo inglês de distribuição de recursos.
Hiato entre duas paredes
O vazio de Werner
Perdeu jogando bem
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Por Roger Pereira
Parcela significativa da esperança na nação alviverde em retornar à primeira divisão está nas mãos e pés de dois atletas: Wilson e Guilherme Parede. O goleiro, seguramente um dos melhores atuando no país nos últimos anos, tem se destacado não só por defesas de alto grau de dificuldade, como também pela eficiência na cobrança de pênaltis. Guilherme Parede, oriundo das categorias de base, é o goleador do time na competição (a três gols da artilharia geral) e na temporada. Sua ausência foi sentida na derrota para o Vila Nova, e o retorno ocorre diante do Londrina, às 19h15 da próxima sexta-feira (14/9) no Alto da Glória. Entre o paredão da retaguarda e o da linha de frente, cabe ao treinador Tcheco preencher e distribuir com inteligência as peças de que dispõe para o espaço intermediário. Vencer torna-se obrigatório para as pretensões coxa-brancas.
Há pouco mais de dez dias para o processo eleitoral no Paraná Clube, estamos vendo pouco ou nenhum debate sobre o futuro. Pelo menos nada para além da indignação apaixonada, aquele ‘fora todos’ típico de quando as coisas não dão certo. Uma das explicações para o marasmo é a não existência de disputa no pleito. Apenas a chapa do atual presidente, Leonardo Oliveira, se inscreveu. A única liderança com chances para fazer frente a Oliveira, o empresário Carlos Werner, desistiu de participar. Embora tenha sido apoiador do atual presidente em 2015, Werner se desentendeu com essa gestão no fi nal de 2016. O motivo? Já naquela época a desavença se chamava Rodrigo Pastana. Werner queria ver a garotada da base em campo, enquanto o atual diretor de futebol preferiu priorizar a contratação de atletas. Em 2017 deu certo. Em 2018, nem precisa comentar.
A arrancada do Atlético no Brasileiro foi freada com duas derrotas, e o time voltou a se preocupar com a zona de rebaixamento. Mas não é para se desesperar. Os dois tropeços foram fora de casa e contra times que disputam a parte de cima da tabela. Segue o tabu de não ter vencido fora da Baixada neste Brasileirão, mas fica o alento das boas atuações. Contra o Palmeiras, o Atlético finalizou mais, teve mais posse de bola e controlou bem o jogo para, pelo menos, empatar, até o meio do segundo tempo, quando tomou o primeiro gol. Contra o Atlético-MG, a atuação foi ainda melhor: várias chances de gol, bolas na trave, o goleiro adversário sendo o melhor em campo. Nos dois jogos, o placar só foi mais amplo porque Thiago Nunes não teve medo. Colocou o time para cima em busca do resultado, e sofreu contra-ataques. Mas é desse jeito, jogando para cima, que a primeira vitória fora de casa virá em breve.