Brasil de Fato PR - Edição 110

Page 1

Divulgação

Cultura | p.8

Wagner Moura

Esportes | p.8

Morre o Pantera Negra

Ator dirige filme sobre Marighella que estreia este mês no Festival de Berlim

Divulgação

Jairo foi o jogador que mais vestiu a camisa do Coxa

Ano 4

Edição 110

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PARANÁ

7 a 13 de fevereiro de 2019

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana

MAIS DE 300 DIAS DE RESISTÊNCIA Vigília Lula Livre recebe visitantes de todo o mundo e mantém luta contra injustiça Brasil | p. 4 Joka Madruga

APOSENTADORIA Projeto de Bolsonaro é pior que o de Temer para trabalhador Brasil | p.5

Geral | p. 3

Brasil | p. Opinião | p.6 2

Brasil | p. 6

Sem direitos, sem salário

Pode baixar mais

Chega de sangue!

Trabalhadores do HU de Londrina sofrem com atraso salarial

Artigo discute por que gasolina brasileira poderia ser mais barata

Movimento indígena se mobiliza no Brasil e no Paraná


Paraná, 7 a 13 de fevereiro de 2019

2 Opinião

Governos de direita não resolvem os problemas do povo

EDITORIAL

A

vitória nesta semana do conservador Nayib Bukele em El Salvador, país da América Latina, vencendo a frente de esquerda que governava desde 2009 o país, revela que o quadro de propostas conservadoras e antipopulares não acontece apenas no Brasil, com o governo de Bolsonaro, mas confirma tendência já vista no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, este ano. Nos EUA, Europa e a América Latina predominam hoje os governos cha-

mados de direita, que adotam tais políticas: redução de gastos sociais, venda de empresas estatais responsáveis pelo investimento, maior repressão contra movimentos populares. Por um lado, é preciso reconhecer que os governos de esquerda que marcaram o período anterior se desgastaram e não conseguiram realizar as chamadas reformas populares – distribuindo terra, moradia, saúde, educação, trabalho e renda. Por outro lado, é evidente que o governo dos

EUA tende a isolar e também atacar qualquer país que busque ter uma política econômica independente, como se vê hoje nos ataques contra a Venezuela, deixando pouca margem de manobra. No Brasil, a proposta do governo Bolsonaro de fazer uma reforma da previdência contrária aos trabalhadores é o primeiro exemplo de que um governo de direita não soluciona os problemas da população. A tendência de haver insatisfação no próximo período tende a crescer.

SEMANA

Brasil de Fato PR

A gasolina baixou, mas não por causa de Bolsonaro

OPINIÃO

ções provocaram a elevação do preço médio da gasolina, é presidente do Sindipetro-RS de R$ 3,646 a até R$ 4,717, em outubro de 2018, e do GLP, odo mundo percebe que ambos próximos de 30%. o preço da gasolina re- Mas a adoção dessas medicuou. Há quem atribua a das trouxe impactos fortes mudança à posse de Jair Bol- à economia. Como respossonaro. Mas o novo governo ta, em maio de 2018, eclonada tem a ver com isso. Para diu a greve de caminhoneicontar o que aconteceu pre- ros que quase parou o país e, cisamos retroceder um pou- ao seu final, provocou a demissão de Parente. O goverco no tempo. Desde que Aldemir Ben- no Temer foi forçado a abrir dine assumiu a presidência mão das oscilações quase da Petrobrás, em 2015, a di- diárias, amenizando a curva ascendenreção comete dos preços. çou a implanHá quem atribua No final de tar uma nova 2018, a estapolítica para a mudança à bilidade camos derivados posse de Jair bial e a rede petróleo Bolsonaro. Mas dução dos (diesel, gasopreços inlina e gás de o novo governo ternacionais cozinha), vinada tem a ver do petróleo sando alcancaindo de US$ çar os preços com isso 70 até US$ 82 internacioo barril para nais. Em junho de 2016, quando Pedro US$ 53 até US$ 60 o barril Parente passou a comandar deveriam ter promovido um a empresa, a equiparação foi grande recuo nos preços. adotada de forma imediata. Porém, a redução somenCom isso, estabelece-se uma te foi repassada ao consumigangorra nos preços do mer- dor no final de dezembro de cado interno. Todas as va- 2018. Vale notar que tal reduriações do mercado externo, provocadas pelo preço do ção não representa, nem de petróleo e da taxa cambial, perto, a redução possível. passaram a interferir na for- Podemos dizer isto porque mação do preço interno, pro- a maior parte do petróleo vocando fortes aumentos na que processamos, a mão de gasolina e no GLP (gás de co- obra e grande parte dos custos são de origem nacional e zinha). De lá pra cá, essas oscila- pagos em real. Fernando Maia da Costa

T

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 110 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Fernando Maia da Costa, Luciano Palagano, Gabriel Carriconde, Gabriel Pansardi Ruiz e Paula Cozero ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Claudio Kbene e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Mais proteção para pessoas em situação de rua Segundo o IPEA, 100 mil pessoas vivem nas ruas do Brasil. No Paraná, 32 mil e, em Curitiba, cerca de 5 mil. Por isso, o deputado estadual professor Lemos (PT) apresentou projeto de lei que institui a “Política Estadual para a População em Situação de Rua no Estado do Paraná” e visa orientar a criação de políticas públicas para este segmento da sociedade que se encontra à margem das prioridades do Estado.

Aposentadoria de exgovernadores O governador do Paraná, Ratinho Júnior, apresentou projeto de lei que acaba com a aposentadoria vitalícia dos ex-governadores do Paraná. Mas a medida é polêmica, uma vez que se trata de um direito adquirido.

Deputado cobra transparência em pente fino

O deputado Estadual Requião Filho (MDB) protocolou pedido de informações a respeito do levantamento encomendado pelo governador Ratinho Júnior à Fundação Dom Cabral. O parlamentar quer ter acesso às diretrizes sugeridas pela instituição no pente fino de salário de servidores públicos.

Paraná, 7 a 13 de fevereiro de 2019

Geral 3

FRASE DA SEMANA

QUE DIREITO

“Não posso deixar que declarações levianas coloquem na boca de Cazuza o que ele nunca disse...”,

Paula Cozero

É ESSE?

Quem paga pelo crime da Vale?

afirmou em carta Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, em resposta ao ministro da Educação, Ricardo Rodriguez, por ele, em entrevista à Veja, atribuir ao cantor a frase “liberdade é passar a mão no guarda”.

Arquivo Pessoal

Trabalhadores do Hospital Universitário de Londrina sofrem com atraso salarial Gabriel Pansardi Ruiz Os funcionários do quadro do chamamento público do Hospital Universitário (HU) de Londrina não suportam mais os atrasos do governo estadual. Este ano, o salário ficou retido por quase dois meses. Por conta disso, no dia 31 de janeiro, houve protestos em frente ao HU. No início de 2018, o acerto também havia demorado. Os profissionais do chamamento público são contratados por meio de Pessoa Jurídica (PJ) e não possuem direitos, como 13º e férias. De acordo com um técnico de enfermagem do setor de pediatria, quem protesta sofre com ameaças de demissão. Ele não quis se identificar por medo de retaliações e atua há

três anos como PJ. Sem ter representação legal de uma entidade sindical, esses trabalhadores ficam à mercê do governo, que sai impune, como explica Mau-

do conseguiu com essa forma de contratação, a um só tempo, pagar valores baixos e que ninguém reclamasse: reclamou, tá fora, chamam outro”, afirma.

Sem ter representação legal de uma entidade sindical, esses trabalhadores ficam à mercê do governo, que sai impune

Denúncia Mesmo não representando esses trabalhadores, o Sindicato acompanha a situação. Em 2018, a entidade fez uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT), mas o caso não vingou. O MPT alegou incompetência para analisar esse tipo de processo jurídico, mesma alegação dada pelo Ministério Público Estadual, em função de o sindicato não ser a entidade que representa esses trabalhadores. Por isso, a orientação de Toledo é que os empregados busquem pessoalmente o MP Estadual.

rício Toledo, assessor jurídico da Sindicato dos Servidores Técnico-administrativos da Universidade Estadual de Londrina (Assuel). “O Esta-

Quase duas semanas após o rompimento da barragem em Brumadinho, Minas Gerais, com identificação de 142 mortos e quase 200 pessoas desaparecidas, a maioria dos sobreviventes está morando na casa de parentes e sem resposta sobre como tocarão suas vidas. A empresa Vale, responsável pelo crime, não está atendendo às reivindicações dos atingidos. Não há notícia nem mesmo sobre o cumprimento da promessa que fez de “doar” R$ 100 mil para famílias que perderam parentes. A Vale teve lucro líquido anual de mais de R$ 10 bilhões no último período – mesmo depois de estar envolvida com o crime em Mariana (junto com Samarco e BHP). Enquanto as empresas não forem responsabilizadas, continuarão cometendo esses crimes – porque compensa financeiramente. A privatização da Vale, ocorrida em 1997, também é responsável pela tragédia: a mineração do país foi entregue à iniciativa privada, que busca o lucro a qualquer custo em detrimento do meio ambiente e das pessoas. Quem pagou até agora pelos crimes da Samarco e da Vale foram os trabalhadores, as populações ribeirinhas, o meio ambiente e, em última instância, o povo. Por isso, mais do que nunca, é preciso exigir que as empresas e seus administradores paguem pelos crimes de violação de direitos humanos que cometem. *Advogada popular, doutoranda na UFPR e professora


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Paraná, 7 a 13 de fevereiro de 2019

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300 dias de luta por Lula Livre Vigília marca presença em Curitiba e dá força ao ex-presidente. Pessoas do mundo todo visitam Lula

Luiz Henrique da Silva, presidente do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, e Raduan Nassar, escritor vencedor do Prêmio Camões de Literatura, foram acompanhados por Fernando Haddad na visita à Lula: “Na impossibilidade de Lula ir até os catadores, eles vieram até ele para comemorar o Natal Ricardo Stuckert em Curitiba”, disse Haddad. Cerca de 100 catadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina vieram a Vigília e celebrar o Natal perto de Lula.

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Danny Glover | ator estadunidense

Meu irmão e companheiro Lula tem que ser libertado para continuar com todas as conquistas que ele alcançou para o povo. Ele é um símbolo de trabalho e amor que repercutiu não só no Brasil como no mundo”, disse Glover.

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Essa é a sua grandeza (de Lula): a grandeza de um homem que sabe inspirar um país e todos aqueles que o visitam. Ele está forte, a pensar o país, e influencia o país de dentro de uma cela. Não é o Lula pessoa, mas o Lula ideia, uma ideia de país com esperança numa sociedade mais inclusiva.”

Bela Gil | ativista

A democracia tem que falar mais alto. (Lula) É mais um cidadão que precisa de respeito, sem ódio. É uma prisão absurda e achei importante vir aqui.”

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Raduan Nassar, Luiz Henrique da Silva e Haddad

Não é todo dia que se encontra uma das figuras mais significativas do século 21 e a pessoa que por direito deveria ser o próximo presidente do Brasil. Nós ficamos felizes em ver que ele continua otimista, com energia e muitos planos.”

Boaventura de Souza Santos | sociólogo

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Lula é um homem que em todo o seu trabalho pensou nos mais necessitados, nos marginalizados. Tirou da pobreza e da fome mais de 30 milhões de brasileiros. Lula tem reconhecimento da ONU, FAO, OEA e Unesco. Nenhum presidente do mundo fez isso. É um caso único, por isso o prenderam e deram o golpe em 2016”

Ricardo Stuckert

E

m 7 de fevereiro completam-se 307 dias da prisão do ex-presidente Lula. E também 307 dias de resistência e solidariedade de pessoas de todo o mundo. Das cenas de violência e agressão por parte da polícia no dia de sua chegada, à solidariedade, apresentação de artistas, atos ecumênicos e, principalmente, a presença de quem não arreda o pé de frente da Polícia Federal em Curitiba e mantém a luta contra a injustiça. O próprio Lula já disse a diversas pessoas que o visitaram que é essa força passada pela vigília que o conforta nos piores dias, como o que ocorreu na morte de seu irmão, em que foi impedido de ir ao enterro. Lula já recebeu na prisão mais visitas do que qualquer outro presidente do Brasil. Confira algumas das pessoas que visitaram Lula nesses 307 dias.

Noam Chomsky | linguista e filósofo

Adolfo Pérez Esquivel | prêmio Nobel Ricardo Stuckert

Redação

Claudio Kbene

Monja Coen

Lula é digno. Incomoda porque é honesto, correto e pensa em todos”, declarou a budista Monja Coen ao sair da visita a Lula.

Chico Buarque e Martinho da Vila | cantores Ricardo Stuckert

Joka Madruga

José Mujica | expresidente do Uruguai

Podem prender seu corpo, mas jamais sua mente e seu coração, eles seguem pelos rincões do Brasil, sobretudo pelos lugares mais pobres”.

Achei ele muito firme e decidido a contra a injustiça,” disse Chico ao sair da visita ao ex presidente Lula. Já Martinho da Vila disse que Lula “não troca a liberdade por sua dignidade”.


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Reforma de Bolsonaro é pior que a do ex-presidente Temer Governo vazou proposta de reforma da Previdência em que fala em aposentadoria aos 65 anos CUT RJ

Redação

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governo Bolsonaro vazou para um jornal de sua confiança, o Estado de S.Paulo, proposta de reforma da Previdência que deve enviar ao Congresso Nacional este mês. E que consegue ser pior para os trabalhadores que a apresentada por Michel Temer. Prevê, por exemplo, a obrigatoriedade de idade mínima de 65 anos para aposentadoria de homens e mulheres. Na de Temer, eram 65 anos para homens e 62 anos para mulheres. A proposta de Bolsonaro propõe, ainda, que

Perseguição a Lula continua com nova condenação Redação A juíza substituta de Sérgio Moro, Gabriela Hardt, condenou o ex-presidente Lula a mais 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Agora porque teria recebido vantagens na reforma do sítio de Atibaia, que nunca pertenceu a Lula. A sentença é a segunda que condena o ex-presidente na Lava Jato. A defesa do petista pode entrar com recurso para tentar reverter a decisão na Justiça do Paraná e, posteriormente, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Inconsistências Para se comprovar o crime de corrupção passiva, é preciso que a acusação demonstre qual foi a vantagem recebida por um gestor público e especifique qual “ato de ofício” ele executou em troca desses benefícios. A sentença não contém essa informação. Em relação ao crime de lavagem de dinheiro, a sentença também não tem a informação de que Lula é o dono do imóvel.

quem quiser receber 100% da aposentadoria, trabalhe por 40 anos. E cria um sistema de capitalização, de “caráter obrigatório”. Ou seja, o trabalhador contribui para uma espécie de poupança pessoal. Como no Brasil os salários são baixos, depois de décadas, a pessoa poderá se aposentar por menos de um salário mínimo. Atualmente, há duas formas de se aposentar no Brasil: por idade, com a exigência de ter 65 anos (homens) e 60 anos (mulheres), com no mínimo 15 anos de contribuição. Ou por tempo de contribuição,

quando não se exige idade mínima, mas são necessários 35 anos (homens) e 30 anos (mulheres) de pagamentos ao INSS.

FIQUE ATENTO!

Judas para ser malhado É necessário tomar cuidado com essas propostas que são “vazadas” para jornais amigos. O objetivo é receber as críticas e depois alterar um ponto ou outro para que sejam aceitas com mais facilidade.

Pacote de Moro pode aumentar violência, avaliam especialistas Proposta relativiza o direito de defesa e não apresenta soluções efetivas para a segurança pública Redação

O

ex-juiz e atual ministro de Justiça, Sérgio Moro, apresentou no dia 4, em Brasília, o que foi chamado de “Pacote Anticrime”. Caso aprovado, o projeto formulado por ele pode aumentar as taxas de letalidade das polícias brasileiras. Essa é a avaliação de estudiosos do tema ouvidos pelo Brasil de Fato. Jacqueline Sinhoretto, integrante da diretoria do Evaristo S.A | AFP

Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim) e professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), afirma que o anteprojeto – que caracteriza como “populista” – não apresenta nenhuma medida concreta para a resolução de questões importantes relativas à segurança pública e, na verdade, vai no sentido contrário de muitas delas. “Se a legítima defesa for aplicada para a ação policial, isso vai exatamente na contramão da profissionalização das polícias. A polícia tem que ser bem treinada para administrar suas emoções nessas horas e não agir como cidadão comum. Isso é muito grave”, critica. Para Pedro Brandão, doutor em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), “Boa parte [do anteprojeto] relativiza o direito de defesa, viola direitos fundamentais consagrados constitucionalmente. É um pacote de falsas soluções. Tem um efeito prático: de alguma forma é uma licença para matar para os agentes de segurança. Tem o efeito simbólico: deixar os agentes mais confortáveis para atuar à margem da Lei”, diz.


Nenhuma gota de sangue a mais Comunidades fazem manifestações para dar visibilidade a massacre sofrido por indígenas Luciano Palagano

Luciano Palagano

N

o Dia Nacional de Mobilização dos Povos Indígenas, no final de janeiro, ocorreu uma série de manifestações por todo o Brasil com o lema “Nenhuma gota de sangue a mais!”. As mobilizações tiveram a intenção de dar visibilidade ao massacre silencioso que os povos indígenas vêm sofrendo no país. No Paraná, ocorreram maPUBLICIDADE

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6 Brasil

nifestações em Curitiba, com a participação de representantes de diversas etnias presentes no Estado. A concentração ocorreu na Praça Santos Andrade, saindo em passeata até a Assembleia Legislativa. Após esse ato, lideranças do movimento participaram de encontro como Ministério Público Federal e Estadual, no qual as demandas dos povos indígenas do Paraná foram apresentadas. Já em Guaíra, onde 13 co-

munidades (de Guaíra e Terra Roxa) lutam pela demarcação da Terra indígena, o ato concentrou-se em frente ao Ministério Público Federal. Além das demandas imediatas como saúde, educação, saneamento básico e demais demandas relacionadas à qualidade de vida, foi protocolado, junto à Procuradoria do Ministério Público Federal, documento assinado pelas lideranças indígenas em que é apresentada a preocupação das comunidades com a transferência da competência da Funai e do Ministério da Justiça sobre demarcação de terras para o Ministério da Agricultura. Esse fato, somado à suspensão do processo de demarcação da Terra Indígena Tekohá Guasu Guavira, região oeste do Estado, cria uma situação crítica para as comunidades indígenas de todo o Brasil, prejudicando ainda mais a luta pela terra e por condições dignas de vida.

Ato interreligioso marca uma semana da morte de irmão de Lula Pedro Carrano

Pedro Carrano Nos 305 dias da vigília Lula Livre foi organizada celebração interreligiosa com a presença de diferentes lideranças. O tom do ato foi de homenagem a Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão de Lula falecido há uma semana. “É um momento como o que fazemos todos os domingos. Faz sete dias da morte de Vavá e Lula não pôde velá-lo”, explicou Teresa Lemos, uma das coordenadoras do espaço. Com mística, velas e presença de integrantes de caravanas de Minas Gerais e Santa Catarina, os presentes se solidarizaram com Lula, que não foi liberado a tempo de ir ao enterro, no que é considerado pelas organizações populares como mais um forte ataque político contra o ex-presidente. O padre Domeni-

co Costela falou emocionado sobre a ausência de rancor por parte do ex-presidente, apesar do sentimento de injustiça. “Sabe o que ele me falou na visita que fiz? Fala lá fora que eu não tenho ódio e rancor de ninguém. O que há é indignação diante da injustiça que é a condenação dele diante de um ato indeterminado. Então, estamos aqui para rezar pelo irmão de Lula, mas também pedindo a liberdade do nosso presidente”, afirmou Costela. Frei Aloísio Fragoso, frade pernambuco presente há um mês na vigília, abordou o tema da justiça e sua relação com a escrita bíblica. “Lula só não está ainda morto porque a justiça vive em nós, em milhares de pessoas além de nós”, apontou. Participaram também o Pastor Israel, da igreja Congrega Church, e irmã Inês, da Congregação Franciscana de São José.


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Cultura | 7

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“Preparado para a porrada”, diz Wagner Moura sobre “Marighella” Filme que ator dirigiu estreia no Festival de Berlim com dificuldades de financiamento e sem data para lançamento no Brasil

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Mariana Pitasse e José Eduardo Bernardes,

Rio de Janeiro (RJ)

O

ator Wagner Moura, conhecido como Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, lança na 69ª edição do Festival de Berlim, na Alemanha, em fevereiro, o filme que dirigiu sobre Carlos Marighella. Nesta entrevista, afirma que encontrou barreiras para conseguir financiamento e não tem previsão de exibição nos cinemas brasileiros. “Mas estou seguro do filme que fiz e preparado para a porrada”, garante o

diretor. Confira a entrevista abaixo. Brasil de Fato | Por que resolveu contar a história de Marighella nos cinemas? Wagner Moura | Eu sou baiano. Suponho que o nome de Marighella seja igual no Brasil inteiro, mas, em Salvador a gente cresceu tendo ele como referência de resistência. Era um nome importante na Bahia para quem se interessava pelas lutas de resistência. Eu sempre fui fascinado por revoltas populares. Malês, Canudos… e Marighella é um personagem próximo dessa tradição.

E o que um filme de ficção pode acrescentar à história de Marighella? Um filme de ficção tem potencial de se alastrar e atingir mais pessoas que um documentário. Eu sou um cara que vem da ficção, então não saberia fazer um documentário sobre a história dele. Embora ele [o filme] seja baseado em uma história real, em personagens reais, em um estudo gigante do (jornalista) Mário Magalhães, que é incrível – ele reconstituiu a história de um cara que fez questão de apagar seus passos –, o nosso filme toma liberdades criativas de cenas, luga-

res, pessoas que não aconteceram. Que Marighella é esse, retratado no seu filme? O recorte temporal é do golpe de 1964 até a morte de Marighella em 1969 – os últimos cinco anos de sua vida. Esse Marighella é o cara que resolve ir para a luta armada, resolve que a única possibilidade de lutar pela democracia, justiça social, liberdade, igualdade, é essa. Escolher esse recorte é retratar o Marighella radical. Mas vale lembrar que ele foi uma pessoa que militou na legalidade o quanto pôde. Porque

o Partido Comunista (PCB) ficava ilegal quase o tempo inteiro. É claro que, do ponto de vista cinematográfico, as ações da ALN são espetaculares. Nosso filme é um híbrido de gêneros. Ele é um drama histórico, mas, ao mesmo tempo, tem elementos muito poderosos do cinema de ação. Mais uma vez, a minha escolha por esse recorte também atende à vontade de que o filme seja popular, que muita gente veja, sobretudo as pessoas pelas quais Marighella lutava – o que é uma questão, quando você pensa que o cinema é um divertimento elitizado.

DICAS MASTIGADAS Ingredientes 1 xícara de talos e folhas de Brócolis 1 ovo 50 ml de leite 1 colher de azeite 1 colher rasa de sal 1 colher pequena de açúcar 2 xícaras de farinha de trigo 15 gr de fermento biológico 100 gr queijo Recheio ½ copo de Brocolis picado ½ copo de bacon picado ½ copo de queijo

Pão de Brócolis

Modo de Preparo Bata o ovo, leite, azeite, e açúcar no liquidificador. Acrescente o brócolis, bata até formar um suco verde e acrescente o fermento. Numa vasilha grande coloque os dois copos de trigo e vá acrescentando o suco e formando a massa até que ela descole do fundo. Numa bancada (ou em outra vasilha grande) despeje um copo de trigo e sobre ela a massa para ir sovando até a massa ficar homogênea, lisa e pronta pra enrolar. Opcional: Refogue o bacon, as folhas do brócolis e junte com o queijo (frio). Abra a massa com um rolo e cubra com o recheio e enrole o pão. Deixe crescer por 40 min e leve ao forno. Deixe assar por 30 minutos em forno a 180 graus ou na panela de pressão untada.


8 Esportes

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Ebony and Ivory Por Cesar Caldas Paul McCartney, no Couto Pereira, cantará “Ebony and Ivory” (Ébano e Marfim). Lembremos: se foi vivendo “em perfeita harmonia” que o Coxa Negra tornou o Coxa Branca Campeão do Povo e Brasileiro, “por que não a gente?” Ontem, 6/2, Jairo Nascimento partiu, subindo ao panteão mais Alto das Glórias do Coritiba. Nosso Zumbi dos Palmares. Um libertador do futebol paranaense, que o transportou à principal competição continental. Paradoxo: chamado “Muralha de Ébano”, se notabilizou pela beleza plástica de suas “pontes” – deitando no ar com os braços esticados para evitar o gol do adversário. Tornou-se número 1 da Seleção Brasileira. Atleta que mais vestiu a camisa do Coritiba, quebrando o recorde nacional de minutos sem tomar gol em 1972. Ultrapassado, seis anos depois, por ele mesmo. Despedimo-nos em 2015, estudando o Evangelho. Nada mais apropriado.

O adeus do Pantera Negra Campeão brasileiro pelo Coritiba, e ídolo no Corinthians, o ‘’Pantera Negra’’ faleceu na quarta-feira Divulgação

Água fria Por Marcio Mittelbach O gol de empate do Athletico no clássico do último domingo, 3/2, dizimou as chances do Paraná avançar às semifinais do primeiro turno do Paranaense. Após cinco jogos, uma derrota, três empates e apenas uma vitória, o tricolor depende de um milagre para seguir na disputa. O abalo foi ainda maior porque o Paraná passou a maior parte do jogo à frente no placar. O camisa 9, Jenison, marcou seu primeiro gol pelo Clube aos 12 minutos da primeira etapa. A partir daí o tricolor desperdiçou várias chances para fazer o segundo e tranquilizar o jogo. Como diz o ditado, quem não faz leva, e o castigo chegou aos 38 da segunda etapa. Agora, além de vencer o Londrina, o Paraná precisa torcer por tropeços de Coritiba, Cianorte e Cascavel CR. Já de cara uma dose extra de pressão num ambiente conturbado após a pífia campanha na Série A.

Megalomania Por Roger Pereira Mário Celso Petraglia foi o Bola da Vez, da ESPN, na última semana. Na entrevista, entre opiniões controversas, zombou dos rivais Coritiba e Paraná, dizendo que não há rivalidade no estado, que isso é provincianismo e que o orçamento do Furacão é maior que o dos demais 11 times que disputam o Paranaense. Petraglia defendeu o fim dos estaduais e disse não ver problema em não jogar o Atletiba no ano. Foi além, disse que nossos rivais são São Paulo, Grêmio, Boca Junior, River Plate e, em ato falho, citou até o Real Madrid. Menos, Petraglia. Em 94 anos de história, temos dois títulos de expressão, o Brasileiro de 2001 e a Sul-Americana do ano passado. Entre um e outro, passamos 17 anos comemorando alguns estaduais. Se quer rivalizar com os grandes do Brasil e da América, que tenhamos uma rotina de títulos como a dos clubes que você acha que são nossos rivais.

Gabriel Carriconde

A

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019, ficará marcada pela saudade de um grande ídolo dos gramados, especialmente para a torcida coxa-branca. Faleceu o ex-goleiro Jairo do Nascimento, atleta que mais vestiu a camisa do Coritiba, 410 vezes. Um dos ícones da vitoriosa geração dos anos 70 e 80 do Coritiba, o goleiro Jairo, campeão brasileiro de 1985, foi vítima de um tipo raro de câncer. Em seus últimos meses de vida recebeu a solidariedade de diversos torcedores e admiradores com a campanha #DefendaOJairo, que visava arrecadar fundos para o tratamento. Posteriormente o Corinthians ofereceu ajuda financeira para a compra de remédios e auxílio para a recuperação do ex-arqueiro. Jairo além de ser campeão brasilei-

ro no Coritiba, fez história também no Corinthians, Náutico, Caxias-SC, Fluminense e na Seleção Brasileira. Uma lenda coxa-branca Jairo chegou ao Coritiba na temporada de 1972, mas não com o status de ídolo. Com uma contestada estreia em amistoso, voltando a atuar apenas três meses depois. A primeira sequência como titular veio com o primeiro título do Campeonato Paranaense. Em 18 jogos, sofreu apenas seis gols. Neste ano alcançou a marca de 933 minutos sem ser batido, recorde entre os goleiros do clube. Nos anos seguintes, seguiu em alto nível, participando das conquistas dos paranaenses de 1973 a 1976 e também do Torneio do Povo, em 1973. As grandes atuações levaram o ‘’Pantera Negra’’ para a Seleção Brasileira. Logo após as pri-

meiras convocações, em 1977, mudou-se para o Corinthians, onde conquistou títulos e alcançou a maior sequência de um goleiro sem sofrer gols no Campeonato Brasileiro, mais de mil minutos. Jairo voltou ao Coxa em 1983 e foi titular até o fim de 1984. Na reserva de Rafael Camarotta, acabou sendo fundamental na semifinal do Brasileiro de 1985. Atuando na vaga de Rafael, que estava suspenso, teve atuação de gala na vitória de 1 a 0 sobre o Atlético-MG. Permaneceu no Coxa até maio de 1987. Tornou o único jogador a estar em campo em duas conquistas de competições nacionais pelo Coxa, o torneio do Povo de 1973 e o Campeonato Brasileiro de 1985. Suas grandes atuações renderam o apelido de “A Muralha de Ébano.” Com informações do Coritiba Football Club


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