Brasil de Fato PR - Edição 242

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PARANÁ

Ano 5

Edição 242

dezembro de 2021

Esportes | p. 8

Conquistas e derrotas Times terminam temporada e já projetam 2022

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Um ano difícil de esquecer Fotos: Giorgia Prates

Divulgação

Cultura | p. 7

Contra a corrente Em entrevista, Nena Inoue fala como artistas de teatro sobreviveram

Pandemia bate recorde de mortes, vacina traz esperança Fome volta e pessoas ficam na “fila do osso”

Divulgação

Indígenas resistem ao vírus e a governo que quer tomar suas terras Governo é responsável pela crise hídrica, econômica e sanitária Especial, páginas 2, 4, 5 e 6


Brasil de Fato PR 2 Opinião

2021, um ano de crises EDITORIAL

C

rises de diversas dimensões marcam o ano de 2021. Do ponto de vista sanitário, a pandemia no Brasil demorou a ser estancada. Uma generalizada rede de corrupção do governo federal foi desvelada pela CPI da Covid-19. A vacinação tardou a alcançar a maioria dos brasileiros e o país acumulou mais de 600 mil mortos. Quanto à crise social, o país assiste ao crescimento da fome e do desemprego. A inflação atinge os dois dígitos e é a maior desde 2003. Ao lado da economia em frangalhos, uma situação socioambiental crítica:

SEMANA

Brasil de Fato PR

Paraná, dezembro de 2021

A vacinação tardou a alcançar a maioria dos brasileiros e o país acumulou mais de 600 mil mortos problemas hídricos, desmatamento e desrespeito às populações tradicionais convivem com a destruição de políticas públicas por parte do governo. Já do ponto de vista político, a crise institucional

conheceu grande escalada, com mais ameaças às instituições democráticas pelo presidente e seus apoiadores. De outro lado, uma crise moral sem precedentes revela que justiceiros do último período nada mais são do que personagens que anseiam por cargos de poder. Tudo isto demonstra que a única forma de superar a crise é o povo brasileiro assumir seu papel ativo: na crítica radical ao atual governo, na denúncia das falsas alternativas políticas e na consciente participação nas eleições de 2022. Só a luta do povo pode conter a crise.

Contra o negacionismo, a vacina é a educação

OPINIÃO

Hermes Silva Leão,

P

educador, ex-presidente da APP-Sindicato, colunista do Brasil de Fato Paraná

ara realizar um balanço deste período da realidade política do nosso país é preciso passar pela avaliação do comportamento do governo Bolsonaro, do governo Ratinho Jr e da maioria de prefeitos e prefeitas diante da pandemia. A principal característica da gestão desse período foi o negacionismo, que se traduziu no surgimento de uma leva de lideranças políticas que rechaçam a própria política e conquistam espaço a partir de mentiras e fake news. Nesse contexto, a educação pública se tornou alvo do fundamentalismo anticientífico das correntes mais atreladas ao obscurantismo das ideias e esses atuais governos aprofundam ataques que nós já sofríamos, do ponto de vista do mundo do trabalho, desde o golpe de 2016. É importante ressaltar que trata-se de um ataque que passa pelo campo da ideologia, que estimula a recusa do papel do professor, um crescimento muito forte do

pensamento autoritário, que leva inclusive ao movimento do chamado homeschooling (ensino domiciliar), projeto já aprovado e que anima justamente os setores do negacionismo, da necropolítica, o que é preocupante. O balanço da educação é de muito desgaste. No Paraná, a pandemia serviu de trampolim para o governo Ratinho retirar direitos, amparado pela maioria dos deputados estaduais. A terceirização de funcionários/ as de escola se revela um desastre, com treze empresas levando dinheiro público. Há ataques também contra o direito à saúde das pessoas, suprimindo a perícia médica. E estamos em greve nesta semana por conta de projeto que ataca a carreira de professores e funcionários. É necessária a resistência, dialogando em cada escola, na defesa dos direitos e da educação pública. E, em 2022, vamos confrontar as ideias, entendendo que os educadores têm um papel protagonista no esclarecimento que possa conduzir a uma ampliação da consciência política.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 242 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Hermes Silva Leão e Mariana Auler ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, dezembro de 2021

No mundo do futebol, é comum a expressão de que um time foi ao mercado em busca de reforços. Essa tem sido a postura do PT, que vem buscando novos e “velhos novos” nomes para a próxima eleição. O partido, que sempre se orgulhou de formar quadros na base, hoje se encontra aberto a receber lideranças de outras equipes/partidos. A mais nova contratação do PT para a temporada de eleições é o senador Fábio Contarato. O político, que atuava pela Rede, ganhou destaque na CPI da Pandemia, quando marcava os negacionistas e defendia os interesses da população. O senador, aliás, é “bola de ouro” na proteção da comunidade LGBTQI+, bandeira com empatia na arquibancada petista. A chegada dele foi saudada pela presidenta do Partido, Gleisi Hoffmann. “É uma alegria imensa para nós começarmos a semana com essa notícia da sua decisão de entrar no PT. Nossa caminhada tem tudo a ver, vamos retomar o Brasil para o povo brasileiro”, disse. O PT, inclusive, ainda tem reforçado o seu elenco de alianças ao jogar junto com Marcelo Freixo, Flávio Dino, lideranças na cultura e na comunidade. A sigla ainda faz consultas para novos reforços, como o ex-governador Requião e Geraldo Alckmin, este para fazer tabelinha com Lula nas urnas presidenciais: a Libertadores da política brasileira.

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É ESSE?

“Um policial militar foi o responsável pelo tiro que matou Kathlen Romeu, mais uma vítima desse Estado que assassina pobre e preto todo dia”

Mariana Auler

Despejos coletivos: o que esperar para 2022

Disse a Talíria Petrone (PSOL-RJ), após perícia concluir que tiro que matou jovem grávida neste ano, no Rio de Janeiro, partiu da arma de policial. Divulgação

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Sobrou pro Ciro Numa amostra do que pode acontecer com todos os candidatos à Presidência até as eleições, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) foi “visitado” pela Polícia Federal na manhã da quarta (15) para buscas e apreensões num inquérito sobre a construção do estádio Castelão para a Copa do Mundo de 2014. Seu irmão, Cid Gomes, ex-governador, também foi acordado pelos policiais. Não à toa, as redes bolsonaristas passaram o dia repercutindo as buscas. Num vídeo repostado por Eduardo Bolsonaro, o locutor de uma rádio obscura chega a pedir a prisão imediata de Ciro.

Não tinha cargo Ciro atacou em suas redes sociais: “Depois da Polícia Federal, subordinada a Bolsonaro, com ordem judicial abusiva de busca e apreensão, ter vindo a minha casa, não tenho mais dúvida de que Bolsonaro transformou o Brasil num Estado Policial que se oculta sob falsa capa de legalidade.” E afirmou que não teve nada a ver com as obras do estádio, nem tinha cargo na época da construção.

Lula solidário Em seu perfil oficial no Twitter, o ex-presidente Lula escreveu: “Quero prestar minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato a presidente Ciro Gomes, que tiveram suas casas invadidas sem necessidade, sem serem intimados para depor e sem levar em conta a trajetória de vida idônea dos dois. Eles merecem ser respeitados.”

Voltou atrás

Divulgação

Geral

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

PT vai ao mercado

Brasil de Fato PR

Ciro, que num primeiro momento adotou seu estilo de defender dando pancada, com entrevista acusando os governos Bolsonaro e também Lula de corrupção, respondeu: “Obrigado presidente @LulaOficial. O estado policial de Bolsonaro é uma ameaça à democracia e a todos os democratas. Me considero na obrigação de dar todos os esclarecimentos necessários, em respeito ao povo brasileiro, e o farei.”

Desde 2016 as políticas públicas de moradia e acesso à terra no Brasil seguem em franco desmonte. Fora dos programas habitacionais, sempre insuficientes, o acesso à moradia se dá fora do mercado formal. As ocupações, portanto, sempre aumentam em cenários de crise econômica e diminuição da renda. É o que vimos nos últimos anos, em especial em 2020 e 2021. Essa questão repercutiu diretamente no Legislativo e no Judiciário, que editaram normas e proferiram decisões para suspensão dos despejos durante a pandemia. Destacando-se a recente decisão do STF, que suspende desocupações até 31 de março de 2022, aumentando o prazo da Lei 14.216/2021. A questão que fica é: e depois? Ainda que superemos a Covid-19, a crise econômica segue. Nesse sentido, se partimos da premissa de que pessoas não podem viver sem morar, precisamos que o Judiciário compreenda a questão para além da pandemia e mantenha uma visão garantista da dignidade humana, ou então, precisamos urgentemente reconstruir nossas políticas públicas sociais e o aumento da renda nacional. Fora dessa premissa nos resta o cenário desumano de terra arrasada dos despejos coletivos. Mariana Auler Advogada e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares


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Paraná, dezembro de 2021

Com negacionismo, mais de 600 mil pessoas morrem. Vacina evita o pior Brasil sofre maior catástrofe sanitária, governo é acusado de genocídio em CPI Giorgia Prates

Gabriel Carriconde

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ais de 600 mil pessoas. Uma cidade com a população de Sorocaba só de mortos pela Covid. Esse foi o saldo da pandemia no Brasil, desde março de 2020. Só neste ano, o país lidou com a piora do cenário e da taxa de contágio, que levou ao surgimento de uma variante, a P1, descoberta em Manaus, e mais de meio milhão de mortos, e uma população mais infectada e mais adoecida. Ernani Ogata, fotógrafo, 39 anos, acabou sendo um dos cerca de 23 milhões de brasileiros que contraíram a doença. O que era a suspeita de uma reação por conta da vacina da gripe, acabou virando longa jornada de 46 dias de internamento e luta pela vida, passando 26 dias entubado. “Botei na minha cabeça que não teria sequelas, e que sairia dessa, mas foram momentos muito difíceis”, conta. O fotógrafo ganhou alta em 13 de agosto, data em que o Brasil somava 567.914 óbitos, mas a menor média móvel de mortes por covid até então, graças à aceleração e adesão

dos brasileiros à vacina. Nesse mesmo dia, o país acompanhava, estarrecido, o desenrolar das denúncias reveladas pela CPI da Pandemia, no Senado, que investigava a atuação do governo Bolsonaro. Denúncias de prevaricação e

corrupção na compra dos imunizantes, e até mesmo a atuação de um gabinete paralelo que atuava junto ao presidente para promover remédios sem eficácia, boicotar medidas sanitárias e provocar brigas com governadores, que buscavam seguir a recomendação da maioria dos cientistas. Tudo isso com a anuência do então ministro da saúde, Eduardo Pazuello, general do exército, que após duas trocas na pasta, viu a taxa de infectados chegar a níveis alarmantes sob sua gestão, com UTIs lotadas em todos os estados, e crise de falta de abastecimento de oxigênio em hospitais de Manaus. O presidente ainda foi denunciado, no inquérito final da CPI, por nove crimes, entre eles crime contra a humanidade e charlatanismo. Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), os crimes são tão graves quanto o de genocídio. “No caso do genocídio, era preciso ter mais elementos para que chegássemos à comprovação do crime. Já para os crimes contra a humanidade, temos elementos suficientes, já que Bolsonaro foi enquadrado nas modalidades extermínio, perseguiGiorgia Prates

ção e outros atos desumanos, que podem dar 30 anos de detenção a prisão perpétua. São crimes tão gravosos quanto o de genocídio’’, disse o parlamentar em uma entrevista à revista Carta Capital. Para Pedro Halllal, epidemiologista, e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Bolsonaro foi aliado ao vírus e “grande inimigo” do enfrentamento da pandemia no Brasil. Em depoimento à CPI da Covid, em junho, Hallal criticou duramente as medidas tomadas pelo governo. ‘’O Brasil teve quatro ministros da Saúde e, por mais que eu tenha críticas aos quatro, os principais sinais de negacionismo não foram dados por nenhum deles. A principal personalidade responsável por propagar mensagens anticiência foi diretamente o presidente da República. Infelizmente, a postura do líder é a pior de todas as posturas que observamos durante a pandemia”, criticou. Apesar do intenso ritmo de vacinação no Brasil ter feito os índices de contágio caírem até o momento, o mandatário brasileiro ainda insiste na propagação de remédios, como a hidroxicloroquina.

Cansados Raquel Padilha, enfermeira e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec), relembra os momentos difíceis que os profissionais da saúde passaram na pandemia. No pico da contaminação, em abril, o país chegou a perder cerca de 6 mil profissionais da área. “A gente nunca viveu antes o que vivemos nesse período. As incertezas passaram a fazer parte do sentimento das pessoas, mesmo que o paciente ficasse melhor na UTI, às vezes a pessoa do lado dele também ficava bem, mas falecia depois. Muitos profissionais estão doentes depois de tudo isso, não só em Curitiba, principalmente danos psicológicos, estamos muitos cansados.” Diante das polêmicas em torno do passaporte vacinal e da chegada da variante Ômicron, Padilha reforça a necessidade da vacinação. “Quem cuida da saúde das pessoas precisa se vacinar, é obrigação nossa. Apesar do atual controle da doença, ainda estamos em alerta por conta da ômicron, só a vacina vai nos ajudar.”


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Paraná, dezembro de 2021

Brasil

O ano da fila do osso: economia naufraga e fome volta a assolar brasileiros Inflação alta e queda na renda empurram metade dos brasileiros para a insegurança alimentar

Giorgia Prates

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Gabriel Carriconde

vida do brasileiro não estava fácil nos últimos anos, com aumento do dólar, desemprego e crise econômica prolongada, mas 2021 provou que o que estava ruim ainda podia piorar. Com o aumento do preço dos alimentos e a queda na renda média, a menor em 8 anos de acordo com o IBGE, a fome e a insegurança alimentar voltaram a ser um dos pesadelos num país que há pouco tempo era elogiado pelas Nações Unidas por programas de transferência de renda, diminuição da miséria e ter saído do Mapa da Fome. Se em passado recente, a fila do supermercado era de pessoas aproveitando para comprar o filé do churrasco, em 2021 a imagem foi substituída pela fila para a compra de ossos e pelancas. Outra imagem que viralizou foi a de pessoas disputando comida em caminhões de lixo. E um dos motivos é que nos últimos 12 meses, de acordo com dados do IPCA-15, o preço da carne subiu, em média, 22%. Para o economista do Dieese-PR Sandro Silva, as raízes dos atuais problemas econômicos surgiram bem antes da pandemia. “Desde o impeachment da ex-presidente Dilma, o país mudou sua matriz econômica, adotando um modelo neoliberal, com diminuição do estado, teto de gastos e queda no investimento

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MST organiza campanha “Natal Sem Fome” em 30 cidades do Paraná Redação

Divulgação | Prefeitura de Bonito

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público.” Sandro ainda lembra que a política de incentivo à exportação de alimentos e commodities promovida pelo atual governo, com o câmbio alto, ajudou a encarecer a comida. “Bolsonaro fez uma política agrária de incentivo à exportação em detrimento do mercado interno, o presidente, por exemplo, em vez de incentivar os frigoríficos a venderem para ajudar a baixar os preços, na situação com a China, preferiu pedir para segurarem sua produção até resolverem o problema.” O economista refere-se ao fato de que a China cancelou por determinado período a compra de carne brasileira, mas isso não se refletiu na queda dos preços. A situação da carne lembrada por Sandro, é uma das situações que levaram o carrinho de supermercado e a mesa do brasileiro a ficarem mais vazios. Apesar do mundo sofrer de diferentes maneiras com o aumento de itens da cesta básica, no Brasil a situação é pior. De acordo com o IBGE, os gastos com comida já passam dos 20% da renda dos brasileiros que recebem entre 1 e 5 salários-mínimos. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, aponta que a inflação média esperada para este fim de ano nos países ricos e em desenvolvimento

deve chegar a 3,7%, mas o Brasil terá praticamente o dobro de inflação, com 7,2%, atrás apenas de Argentina e Turquia. Fome na periferia E esse impacto é sentido sobretudo nas periferias. Raíssa Mello, ativista de movimentos sociais e organizadora de diversas campanhas de distribuição de “quentinhas”, afirma que a situação econômica na pandemia foi dramática nas comunidades que acompanha. “Pessoal não tinha dinheiro para comprar um gás, ou levar o filho ao médico. A fome se agravou demais nos lugares em que eu acompanho, como nas ocupações.” Com a insegurança alimentar atingindo mais da metade da população brasileira, Raíssa revela que o perfil dos que pedem ajuda mudou. “Antes da pandemia geralmente as pessoas que ajudávamos já estavam vulneráveis, saindo da prisão ou mulheres em situação de agressão. Na pandemia não teve esse recorte, atingiu dos mais novos aos mais velhos. Nos natais solidários, por exemplo, antes a criançada pedia brinquedo, hoje a maioria pede cesta básica e material escolar.” Raíssa ainda completa: “As pessoas estão só sobrevivendo, e não sonhando mais”.

omo forma de ajuda a quem está sem comida na mesa, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza a campanha “Natal Sem Fome: Cultivando Solidariedade para Alimentar o Povo”, de 10 de dezembro a 6 de janeiro. O Paraná terá ações em pelo menos 30 cidades. As primeiras doações começaram no dia 13, em São Miguel do Iguaçu, no Oeste, e seguem até o dia 23 de dezembro. Entre alimentos frescos e itens industrializados, a expectativa é distribuir cerca de 95 toneladas de alimentos e 3 mil marmitas, na capital e em cidades do interior. José Damasceno, integrante da direção estadual do MST-PR, explica: “Estamos fazendo a nossa parte e acreditamos que com a energia, a vontade, a coragem e a união de todas e todas é possível que a gente leve até as pessoas mais carentes um pouco daquele alimento que a gente produz, e além disso, levar o carinho, a solidariedade e muita energia para que essas pessoas continuem resistindo”, afirma. A maior parte das doações partirá de famílias Sem Terra, na campanha de solidariedade que começou no início da pandemia da Covid-19. Ao todo, no Paraná, 794 toneladas de alimentos foram partilhadas por famílias do MST de abril de 2020 a novembro de 2021.

PARTICIPAÇÃO A campanha “Natal Sem Fome” do MST também convida a sociedade a contribuir com as ações, com a compra de cestas de alimentos da reforma agrária. Veja como participar em brasildefatopr.com.br


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Paraná, dezembro de 2021

Ano de retomada e lutas para os indígenas

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Atingidos pela pandemia e descaso do governo, povos originários continuam batalhas pela terra Giorgia Prates e Lian Voigt

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pandemia de Covid-19 impõe desafios à humanidade, mas sobretudo aos povos originários. No Brasil, o desgoverno, os planos de “passar a

boiada”, o crescente discurso de ódio, a fome e ausência de políticas públicas fizeram com que as lutas dos indígenas por sobrevivência se tornassem ainda mais acirradas. De acordo com a Articulação dos po-

vos indígenas do Brasil, APIB, são 62.310 casos confirmados, 1.241 mortos e 162 povos afetados pela Covid. Porém, a luta pela sobrevivência está longe de ser apenas contra o coronavírus.

Giorgia Prates

A retomada Exemplo de luta pela terra, foi a retomada indígena na Floresta Estadual Metropolitana de Piraquara. Os povos kaingangs e guaranis foram os primeiros habitantes do Paraná. Muitos acabaram mortos e expulsos no século XIX para a abertura do trajeto para o porto de Paranaguá. Na retomada, em 2021, as terras se encontravam em total abandono do poder público, tendo queimadas frequentes, derramamento de esgoto nos córregos, além do plantio ilegal de plantas exóticas, como eucalipto e pinus. Após a retomada, houve mutirão de plantio de plantas nativas, além de vários projetos de cunho ambiental e social para toda a população. Em 22 de setembro de 2021, o governo do Paraná “autorizou” a permanência dos povos Kaingang e Guarani Nhandewa no local.

II Marcha das Mulheres Indígenas Em 10 de setembro, respeitando as normas sanitárias, ocorreu a II Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, com cerca de 5 mil indígenas de 172 povos. A marcha saiu do acampamento na Funarte em direção à Praça do Compromisso. Na local, o povo Pataxó hã-hã-hãe prestou homenagem a Galdino, indígena da etnia que foi queimado vivo em 1997 enquanto dormia. Uma das principais reinvindicações da marcha foi a recusa do Marco Temporal, que estava em análise no Supremo Tribunal Federal (STF) e teve votação suspensa. Giorgia Prates

Marco Temporal

Casa de Passagem Indígenas vêm para Curitiba vender seu artesanato, e antes ficavam na Capai (Casa de Passagem Indígena), gerida pela prefeitura. Fechada desde março de 2020, a casa reflete o descaso do poder público aos povos originários. Diante da urgência por sobrevivência, mulheres e crianças estão dormindo nas ruas de Curitiba. As mães relatam que estão recebendo ameaças por parte dos órgãos públicos de retirar as crianças das famílias, entre outras formas de repressão. Foi feita petição para a reabertura da casa. Para mais informações, acesse: https:// peticaopublica.com.br/?pi=BR121885

Fortalecendo o agronegócio e a degradação da natureza, o atual governo, por omissão, alia-se ao garimpo ilegal, à invasões de terras e conseguiu colocar em risco toda a biodiversidade de um país continental e, principalmente, a integridade física dos povos indígenas. O aumento da violência e o etnocídio estão absolutamente ligados à tese inconstitucional do Marco Temporal, que preconiza que os povos originários somente têm direito à homologação e demarcação de suas terras se comprovarem sua ocupação até a data da promulgação da Constituição Federal, em 1988. Segundo o artigo VI da Constituição, é direito do cidadão a moradia. A partir do momento em que o marco temporal prevê que as terras dos indígenas não pertencem a eles, estão retirando o direito de ter essa moradia e sua integridade cultural preservadas. Favorecendo novamente a exploração de corpos e terras, que são dos povos originários desde antes de 1500.


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Paraná,dezembro dezembrode de2021 2021 Paraná,

Cultura

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A gente sabe nadar contra a corrente Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, a atriz Nena Inoue fala das dificuldades de ser artista de teatro nestes difíceis anos da pandemia Frédi Vasconcelos

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omo foi 2021 para os artistas, como você, que trabalham no teatro? Foi difícil, porque a gente é do presencial, é aglomerador por natureza, a gente não conseguiu exercer nosso trabalho, levar para o público presencialmente... Mas a gente se reiventou, vem se reinventando desde sempre. A gente continua sendo persona non grata neste governo, que a primeira coisa que fez foi extinguir o Ministério da Cultura, e aqui no Paraná teve a extinção da Secretaria da Cultura. Esses negacionistas de hoje sempre existiram. A gente sempre nadou contra a corrente. Às vezes a favor, mas a gente sabe nadar contra a corrente. Não nos intimidamos e fomos à luta. Nosso trabalho, que é presencial, virou “online”, alguns ao vivo, outros não. E fomos dizendo que estávamos aqui presentes. Mais importante que ficar discutindo se teatro é só presencial ou não, se “online” não é teatro, é dizer que a gente está aqui. Porque é um governo que não nos quer, e temos de dizer que a gente está aqui, estamos trabalhando. Como sobreviver em tempos tão duros? Com quase dois anos sem público? Continuei fazendo meus espetáculos dentro das limitações, fiz pro Sesc ao vivo, fiz pros festivais, fui fazendo... Fiz agora no mês passado para a prefeitura de Pinhais, abrindo o festival. A gente foi se virando, que é o que a gente faz sem-

pre. Ser artista de teatro neste país é um ato de coragem. E coragem a gente tem. Mas os grandes prejudicados foram, em especial, os técnicos. Quem lidava com audiovisual acabou tendo trabalho, mas os outros, não. Operador de luz, operador de som, contrarregra, maquinista, a gente da carpintaria teatral, figurinistas, cenógrafos, coreógrafos, que não conseguiram exercer seus trabalhos. Houve editais, como da Lei Aldir Blanc, que apesar de um erro atrás do outro, da obtusidade, do negacionismo, e ignorância das instituições, aqui em especial da superintendência de cultura, a gente conseguiu trabalhar com alguns editais. E a Aldir Blanc é o maior dinheiro que a cultura já recebeu na história deste país, e que foi uma conquista dos trabalhadores da cultura, com políticos como a Benedita (Da Silva, PT), Jandira Feghali (PCdoB), que encamparam essa bandeira. Com todos os erros dos governos... Mesmo liberando o dinheiro, eles dão um jeito de dificultar, porque eles não nos querem, mas a gente existe independente deles. Então, os artistas de teatro continuaram a fazer o seu trabalho, com uma outra linguagem, outro meio, outra ferramenta, que foi a câmera... Quais são as perspectivas a partir de agora? Para o ano que vem, é a gente continuar de onde estamos, não de onde parou no começo da pandemia. É seguir e entender que

essa pandemia trouxe muita coisa, muita morte, muito negacionismo, muito de tudo... Mas que a gente não é mais o mesmo, nesses dois anos, mudou, porque ou a gente muda ou morre. A perspectiva é que se tenha um pouco mais de consciência coletiva, de consciência sobre a terra, sobre os seres, a flora, a fauna, nosso território, nosso lar. É impressionante que, no Brasil, a cada dia se caminha para trás, ainda mais com este governo. A perspectiva é que as pessoas se va-

cinem, que não se aglomerem neste final de ano, no Natal, Réveillon, Carnaval, pra que a gente consiga manter o que o SUS vem fazendo, que a gente continue fazendo o que a gente faz, que é levar nossa arte para todos. Porque a arte salva, é necessária. Nesta pandemia ficou clara a função da arte na vida das pessoas, na vida do dia a dia, e que a gente tenha um olhar um pouco mais coletivo e generoso, especialmente com esse planeta, que a gente tem destruído.

DICAS MASTIGADAS | Tortinha de aveia A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 200g de farelo da aveia 50g de cacau Meia xícara d’água Para o recheio 50g de uva passa 1 maçã orgânica 2 bananas orgânicas maduras 1 colher de sopa de canela em pó 1 colher de sobremesa de mel orgânico

Reprodução

Modo de Preparo O primeiro passo é preparar o recheio. Para isso, corte em pedacinhos as bananas e a maçã. Depois, salpique com a canela, dilua o mel com um pouco d’água e derrame sobre as frutas. Deixe descansando. Enquanto isso, prepare a massa: misture o farelo de aveia com o cacau e coloque a água aos poucos, integrando bem os ingredientes até obter uma massa lisa, sem grudar nas mãos. Forre as forminhas com a massa. Coloque o recheio sobre as forminhas e leve ao forno pré-aquecido a 180° por 30 a 40 minutos. A tortinha pode ser servida quente ou fria.


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2021-2022: biênio de retomada Coxa Por Cesar Caldas

Aproxima-se o Natal de Jesus Cristo e a coletividade coxa-branca tem motivos adicionais para celebração, espírito de humildade e esperança – marcas milenares da data. Comemora o cumprimento das três metas esportivas de 2021: acesso à Série A, revelação e valorização de atletas da base. As jovens promessas constituem 35% do time principal e o clube tornou-se um dos oito campeões da história da Copa do Brasil Sub-20. Nas finanças, reduziu em 40% a dívida com a União, em acordo com PGFN por meio do Programa de Retomada do Setor de Eventos. Lição universal de humildade: lembrar da finitude da vida humana, refletida na dor pelo falecimento de Follador. Por último, a esperança: com receita projetada de R$ 105 milhões pelo presidente Juarez, gestão profissionalizada e “compliance” na criação de sua Sociedade Anônima, há de montar um time competitivo para 2021.

Paraná, dezembro de 2021

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Balanço (quase) final do futebol 2021 Palmeiras, Galo e Athletico ficam com os principais títulos. Próxima temporada promete

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O Casa caiu, e agora? Por Marcio Mittelbach

Três em cada dois torcedores do Paraná dão a seguinte resposta quando questionados sobre o que teria levado o tricolor à atual realidade: más gestões e figuras que querem se perpetuar no poder. Pois bem. Esta semana o Paraná Clube demitiu um dos funcionários mais antigos do Clube, o Luiz Carlos Casagrande, o Casinha. Além de funcionário, Casinha participou de inúmeras direções, assumindo por duas vezes a presidência do Clube em momentos políticos para lá de conturbados. O desligamento dele foi inclusive um pedido da Torcida Fúria Independente logo após a vitória nas urnas do atual presidente, Rubens Ferreira, o Rubão. Desde que a notícia da demissão começou a circular, dia 13/12, cerca de 100 novos sócios torcedores foram ativados, chegando a um total de 2.169 até as 17 horas de quarta-feira, dia 15 de dezembro. Se faltava motivo para voltar, nobre torcedor, a hora é essa!

Saldo de aprendizados e conquistas! Por Douglas Gasparin Arruda

É difícil escrever antes de um jogo tão importante quanto o desta quarta. Mas sei que, independentemente do resultado, o ano do Furacão foi marcado por aprendizados importantes e uma conquista que, no começo do ano, poucos torcedores acreditavam ser possível. Ganhamos a Sul-Americana de maneira impecável, com Nikão heroico na final e Libertadores garantida. Mas o aprendizado do ano deve ficar para a gestão de desempenho no Brasileirão. Ficou mais do que provado que não é possível se manter na série A tratando a competição como plano C, como fez o Athletico. É compreensível essa estratégia de valorizar as copas, onde o clube tem mais chances de conquista, mas, após os títulos, fica a pergunta para os próximos anos: não seria hora de começar a tratar o Brasileirão e Libertadores como prioridade?

Frédi Vasconcelos

A

ntes de mais nada, este texto foi escrito pouco antes da fi nal da Copa do Brasil, ao ler, algo pode ter mudado... Mas Palmeiras, campeão da Libertadores, Galo, do Brasileirão e quase da Copa do Brasil, e Furacão, com a Sul-americana e o vice (?) da CDB, são os grandes vencedores da temporada 2021. De outro lado, o elenco mais caro do Brasil, o Flamengo, não tem muito o que comemorar. Ficou com os vices do Brasileirão e da Libertadores e parou na semifi nal da CDB, contra o Furacão. O que seria um resultado razoável para qualquer outro time, é frustrante para quem tem o maior orçamento e colecionou títulos em temporadas passadas. E termina o ano sem copa e sem técnico, já que Renato Gaúcho foi demitido e não se tem ainda defi nição de quem assume e defi nirá o planejamento de 2022. Do lado dos vencedores, o destaque fica com o Atlético Mineiro, que levou o Brasileirão depois de 50 anos sem o título, e que teve os destaques individuais da competição. Se considerado o campeonato Mineiro, podem ser três taças na mesma temporada, o que não havia

ainda acontecido na história moderna do time. Deve continuar com o técnico Cuca e a base do elenco para a próxima temporada. No Palmeira, há indícios de grandes mudanças. A dona da Crefisa e patrocinadora do time, Leila Pereira, assumiu a presidência. Deve manter o técnico português Abel Ferreira, porém mudar parte do time. As saídas do goleiro Jailson e do volante Felipe Melo e a contratação do meia colombiano Eduard Atuesta e de Marcelo Lomba, ex-goleiro do Internacional, foram os primeiros movimentos. Parece haver a disposição de contratar jovens promessas sul-americanas que possam ser valorizadas e revendidas. O Athletico Paranaense viveu um ano de altos e baixos. Ganhou a Sul-Americana, mas escapou por pouco da segunda divisão no Brasileirão. Derrotou o Flamengo na semifi nal, mas perdeu de 4 a 0 do Galo na primeira partida da fi nal da Copa do Brasil. Se reverter o resultado, terá escrito uma das páginas mais heroicas da história. Senão, essa irregularidade pode ser fatal para o técnico Alberto Valentim. E a temporada 2022 já começou...


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