Maria Aparecida
Perfil | p. 04
Cultura | p. 10
Quase um circo
O ECA está de aniversário
Espetáculo conta a história do palhaço que sonha em ter o seu próprio circo. Veja esta e outras dicas culturais para Curitiba
Conheça a história de um defensor da infância
PARANÁ
13 a 19 de julho de 2017
distribuição gratuita
Ano 02 | Edição 46
Divulgação
Decisão de Moro não impede candidatura de Lula Ex-presidente foi condenado a nove anos e seis meses de prisão no âmbito da operação Lava Jato, pelo juiz federal Sérgio Moro. A Lei da Ficha Limpa impediria petista de disputar as eleições de 2018 apenas se a condenação for mantida em segunda instância. Editorial | p . 2 e 3 Ricardo Stuckert
Brasil | p. 9
Lava Jato | p. 6 e 7
Esportes | p. 12
Desmonte da CLT
Saldo negativo
Mundial Paralímpico
Senado ignora vontade popular e aprova reforma trabalhista em meio a manobras
Operação Lava Jato fecha postos de trabalho e paralisa obras no Brasil
Nadadora de Maringá garante vaga para campeonato mundial
2 | Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 13 a 19 de julho de 2017
Dois dias e dois golpes contra os trabalhadores D
ois golpes aconteceram contra os trabalhadores e contra o país em apenas dois dias. No dia 11, terça-feira, o Senado aprovou a mudança nas leis trabalhistas, deixando os trabalhadores sujeitos à pressão dos patrões e perdendo direitos. Nesta quarta-feira (12), foi a vez da sentença do juiz Sergio Moro, condenando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula pode recorrer ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A defesa de Lula critica Moro por promover uma condenação sem pro-
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 46 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm e Carolina Goetten ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach, Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza, Priscila Murr FOTOGRAFIA Joka Madruga e Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook. com/bdfpr ANUNCIE administracaopr@ brasildefato.com.br
vas do vínculo de Lula com o chamado triplex do Guarujá. Lula é o primeiro em pesquisas de opinião para as eleições de 2018, o único com chances de vitória apresentando um projeto de reaquecimento
Nunca se viu na história uma tentativa tão forte de acabar com os direitos conquistados
da economia a partir de políticas públicas. Fica evidente que esses dois golpes foram articuladas no tempo, como forma de os trabalhadores pagarem a conta da crise econômica. A Operação Lava Jato, como mostram as reportagens do Brasil de Fato Paraná, age no tempo político e não no processo do Judiciário. Já no caso da reforma trabalhista, nunca se viu na história uma tentativa tão forte de acabar com os direitos já conquistados. Vivemos uma encruzilhada.Agora cabe aos trabalhadores se organizarem e irem às ruas para defender a democracia e os direitos sociais.
NAS REDES LULA CONDENADO, AÉCIO LIBERADO, TEMER PROTEGIDO, SOBERANIA FULMINADA, TRABALHADOR ESCRAVIZADO, MERCADO TRIUNFANTE, ATÉ QUE O BRASIL SE LEVANTE. ESCREVEU O SENADOR PELO PARANÁ ROBERTO REQUIÃO, EM SEU TWITTER
Reprodução twiiter
OPINIÃO
A resistência feminina Lula Marques
Naiara Bittencourt, advogada popular e militante da Marcha Mundial das Mulheres
L
evantar, trabalhar, deitar. Trabalhar fora e dentro de casa, quase ininterruptamente. Fazer duas ou três jornadas para alimentar a si e à família. Ganhar menos para a mesma função. Ocupar os piores e mais precários postos de trabalho. Com a reforma trabalhista aprovada na última terça-feira (11), este panorama de desigualdade no mercado de trabalho para as mulheres está longe de ser alterado. Prevalência dos acordos sobre o estabelecido em lei; trabalhar por períodos esparsos com jornadas e salário reduzidos (o chamado trabalho intermitente); o trabalho de gestantes em locais insalubres; as limitações para o acesso à Justi-
Foram as senadoras que estiveram no embate do corpo a corpo e ocuparam a mesa do Senado contra a reforma trabalhista
ça do trabalho, são apenas algumas das mudanças na atual legislação. Em resumo: trabalhar mais, receber menos. Com as políticas públicas construídas na última década – hoje praticamente destruídas – a projeção para atingirmos a igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho era de 75 anos. A reforma aprovada somente prorroga tal prazo, precarizando as relações de trabalho no Bra-
sil, já que 41% das mulheres brasileiras são pobres ou miseráveis, recebendo até um salário mínimo. Mesmo assim, há resistência. Se no cotidiano da labuta as mulheres resistem e sobrevivem, chefiando quase 40% dos lares brasileiros. No alto poder legislativo nacional, foram as senadoras que, mesmo sendo somente 14% da casa, estiveram no embate do corpo a corpo e ocuparam a mesa reivindicando simbolica-
mente aquele espaço que lhes foi negado. As luzes foram apagadas, o banheiro feminino fechado, a sessão interrompida. Não era aquela ação das senadoras que barraria a aprovação, já arquitetada e articulada. O que se mostrou foi resistência, força e poder. O demarcar da posição de ocupar todos os espaços negados. E é só com resistência que se avança, no choque do cotidiano ao poder institucional.
Brasil de Fato PR
Pedro Ribas
Paraná, 13 a 19 de julho de 2017
3 | Geral
NOSSO
FRASE DA SEMANA
DIREITO
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Cartão Transporte O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, assinou um decreto que reduz de cinco para um ano a validade dos créditos do cartão transporte. Caso acabe esse prazo e o usuário ainda não tenha utilizado os créditos do cartão, o Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC), que é gerido pela URBS, se apropriará do valor. A regra, assinada sem qualquer debate com a sociedade, vale para os créditos adquiridos a partir de 3 de junho. Divulgação
Transfobia na TV O apresentador Silvio Santos foi infeliz ao ser referir às pessoas trans em seu programa do último domingo, 9, quando afirmou que “os rapazes” que vão ao seu programa “são feios, mas na hora em que colocam maquiagem, na hora em que colocam roupa, eles ficam bonitos”. A declaração é errônea por não respeitar o gênero das mulheres trans. Além disso, o apresentador afirmou que “mulher não tem o direito de ser feia”.
“Não estranhem se nos próximos aniversários eu distribuir bonecas para os meninos”, disse, Mariana Ferrão, apresentadora do programa “Bem Estar”, da Rede Globo. A jornalista presenteou seus filhos Miguel e João, de 3 e 1 ano respectivamente, com uma boneca e publicou o relato no Instagram.
Melissa Andrade
Quero mudar meu nome, posso?
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Condenação de Lula em primeira instância, não impede candidatura Redação | BdF PR O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi condenado no último dia 12 a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no âmbito da operação Lava Jato. O juiz federal de primeira instância Sérgio Moro, responsável pela sentença, analisou o conjunto de acusações que ficou conhecido como “caso triplex”. A defesa do ex-presidente deve recorrer ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Se a condenação for mantida em segunda instância, a Lei da Ficha Limpa impediria o petista de disputar as eleições presidenciais de 2018. Ele aguardará o novo julgamento do caso em liberdade, por decisão do próprio Moro. Relembre o caso Lula é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de receber R$ 3,7 milhões em pro-
pina, valor referente a três contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras. Moro considerou que um apartamento triplex no Guarujá, litoral paulista, seria supostamente entregue ao petista como parte das negociações com a empreiteira.
Moro deixou seu viés e sua motivação política claros desde o início até o fim deste processo” Jogo de interesses A condenação de Lula só foi possível porque o ex-executivo da OAS, Léo Pinheiro, se contradisse em depoimento à Justiça. A primeira proposta de delação premiada de Léo Pinheiro foi descartada pelo MPF, e a imprensa nacional chegou a noticiar que o que faltava
era um relato que “incriminasse” Lula. Após ser condenado, Léo Pinheiro decidiu fazer uma nova proposta de delação, e finalmente a Justiça aceitou o acordo. Foi justamente no âmbito desse último acordo que o executivo afirmou que o triplex pertencia ao petista. Uma sentença política Os advogados de Lula apresentaram vários documentos que demonstram que o imóvel era contabilizado como patrimônio da empresa OAS, portanto não pertencia ao ex-presidente. “Nenhuma evidência crível de culpa foi produzida, enquanto provas esmagadoras de sua inocência são descaradamente ignoradas”, declararam os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Zanin Martins, no primeiro pronunciamento após a sentença. “O juiz Moro deixou seu viés e sua motivação política claros desde o início até o fim deste processo”.
As pessoas que têm um nome no registro civil e não se sentem confortáveis com ele podem fazer a mudança, sim. Existem diversos casos em que se pode trocar de nome: no contexto de uma adoção; por ter nome igual de outra pessoa; ou quando o nome gera exposição e constrangimento à pessoa. Nestes casos, a mudança é feita por ação judicial de retificação de registro civil. No pedido deverá constar os motivos de que o atual nome incomoda, causando constrangimento e humilhação em sua vida cotidiana. Errata Coluna Nosso Direito, edição 44 Conforme mudanças trazidas pela Lei nº 13.457/2017, para receber o auxílio-doença, o prazo da carência será metade da carência inicial do INSS, passando o novo prazo a ser de seis meses.
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4 | Cidades
Perfil
Brasil de Fato PR
Paraná, 13 a 19 de julho de 2017
Tonhão, Gazio e Antônio: três faces de um amigo das crianças
Ex-diretor do Centro Social Casa do Piá I comenta os avanços do Estatuto da Criança e do Adolescente Carolina Goetten
Por Carolina Goetten, de Curitiba (PR)
Recente estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância indica que apenas 2,8% dos homicídios registrados no país são cometidos por menores.
A
os 58 anos de idade, Antônio Carlos Rocha traz consigo um acervo de memórias e de identificação com os meninos em situação de rua. Aos dez, experimentou drogas pela primeira vez; aos 18, deixou de usá-las em definitivo, quando passou a morar em uma casa de recuperação. “Depois que me recuperei, retornei ao espaço para contribuir com outras pessoas. Ali, aprendi muitas coisas sobre como deixar essas condições para trás”, conta o pedagogo. Como diretor do Centro Social Casa do Piá I, em Curitiba – que acolhe crianças entre sete e 13 anos –, Rocha colocou o diálogo à frente das regras e da disciplina inflexível. “Quando passamos a permitir que eles brincassem mais, percebemos mudanças significativas e resultados que perduram até hoje: eles passaram a ter mais vontade de permanecer no espaço, em vez de ficar pelas ruas”, define Tonhão, com ficou co-
nhecido na Casa. Até hoje, Rocha preserva o contato com muitos meninos que acolheu – todos, agora, adultos. Desde aquela época mantém o mesmo número de telefone, para que sempre possa ser encontrado por quem já precisou dele um dia. 27 anos do ECA De acordo com suas próprias diretrizes, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ainda é jovem: nesta quinta-feira, 13 de julho, o marco legal completa 27 anos no papel de regulamen-
tar direitos dos brasileiros com idade até 18 anos. O estatuto foi criado com intenção de proteger crianças e adolescência em situação de vulnerabilidade, como o pequeno Gazio, um dos maiores gazeadores de aulas em Curitiba. Hoje, Gazio reconhecido pelo nome de batismo – Antônio Carlos Rocha – e pela atuação com afeto, carinho e respaldo junto aos meninos de rua da cidade. “Quando até então os pequenos eram tratados como ‘coisas’ na legislação, de modo impessoal, o ECA trouxe a ideia de que criança é
Governo multa deputada por construção ilegal em patrimônio histórico A deputada estadual Maria Vitoria Borghetti Barros (PP) foi condenada a pagar uma multa pela instalação de uma fachada no Palácio Garibaldi, no Largo da Ordem, sem autorização prévia. A estrutura foi montada para a festa do seu casamento, que ocorre na sexta-feira (14). Maria Vitória informou e solicitou a autorização da Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC) apenas dez dias após o início da montagem. De acordo com a CPC, configura-se infração à Lei Estadual nº 1.211,
HOMICÍDIO É COISA DE ADULTO
de 16 de setembro de 1953, segundo a qual “sem prévia autorização da Divisão do Patri-
Deputada rodeou o Palácio Garibaldi com estrutura de metal para sua festa de casamento
mônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes”. O Palácio Garibaldi teve sua construção concluída em 1904 e foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1988. Maria Vitória envolveu a estrutura de metal, que não precisarão ser retiradas, embora a multa esteja mantida. O valor ainda não foi definido.
criança, e que precisa ser respeitada como tal”, explica Rocha, pedagogo e servidor público municipal. “Ele [o ECA] foi criado com base em definições da ONU e suas regras gerais para a administração da justiça aos menores”. Rocha avalia, porém, que o ECA foi promulgado, mas pouco efetivado. “Ainda é preciso buscar uma implementação mais rigorosa. Deve-se ter em mente o princípio fundamental de que a criança e o adolescente têm prioridade absoluta de cuidados”, complementa.
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5 | Cidades
Universitários lotam audiência pública contra medidas de Richa Participantes denunciaram medidas de desmonte do ensino público universitário no Paraná Pedro Oliveira | Alep
Em consenso, a audiência apontou que a maior parte das medidas propostas pelo governador comprometem a autonomia universitária
Carolina Goetten | Curitiba (PR)
A
Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) recebeu, nesta terça-feira (11), reitores, professores, estudantes e funcionários de universidades estaduais em uma audiência pública que lotou as 109 cadeiras do Plenarinho. A conversa buscou esclarecer as mudanças previstas pelo governador do estado, Beto Richa (PSDB), na administração das Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES). A lotação do espaço tem justificativa: em suas falas, os participantes – tanto os que integraram a mesa principal quanto o público presente – denunciaram uma política de desmonte do ensino superior estadual por parte do governador do Paraná. Em consenso, a audiência apontou que a maior parte das medidas propostas por Richa comprometem a autonomia universitária, garantida pela Constituição de 1988 e reproduzida, inclusive, na legislação estadual. Educação pública sob controle neoliberal Para o reitor da Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Mauro Luciano Baesso, as novas políticas são uma tentativa de implementar um controle político nas instituições públicas. Uma das medidas pretende migrar a gestão financeira das IEES para o sistema RH Meta4, que administra o serviço público no Paraná e submete as universidades à perda de soberania: caso aprovada, a proposta fará com que o financiamento de pesquisas e a produção de conhecimento estejam sujeitas a definições orçamen-
O governo não tem compromisso com a educação, apenas com seus financiadores de campanha. O progresso das universidades com autonomia e soberania garante o progresso do Paraná” Wilson Zonin
tárias do Poder Executivo. “Nesse sistema, entidades e setores do governo é que vão decidir sobre as progressões internas. Uma sociedade livre não pode controlar o pensamento dos indivíduos”, ponderou Baesso na audiência. Com a implementação do RH Meta4, que Beto Richa tenta validar desde 2013, estudos e projetos que não interessem ao governo estadual podem ser vetadas. De acordo com o professor Nilson Magagnin Filho, coordenador do Comitê em Defesa do Ensino Público do Paraná, essa medida representa um ataque frontal à estrutura universitária. “As IEEs devem administrar suas próprias prioridades, conforme o contexto particular de cada uma, sem ingerência do poder público”, afirmou. Dedicação Exclusiva Também está sob ameaça o benefício concedido aos professores por meio do Tempo Integral de Dedicação Exclusiva (TIDE), garantido na Lei 14.825/2005 como regime de trabalho. A nova proposta do governo estadual é revê-lo e classificá -lo como gratificação de caráter temporário, o que, para os conselhos universitários, conduz à precarização do trabalho em regimes parciais de expediente. Com o TIDE, as universidades conseguem extrapolar o ambiente da sala de aula e construir iniciativas que sirvam à comunidade das regiões em que se inserem. Para o professor Wilson Zonin, que atua no campus Marechal Cândido Rondon, da Unioeste, as novas medidas afetam a qualidade do ensino. “O governo não tem compromisso com a educação, apenas com seus financiadores de campanha. O progresso das universidades com autonomia e soberania garante o progresso do Paraná”, defendeu Zonin. Ele complementou que, hoje, mais de 300 programas de pós-graduação em todo estado vêm sendo conduzidos por professores de forma voluntária, sem qualquer gratificação extra.
CORTES NO ORÇAMENTO Enquanto Richa difunde a ideia de que as universidades têm um custo muito alto, cresce o número de serviços pagos dentro das instituições públicas. A presidente do Diretório Central dos Estudantes da UEL, Anaeliza Rosisca, denunciou o valor de R$ 4,70 cobrado no restaurante universitário em Londrina – um dos mais caros do Brasil. “Recentemente, Richa anunciou que cada estudante custa ao Estado o valor de dez mil reais. Mas onde está esse dinheiro investido se precisamos pagar por inúmeros serviços, desde xerox até a impressão de documentos?”, questionou. Para ela, as afirmações do governo estadual sobre um suposto alto custo das instituições universitárias representam uma tentativa de pressionar pela aprovação do RH Meta4 e justificar os cortes orçamentários. A diretora da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Isabela Marin, destacou que o momento político do Brasil a nível nacional se reflete nas universidades estaduais, que precisam resistir contra a agenda neoliberal. “A ideia que se dissemina é a do Estado mínimo. A política do Meta4 vai fazer com que as instituições públicas fechem suas portas diante da falta de recursos do governo”, denunciou a estudante.
6 | Lava Jato
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7 | Lava Jato
É possível combater a corrupção sem destruir a economia? Continuação da série de reportagens Lava Jato e Desindustrialização mostra como o Judiciário lavou as mãos para o desemprego que afetou milhões de famílias brasileiras Daniel Giovanaz | Curitiba (PR)
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dólares. Entre penalizações e gastos com advogados, o escândalo custou ao conglomerado mais de 2 bilhões de euros. A multa não chegou nem perto de abalar a saúde financeira de empresa, cujo faturamento era superior a 70 bilhões de euros. Nenhum trabalhador foi demitido, mas os executivos corruptos não passaram impunes: a Siemens foi obrigada a trocar toda a diretoria – do presidente-executivo, Klaus Kleinfeld, ao presidente do conselho de supervisão, Heinrich von Pierer. Vários diretores foram presos, e dezenas respondem até hoje na Justiça pelo crime de suborno.
ois milhões de postos de trabalho fechados, segundo a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Noventa bilhões de reais jogados fora, devido à paralisação de obras. Conforme demonstrado no primeiro capítulo desta série, os prejuízos decorrentes da Lava Jato congelaram a economia brasileira e alavancaram o desemprego em várias regiões do país. Economistas, sindicaResultado positivo listas e os próprios opePenalizar os altos exerários demitidos afirmam cutivos e prezar pela soque a operação deveria brevivência das emprepunir apenas os polítisas, para evitar o desemcos e executivos corrupPunir os executivos prego, funcionou como tos, em vez de destruir as sem quebrar estratégia de combate à empresas e provocar decorrupção: a Alemanha missões em massa. Mas as empresas voltou a figurar entre os será possível combater funcionou como 10 melhores países do a corrupção em grandes mundo na última edição corporações sem afetar a estratégia de do IPC. A Itália, palco da economia? combate à operação Mãos Limpas Para responder a essa corrupção na – considerada uma inspergunta, a reportagem piração para a Lava Jado Brasil de Fato buscou Alemanha to – não está sequer no entender como se dão as grupo dos 60 melhores punições em caso de prodo IPC. pina, caixa 2 e desvio de dinheiro nos países O Ministério Público de Munique e o Pomais bem colocados no ranking do Índice der Judiciário alemão não foram menos ride Percepção da Corrupção (IPC). Dentre gorosos com a corrupção, no caso Siemens, eles, a Alemanha é a única que enfrentou que a Mãos Limpas ou a Lava Jato. A difeum escândalo de corrupção recente, de rença é que, na Alemanha, apesar das mulproporção internacional, e que permite tas, só quem pagou a conta foram os crimicomparação com a operação Lava Jato. nosos. Para os trabalhadores do chão de fábrica, não mudou nada: só o nome do paCaso Siemens Em 2005, o conglomeratrão. do industrial alemão Siemens foi acusado “A Siemens teve problemas muito grade pagar mais de um bilhão de euros em ves, e os alemães acertaram ao proteger a propinas em dezenas de países para fechar empresa. Ela está lá funcionando bem até contratos de obras internacionais. No Brahoje”, analisa o economista Luiz Gonzaga sil, o grupo foi citado em investigações de Belluzzo. “Não faz sentido punir a empresa, corrupção há quatro anos – executivos da tratá-la como se ela fosse uma pessoa física. Siemens confessaram participar de um carEla é uma entidade social, que tem relações tel para superfaturar em 20% as obras de com fornecedores, empregados. No caso da metrôs e trens em São Paulo, durante os goLava Jato, tinha que se tomar muito cuidado vernos PSDB. com os efeitos colaterais. E dizer que, com Ao descobrir que o caixa 2 era uma práesse argumento, eu estou a favor da corruptica institucionalizada na empresa, a Justição, seria uma coisa primária. Eu estou a faça alemã condenou a Siemens a pagar uma vor de que a vida das pessoas não seja premulta equivalente a 395 milhões de euros. judicada de maneira tão brutal como está Do Poder Judiciário dos Estados Unidos, acontecendo”. veio outra multa: cerca de 800 milhões de
De volta ao Brasil Os juízes e procuradores da Lava Jato optaram por um caminho contrário ao da Alemanha, e as consequências foram trágicas para milhões de operários. Quando se pune a pessoa jurídica, em muitos casos, os altos executivos sequer sentem no bolso os prejuízos da suspensão dos contratos e a paralisação das ope-
rações financeiras. O estaleiro Mauá, que foi fechado em Niterói, no Rio de Janeiro, por exemplo, pertencia ao grupo do milionário boliviano naturalizado brasileiro Germán Efromovich. Lá, 14,5 mil trabalhadores foram demitidos da indústria naval, enquanto o empresário manteve seu faturamento em alta através de outras fontes. Citado na delação premiada do ex-presi-
dente da Transpetro, Sérgio Machado, Efromovich também é um dos donos da empresa aérea Avianca e de uma rede de hotéis de luxo na Colômbia, além de explorar petróleo no Equador e gás natural nos Estados Unidos. Embora a investigação sobre as ilegalidades na Petrobras tenha contornos diferentes do caso Siemens, o dilema é se-
CURITIBA, 10 DE MAIO DE 2017 | JUSTIÇA FEDERAL André Richter | Agência Brasil
Ricardo Stuckert
Luiz Inácio Lula da Silva (PT): ex-presidente e réu na Lava Jato
Sérgio Moro: juiz de primeira instância em Curitiba
– Doutor Moro, o senhor se sente responsável pela Lava Jato ter destruído a indústria de construção civil desse país? Eu tenho certeza que não.”
– Não. Foi o método de combater a corrupção.”
– Mas o senhor entende que o que prejudicou essas empresas foi a corrupção?” – A que o senhor se refere?”
– Quero dizer o seguinte: quando um juiz e os acusadores se submetem à imprensa para poder prender as pessoas, aí tudo mais é possível.”
intencionalidade na destruição da economelhante: o Judiciário deve ou não se mia nacional. “Existe um diagnóstico equipreocupar com os impactos econômicos vocado do que é a corrupção do Brasil. de suas decisões? Tratam como um problema moral, e não No dia 28 de janeiro de 2015, dez meum problema próprio da relação entre emses após a deflagração da Lava Jato, o gopresas estatais e empresas privadas. verno Dilma Rousseff (PT) fez o primeiro Isso não é uma característica brasileialerta oficial para os prejuízos que a opera: é típico da economia de mercado, com ração poderia causar à economia. O eno agravante da falta de regulamentação no tão ministro da Justiça, José Eduardo CarBrasil”, analisa. “E isso se somou a uma dozo, defendeu naquele dia, em entrevista disposição de implementar um projeto coletiva, que os corruptos fossem punidos que favorece a chegada do capital estran“com o rigor da lei”, sem que isso atrapageiro no Brasil, beneficiando interesses inlhasse a “vida econômica dos brasileiros”. ternacionais”. Sérgio Moro não esperou nem 24 horas para dar uma resposta Vale a pena delatar? à altura. Em ofício enNozaki afirma que a Latregue ao Superior Triva Jato utiliza um mecanisbunal de Justiça (STJ), mo conhecido como cláuo juiz de primeira inssula de performance, para tância insistiu pela susEx-ministro atrair os investigados a fapensão imediata dos da Justiça do zer acordos de delação precontratos da Petrobras miada. Essa cláusula estacom grandes empresas governo Dilma belece que os delatores pos– mesmo aquelas que alertou há dois sam receber um percentual tinham obras em ananos e meio do dinheiro restituído pela damento ou quase fioperação. O doleiro Alberto nalizadas. Questionapara os impactos Youssef, por exemplo, recedo pelo ex-presidente econômicos da berá 2% do valor que ajudar Lula (PT) no dia 10 de a localizar e a devolver aos maio de 2017, o juiz Lava Jato cofres públicos. “Essa negoparanaense reafirmou ciação de valores é probleque não se sente resmática. É muito diferente da lógica da Aleponsável pelos impactos econômicos da manha, em que se punem as pessoas físiLava Jato. cas sem parar as atividades das empresas”, critica o economista. Parem as máquinas! Luiz Gonzaga “Na prática, os empresários estão em Belluzzo atribui essa postura a um probleprisão domiciliar, em apartamentos e conma na formação profissional dos juristas, domínios luxuosos, e as empresas estão que são incapazes de enxergar a sociedaimpedidas de fazer contratos e realizar de de maneira mais ampla, para além do operações internacionais. Em última insseu ramo de atuação. “Eu não posso supor tância, quem acaba mesmo afetado por que eles [juízes e procuradores da Lava Jaisso são os trabalhadores”. to] estão agindo de má fé. Mas, ainda que Youssef foi condenado por corrupção com boas intenções, eles estão produzinpassiva na Lava Jato. Ele e dezenas delado uma série de ações que estão produzintores, como Paulo Roberto Costa, ex-diredo efeitos muito negativos na vida de outor de abastecimento da Petrobras, Pedro tras pessoas”, interpreta. Barusco, ex-gerente de serviços da estatal, “Se for levar em conta os efeitos sobre e o lobista Fernando Baiano, operador do as cadeias produtivas, a possibilidade de PMDB no esquema de desvio de dinheirecuperar R$ 38 bilhões [valor de ressarro, assumiram crimes e cumprem pena cimento divulgado pelo MPF] é uma coisa em casa. ridícula perto dos 5 a 7 milhões de desempregados que foram produzidos por essas Na próxima reportagem da série, na ações. Além da recessão e da entrega do semana que vem, conheça alternativas pré-sal”, completa. para retomada de industrialização e do O economista e cientista político crescimento – apesar da Lava Jato. William Nozaki não descarta a hipótese de
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Brasil de 8 Fato PR
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Na crise, aumenta necessidade de moradia e serviços públicos Eliane Martins, integrante do MTD, fala sobre os desafios da luta popular urbana Lidyane Ponciano
Vanda Moraes e Pedro Carrano | Londrina (PR)
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população sofre com a crise econômica, a redução dos programas de moradia e a dificuldade de acessar serviços públicos. É o que constata Eliane Martins, liderança Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), que esteve em Londrina em visita à ocupação Flores do Campo. Ali vivem 400 famílias que ocupam um empreendimento do programa “Minha Casa, Minha Vida”, paralisado desde outubro de 2016. Para Eliane, um caso como este reflete a violência e a falta de políticas públicas do Estado. Brasil de Fato Paraná - Em Londrina, uma cidade média, você visitou uma ocupação recente de 400 famílias. É um sinal que a crise econômica empurra as pessoas para esse tipo de luta? Eliane Martins Começamos a observar que a condição de vida da classe trabalhadora mais precarizada é a primeira a ser atingida em uma conjuntura de crise. Estamos falando de elevação das taxas de desemprego, sendo os primeiros desempregados os que já estavam no trabalho informal. Lembrando que mesmo no ápice de empregos, no auge da era Lula/Dilma, a grande maioria foram empregos precários, ligados à construção civil e serviços. Na crise, são os primeiros lugares que se corta. E isso explode nas famílias que têm renda mais baixa e que, quando precisam decidir coisas como pagar alu-
guel ou comer, decidem sair do aluguel. O governo Temer prejudicou os programas existentes de habitação? Percebemos que novas ocupações seguem em várias regiões a partir de projetos inacabados ou mal concluídos. Existem outros empreendimentos do Minha Casa Minha Vida ocupados. As pessoas percebem que os
Temos a consciência de que a vida nas cidades requer transformações estruturais” Eliane Martins
projetos ficam sem dinheiro, as obras param. No Brasil, o processo de industrialização e urbanização não ofereceu condições para que a força de trabalho se desenvolvesse, com habitação, saneamento e transporte. A política pública do Estado para os trabalhadores sempre foi muito insuficiente. E que outros problemas a população enfrenta? Os serviços públicos que as pessoas demandam devem ser pensados e geridos numa perspectiva de atender a necessidade das pessoas e não de gerar taxas de lucro [para as imobiliárias]. Isso significa gestão popular, com alta transparência. Enquanto um movimento popular, temos que pensar um método de gestão dos condomínios [dos programas habitacionais], mas a partir da perspectiva popular. Esse é o grande de-
safio: como é gerir a vida em comum? E a cidade exige isso o tempo todo, porque estamos ambientados coletivamente. Mas o acesso aos serviços é uma dificuldade comum. Há uma disposição do Estado a reprimir a luta por moradia? Podemos observar a mudança, desde a década de 1990 da relação entre Estado e as grandes massas populacionais. A ideia de desenvolvimento, inaugurada na era Vargas, da industrialização e urbanização brasileira como integração das massas, a promessa de que todos chegariam a ter carteira assinada –, essa visão de país trabalhava com uma narrativa de incorporação. Dos anos 1990 para cá, no processo neoliberal, que desregulamentou as proteções do Estado e flexibilizou o mercado de trabalho, já não é mais possível essa narrativa. Então o Estado brasileiro começa a fazer uma mudança, a partir da década de 1990, para uma ideia de seleção das massas. Então o Estado exclui a população.
O único braço que chega à periferia é o da polícia e as outras faces do Estado não chegam. Exatamente, para chegar uma política coerente de saúde, educação, saneamento, você tem que pegar o grande bolo de riquezas que o Estado arrecada e investir nisso. Há uma disputa concreta dos recursos públicos. Qual o papel do MTD neste momento junto à população? As transformações estruturais só acontecerão com participação do povo. A gente começa a adotar uma ideia da fala de uma companheira, ocupante aqui de Londrina, que disse: o povo brasileiro é um “povo verde”, no sentido de ainda não se reconhecer como povo, e, neste reconhecimento, construir-se como força política. A nossa luta é como amadurecermos, como sairmos desse movimento de sermos um povo ainda “verde” e nos sentirmos capazes para essa maturidade. Temos a consciência de que a vida nas cidades requer transformações estruturais.
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Senado rasga CLT e aprova reforma trabalhista em meio a protestos Maioria dos brasileiros é contrária ao projeto que corta direitos e precariza relações de trabalho Agência Brasil
Redação | BdF PR
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reforma trabalhista foi aprovada no Senado Federal no último dia 11, com 50 votos a favor, 26 contra e uma abstenção. Para entrar em vigor, o texto deve ser sancionado pelo presidente golpista, Michel Temer (PMDB), que pode fazer modificações no conteúdo final do projeto. Enviado pelo governo ao Congresso Nacional no ano passado, o PLC 38/2017 descarta mais de 100 trechos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Medida impopular A maioria da população é contra a reforma trabalhista. No momento em que o projeto foi aprovado, uma enquete no site do Senado mostrava que 172.060 pessoas discordavam das mudanças na CLT, enquanto apenas 16.775 se posicionavam a favor. Há duas semanas, o governo sofreu uma derrota política no Senado, com a rejeição do relatório na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) por dez votos a nove. No entanto, a proposta foi aprovada Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), e seguiu para o plenário. Divergências No dia da votação, os parlamentares de oposição ao governo Temer fizeram três novas propostas de alteração ao projeto, para tentar diminuir os prejuízos aos trabalhadores. Eles tentaram excluir da reforma, por exemplo, um dos
aspectos mais criticados do texto: o “negociado sobre o legislado”. Ou seja, a possibilidade de que as negociações entre patrões e empregados sejam validadas, mesmo que violem dispositivos legais. A proposta de modificação foi rejeitada por 44 votos a 25. A reforma trabalhista precariza, particularmente, a situação das mulheres: se a proposta for sancionada, gestantes e lactantes poderão trabalhar inclusive em locais
Quem apoiou o golpe apoiou a reforma trabalhista
considerados insalubres. “Votar esse texto principal já é um absurdo pelas ofensas que ele comete contra os trabalhadores”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), no plenário. “A reforma é para ampliar o lu-
cro dos empresários”, acrescentou o senador Humberto Costa (PT-PE). Outro aspecto polêmico da reforma é o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, embora senadores da oposição argumentem
que, com o enfraquecimento dos sindicatos, o “negociado sobre o legislado” é ainda mais grave, porque torna o empregado refém da “boa vontade” dos patrões. Além disso, a jornada de trabalho e o tempo de intervalo poderão ser negociados e não precisam mais seguir as normas da CLT, que estão em vigor há mais de meio século. Golpistas no comando O relator do PLC 38/2017 no plenário, que vetou as alterações propostas pela oposição, foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos articuladores do golpe de 2016. PMDB, PSDB, PP, PTB, PRB e DEM estão entre os partidos que defenderam a aprovação da reforma trabalhista na íntegra, da forma como foi apresentada ao Senado. Do outro lado, estavam partidos como PT, PCdoB, PSB, PSD, PDT e Rede. Em termos práticos, quem apoiou o golpe apoiou a reforma, e vice-versa.
Protestos dentro e fora do Congresso Desde o início do dia da votação, trabalhadores de todo o país fizeram vigílias e manifestações de rua contra a aprovação da reforma trabalhista. Em Curitiba, os manifestantes se concentraram no Terminal Guadalupe. Em São Paulo, entidades sindicais fizeram um protesto em frente ao prédio do Ministério do Trabalho, na região central da cidade. Também houve manifestações populares em capitais como Porto Alegre, Belém e Salvador, e na própria Esplanada dos Ministérios. No início da tarde, cidadãos revoltados com a possibilidade de aprovação da refor-
ma ocuparam o saguão do Congresso Nacional e pediram a suspensão da votação. A segurança proibiu que eles entrassem no plenário. Do lado de dentro, as senadoras Gleisi Hoffmann (PT), Fátima Bezerra (PT), Vanessa Grazziotin (PC doB) e Lídice da Mata (PSB) também tentaram impedir a votação. Como resposta, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), suspendeu a sessão e ordenou que as luzes do plenário fossem apagadas. A votação aconteceu somente a partir das 18 horas, após sete horas de protesto.
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Livro sobre heroínas negras brasileiras será lançado em Curitiba Lançamento ocorre no dia 21 de julho, com participação da autora, a cordelista cearense Jarid Arraes Divulgação
Norma Odara | São Paulo com redação BdF PR
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ntonieta de Barros, Aqualtune, Carolina Maria de Jesus, Dandara dos Palmares. Essas são algumas das 15 mulheres retratadas de forma poética pela escritora e cordelista cearense Jarid Arraes, no livro Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis. A obra será lançada no dia 21 de julho, sexta-feira, na sede da Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato). A atividade faz parte do Encontro Estadual Heroínas Negras Brasileiras, organizado pela APP-Sindicato, Rede de Mulheres Negras do Paraná, Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR), e Núcleo de Direitos Humanos da Pon-
tifícia Universidade Católica (PUC-PR). A escritora Jarid Arraes participará dos dois dias do encontro, para o lançamento da obra, no dia 21de julho, e no dia seguinte, quan-
do irá ministrar uma oficina de cordel. Cordelista e feminista Jarid Arraes tem 26 anos e nasceu em Juazeiro do Norte, na região do Cariri, no
DICAS MASTIGADAS
TORTA DE LIMÃO FÁCIL Ingredientes 1 pacote de bolacha de leite 1 lata de leite condensado 5 limões Margarina sem sal Modo de preparo Quebre a bolacha até que fique com pedações pequenos, próximo à consistência de uma farinha, amasse com margarina. Coloque essa massa no fundo e aos lados da forma. Coloque o leite condensado em um liquidificador e bata enquanto acrescenta, aos poucos, o suco dos limões, até que atinja uma consistência “firme“. Leve à geladeira e deixe esfriar. Enfeite com as raspas de limão.
Divulgação
estado do Ceará e atualmente vive em São Paulo. A neta e filha de cordelistas começou a escrever em blogs na internet como o Mulher Dialética, em que abordava temas como feminismo e direitos humanos. Ela foi convidada para ser colunista da Revista Fórum, no blog Questão de Gênero e desde então não parou mais. Em 2015, a escritora lançou As Lendas de Dandara, romance que tem Dandara dos Palmares como protagonista e mistura o lúdico e ficcional com fatos reais. Em Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, o protagonismo também é feminino e contou com pesquisa extensa da escritora sobre o tema. A obra é uma vertente chamada de “cordel engajado”, que fala de questões sociais, políticas, de reivindicações.
Ela fala sobre a escolha consciente de escrever sobre mulheres negras e suas conquistas. “Com a coleção Heroínas Negras, em que eu pesquiso mulheres negras na história do Brasil e conto as coisas que elas fizeram, as conquistas, as lutas, estou sempre girando em torno disso. É uma escolha política que precisa combater ‘mais do mesmo’”, disse.
Jarid Arraes tem 26 anos, nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará, é neta e filha de cordelistas
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Um palhaço peralta em um quase circo
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AGENDA 0800
Mostra Cinema Mexicano Contemporâneo Divulgação
O quê: O evento faz um mapeamento da produção mexicana da atual década que não entrou em circuito no Brasil. Entre os destaques, o cineasta Arturo Ripstein, um dos mais célebres do Divulgação cinema artístico no país. Quando: 12 a 16 de julho. A programação completa está no site: www.cinemamexicano. com.br. Onde: CAIXA Cultural Curitiba, Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro, Curitiba. Quanto: R$ 4 e R$ 2.
Mostra de Teatro de Bonecos Redação | BdF PR
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palhaço Pituim é um tanto peralta e sonha em ter o seu próprio circo. Então ele decide armar um e desempenhar vários papéis: ele mesmo é o mágico, o equilibrista entre outros. Ele e sua pulga Sofia prometem uma divertida brincadeira com o público neste domingo (16), em única apresentação, no Teatro Sesi Portão. A peça é da Cia. Mirabólica, com atuação de Ronaldo Pituim, com concepção de Luz Medeiros. Segundo os organizadores, o público da peça pode ser bem amplo: de 6 a 100 anos – ideal para todas as idades. Luz Medeiros conta que o espetá-
culo é resultado de uma pesquisa de cinco anos, e que já circulou em cidades do Paraná e de Santa Catarina. A companhia existe desde 2014 e atua com teatro-circo e contação de histórias.
Para ficar por dentro
O quê: Bonecos de Fios (Marionetes), Bonecos de Luva (Fantoches), Bonecos de Manipulação Direta, Teatro Lambe-Lambe, Manipulação de Objetos. Tudo isso fará parte da Mostra, organizada pela Cooperativa Curitibana Arte Animada. Quando: De 11 a 23 de julho, terça a domingo, sempre às 16h e 19h. Veja aqui a programação completa: www. fundaçãoculturaldecuritiba.com.br. Onde: Auditório Antônio Carlos Kraide, Portão Cultural, Av. República Argentina, 3430 - ao lado do terminal do Portão, Curitiba. Quanto: R$10 inteira e R$5 meia. Divulgação
Quando: Dia 16, domingo, das 16h às 17h. Onde: Teatro SESI Portão, Rua Padre Leonardo Nunes, 180, Portão, Curitiba. Quanto: R$20 inteira e R$10 meia. Para saber mais, acesse: www.ciamirabolica.com
Hoje eu quero voltar sozinho O quê: O longa-metragem brasileiro conta a história de Leonardo, um adolescente cego, tenta lidar com a mãe super-protetora ao mesmo tempo em que busca sua independência. Quando Gabriel chega na cidade, novos sentimentos começam a surgir em Leonardo, fazendo com que ele descubra mais sobre si mesmo e sua sexualidade. O filme integra a programação do Cineclube do Cinema Brasileiro. Quando: Dia 15, sábado, às 16h. Onde: Cine Guarani, Portão Cultural, Av. República Argentina, 3430, Curitiba. Quanto: Gratuito.
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Devorando histórias O quê: É uma programação especial de férias voltada para crianças de 3 a 12 anos. Entre as atividades estão contação de histórias, rodas de leitura, brincadeiras, jogos e oficinas de confecção de brinquedos. Quando: Dias 18, a partir das 13h30, e 19, a partir das 9h30. Informações: (41) 3221-4980. Onde: Na Seção Infantil da Biblioteca Pública do Paraná. Rua Cândido Lopes, 133, Curitiba. Quanto: Gratuito.
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| Esportes 12
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Gêmeas da natação paralímpica quebram cinco recordes em competição internacional A quebra dos recordes garantiu vaga no mundial para uma das atletas Redação | BdF PR
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s paranaenses Beatriz e Débora Borges Carneiro voltam com bons resultados do Aberto de Berlim de Natação, realizado na capital alemã entre os dias 6 e 9 de julho: juntas, as gêmeas de 19 anos quebraram cinco recordes brasileiros. Beatriz, que foi 5ª colocada na Paralimpíada do Rio em 2016, também garantiu o índice para disputar o campeonato mundial da modalidade, que vai acontecer em setembro, na Cidade do México. As nadadoras, naturais de Maringá, no Noroeste do Paraná, competem na classe S14,
que engloba competidores com algum tipo de deficiência intelectual. Beatriz bateu recordes nacionais nos 100m peito com o tempo de 1m18s17 – o recorde anterior já tinha sido conquistado por ela, com 1m21s66 –, nos 50m peito (35s61) e 200m peito (2m52s11). Débora também conquistou dois recordes brasileiros nos 100m livres e 50m borboleta, com os tempos 1m06s77 e 34s66, respectivamente. Por erros de comunicação da coordenação do campeonato, a atleta não chegou a nadar na grande final, apesar de ter se classificado nas elimina-
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Atleta de Ponta Grossa leva dois ouros em disputa nacional de Caratê Redação | BdF PR
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tórias. A organização considerou que Débora estava fora do local da prova. Débora ainda pode alcançar o índice para
o Mundial de Natação nas disputas da segunda etapa do Open Internacional Loterias Caixa, que vai ser realizado em agosto.
os 14 anos, Brenda Garret vem se destacando no esporte estadual e nacional. No dia 8, a carateca de Ponta Grossa conquistou dois ouros no Circuito Open Nacional de Caratê – disputado em Joinville – e aumentou ainda mais seu quadro de medalhas. A jovem competiu na categoria de atletas entre 14 e 15 anos de idade, e foi campeã nas modalidades kata (sequência de movimentos para demonstração de técnicas) e shiai kumite (luta). Apesar da pouca idade, Brenda já acumula bons resultados. Em 2016, conquistou uma prata e um bronze no Campeonato Brasileiro de Karatê Goju Ryu. Com o resultado, a atleta garantiu a vaga na Seleção Brasileira para o Pan-Americano de Karatê daquele ano, como única representante feminina do Paraná. Brenda agora participa da Seletiva Nacional, em busca de uma vaga na Seleção Brasileira de Caratê. As avaliações acontecem entre os dias 13 e 16 de julho, em Manaus, no Amazonas.
Ah, o planejamento
O pijama ou o professor
Velozes no banco
Por Roger Pereira
Por Marcio Mittelbach
Por Cesar Caldas
Há menos de dois meses, o anúncio de Eduardo Baptista como novo técnico do Atlético e a promoção de Paulo Autuori para um cargo remunerado de diretor de futebol foram tratados como uma mudança de paradigma. Baptista vinha dentro de um projeto macro, com o respaldo de Autuori e tempo para trabalhar, sem pressão por resultados imediatos, num planejamento de longo prazo. A fantasia durou 45 dias. Maus resultados, desentendimento com jogadores e insatisfação com a interferência da diretoria encurtaram a passagem do treinador pelo Furcão. Autuori, que deixou claro que ficaria no clube enquanto durasse o projeto, cumpriu sua palavra e também entregou o cargo. Agora, o Atlético aposta em Fabiano Soares. Uma aposta que não deveria ser feita no meio da temporada, com a necessidade imediata de resultados. Em 45 dias, o Furacão voltou à vala comum do futebol brasileiro.
O Paraná Clube perdeu o embalo de vez. A derrota para o Vila Nova por 3 a 2 fez acender a luz de alerta. Em questão de dois jogos, a proximidade do G4 deu lugar a uma incômoda proximidade ao Z4, o grupo dos que iriam para a terceira divisão. Mas o pior de tudo é que o próximo desafio também será fora de casa: contra o Oeste, na arena Barueri, sextafeira, 14/7, às 20h30. Até aqui a única vitória do tricolor longe da Vila Capanema foi contra o Náutico, último colocado na competição. Da derrota em Goiânia até a nova oportunidade em São Paulo serão 72 horas. Tempo mais que suficiente para o time conversar, identificar as falhas e partir para o tudo ou nada. Ou o time tira o pijama e assume uma postura de quem quer subir também jogando fora de casa ou o Pepe Guardiola das araucárias é quem vai ser ‘tirado’ da comissão técnica.
A derrota (0x3) para o Sport no dia 10 não apenas foi a primeira no Alto da Glória neste Campeonato Brasileiro, mas também a sétima partida consecutiva sem vitória na competição. Esta circunstância coloca o técnico Pachequinho na berlinda. Uma das críticas mais recorrentes ao seu trabalho é a falta de critério para as substituições durante os jogos. Contra o time pernambucano, por exemplo, tinha dois velocistas no banco de reservas (Neto Berola e Iago Dias), mas optou por colocar em campo o pivô Alecsandro no lugar de Anderson. O time ficou com quatro atacantes lentos e sem a necessária criatividade no meio-campo para municiá-los. As partidas contra o Avaí em Florianópolis e o Fluminense em Curitiba revelam-se cruciais para o futuro imediato do treinador, que corre o risco de deixar o clube.