Brasil de Fato - Edição 47

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Mídia Ninja

Opinião | p. 2

Perfil | p. 4

Por democracia e direitos

Um poeta vivo

Frente Brasil Popular chama às ruas e organiza ato em 19 capitais do país. Condenação do ex-presidente Lula é vista como ataque à democracia

Conhecido na literatura marginal curitibana, Batista de Pilar dribla a morte mais uma vez

PARANÁ

20 a 26 de julho de 2017

distribuição gratuita

Ano 02 | Edição 47

Polaco da Barreirinha

Lava Jato é última cartada para desmonte da indústria brasileira Terceira e última reportagem da série Lava Jato e Desindustrialização discute as condições históricas que permitiram a destruição do projeto de desenvolvimento nacional. Desmonte do setor produtivo segue o roteiro dos anos 1990, do governo FHC. Lava Jato I p. 6 e 7 MAPA

Cidades | p. 5

Do Rico ao Pobre

Esportes | p. 12

Perigo no prato

Dia Nacional do Futebol

Ministério Público do Paraná acusa a Anvisa de manipular e negligenciar dados sobre presença de agrotóxicos nos alimentos

Sindicato chama a atenção para ameaças à CLT. Menos de 3% dos jogadores recebem acima de três salários mínimos


2 | Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 20 a 26 de julho de 2017

Frente Brasil Popular convoca às ruas em todo o Brasil E

sta quinta-feira (20), marca o dia de nacional de lutas da Frente Brasil Popular em 19 capitais do Brasil. O protesto é a favor da democracia e denuncia que a condenação do ex-presidente Lula é seletiva e não apresenta documentação ou provas suficientes. Um dia antes, mais uma sentença do juiz federal de primeira instância, Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, ganhou novo tom de revanche política. Ele ordenou que o Banco Central bloqueie os R$ 606 mil – a soma dos bens pessoais de Lula.

O povo deve decidir qual projeto, quais medidas e qual representante quer na presidência

Gibran Mendes

Ao longo dos atos, a pauta dos movimentos sociais é contrária à retirada de direitos. Infelizmente, esta é a missão do que ainda sobra do governo Temer (PMDB): encaminhar reformas o mais rápido possível. Teto dos gastos em saúde e educação, da reforma do ensino médio e, recentemente, da trabalhista. Depois de tanto retrocesso, o governo agora acena também uma reforma tributária e força a da previdência social, porém sem consultar a população antes. A Frente Brasil Popular defende o direito de Lula ser candidato e, mais que isso, aponta que a convocatória de eleições diretas é a saída democrática para a crise política. O povo deve decidir qual projeto, quais medidas e qual representante quer na presidência.

OPINIÃO

Ataque à Unila ameaça projeto de Estado para integração latino-americana

EXPEDIENTE Cecilia Angileli, Karen Honório e Roberta Traspadini, professoras da Unila

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 47 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm e Carolina Goetten ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach, Cesar Caldas COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Cecilia Angileli, Karen Honório e Roberta Traspadini REVISÃO Maurini Souza, Priscila Murr FOTOGRAFIA Do Rico ao Pobre e Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr ANUNCIE administracaopr@brasildefato.com.br

A

Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila), localizada em Foz do Iguaçu, está sob ataque por parte de alguns políticos do Paraná. O deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR) propôs o fim da instituição e de dois campi da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ambos passariam a ser uma Universidade Federal do Oeste do Paraná. A proposta nega a função social da Unila: a integração latinoamericana. Chama a atenção o desconhecimento do proponente sobre a história e a relação da instituição com a comunidade, a partir de ações de ensino, pesquisa e extensão. A propostas de modificação da lei diverge da realidade da Uni-

Mais do que uma ação de governo, a Unila significa uma política de Estado amparada na Constituição la no território de sua incidência concreta: a Tríplice Fronteira (entre Brasil, Paraguai e Argentina). Criada durante o segundo governo Lula (PT), a instituição nasceu com o objetivo de contribuir com a integração. Muitos relacionam a Unila a um partido, sem entender que se tornou um projeto de Estado. A ideia de integração via educação está diretamente vinculada à Tríplice Fronteira. Nesse sen-

tido, as demandas das cidades do entorno de Foz do Iguaçu potencializam a Unila enquanto são fomentadas por ela, em uma via de mão dupla. Atualmente, a Unila conta com quase 3.700 estudantes, de diversas nacionalidades, 518 técnicos administrativos, 129 trabalhadores terceirizados e 368 docentes. Isto representa uma movimentação econômica no plano imobiliário, alimentar, cultural de Foz do Iguaçu no montante aproximado de R$ 200 milhões, o que evidencia seu impacto no PIB do Oeste do Paraná. De 2015-2017 foram mais de 500 ações de extensão na Tríplice Fronteira, com mais de 110 mil pessoas alcancadas. A Unila está a serviço das comunidades, é capaz de responder aos problemas do seu tempo e contribuir na superação da histórica desigualdade econômica e social latino-americana.


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Paraná, 20 a 26 de julho de 2017

Chile autoriza aborto O Senado do Chile aprovou esta semana um projeto de lei que autoriza o aborto em três casos: quando há risco de vida para a mulher grávida, em caso de estupro e má formação do feto. A proposta chegou ao congresso há dois anos, por meio da presidenta Michelle Bachelet. O Chile foi o último país da América do Sul a perseguir o aborto em qualquer circunstância. Com a mudança, a legislação chilena se iguala à lei brasileira. EBC

Dia mais frio A prefeitura de São Paulo, governada por João Dória (PSDB), acordou moradores em situação de rua com jatos de água fria na manhã do dia 18. Foi o dia em que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou a tarde mais fria do ano na capital – 10 graus às 15h. A situação ocorreu na Praça da Sé, quando uma empresa terceirizada pela da prefeitura, responsável pela limpeza públicas, molhou pessoas que dormiam na calçada.

RADAR

FRASE DA SEMANA

DA LUTA

“A reforma trabalhista é um retrocesso do Brasil ao século 19 e deixa o trabalhador em uma situação de absoluto abandono, o que é intolerável”,

Pedro Carrano

Pacotaço de Greca é inconstitucional

Roosevelt Pinheiro | Agência Brasil

Reuters

afirma Ciro Gomes (PDT), exgovernador do Ceará (1991-1994), a respeito das reformas trabalhista e da Previdência, propostas pelo presidente golpista, Michel Temer (PMDB).

Petrobrás deve ser investigada por violar liberdade sindical, no Paraná Divulgação Petrobrás

Redação | BdF PR O Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região decidiu, por unanimidade, retomar ação judicial que determina investigação e multa para a Petrobrás por práticas que violam a organização sindical. A decisão foi tomada em Curitiba, nesta quartafeira (18). A ação judicial em trâmite na Justiça do Trabalho que multava a empresa por práticas antissindicais, a partir do TAC, foi arquivada em 2016. O documento que determinava que a empresa não praticasse novas ações de perseguição ou de impedimento das ações do sindicato foi assinado em 2008 pela Utrafértil. Em 2012, a Petrobras comprou a unidade, que rebatizou de Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen). Na época, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná (Sindiquímica-PR) denunciava a

criminalização de dirigentes sindicais e a aplicação de advertências contra trabalhadores que participavam de manifestações contrárias à empresa. Com a decisão de desarquivamento da ação que executa o Termo, a petrolífera permanece assumindo os compromissos firmados pela antiga proprietária da Ultrafértil. Piora nos últimos anos Coordenador geral do Sindiquímica, Sergio Luiz Monteiro, conta que foram registrados casos de perseguição aos integrantes do sindicato. No início do ano, dois diretores sindicais receberam suspensão por questionarem ações

3 | Geral

da empresa, sem direito de defesa. Em 2015, durante uma greve da categoria, o coordenador e outro integrante do sindicato também foram impedidos de entrar na fábrica para verificar uma denúncia de funcionários que estavam trabalhando há 24 horas. Segundo ele, a frequência desse tipo de ocorrência tem aumentado nos últimos dois anos. “Desde 2015 pra cá, principalmente depois da mudança de diretoria da Petrobras, a empresa tem passado por cima das regras da CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] e os acordos do TAC tem sido desrespeitados”, relata.

Os servidores municipais de Curitiba questionam ilegalidades presentes no chamado “pacotaço de Rafael Greca”, aprovado em junho. Entre as violações está o desrespeito ao princípio de que não pode haver retrocesso em um direito adquirido, como ocorre no caso do congelamento do plano de carreiras. Projetos de ajuste fiscal também foram aprovados em Araucária e Colombo.

Curso de comunicação sindical De 21 a 23 de julho, petroleiros e petroquímicos de Curitiba realizam o I Curso de Comunicação Sindical, em parceria com o Brasil de Fato Paraná. O objetivo é a elaboração de diferentes tipos de textos para a comunicação das categorias.

Trabalhadores da coleta de lixo Os trabalhadores da coleta de lixo fizeram cinco dias de greve contra o risco de demissões de 1.600 funcionários da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap). No dia 15 de julho, os funcionários encerraram a paralisação e aceitaram o acordo negociado em audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).


4 | Cidades

Perfil

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Paraná, 20 a 26 de julho de 2017

O São Francisco dos poetas escolhe estar vivo

Conhecido na literatura marginal curitibana, Batista de Pilar dribla a morte mais uma vez Carolina Goetten

Carolina Goetten Curitiba (PR)

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nquanto caminha pelo bairro São Francisco, em Curitiba, quando ainda havia vigor e saúde na condução de seus rumos, João Antônio Batista de Pilar declama versos sobre uma certa Clarice, que olha para trás quando é dia seguinte. “Na vida”, ensina, “tudo pode mudar de uma hora pra outra”. Agora, enfrenta mais uma reviravolta de quem existe por um fio, no trânsito entre os extremos: concordou em se internar para reverter os danos do alcoolismo. Amigos se inscrevem e aguardam na fila para visitar o poeta que, mais uma vez, driblou a morte. Sorte a nossa: nas palavras do artista João Bello, se um poeta desiste de viver, morre um pouco a humanidade. Ex-garçom, ex-chapeiro e eterno boêmio curitibano, Batista conhece todos os cantos da malandragem. Nas-

ceu em Dois Vizinhos em 1960 e começou a escrever durante o primeiro grau. Uma apresentação de teatro no dia da árvore, em que interpretava um guatambu, rendeu-lhe a oportunidade de criar os primeiros versos, preservados na memória: “Nas mãos sempre crio calos/ direitos como bambu/ ajudo a rasgar os valos/ o meu nome é guatambu”. No infinito da simplicidade O quartinho modesto em que viveu na rua Paula Gomes, as refeições com prato feito e o jeito espontâneo de conversar

Que sorte, mas, que sorte! A morte deu uma distraída. Ela foi para o sul e eu fui para o norte Batista de Pilar

delatam uma essência de simplicidade, que o deixou conhecido como São Francisco dos Poetas, em referência a São Francisco de Assis. “Eu sou poeta pobre. Poeta rico era o Vinícius de Morais”. Afasta a poesia da atmosfera elitista e escreve para os operários, os bêbados e os vagabundos, para os cachorros e vendedores ambulantes. É o poeta de quem conhece a intensidade da vida, de quem encara o presente depois que o mundo muda por inteiro. E ainda consola a nós, homens, mulheres, Clarices: “Não me olhe com essa cara de ontem”. Cada um de seus seis livros são como filhos de uma vida sem herdeiros. “Mas eu queria uma companheira para estar comigo”, conta. “Pode até estar numa camisa de força, que eu não me importo, mas eu tenho algumas exigências”.

Seminário debate a importância de avançar na reforma agrária Franciele Petry Schramm, Curitiba (PR) Nesta segunda-feira (17), o “Seminário sobre educação e produção nas áreas de reforma agrária” serviu um café da manhã com produtos da agricultura familiar e de assentamentos do Paraná no Palácio das Araucárias, no bairro Centro Cívico, em Curitiba. Bolos, queijos, salames e biscoitos mostraram os bons resultados da reforma agrária, mas também sinalizaram a necessidade de avançar na política da distribuição de terras, que segue paralisada em todo o estado. O evento foi realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em parceria com a Secretaria de Assuntos Fundiários e de apoio à Reforma Agrária do estado. Participaram 150 pessoas, dentre elas, repre-

sentantes da Defensoria Pública do Paraná e do Ministério Público estadual. A integrante da direção estadual do MST, Ceres Hadich, explicou que a atividade é um espaço de diálogo para seguir desenvolvendo áreas de assentamentos e acampamentos no Paraná. “A reforma agrária se insere nessa perspectiva de ajudar a desenvolver o estado como um todo. Ela precisa ser pautada por qualquer governo sério que busca o progresso”, defendeu. Franciele Petry Schramm

Manifestação cobra diagnóstico sobre crianças em situação de rua Redação | BdF PR A XI ação nacional Criança Não é de Rua acontece em dia 21 de julho com o tema “Por um diagnóstico nacional já”. No evento, organizações sociais de todo o país realizam atividades artísticas urbanas, blitz, panfletagens e coletam assinaturas para um abaixo-assinado. Passados 24 anos da “Chacina da Candelária”, ocorrida no Rio de Janeiro em 23 de julho de 1993, o Brasil ainda não sabe quantas crianças e adolescentes estão em situação de rua. “O Brasil não tem dados consolidados nacionalmente sobre esta problemática. Alguns municípios realizam levantamentos, mas não existe um censo de todo o territó-

rio Nacional”, denuncia o manifesto que convida a população a participar da atividade. Ação nacional Em sua XI edição, o evento é realizado anualmente com objetivo de dar visibilidade à situação de crianças e adolescentes que vivem nas ruas no Brasil, sensibilizar a sociedade e reivindicar, do poder público, ações para enfrentar este fenômeno social.

Para ficar por dentro O quê: Ação nacional “Criança Não é de Rua” Quando: Dia 21 de julho às 10h Onde: Concentração na Boca Maldita, Centro de Curitiba


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5 | Cidades

MP do Paraná contesta relatório da Anvisa sobre agrotóxicos Documento também foi questionado por entidades ligadas à vigilância sanitária em 23 estados Carolina Goetten Curitiba (PR)

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ntidades e órgãos públicos de todo o país acusam a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de manipular e negligenciar dados de interferência direta na saúde da população brasileira. O mais recente relatório divulgado pelo órgão – o Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que avaliou amostras entre 2013 e 2015 – assegura: quase 99% dos alimentos comercializados no país estão livres de resíduos que ofereçam riscos agudos à saúde. Em contestação aos dados oficiais, participantes de uma reunião nacional que congregou representantes de 23 estados do Brasil produziram a Carta de São Paulo, na qual expressam seu desagravo ao teor do relatório. Por meio do documento, entidades ligadas ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária contestam em 16 pontos os resultados da Anvisa e exigem providên-

cias pela mudança de metodologia, que subestima os reais perigos dos pesticidas e induz a uma falsa percepção sobre o cenário no país. “Os maiores meios de comunicação […] noticiaram: ‘99% dos alimentos no Brasil estão livres de risco à saúde causados por agrotóxicos’. A Anvisa não realizou nenhum esclarecimento público com a mesma amplitude a respeito do entendimento equivocado”, sinaliza um dos pontos da carta. Órgãos estaduais também encaminharam posi-

cionamentos de contestação ao relatório. No Paraná, documentos foram elaborados pelo Ministério Público Estadual (MP-PR), por meio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa do Consumidor (Caopcon). Além deste, a Secretaria Estadual de Saúde questionou os resultados. “A Anvisa modificou o critério do que considera saudável e apenas considerou o consumo imediato na análise dos danos”, explica a promotora de justiça Cristina Corso Ruaro, do MP-PR. Antes,

a fórmula avaliava os perigos da ingestão de produtos com agrotóxicos a longo prazo – ao fim de um ano, dois, cinco ou ao longo de toda a vida. “Basta observar o aumento da incidência nos casos de câncer, que não é detectado no momento do consumo”, diz. Nova metodologia Segundo alerta assinado pelo Caopcon, o documento apresentado pela Anvisa “desconsiderou o efeito crônico da contaminação por agrotóxicos, potencialmente relacionados a agravos como câncer, desJoka Madruga

OPÇÃO SEM VENENO Em Curitiba, uma iniciativa ligada à agricultura familiar e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) leva frutas, verduras e legumes orgânicos ao consumidor. A Cooperativa Central de Reforma Agrária atua com a venda direta: a cada 15 dias, uma nova lista de produtos e preços é disponibilizada a quem entra em contato por telefone ou via whatsapp. Depois, a cooperativa entrega as encomendas em pontos estratégicos da cidade, nos bairros Xaxim, Sítio Cercado, Alto Boqueirão, Vila Isabel e Mercês. Para conhecer o serviço, o contato é o Ademir, no (41) 99531-7950. É só mandar um whats.

regulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico, entre outras doenças degenerativas”. Nas amostras, informa o Centro de Apoio, casos que não apresentam efeitos imediatos na saúde do consumidor foram tidos pela Anvisa como não importantes e deixam antever que podem ser ingeridos com segurança. No mesmo texto, a Anvisa recomenda higienizar os alimentos com água corrente para eliminar resíduos de agrotóxicos, “com uma bucha ou escovinha, […] considerando que a fricção igualmente auxilia na remoção de resíduos químicos presentes na superfície do alimento”. Para a promotora do MP-PR, o que está em jogo a indústria dos agrotóxicos: o Brasil lidera o raking mundial no consumo de veneno e ainda permite o uso de pesticidas como o glifosfato, já proibido em diversos outros países. “Se uma agência oficial do governo federal emite uma declaração como essa, ela dá aval generalizado para a utilização desses produtos nos alimentos”, define Cristina Ruaro. “Agora, compete ao MPF adotar as medidas necessárias: pode-se recomendar a modificação do relatório ou partir para a decisão judicial para questionar essas informações”, informou a promotora do MP-PR.

Amostragem O estudo da Anvisa avaliou 25 tipos de alimentos presentes na dieta da população brasileira. Foram consideradas 12.051 amosEm todo o país, iniciativas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores tras coletadas em revendas Rurais Sem Terra (MST) levam produtos orgânicos ao consumidor e supermercados varejistas nas capitais do Brasil.


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6 | Lava Jato

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7 | Lava Jato

Desmonte do setor produtivo segue o roteiro dos anos 90: operação Lava Jato é a cartada final Terceira e última reportagem da série Lava Jato e Desindustrialização discute as condições históricas que permitiram a destruição do projeto de desenvolvimento nacional Daniel Giovanaz Curitiba (PR)

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suspensão dos contratos da Petrobras com empreiteiras brasileiras, nos últimos dois anos, paralisou vários segmentos da indústria nacional. Entre os mais afetados, estão os setores metalúrgico, naval e de construção civil. Os dois primeiros capítulos desta série demonstraram que o rombo na economia brasileira pode ser atribuído não só aos políticos e empresários, que cometeram crimes, mas também ao Poder Judiciário, que poderia ter evitado parte desse prejuízo – sem enfraquecer o combate à corrupção.

Operação provocou um impacto semelhante ao dos anos 1990, período de consolidação do neoliberalismo no Brasil Mas como é que a Lava Jato foi capaz de comprometer, em poucos meses, o avanço da indústria nacional? A reportagem do Brasil de Fato ouviu pesquisadores sobre o tema e explica por que a economia do país não conseguiu sobreviver aos impactos da operação, que beneficiou o mercado financeiro internacional. Histórico Segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo,

não se pode analisar os impactos da Lava Jato sem compreender o desmonte industrial ocorrido na década de 1990: “O Brasil vinha estruturando sua indústria desde os anos 1930, com Getúlio [Vargas], depois Juscelino [Kubitschek], e uma pequena interrupção entre 1961 e 1963. E os militares [a partir de 1964] retomaram o projeto de industrialização, mantendo o arranjo produtivo institucional entre bancos públicos, empresas estatais e articulação com o setor privado”, relata. “O chamado “milagre brasileiro” se apoiou nisso, até chegar no [Ernesto] Geisel, que cometeu o pecado do endividamento externo”. Para superar o período de instabilidade financeira que sucedeu a ditadura militar (19641985), o Brasil adotou o chamado projeto econômico neoliberal. A indústria foi enfraquecida e as portas foram abertas para o capital estrangeiro. “Vendeu-se a ideia de que era preciso abrir a economia e diminuir o papel do Estado, através das privatizações”, critica o economista. Esse rompimento se deu nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e pode ser traduzido em números: “Se, no final dos anos 1980, a indústria tinha quase 25% de participação no PIB [Produto Interno Bruto], hoje tem 9%. E isso não foi revertido no governo Lula”. Ou seja, o efeito da Lava Jato foi ainda mais devastador porque o Brasil sequer havia se recuperado da destruição causada pelo projeto neoliberal, 20 anos antes. Mau negócio Entre as empresas privatizadas na década de 1990, está a mineradora Vale do Rio do Doce. Ela foi vendida por FHC por R$ 3 bilhões e, 14 anos depois, tinha um valor de mercado estimado em R$ 300 bilhões.

Nos últimos três anos, o fantasma das privatizações voltou a assombrar aeroportos e companhias de saneamento em todas as regiões do país, com a falsa promessa de tirar os estados do vermelho.“Foi uma perda de oportunidade”, resume o doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Caio Bugiato, sobre aquele período. “Tínhamos finalmente uma democracia, uma Constituição cidadã, com vários direitos sociais garantidos, mas a política econômica, que poderia gerar empregos e desenvolver o país, foi rompida”. Bugiato aponta que, durante os oito anos de governo Lula (PT), o investimento na indústria alcançou, em alguns meses, o mesmo patamar dos anos

1980. Porém, não houve uma política de diversificação. “A indústria brasileira se concentra em poucos setores: gás, petróleo, indústria de alimentos, construção civil, e para por aí. Como os investimentos se concentram em grandes monopólios e em estatais, como a Petrobras, nos momentos de crise, como na Lava Jato, toda a economia nacional é afetada”, explica. Essa situação fica evidente no relato de Edson Rocha, conselheiro do Fundo da Marinha Mercante (FMM). A indústria naval foi desmantelada rapidamente, após a Lava Jato, porque a maioria dos estaleiros do país dependiam da demanda da Petrobras. “Lula e Dilma [PT] fizeram um esforço para investir no nosso setor. Mas a indústria naval não pode ficar pendurada em uma decisão

Nos governos PT, houve esforços para retomada do crescimento, mas sem uma política de diversificação da indústria governamental. Tem que criar uma política de Estado”, defende Edson Rocha. “O Brasil tem quase 9 mil km de costa e vários rios navegáveis. Por que é que a gente transporta quase tudo por via terrestre? Como um país desse tamanho não tem uma indústria naval forte?”.

Falta autonomia Luiz Gonzaga Belluzzo afirma que os esforços realizados nos últimos 15 anos para retomar o caminho do crescimento não foram suficientes. “Quando eu digo que os governos PT fazem parte do período neoliberal é porque não se tocou em questões fundamentais. Tivemos um movimento de expansão da economia, e os programas sociais melhoraram muito a vida das pessoas. Mas, em termos de indústria, houve certa hesitação”, pondera. “É claro que reconstruir todo o parque industrial não era uma tarefa fácil. Seja como for, o pré-sal poderia fazer esse papel, com o chamado “conteúdo nacional”. A entrega da camada pré-sal para o investimento estrangeiro, além de ser uma consequên-

cia direta da Lava Jato, segundo o economista, impede qualquer perspectiva imediata de reindustrialização do Brasil. O que explica os altos índices de crescimento econômico da China, na comparação com o Brasil, é que lá foi possível preservar a autonomia do setor público. “São as empresas estatais chinesas que definem a relação que vão manter com o setor privado. O que aconteceu na Petrobras, de certa forma, é que se inverteu a relação: as empresas privadas começaram a determinar as políticas da Petrobras. Com o neoliberalismo, houve uma tremenda invasão, no Brasil, do privado sobre o público”, interpreta Belluzzo. Papel do BNDES Segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base, o país possui um déficit em infraestrutura equivalente a R$ 3 trilhões. Com 14 milhões de desempregados e a necessidade urgente de voltar a crescer, o governo Michel Temer (PMDB) caminha na contramão do desenvolvimento. Uma das propostas do presidente golpista é reduzir o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal entidade fomentadora de obras e empreendimentos no território nacional. “Foram ventiladas várias possibilidades de se fazer isso [enfraquecer o Banco]. Uma delas, que se concretizou no ano passado, foi a devolução antecipada de R$ 100 milhões referentes a empréstimos do Tesouro Nacional ao BNDES. E a ameaça mais recente é a MP [Medida Provisória] 777, que está em fase de audiências públicas”, afirma Thiago Mitidieri, presidente da Associação dos Funcionários do BNDES.

Agência Brasil

Enfraquecimento do BNDES pode aprofundar o desemprego no Brasil

A MP 777 coloca uma série de barreiras para investimento no setor produtivo, encarece os custos de financiamento e aumenta o risco dos empresários, favorecendo a concorrência estrangeira. A tentativa de imobilizar o banco público, segundo Mitidieri, é uma repercussão equivocada da operação Lava Jato. “Nenhum funcionário do BNDES foi citado por receber vantagens ou favorecimentos”, esclarece. “Mas vivemos um período de destruição da reputação do Banco. É uma questão de oportunismo. Essa campanha coloca a opinião pública contra o banco, favorecendo qualquer propos-

ta de mudança, mesmo que seja contrária ao interesse nacional”. De acordo com Belluzzo, não há saída para a crise do setor industrial sem o fortalecimento do Estado e dos bancos públicos. “O sistema de inovação exige um aporte muito grande de recursos, tanto humanos quanto financeiros. Porque a inovação tem um risco muito grande, e o Estado tem que mitigar esse risco. Eu não estou querendo minimizar, pelo contrário, eu estou exaltando o papel do empresário. Só que, hoje em dia, objetivamente, a articulação é essa”, afirma o economista. Tudo ao contrário do que propõe o governo Temer.

ALTERNATIVA A Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais em defesa da democracia e da classe trabalhadora, lançou, há dois meses, um documento com alternativas para a política econômica do país. O material, chamado de Plano Popular de Emergência, propõe saídas para o cenário apre-

sentado pelos economistas. O Plano inclui a elevação dos investimentos a 25% do PIB no prazo de quatro anos. Além disso, prevê a suspensão das concessões e privatizações realizadas durante o governo Temer, por exemplo, a venda de ativos das empresas estatais e os leilões das áreas do pré-sal.


8 | Brasil

Brasil de 8 Fato PR

Paraná, 20 a 26 de julho de 2017

Morte de Teori Zavaski completa seis meses sem conclusão da polícia Força Aérea Brasileira não estipulou prazo para encerrar investigações sobre a queda da aeronave Redação | BdF PR

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eis meses após a morte do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, estão em aberto as investigações da Polícia Federal (PF) sobre os motivos da queda do avião, no litoral carioca, em 19 de janeiro de 2017. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) aguarda os laudos da PF para concluir o relatório. Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), instituição à qual o Cenipa é subordinado, não existe prazo para encerrar a investigação. O avião em que viajava Teori Zavascki, então relator da operação Lava Jato no STF, caiu no oceano Atlântico próximo ao município de Paraty, no Rio de Janeiro. A tragédia motivou

uma redistribuição na relatoria da operação Lava Jato. Por sorteio, quem assumiu os processos foi o ministro Edson Fachin. A vaga de Za-

vascki foi preenchida por Alexandre de Moraes, exministro da Justiça nomeado pelo presidente golpista, Michel Temer (PMDB). Agência Brasil

Além do ex-ministro, estavam na aeronave outras quatro pessoas: o empresário e dono da aeronave, Carlos Alberto Filgueiras, de 69 anos, a massoterapeuta Maira Lidiane Panas Helatczuk, de 23, a mãe dela, Maria Ilda Panas, de 55, e o piloto Osmar Rodrigues, de 56. Não houve sobreviventes. Próximos passos Após a apuração dos laudos, o relatório final será traduzido para o inglês e analisado por representantes do National Transportation Safety Board, dos Estados Unidos, onde a aeronave foi fabricada, e do Transportation Safety Board of Canada, que fabricou o motor do avião. As análises retornarão ao Cenipa, que dará o parecer final sobre o caso. O avião em que estava o ex-ministro era de pequeno porte, do modelo Hawker

Beechcraft King Air C90, e tinha capacidade para acomodar até oito pessoas. A documentação da aeronave estava regular, com validade até abril de 2022, e a inspeção da manutenção anual era válida até abril de 2017, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ao menos uma pessoa afirma ter visto fumaça sair da aeronave antes da queda e, ainda segundo testemunhas, chovia no horário da queda.

Ao menos uma pessoa afirma ter visto fumaça sair da aeronave antes da queda

Defesa de Lula entra com recurso no caso triplex Advogados tentam reverter condenação sem prova em primeira instância A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrou com recurso para reverter a sentença condenatória do juiz de primeira instância, Sérgio Moro, na ação conhecida como “caso triplex”. Um primeiro recurso, enviado ao próprio Moro esta semana, apontava contradições e obscuridades na sentença, mas foi negado. O processo será julgado em segunda instância pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), com sede em Porto Alegre. Os desembargadores da 8ª Turma levam em média um ano para julgar os casos da Lava Jato.

Retrospecto Até o momento, o tribunal absolveu cinco pessoas condenadas por Moro. Uma delas é o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, alvo da Lava Jato. Dez sentenças condenatórias proferidas em Curitiba foram mantidas, oito tiveram a pena reduzida e 16 tiveram a pena ampliada pelo TRF4. Se esse prazo for mantido e a condenação for mantida em segunda instância até 15 de agosto de 2018, o petista está fora das próximas eleições presidenciais. Além de ser vetado pela Lei da Ficha Limpa, Lula não conseguiria cumprir o prazo para registro de candidaturas no

Daniel Giovanaz

População reagiu à condenação em primeira instância

Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A sentença de Moro prevê que o ex-presidente seja impedido de exercer cargo ou função pública por 19 anos. O PT afirma que a condenação é um instrumento para vetar uma provável candidatura à presidência da República em 2018. A pena estipulada para o petista, em primeira instância, é de 9 anos e meio de prisão. Lula responde em liberdade.


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| Brasil

Movimento de juventude cria rede de cursinhos para democratizar ensino superior Iniciativa do Levante Popular da Juventude pretende reunir mais de 35 cursinhos populares até fim do ano Divulgação

Coletivo de Comunicação Levante Popular da Juventude

Norma Odara | São Paulo (SP)

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anderson Dias vive no Morro Cerro Corá, favela próxima ao Cristo Redentor, no bairro Cosme Velho, no Rio de Janeiro. Ele nunca havia pensado na possibilidade de estudar em uma universidade pública, até cursar o pré vestibular popular de iniciativa de moradores e movimentos populares, como o Levante Popular da Juventude e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Hoje, ele cursa História em uma das melhores faculdades do país. O cursinho Cerro Corá, onde Dias estudou, fica próximo à sua casa, e compõe a Rede de Cursinhos Populares “Podemos + “. A iniciativa permitiu que ele fosse um dos três alunos do projeto a ingressar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).“Ano passado eu era, ao mesmo tempo, da coordenação do curso e aluno. Esse ano, eu entrei na

No primeiro ano do Cursinho Pré-vestibular Cerro Corá, no Rio de Janeiro, quatro alunos foram aprovados no vestibular da Uerj

universidade e hoje contribuo na secretaria e na ciranda do pré-vestibular”, disse Dias. Brasil afora As experiências que geram o Levante Popular da Juventude começaram na periferia de Ponto Alegre (RS), em 2006, em

Estudantes de cursinhos populares do Brasil se reuniram em São Paulo para o lançamento oficial da Rede de Cursinhos Populares Podemos Mais

ações realizadas por jovens universitários no Morro Santa Tereza. Desde 2011, o movimento se espalhou Brasil afora e atualmente está em 25 estados, mais o Distrito Federal. No Paraná, a juventude do Levante está presente em Curitiba e outras oito cidades.

Ampliação da rede A “Rede Podemos +”, lançada na última semana em São Paulo, já conta com mais de 20 cursinhos populares em várias regiões do Brasil. De acordo com o Levante Popular da Juventude, movimento social que atua na organização de jovens em seus territórios, o objetivo é reunir mais de 35 cursinhos populares até o final do ano. Iniciativas em todo Brasil, como nos estados do Pará, do Espírito Santo, em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Amapá, entre outros, já vêm sendo construídas, segundo a militante do Levante Popular

Ano passado eu era, ao mesmo tempo, da coordenação do curso e aluno. Esse ano, eu entrei na universidade e hoje contribuo na secretaria e na ciranda do pré-vestibular”

da Juventude, Fernanda Targa: “É um objetivo central para o Levante a construção de novos cursinhos populares, que tenham esse caráter com estrutura político-pedagógica, que contemple o processo de democratização do Ensino Superior através da educação popular”, ressalta Targa. A professora Lizete Regina Gomes Arelaro, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou, durante o evento de lançamento da rede, a importância de uma educação que se oponha

Janderson Dias

à mercantilização do ensino e mencionou a fusão da Kroton Educacional — maior empresa privada brasileira no ramo da educação no Brasil — com a faculdade Estácio de Sá: “Eles representam 1,8 milhão de alunos, serão 800 escolas de nível médio e 800 de ensino superior. Eles têm um só interesse, subir as ações no mercado. Este é o exemplo de educação mercantilizada”, conclui.


10 9 | Cultura

Brasil de Fato PR

Paraná, 20 a 26 de julho de 2017

DISTRAÍDOS CANTAREMOS

DICAS MASTIGADAS

O povo pobre no canto da Gralha Azul

Conheça os valores nutritivos da berinjela

Por Ricardo Prestes Pazello

Mayara Paixão | São Paulo (SP)

Em 1977, aparecia em Paranavaí o grupo Gralha Azul, preocupado em cantar a cultura do interior paranaense Já faz 40 anos do primeiro vôo. Em 1977, aparecia em Paranavaí um grupo de jovens músicos preocupados em alimentar a linguagem da música popular brasileira com a cultura do interior paranaense. Assim surge o grupo Gralha Azul. Tendo por ninho o teatro estudantil, o Gralha Azul logo contribuiria para enriquecer o cenário musical do Paraná com trilhas para peças, composições próprias e mostras culturais. Entre seus componentes, vários músicos, que se revezaram dos anos 1970, quando contou com coral feminino, até hoje. Os vôos mais altos, sem dúvida, estão refletidos na discografia composta por cerca de sete álbuns. O primeiro, chamado “Ciranda paranaense”, foi gravado em 1980 e carrega na capa o compromisso do grupo: a pintura de Roberto Pereira da Silva, retratando o povo pobre do campo. No encarte do disco, sua preocupação social se expressa, quando se lê que o grupo canta “onde estiver o povo reunido”, nas praças, nas ruas e nos bair-

Para muito além do regionalismo, sob suas asas estão acolhidas canções de protesto e experimentalismo artístico

Arquivo

Cozida, frita, assada ou grelhada, a berinjela tem diferentes modos de preparo e está presente em diversos pratos da culinária brasileira. Muito comum no nosso dia a dia, o alimento originário da Índia tem bom custo e traz muitos benefícios para a saúde. Devido à grande quantidade de fibras, a berinjela ajuda no bom funcionamento do intestino, que é essencial para uma boa qualidade de vida. Ela também é fonte de muitas vitaminas, como a B, C, K e A e possui boas doses de minerais, como zinco, cálcio, ferro e magnésio. Quem explica é a nutricionista Carla Caratin: “A berinjela é um alimento muito utilizado porque é riquíssima em fibras, vitaminas e minerais. Além disso, ela apresenta um valor energético bastante baixo. Em 100 gramas de berinjela, nós encontramos certa de 30 calorias, o que é considerado pouco”. Divulgação

ros da cidade, “sem ter compromisso com consumo, sem ter a preocupação em vender e ganhar”. É curioso notar que o Gralha Azul não ficou conhecido do grande público. Sua “música de registro cultural”, porém, merece ser revisitada pelas novas gerações de músicos e compositores. Para muito além do regionalismo, sob suas asas estão acolhidas canções de protesto e experimentalismo artístico. Se fosse possível destacar apenas algumas de suas composições, não poderia deixar de ser ressaltada a preocupação com a cultura do povo pobre. Por exemplo, a canção “Moema”, de disco homônimo do ano de 1993, canta a história da resistência guarani, ao tempo das 13 reduções jesuíticas que marcaram o território paranaense em pleno século XVI. A lenda da fuga de mais de cem mil indígenas, e dos padres jesuítas, contra a invasão bandeirante, explica a aparição de três morrinhos, na região,

que “cresceram do sangue daquela gente”. Mas é a música “Procissão dos navegantes”, do disco “Pitanga madura” de 1983, que pode ser tida como a obra-prima do conjunto. Nela, o rio Paraná faz navegar o povo trabalhador, em busca de seu pescado, alimento que sustenta o corpo, mas também a alma, ao evocar a religiosidade popular. Um povo em procissão, na esperança de “que a miséria parta e o rio sempre a lhes doar”. Eis o canto forte do Gralha Azul.

Para ficar por dentro → Livro “Grupo Gralha

Azul: a história e a trajetória de um autêntico grupo de música regional do Paraná” (2004), organizado por Roberto Simões; → Caixa “Grupo Gralha Azul: história e trajetória”, com 5 discos e um DVD ao vivo.


Brasil de Fato PR

Paraná, 20 a 26 de julho de 2017

| Cultura

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Documentário apresenta cotidiano de acampamento agroecológico de Castro

Divulgação

Filme retrata a experiência da comunidade Maria Rosa do Contestado, localizada em Castro Redação com informações da Agência de Jornalismo UEPG Ponta Grossa (PR)

O

primeiro ano do Acampamento Maria Rosa do Contestado virou filme. “Doze meses de resistência: a terra como horizonte de vida” retrata o cotidiano das 150 famílias camponesas que vivem na ocupação, localizada em Castro, a 160 km de Curitiba. O filme está disponível no youtube. Ao longo de 46 minutos, o filme apresenta relato de camponeses e camponesas sobre o dia da ocupação Maria Rosa, o cotidiano da geração de trabalho e renda e do cultivo de alimentos a partir da agroecologia. As famílias sem-terra vieram dos

municípios de Castro, Lapa, Teixeira Soares, Ipiranga e Ponta Grossa, todos com o desejo em comum de conquistar um pedaço de terra para morar e produzir. O documentário é resultado do trabalho da Agência de Jornalismo, Programa de Extensão do Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Outras ações de comunicação e jornalismo são realizadas em parceria entre a Agência e comunidades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região. O estudante Gabriel Ferreira Clarindo Neto é o produtor do filme, que teve orientação da professora Hebe Gonçalvez. Terra para morar e produzir

Para o integrante do MST Joabe Mendes de Oliveira, o videodocumentário possibilita mostrar o projeto do movimento voltado à agricultura orgânica: “O vídeo é um meio de expor o projeto que, de fato, a gente está construindo.

A gente quer que todos os acampamentos do Estado do Paraná se transformem numa grande matriz tecnológica agroecológica, de produção orgânica, para fazermos o contraponto a esse modelo colocado aí”, referindo-se ao agronegócio.

AGENDA 0800 O quê: O grupo curitibano Charme Chulo é a atração no projeto Música na Biblioteca. O quarteto é conhecido por misturar rock e música caipira. O show faz parte das comemorações do aniversário de 10 anos do lançamento do primeiro álbum da banda, que está em atividade desde 2003. Quando: Dia 21 de julho, sextafeira, a partir das 17h30. Onde: Hall térreo da Biblioteca Pública do Paraná, Rua Cândido Lopes, 133, Centro, Curitiba. Quanto: Gratuito. Divulgação

Arrya

Divulgação

O quê: Arriya (a pedra) é um olhar para o nosso tempo, ao nosso povo Vasco, uma chamada a uma esperança desde um presente ancorado no passado, no coletivo, em uma pesada. O filme é do diretor Alberto Gorritiberea e tem 101 minutos. Quando: 27 de julho, às 19h. Onde: Cinepensamento, Paço da Liberdade, Praça Generoso Marques, Centro de Curitiba. Quanto: Gratuito. Retirada de Ingresso no Sesc Paço da Liberdade uma hora antes.

Tohoku – Através do olhar dos fotógrafos japoneses O quê: A exposição é composta por 123 imagens da região de Tohoku e suas seis províncias: Aomori, Iwate, Akita, Yamagata, Miyagi e Fukushima, localizadas no nordeste japonês. As fotografias retratam paisagens naturais, festivais e rituais religiosos e objetos históricos. Quando: De 20 de julho a 13 de agosto. Onde: Museu Paranaense. Quanto: Gratuito.

Mostra de filmes para os vovôs O quê: O Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR) exibe os filmes “Cocoon” e “Conduzindo Miss Daisy” em comemoração ao dia dos avós, celebrado no dia 26. “Cocoon” é uma comédia de ficção científica que conta a história de três idosos que ganham um novo sopro de vida ao descobrirem uma “fonte da juventude”. Em “Conduzindo Miss Daisy”, uma senhora judia de 72 anos recusa ser conduzida pelo novo motorista (Morgan Freeman), que seu filho contratou para ela. Quando: promove nos dias 26 e 27 de julho a exibição, às 15h. Onde: Miniauditório do Museu da Imagem e do Som, Rua Barão do Rio Branco, 395, Centro de Curitiba. Quanto: Gratuito. Divulgação

Charme Chulo e o rock caipira


| Esportes 12

Brasil de Fato PR

Paraná, 20 a 26 de julho de 2017

Cerca de 3% dos jogadores de futebol recebem mais de 3 salários mínimos No Dia Nacional do Futebol, sindicato chama a atenção para ameaças aos direitos previstos na CLT Marcello Casal Jr | Agência Brasil

Daniel Giovanaz Curitiba (PR)

N

esta quarta-feira (19), foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. No senso comum, a profissão é sinônimo de fama, sucesso, dinheiro fácil. Porém, segundo dados divulgados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2016, 82% dos jogadores ganharam até R$ 1 mil por mês. A situação se agrava nas equipes menores, que não têm torneios a disputar no segundo semestre. “Tem que considerar que uma parcela significativa dos jogadores trabalha só quatro meses por ano”, acrescenta o vice-presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Paraná, Marcos Aurélio dos Santos, conheci-

“Os meninos acham que todo jogador de futebol pode ser o Neymar”, afirma o vice-presidente do sindicato

do como Dida. “E essa situação não é só no Paraná. É no Brasil todo”. As principais reclamações dos atletas que recorrem ao sindicato estão relacionadas ao não cumprimento dos contratos. “Os clubes se precipitam em fazer contratos longos, sem sa-

ber se o jogador vai dar certo ou não, e dispensam sem pagar os salários”, afirma Dida. “Quase 90% dos atletas acaba ganhando a ação na Justiça, mas é uma negociação um pouco demorada, geralmente o salário vem parcelado”. Quanto menor o time,

mais complicado é o cenário. “Nos clubes do interior, o maior problema são os contratos sem carteira de trabalho. Como o campeonato é muito curto, os clubes acabam pegando o documento dos atletas, mas nem chegam a assinar carteira. E o jogador só vai saber disso quando o contrato termina”, conta o sindicalista. Em um contexto de cortes de direitos, Dida chama a atenção para as ameaças da reforma trabalhista: “Estamos preocupados, principalmente com relação ao risco de perder os direitos previstos na CLT. Os jogadores não podem perder aquilo que foi conquistado com tanto esforço”, completa. “Os meninos acham que todo jogador de futebol pode ser o Neymar. Mas os dados que nós temos, sobre a situa-

ção no Brasil, indicam que menos de 3% dos profissionais de futebol ganham mais de três salários mínimos”, compara o vice-presidente do sindicato. A remuneração mensal de Neymar, atacante do Barcelona, é equivalente a 300 mil euros por semana, ou R$ 5,2 milhões por mês.

Uma parcela significativa dos jogadores trabalha só quatro meses por ano”

Juntando os cacos

Loucos pelo acesso!

Definição de meta

Por Roger Pereira

Por Marcio Mittelbach

Por Cesar Caldas

O Atlético nunca contratou tanto e tão caro nesta década como em 2017. Grafite, artilheiro do último Brasileirão; Carlos Alberto, medalhão, campeão de Champions League; Felipe Gedoz, craque do campeonato belga; Luiz Henrique, revelação do Botafogo; eterna promessa e Jonathan, lateral multicampeão. Jonathan foi o único que “vingou”. Não demorou a desbancar Léo na posição e tornou-se uma das peças mais importantes do atual elenco atleticano, a ponto de o desempenho da equipe se alterar drasticamente nas partidas em que ele atua ou não. Das outras quatro grandes contratações, três já foram embora. Gedoz quase foi, mas ganhou uma segunda chance. Em contrapartida, vieram outros nomes bem mais modestos: Ederson, Guilherme, Ribamar e, agora, Lucas Fernandes. O ousado planejamento do início do ano ficou para trás. O jeito, agora é juntar os cacos e fazer um Brasileirão sem sustos.

Do camarote da Vila, o novo treinador, o Lisca Doido, viu uma torcida vibrante empurrar o tricolor mesmo no dia mais frio do ano. Ele também viu um time aguerrido, que saiu atrás do Brasil de Pelotas, mas teve cabeça para buscar o empate e depois construir uma goleada, a primeira nesta série B. Viu ainda o Robson desencantar, o Brock recuperar a autoestima e deu até tempo de ver mais um belo gol do Renatinho. Não tinha atmosfera melhor para o novo comandante assumir. Se isso vai se traduzir em acesso, só o tempo vai dizer. O que dá pra assegurar, depois da primeira entrevista coletiva, é que o cara tem carisma, gosta do que faz e tem bagagem em série B. Que a loucura dele pelo futebol se some à nossa insanidade pelo Paraná Clube e juntos a gente possa devolver o tricolor para o seu devido lugar. O próximo confronto é sexta-feira (21), às 20h30, fora de casa, contra o Luverdense.

Os quatro jogos que restam no primeiro turno, até o próximo 6 de agosto, servirão para o estabelecimento dos objetivos reais do Coritiba no Campeonato Brasileiro deste ano. Os enfrentamentos de Flamengo no Rio, Atlético-MG em Curitiba, São Paulo no Morumbi e Chapecoense no Alto da Glória definirão o posicionamento do alviverde na tabela de classificação, como parâmetro para fixar sua meta na segunda metade da competição. Busca do chamado G-6 (grupo de clubes que vai a Libertadores)? Posição intermediária (credenciamento à Copa Sul-Americana)? Ou a mera fuga do rebaixamento à Segunda Divisão? As respostas dependem, em grande medida, da solução de fatores como a contratação imediata de um meio-campista de aproximação e da definição de substituto para Kléber Gladiador, afastado pela Justiça Desportiva.


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