Cultura | p. 11
Palhaçaria e música de graça em Curitiba “Concerto em Ri Maior” está em cartaz no Teatro SESI Portão nos dias 12 e 13 de agosto. Maestro russo Wilson Chevchenco promete diversão para toda a família Nilton Russo
Ano 02 | Edição 50
PARANÁ
10 a 16 de agosto de 2017
distribuição gratuita
FAMÍLIAS TRADICIONAIS DO PARANÁ COMANDAM A LAVA JATO Pesquisadores analisaram a biografia de juízes, procuradores e delegados. A maioria tem familiares na política e no sistema judiciário, nasceu em “berço de ouro” e herdou a mentalidade autoritária da ditadura. No dia 11, Tribunal Popular debate possíveis abusos da operação Lava Jato | p . 2,6 e 7
VENEZUELA CONTRA A VIOLÊNCIA
Perfil | p. 4
Dono das maiores reservas do mundo, país é alvo de interesses Internacional | p . 8 estrangeiros e enfrenta crise política
Doutora e travesti Megg Rayara, primeira transexual negra a tornar-se doutora no Brasil, lança livro com sua tese Samira Chami Neves | Sucom
Carmen Melendez | Gestion Perfecta
Esportes | p. 12
Brasil | p. 9
Cidades | p. 5
O adeus à lenda
Pelo fim do amianto
Quadro Negro
Usain Bolt se despede das pistas no Mundial de Atletismo, em Londres
Substância pode causar câncer e danos à saúde do trabalhador
Segundo Ministério Público, desvios em obras no Paraná superam R$ 20 milhões
2 | Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 10 a 16 de agosto de 2017
A Lava Jato na opinião dos trabalhadores A
manhã (11), ocorre um júri diferente em Curitiba. É o chamado Tribunal Popular da Lava Jato, que convidou onze advogados de renome e um jornalista para analisar os impactos da Operação sobre os direitos constitucionais. Um dos principais focos de investigação da Lava Jato é o ex-presidente Lula (PT), que hoje teve novamente bens bloqueados a pedido do juiz Sérgio Moro. Porém, o operativo não alcança figuras de partidos como o PSDB. As perguntas se somam: como combater a corrupção mantendo garantias individuais e sem paralisar a economia? Questionar o Judiciário parece incomodar, tanto que houve ameaças para que o Tribunal Popular, organizado pela sociedade civil, não ocorresse.
O Brasil de Fato Paraná, que alcança a edição 50, mantém uma cobertura crítica, sem inventar falsos heróis. Somos preocupados
com a corrupção, mas exigimos sempre os direitos constitucionais e repudiamos quando o poder Judiciário atua de forma partidária
OPINIÃO
EXPEDIENTE
Os paranaenses de Temer Manoel Ramires jornalista e diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR)
O
Paraná se destaca no cenário nacional não apenas por ser berço da Lava Jato. O estado é também base de sustentação do governo de Michel Temer. Essa fidelidade pode ser vista em três votações importantes no último ano: o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, a reforma da Trabalhista e no arquivamento do processo que acusa Temer de corrupção passiva. O presidente tem bem mapeado seus aliados e seus opositores. Pelo menos 20 nomes estão com Temer, doa a quem doer. Já a oposição varia de 4 a 10 nomes, dependendo da votação e das circunstâncias. Esses números não são aleatórios. Eles refletem a participação dos partidos no governo. As “deserções”, contu-
Maioria dos deputados paranaenses são favoráveis à reforma de previdência e demais projetos que retiram direitos do, cresceram depois que PSB e PHS deixaram o governo e o PDT se consolidou como oposição. Por outro lado, os deputados fiéis a Temer obedecem a um projeto de desmonte do Estado e do chamado fisiologismo, que atende a interesses pessoais e dos partidos, e não da população em geral. Eles são predominantemente compostos pelas bancadas ruralista e evangélica.
– como se observa entre juízes e procuradores de Curitiba. Sabe-se que o sistema político brasileiro é associado ao caixa de grandes grupos econômicos. Por exemplo, o prefeito Greca (PMN) apresenta unidades de creches abandonadas à espera de mais aditivos às obras. O governo Richa (PSDB) é alvo da Operação Quadro Negro de desvio de recursos da educação. E o que dizer de Temer (PMDB) depois dos áudios vazados do grupo JBS? A questão é como separar o sistema político do capital privado e do uso do Estado. Como fazer uma reforma política que garanta participação popular? E como garantir que políticas econômicas derrotadas nas urnas não sejam impostas à força? Seguiremos questionando.
Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016
Não à toa, os paranaenses “se destacam” no parlamento e no Executivo. Um caso é de Osmar Serraglio, alçado ao posto de ministro da Justiça para blindar o auxiliar de Temer, Rocha Loures. Ambos do PMDB. Já o PSDB, que sustenta o governo, embora rachado na votação da investigação, no Paraná, votou em peso no presidente. Muito porque tucanos, como o governador Beto Richa (PSDB), também são suspeitos de corrupção. O caso mais emblemático de paranaense no governo é Ricardo Barros (PSD), que traiu Dilma para virar ministro da Saúde. Líder ruralista e do setor privado, ele não vacila no apoio a Temer. Se o presidente seguir até o fim de 2018, tudo indica que a maioria dos deputados paranaenses serão favoráveis à reforma de previdência e demais projetos que retiram direitos dos trabalhadores - contra a população, mas com Temer.
O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 50 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm e Carolina Goetten COLABOROU NESTA EDIÇÃO Manoel Ramires ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach, Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr ANUNCIE administracaopr@brasildefato. com.br
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FRASE DA SEMANA
Marcelo Camargo | Agência Brasil
“Somos chavistas até a morte. E quando Maduro ordenar, estou pronto e vestido de soldado para uma Venezuela livre, para lutar contra o imperialismo”,
Na calada da noite Raquel Dodge, a futura procuradora-geral da República encontrou-se com Michel Temer no Palácio do Jaburu, às 22h da terça-feira (8). A reunião não constava na agenda oficial da Presidência. De acordo com a assessoria do Palácio do Planalto, o encontro seria para discutir a posse da subprocuradora, que a partir do dia 18 de setembro substitui Rodrigo Janot no cargo. No dia seguinte, Dodge se encontrou com ministro Gilmar Mendes. Antonio Cruz | EBC
Ovada em Doria O prefeito de São Paulo, João Doria Jr. terminou uma visita a Salvador (BA) debaixo de ‘ovadas’, na segunda-feira (7). Assim que os ovos começaram a ser arremessados, seguranças do prefeito abriram guarda-chuvas, mas não adiantou: Doria foi atingido na cabeça. O prefeito esteve na cidade para receber o título de Cidadão Soteropolitano, proposto pelo vereador Felipe Lucas (PMDB).
disse o lendário craque argentino Diego Armando Maradona, via rede social, em apoio ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Reprodução
Manifestantes protestam contra Escola sem Partido, em Curitiba Redação | Curitiba (PR) Coletivos e pessoas contrárias ao Projeto de Lei Municipal conhecido como Escola Sem Partido devem se reunir na manhã da próxima terça-feira (15), em frente à Câmara de Vereadores de Curitiba, para pressionar que a população participe dos debates relacionados à proposta. O projeto – que é também chamado de Lei da Mordaça – tramita na Casa desde o início de julho. O ato ‘Escola sem censura’ está sendo organiza-
do pelo frente CWB Resiste, composta por mais de 20 entidades. A mobilização acontece no mesmo dia em que o projeto deve ser discutido na Câmara e em que atos favoráveis à proposta estarão sendo realizada em outras cidades do país. Thiago Régis, integrante do CWB Resiste, fala que o protesto é uma forma de mostrar oposição ao projeto, que afeta não apenas estudantes e professoras, mas a sociedade de forma geral. “Vão querer censurar o pensamento dentro de escolas e isso vai tirar o senso crítico”,
explica. O projeto apresentado na Câmara proíbe que sejam assuntos relacionados ao que chama de “teoria ou ideologia de gênero” sejam tratados em sala de aula, e impõe outras seis proibições aos professores. Outras tentativas de aprovar o projeto em diferentes cidades já foram barradas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob o princípio da inconstitucionalidade. No entendimento do STF, a elaboração das normas gerais do ensino é uma tarefa exclusiva do Governo Federal. Divulgação | Chapecoense
RETORNO Sobreviventes do acidente aéreo da Chapecoense, Neto, Follmann e Alan Ruschel conheceram Luis Suárez e Lionel Messi, do Barcelona, no dia 7, no jogo que marcou o retorno de Ruschel ao futebol.
3 | Geral
R A DA R DA LUTA Pedro Carrano
Comitês pela Paz na Venezuela Os movimentos sociais brasileiros convocaram, nessa semana, a campanha pela Paz na Venezuela. Ideia é criar comitês em todos os estados para debater a situação daquele país. A posição das entidades apoia a Constituinte realizada e é contrária a qualquer intervenção estrangeira no país vizinho. O dia 22 de agosto ficou definido como data nacional para protestos em frente a embaixadas, consulados e empresas dos Estados Unidos.
Brasil de Fato Paraná participa de Fórum do Sudoeste Dez entidades, entre movimentos sociais e sindicatos, participaram de reunião do Fórum Regional das Organizações do Campo e da Cidade do Sudoeste, no dia 9 de agosto (quarta), em Francisco Beltrão. Ao lado do debate sobre o cenário político do Brasil, o encontro planejou ações conjuntas e abriu espaço para uma apresentação do Brasil de Fato Paraná – jornal que tem o objetivo de divulgar os debates dos movimentos sociais e dos trabalhadores. Com colaboração de Ednubia Ghisi
4 | Cidades
Perfil
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Travesti e doutora em Educação. Prazer, Megg Rayara
Em sua tese de doutorado, Megg chega a questionar – e com muita propriedade – a teoria de Foucault Samira Chami Neves | Sucom
Carolina Goetten Curitiba (PR)
A
professora Megg Rayara Gomes de Oliveira é quase uma celebridade entre as rampas e corredores da reitoria da Universidade Federal do Paraná, onde conquistou, em março, o tí-
tulo de doutora em Educação. Sempre – ela enfatiza: sempre, sempre, sempre mesmo – vestindo salto alto e com as pernas de fora, num ato político que busca naturalizar o corpo das pessoas trans, Megg é cumprimentada por alguém, com carinho e respeito, a cada dez minutos de conversa.
Aquele, porém, é seu “figurino do dia” - à noite, o salto aumenta e a saia encurta. “Eu não faço questão nenhuma de me parecer com uma mulher cis. Ao assumir quem somos, podemos reivindicar nosso direito de existir de forma muito mais potente”, justifica. Com independência de pensamento, que conquistou ao longo de uma vida sitiada pelo preconceito, ela questiona, em sua tese de doutorado, uma parte da teoria de Michel Foucault (a quem, cheia de intimidade, Megg chama de “bicha branca”; Foucault era homossexual). O autor reflete sobre dispositivos de poder que existem na sociedade para controlar os indivíduos e mantê-los presos aos padrões sociais, como a homofobia, que persegue homossexuais, ou o machismo, que
reprime os direitos das mulheres. “Eu percebi, na pesquisa, que no Brasil esse contexto pode contribuir para empoderar esses indivíduos em vez de mantê-los calados, como Foucault sugere”, diz Megg, que é exemplo prático da própria teoria: as repressões que sofreu só fortaleceram sua identidade e não a impediram de conquistar, inclusive, um diploma de doutorado. Sua tese tornou-se livro: “O diabo em forma de gente – (r)esistência de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação”. Além de contar a própria história, Megg reúne depoimentos de quatro professores que sofreram por não se encaixar nos padrões da heteronormatividade. “Um dos entrevistados disse: já que estão me chamando de viado, de bicha, de preto, na tentativa de me desquali-
Papa Francisco felicita família de casal gay após batizado dos filhos Redação | Curitiba (PR) Em carta enviada pela Secretaria do Estado do Vaticano, o Papa Francisco felicitou a família do casal Toni Reis e David Harrad pelo batismo dos três filhos. Jéssica, de 14 anos, Felipe, de 11 e Alyson, de 16 foram batizados em Curitiba no dia 23 de abril. “O Papa Francisco lhes deseja felicidades, invocando para sua família a abundância das graças divinas”, diz o texto assinado pelo Assessor de Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Va-
ticano, Monsenhor Paolo Borgia. O documento é uma resposta à carta enviada pela família ao Papa no início de junho. No texto, o casal e os filhos falam sobre a felicidade que sentiram por terem sido acolhidos pela Igreja. A resposta foi emitida em julho, mas só foi recebida pela família esta semana, após voltarem de férias. Toni Reis disse que recebeu a mensagem com alegria. “É um reconhecimento. Ele não é o presidente do nosso país, mas é uma autoridade espiritual. Isso é um acolhimento muito grande por
parte da igreja”, avalia. Jéssica, Felipe e Alyson foram batizados na Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, após terem recebido a negativa de outras quatro igrejas. O batismo só foi realizado após o casal conversar com o Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom José Antonio Peruzzo. Segundo Reis, o ingresso oficial na religião foi uma decisão que partiu dos três adolescentes, após um ano de reflexões. “Nós falamos sobre todas as religiões para eles, e eles escolheram a Católica”, conta.
ficar, vou assumir que sou tudo isso. Sou viado, bicha e preto. E agora?”. Em comum aos cinco, a perseguição homofóbica e um processo de violência que acabou por fortalecê-los. Fica o alerta aos preconceituosos: a ofensa é uma estratégia que, segundo a Doutora Megg, demonstra-se cada vez mais infrutífera. Já é hora de começar a aceitar as pessoas como elas são.
Para ficar por dentro Lançamento do livro de Megg Rayara Data: segunda-feira, 14/08 Horário: 19h30 Local: Anfiteatro 100 da Reitoria da UFPR (prédio D. Pedro I) – rua General Carneiro, 460.
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5 | Cidades
Ministério Público apura corrupção em obras de escolas do Paraná Operação Quadro Negro investigou desvios de recursos públicos que ultrapassam R$ 20 milhões Improbidade Adsócio da Valor Consministrativa (Gepatruções negociava o tria), órgão interno repasse de recursos do MP-PR ligado ao diretamente com o controle sobre o uso Percebemos que os engenheiro do Sude m sistema de fraudes e corrupdo dinheiro público. prazos não foram “para que as obras ção colocado em prática em esSegundo o Ministé- cumpridos e esse fossem pagas quase colas estaduais do Paraná levou o rio Público, a conintegralmente, emMinistério Público estadual (MP-PR) quista da cidadania foi o primeiro sinal bora o percentual de a mover sete processos judiciais para e da maturidade po- que despertou execução fosse excondenar 17 pessoas envolvidas. O lítica brasileira exige nossas suspeitas tremamente baixo”. esquema, investigado pela Operação processos de invesDepósitos indeQuadro Negro, apurou desvios de retigação transparenvidos nas contas da cursos que ultrapassam o valor de R$ te, que punam qual20 milhões. Esse dinheiro seria destiWillie Anne Provin construtora, com vaquer prática ou lores entre R$ 200 nado à construção e à reforma de estolerância quanto mil e R$ 500 mil, colas, mas a maior parte dos serviços a desvios de recursos. “Só assim haeram sacados em espécie e divididos contratados não foi cumprida. verá uma modernização do Estado entre os envolvidos no esquema. Entre os acusados de participação Brasileiro e uma participação mais nos crimes, estão nomes ligados ao efetiva de cada cidadão nas decisões Enquanto isso, nas escolas... governo estadual e à construtora respolíticas que orientam o país”, justifiA lentidão nas obras destinadas a ponsável pelos serviços. Segundo o cou o MP-PR, por meio da assessoria construir uma nova sede para o CoMP, o sistema de fraudes prejudicou de imprensa. légio Estadual Amâncio Moro, em o repasse de recursos a sete escolas Curitiba, levou a ex-diretora Willie estaduais (ver box). O esquema inEsquema frágil O escândalo veio Anne Provin a desconfiar de que hacluía a empresa Valor Construções, à tona em 2015, quando a Operação via algo errado. “Não tínhamos acesum engenheiro da SuperintendênQuadro Negro deu início às investiso à questão do repasse das verbas cia de Desenvolvimento Educaciogações. No esquema, um engenheiou a informações sobre como seria nal (Sude), um ex-diretor da Secrero do Sude desenvolveu um sisteconstruída a estrutura. taria Estadual de Educação, dentre ma de controle interno que deixava Mas percebemos que os prazos não outros responsáveis pela prestação e abertura para inúmeras brechas: o foram cumpridos e esse foi o primeiacompanhamento dos serviços. órgão pagava à construtora por serro sinal que despertou nossas suspeiA ação foi ajuizada por meio do viços que não foram executados. tas”, lembra a ex-diretora, mestra em Grupo Especializado na Proteção do Segundo a assessoria do MP-PR, o educação pela PUC-PR. “EnquanPatrimônio Público e no Combate à to isso, as condições da escola eram Corbelia Online de piso deteriorado e forros de teto caindo sobre alunos e professores. Havia até salas de madeira, que já foram proibidas pelo corpo de bombeiros”. A partir da desconfiança, professores se reuniram com a comunidade para juntos avaliarem o serviço prestado pela construtora, que ergueu a estrutura do novo prédio e deu a obra como concluída. Entre os moradores, engenheiros se prontificaram a analisar as plantas e as planilhas, e concluíram que uma série de serviços necessários ao todo de uma obra – como paisagismo ou a construção de muros – não foram realizados. Em 2016, o colégio Amâncio Moro foi uma das 600 escolas ocupadas por estudantes secundaristas “Para conseguir informações tíno Paraná. No processo, alunos se auto-organizaram para garantir limpeza e melhorias Carolina Goetten Curitiba (PR)
U
ESCOLAS AFETADAS Abaixo, a relação das escolas estaduais que tiveram obras ou reformas prejudicadas pelo esquema de fraudes: → Reforma e ampliação do Colégio Estadual Amâncio Moro, em Curitiba; → Construção do Colégio Lysimaco Ferreira da Costa, no Município de Rio Negro; → Construção do Colégio Estadual Jardim Paulista, no município de Campina Grande do Sul; → Construção do Colégio Estadual Ribeirão Grande, em Campina Grande do Sul; → Construção do Colégio Estadual Willian Madi, em Cornélio Procópio; → Construção do Colégio Estadual Arcângelo Nandi, em Santa Terezinha do Itaipu; → Construção do Colégio Estadual Tancredo Neves, em Coronel Vivida. O esquema, investigado pela Operação Quadro Negro, apurou desvios de recursos que ultrapassam o valor de R$ 20 milhões.
nhamos que marcar reuniões diretas com os secretários do Sude, porque ninguém da construtora tirava nossas dúvidas. Na superintendência, recebíamos respostas rasas e vagas, que nada esclareciam”, conta Willie Provin, que chegou a prestar três depoimentos ao MP-PR. Enquanto isso, no Amancio, faltam professores, conserto de equipamentos e uma série de materiais. A estudante Elloisi Rosa, do terceiro ano, conta que os estudantes também são prejudicados pela falta de computadores. “Na sala de informática não temos aparelhos que funcionem ”, denuncia.
6 | Lava Jato
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Paraná, 10 a 16 de agosto de 2017
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7 | Lava Jato
Berço de ouro, valores da ditadura: pesquisadores analisam a “árvore genealógica” da Lava Jato Professor da UFPR debate as conclusões de pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos Paranaenses Daniel Giovanaz Curitiba (PR)
R
afael Braga foi o único brasileiro preso nas manifestações de junho de 2013. Negro, pobre e morador de favela, o excatador de material reciclável foi condenado a 11 anos e três meses de prisão pelo suposto porte de maconha, cocaína e material explosivo. Quatro anos depois, não resta comprovado que, naquele dia, Rafael levava consigo algo além de produtos de limpeza. Ele continua preso, à espera de um novo julgamento. Breno Borges, filho da desembargadora Tânia Borges, teve melhor sorte. Flagrado no dia 8 de abril com 129 quilos de maconha e 270 munições, além de uma arma sem autorização,
TUDO EM FAMÍLIA Coordenador da forçatarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol é filho de outro procurador de Justiça, Agenor Dallagnol. O procurador Andrey Borges de Mendonça, que também atua na operação, é irmão do procurador Yuri Borges de Mendonça. Outro membro da forçatarefa, Diogo Castor de Mattos, é filho de um ex-procurador de Justiça, Delivar Tadeu de Mattos. O tio de Diogo, Belmiro Jobim Castor, foi secretário de Estado várias vezes no Paraná nos anos 1970 e 1980. O escritório de advocacia Delivar de Mattos & Castor é dos mais conhecidos do Paraná. Nele também atuam os irmãos Rodrigo Castor de Mattos e Analice Castor de Mattos.
parte do 1% mais rico no Brao jovem branco foi julgado em sil, e muitos até mesmo do 0,1% menos de uma semana e acamais rico em termos de rendas”, bou solto. A mãe dele, presidendescrevem os pesquisadores. ta do Tribunal Regional Eleitoral Políticos defensores da ditado Mato Grosso do Sul, é investidura civil-militar e indivíduos gada por favorecimento na liberque atuaram no sistema de justação do filho. tiça durante o regime também Os vínculos familiares são deaparecem na “árvore genealóterminantes para se entender as gica” da Lava Jato.O procuradinâmicas dos campos polítidor Carlos Fernando dos Santos co e judiciário no Brasil. ProfesLima, por exemplo, é “filho do sor do Departamento de Ciência ex-deputado estadual da Arena Política e Sociologia da UniversiOsvaldo dos Santos Lima, prodade Federal do Paraná (UFPR), motor, vice-prefeito em ApucaRicardo Costa de Oliveira afirrana e presidente da Assembleia ma que a origem social dos inLegislativa do Paraná, em 1973, divíduos está relacionada a uma no auge da ditadura, quando as série de privilégios, hábitos e vipessoas não podiam votar e nem sões de mundo. debater livremente”, segundo A última pesquisa dele foi puo texto. O pai de blicada esta seCarlos Fernando, mana na revisassim como os irta Núcleo de mãos, Luiz José Estudos Parae Paulo Ovídio, naenses (NEP). Operadores também atuaram O artigo “Prosoda Lava Jato como procuradopografia famires no Paraná. liar da operação fazem parte do O professor RiLava Jato e do 1% mais rico da cardo Costa de ministério Tepopulação Oliveira convermer” foi assinasou com a repordo em conjunto tagem do Bracom outros três sil de Fato Paraná e debateu os pesquisadores: José Marciano resultados da pesquisa. Confira Monteiro, Mônica Helena Hardos melhores momentos da enrich Silva Goulart e Ana Christitrevista: na Vanali. De pai para filho O texto apresenta uma biografia coletiva do juiz de primeira instância Sérgio Moro, dos 14 membros da força-tarefa nomeados pela Procuradoria-Geral da República e de oito delegados da Polícia Federal que atuam no caso, além de ministros indicados pelo presidente golpista Michel Temer (PMDB). O aspecto mais relevante do artigo diz respeito aos vínculos da operação Lava Jato com a elite econômica do Paraná. “Este seleto grupo de indivíduos forma
Brasil de Fato - O que há em comum na biografia de todos os personagens da operação Lava Jato analisados no artigo? Todos eles pertencem à alta burocracia estatal. Há alguns, da magistratura ou do Ministério Público, que ganham acima do teto [salarial do funcionalismo público, equivalente a R$ 33,7 mil por mês]. Com suas esposas e companheiras, eles estão situados no 0,1% mais ricos do país. Quase todos são casados com operadores políticos, ou do Direito. Você só entende os nomes
outros atores políticos que foram investigados. O [procurador] Celso Tres era um dos maiores especialistas nessas questões. Por que ele não foi convidado para entrar na Lava Jato? Porque ele não tinha a homogeneidade político -ideológica que essa equipe tem. É uma equipe que foi preparada para essa tarefa, não apenas jurídica, mas também política - que na nossa leitura, é a perseguição, lawfare [“guerra jurídica”] à esquerda, ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. entendendo a família. É uma unidade familiar que opera juridicamente, opera politicamente. O juiz de primeira instância Sérgio Moro é um desses exemplos? O juiz Moro é filho de um professor universitário, mas também é parente de um desembargador já falecido, o Hildebrando Moro. A mulher do Moro, a Rosânge-
la [Wolff], é advogada e prima do Rafael Greca de Macedo [prefeito de Curitiba]. Ela pertence a essa importante família política e jurídica do Paraná, que é o grande clã Macedo, e também é parente de dois desembargadores. O artigo ressalta as coincidências entre a Lava Jato e o caso Banestado [que investigou o envio ilegal de 28 bilhões de
dólares ao exterior]. Como isso ajuda a entender o papel da força-tarefa e do Judiciário nas investigações sobre os contratos da Petrobras? Boa parte deles também estiveram no [caso] Banestado. Foi uma operação que desviou muito dinheiro e apresentou uma grande impunidade, ao contrário de outros momentos. Até porque era outra conjuntura,
Em relação aos vínculos com a ditadura civil-militar [19641985], quais foram as constatações mais relevantes da pesquisa? Os operadores da Lava Jato, bem como os jovens ministros do governo Temer, são de famílias políticas. E os pais trabalharam, defenderam, reproduziram e atuaram na ditadura militar. Os filhos herdam a mesma menta-
lidade autoritária, o elitismo, o ódio de classe contra o PT. Como pertencem ao 1% mais rico, eles sempre tiveram uma vida muito luxuosa e beneficiada [pelas condições econômicas]. Estudaram em escolas de elite, vivem em ambientes luxuosos, estudaram Direito, depois fizeram concursos, com muito sucesso. Quando você tem pais no sistema, você tem facilidades.
blicações da mídia dominante burguesa, quando ele está muitas vezes abraçado, cumprimentando efusivamente os membros do golpe [de 2016]. Você vai ver um juiz ou um membro da Lava Jato num acampamento sem-terra? Ou num órgão alternativo da mídia, num sindicato de trabalhadores de categorias braçais e manuais? Jamais.
Por que incluir na mesma pesquisa os operadores da Lava Jato e os ministros nomeados por Michel Temer? Há uma conexão, no sentido de que é a mesma ação política da classe dominante. Eles operam em rede. Há uma coordenação. Por isso que é uma prosopografia [biografia coletiva]. Eles são originários da mesma classe social, do mesmo círculo social, e eles transitam nos mesmos ambientes empresariais, elitizados. O juiz Sérgio Moro, por exemplo: onde é que ele atua quando está em público? Em grandes pu-
Leia o artigo na íntegra na página do NEP: http://revistas.ufpr.br/ nep/article/view/54320
Os vínculos familiares de João Pedro Gebran Neto Amigo e admirador confesso de Sérgio Moro, João Pedro Gebran Neto é um dos desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Ele será o relator do processo conhecido como “caso triplex”, em segunda instância, cujo réu é o ex-presidente Lula (PT). Segundo o professor Ricardo Costa de Oliveira, o desembargador, que atua no Rio Grande do Sul, é filho de Antonio Sebastião da Cunha
Gebran e neto de João Pedro Gebran, ex-diretores-gerais da Assembleia Legislativa do Paraná nos anos 1950 e 1970. O casamento de João Pedro Gebran, em 1924, foi o acontecimento que abriu as portas da família junto à classe dominante paranaense. Foi quando eles passaram a ter relações com a antiga rede social e política de sua esposa, Francisca Cunha, filha do Coronel Francisco Cunha, prefeito da Lapa na República Velha.
O avô do Coronel Cunha foi o Comendador Manuel Antonio da Cunha, primeiro Prefeito da Lapa, em 1833, casado com a filha do 1º Capitão-Mor da Lapa, o português Francisco Teixeira Coelho. Todas, famílias com origens históricas no latifúndio escravista, aparentadas entre si - tais como a família Braga, do ex-governador Ney Braga, e a família Lacerda, do ex-reitor e ministro da Educação do início da ditadura, Flávio Suplicy de Lacerda.
8 | Internacional
Brasil de 8 Fato PR
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Petróleo é a chave para se entender a crise política na Venezuela Alvo de interesses dos EUA, país sul-americano tem as maiores reservas de petróleo do mundo Redação | Curitiba (PR)
A
Venezuela enfrenta uma das maiores crises políticas desde que conquistou a independência, em 1811. Em maio, o presidente Nicolás Maduro convocou uma Assembleia Constituinte para tentar solucionar os conflitos, mas o clima de instabilidade se agravou: foram mais de 100 mortos em protestos a favor e contra o governo. Os opositores de Maduro atribuem a ele a responsabilidade pelos assassinatos. Setores governistas acusam a oposição de terrorismo e alertam para o risco de um golpe “financiado pelo capital estrangeiro”. A nação liderada por Maduro desperta interesse internacional porque concentra as maiores reservas de petróleo do mundo. Desde que o presidente anterior,
Telesur
Hugo Chávez, estatizou cerca de 60 companhias petrolíferas na região, países importadores como os Estados Unidos declararam guerra à Venezuela. Não com trincheiras, bombas e canhões, mas sim, uma guerra midiática. Estratégia O primeiro passo foi questionar a chamada “democracia bolivariana” inspirada por Simón Bolívar, personagem das lutas por independência em seis países da América Latina entre os séculos XVIII e XIX. Emissoras de TV, rádios e jornais dos cinco continentes passaram a criticar o autoritarismo de Chávez e Maduro e a pedir mudanças no governo. “Quem fala em ditadura lá, age por má fé ou ignorância”, analisa o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Gilberto Maringoni,
em um texto publicado nas redes sociais. No mesmo artigo, Maringoni descreveu a correlação de forças que atuam na disputa pelo poder na Venezuela. “A oposição ganhou a Assembleia Nacional (congresso) e conta com um formidável aparato internacional, fixado na Casa Branca, nos governos de direita da América Latina e no grande capital, o que inclui gigantescas redes de comunicação global”, explica. Motivos da crise O PIB da Venezuela dependia quase que exclusivamente do petróleo, e a desvalorização do preço do barril nos últimos anos devastou os cofres do
país. Como o parque industrial não era diversificado, a Venezuela costumava importar vários produtos para consumo interno. A partir de 2015, porém, a crise derrubou o valor da moeda lo-
Alvo de interesses dos EUA, país sulamericano tem as maiores reservas de petróleo do mundo
cal, tornando a importação ainda mais restrita. Por isso, há fila nos supermercados e faltam produtos básicos. O problema econômico é amplificado por agentes internos, que escondem toneladas de alimentos da população como forma de boicote ao governo Maduro. Esta semana, o presidente boliviano Evo Morales criticou a atitude golpista de parte do empresariado venezuelano e acusou os Estados Unidos de mentir para desestabilizar o governo: “O pretexto é o mesmo de sempre: democracia, direitos humanos, terrorismo, tudo que [os EUA] usam desde sempre para se apropriar dos recursos naturais”.
DEMOCRACIA BOLIVARIANA Segundo Maringoni, o governo venezuelano é um dos mais democráticos do continente. Em 15 anos, os cidadãos foi às urnas 19 vezes para eleger representantes ou votar em plebiscitos. Tanto Hugo Chávez quanto Nicolás Maduro foram eleitos pela população, apesar do controle midiático exercido pelos opositores. Dados indicam que a estatização do petróleo melhorou a qualidade de vida da
população. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Venezuela em 2015 foi considerado “alto” e aumentou 20,9% em relação a 1990 - Chávez assumiu o país em 1999 e Maduro, em 2013. Durante os 14 anos de governo Chávez, o desemprego caiu de 14,5% para 8% e o PIB per capita aumentou de US$ 8,2 mil para US$ 13,2 mil.
Brasil de Fato PR 9
Paraná, 10 a 16 de agosto de 2017
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STF julga proibição de amianto, fibra cancerígena banida em mais de 70 países O uso da substância está diretamente relacionado aos casos de mesotelioma e outros tipos de câncer Repórter Brasil
Rute Pina | São Paulo (SP)
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trabalho, através da inalação de fibras presentes no ar. Uma de cada três mortes por câncer ocupacional devese ao produto. Margaret Matos pondera que, além da proibição, o governo deve buscar organizar atendimento adequado para as pessoas expostas e acesso à medicação necessária por meio do Sistema Único de Saúde. “No Brasil, o que se prevê, considerando o tempo que utilizamos o uso do amianto e o tempo que estamos demorando para abolir o amianto, é um epidemia de número de adoecidos para 2020 e 2025. Temos que estar preparados para este momento”, alertou a procuradora.
Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar, nesta quinta-feira (10), a proibição do uso de amianto em quatro estados na indústria brasileira. O uso da substância está diretamente relacionado aos casos de mesotelioma, um tipo de câncer fatal. A Corte vai analisar um conjunto de ações que questionam leis estaduais e municipais que baniram o material em São Paulo, Rio de JaneiCena do documentário Não Respire - Contém ro, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Amianto, lançado nesta terça-feira (7) em Curitiba. Margaret Matos, procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Paraná, está otimista e espera que o STF reafirme o poder dos nal Federal. Mas, por outro lado, nós vado”, disse. “Em lugar nenhum do Economia Atualmente, já existem estados em legislar mais restritivatambém reconhecemos que existe mundo o uso controlado foi consi- no mercado a possibilidade de subsmente contra o amianto. um lobby econômico, principalmenderado factível. A própria organiza- tituição do amianto com fibras alterSegundo ela, estas leis foram aprote da Eternit”. ção mundial do comércio, imagi- nativas. A substância é utilizada pavadas depois de muita luta e pressão ne, um órgão que tem interesses de ra confeccionar materiais de consdas entidades e movimentos ligados A empresa é dona da Mina de defesa do livre comércio, disse que trução, como telhas e caixas d’água, à defesa da saúde e à defesa dos traCana Brava, em Minaçu (GO), a úninão havia factualidaprodutos de fricbalhadores. Maca local de extração de na tese do uso conção para veícutos está à frente do de amianto em ativitrolado, que não ocorlos automotivos Observatório do dade no país. Com o ria nem nos países de e para vedação e Amianto, que reújulgamento, a mina economia desenvolviisolamento térne organizações seria encerrada e a Não é possível que dos nem nos periféri- Eu fui fiscal por 30 mico. que lutam pelo Eternit teria que emmais que 70 países cos”, disse. Para Gianbanimento do pregar fibras alternaanos do Ministério nasi, interesses produto no Brasil. tivas. Procurada pelo em que houve do Trabalho e posso Saúde pública Emcomerciais e in“Não é possíBrasil de Fato, a emo banimento, o presas que defendem lhe assegurar que dustriais se sovel que mais que presa afirmou que a continuidade do uso não existe uso brepõem a dis70 países em que não se pronunciará Brasil continue argumentam que os cussão da saúde houve o banimensobre o assunto. atrasado seguro do amianto casos de complicações pública. O Brato, o Brasil conPara Fernanda Margaret Matos Fernanda Giannasi sil é o terceiro estão relacionados a tinue atrasado, Giannasi, ex-auditoexposição até a décamaior produtor permitindo a utira fiscal do Ministéda 1950, o que Gianmundial, terceilização de uma rio do Trabalho e atinasi discorda. “Dizer que ninguém ro maior exportador e quarto maior substância reconhecidamente cancevista histórica contra a substância no vai ficar doente se exposto a partir de utilizador. rígena”, disse a procuradora. país, o argumento do uso seguro da 1980, não é epidemiologia, é futuroA judicialização do amianto já fibra cancerígena é uma falácia. Ela logia porque são doenças que vão se ocorre há 16 anos. A primeira Ação Uso controlado As entidades afirma que a tese é utilizada para posmanifestar tardiamente”, disse a ad- Direta de Inconstitucionalidade soaguardam ainda a inconstitucionalitergar o debate do banimento da mavogada. bre o tema é de 2001. “O Brasil na dade da Lei Federal 9.055, que autoritéria-prima no país. Segundo a Organização Mundial geopolítica do amianto tem um papel za o uso controlado do amianto bran“Eu fui fiscal por 30 anos do Mida Saúde (OMS), mais de 125 milhões central. O que acontecer aqui amaco, a crisotila. “Nós esperamos que nistério do Trabalho e posso lhe asde pessoas em todo mundo estão ex- nhã vai ter reflexos no mundo todo, essa seja, de fato, a posição da maiosegurar que não existe uso seguro postas ao amianto em seus locais de com certeza”, finalizou a ativista. ria dos ministros do Supremo Tribudo amianto. Isso é mais do que pro-
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Coletivo de mulheres lança ‘Rimas & Melodias’ e busca espaço no hip hop
Yago Perez | Divulgação
Grupo pretende fortalecer a presença feminina, sobretudo negra, no hip hop, na música e na sociedade Xandra Stefanel Rede Brasil Atual
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coletivo Rimas & Melodias é composto por sete mulheres que rimam, cantam e fazem do beat uma poderosa mensagem pela igualdade de gênero e raça. O grupo que acaba de divulgar o clipe Origens está finalizando seu primeiro disco, com o nome do grupo, que deve ser lançado até o final de agosto. Formado em 2015, o coletivo reúne as cantoras Alt Niss e Tatiana Bispo, as cantoras e rappers Drik Barbosa e Tássia Reis, as
rappers Karol Souza e Stefanie e a DJ Mayra Maldjian. O som dessas “manas”, como se autodenominam, passeia pelo rap, rhythm & blues (R&B) e o neo soul. O objetivo é desconstruir moldes e fortalecer a presença feminina, sobretudo a negra, no hip hop, na música, na sociedade. Segundo o grupo, “juntas, cantoras, rappers e djs somam forças no levante das mulheres no hip
hop que, apesar dos avanços, ainda é um movimento dominado por homens”. Uma das sete faixas do álbum Rimas & Melodias acaba de ganhar um videoclipe no qual as rappers, cantoras e a DJ abordam temas ligados às suas raízes e à miscigenação. Cada uma das sete mulheres explora nesta música sua história e trajetória nos palcos e fora deles: “Ela
Para ficar por dentro Mais informações: acesse a página Rimas & Melodias no Facebook.
ESPECIAL | Receitas da Agroecologia
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Pudim de Abóbora
Ingredientes 2 xícaras de abóbora madura 1 pitada de sal 4 ovos 2 xícaras de leite 2 xícaras de açúcar
5 colheres de sopa de amido de milho 1 colher de sopa de manteiga 1 colher de sopa de baunilha (opcional)
Modo de fazer Cozinhe a abóbora em pedaços e com uma pitada de sal. Escorra bem e amasse passando pela peneira ou bata no liquidificador. Misture todos os demais ingredientes (ovos, leite, açúcar, amido e a baunilha) em uma tigela ou bata-os no liquidificador. Cozinhe em banho maria durante 45 minutos em forma caramelizada com açúcar.
é neta de nordestino/ E na história dela tem uma mistura de preto com índio/ Infância humilde, mas fizeram um corre/ Meus avós honraram nosso sobrenome, Santos”, canta Tatiana Bispo em Origens. “[...] quando escutamos a música pronta, foi emocionante. Teve até choro. É um pedaço bem pessoal das nossas vidas que a gente está expondo do jeito que a gente sabe fazer: pela música”, afirma Tatiana Bispo. Lançamento Segundo Mayra Maldjian, o disco previsto para sair no final de agosto mantém a mes-
Fonte: Livro “Receitas da florestas que a gente planta”, organizado pelo projeto Flora, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Paraná (MST).
ma ousadia da primeira faixa lançada. O feminismo negro segue como fio condutor nas outras seis faixas. “As mensagens também estão vindo pesadas, as meninas estão colocando pra fora muita coisa importante da vivência de cada uma. Tem visões e vibes potentes do feminino e do feminismo – especialmente do feminismo negro. Eu não rimo, nem canto, mas minha expressão está ali também pelas colagens que fiz nos toca-discos e pelo direcionamento artístico da coisa toda”, diz Mayra Maldjian.
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‘Concerto em Ri Maior’: palhaçaria e música para toda a família
Para ficar por dentro Quando: Dias 12 e 13 de agosto, sábado e domingo, às 19h. Onde: Teatro SESI Portão, Rua Padre Leonardo Nunes, 180, Portão. Quanto: Gratuito.
Espetáculo conta com um coral composto pelo próprio público Nilton Russo
Redação | Curitiba (PR)
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izem que quem tem um amigo tem tudo. O maestro russo Wilson Chevchenco que o diga! Graças a ajuda de Sarrafo, seu fiel amigo e tradutor, o seu concerto musical, onde apresenta as composições de sua família, pode ser compreendido pela plateia – já que o palhaço não fala português. A peça terá apresentações gratuitas nos
dias 12 e 13 de agosto, às 19h, no Teatro Sesi Portão. O espetáculo “Concerto em Ri Maior” surgiu em 2005 a partir de jogos de improvisação de palhaços com a música. O resultado é uma comédia interativa e alegre para toda a família. O concerto conta com um coral composto pelo público. E para embalar a diversão, os próprios palhaços tocam vários instrumentos: piano, violão, acor-
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deom, gaita, castanholas e harmônica. O “Concerto em Ri” Maior percorreu vários festivais pelo Brasil e pelo mundo, como o festival de comédia musical “O Gesto Orelhudo”, em Portugal, e o Festival Internacional “Anjos do Picadeiro”, em Florianópolis e Rio de Janeiro.
AGENDA 0800
Lançamento do CD Amanhece
Reprises Pareadas
Litercultura Festival Literário
O quê: O território caiçara do litoral paranaense, em especial a ilha de Superagui, tem como marca a tradição das rabecas artesanais e do Fandango. E este é o ritmo que orienta a produção musical do mestre Aorelio Domingues, reunida no CD ‘Amanhece’. As músicas apresentam as pressões externas e os conflitos territoriais e de direitos humanos vividos pela populações da região. A música “Moda da Força Verde”, que abre o disco, composta por Domingues e Ivo Costa, a canção retrata conflitos presentes na comunidades caiçara após a implementação de parques nacionais em territórios de povos e comunidades tradicionais. Quando: Dia 12, sábado, das 20h às 23h. Onde: A Caiçara, Rua Dr. Claudino dos Santos, 90, São Francisco, Curitiba. Quanto: Entrada gratuita. O CD estará a venda por R$ 20.
O quê: A Companhia Circo Rodado apresenta o espetáculo Reprises Pareadas, que traz ao público as tradicionais reprises e entradas circenses. São cenas resistentes ao longo dos séculos da tradição do circo. Os palhaços Abel, Bonito, Pelúcia e Tropo oferecem a oportunidade de apreciar a palhaçaria clássica nos tempos de hoje Divulgação em dia. Quando: Dia 12 sábado, às 15h. Onde: Circo da Cidade, rua Benedicto Siqueira Branco, s/nº, Alto Boqueirão, Curitiba. Quanto: Gratuito.
O quê: Cinco escritores e ensaístas brasileiros participam do festival: Vladimir Safatle, Julián Fuks, Marcia Tiburi, Manuel da Costa Pinto e Christian Dunker. A reflexão acerca de referências e entorno do imaginário da literatura. Estarão em debate obras de escritores de países do vizinhos ao Brasil. Quanto: De 14 a 18, segunda a sextafeira, das 19h30 às 21h. Onde: Capela Santa Maria, Rua Conselheiro Laurindo, 273, Centro de Curitiba. Quanto: Gratuito. Retire seu ingresso gratuito a partir do dia 4 de agosto na Capela Santa Maria.
Tempo, tragicomédia inacabada
O quê: Dione é um jovem com hábitos estranhos, que vive isolado com sua família em uma região rural e remota. A tranquilidade do local é abalada quando um rico proprietário tenta comprar a pequena propriedade da família. O longo é brasileiro, lançado este ano e dirigido por Davi Pretto. Quando: Até 16/08, terça a domingo, às 19h. Onde: Cini Guarani, Av. República Argentina, 3430, Portão. Quanto: R$ 12 inteira e R$ 6.
O quê: A peça, da Companhia de Teatro Filhos da Lua, coloca em cena o Tempo e suas várias facetas, numa viagem por perdas, ganhos, erros e acertos pela qual passa o personagem “H”, que tem o desafio de libertar a mulher grávida e o Vento, aprisionado pelos Soldados do Tempo. Espetáculo para jovens e adultos. Quando: Até 3/09, sexta a domingo, às 20h. Onde: Teatro Novelas Curitibanas, Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1.222. Quanto: Gratuito. Paulinha Kozlowski
Daniel Castellano
Rifle
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Lenda do atletismo, Usain Bolt se despede das pistas Jamaicano conquistou o bronze em sua última prova individual
Brasil fecha bem primeira fase do Sulamericano de Volêi
COM | JUPS
Redação BdF PR
Redação BdF PR
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última corrida individual de Usain Bolt está longe de representar todas as conquistas da carreira do velocista. Aos 30 anos, o jamaicano se despede das pistas com um bronze conquistado na prova de 100m no Mundial de Atletismo, realizada no sábado (5), em Londres. Bolt largou mal – algo comum para o atleta que ficou conhecido pela reação ao longo da corrida – mas não se recuperou a tempo. Com tempo de 9s95, ficou atrás dos estadunidenses Christian Coleman e Justin Gatlin, que conquistou novamente o ouro após doze anos. Esse foi o primeiro bronze do Jamaicano conquistado nesse tipo de prova, em competições mundiais. Essa foi a última prova
A
individual de um dos maiores velocistas da atualidade. Em sua trajetória, Usain Bolt conquistou oito ouros olímpicos – com direito a ouro triplo nas Olimpíadas de Londres e do Rio –, e 12 ouros e duas pratas em mundiais. O atleta também detém três recordes mundiais, e já fez o tempo mais rápido do mundo sete
vezes. Bolt encerra sua carreira depois de seguidas lesões no último ano - uma delas aconteceu pouco menos de um mês antes da participação nos Jogos Olímpicos do Rio. O jamaicano se despede definitivamente das pistas no dia 12, na prova do revezamento 4x100m da Jamaica.
primeira fase de jogos do Campeonato Sul-americano de vôlei encerra com cenário positivo para a seleção brasileira masculina de vôlei. Com três vitórias em três jogos, o Brasil fecha a chave como primeiro colocado do grupo A. A última partida foi disputada na tarde de quartafeira, contra a Colômbia, segunda colocada. Com parciais de 25 a 14, 25 a 11 e 25 a 21, a seleção fechou os jogos da fase classificatória que foram disputados no Ginásio Olímpico Regional UFRO, na cidade de Temuco, no Chile. Já na estreia do campeonato, no dia 7, a equipe mostrou que veio disposta a ganhar, sem muito esforço. Foi uma vitória tranqüila de 3 sets a 0 contra o
Com três vitórias em três jogos, o Brasil fecha a chave como primeiro colocado do grupo A
Paraguai – em dois sets, o time fechou o placar com 25 pontos contra 4 do time adversário. Situação parecida aconteceu no jogo contra a Venezuela, no dia 8. A seleção segue agora para a semifinal, que será disputada em Santiago, capital do Chile, nesta quinta-feira (10). Se ganhar, jogará a final, na sexta-feira.
De bom tamanho
Bola pra frente
Passar a régua
Por Roger Pereira
Por Marcio Mittelbach
Por Cesar Caldas
Depois de oito rodadas na zona de rebaixamento – duas delas na lanterna –, terminar o primeiro turno do Campeonato Brasileiro na oitava posição foi até surpreendente. Alternando sequências de vitórias – que só os líderes conseguiram – com sequências de jogos sem vencer – dignas do lanterna do campeonato –, o Atlético aproveitou as oportunidades: não perdeu pontos para os time da zona de rebaixamento, se valeu do fato de o Palmeiras utilizar time reserva, roubou ponto do Corinthians em São Paulo. Mas perdeu para Coritiba e Ponte Preta dentro de casa, inadmissível para quem pensa em não ser apenas figurante do campeonato. O segundo turno começa domingo, no jogo contra o Bahia, para apagar a mancha daquele 6 a 2 sofrido na estreia. Agora é manter a boa fase e mostrar em que parte da tabela o time quer terminar esse Brasileirão.
O revés do último sábado, diante do Boa Esporte, não deve conter o embalo do tricolor. Mas que foi doído foi! A gente sabe da nossa limitação. Sabemos que não vamos subir atropelando todo mundo. É importante agora que esse tipo de atuação não se repita. Mais uma vez a zaga teve erros decisivos e o ataque não teve volume de jogo suficiente. E nem adianta colocar a culpa na catimba do adversário. Fomos incompetentes e ponto final. Diferente do que acontece em casa, o Paraná Clube visitante ainda não conseguiu impor o seu futebol, mesmo diante de adversários frágeis. O negócio é olhar pra frente. Sábado temos mais uma festa na Vila Capanema. Acertadamente a diretoria manteve a promoção: meio ingresso pra quem vai com a camisa e entrada livre para crianças de até 12 anos e mulheres. O adversário é o vice-lanterna. Não tem desculpa. Todo mundo para o Estádio!
O Coritiba fechou o primeiro turno do Campeonato Brasileiro em 10º lugar, com 25 pontos. O objetivo principal desse resultado é evitar o que ocorreu nas duas edições anteriores, quando terminou na 15ª posição e escapou do rebaixamento nas últimas rodadas. Para isso, será necessário alcançar o quanto antes os 44 pontos e então ter tranquilidade para buscar os 50 e voltar à disputa da Copa Sul-Americana. De 12 de agosto a 3 de dezembro, cumprese o final do ciclo trienal da gestão de uma diretoria que, no futebol, terá como única conquista o Estadual deste ano. No âmbito patrimonial, apenas a apresentação de seis maquetes eletrônicas de um novo estádio pelo vice-presidente do clube, Alceni Guerra. Todas tratadas com desdém pelos torcedores, pela inexistência de plano factível de captação de recursos próprios ou investidores externos. Anos para a nação alviverde esquecer.