Brasil de Fato PR - Edição 51

Page 1

Gustavo Oliveira | LEC

Esportes | p. 12

Melhor no ataque

Cultura | p. 11

Agenda cheia O que não falta são atrações culturais para curtir Curitiba nos próximos dias. Entre elas está a cantora Iria Braga, que se apresenta na Biblioteca Pública na sexta

Londrina volta a vencer e sobe na tabela da série B

Ano 02 | Edição 51

PARANÁ

17 a 23 de agosto de 2017

distribuição gratuita Divulgação

CORTES DE TEMER AMEAÇAM CONGELAR ATIVIDADES UNIVERSITÁRIAS Em apenas dois anos, os recursos das universidades federais brasileiras e os investimentos em ciência, tecnologia e inovação tiveram redução de 50%. Cortes Brasil | p. 9 afetam bolsas de pesquisa e manutenção de laboratórios e hospitais.

NO TRAJETO

QUILOMBOLAS

Passageiros do ônibus Curitiba/ Itaperuçu celebram datas comemorativas durante a Perfil | p. 4 viagem

Na quarta-feira (16), o STF adiou novamente o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que questiona a Cidades | p. 5 titulação das terras dos quilombos no Brasil.

Valter Campanato | Agência Brasil

Lava Jato | p. 6 e 7

Arquivo Pessoal

Geral | p. 3

Benefícios aos delatores

Violência impune

Colaboradores da Lava Jato recebem benefícios maiores do que o previsto em lei

Justiça inocenta Beto Richa e acusa manifestantes por Massacre de 29 de abril


2 | Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

EDITORIAL

Qual Venezuela a mídia mostra? D

iariamente, a situação da Venezuela é noticiada pela televisão. O problema é que, pela mídia empresarial, não se sabe de forma completa o que ocorre naquele país. Afinal, como é possível conhecer a realidade sobre países da América Latina, Ásia e África se o mundo é mostrado pela mídia na ótica de Washington, Londres, Buenos Aires e São Paulo? O que não é mostrado é que os trabalhadores na Venezuela apoiam o governo Maduro, eleito democraticamente. Desde 1998, quando o presidente Hugo Chávez assumiu, a maioria

O interesse dos EUA na Venezuela é econômico, pelas riquezas naturais do país do povo apoiou um projeto que erradicou o analfabetismo, deu mais acesso à cultura, construiu moradias populares. Esse projeto venceu 18 entre 19 eleições. Por outro lado, o governo dos EUA incentiva oposições em di-

ferentes países, com o objetivo de desgastar governos populares ou que simplesmente adotaram políticas independentes. Atualmente, usam de ações violentas. O presidente dos EUA, Donald Trump, tem se declarado em tom de ameaça contra a Venezuela. O interesse é econômico, pelas riquezas naturais do país. Intervenções estrangeiras são inaceitáveis e nunca resolveram o problema dos países. Mas a forma deturpada como os veículos de comunicação empresariais analisam outros países incentiva a chance de invasão e de conflito militar.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 51 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm e Carolina Goetten COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Cicero Martins Junior e Manoel Ramires ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza FOTOGRAFIA Joka Madruga e Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr ANUNCIE administracaopr@brasildefato.com.br

OPINIÃO

16 anos depois da histórica ocupação da ALEP, defesa da Copel segue urgente Cicero Martins Junior é engenheiro civil, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná e funcionário da Copel

N

o dia 15 de agosto, os trabalhadores da Companhia Paranaense de Energia - Copel alcançaram um marco histórico importantíssimo, com o início do enchimento do reservatório da Usina

Hidrelétrica Colider/MT - a primeira usina fora do estado do Paraná. Por meio deste grandioso empreendimento, a Copel faz jus à ousadia e superação que são marcas de uma história dedicada ao interesse público e à soberania energética. Não poderia haver data mais simbólica para uma conquista como esta: este 15 de agosto marca também 16 anos de uma das maiores manifestações cívicas da históArquivo Fórum Popular Contra a Venda da Copel

ria do povo paranaense: em protesto cona ocupação da Assemtra as manipulableia Legislativa contra ções do governo a privatização da Copel. para derrubar o O povo do Em 2001, a venda da Projeto de Lei que maior empresa paraimpediria a venParaná estava naense era uma obsesda. certo ao negar são do governo Jaime Cinco dias deabrir mão de sua pois, 20 mil paLerner (DEM, antigo PFL). Naquele períoranaenses foram maior empresa do, a Copel teve paraliàs ruas, em masados grande parte de nifestação que seus investimentos na demonstrou o manutenção do sistema. Foi humidescontentamento com a política lhada como empresa “ineficiente e entreguista que já havia dilapidado onerosa”, fatiada e desestruturada a Telepar e Banestado. para satisfazer interesses externos. O desgaste para o grupo político Mas se o governo queria vender do governo se ampliou, a ponto de a Copel a qualquer custo, os sindio governador Jaime Lerner, no inícatos e associações de profissionais, cio de 2002, admitir a desistência da os estudantes, os partidos populatentativa de privatização. res, a sociedade civil organizada se Apesar de todas as dificuldades levantaram contra aquele processo. impostas às empresas públicas no O Fórum Popular Contra a Venda contexto atual, conquistas como a da Copel reuniu 426 entidades na alcançada pela Copel nos dias de campanha “A Copel é Nossa”. hoje, com a Usina Colider, demonsEm 15 de agosto daquele ano, tram que o povo do Paraná estapela primeira vez em sua história, a va certo ao negar abrir mão de sua Assembleia foi ocupada pelo povo, maior empresa.


Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

FRASE DA SEMANA

Chico Camargo | CMC

“Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor da sua pele ou do seu histórico de vida ou de sua religião”,

Só dos animais? Seis ex-servidores comissionados protocolaram, nesta terça-feira (15), uma denúncia contra a vereadora de Curitiba Kátia Dittrich (SD), conhecida como Kátia dos Animais de Rua. O documento diz que “a vereadora e seu marido passaram a exigir dos assessores uma contribuição monetária, de forma compulsória e com ameaças de exoneração em caso de recusa”. O caso foi levado ao Ministério Público do Paraná e ao partido da vereadora. Marcello Casal Jr | Agência Brasil

Diversidade A paraense Symmy Larrat, 38 anos, foi eleita presidenta da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), na última semana. É a primeira vez que uma travesti ocupa o cargo da associação fundada em 31 de janeiro de 1995. Até o momento, apenas homens gays haviam ocupado a liderança da entidade. A associação reúne mais de 300 entidades LGBTs, e está presente em todos os estados do país.

disse o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, via Twitter, reproduzindo o pensamento do ex-presidente sulafricano Nelson Mandela. O comentário se referia ao episódio do jovem, contrário aos negros, gays, judeus e imigrantes, que atropelou pessoas que protestavam contra o movimento de extrema direita. Jose Orihuela | APEC 2016 Peru

Justiça inocenta Beto Richa e acusa manifestantes por Massacre de 29 de abril Franciele Petry Scharamm | Curitiba (PR) A Justiça do Paraná inocentou o governador do estado, Beto Richa, e outras cinco pessoas pela ação policial que resultou em mais de 200 pessoas feridas durante uma manifestação, no dia 29 de abril de 2015. A decisão da juíza Patricia de Almeida Gomes Bergonse, publicada na terça-feira (15), rejeitou a ação civil pública movida pelo Ministério Público (MP) do Paraná e considerou que os manifestantes foram culpados pela violência policial. Em setembro de 2015, o MP moveu a ação contra Beto Richa, o deputado estadual Fernando Francischini – na época secretário de Segurança Pública – e outros quatro comandantes da Polícia Militar por improbidade administrativa em operação policial que resultou no que ficou conhecido como o “Massacre do Centro Cívico”. Cerca de 30 mil pes-

soas de diferentes categorias participavam de uma manifestação em frente à Assembleia Legislativa do Paraná quando foram atacadas pela polícia com tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Cerca de 50 pessoas foram hospitalizadas e 213 ficaram feridas. Os manifestantes protestavam contra a proposta de reforma na ParanaPrevidência, o regime próprio da Previdência Social dos servidores paranaenses, que foi aprovada apesar dos protestos populares. Funcionária de uma escola estadual e integrante da

APP-Sindicato dos trabalhadores em educação pública do Paraná, Nádia Aparecida Brixner considera “lamentável” a forma com que a Justiça vê a ação. “Acaba mais uma vez condenando as vítimas ao invés de condenar os agressores”. Ela também se indigna com a violência da ação. “Nós não estávamos lá querendo melhorias na carreira. Estávamos defendendo aquilo que nós tínhamos em lei que o governo do estado queria nos tirar”. Em nota, o Ministério Público comunica que não foi oficialmente notificado, mas deve recorrer da decisão. Joka Madruga

3 | Geral

NOSSO DIREITO Mariana Auler

O que é união estável? A união estável foi criada para o reconhecimento das famílias que, apesar de construírem uma vida conjunta, não têm sua união formalizada como casamento. Em muitas situações a comprovação da relação pode ser necessária, especialmente nos casos de morte ou invalidez. A declaração da união estável serve para proteger a família, garantindo direitos ao companheiro ou companheira, que vão desde o recebimento de pensões e herança, até a inclusão em planos de saúde e o acesso a financiamentos. O reconhecimento da união pode ser realizado por um processo judicial, ou pelo próprio casal por escritura pública feita no Cartório de Notas, ou por um contrato registrado no Cartório de Títulos e Documentos. Em ambos os casos, poderá se escolher o regime de bens desejado. A união estável se assemelha ao casamento nos direitos básicos garantidos ao casal e sua vantagem está na facilidade de sua formalização, que é menos custosa. Mariana Auler é advogada do Instituto Democracia Popular (IDP)

Quer sugerir um tema? Escreva para bdfparana@gmail.com


4 | Cidades

Perfil

Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

De Itaperuçu a Curitiba: duas horas de viagem e de festa

Linha metropolitana é conhecida na região por passageiros que celebram datas comemorativas durante o trajeto Carolina Goetten Curitiba (PR)

É

comum nos ambientes de trabalho que colegas organizem festas para se despedir de quem vai embora, ou para compartilhar datas especiais. Com Adelaide Gomes de Castro não foi diferente: no último dia do antigo emprego, que coincidiu com a data de seu aniversário, ganhou bolo enfeitado com sua

Quem mais estiver no ônibus e tiver vontade de participar também é muito bem vindo Angélica dos Santos

foto e coberto de glacê. No caso de Adelaide, porém, as condições da festa foram bastante exóticas em relação aos modelos corporativos e tradicionais. Ela é cobradora e o evento de despedida, organizado pelos passageiros, aconteceu entre os trancos e barrancos da linha metropolitana Curitiba/Itaperuçu, conhecida por reunir um povo pra lá de festeiro. “Começamos fazendo cafezinhos, depois passamos a comemorar aniversários, chás de bebê, finais de ano. Agora, ao menos um café da manhã no ônibus já é rotina entre nós”, conta Angélica dos Santos, que trabalha em um restaurante. O trajeto de 31 km entre Curitiba e Itaperuçu chega a levar quase duas horas e as festinhas foram uma maneira encontrada pelos passageiros para se distrair durante a viagem. “Comemoramos muitos eventos, organizamos um

Arquivo Pessoal

Os fundos do ônibus Curitiba / Itaperuçu são o salão de festas dos passageiros, que comemoram aniversários, despedidas e até chá de bebê

amigo secreto quando está perto do natal, já trocamos chocolates na páscoa… tudo é motivo para celebrar”, enumera. Em festa, apesar da dura rotina No Curitiba/Itaperuçu, a festa começa cedo: o ônibus sai da região metropolitana sempre às 6h30 da manhã e atravessa

as estradas entre os risos, a amizade e o bom humor dos passageiros. As relações de companheirismo são uma forma de compensar a dureza do cotidiano, em que a vida começa de madrugada e se gasta entre as quase quatro horas de locomoção, da ida à volta. “Nossas relações se fortaleceram tanto nessa rotina que também faze-

Deputados elaboram calendário de ações em defesa dos atingidos por barragens Redação | Curitiba (PR) Uma programação voltada a defender as populações atingidas por barragens foi proposta, na segunda-feira (14), na Assembleia Legislativa do Paraná, pela Frente Parlamentar que acompanha esses casos. As atividades têm o objetivo de propor políticas públicas para garantir os direitos das populações atingidas, além de planos de desenvolvimento para as regiões impactadas e ameaçadas.

Arquivo Pessoal

O calendário prevê audiências públicas nos municípios de Capanema (em 31 de agosto) e Laranjeiras do Sul (14 de setembro). Em outubro e novembro, ficaram indicadas audiências na região noroeste do estado e no vale do Ribeira, respectivamente. “Migalhas” O Paraná é o segundo principal estado gerador de energia elétrica do país, atrás apenas de São Paulo. Abriga dezenas de barragens de grande, médio e pequeno porte, que já afetaram milhares de famílias.

Enquanto isso, dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) apontam que o estado arrecadou mais de R$ 340 milhões com a geração das usinas nos ultimo três anos. Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a parcela desse valor destinado ao desenvolvimento regional e das comunidades é mínimo – ou, nas palavras de Nivea Diógenes, do MAB, são “migalhas”. “É preciso que o legislativo e o executivo olhem com rigor para esta situação e proponham políticas públicas para estes locais”.

mos festas e visitas às casas uns dos outros”, relata Angélica. “Quem mais estiver no ônibus e tiver vontade de participar também é muito bem vindo”. Enquanto a maioria dos ônibus só oferece um empurra-empurra, olhares carrancudos e a passagem mais cara do país, um pouco de afeto pode ser o melhor custo-benefício.


Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

5 | Cidades

Audiência pública fortalece luta pela titulação de territórios quilombolas Julgamento do STF pode abolir o direito à titulação de terras tradicionais Leandro Taques

Paraná tem 86 comunidades quilombolas, mas nenhuma foi titulada até o momento

Carolina Goetten Curitiba (PR)

U

ma audiência pública voltada a unir forças pelo futuro das comunidades quilombolas ocorreu na manhã desta terça-feira (15), em Curitiba, na Assembleia Legislativa do Paraná. O evento foi realizado com o objetivo de discutir ferramentas de resistência do movimento negro e de apoio da sociedade civil para garantir o direito dessas populações a permanecerem em seus territórios tradicionais. O momento é de atenção e de luta. Isso porque o Supremo Tribunal Federal (STF) irá retomar um julgamento que se estende desde 2012 – marcado para esta quarta-feira (16), foi adiado sem previsão de nova data. É fruto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade protocolada em 2004 pelo Partido Democratas (DEM), que questiona o decreto 4887/2003. Esse decreto regulamenta a titulação das terras quilombolas e, caso aprovado, os títulos de todos os quilombos brasileiros podem ser anulados: sem garantia legal. Novas titulações também não serão mais possíveis às seis mil comunidades em todo o país que ainda aguardam o reconhecimento de seus direitos.

dar corpo a um debate que realmente absorva as necessidades e culturas desses povos, Isabela da Cruz alerta: numa casa de leis, como o STF, devese respeitar as leis do universo. “Sei que, num evento como este, em que o foco é um julgamento, parece que fugi do tema. Mas estou aqui para falar de vida, de esperança, de luta – porque é isso que as comunidades vêm fazendo desde 1988. Nossos passos vêm de longe, desde muito antes da Constituição vigente, e eu sei porque as histórias são transmitidas de forma oral”, destacou.

Encontro local pela luta nacional A audiência foi proposta pelo deputado Professor Lemos (PT), A jovem quilombola Isabela da em conjunto com a Federação EstaCruz, estudante de Direito da Univerdual das Comunidades Quilombosidade Federal do Paraná, compôs a las do Paraná (Fecoqui). Para Lemos mesa de abertura e situou o contex– único parlamentar da Alep que parto em que ainda vivem negras e neticipou do evento – é preciso que o Esgros no Brasil: mais de 200 anos após tado brasileiro trate os povos tradiciouma suposta abolição da escravatunais com isonomia e igualdade. ra, as comunidades quilombolas ainO procurador-geral de Justiça do da precisam lutar pelo direito de exisMinistério Público do Paraná, Olymtir. “Não precisamos de um pedaço pio Sotto Maior, criticou em sua fala de papel para continuar sendo quem a aplicação das leis no Brasil. “Temos somos. Mas se a sociedade dá tanto uma constituição conhecida como valor a um documento, vamos lutar ‘cidadã’ exatamente pelas promessas por dentro do judiciário também”, de cidadania que contém. Isso está contrapôs a estudante. contemplado na teoria, mas na prátiO depoimento de Isabela da Cruz ca ainda é uma realidade distante de alcançou pontos muitos – especialcruciais em um demente da popubate que dê conlação negra”, afirta dos direitos e dimou. ficuldades vividas Considerando Não precisamos de pelos povos tradia importância de cionais – especialum pedaço de papel debater e garanmente num Brasil tir o direito à terpara continuar gerido pelo agrora – especialmente sendo quem somos. a quem é invisibinegócio. “Não podemos falar em Mas se a sociedade lizado pelas leis e comunidades quipolíticas do nosso dá tanto valor a um lombolas apenas país – a conversa sob o olhar da lei despertou a ancesdocumento, vamos ou da justiça, que tralidade e o sentilutar por ele no não foi pensada a mento de conexão judiciário” partir de nós, nem através da fé entre da nossa cultura”, Isabela da Cruz comunidades quidenunciou. Para lombolas em todo

QUILOMBOS NO PARANÁ

86

COMUNIDADES QUILOMBOLAS ESTÃO NO PARANÁ, DE ACORDO COM A FECOQUI

20 mil FAMÍLIAS VIVEM NESSES QUILOMBOS

37

SÃO RECONHECIDAS PELA FUNDAÇÃO PALMARES, DO MINISTÉRIO DA CULTURA

0

NENHUMA COMUNIDADE FOI TITULADA ATÉ O MOMENTO, DE ACORDO COM O INCRA

o país. “A cultura branca e o processo de europeização agem de forma tão intensa que o movimento negro não consegue dar conta de tamanha política de embranquecimento. Mulheres perdem força de luta em igrejas evangélicas, que a transformam em resignação”, ponderou a professora e historiadora Heliana Hemeterio, militante da Rede de Mulheres Negras do Paraná. No julgamento, Isabela da Cruz cobra sensibilidade e bom senso do STF. “Quero que olhem e enxerguem a população rural do Brasil. Quando se tira um quilombola de um território tradicional, ele perde o vínculo com sua humanidade”, disse a estudante.


6 | Lava Jato

Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

7 | Lava Jato

Delatores da Lava Jato recebem benefícios maiores que o previsto em lei Uso indiscriminado de colaborações premiadas na operação coloca garantias constitucionais em risco

N

enhuma investigação sobre condutas criminosas firmou tantos acordos de delação premiada no Brasil quanto a operação Lava Jato. Da noite para o dia, o termo se tornou comum nos noticiários e em rodas de conversa, e a população não demorou a entender como funciona o jogo. A delação premiada nada mais é que uma negociação entre Estado e réu. O Estado prevê um acordo e oferece benefícios, como a redução ou a isenção da pena. Em troca, o réu assume que cometeu um ou mais delitos e fornece indícios que ajudam a demonstrar a participação de terceiros em um crime. Na Lava Jato, os delatores têm recebido benefícios maiores do que o previsto em lei, o que causa um desequilíbrio na negociação e pode estimular cooperações falsas. Essa foi uma das conclusões do pesquisador Thiago Bottino, membro da Comissão Permanente de Direito Penal do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), em artigo publicado pela Revista Brasileira de Ciências Criminais no final de 2016. Desequilíbrio Bottino analisou os acordos de colaboração premiada firmados entre o Ministério Público Federal (MPF) e três investigados, entre agosto e novembro de 2014: Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Pedro Barusco Filho, ex-gerente da estatal, e o do-

O que diz a lei A delação premiada foi incluída pela primeira vez na legislação brasileira em 1990 na Lei nº 8.072, conhecida como Lei dos Crimes Hediondos. O artigo 8º afirma que “o participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços”.

DIFERENÇA ENTRE DELAÇÃO E COLABORAÇÃO Delação premiada e colaboração premiada costumam ser tratadas como sinônimos, mas têm significados diferentes. Se um réu ajudar a localizar e a recuperar certa quantia de dinheiro desviada da corrupção, por exemplo, sem nomear os corruptos ou corruptores, isso não configura uma delação, mas uma colaboração. Delação premiada é, portanto, um tipo de colaboração. Outra prática comum na operação Lava Jato são os acordos de leniência, firmados pelo MPF junto a pessoas jurídicas. Ao firmar esse acordo, a empresa paga uma multa para ser “perdoada” nos processos em que está envolvida.

Agência Brasil

Léo Pinheiro pediu redução de pena para dizer que o triplex era de Lula

Em 23 anos, a legislação foi alterada sete vezes. O que muda, basicamente, são normas que condicionam a redução de pena à natureza dos crimes denunciados. A alteração mais relevante aconteceu em agosto de 2013, quando a então presidenta Dilma Rousseff (PT) sancionou a Lei 12.850. Ela prevê que a negociação dos termos da delação se dê entre o delegado, o investigado e o advogado de defesa, ou entre o MPF e o investigado e seu advogado. “Um dos requisitos exigíveis [na Lei 12.850] é (...) a distância do juiz, a fim de garantir a imparcialidade nas “negociações”, conferindo a ele uma passividade ou mesmo restrições no seu papel de garantidor”, analisa a professora Soraia da Rosa Mendes, em editorial publicado este ano pela Revista Brasileira de Direito Processual Penal. “Isso pode resultar em uma relativização dos direitos e garantias fundamentais que permeiam a pretensão punitiva e acabar por justificar ilegítimas prisões preventivas”, acrescenta.

A análise de Thiago Bottino encontra respaldo no 16º parágrafo do artigo 4º daquela lei, segundo o qual “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”. Ou seja, a informação prestada por um delator não pode ser considerada prova. O caso Lula A condenação do ex -presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeira instância no “caso triplex” foi considerada, por vá-

A maior parte dos delatores são empresários ou executivos de grandes corporações

rios juristas, uma “aberração”. É o que denuncia o livro “Comentários a uma sentença anunciada: o caso Lula”, lançado no último dia 11. A obra foi editada sob a coordenação de três professoras de Direito da UFRJ, PUC-Rio e Unila, Carol Proner, Gisele Cittadino e Gisele Ricobom, e reúne artigos de 100 advogados. A crítica mais recorrente à sentença do juiz Sérgio Moro foi o peso dado às declarações de Leo Pinheiro, um dos sócios da empreiteira OAS. O ex-presidente Lula foi condenado em primeira instância a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O petista é acusado de ocultar a propriedade de um apartamento triplex no Guarujá, litoral paulista. O imóvel teria sido pago como parte da propina recebida pela OAS, em troca de favorecimento em contratos com a Petrobras. Os juristas que produziram o livro afirmam que Sérgio Moro apostou na hipótese de ocultação de patrimônio justamente porque não havia provas documentais de que o imóvel pertencia ou seria destinado a Lula. O principal indício, apresentado na sentença condenatória, é o depoimento do delator Leo Pinheiro, condenado a 26 anos e sete meses de prisão, que propôs uma redução de pena em dois terços para confirmar aquela informação. O Brasil de Fato Paraná acompanhou a coletiva de imprensa do ex -presidente Lula em São Paulo, um dia após a condenação. Na ocasião, o petista voltou a criticar o método de obtenção de provas na Lava Jato: “O cara assiste na TV que vale a pena delatar, que delatar é um prêmio, para poder conviver com a riqueza que roubou. Aí aparece gente morando em condomínio de luxo, perto da praia... e o cara que está preso fala: ‘pô, eu estou condenado a 26 anos de cadeia, e tudo que eu tenho que falar [para diminuir a pena] é que o Lula sabia’?”, ironizou. “‘Por que é que eu vou pegar tanto tempo de cadeia por causa do Lula?’ Assim foi com o Léo, assim foi com outros”, lamentou. Luxo e perdão Paulo Roberto Cos-

ta e Pedro Barusco Filho conseguiram autorização para cumprir a maior parte da pena em apartamentos de luxo, no Rio de Janeiro. Réu e delator nos casos Banestado e Lava Jato, Alberto Youssef foi condenado, ao todo, a 121 anos de prisão. Com a pena reduzida em três quartos, o doleiro deixou a cadeia após as duas delações, e vive em um condomínio luxuoso em São Paulo. O advogado Rubens Rodrigues Francisco, diretor jurídico da Associação Nacional de Defesa e Amparo

às Vítimas de Abuso de Poder (Provitimas), também critica os benefícios “exagerados” concedidos aos delatores na Lava Jato. Além de violar a legislação brasileira, segundo ele, a Lava Jato ameaça o tratado internacional firmado na Convenção Americana de Direitos Humanos em San José, na Costa Rica, em 1969. “O Pacto de San José veda a produção de provas contra o próprio réu. E a delação premiada é justamente isso”, disse. “O indivíduo pro-

duz provas contra ele mesmo na certeza de que não vai ser punido, mas premiado. A ideia original era a diminuição de pena. Agora, ele não tem sanção nenhuma, ainda sai com dinheiro do país e prejudica outros réus”. Até o fechamento desta reportagem, a Lava Jato firmou 158 acordos de colaboração com pessoas físicas. A maior parte dos delatores, cerca de 52%, são diretores ou executivos de grandes corporações.

BENEFÍCIOS NÃO PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Substituição da prisão cautelar pela prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica para monitoramento.

Limitação do tempo de prisão preventiva para 30 dias, independentemente da efetividade da colaboração.

Fixação do tempo máximo de cumprimento de pena em dois anos, a ser cumprida em regime semiaberto, independente da sentença.

Paulo Roberto Costa ex-diretor de abastecimento da Petrobras

Fixação do tempo máximo de cumprimento da pena entre três e cinco anos, em regime fechado, com progressão automática para o regime aberto, independentemente da sentença. Exclusão de quatro imóveis e um terreno da lista de bens apreendidos para pagamento de multa, caso os valores recuperados com ajuda dele superarem em 50 vezes o valor dos imóveis.

Pedro Barusco Filho ex-gerente da Petrobras

Cumprimento do restante da pena em regime aberto.

Autorização para as fi lhas usarem bens que são, declaradamente, produto de crime, enquanto ele estiver preso em regime fechado.

Liberação de um imóvel em favor da ex-mulher e de outro imóvel em favor das filhas, sem a comprovação de que os bens são oriundos de crime ou não.

MPF se comprometeu a trabalhar para que não sejam aplicadas sanções a ele ou a suas empresas em ações futuras.

Alberto Youssef empresário e doleiro

Limitação do tempo de cumprimento de todas as penas aplicadas ao colaborador pelo prazo máximo de 2 (dois) anos, independente das penas fi xadas na sentença judicial.

Fotos: Agência Brasil

Daniel Giovanaz Curitiba (PR)

leiro Alberto Youssef. Os três casos tiveram ampla repercussão midiática, deram legitimidade à operação e forneceram as bases para os demais acordos no âmbito da Lava Jato. As considerações finais de Thiago Bottino são uma espécie de alerta. “Os exemplos de acordos examinados, que excedem em muito os benefícios previstos em lei, oferecem incentivos exagerados, cuja legalidade pode até ser questionada”, afirma. “Juízes deveriam, no ato de homologação, atentar para essas inconformidades legais e suas possíveis consequências, para assegurar a plena eficácia do instituto, dada a potencialidade que (...) têm de levar a cooperações falsas ou redundantes”. Além de uma adequação dos benefícios, o autor propõe que as declarações prestadas pelos investigados deixem de ser consideradas provas, mas sim, meios de investigação. O argumento é simples: para um réu condenado em primeira instância, pode parecer vantajoso prestar informações, mesmo que falsas, para conquistar alguns anos de liberdade – afinal, diante de uma pena que já é alta, ele não teria “nada a perder”.


8

| Nacional

Brasil de 8 Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

Eleitores pedem que Requião saia do PMDB Senador deve se perguntar como deixar o partido sem ser acusado de traição Jefferson Rudy | Agência Senado

Manoel Ramires | Terra Sem Males | Curitiba (PR)

O

PMDB vem se convertendo rapidamente no partido mais odiado do Brasil. Motivos não faltam. O antigo MDB de guerra, sigla contra a ditadura e que protagonizou o movimento pela democratização, já é caracterizado como o partido que, ao lado do PSDB, articulou o golpe. Mais do que isso. À imagem negativa de um partido corrupto, que tem em suas fileiras Eduardo Cunha, Romero Juca, Renan Calheiros, Eunício de Oliveira e Moreira Franco, se soma a de uma organização que atua para retirar direitos da classe trabalhadora. Uma tríade

que vai retalhar muito voto em 2018. Requião resiste como muitos petistas resistiram a sair do partido no auge do Mensalão ou da Lava Jato. A permanência se justifica com o argumento de que é necessário “limpar o partido por dentro”. É um argumento legítimo, embora careça de força na medida em que Michel Temer toma cada vez mais de assalto a sigla. O PMDB, ao contrário do PT, não se sustenta em seus militantes e programa, embora tenha milhares de filiados. No PMDB, a militância gravita em torno do caciquismo. Esse é um dos dilemas de Requião: como deixar o PMDB sem ser acusado de traição ou de ter abandona-

do o barco? Talvez pelo caminho de Kátia Abreu, que foi expulsa do partido no dia 16 por infidelidade. Já o senador, mais do que qualquer um, sabe que está dando murros em ponta de faca. E sabe também que mudar de partido vai muito além do próprio capital político. Envolve entrar em uma nova estrutura com suas virtudes e defeitos. O ex-governador, por outro lado, sabe que os votos petistas e progressistas podem não ser dele se continuar no PMDB. “Voto em você, apesar do seu partido” será cada vez mais raro. Marina, por exemplo, que flertou com a direita e apoiou Aécio e o impeachment, perdeu uma massa considerável de eleitores que não suportam traíras. Já Requião, vendo as portas de seu partido se fechando e uma saída de peito aberto vislumbrando no horizonte, talvez não tenha uma escolha difícil. As próprias redes sociais do senador dão essa indicação a ele. Seus eleitores, no Twitter clamam por novos ares para um velho político que ainda tem fôlego para se rejuvenescer na vida pública.

FALAÍ! Radioagência Brasil de Fato

Michel Temer ainda pode ser afastado definitivamente da presidência? Agência Brasil

“O que acontece? Todo o processo de impeachment depende inicialmente de uma primeira decisão do presidente da Câmara dos As denúncias de criDeputados, que, ao receme de responsabilidade ber alguma denúncia conenvolvendo o presidente tra o presidente da Repúbligolpista Michel Temer (PMca, deve fazer uma primeira DB) ocuparam as páginas análise sobre as bases jurídos noticiários do país. No dicas para que esse procesdia 2 de agosto, os deputaso tenha prosseguimento dos rejeitaram a denúncia na sua tramitação. Hoje, no da Procuradoria Geral da caso do presidente Michel República de corrupção Temer, já há um conjunto passiva envolvendo o peevasto de demedebista. O núncias feiresultado foi tas contra ele. de 263 votos Em nenhucontra a dema delas, tonúncia e 227 É preciso davia, houve votos favoum despacho ráveis. Neste pressão popular do presidenmomento a para que Maia te da Câmara, situação do reconheça que Rodrigo Maia presidente (DEM) autotem gerado há bases para rizando que dúvidas na um processo de o processo população. tenha prosseÉ o caso impeachment guimento na de Matheus, contra Temer câmara dos um estudante deputados. É de educação neste estágio em que se enfísica de 19 anos, que fez contra. contato com o Brasil de Fato Então, resta por parte dapara saber em que pé está o queles que entendem que impeachment de Temer. esse é o caminho adequado Gabriel Sampaio, propara o Michel Temer, a presfessor, advogado e defensor são popular para que Rodrida presidenta Dilma Rousgo Maia reconheça que há seff (PT) no processo de imbases para o prosseguimenpeachment que ela sofreu to de um processo de imno ano de 2016, respondeu peachment”. a pergunta do estudante: Marianna Rosalles São Paulo (SP)


Brasil de Fato PR 9

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

9 | Brasil

Cortes do governo Temer ameaçam suspender atividades universitárias Orçamento congelado afeta bolsas de pesquisa e manutenção de laboratórios e hospitais Marcos Solivan | UFPR

Pedro Rafael Vilela | Brasília (DF)

E

m apenas dois anos, os recursos das universidades federais brasileiras e os investimentos em ciência, tecnologia e inovação tiveram uma redução total de 50%. A situação é tão grave que, se nada for feito, boa parte das instituições de ensino superior mantidas pelo governo federal correm o risco de paralisar suas atividades antes mesmo do fim do ano. Isso por que vai faltar dinheiro para pagamento de contas de água, luz, limpeza e segurança, além das próprias atividades acadêmicas e de pesquisa, como manutenção de bolsas de iniciação científica, compra de materiais e insumos para laboratório e equipamentos. “Trata-se do pior orçamento em 10 anos”, aponta Tamara Naiz, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). “Educação e saúde não são responsáveis pela crise econômica, mas sempre são punidas por isso”, lamenta o professor Virgílio Arraes, presidente da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB). Os cortes também comprometem serviços diretos à sociedade, como o atendimento à saúde realizado nas clínicas e hospitais universitários mantidos

com salários atrasados e suspensão pelas instituições federais. do ano letivo. “Há uma possibilidade de que, Para denunciar esse estranguchegando a setembro ou outubro, lamento financeiro, um grupo de se o governo mantiver essa diretriz, professores univerhaverá instituições sitários, cientistas, esque serão obrigatudantes e pesquisadas a suspender dores, organizados suas atividades”, em torno da campaacrescenta Virgílio, Educação e nha “Conhecimencitando o exemto Sem Cortes”, criou plo da Universidasaúde não são “Tesourômetro”, de Estadual do Rio responsáveis pela oum painel eletrônico de Janeiro (UERJ), crise econômica, que mostra, em temque já foi uma das po real, o impacto dos melhores instituimas sempre são cortes desde 2015, ções do país, mas punidas por isso tendo como referênatualmente vive Virgílio Arraes cia o orçamento feuma grave crise de deral daquele ano. E asfixia financeira,

os números são alarmantes. Em dois anos, deixou-se de aplicar o montante total de R$ 11,7 bilhões na geração de conhecimento e desenvolvimento científico e tecnológico. A campanha disponibilizou uma petição eletrônica que já recolheu mais de 73 mil assinaturas. A ANPG também convocou estudantes, pesquisadores e a comunidade em geral para uma série de manifestações que estão sendo convocadas para esta quinta-feira (17), em todo o país, para denunciar a situação do setor de educação, ciência e tecnologia. Inversão de prioridades Esse valor contingenciado está muito próximo dos R$ 13 bilhões que o mesmo governo de Michel Temer gastou em apenas dois meses, na forma de emendas parlamentares, para evitar que os deputados federais autorizassem sua investigação por crime de corrupção passiva, conforme denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR). “O governo abre os cofres para atender os deputados e salvar seu próprio pescoço, enquanto isso, a produção de conhecimento está agonizando, correndo um alto risco de o país viver um verdadeiro colapso científico e tecnológico”, critica Tamara Naiz, da ANPG.

Para Maria do Rosário, condenação de Bolsonaro é vitória de todas as mulheres Cristiane Sampaio Brasília (DF) O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, condenou, na tarde desta terça-feira (15), o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) por danos morais causados à deputada Maria do Rosário (PT

-RS). A decisão desta terça foi tomada pela 3ª Turma do STJ, que julga crimes contra os direitos humanos. Ele terá que pagar R$ 10 mil à deputada e deverá fazer uma retratação pública, com pedido de desculpas a Maria do Rosário. Bolsonaro ainda poderá recorrer ao Supremo

Tribunal Federal (STF) Após o resultado do julgamento, a deputada considerou que a condenação é uma vitória de todas as mulheres e também da luta contra o preconceito, o ódio e a violência sexual: “A utilização daquelas palavras em um país onde a cada 11 minutos uma mulher é estuprada acaba cons-

truindo, no imaginário cultural e social, a ideia de que as vítimas são responsáveis”. Maria do Rosário se refere à entrevista de Bolsonaro, concedida em 2014, a um jornal, na qual ele diz que ela “não merece ser estuprada porque é muito feia”. Em plenário, o deputado já havia dirigido agressão semelhan-

te a ela. Após ser condenado nas duas primeiras instâncias, Bolsonaro recorreu ao STJ, alegando que as declarações estariam protegidas pela chamada “imunidade parlamentar”, garantida pela Constituição Federal, por terem sido dadas no contexto de trabalho no Legislativo.


10 9 | Cultura

Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

Documentário denuncia apoio da Volkswagen à ditadura brasileira Ex-funcionário preso após ser delatado pela própria Volks conta sua história Reprodução

Por Júlia Dolce São Paulo (SP)

L

ucio Antonio Bellentani foi preso e torturado em 1972 pelos oficiais da Ditadura Civil-Militar Brasileira, após ser denunciado como militante comunista pelos seguranças do seu próprio local de trabalho: a Fábrica da Volkswagen, de São Bernardo do Campo (SP). A história dele é uma das retratadas no documentário “Cúmplices? A cooperação da Volks com a Ditadura Militar”, produzido pela TV pública alemã e disponível na internet. A produção busca investigar justamente o apoio da indústria automobilística ao regime militar. A Volkswagen é acusada não apenas de vigiar e delatar funcionários através do Departamento de Segurança Indus-

trial, mas também de ter chefiado um grupo de empresas brasileiras que financiaram a ditadura no país. É o que afirma Bellentani, em entrevista ao Brasil de Fato. “Não foi simplesmente uma ditadura militar, foi uma ditadura civil-militar, porque foi financiada e sustentada por um grupo de empresas, que não é só a Volks. É a Petrobras, o Metrô de São Paulo, a Antártica, a Embraer. Doando veícu-

los, doando dinheiro, doando combustível”. Emocionado, Bellentani conta que ainda sofre com as sequelas psicológicas da prisão. “Eu passei a ser uma testemunha viva do ocorrido dentro da fábrica. Eu fui preso lá, comecei a ser torturado lá. Foram 48 dias de pancadaria e tortura, não tinha dia nem hora. O problema é a sequela psicológica… Quem paga o pato é a minha esposa. Principalmente nes-

dade. A partir dessa coleta, se período que estou dando o MP gerou um inquérito cibastante depoimento, tem vil, com o objetivo de buscar noite que eu sonho que esuma reparação simbólica. tou brigando”. A Volkswagen chegou a Apesar de todas as violacontratar historiadores que ções vividas, Bellentani afircomprovaram o envolvima que ainda tem esperanmento da empresa na ditaça na responsabilização da dura brasileira. Mesmo asVolkswagen. “Não estamos sim, a empresa continua levando essa coisa a público negando os fatos. por vingança, revanchismo, nada disso. O que queremos é a verdade. Que a Volks e as outras [empresas] assumam isso. É necessário uma reparação desse erro. Por que não [...] foi uma ditadura fazer um memorial em homenagem a todos es- civil-militar, porque ses trabalhadores e famí- foi financiada e lias que sofreram?”. Denúncia A denúncia sobre a atuação dessas empresas foi aceita pelo Ministério Público em 2015 com base nos relatos recolhidos pela Comissão Nacional da Ver-

ESPECIAL | Receitas da Agroecologia

4

Sonho de Mandioca

Ingredientes ½ Kg de mandioca cozida 3 ovos caipiras 1 pitada de sal 1 xícara e meia de açúcar 1 kg de farinha de trigo

1 colher de fermento em pó químico 200 gramas de goiabada de corte Óleo para fritar Açúcar com canela para polvilhar

Modo de fazer Amasse a mandioca, misture todos os demais ingredientes, exceto o recheio, e deixe descansar por 20 minutos. Corte a goiabada em pequenos pedaços e reserve. Corte a massa em vários pedaços do tamanho em que deseja deixar seu sonho, abra os e coloque a goiabada. Feche modelando. Frite em óleo bem quente e após frito passe no açúcar com canela para polvilhar.

sustentada por um grupo de empresas, que não é só a Volks

Lucio Antonio Bellentani

Fonte: Livro “Receitas da florestas que a gente planta”, organizado pelo projeto Flora, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Paraná (MST).


Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

11 | Cultura 11

AGENDA 0800 Divulgação

Rosa Armorial O quê: O Movimento Armorial foi criado em 1970 e resgata a cultura nacional de raiz. Ele usa o folclore e seus elementos para a recriação da música popular. O grupo Rosa Armorial, criado em 2010, traz no repertório músicas do movimento armorial, além de compositores do sul do país e canções autorais inspiradas no folclore brasileiro. Quando: 19 de agosto, sábado, das 19h às 20h. Onde: Teatro Sesi Portão, Rua Padre Leonardo Nunes, 180, Portão. Quanto: Gratuito. Pode lotar, por isso chegue mais cedo!

Conversa sobre cinema brasileiro O quê: Haverá a exibição de dois filmes: “Mato eles” (1982, 34’), que denuncia a exploração e o extermínio indígena no município de Mangueirinha, Paraná; e “Xetá” (2010, 20’), sobre o processo que levou à quase extinção dos Xetá no estado e contribuiu para provocar um desastre ecológico irreversível na região. O diretor do filme Xetá, Fernando Severo, e a mestranda em Antropologia pela UFPR, Ana Carolina Mira Porto, serão palestrantes dessa edição. Quando: 18 de agosto, 19h. Onde: Cine Guarani, Portão Cultural, Av. República Argentina, 3430, Portão. Quanto: Gratuito.

Oficina de contos

5º Slam Contrataque

O quê: A oficina será ministrada pelo escritor paulista Nelson de Oliveira, autor de diversos livros de contos. Os interessados devem enviar um breve conto de Tereza Yamashita uma lauda. Quando: Dias 19, 20 e 21 de setembro, das 14h às 17h. Inscrições até 3 de setembro. Mais informações: (41) 3221-4974. Onde: Biblioteca Pública do Paraná, Rua Cândido Lopes, 133, Centro de Curitiba. Quanto: Gratuito, vagas limitadas a 15 pessoas.

O quê: É uma batalha de poesias feita em praça pública, que tem como objetivo ocupar os espaços públicos e usar a poesia como forma de resistência, denúncia e protesto contra as opressões. Quando: Dia 19 de agosto, sábado, das 18h30 às 21h. Onde: Cavalo Babão, Rua Doutor Claudino Dos Santos, 80020-170 Quanto: Gratuito

Divulgação

Divulgação

Roda de Samba com Gogó de Ouro O quê: Luis Rolim e Gustavo Moro chamam para a Roda Jaime V. Queiroz, conhecido como Gogó de Ouro e pai de uma nova geração de sambistas. Para mais informações, ligue (41) 3321-2855. Quando: 22 de agosto, às 19h. Onde: Conservatório de MPB, R. Mateus Leme, 66 - São Francisco, Curitiba. Quanto: Gratuito

Love Film Festival

Iria Braga no projeto Música na Biblioteca

O quê: O romance brasileiro mistura ficção e realidade a contar a história de Luzia (Leandra Leal), uma roteirista brasileira, e Adrián (Manolo Cardona), um ator colombiano, que se conhecem e se Divulgação apaixonam em meio a um festival de cinema. Quando: De 17 a 23 de agosto, de terça a domingo, às 16h - apenas no dia 22, a exibição acontece às 18h. Não haverá sessão dia 19 e 26. Onde: Cine Guarani, Portão Cultural, Av. República Argentina, 3430, Portão, Curitiba. Quanto: R$ 12 inteira | R$ 6 meia

O quê: A cantora curitibana Iria Braga vai se apresentar acompanhada do guitarrista Thiago Coelho e do baterista Denis Mariano. A artista vai interpretar canções de seus ídolos Caetano Veloso, Milton Nascimento -, e de compositores locais. Quando: Dia 18 de agosto, sexta-feira, a partir das 17h30. Onde: Hall térreo da Biblioteca Pública do Paraná, Rua Cândido Lopes, 133, Centro de Curitiba. Quanto: Gratuito

Divulgação


12 | Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 17 a 23 de agosto de 2017

Londrina volta a vencer e sobe na tabela da série B Time tem o ataque mais positivo da competição, com 33 gols Gustavo Oliveira | LEC

Redação BdF PR

A

pós três derrotas seguidas, o Londrina Esporte Clube mostrou o potencial do melhor ataque do Campeonato Brasileiro na série B e garantiu uma vitória, na noite de terça-feira (15). Com direito a goleada em casa, o time venceu o Brasil de Pelotas por 4x1, em partida disputada no Estádio do Café, em Londrina. Com o resultado, o clube sai da 12ª posição e sobe para o sétimo lugar com 30 pontos, apenas quatro atrás da última equipe do G4, grupo de acesso à série A. Já o time gaúcho caiu uma posição e está em 12º, mas o pre-

juízo pode ser maior até o fim da 21ª rodada. Londrina e Brasil de Pelotas estão entre as cinco equipes que mais finalizaram para gol na série B do Brasileiro. A equipe paranaense tem também o ataque mais positivo da competição, com 33 gols marcados até ago-

ra. O jogador do clube, Jonatas Belusso, também é o artilheiro da série, com 11 gols A próxima partida do time está marcada para o próximo dia 26, quando o Londrina enfrenta o Luverdense, no Mato Grosso, pela 22ª rodada do campeonato.

Ex-goleiro do Chelsea conquista cinturão no MMA Redação BdF PR Com 2,05 metros e quase 110 quilos, o paranaense Ricardo Prasel – o “Alemão” – bem que poderia ser uma “muralha humana” em frente a uma trave de futebol. O atleta de 27 anos até explorou essa possibilidade: jogou como goleiro nas categorias de base de times nacionais e chegou a treinar durante seis meses no Chelsea, da Inglaterra. Mas é no MMA – nas artes marciais mistas – que Ricardo tem brilhado, depois de sair dos campos após uma lesão. No último sábado (12), o atleta, natural de Gua-

foi realizada no Ginásio Chico Neto, em Maringá. Ricardo levou o cinturão peso-pesado (de até 120 kg) ao vencer o gaúcho Edison Lopes. Foram necessários apenas 29 segundos para que o atleta ganhasse do adverDivulgação sário. Com o resultado, o paranaense conquista sua 9ª vitória em nove lutas seguidas – todas finalizadas no primeiro round. Com 14 pontos acumulados até julho, o lutador já ocupava a segunda posição do ranking nacional de MMA. Com o novo resultado, deve subir para a primeira colocação.

rapuava, conquistou um dos mais importantes títulos da carreira. O paranaense foi campeão da principal luta da 55ª Edição do Aspera FC, um dos maiores eventos nacionais de MMA. A disputa

Fora da Liberta, perto da Liberta Por Roger Pereira Agora é só o Brasileirão. Depois da vexatória eliminação para o Grêmio nas quartas-de-final da Copa do Brasil, o Furacão caiu na Libertadores. Mais uma vez com duas derrotas, agora para o Santos, no confronto de oitavas-de-final. Mas a eliminação na Vila Belmiro deixou um alento. O Atlético perdeu, é verdade, mas fez, em Santos, sua melhor partida do ano. Encurralou o rival, mandou no jogo, mas esbarrou no azar e na grande atuação do goleiro Vanderlei. O gol adversário foi consequência da postura ofensiva adotada pela equipe paranaense, que precisava de dois gols. Nos próximos três meses, o furacão tem um único foco, o Campeonato Brasileiro. Competição em que já foi lanterna e que, agora, ocupa a sexta posição, dentro do G-6. Vai ser uma grata surpresa vermos o Furacão disputando a América novamente em 2018.

Pelotão de elite Por Marcio Mittelbach A vitória do Paraná Clube sobre o ABC no dia 12 não diminuiu a distância para o G4 – mantiveram-se os quatro pontos. Mas garantiu momentaneamente o tricolor no bloco dos que vão brigar pelo acesso. E como a série B deste ano está equilibrada. Três vitórias são suficientes para tirar quem está na briga de baixo e colocar na briga por uma das quatro vagas na série A. O inverso também acontece. Três derrotas bastam para a luz vermelha acender. O Paraná está hoje a sete pontos da zona de rebaixamento. Para subir serão necessárias doze vitórias nos dezoito jogos que restam. São nove jogos em casa e nove fora. No dia 19, contra o Paysandu, será uma boa oportunidade para o tricolor deslanchar como visitante e mostrar de uma vez por todas que pertence ao pelotão de elite, ao grupo dos que vão brigar para subir.

Base Coxa Menor Por Cesar Caldas Uma das promessas da atual diretoria do Coritiba (chapa “Coxa Maior”), formuladas há quase três anos, era a valorização das categorias de base, que preencheriam um terço do elenco profissional. O triênio está acabando e o que se vê é o descaso com as equipes de juniores e juvenis. Na atual temporada, foram disputados 40 jogos. No inchado elenco de 39 jogadores, apenas a lateral-direita foi preenchida com alguma frequência por atleta da base coritibana (Dodô foi escalado 14 vezes e Rodrigo Ramos, 12). Dentre os zagueiros, Wallison Maia foi titular em menos da metade (18) das partidas. O meia Yan Sasse esteve em campo nove vezes na titularidade. Em um jogo específico (contra o São Paulo), os zagueiros Romércio e Thallison puderam pisar no gramado. Os outros quatro atletas jamais tiveram uma oportunidade. As coisas precisam mudar.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.