Brasil de Fato PR - Edição 52

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Suburbana

Do Rico Ao Pobre

Esportes | p. 12

Perfil | p. 4

Parabéns, Paulo Leminski!

Times curitibanos investem em novos jogadores

Poeta curitibano completaria 73 anos nesta quinta-feira (24)

PARANÁ

24 a 30 de agosto de 2017

distribuição gratuita

Ano 02 | Edição 52

Linguagem Jovem

Ministério de Minas e Energia

ELETROBRAS NA LINHA DA PRIVATIZAÇÃO Anúncio da venda faz parte de pacote de 57 projetos de concessões e privatizações proposto pelo governo Michel Temer (PMDB). Estatal brasileira é a maior empresa de energia da América Latina e tem receita anual de R$ 60,7 bi Brasil | p. 9

Cidades | p. 4

Geral | p. 3

Cultura | p. 10

Risco de terceirização

Violência policial

O filme da minha vida

Greca quer terceirizar saúde e educação de Curitiba

A cada 30h, uma pessoa é morta pela polícia no Paraná

Longa-metragem de Selton Mello foge do estereótipo do cinema comercial


2 | Opinião

Gilmar Mendes debocha dos brasileiros

EDITORIAL

O

ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, ultrapassou todos os limites de uma sociedade democrática. Ele envergonha não só os brasileiros, mas, sobretudo, toda a comunidade jurídica que

Mendes age à luz do dia com a desenvoltura de um político protegido pela toga que veste

OPINIÃO

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Paraná, 24 a 30 de agosto de 2017

não lhe coloca arreios. Mendes age à luz do dia com a desenvoltura de um político protegido pela toga que veste. Hoje, é o maior intocável da República. Ciente disso, aprontou novamente. Soltou, pela segunda vez, o empresário do ramo de transporte, Jacob Barata Filho, de quem foi padrinho de casamento. Este ministro, indicado por pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), sabe que ele deveria se declarar impedido. De acordo com o artigo 134 do Código de Processo Civil, “existem motivos para o im-

pedimento de um juiz caso ele seja parte ou parente de uma das partes do processo”. Mas ele manda às favas o bom senso e solta aliados como o banqueiro Daniel Dantas e o médico acusado de vários estupros, Roger Abdelmassih. Sem contar conversas íntimas com Michel Temer (PMDB) e Aécio Neves (PSDB). O ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, definiu bem o presidente do TSE. “Gilmar Mendes é um jurista de ocasião (...) Ele vai mudando de eixo feito biruta de aeroporto conforme os ventos”. Nessa tempestade, quem perde é o país.

Antonio Cruz | Agência Brasil

Autonomia do professor como prática educativa

Cláudia Senra Caramez, Mestre em educação pela UFPR, Clarice Martins de Souza Batista, Mestre em educação pela UFPR e Diana Cristina de Abreu, Doutora em educação pela UFPR. Todas são professoras da Educação Básica

A

Constituição Cidadã de 1988 apresentou conquistas importantes no que se refere à democracia e à pluralidade de ideias. No tocante à Educação, o artigo 206 em seus incisos II e III apresenta: [...]; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e

o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. Tais liberdades constitucionais estão sob ameaça. Mas de onde vem esse medo? Que motivos levam determinados grupos a combaterem a autonomia do professor em sua prática educativa? Segundo Paulo Freire, a educação deve tornar o educando sujeito, assim ele será autônomo. Esse processo de construção da autonomia passa pela problematização e decodificação crítica do mundo, o homem se descobre como instaurador do mundo e da sua experiência. Em contraposição a um projeto

de emancipação humana, segue-se a ideologia envolta no Projeto de Lei “Escola Sem Partido”, que submete a autonomia e liberdade de ensino às convicções e “pré-conceitos” mo-

A escola deve ser um espaço de acolhida, pluralidade, liberdade e promoção da igualdade

rais e religiosas dos pais dos alunos. Nega-se a própria natureza e especificidade da escola, na transmissão/ construção do conhecimento científico. Ignora-se a própria pluralidade de concepção das famílias, uma vez que numa sociedade diversa, a sala de aula passará a ser espaço de vigilância e de esquizofrenia. Descaracterizar e criminalizar a prática docente preocupa, pois estamos em um processo de regressão e não de garantias de Direitos. A escola, que deveria ser um espaço de acolhida, pluralidade, liberdade e promoção da igualdade, não pode se transformar num espaço de intolerância, vigilância, controle.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 52 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm e Carolina Goetten COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Manoel Ramires e Cláudia Senra Caramez, Clarice Martins de Souza Batista e Diana Cristina de Abreu ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach, Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr


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Divulgação

Desumano O Brasil tem, em média, 10 casos de estupro coletivo por dia, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. As notificações passaram de 1.570 em 2011 para 3.526 em 2016. O número de registros de estupros coletivos mais do que dobrou em cinco anos, segundo dados de hospitais que atenderam vítimas. Acre, Tocantins e Distrito Federal estão no topo da lista de casos. No Paraná, foram 137 casos. Mídia Ninja

Homenagem A sergipana Iva Mayara roubou a cena, em Aracaju, nesta terça-feira (22), durante a caravana Lula pelo Brasil. Ela foi até o ex -presidente Lula e entregou simbolicamente seu cartão do programa ‘Bolsa Família’, e falou do acesso que teve ao ‘Minha Casa Minha Vida’ e ao Prouni. “Quando criei o ‘Bolsa Família’, disseram que eu estava criando vagabundo, na verdade eu estava vendendo esperança”, reagiu Lula, emocionado.

R A DA R DA LUTA

FRASE DA SEMANA

“Sempre sonhei em dar voz às mulheres, numa sociedade marcada pelo machismo e pelo preconceito. Agora vou ter chance de fazer isso”, Disse a piauiense Monalysa Alcântara, vencedora do Miss Brasil 2017. Ela é a terceira negra a vencer o concurso, que está na 63ª edição.

Pedro Carrano

Mulheres do Sudoeste

Reprodução

Uma pessoa é morta pela polícia a cada 30h no Paraná O estado é o quatro maior no número de registro de casos Redação | Curitiba (PR) Nos primeiros seis meses de 2017, 144 pessoas foram mortas em confronto com a Polícia, no Paraná, segundo dados do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do estado. Os números equivalem a uma morte a cada 30h. Desde 2014, 655 casos foram levantados. Mais de 95% dos registros estão relacionados a confrontos com a Polícia Militar – foram 138 nesse período. O levantamento também considerou as mortes por parte da Polícia Civil e Guarda Municipal, que registram dois e quatro casos, respectivamente. Os confrontos que resultaram em morte foram identificados em 43 cidades do estado. Quase metade deles ocorreu na região metropolitana de Curitiba – 31 na capital, 11 em São José dos Pinhais, e 19 nas outras cidades da RMC. Londrina, Foz do Iguaçu e Umuarama também registraram alto número de

pessoas mortas, com 14, 10 e oito casos, respectivamente. Dados Os dados revelam uma pequena queda se comparados com o mesmo período do ano anterior: em 2016, foram 149 mortes em seis meses. Mesmo assim, os números são superiores ao registrado em 2015, quando fo-

NÚMEROS

144

MORTES NO 1º SEMESTRE DE 2017

655

MORTES NOS ÚLTIMOS DOIS ANOS

48,6% DAS PESSOAS MORTAS SÃO NEGRAS

3 | Geral

ram identificados 247 casos. Os dados colocam o Paraná como 4º estado com maior número de mortes por violência policial, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, segundo o Atlas da Violência divulgado em 2017 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento realizado pelo Gaeco também traz outro dado alarmante: quase metade das pessoas mortas (48,6%) eram negras, apesar de apenas 28% dos habitantes do estado serem negros. Além disso, 71,5% das mortes foram de pessoas com menos de 30 anos. Investigações Apesar do alto número, a maior parte dos casos não é investigada. Das 371 mortes registradas em confronto com a Polícia Militar entre 2014 e 2015, em apenas 15 foram instaurados processos administrativos. Entre 2008 e 2015, apenas 19 policiais militares foram excluídos por homicídio.

Mais de 100 mulheres de 42 municípios do Sudoeste do Paraná participam do Encontro Regional de Mulheres, nesta quarta-feira (23). A atividade é organizada pelo Coletivo de Mulheres das organizações e movimentos da Agricultura Familiar e Camponesa da região, e marca a retomada do trabalho regional de organização das mulheres.

Direitos congelados nos Correios Trabalhadores dos Correios estão com a campanha salarial referente ao Acordo Coletivo de Trabalho 2017/18 suspensas até o dia 31 de dezembro, por decisão do vice-presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Emmanoel Pereira. O governo Temer (PMDB) ameaça ainda mudar o plano de saúde dos funcionários dos Correios.

Risco de demissões na EBC A comunicação pública também sofre cortes. O governo apresentou proposta de Programa de Desligamento Voluntário (PDV) para servidores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela TV Brasil. Cerca de 500 dos 2.500 funcionários podem ser estimulados a pedir demissão.


4 | Cidades

Perfil

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Feliz aniversário a Paulo Leminski

Poeta curitibano engrossou o coro dos que cantam a mensagem de uma vida diferente Paulo Ricardo

Carolina Goetten Curitiba (PR)

N

ão fossem os excessos de uma vida entregue à busca poética, o curitibano Paulo Leminski faria, nesta quinta-feira (24 de agosto), 73 anos. Caprichoso e relaxado, deu início ao costume de estudar muito desde jovem. Aos 14, tomou a iniciativa de trocar cartas com o coordenador do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, que concordou em matricular o “piá” curitibano na instituição. Lá, teve acesso à literatura erudita e mostrou os primeiros sinais de rebeldia, incompatíveis com a vida de disciplina monástica. A aventura não durou Dentro do bairro mais do que um ano, mas o Ele, sua esposa Alice Ruiz marcaria pelo resto de seus e os filhos Miguel, Áurea dias. e Estrela viveram também Além de poeta, Lenuma casa de amplo quinminski foi professor de tal no bairro Pilarzinho, fajudô em academias e de mosa por receber todo tipo redação em cursinhos de figurões e figuronas inpré-vestibulares, biógrafo, teressados em arte, música tradutor, crítico literário, e literatura – inclusive Gal músico, intelectual e romancista de textos caóticos que vinham para quebrar a rotina do realismo. O pauloleminski A parceria com a banda Blindagem é um cachorro louco rendeu letras como que deve ser morto “sou legal, eu sei – a pau e pedra agora só falta convencer a lei!”. Foi por a fogo a pique meio desse arranjo senão é bem capaz musical iniciado aqui o filhadaputa que Leminski conquistou o respeito e de fazer chover a amizade de compoem nosso piquenique, sitores como Itamar Paulo Leminski Assumpção, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Costa e Maria Bethânia. Ali, Paulo e Alice viveram o luto pela morte de Miguel aos dez anos de idade, vítima de um câncer. Foi quando o problema de Leminski com o alcoolismo começou a sinalizar uma gravidade maior do que ele deixava transparecer. Antes de tirar o corpo fora*, o cachorro louco não se contentou em deixar a abundância de sua literatura. Ele fixou, em tudo o que escreveu, a mensagem de uma vida mais artística e coletiva, menos egoísta e superficial. Leminski fez chover nos piqueniques endomingados do tédio capitalista. Mas, como disse o amigo e poeta Haroldo de Campos, “é bom que chova mesmo, com pedra e pau a pique”. Feliz aniversário, Leminski.

Greca quer terceirizar educação e saúde de Curitiba Manoel Ramires Curitiba (PR) O prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), enviou para a Câmara Municipal um projeto para liberar as organizações sociais nos serviços de saúde e educação da capital paranaense. Na prática, a proposta coloca os dois principais serviços públicos municipais nas mãos de empresas terceirizadas. Apesar da importância do tema, na segunda-feira (21), a maioria dos vereadores aprovou o regime de urgência para a tramitação do projeto. Com isso, o debate público e dentro da casa legislativa vai ocorrer a toque de caixa. Vereadores contrários ao regime de urgência questionam porque novamente não podem fazer um debate qualificado sobre os serviços públicos municipais. Para Goura (PDT) e professora Josete (PT), a Prefeitura de Curitiba está transferindo recursos públicos para a iniciativa privada. “Esta mera mudança não vai diminuir gastos. Precisamos do debate e o projeto ganha se for para as comis-

sões”, calcula Goura. Josete argumenta que a transparência fica comprometida e que a cidade já tem experiência negativa com organizações sociais como o Instituto Curitiba de Arte e Cultura - ICAC e o Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).

Sabem no que isso vai resultar? Educação pobre para os pobres” Professora Josete

“A lei diz que os conselhos das Organizações terão representação de 20 a 40% da prefeitura. Que controle será esse? Lembremos aqui do ICI Curitiba. É uma organização social. Somos reféns do ICI, que não tem transparência nenhuma. Sabem no que isso vai resultar? Educação pobre para os pobres. As Organizações Sociais vão ficar lá na periferia”, protesta.


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5 | Cidades

Adolescente sofre violência em ato contra a Escola sem Partido B.O. caracterizou a denúncia como “constrangimento ilegal” e “crimes contra a pessoa” App Sindicato

ALVO DE PIADA

Carolina Goetten Curitiba (PR)

A

estudante Luiza* tem 14 anos e cursa o 1º ano do ensino médio. No final de 2016, a adolescente esteve entre as milhares de secundaristas do Paraná que ocuparam suas escolas contra a Reforma do Ensino Médio. Além do discurso afinado, Luiza chama atenção nos espaços que frequenta por adotar um estilo único, com roupas confortáveis, alargador nas orelhas e cabelo bem curto tingido de rosa. Na última semana, no dia 15, o assunto que levou Luiza e outros estudantes para a frente da Câmara Municipal foi o início da tramitação do projeto Escola Sem Partido, batizado de “Lei da Mordaça” por professores e estudantes contrários à medida. Ezequias Barros (PRP), Osias Moraes (PRB) e Thiago Ferro (PSDB) são os autores da proposta, ambos ligados a igrejas evangélicas e levam

A imagem mostra o momento em que a estudante foi assediada pelo agressor, em ato contra o projeto Escola sem Partido

em conta princípios religiosos em sua atuação política, ainda que o Brasil adote o modelo do Estado laico. O clima tenso marcou a manifestação, que reuniu cerca de cem pessoas, entre militantes a favor e ativistas contrários à Escola sem Partido. O que poderia ter sido mais um momento de luta por direitos na caminhada de Luiza se tornou, na memória, uma manhã de dor e de humilhação: ela foi assediada por um homem de mais de

30 anos, que passou a mão em seus seios e disparou comentários homofóbicos na tentativa de enfraquecer sua coragem de se posicionar politicamente. “Ele disse que eu era muito bonitinha e tinha que virar menina”, lembra a estudante. O homem estava articulado entre manifestantes do Movimento Brasil Livre (MBL), todos reunidos em frente à câmara para apoiar a aprovação da lei da mordaça. Além de Luiza, o

Thiago Ferro, autor do PL Escola sem Partido, é acusado de exigir salário de assessores Um dos vereadores proponentes da lei da Mordaça nas escolas curitibanas, Thiago Ferro (PSDB), é acusado de exigir parte do salário de dois ex-assessores de seu gabinete. O denunciante, que não teve o nome divulgado e foi assessor de Thiago

Ferro em período anterior ao mandato, afirma que o pastor exigia parte do salário de dois assessores do gabinete de Ferro, conforme informações da assessoria de comunicação da Câmara. Segundo o corregedor da Câmara, Wolmir Aguiar

(PSC), a denúncia apresenta mensagens de Whatsapp em que o denunciante se comunica com um terceiro e fala que a prática continuava. A sindicância para apurar o caso começou no dia 16 de agosto e tem 30 dias para ser concluída.

agressor também assediou e empurrou uma colega do Coletivo Rua, que não quis dar entrevista nem se identificar por não se sentir à vontade para relatar o ocorrido. Constrangimento em dobro – da agressão à denúncia Após a agressão, Luiza foi com a mãe à delegacia para formalizar um Boletim de Ocorrência (B.O.). O assediador também foi encaminhado à polícia no banco de trás de uma viatura, onde parecia muito à vontade e, segundo Luiza, sorria cinicamente. “Eu tive que repetir o depoi-

Eu tive que repetir o depoimento a três policiais diferentes”

No programa de humor “Greg News”, veiculado no YouTube, o ator Gregório Duvivier ironiza e critica os retrocessos trazidos pelo Escola sem Partido. Entre as análises, o ator dispara: “A proibição mais explícita é a de impedir que se fale de gênero e sexualidade nas salas de aula. Aparentemente, nossos políticos se preocupam muito com isso”. Em 2 de agosto, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), declarou seu apoio às propostas da bancada evangélica e disse que as crianças da cidade devem ser educadas “na inocência cristã”.

mento a três policiais diferentes”, relatou a jovem. Experiente no âmbito das injustiças, a estudante diz que sequer se surpreendeu com a postura dos agentes na delegacia. “Duvidaram da minha história e a questionaram inúmeras vezes. Perguntaram até se eu não deveria estar na escola quando participei do ato”, disse. “E eu nem tinha aula naquele horário”. No B.O., a denúncia foi categorizada como “constrangimento ilegal” e “crimes contra a pessoa”. O documento indica o nome de Francisco João de Oliveira Junior como o responsável pelas agressões, junto a um número de telefone. A redação tentou entrar em contato, mas não foi atendida. *Nome Fictício


6 | Lava Jato

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Paraná, 24 a 30 de agosto de 2017

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7 | Lava Jato

Por que políticos investigados por corrupção querem o fim do foro privilegiado? Senadores sem nenhuma afinidade política entre si estão unidos para acabar com esse instituto jurídico. Entenda as possíveis consequências para a Lava Jato Daniel Giovanaz Curitiba (PR)

O

fim do foro privilegiado é uma demanda de vários setores da política brasileira. No dia 26 de abril, o Senado Federal aprovou em primeiro turno, por unanimidade, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) com esse objetivo. Em segundo turno, no dia 31 de maio, a aprovação também foi unânime, mas limitou a proposta aos crimes comuns cometidos por cerca de 55 mil políticos e agentes públicos do país. Desde então, a PEC está parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, sem relator e sem perspectiva de data para votação. Foro privilegiado é uma forma coloquial de se referir ao “foro especial por prerrogativa de função”. Esse instituto jurídico, que tem respaldo no artigo 102 da Constituição Federal de 1988, estabelece que o presidente e o vice-presidente da República, os senadores e deputados, os ministros e o procurador-geral da República devem ser julgados, em caso de crimes comuns,

pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Entre as infrações penais comuns, estão incluídos os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, por exemplo. Até o fechamento desta reportagem, eram 489 parlamentares com processos em trâmite no STF por esse tipo de infração. O tratamento jurídico diferenciado a certos agentes públicos está previsto em todas as Constituições da história brasileira, e há dispositivos similares na legislação de outros países, como França, Portugal, Alemanha e Argentina. Em nenhum deles, porém, o foro especial inclui tantas autoridades como no Brasil. Lava Jato É consenso entre os juristas que o Supremo está sobrecarregado – e que o fim do foro privilegiado teria importantes consequências para a operação Lava Jato. Além da aprovação unânime no Senado, a PEC tem o apoio do relator da operação no STF. Em entrevistas à imprensa, o ministro Edson Fachin costuma dizer que o foro especial é “incompatível com o princípio republicano”.

Se a PEC for aprovada e colocada em prática durante a Lava Jato, restaria ao STF os processos que envolvem os chefes dos três poderes. Ou seja, apenas dois dos 76 inquéritos abertos após as delações da empreiteira Odebrecht, por exemplo – aqueles que envolvem o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e o do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Nos três primeiros anos de Lava Jato, o Supremo também tem sido acionado para analisar casos de prisões preventivas de pessoas sem foro privilegiado, mas que são réus na Lava Jato. Foi assim com o pecuarista José Carlos Bumlai, com o exministro José Dirceu (PT), com o empresário Eike Batista, entre outros investigados. Essa prática deve se manter, mesmo em caso de avanço da PEC, e por isso as decisões do STF continuariam relevantes para o avanço da operação. Corporativismo Ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff (PT), Eugenio Aragão discorda da posição unânime do Senado Federal e da opinião do Agência Brasil

Ex-ministro Eugenio Aragão chama a atenção para os interesses privados que estão em jogo

origem colonial, escravocratas e parentes de boa parte da elite política tradicional da região”.

ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRA O FORO PRIVILEGIADO

1

Nas cortes superiores, supostamente há mais garantia de independência e imparcialidade

3

2

É preciso retirar os processos das “zonas de influência” de políticos e encaminhá-los todos a Brasília

Um juiz de primeiro grau não pode ser capaz de derrubar, sozinho, um chefe de Estado ou agente público, sob o risco de favorecer interesses golpistas

ministro Edson Fachin sobre o foro privilegiado. Crítico da Lava Jato, ele entende que esse instituto jurídico tem ajudado a coibir abusos no Poder Judiciário. “No fundo, o foro privilegiado é nada mais que uma proteção do devido processo legal para pessoas que são excessivamente expostas e, por isso, podem virar presas de lutas corporativas”, afirma. “Os procuradores, promotores e juízes no primeiro grau são muito mais ativistas do que os do ‘andar de cima’”, completa. Após ouvir a análise de Aragão sobre o tema, a reportagem do Brasil de Fato apresentou a ele uma situação curiosa: vários políticos investigados por corrupção no Sul do país são favoráveis ao fim do foro privilegiado. É o caso do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), mergulhado em suspeitas de corrupção. O tucano foi citado nas investigações sobre corrupção na receita estadual, que teriam abastecido o comitê do partido, e seu governo teve a reputação destruída com a operação Quadro Negro, que identificou desvios em obras de escolas públicas. Richa chegou a ser indiciado pelo procurador-geral Rodrigo Janot, em um desdobra-

1

O STF e o STJ estão sobrecarregados, e isso pode atrasar os julgamentos de agentes públicos corruptos

3

2

Não pode haver nenhum tipo de privilégio ou tratamento diferenciado a agentes públicos, todos são iguais perante a lei

O raio de autoridades beneficiadas pelo foro especial no Brasil é exagerado, em comparação com outros países do Ocidente

mento da Lava Jato, e mesmo assim defende o fim do foro especial por prerrogativa de função. Isso não contraria os seus próprios interesses?

dão. No último dia 15 de agosto, o governador foi inocentado pelo “massacre de 29 de abril de 2015”, quando uma operação da PM deixou mais de 200 professores feridos em um protesto nos Proteção Eugenio Aragão ana- arredores da Assembleia Legislalisa que “ele [Beto Richa] está tiva do Paraná (Alep). contra o foro privilegiado porque De acordo com levantamenele quer ser julgado por sua gen- to realizado por Ricardo Costa te, no Paraná”. O ex-ministro dá a de Oliveira, professor da UFPR e entender que a chance de absol- pesquisador do NEP, a juíza que vição é maior se os processos fo- inocentou Richa pelo “massarem julgados no próprio estado, e cre”, Patrícia de Almeida Gomes, não em Brasília. é filha do juiz Essa hipóteaposentado Arse se sustenta nas tur Heráclio Gorelações familiames Neto. Pares construídas trícia também é historicamenneta do desemSer julgado te no Paraná, sebargador do Tripelo STF não gundo estudos bunal de Justipublicados pelo ça do Paraná e é sinônimo de Núcleo de Estuprofessor da Faimpunidade ou dos Paranaenculdade de Dises (NEP). Apereito da Univermorosidade da sar do volume de sidade Federal Justiça denúncias, Beto do Paraná, Artur Richa jamais foi Heráclio Gomes condenado por Filho, casado corrupção no estado – conheci- com Nelma de Loyola, oriunda do pelos vínculos e relações de de uma importante família ervacompadrio entre diferentes oli- teira: todos, inseridos “no núcleo garquias políticas, que remetem duro genealógico da classe domiao período colonial e à escravi- nante tradicional paranaense de

Dilema O debate sobre o fim do foro privilegiado é tão complexo que vários senadores de espectros ideológicos diferentes assumiram uma posição parecida sobre o tema. É o caso das senadoras Gleisi Hoffmann (PT), do Paraná, e Ana Amélia Lemos (PP), do Rio Grande do Sul. Elas estiveram em lados opostos em relação ao golpe de 2016, às reformas trabalhista e previdenciária, e mesmo em relação ao avanço da Lava Jato, mas ambas são favoráveis ao fim do foro especial. Eugenio Aragão reconhece que existe um dilema, mas reafirma que ser julgado pelo STF não é sinônimo de impunidade ou morosidade da Justiça: nos últimos anos, essa tendência varia conforme os réus, segundo ele. Em artigo publicado no jornal GGN em março, o ex-ministro cita a Ação Penal 470, conhecida como “caso mensalão”, e ressalta: “Seis anos a fio, o STF (...) promoveu o linchamento político de lideranças históricas do Partido dos Trabalhadores. (...) A corte foi eficientíssima na estigmatização da esquerda brasileira, ainda que alguns dos acusados não fossem santos”. Mesmo assim, Aragão concorda que, para quem goza do foro privilegiado, as vantagens são maiores que as desvantagens. O jurista Miguel Reale Júnior foi um dos autores da denúncia que resultou no impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). A posição assumida por ele nos debates mais recentes sobre o Poder Judiciário no Brasil é contrária à de Eugenio Aragão, mas os dois discordam da proposta de extinção imediata do foro privilegiado. Ex-ministro da Justiça no

governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Reale Júnior debateu o tema em alguns pronunciamentos à imprensa, e costuma lembrar que o foro especial não foi criado apenas para proteger poderosos: a ideia é garantir a independência e a imparcialidade da Justiça. A solução que ele propõe para diminuir o encargo do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) é ampliar a competência dos Tribunais Regionais Federais, para que eles possam julgar deputados e ministros cujos processos são encaminhados a Brasília. O que os juristas consultados estão de acordo é que essa não é uma demanda simples. As consequências para a dinâmica do Poder Judiciário são inúmeras, e não se deve cair no argumento fácil da “redução dos privilégios” – ainda mais, quando esse jargão sai da boca de quem sempre prezou por eles.

DUAS MEDIDAS O debate sobre o foro privilegiado veio à tona no noticiário brasileiro em dois momentos-chave da operação Lava Jato, antes e depois do golpe. Em março de 2016, o juiz Gilmar Mendes, do STF, suspendeu a nomeação do ex-presidente Lula (PT) como ministro-chefe da Casa Civil por considerá-la parte de uma estratégia para “escapar” do juiz de primeira instância, Sérgio Moro. Um ano depois, o Supremo não manteve o mesmo rigor ao analisar a nomeação de Moreira Franco (PMDB), também investigado na Lava Jato, para o cargo de ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência do governo Michel Temer (PMDB).

Ricardo Almeida | ANPR

Governador Beto Richa (PSDB) teria mais chances de ser inocentado no Paraná do que em Brasília


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Brasil de 8 Fato PR

Paraná, 24 a 30 de agosto de 2017

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50% das mães são demitidas até dois anos após licença Dados são de pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Julia Dolce São Paulo (SP)

P

elo menos metade das brasileiras foram demitidas no período de até dois anos depois da licença-maternidade, segundo pesquisa em andamento na Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo aponta também que, após seis meses de estabilidade, a probabilidade de demissão de mulheres que acabaram de se tornar mães é de 10%. A pesquisa foi realizada a partir da realidade de 247 mil mães, com idade entre 25 e 35 anos. De acordo com Mariana Salinas Serrano, advogada trabalhista e co-fundadora da Rede Feminista de Juristas, a situação é mais recorrente do que se imagina. Para a advogada, o alto número de demissões de mulheres com esse perfil é fruto de discrimi-

A probabilidade de demissão de mulheres que acabaram de ser mães é de 10% nação. “Quando o filho fica doente, o patronato entende que isso é um dever da mãe, porque a paternidade não é discriminada no mercado de trabalho, sendo que, na verdade, a responsabilidade pelo filho é dos dois, não só da mulher”, defende. Indiferença Mesmo ouvindo diferentes justificativas para as demissões, as mães entrevistadas pela Radioagência Brasil de Fato acreditam que a maternidade foi o

principal motivo. É o caso da advogada Graziella Branda, que foi despedida três dias depois de voltar da licença -maternidade. Já havia sido contratada outra pessoa para sua vaga: “Eu tenho certeza que foi pela gravidez. Eles falaram que foi por redução de custos, mas contrataram ela pelo mesmo salário que eu tinha”. Já Carla Ferreira era gerente de uma multinacional e foi demitida no dia em que terminou seu período de estabilidade, ou seja, tempo em que a lei garante a permanência no emprego. Ela conta que não esperava passar por essa situação, principalmente porque a empresa tinha um grande número de mulheres em cargo de chefia. A arquiteta Ana Bueno* foi surpreendida por uma demissão após o fim do seu período de estabilida-

de. “Minha antiga chefe falou que estava me mandando embora para eu cuidar do meu bebê”. Violência A discriminação contra gestantes e mães que acabaram de ter filhos, muitas vezes, é acompanhada de ameaças para a saúde da mulher. Ana Bueno sofreu uma série de perseguições na construtora em que trabalhava. Mesmo em uma

Pixabay

gravidez de risco, ela não foi dispensada de frequentar as obras que coordenava. “Eu tinha que ficar com os telefones ligados 24 horas por dia, à disposição da empresa mesmo aos finais de semana. Eu cheguei a questionar isso, porque estava tendo contrações, estava com pressão alta, cheguei a ter sangramentos. Foi uma briga muito grande, porque eles não entendiam”.

Após a perda do filho, a demissão Para Renata Silva*, que preferiu não identificar sua profissão, a falta de compreensão da empresa em que trabalhava foi ainda pior. Seu filho nasceu com um problema de má-formação, foi internado duas vezes após o nascimento e acabou falecendo alguns meses após o fim da licença-maternidade. “Alguns dias antes da minha licença acabar, o meu filho passou mal e teve que ser internado novamente. Aí eu descobri que a lei obriga a acompanhar menores e idosos no hospital. Você não pode deixar

a criança sozinha nem por um minuto. Mas a lei também não

Eu ouvi uns papos de que eles achavam que eu gostaria de engravidar de novo, apesar de eu nunca ter dito isso”

obriga a empresa a aceitar o atestado de acompanhamento. Então levei falta durante toda a segunda internação do meu filho”. Renata foi demitida cerca de três meses depois do falecimento de seu bebê. “Logo em seguida, de uma hora para a outra, ‘não vamos precisar de seus serviços, não precisa nem cumprir os 30 dias’, e tchau. Eu ouvi uns papos que eles achavam que eu gostaria de engravidar de novo, apesar de nunca ter dito isso”. *Nome Fictício


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Paraná, 24 a 30 de agosto de 2017 Alexandre Marchetti | Itaipu Binacional

9 | Brasil

Reforma política começa a ser votada na Câmara Federal Votação de cada ponto da proposta será separada

Gigante da energia nacional, Eletrobras pode ser privatizada Redação | Curitiba (PR)

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aior empresa de produção e distribuição de energia elétrica da America Latina, a Eletrobras pode ser privatizada. A intenção de venda de ações da estatal foi anunciada pelo governo federal nesta semana, e aprovada pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) – órgão criado por Michel Temer para estudar modelos de concessões e privatizações – nesta quarta-feira (23). O governo espera arrecadar R$ 20 bilhões com a venda. A Eletrobrás já tem suas ações na bolsa de valores, ou

ELETROBRAS EM NÚMEROS Com receita líquida anual de R$ 60,7 bilhões, a Eletrobras é responsável por um terço da energia elétrica consumida em todo o país. Ao todo, a empresa administra 47 hidrelétricas, 270 subestações de energia, seis distribuidoras e possui 70 mil quilômetros de linhas de transmissão. Essas linhas atendem 12 milhões de habitantes em seis estados.

seja, é uma empresa de capital misto. O governo brasileiro detém grande parte dessas ações, cerca de 51%, que garantem a soberania do setor elétrico nacional. Com a aprovação da proposta, deve reduzir esse número para 47%. Para Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da empresa na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, são os usuários que vão arcar com os custos da privatização. “Certamente vai aumentar a tarifa. Porque você vai revalorizar ativos amortizados, que terão que ser remunerados de novo para compensar o investidor. Deve ser algo em torno de 8% a 10%”, disse. Pacote de privatizações A venda de ações da Eletrobras é uma das medidas do pacote de 57 projetos de privatização e concessões anunciadas pelo governo federal. Deverão ser colocadas à disposição da iniciativa privada a administração de 14 aeroportos – entre eles o de Congonhas, segundo maior do país, 11lotes de linhas de transmissão e 15 terminais portuários. Além disso, a Casa da Moeda, órgão responsável por fabricar as notas de real, selos postais, diplomas e passaportes brasileiros, também deve ser privatizada.

Redação | Curitiba (PR)

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Câmara dos Deputados decidiu, nesta quarta-feira (23), dividir a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 77 de 2003, que altera as regras do sistema eleitoral, em diferentes partes. Com isso, cada ponto do parecer de Vicente Cândido (PT-SP) será votado de forma separada. Essa foi a alternativa encontrada para colocar o texto em votação e para garantir que o texto não seja rejeitado por inteiro, uma vez que partidos criticam diversos pontos polêmicos; Para ser aprovada, a PEC 77 precisa ser votada em dois turnos em cada casa do Congresso. Na Câmara, é necessário o apoio de 308 deputados, dos 513 existentes. As alterações também devem ser aprovadas até 7 de outubro, para que passem a valer já em 2018. Um dos pontos polêmicos da proposta, a de criação de um fundo público para o

Por falta de acordo entre os deputados, “distritão” deve ser votado na semana que vem financiamento das eleições, começou a ser votado nesta quarta-feira. Os deputados aprovaram, por 441 votos a 1, a retirada o dispositivo que vinculava 0,5% de receita corrente líquida no período de 12 meses ao fundo público eleitoral. O restante do texto de criação do fundo ainda será votado, após a votação do sistema eleitoral. A PEC da reforma política deve voltar a ser analisada pelo plenário da Câmara na semana que vem. Polêmicas Entre os temas mais polêmicos da medida, está a adoção do modelo conhecido como Distritão – váFabio Rodrigues Pozzebom | Agência Brasil

lido para as eleições de 2018 e 2022 – e Distrital Misto, na eleição para vereadores, em 2020. Também conhecida como “sistema majoritário”, a proposta consiste num modelo de eleição em que somente os vereadores e deputados individualmente mais votados ingressam no parlamento, sem considerar votos de partido ou coligação, como ocorre atualmente. No distrital misto, metade das vagas segue o padrão do distritão. A outra metade segue a regra proporcional, a partir de lista fechada apresentada pelas legendas. Assim, o eleitorado vota duas vezes: em um candidato e um partido. O filósofo José Antônio Moroni, membro da plataforma e também do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), afirma que, em primeiro plano, o modelo serviria como sustentáculo para garantir a reeleição dos parlamentares proponentes, agravando a opressão da elite econômica sobre os interesses populares. “A estratégia do poder econômico hoje é, por termos eleição proporcional, apoiar vários partidos e candidaturas, aí eles ficam bem, independentemente de quem ganhe. No distritão, eles podem, por exemplo, concentrar recurso e força política em 40 [candidatos] e eleger esses, ou seja, eles vão ter muito mais poder do que têm hoje”, analisa Moroni. Pela falta de acordo sobre o tema, a votação do “distritão” foi adiada.


10 9 | Cultura

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Paraná, 24 a 30 de agosto de 2017

“O filme da minha vida” foge do estereótipo do cinema comercial nacional

Divulgação

O longa traz tiradas cômicas vindas do núcleo infantil e cenas de reflexão do universo familiar Vanessa Gonzaga Recife (PE)

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ra quem gosta de cinema nacional e quer fugir das comédias românticas produzidas em série, “O filme da minha vida”, baseado no livro “Um pai de cinema” é uma boa opção. O longa metragem conta a história de Tony Terranova (Johnny Massaro), filho de um francês e uma brasileira que vivem em Remanso, no Rio Grande do Sul. O fio condutor da história é a ida de Nicolas, pai de Tony, para a França, sem motivo

aparente ou perspectiva de retorno. O diretor e ator Selton Mello, que também dirigiu “O palhaço” (2011), foi procurado pelo autor do livro,

O “toca teus caminho, guri”, dito pelo amigo, se torna uma espécie de mantra para Tony

o chileno Antonio Skármeta, para dirigir o filme ambientado no fim da década de 1940, na era de ouro do rádio e quando a televisão era apenas uma promessa. Com paisagens da Serra Gaúcha, o filme também traz pequenas tiradas de metalinguagem nas diversas cenas que falam sobre o que é um filme e nas cenas dentro do cinema, que dão pequenas reviravoltas na vida do protagonista. A fotografia do filme é um elemento à parte. Dá gosto de ver e perceber como cada elemento que aparece em cena é pensado e compõe a

história. A partir da ida de Nicolas, Paco, interpretado por Selton Mello, se torna um amigo da família. O “toca teus caminho, guri”, dito pelo amigo, se torna uma espécie de mantra para Tony, que vai estudar na capital e volta como professor de francês na escola de Luna (Bruna Linzmeyer), que é apaixonada por Tony. A atuação da personagem de Mello é crucial para o desenrolar da história, ainda que de forma

ESPECIAL | Receitas da Agroecologia

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Chips de banana verde

Ingredientes Bananas nanicas verdes Sal, açúcar e canela a gosto Banha de porco ou óleo para fritar

Modo de fazer Passe a banana no ralador de fatias lisa e frite em óleo bem quente, escorra e tempere com sal ou açúcar e canela, a seu gosto.

Fonte: Livro “Receitas da florestas que a gente planta”, organizado pelo projeto Flora, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Paraná (MST).

oculta, como num teatro de marionetes. Com tiradas cômicas vindas do núcleo infantil e cenas de reflexão familiar propostas pela família de Tony e Luna, o filme foge do estereótipo do cinema comercial nacional, que é consumido instantaneamente a partir de uma temática, em geral, superficial. “O filme da minha vida” propõe reflexões que ultrapassam o acender das luzes da sala de cinema.


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Paraná, 24 a 30 de agosto de 2017

Associação de moradores oferece curso de teatro gratuito no Sabará

AGENDA 0800

Samba do Compositor Paranaense

Os encontros começam neste sábado (26) Redação | Curitiba (PR)

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magia do teatro vai ocupar as tarde de sábados na Vila Sabará 1, no Cidade Industrial de Curitiba (CIC), a partir do próximo dia 26. Serão oficinas gratuitas, oferecidas especialmente para crianças e jovens de 6 a 16 anos –caso pessoas de outras idades tiverem interesse em participar, também serão bem vindas. Para se inscrever é só chegar 30 minutos antes do início das aulas desse sábado. As aulas ficarão a cargo de dois estudantes de artes cênicas, que já desenvolveram outras oficinas com as crianças da região. Os encontros estão previstos para ocorrer todos dos sábados, até dezembro. Quem organiza a ação é a Associação de Moradores Sabará 1, com-

Para ficar por dentro Quando: A partir de sábado, dia 26, das 14h às 16h. Onde: Associação de Moradores Sabará 1, Rua Ary Camarão Arruda, nº 1.

11 | Cultura 11

o çã lga vu i D

posta por um grupo de jovens da comunidade. “A intenção dessa fase do curso é o desenvolvimento e criação de uma peça teatral. Vamos incentivar a cultura em nossas crianças, pois cultura e educação é que trarão as mudanças que o nosso país precisa”, conta Diego Torres Batista, integrante da associação. Há três anos a entidade movimenta ações locais, entre elas uma padaria comunitária, que entrará em funcionamento em breve.

Mazzaropi e “O Corintiano” O quê: Gravado em 1966, o filme conta a história de Seu Manoel (Amácio Mazzaropi), um barbeiro torcedor fanático do Corinthians, que faz de tudo para torcer pelo seu time do coração. Entra em conflito com seus vizinhos Divulgação palmeirenses, faz promessas malucas e orações a São Jorge, passa por sofrimentos e xinga na arquibancada. O clássico da cinematografia brasileira faz parte do programa Vivências & Convivências 60+. Quando: Dia 26, sábado, às 14h. Onde: Cini Guarani, Av. Rep. Argentina, 3430, Portão. Quanto: Entrada franca.

O quê: É uma roda de samba voltada para a apresentação de sambas locais, que se reúne toda semana às terças-feiras, há sete anos – já são mais de 230 encontros. Funciona assim: se você tem uma composição própria chegue às 19h30 com 20 cópias impressas da letra da sua canção. Após a avaliação dos integrantes da organização, a música poderá ser cantada na roda, Divulgação com cora da plateia, que vai acompanhar pelas cópias da letra. O espaço é aberto a toda comunidade. Quando: Ocorre toda terça, das 20h às 21h30. A próxima é no dia 29. Onde: Teatro Universitário de Curitiba – TUC, Galeria Júlio Moreira, Tv. Nestor de Castro, s/nº, Centro. Quanto: Entrada franca.

A comédia da Panela O quê: A peça apresenta o velho Euclião, portador de uma panela cheia de ouro herdada de geração em geração. Por medo de perder tal riqueza, o personagem vive como um pobretão, preocupado com a possibilidade de descobrirem o seu tesouro escondido. O espetáculo é da companhia Grupo Arte da Comédia, dirigido pelo italiano Roberto Innocente, a partir de uma adaptação do clássico “Aulularia ou La Commedia Della Pentola”, do dramaturgo romano Plauto. Divulgação Quando: De 22 a 24 e de 29 a 31, sempre às 12h30. Onde: Rua da Cidadania da Praça Rui Barbosa, na Regional Matriz, Centro. Quanto: Gratuito.

Pixinguinha na Praça O quê: Vem aí a segunda edição do projeto “Pixinguinha na Praça”, tocado pela Orquestra à Base de Sopro. Foram selecionadas 13 músicas que fazem parte da coleção do Instituto Moreira Salles - Pixinguinha Outras Pautas, que são arranjos de Pixinguinha escritos para o programa O Pessoal da Velha Guarda. São choros, valsas, maxixes, polcas entre outros estilos que estarão presentes na programação, incluindo o clássico ‘Lamentos’, parceria de Pixinguinha com Vinícius de Moraes. Quando: dia 26, sábado, às 12h. Onde: Conservatório de MPB, Rua Mateus Leme, 66, São Francisco. Quanto: Gratuito.


12 | Esportes

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Paraná, 24 a 30 de agosto de 2017

Reforços devem esquentar Suburbana em Curitiba Na briga pelo primeiro lugar, Iguaçu e Trieste anunciam novas contratações Do Rico ao Pobre

Redação BdF PR

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terceira rodada da série A da Suburbana de Curitiba esquentou ainda mais a disputa do campeonato, no último sábado (19). Os jogos foram marcados pela estreia de novos atletas, que chegaram para reforçar a busca de dois times pelo primeiro lugar. O destaque ficou para o atacante Bruno Batata, que depois de passar pelo Joinville volta a Curitiba para integrar a equipe do Trieste. O jogador é uma das apostas do time, que não conquista o título desde 2013. A equipe aproveitou a mudança e goleou o Capão Raso, na estreia de Bruno Batata, no dia 19. Foram 5 gols contra 1 – dois feitos pelo novo atacante. Com o resultado, o Triste saltou da 9ª para a 2ª colocação na tabela. Já o Iguaçu, que em resposta à contratação do jogador anunciou um “pacotão” de reforços de seis atletas, não teve grande salto na pontuação na terceira rodada. Com o empate no jogo contra

Nova Orleans, está em 3º lugar. Na partida, estreiaram o volante Léo Gago e os atacantes Alex Pinhais e Igor. A ponta da tabela é agora ocupada pelo Operário Pilarzinho, que ganhou as três rodadas e acumula seis pontos. Os jogos da 4ª rodada do campeonato serão disputados no sábado, dia 26.

MPF pede informações sobre déficit de R$ 132 mi nas Olimpíadas do Rio e autor do ofício, “há uma pressão internacional para que esse déficit seja arcado pelo governo brasileiro, mas não há autorização legal O Ministério do Esporte e o Copara mais destinação de dinheiro mitê dos Jogos Olímpicos terão público para os jogos”. que explicar se houve, ou há, preUm informe aprovado pelo Covisão de repasse de recursos públimitê Rio-2016 indicava que a falcos para cobrir o déficit de R$ 132 ta do repasse total acordado entre milhões dos Jogos Olímpicos realiprefeitura e governo não foram tozados em 2016. A determinação é talmente executado grupo de trabados, o que geraria lho especial do Mio rombo de R$ 132 nistério Público do milhões, que seRio de Janeiro, que ria resolvido caso também pediu que os órgãos honrasa Agência Brasileisem o comprora de Promoção de Há uma pressão misso. Em março, Exportações e In- internacional parte dos recurvestimentos (Apex) para que esse sos foi liberada e e que os Correios déficit seja arcado o déficit caiu para apresentam os conR$ 80 milhões. tratos de patrocínio pelo governo Não há autodos jogos. brasileiro” rização legal para Essa é uma forLeandro Mitidieri destinação de ma de acompanhar mais dinheiro púas medidas do goblico aos jogos. verno para cobrir os A lei que permidéficits do Comitê tia o uso desse tipo de verba foi reorganizador local. Em nota, o provogada antes mesmo do início das curador da República Leandro MiOlimpíadas. tidieri, membro do GT Olimpíadas Redação | Curitiba (PR)

Mais que seis pontos

Últimos reforços

A defesa se encontrou

Por Marcio Mittelbach

Por Cesar Caldas

Por Roger Pereira

A caminhada do tricolor rumo à Série A tem uma prova de fogo nesta sexta-feira (25), na Vila Capanema. Pela frente o Juventude, time que passou boa parte do primeiro turno na liderança da competição e que atualmente figura na quinta posição, com os mesmos 34 pontos do Ceará, hoje o quarto colocado. No primeiro confronto, em Caxias do Sul, Paraná e Juventude fizeram um jogo movimentado. Embalado pela vitória sobre o Atlético-MG na Copa do Brasil, o tricolor até saiu ganhando, mas erros pontuais da nossa zaga permitiram a virada dos gaúchos com direito a gol nos acréscimos. Entre os seis times que estão hoje na nossa frente, o Ceará foi o único que conseguimos vencer no primeiro turno. Está na hora de mostrar força contra os concorrentes. Mais do que os “seis pontos”, uma vitória sobre o Juventude nos dará a moral necessária para seguir em busca do G4!

Já treinam com o grupo os dois últimos reforços para o restante do Campeonato Brasileiro, e completam o numeroso elenco de 42 atletas: Cleber Reis e Longuine, ambos destros e cedidos pelo Santos. O zagueiro Cleber Reis, de 26 anos, chamou a atenção na Ponte Preta, sendo eleito o melhor da posição no Campeonato Paulista de 2013. Contratado em seguida pelo Corinthians, seguiu para o Hamburgo, onde atuou por duas temporadas. O Santos foi buscá-lo no início de 2017, pagando ao clube alemão 2 milhões de euros, mas o defensor perdeu a titularidade neste ano. Talvez faça dupla de zaga com Wallison Maia. O meia Rafael Longuine, 27 anos, começou a carreira no Juventude-RS e, após circular por vários clubes do interior paulista, foi contratado pelo Santos há pouco mais de dois anos. Sua estreia deve ser acelerada pela dificuldade de adaptação de Baumjohann.

Trunfo do Furacão na bela campanha de 2016, a defesa vinha sendo um ponto fraco da equipe no primeiro semestre deste ano, quando Weverton chegou a ser o terceiro goleiro mais vazado entre todos da Série A. A chegada do técnico Fabiano Soares e de reforços como Pavez e Fabrício fez mudar esse quadro. Nos últimos cinco jogos pelo Campeonato Brasileiro, apenas um gol sofrido. Nem a alternância na dupla de zaga titular, por conta de contusões e cartões, tem prejudicado o sistema defensivo: Paulo André, Thiago Heleno e Wanderson têm mantido o mesmo nível de atuações, independente da dupla escalada. Até o próprio Weverton parece ter voltado à melhor forma. Não tomar gols é um grande passo para uma campanha ainda melhor no segundo turno do Brasileirão. Falta o ataque se encontrar para que chances como as criadas contra o Grêmio, domingo, não sejam desperdiçadas.


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