Brasil de Fato PR | Edição 55

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Amar não é doença! A reação contrária à liberação da chamada “Cura Gay” chegou rápido e com força. Participe dos eventos organizados e Curitiba em defesa da diversidade e contra o preconceito:

Vigília Dia 21, às 18h30, na Boca Maldita, Centro. Ato I Dia 24, às 14h, no MON, rua Mal. Hermes, 999, Centro Cívico.

Ato II Dia 26, às 12h30, em frente à Justiça Federal, av. Anita Garibaldi, 888, Ahú. /trateseupreconceito

Ano 02 | Edição 55

PARANÁ

21 a 27 de setembro a de 2017

distribuição gratuita

AGROECOLOGIA CRESCE, GARANTE RENDA E ALIMENTOS SAUDÁVEIS A 16ª Jornada de Agroecologia acontece na Lapa (PR), entre os dias 20 a 23 de setembro. O evento recebe três mil pessoas e conta com feira permanente de produtos sem agrotóxicos. O objeto é apresentar um modelo de produção de alimentos que cuida da terra, do meio ambiente e da água. Cidades | p. 5

Fotos Públicas

Lava Jato | p. 6, 7, 11

Investigação ou espetáculo? Lei proíbe juízes de usarem a mídia para comentar processos em andamento, porém a Lava Jato tem usado tal prática

Leandro Taques

Perfil | p. 4

Um filme necessário Curta-metragem da cineasta Laís Melo, que mora em Curitiba, denuncia relações abusivas Divulgação

Geral | p. 3

Ataques à população de rua Só esta semana, foram duas mortes violentas em Curitiba com autoria desconhecida


2 | Opinião

EDITORIAL

Cresce a onda conservadora

N

esta semana, juiz do Distrito Federal conferiu uma liminar favorável aos profissionais psicólogos que acreditam que é possível “tratar” (ou “curar”) a homossexualidade. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia deixou de considerar a homossexualidade uma doença em 1985, cinco anos antes de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter deixado de classificá-la assim. Antes disso, a homossexualidade era

OPINIÃO

Brasil de Fato PR

Paraná, 21 a 27 de setembro de 2017

considerada um transtorno mental. E agora a decisão equivocada do judiciário abre brecha para essa volta ao passado. Tal fato faz parte deste momento em que todos os dias trabalhadores perdem direitos sociais. É o que se chama de “onda conservadora”, com forte apoio do Congresso Nacional e dos partidos que apoiaram o golpe de Estado de 2016. O aumento do conservadorismo tem como exemplo o aumen-

O atual Congresso mostra-se conivente e cada dia mais contrário ao povo. O judiciário, por sua vez, segue seletivo

to da violência contra as mulheres e contra a juventude negra, ao lado do crescimento do número de assassinatos de mulheres. O Congresso mostra-se conivente e cada dia mais contrário ao povo. O Judiciário, por sua vez, segue seletivo, pois como explicar que certos políticos citados por corrupção tornam-se réus e outros não? A organização dos trabalhadores é urgente para barrar a onda conservadora.

EXPEDIENTE

Temer e o retorno da era das privatizações

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

Beto Barata

Pablo Diaz, integrante da diretoria do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região

O

termo que definiu as vitórias e derrotas das últimas eleições brasileiras foi privatização. Fernando Henrique Cardoso iniciou uma era de malsucedidas vendas do patrimônio público, com a entrega de empresas estratégicas a preço de banana. Desde então, o país assiste ao desmonte e transferência de comando dessas empresas a “acionistas” anônimos de todos os recantos do planeta, em especial, os Estados Unidos. Denúncias de irregularidades sobre aquelas negociatas iam desde a utilização de dinheiro público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar os folgados capitalistas “arrojados”, até simplesmente desvios de recursos. Porém, tudo morreu nas gavetas do então procurador geral da república, Geraldo Brindeiro, mais conhecido como “engavetador geral da república”. Agora, a governo golpista de Temer quer levar a cabo uma nova era de privatizações. Como uma avalanche, o projeto que beira à criminalidade quer vender 57 empresas. Descendo a montanha e arrastando tudo o que estiver no seu cami-

nho. Está na mira o que resta da Petrobras, da Eletrobras, da Embrapa, da Infraero e dos bancos públicos. A justificativa de fazer caixa para pagar os “sagrados” juros dos parasitas financeiros de sempre, é encoberto pelo discurso da “corrupção”

Presidente golpista quer vender 57 empresas públicas brasileiras

e ineficiência do setor estatal. Que não se negue a corrupção, praga que atinge a humanidade desde os primórdios. Para cada mal, um remédio. A Noruega convive pacificamente com empresas estatais, o que possibilita que a estratégia de nação se concretize em altos índices de desenvolvimento humano, educacional, de saúde, tecnologia dentre outros. O que faz isso ser possível? Transparência. Sem complexo de vira-latas, é necessário ter uma identidade nacional para alcançar os objetivos de bem-estar de um povo. Por que não no Brasil?

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 55 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm e Carolina Goetten COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Pablo Diaz e Gabriel Pansardi Ruiz ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach, Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr FOTOGRAFIA Leandro Taques e Sandra José Rodrigues ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook. com/bdfpr ANUNCIE administracaopr @brasildefato.com.br


Brasil de Fato PR

Força, México! Um terremoto de magnitude 7,1 atingiu, nesta terça-feira (19), o centro do México, localizado na América do Norte. O número de vítimas fatais passa de 220 e ainda pode aumentar. Segundo a Agência de Proteção Civil, as mortes ocorreram em seis cidades. A tragédia aconteceu no dia exato que marcava 32 anos da pior terremoto vivido país, que deixou 10 mil mortos em 1985. Marcelo Camargo | Agência Brasil

NOSSO DIREITO

“Deus, cure a doença da cabeça do ser humano que não enxerga os verdadeiros problemas de uma nação. Pais, não obriguem seus filhos a procurarem cura pra uma doença que não existe”,

Por Naiara Bittencourt*

disse a cantora Anitta via Instagram, sobre a liminar acatada pelo juiz do Distrito Federal Waldemar Cláudio de Carvalho que autoriza psicólogos a realizarem terapias de “reversão sexual” em pessoas homossexuais.

Funcionários dos Correios de todo o país decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Paraná, a adesão no estado é de 70% da categoria, com perspectiva de aumento da participação nos próximos dias, até a paralisação total. Os trabalhadores reivindicam 8% de reposição da inflação, manutenção dos benefícios já conquistados e pela retomadas do funcionamento dos bancos postais, fechados pela direção dos Correios a partir desta quarta-feira (20).

Você sabe identificar um produto transgênico?

Divulgação

Em dois dias, duas pessoas em situação de rua mortas em Curitiba Daniel Giovanaz, Curitiba (PR)

Greve nos Correios

3 | Geral

FRASE DA SEMANA

Divulgação

Policia Federal México

Paraná, 21 a 27 de setembro de 2017

Entre domingo e segunda-feira, 17 e 18 de setembro, duas pessoas em situação de rua foram mortas em Curitiba. Antônio Agenor Martins, conhecido como “Favela”, foi assassinado a tijoladas no bairro Cabral. No dia seguinte, um homem não identificado morreu no Bacacheri após ser atingido no pescoço – o ferimento pode ter sido causado por faca ou arma de fogo. Coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) no estado, Leonildo José Monteiro Filho afirma que existe um processo sistemático de culpabilização das vítimas. “Por exemplo, as autoridades dizem que um sujeito morreu queimado porque tinha uma vela do lado. Se morreu com uma tijolada, dão a entender que ele mesmo jogou um tijolo na cabeça”, ironiza. “Em vez de reconhecer que esse sujeito precisa de uma política in-

tersetorial, é muito mais fácil jogar parte da sociedade contra essas pessoas”, critica. Outro lado “Existe diferença entre morte violenta e natural”, pondera o delegado Fábio Amaro, da Divisão de Homicídios. Segundo ele, foram 13 assassinatos de pessoas em situação de rua em Curitiba em 2017, dos quais sete com autoria identificada. Não há um trabalho con-

NÚMEROS

27 casos de agressão à população de rua foram registrados no Paraná em oito meses

junto entre a Fundação de Ação Social (FAS) e a Secretaria de Segurança Pública para prevenir esse tipo de crime. “É uma coisa bem separada. O nosso trabalho de abordagem visa à questão social, ao atendimento”, ressalta Maria Alice Erthal, diretora de atenção à população em situação de rua da FAS. O acolhimento provisório que a FAS oferece à noite, quando supostamente ocorre a maior parte dos crimes, é insuficiente. São 240 vagas para atender 1800 cidadãos. Para Tomás Melo, coordenador do Instituto Nacional de Direitos Humanos da População em Situação de Rua (INRua), o que une as vítimas é uma violação do direito à moradia. “Enquanto tentam aumentar o número de vagas de acolhimento provisório, não se produz uma porta de saída para as pessoas em situação de rua. Se a gente não encarar com seriedade esse fato, a probabilidade desses casos [assassinatos] aumentarem é muito grande”, alerta.

No Brasil, a Lei de Biossegurança nº 11.105/2005 obriga que todos os alimentos e ingredientes alimentares que contenham ou sejam produzidos a partir de tecnologias que mudam as características genéticas (organismos geneticamente modificados ou transgênicos) sejam rotulados com um “T” envolto por um triângulo amarelo. O Código de Defesa do Consumidor assegura o direito à informação de forma visível e de fácil reconhecimento, também para aqueles que não sabem ler. Mas por que os transgênicos devem ser rotulados? Estes produtos estão associados ao maior uso de agrotóxicos e há estudos insuficientes sobre os impactos que podem causar à saúde e à segurança humanas e animal. Além disso, os transgênicos implicam perda de biodiversidade nacional e controle da produção agrícola por grandes empresas de sementes, causando dependência dos pequenos agricultores e extinção do nosso rico patrimônio genético nas variedades de sementes crioulas (aquelas melhoradas e cultivadas de forma tradicional). É direito nosso saber o que consumimos e como o alimento foi produzido, deve ser escolha informada e consciente, não imposição. *Naiara Bittencourt é advogada popular da organização de Direitos Humanos Terra de Direitos


4 | Cidades

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Paraná, 21 a 27 de setembro de 2017

Jovem de Curitiba ganha a cena no Festival de Cinema de Brasília PERFIL

Curta-metragem de Lais Melo denuncia relações abusivas e violência doméstica ravy, tenta confrontar uma Carolina Goetten, relação abusiva. Seu maCuritiba (PR) rido a violenta cotidianassistir ao curta-me- mente. Mas o impasse fitragem “Tentei”, sen- nal é que é doloroso: como do mulher, é como levar milhares de mulheres, ataum soco que atinge a boca das pelas limitações que a do psicológico. Com mar- sociedade nos coloca, Glócas sensíveis de realidade, ria não consegue se libero filme é fruto da constru- tar. É aí que a simbologia da ção coletiva de uma equipe identificação cria raízes, é encabeçada por mulheres e quando a arte alcança o paque conhece muito bem a pel de desequilibrar nossas denúncia despida por elas. ilusões de aconchego num Glória, personagem criada mundo profundamente depela jornalista Laís Melo e sigual. Laís é mineira, cresceu vivida pela atriz Patricia Saem Campo Mourão (PR) e se formou em Jornalismo, curso que acessou pelo Programa Universidade Para Precisamos ocupar Todos (Prouni). Nesta semana, a jovem ciessas narrativas neasta celebra o pri[do cinema] meiro grande passo dominadas pelos de sua carreira: o curta-metragem “Tentei”, homens”, Laís Melo que roteirizou e diri-

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Arquivo Pessoal

giu, estreia no Festival de Brasília do Cinema Nacional. O filme foi um dos 12 selecionados entre 608 produções inscritas para compor a mostra competitiva do evento. Tentei – até não mais tentar Ela viu o despertar de seu interesse por contar histórias de mulheres da classe trabalhadora quando trabalhou como repórter policial, em um jornal da região metropolitana de Curitiba. “Via histórias que se repetiam, que aconteceram comigo, com minha mãe, com amigas e com outras que nunca conheci pessoalmente”, diz a jornalista. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Avon, três em cada cinco mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos. Laís Melo chegou a cursar um mês de lições sobre a

Filme “Tentei” foi um dos 12 selecionados entre 608 produções inscritas para compor a mostra competitiva do evento

sétima arte em uma universidade cubana. “No cinema, minha intenção é contribuir para ampliar a diversidade desse espaço, resgatando a voz de mulheres caladas

pela sociedade – as negras, as lésbicas, as bissexuais, as transexuais, indígenas, periféricas... Precisamos ocupar essas narrativas dominadas pelos homens”.

Polícia prende nove pessoas no Sudoeste por corrupção na área da saúde Redação | Curitiba (PR) A operação Hígia, deflagrada pela Polícia Civil no dia 18 (segunda-feira), prendeu nove pessoas, aprendeu R$ 167 mil, 19 armas, 758 munições e vários documentos que podem ajudar a comprovar fraudes relacionadas a licitações na área da saúde no Sudoeste do Paraná. Os alvos da operação são investigados por associação criminosa, corrupção ativa e passiva, falsidade documental e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. Das nove prisões temporá-

rias, dois mandados foram expedidos contra secretários municipais – Vanderlei Crestani, secretário de finanças em Pato Branco, e Valmir Chiochetta, secretário de saúde em Clevelândia – e um contra o vereador

Operação Hígia investiga fraudes em licitações nas Prefeituras

Marco Pozza (PSD), de Pato Branco. Um secretário de Saudade do Iguaçu, três empresários e dois servidores municipais completam a lista. Além dos mandados de prisão, foram 54 de busca e apreensão domiciliar ou empresarial. As informações foram divulgadas pelo delegado Niomar Manfrin e pelos policias que participaram da ação em uma coletiva de imprensa ainda no dia 18. Os advogados de defesa dos investigados aguardam acesso à íntegra do inquérito policial para se manifestarem sobre o caso.


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5 | Cidades

Agroecologia cresce no Paraná, garante renda e alimentos saudáveis Evento espera receber três mil pessoas e conta com feira permanente de produtos agroecológicos Carolina Goetten Curitiba (PR)

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Parque de Exposições da Lapa (PR) recebe, a partir desta quarta-feira (20), a 16ª edição da Jornada de Agroecologia. Serão quatro dias de diversas atividades voltadas ao incentivo à agrobiodiversidade e ao plantio

sem veneno. O evento recebe mais de três mil pessoas, entre camponeses, agricultores e apoiadores da reforma agrária. Além das delegações do Paraná, participantes vieram de outros quatro estados brasileiros e de 10 países, em especial da América Latina. Mais de 60 expositores, dos mais diversos tipos de produção, compõe a feira permanente para comercia-

Do campo para a cidade Essas produções sem agrotóxicos, fruto do modelo de cultivo familiar, podem ser encontradas em todo estado do Paraná. Exemplo disso é a Cooperativa Central de Reforma Agrária, que centraliza 17 cooperativas que plantam e colhem produtos orgânicos, e distribui semanalmente esses alimentos em pontos estratégicos de Curitiba. A lista de compras é divulgada via whatsapp a mais de 350 clientes. No início de outubro, será lançado um site na internet com o objetivo de dinamizar a distribui-

Muito tempo se gastou perguntando se a agroecologia, se a produção de base ecológica, dá conta de alimentar a população. A pergunta tem que ser inversa. O agronegócio tem sido capaz de alimentar o mundo?”, Felipe Pinho

AGROECOLOGIA X AGRONEGÓCIO O professor Felipe Pinho explica que a principal diferença entre o agronegócio e a agroecologia é a visão que se tem sobre o alimento: enquanto na agricultura familiar o objetivo é plantar para garantir o alimento à população, e a vida, enfim, o modelo hegemônico da agricultura se volta ao lucro. “O agronegócio não se interessa pelas questões do processo de produção de alimentos, sobretudo as sociais, dos direitos de acesso à terra, ou da vida no campo; nem pela saúde das pessoas, de quem produz e de quem consome, ao permitir a ampla utilização de agrotóxicos; nem pelo impacto ambiental da sua produção”. AGRONEGÓCIO Ampla aplicação de agrotóxicos no solo Plantio em grandes propriedades, que refletem a injusta distribuição de terras no país

AGROECOLOGIA Monocultura (cultivo de um só produto, em especial milho, soja ou algodão)

Voltado à exportação e ao mercado internacional

Leandro Taques

lização de produtos agroecológicos. A ação ocorre no Parque de Exposições e Eventos da Lapa, BR 476 (Rodovia do Xisto) Km 66, e é aberta à população.

Cultivo diversificado dos alimentos da estação

Busca aplicar fertilizantes orgânicos na produção

Visa abastecer o mercado interno e sanar a fome local Incentiva a reforma agrária, a agricultura local e o cultivo nas pequenas propriedades familiares

ção (www.produtosdaterrapr.com.br). A entidade reúne a produção de 311 assentamentos em que moram 20 mil famílias beneficiadas por programas de reforma agrária. As encomendas são entregues nos bairros Xaxim, Sítio Cercado, Alto Boqueirão, Vila Isabel e Mercês. “Um caminhão passa pelos assentamentos do estado recolhendo os produtos e os traz a Curitiba para distribuí-los aos consumidores”, explica um dos responsáveis pela Cooperativa Central, Ademir Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Mas o que é agroecologia? A agricultora Eliane Aparecida Veiga Schons e sua família vieram de Lindoeste para viver no assentamento Contestado, no município da Lapa, no ano 2000. Seu lote nunca foi contaminado com uma gota de veneno. Para ela, porém, a agroecologia vai além do plantio orgânico. “É cuidar da terra, do meio ambiente, da água e da alimentação da família”, define. O engenheiro florestal Felipe Pinho, professor da Es-

cola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) e doutor na área de solos pela Universidade de Viçosa, define a agroecologia como uma ciência prática em movimento. “É uma ciência porque se baseia em estudos, em como funcionam esses sistemas e como manejá-los; é prática porque está em constante diálogo com agricultores e camponeses em seu dia a dia no campo; e é movimento porque tem relação com lutas sociais para que haja uma transformação do modelo hegemônico da agricultura que domina o plantio e o cultivo no país”, descreve o professor. O professor assinala que o modelo hegemônico não produz nem 15% do que chega à nossa mesa. “Ele está mais interessado em produzir commodities (ou seja, fazer do alimento uma mercadoria)”. Segundo ele, a Organização das Nações Unidas (ONU) já divulgou relatórios informando que a agroecologia é sim capaz de dar conta da fome no mundo. “Agora é preciso criar as condições na sociedade para fortalecer o plantio agroecológico”. Colaborou: Franciele Petry Schramm


6 | Lava Jato

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Paraná, 21 a 27 de agosto de 2017

Paraná, 21 a 27 de agosto de 2017

A tentação dos holofotes: como a superexposição do Judiciário ameaça a democracia

PERSONALISMO

Lei da Magistratura proíbe os juízes brasileiros de usarem a mídia para comentar processos em andamento

A

Daniel Giovanaz Curitiba (PR)

operação Lava Jato cresceu à medida que se intensificaram as relações entre a mídia corporativa e parte do Poder Judiciário. De um lado, vazamentos seletivos, informações e entrevistas exclusivas. Do outro, capas de revista, premiações, elogios e a chance de se tornar um herói nacional, imune a qualquer crítica. Segundo o escritor e jornalista Fernando Morais, os dois setores mantêm interesses em comum, pelo menos desde 2014: primeiro, derrubar o mandato da então presidenta Dilma Rousseff (PT); em seguida, impedir que o Partidos dos Trabalhadores volte ao Palácio do Planalto por meio de eleições. “Entre 2014 e agosto de 2017, a Rede Globo deu, em programas de cobertura nacional, 95,5 mil segundos de reportagens contra o [ex-presidente] Lula ou a favor da Lava Jato”, afirma Morais. “Quanto custou para a Globo dispensar

todo esse tempo para achincalhar, humilhar e denegrir o Lula e o PT, e para elogiar o [juiz Sérgio] Moro e a operação Lava Jato?”. Duas medidas O artigo 36 da Lei Orgânica da Magistratura (Loman) proíbe os juízes brasileiros de “manifestar, por meio de qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem”. As disposições da Loman, no caso da Lava Jato, têm pesos diferentes conforme a natureza do debate a que os magistrados são convidados a participar. Essa é a opinião do juiz Marcelo Tadeu Lemos, de Alagoas, que responde a uma sindicância por haver participado de aulas públicas sobre a operação entre maio e agosto. Segundo o texto da Corregedoria-Geral de Justiça em Alagoas, a participação nesse tipo de evento “pode caracterizar a prática de conduta vedada ao magistrado consistente em manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião so-

bre processo pendente de julgamento”, conforme o texto da Loman. Na interpretação de Marcelo Tadeu Lemos, são dois pesos e duas medidas. “Atividade política, a gente pode fazer. Se não, os juízes que saíram de verde e amarelo, em apoio à Lava Jato e contra o PT, também não poderiam estar nas ruas”, compara. Escancarado Eleito o “brasileiro do ano” pelo jornal O Globo e pela revista IstoÉ, e duas vezes a “personalidade do ano” pela Revista Veja, o juiz Sérgio Moro passou a conceder entrevistas exclusivas para os oligopólios de mídia em 2016. Não que antes ele só falasse pelos autos. Desde o início da Lava Jato, Moro foi flagrado em dezenas de eventos, dentro e fora do Brasil, e não abriu mão de comentar o andamento da operação, mesmo antes de qualquer sentença. O juiz participou, por exemplo, de debates organizados pelo grupo empresarial Lide, liderado por Assessoria de Imprensa Lide

Sérgio Moro não vê problema em prestigiar evento de João Dória (PSDB)

João Dória (PSDB) – com quem posou para fotos. Questionado pela defesa do ex-presidente Lula (PT) sobre essas ocasiões, Sérgio Moro respondeu que “a palestra foi destinada aos empresários ali presentes, sem qualquer conotação política”. Prefeito de São Paulo desde 1º de janeiro, o milionário político do PSDB foi considerado em agosto pela revista IstoÉ um “antídoto” ao ex-presidente Lula, condenado por Moro em primeira instância na Lava Jato. Peneira Cada participação de Moro em eventos do grupo Lide, em fóruns da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e em conferências ligadas ao mundo empresarial e jurídico rende manchetes e artigos de opinião elogiosos nos jornais brasileiros. As frases de efeito proferidas nesses espaços repercutem de tal modo que, além de manter o interesse do público em relação à Lava Jato, ajudam a legitimar um pretenso embate do juiz contra a corrupção. Nada disso é por acaso. No artigo “Considerações sobre a operação Mani Pulite”, publicado em 2004, Sérgio Moro elogiou a condução da operação Mãos Limpas, na Itália. Um dos aspectos decisivos para o avanço daquela ação judicial, segundo ele, foi o papel desempenhado pela mídia corporativa. “A investigação da “mani pulite” vazava como uma peneira. Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no “L’Expresso”, no “La Republica” e outros jornais e revistas simpatizantes”, descreveu Moro. “O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva”, analisa. Ou seja, a mídia ajudou a deslegitimar os argumentos dos políticos investigados, estabelecendo uma relação de troca: “A

deslegitimação, ao mesmo tempo em que tornava possível a ação judicial, era por ela alimentada”. Violações A entrevista do presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) ao jornal Estado de S. Paulo, no dia 6 de agosto, é uma violação flagrante ao artigo 36 da Loman. O desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz comentou, a pedido da reportagem, a sentença do juiz Sérgio Moro sobre o “caso triplex”, um mês antes. “É tecnicamente irrepreensível”, disse o desembargador. Naquela sentença, o ex-presidente Lula foi condenado a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além de ignorar o artigo 36 da Loman, visto que o caso será julgado em segunda instância pelo tribunal que ele mesmo preside, o desembargador acrescenta que a condenação “vai entrar para a história do Brasil”. Na continuação daquela entrevista, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz ainda afirma: “Não li a prova dos autos. Mas o juiz Moro fez exame minucioso e irretocável da prova dos autos”. Para tentar manter a aparência de isenção, o desembargador evita responder qual seria o seu voto, caso estivesse na turma que irá julgar o processo em segunda instância. Mas o recado estava dado: a decisão de Moro, segundo ele, foi “perfeita” e não necessita de reparos.

Desembargador elogiou decisão de Moro em entrevista sem ler a sentença

7 | Lava Jato

Agência Brasil

Deltan Dallagnol tornou-se um “influenciador digital”

“Reféns da imprensa”. Foi assim que o ex-presidente Lula descreveu os membros do MP, ao final do depoimento ao juiz Sérgio Moro no último dia 13. Além dos jornais, revistas e canais de televisão, o mercado editorial e as redes sociais têm sido usadas para manter o interesse do público em alta e divulgar uma imagem positiva da operação. Coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol lançou um livro – com direito a noite de autógrafos em um shopping center de Curitiba – em meio à operação, para compartilhar suas impressões sobre o rumo das investigações. Dallagnol é uma espécie de influenciador digital: tem 600 mil seguidores em sua conta no Facebook e 160 mil no Twitter. O contato de Sérgio Moro com o “fã-clube” se dá através da página no Facebook “Eu MORO com ele”, administrada pela esposa Rosângela. Com 830 mil seguidores, o espaço é dedicado a uma espécie de culto à imagem do juiz, com compartilhamentos de notícias e análises relativas à Lava Jato.

Partido dos Trabalhadores no alvo da Lava Jato A postura assumida por delegados da Lava Jato durante as eleições presidenciais de 2014 reforça as hipóteses levantadas por Fernando Morais e pelo juiz Marcelo Tadeu Lemos. Segundo reportagem veiculada no jornal O Estado de S. Paulo em novembro daquele ano, os delegados federais usaram as redes sociais “para elogiar o senador Aécio Neves, candidato do PSDB ao Planalto, e atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora, Dilma Rousseff”. Ainda de acordo com o texto, eles também “compartilharam propaganda eleitoral do então candidato tucano que reproduzia reportagens com o conteúdo da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, segundo a qual Dilma e Lula teriam conhecimento do esquema

de desvios – o teor desses depoimentos está sob segredo de Justiça”. Ao cair na tentação dos holofotes, os delegados da Superintendência da Polícia Federal do Paraná ignoram o artigo 364 do regimento disciplinar da corporação. É vedado a eles “referir-se de modo depreciativo às autoridades e atos da Administração pública, qualquer que seja o meio empregado para esse fim” ou “divulgar, através da imprensa escrita, falada ou televisionada, fatos ocorridos na repartição”. Contramajoritário? A Loman e o regimento disciplinar da PF contêm dispositivos para garantir que as investigações ocorram dentro dos parâmetros democráticos, sem interferência externa. Porém, a Lava Jato tem demonstra-

do que os juízes, delegados e procuradores estão cada vez mais preocupados com a opinião pública. Essa situação fica evidente nas redes sociais [ver box], onde o sucesso é medido por “curtidas”, comentários, compartilhamentos e seguidores. Integrante do Conselho Nacional do Ministério Público entre 2009 e 2015, Luiz Moreira afirmou em entrevista ao Brasil de Fato que a Lava Jato age “como se o Ministério Público e o Judiciário fossem poderes políticos, majoritários, e precisassem do apoio popular para implementar suas ações”. O jurista ressalta que o direito é contramajoritário, ou seja, não depende da autorização pública para fazer valer a lei. Pelo contrário: é até saudável que as decisões não estejam pautadas pela opinião da maioria.


8 | Paraná

Brasil de 8 Fato PR

Paraná, 14 a 20 de setembro de 2017

Rede de Médicos Populares quer levar a Saúde “onde ela deve estar” Articulação está em oito cidades do Paraná, com participação de mais de 30 médicos Sandra José Rodrigues

“Queremos a Saúde ao lado da população e não do lado dos empresários e sua máquina industrial”, Hugo Leme, médico de Londrina

ideia diferente sobre saúde, “que não esteja concentrado apenas nos detentores da teoria acadêmica e nos gestores políticos, mas que seja partilhado e reforçado com os sabeá imaginou um projeto de Saúde res populares. formado por uma rede de médiPara o profissional, esse procescos e médicas comprometida com a so cria novos laços entre médicos, população, com os movimentos sotrabalhadores e a população em geciais e com o Sistema Único de Saúral, fortalecendo a rede de saúde púde (SUS)? Então já pode começar a blica e o Sistema Único de Saúde materializar a ideia, em desenvolvi(SUS). Ao mesmo tempo, diante da mento no Paraná por meio da Rede atual conjuntura política do governo Nacional de Médicos e Médicas Pofederal, de perda de direitos dos trapulares do Paraná, composta por 33 balhadores, Hugo Leme acredita ser profissionais, de oito cidades do esfundamental a organização em sintado: Curitiba, Francisco Beltrão, tonia com os movimentos sociais: “É Coronel Vivida, Condoí, Londrina, assim que vamos lutar por uma nova Mauá, Maringá e Foz do Iguaçu. sociedade, para que o povo possa Segundo Hugo Leme, médico participar das esferas de decisão e do que integra o projeto no estado, a processo de distriRede propõe “uma buição de riquezas. Saúde mais próxiQueremos a Saúde ma à população, ao lado da populaque é justamente ção e não do lado onde ela deve esdos empresários e tar”. O médico de Rede começou a sua máquina indus26 anos, participanse organizar em trial, que na reprote da Rede em Londução da doença e âmbito nacional drina, explica que a do sofrimento vêm troca de saberes ene a realizar uma fonte inesgotátre os profissionais ações em 2015 vel de lucros”, sine o conhecimento tetiza. popular gera uma Gabriel Pansardi Ruiz, Londrina (PR)

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Organização A Rede começou a se organizar em âmbito nacional e a realizar ações em 2015, diante dos retrocessos nas políticas sociais do país, entre elas a Saúde, com cortes de verbas para o SUS. No Paraná, a iniciativa começou no mesmo ano. Um segundo encontro efetivou-se em abril de 2016, no município de Lapa (região sul do estado), reunindo cerca de 20 pessoas. Desde a articulação estadual, foi incentivada a

criação de núcleos em cada município. O núcleo de Londrina trabalha principalmente por meio de minicursos, trazendo discussões temáticas e o compartilhamento de conhecimentos sobre a medicina convencional. “Sempre aprendemos muito tanto com as práticas de bioenergia, de fitoterapia e outras formas de observar o processo de saúde-doença e com a vida das pessoas”, conta Leme. Uma das oficinas ocorreu no final de julho, no acampamento Fidel Castro, situado na cidade de Centenário do Sul e organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com a adesão de 60 pessoas. O tema explorado foi “Primeiros Socorros” e contou também com a participação de quatro moradores convidados da Ocupação Flores do Campo, de Londrina. “Foi muito importante para o nosso povo, inclusive com o uso de um vocabulário próximo a nós. Esperamos que continuem fazendo esse trabalho conosco por muito tempo”, comentou a técnica de enfermagem, Verani Bialozurm Martins, que esteve na atividade em Centenário do Sul e integra o setor de Saúde do MST.


Brasil de Fato PR 9

Paraná, 14 a 20 de setembro de 2017

Lula é favorito em todos cenários para eleição de 2018 Se eleição fosse hoje, ex-presidente venceria Bolsonaro, Doria, Marina ou Alckmin Ricardo Stuckert

Redação | São Paulo (SP)

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ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue como candidato favorito para os brasileiros na disputa à Presidência em 2018. De acordo com a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte divulgada nesta terça-feira (19), Lula venceria qualquer um de seus possíveis oponentes, tanto no primeiro quanto no segundo turno. Quando apresentados os nomes dos possíveis candidatos à Presidência da República, a intenção de voto em Lula é de 32% no primeiro turno. Já no segundo turno, esse número fica entre 39,8% e 42,8%, dependendo do opositor. A pesquisa comparou a intenção de votos entre Lula, Jair Bolsonaro, João Doria, Marina Silva e Geraldo Alckmin. O desempenho do ex-presidente melhorou com

relação ao último levantamento, realizado em fevereiro, aumentando quatro pontos percentuais. O mesmo levantamento apontou também que o presidente golpista, Michel Temer, do PMDB, tem a pior aprovação pessoal e de governo da série histórica da pesquisa, iniciada em 1998. Temer é de-

saprovado por oito em cada dez brasileiros (84,5%). Para sete em cada dez pessoas, o governo do peemedebista é ruim ou péssimo. O levantamento foi realizado entre os dias 13 e 16 de setembro de 2017 e ouviu 2.002 entrevistados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais com 95% de nível de confiança.

Conselho de Psicologia discorda de juiz e vai recorrer à liminar da “cura gay” Samanta do Carmo, Radioagência Nacional O juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da Justiça Federal em Brasília, concedeu uma liminar permitindo que os psicólogos ofereçam tratamento de reorientação sexual, conhecido como “cura gay”. A decisão atendeu a um pedido de um grupo de psicólogos. Eles argumentaram que a Resolução do Conselho Federal de Psicologia sobre o tema, publicada em 1999, estaria censurando os estudos na área.

Liminar expedida por juiz de Brasília permite que os psicólogos ofereçam tratamento conhecido como “cura gay” Pedro Paulo Bicalho, secretário do Conselho Federal de Psicologia (CFP), diz que a decisão vai in-

centivar o preconceito com pessoas LGBTs. Para ele, é a homofobia que leva as pessoas pensarem em mudar de orientação sexual, o que acaba causando ainda mais sofrimento. O CFP vai recorrer da decisão. Renan Quinalha, professor de direito da Universidade Federal de São Paulo e ativista LGBT, comenta que o conselho foi pioneiro nos anos 80 ao derrubar o entendimento de que a homossexualidade seria uma doença. Em 2012, a Justiça Federal já havia recusado uma ação semelhante movida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

9 | Brasil

Após meses de debates, reforma política deve se limitar a fim da coligação Kátia Guimarães | Brasília (DF) Em discussão na Câmara dos Deputados desde o primeiro semestre deste ano, a reforma política pode se resumir à aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 282/16. Ela acaba com as coligações de partidos nas eleições proporcionais (para senadores, deputados e vereadores) e cria a chamada cláusula de desempenho, mecanismo que pretende conter a proliferação de legendas.

Fundo público de campanha e mudança no sistema eleitoral devem ficar de fora da reforma Isso porque os deputados da base governista não têm consenso sobre outras medidas, como a criação de um fundo de financiamento público por meio de emenda constitucional ou a mudança no sistema eleitoral para o chamado “distritão” ou distrital misto. Se a emenda passar, as coligações só serão permitidas para os cargos majoritários (governador, prefeito, senador e presidente da República) e a regra já valeria a partir das eleições de 2018. A medida é bem vista pelos partidos de esquerda na Câmara. A resistência, no entanto, ocorre em relação à cláusula de desempenho. Ela irá limitar o acesso dos partidos a recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda eleitoral e partidária no rádio e na TV, conforme obtenham um número mínimo de votos para candidatos à Câmara dos Deputados, ou que elejam um número mínimo de deputados federais.


10 9 | Cultura

Paraná, 21 a 27 de setembro de 2017

Mostra Emergente apresenta jovens companhias de Teatro de Curitiba

Fundação Cultural de Curitiba

Redação | Curitiba (PR)

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stá em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas a Mostra Emergente, com duração até 15 de outubro. Serão apresentadas ao público cinco produções artísticas contemporâneas de cinco jovens companhias de Curitiba durante cinco semanas. A Mostra também conta com outras ações, como teatro lambe-lambe, Diálogo Emergente com produtores e professores de teatro de Curitiba, residências artísticas com estudantes de teatro das graduações da cidade, festas e ações de formação de plateia. A Mostra tem como objetivo ser uma manifestação em rede que aproxima grupos, público, pensadores e apoiadores. Com financiamento coletivo, o nome

da Mostra remete à urgência do coletivo em produzir. “É uma mostra independente e surgiu da ideia de experimentar coisas, pelos grupos e é urgente que isso aconteça”, explica Caio Monczak, responsável pelo evento no espaço.

AGENDA 0800

4º Festival Curitibano de Circo O quê: Curitiba já estava com saudade do Festival de Circo. Depois de oito anos, o evento terá sua 4ª edição. A programação é repleta de apresentações de teatro circense, exibições de documentários e oficinas variadas, como malabares, bambolê, acrobacias, palhaçaria e muitas outras. A ação é realizada pela CIA Trip Circo e pela a Associação de Artes Circenses Popular do Paraná. Divulgação Quando: de 20 a 24 de setembro. Onde: O festival se divide entre o Memorial de Curitiba, a Casa Hoffman, a Cinemateca e as ruas do Centro de Curitiba. Saiba mais em: www.tripcirco.com/4o-festivalcuritibano-de-circo Quanto: Para os espetáculos, cada espectador paga o quanto puder. Para as oficinas, os valores variam de R$ 20 a R$ 200.

O Presente

Para ficar por dentro Quando: até 15 de outubro, com apresentações de quinta a domingo, 20h Diálogos Emergentes todos os sábados, às 16h Teatro Lambe Lambe todos os sábados, às 18h Onde: Teatro Novelas Curitibanas – Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco, Curitiba. Quanto: R$ 20,00 e R$ 10,00 Saiba mais em: www.mostraemergente.com

Mostra de Los Carpinteros O quê: A exposição apresenta obras produzidas com a utilização criativa da arquitetura, da escultura e do design, por um dos coletivos de arte mais aclamados da atualidade. São mais de 60 obras: desenhos, aquarelas, esculturas, instalações e vídeos. As peças são dos cubanos Marco Castillo e Dagoberto Rodríguez – Los Carpinteros –, Divulgação conhecidos pelo forte apelo social das obras e pela crítica ácida, sagaz e bem-humorada. Quando: Em cartaz até o dia 3 de dezembro, de terça a domingo, das 10h às 18h. Onde: Museu Oscar Niemeyer (MON), Rua Marechal Hermes, 999. Curitiba – PR. Quanto: R$ 16 e R$ 8. Maiores de 60 e menores de 12 anos têm entrada franca.

O quê: Espetáculo simples que interage e encanta crianças e adultos. Tendo como foco principal a diversidade de cada artista, dançando, tocando e se arriscando em grandes alturas. O apresentador Salsicha conduz essa alegre aventura que se transforma em um presente, fascinando e divertindo o público. Quando: Dias 23 e 24, sábado e domingo, 16h. Onde: Auditório Antônio Carlos Kraide, Av. Rep. Argentina, 3430 - Água Verde, Curitiba . Quanto: R$ 10 e R$ 5.

5° SLAM Contrataque!

Divulgação

O quê: Vem aí mais uma batalha de poesia! Ao longo do encontro, a platéia ouve com atenção cada poeta que se apresenta na roda. As apresentações podem ter até três minutos e os poemas devem ser autorais. A palavra é a protagonista na cena, por isso uma das regras da batalha é não usar auxílios visuais e fantasias. Ao final, o público é soberano. As maiores salvas de palmas definem as melhores poesias da noite. Quando: dia 23 de setembro, sábado, das 18h30 às 22h Onde: Cavalo Babão, Rua Doutor Claudino dos Santos, bairro São Francisco, em Curitiba. Quanto: Gratuito.


Brasil de Fato PR

Paraná, 21 a 27 de setembro de 2017

11 | Cultura 11

Filme da Lava Jato escancara a Justiça do espetáculo Os patrocinadores continuam ocultos e cresce a polêmica sobre quem está por trás do longa Reprodução

Daniel Giovanaz, Curitiba (PR)

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o início de setembro, estreou nos cinemas brasileiros o filme “Polícia Federal - a Lei é para Todos”. É a história da operação Lava Jato, contada sob o ponto de vista da Polícia Federal e do Ministério Público. O problema é que essa história está incompleta. Segundo entrevista recente do ator Roberto Birindelli, que interpreta Alberto Youssef, fazer um filme sobre a Lava Jato é uma “insensatez”. O argumento dele é que não há distanciamento histórico suficiente para produzir uma narrativa. Ou seja, os diretores poderiam esperar mais alguns anos. Mas por que eles não esperaram? A resposta é simples: a Lava Jato é movida pelo es-

petáculo. É por isso que as livrarias estão cheias de biografias do juiz Sérgio Moro. O chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, também lançou livro em meio à operação.

A Lava Jato precisa dos holofotes. Precisa do público ao seu lado. Precisa que as pessoas criem empatia com os investigadores, para que apoiem condenações a qualquer custo. Moro sabia disso

desde 2004, quando escreveu um artigo sobre a operação Mãos Limpas, na Itália. Ele elogiou o trabalho cooperado entre a Justiça e a mídia, para deslegitimação da defesa dos acusados. O lançamento de um filme comercial sobre um processo tão complexo como a Lava Jato só escancara a espetacularização da Justiça no Brasil. E os patrocinadores continuam ocultos, o que alimenta a polêmica sobre quem está por trás desse longa-metragem. As cenas vazaram, primeiro, no jornal O Globo, e essa é uma pista importante. As organizações Globo ajudaram a articular o golpe de Estado em 2016, segundo o ex-presidente Lula, réu na Lava Jato. Todas as ações penais contra Lula estão em aberto. A condenação, no caso

ESPECIAL | Receitas da Agroecologia

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Sorvete de Mandioca

Ingredientes ½ Kg de mandioca cozida 1 litro de leite 1 lata de leite condensado

1 xícara e meia de açúcar 1 colher de emulsificador de alimentos 100 gramas de coco ralado

Modo de fazer Em uma tigela ou no liquidificador misture, aos poucos, a mandioca bem cozida e em pedaços, com o leite, o açúcar e o leite condensado. Depois de batido, coloque para gelar. Deixe na geladeira até esfriar bem e misture uma colher de emulsificador, batendo bem a massa. Acrescente o coco e coloque para gelar novamente.

Para um dos atores, fazer um filme sobre a Lava Jato é uma “insensatez”

triplex, ainda não está definida. Nada mais imprudente do que lançar um filme em que réus sem julgamento são interpretados por atores que não sabem se o personagem é corrupto ou inocente. Aliás, no caso da Lava Jato, não é imprudência: é uma estratégia de comunicação. A estratégia do espetáculo.

Fonte: Livro “Receitas da florestas que a gente planta”, organizado pelo projeto Flora, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Paraná (MST).


12 | Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 21 a 27 de setembro de 2017

Itaipu e Cataratas garantem cenário exuberante para a Maratona de Foz Belezas naturais da Tríplice Fronteira estão no percurso da corrida Redação | Curitiba (PR)

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Maratona Internacional de Foz do Iguaçu propõe outro tipo de contato com as belezas naturais do Parque Nacional. Três mil maratonistas vão atravessar a cidade na dé-

cima edição do evento, neste domingo (24). A prova começa cedo: às 6h será a primeira largada, na Usina Hidrelétrica de Itaipu, e o ponto de chegada é em frente às Cataratas do Iguaçu dois extremos turísticos de Foz. A estimativa de duração é de, no máximo, Divulgação

seis horas. Os corredores vêm de todas as regiões do Brasil, e de países como Argentina, Paraguai, Quênia, Chile e Tanzânia. Uma das provas será de 42,195 km, outra de Revezamento de dupla, e outra com 11,5 km com percurso por dentro do Parque Nacional do Iguaçu. A Maratona é organizada pelo Sesc PR, em parceria com a Itaipu Binacional e Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu. As inscrições se encerraram no início do mês de setembro.

Três mil maratonistas vão atravessar a cidade na décima edição do evento

Olhos nos olhos para a paz

Agora vai!

Dória corta verba de evento e banca ação de vereadores Redação | Curitiba (PR) João Dória (PSDB), prefeito de São Paulo e interessado em disputar as eleições presidenciais de 2018, ganhou novos inimigos nesta terça-feira. O tucano zerou o orçamento da Virada Esportiva, principal evento de esporte organizado pela prefeitura. A edição estava programada para o próximo final de semana, mas teve seu orçamento de R$ 3 milhões cortado por Dória. A justificativa são as dificuldades financeiras da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. No entanto, a mesma secretaria liberou cerca de R$ 3 milhões para eventos de vereadores, a partir de emendas parlamentares.

Sucesso em campo, fiasco fora

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Roger Pereira

A semana do Coritiba está marcada por uma tensão indevida e evitável, tanto no futebol, quanto na política interna do clube. O ala Dodô, com experiência em campo incomum para um menino de 18 anos (no clube e nas seleções nacionais), foi hostilizado em uma rede social. Pela imaturidade típica do rito de passagem à idade adulta, respondeu rispidamente a um torcedor. O episódio teve repercussão negativa junto a uma parcela da torcida e pode se refletir no aspecto emocional do atleta. No dia seguinte, uma nota da torcida organizada teve a expressão “por bem ou por mal” explorada pela imprensa mais sensacionalista. No plano sucessório, alas radicais internas do clube parecem se recusar a um diálogo que evite um “racha” pré e pós eleitoral. O que se espera de todos é serenidade e união. Não há melhor solução do que aquela alcançada com os olhos nos olhos do outro e traduzida num aperto de mãos.

A goleada sobre o Guarani em Campinas – 4 a 0 - foi a dose de confiança que faltava para a torcida paranista. O fantasma de não ganhar fora já foi exorcizado. A dúvida se a demissão do Lisca iria prejudicar o rendimento da equipe também foi pro espaço. Definitivamente estamos na briga, assim como estávamos em 2013. Mas neste ano a história é diferente. Na mesma 25ª rodada da Série B de 2013, o Paraná também estava na terceira posição e tinha 45 pontos contra 43 desse ano. O ataque havia feito 42 gols, esse ano já são 36. A zaga havia tomado 20 gols. Em 2017, só tomamos 19. Tecnicamente existe um equilíbrio entre as duas campanhas, mas o diferencial está fora do campo. Os salários estão em dia e existe comando no Clube. A demissão do Lisca foi uma prova do quanto a casa está em ordem. Ninguém é maior que o projeto do acesso, o time está unido e a diretoria no rumo certo!

A campanha do Atlético dentro de campo até que está razoável. O time briga para voltar a Libertadores da América e, desde a chegada do técnico Fabiano Soares, mantém um dos melhores aproveitamentos na competição. A defesa melhorou muito e o ataque começa a funcionar. Mas, se dentro de campo as coisas vão se encaminhando, fora das quatro linhas a diretoria do Furacão vem colecionando trapalhadas, que afastam o torcedor do estádio, mesmo com a boa campanha do time. Primeiro foi a restrição ao uso dos smarts cards pelos sócios através da biometria. Não satisfeito, o clube acabou com o setor Fun, o espaço mais barato do estádio. O Atlético também elevou o preço dos ingressos para absurdos R$ 150 por partida, se comprado no dia do jogo. Falta noção de história à nossa diretoria. Alguém precisa contar aos dirigentes a origem popular do nosso clube. O elitismo já foi coisa de coxas-brancas.


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