Brasil de Fato Paraná - Edição 59

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Diversidade na rua

Esportes | p. 12

Diogo Cotovicz

Cidades | p. 4

Bolsa Atleta em risco? Esgrimista comenta cortes de verba no governo Temer

Curitiba recebe Parada LGBTI no dia 5 de novembro

Ano 2 | Edição 59

Reprodução

PARANÁ

26 de outubro a 1 de novembro de 2017 Kraw Penas

FESTIVAL DE ÓPERA NO PARANÁ Com mais de 20 espetáculos gratuitos, a terceira edição do festival termina neste domingo (29). Um dia antes do encerramento, o auditório do Guairinha recebe a opereta Festa de São João, de Chiquinha Gonzaga, às 20h Cultura | p. 11

distribuição gratuita

TEMER SE LIVRA DE DENÚNCIA, MAS PERDE APOIO Apesar de governo federal liberar mais de R$ 30 bi para parlamentares, o número de votos a favor do arquivamento das denúncias contra Temer alcançou 251 votos - 12 a menos do que na votação da primeira denúncia. Já entre os deputados paranaenses, o resultado foi acirrado: 18 votos em favor do arquivamento e 12 votos pela sequência da denúncia Brasil | p. 9

Perfil | p. 4

Cidades | p. 5

Do verde ao cinza

Parque Bom Retiro está ameaçado por hipermercado

Agência Brasil

S E RGIO

MORO

Prejuízo para as crianças Greca quer redução de professores nos CMEIs

X

Um ano antes da Lava Jato, o juiz ordenou a prisão de 11 produtores rurais, sem provas. Entenda por que aquela decisão compromete até hoje a produção de alimentos no estado – mesmo após a absolvição dos agricultores Lava Jato | p. 6 e 7

AGRICULTURA

FAMILIAR

Divulgação MST


2 | Opinião

EDITORIAL

Governo Beto Richa também quer desmontar empresas públicas

A

política nacional de privatizações é reproduzida nos estados e nos municípios. No Paraná, o governador Beto Richa (PSDB) sinaliza a venda de 44 empresas públicas. O governo assinou o Acordo de Cooperação Técnica (nº 16.2.0569.13) com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para “planejamento e estruturação de projetos de desestatização”, o que, na prática, privatiza empresas estratégicas acordo revelado por reportagem do Livre.jor/Gazeta do Povo. A medida se encaixa no Programa de Parcerias de Investi-

OPINIÃO

Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de outubro a 1 de novembro de 2017

mentos (PPI), lançado pelo governo golpista de Temer (PMDB), em 2016, e coordenado por Moreira Franco, da secretaria-geral do governo, acusado de corrupção. O PPI englobou o Plano Nacional de Desestatização (PND), lançado nos anos 1990, plano que

O Plano Nacional de Desestatização (PND), lançado nos anos 1990, já havia trazido prejuízos à economia brasileira

já havia trazido prejuízos à economia brasileira. O governo do Paraná assinou também um “protocolo de intenções” com a Copel e a Shell para a criação de um plano de expansão da oferta de gás natural, que pode significar o controle de empresas privadas sobre a Compagás. Os paranaenses já realizaram luta intensa, no ano de 2001, contra a privatização da Copel, reafirmando a importância das empresas públicas, devido aos investimentos sociais e ao planejamento para o desenvolvimento econômico.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 59 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Franciele Petry Schramm e Carolina Goetten COLABOROU NESTA EDIÇÃO Marcio Kieller ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr FOTOGRAFIA Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO redacaopr@brasildefato.com.br IMPRESSÃO Grafinorte (Nei)

Reforma Trabalhista, ainda é tempo de resistir

CUT realiza uma campanha nacional para anular a reforma trabalhista Por Marcio Kieller,

secretário-geral da CUT/PR e Mestre em Sociologia Política pela UFPR

O

Em novembro entra em vigor a Reforma Trabalhista. As consequências para a classe trabalhadora são enormes. Resultado de uma lei elaborada por empresários, a aprovação da nova legislação confirma o que dizem os movimentos sociais: o Brasil vive uma feroz luta de classes. O acirramento desta luta acontece em um momento em que o Brasil vivia seu ápice, quase atingindo o pleno emprego. A sociedade pedia o trabalho decente, lutando pela erradicação do trabalho análo-

go à escravidão e pedindo outros avanços trabalhistas. Contudo, em 2016, as elites rurais, empresariais e midiáticas aplicaram um novo golpe de Estado, com apoio parlamentar e alicerçado no Judiciário. Como contrapartida, as

elites exigiram a aprovação das reformas trabalhistas, das terceirizações, o enxugamento do Estado, o congelamento de gastos e dos investimentos sociais. Na ânsia de agradar estes setores, o governo ilegítimo de Temer foi ao limite de reSenge

Comiver, inclusive, Temer foi ao tês estão as regras de limite de rever sendo forcombate ao mados em trabalho anáas regras de todo o Bralogo à escracombate ao sil. A camvidão, antes trabalho análogo panha acamodelo interba somente nacional. à escravidão quando Como foratingir o ma de resisnúmero sutir à retirada de direitos, a 15ª Plenária/ ficiente de assinaturas. E Congresso Extraordinário você, trabalhadora e trabada CUT, em agosto, apon- lhador, podem ajudar protou como resistência uma curando seu sindicato para campanha nacional para assinar o projeto, ou mesanular a reforma traba- mo entrando no site da lhista. Para isso é necessá- campanha: www.anularerio colher 1,3 milhão de as- forma.cut.org.br, onde essinaturas para um Projeto tão todas as orientações. Trabalhadoras e trabade Lei de Iniciativa Popular (PLIP) para ser encami- lhadores contra a retiranhado ao Congresso Na- da de direitos, as terceirizacional com o objetivo de ções e a reforma trabalhista: ainda é tempo de resistir. anular a reforma.


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Elza Fiuza | Agência Brasil

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FRASE DA SEMANA Satiro Sodré | CBDA

3 | Geral

NOSSO DIREITO Adília Sozzi*

Teste a velocidade de sua internet!

Pelo SUS O Paraná vai realizar cirurgias transgenitalizadoras (para mudança de sexo) pelo SUS. A intenção é habilitar o Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná junto ao Ministério da Saúde, conforme anúncio feito no dia 23. Estima-se que 200 pessoas busquem o procedimento no Estado atualmente. Apenas cinco estados brasileiros contam com centros hospitalares credenciados para estas cirurgias. Arquivo | Sindsaúde

Sem alimentação A Secretaria de Saúde do governo do Paraná proibiu o fornecimento de alimentação nos hospitais e ambulatórios para os servidores efetivos com carga horária de até oito horas diárias. A medida também vale para funcionários terceirizados e estagiários. Além disso, os servidores estão impedidos de levar marmitas para se alimentar no local de trabalho ou usar as instalações para produzir as refeições.

“Sou totalmente contrária à lógica da justiça punitiva. Ela tem de ser reparadora e restauradora, na medida do possível. É preciso acabar com a cultura do ódio”, disse a nadadora Joanna Maranhão, em entrevista ao jornal El País. A atleta foi questionada sobre o sentimento de impunidade, após ter denunciado o ex-técnico, em 2008, por abuso sexual.

Após notificar Rossoni, promotor sai da Quadro Negro Redação, Curitiba (PR) As investigações sobre desvios de R$ 20 milhões da construção de escolas da rede pública estadual do Paraná têm mais uma situação polêmica. O promotor Carlos Alberto Hohmann Choinski, um dos responsáveis pelas investigações da Operação Quadro Negro, deixou de atuar no caso. A sua última ação oficial na Operação foi a notificação do secretário

de Estado da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB), e o deputado estadual Plauto Miró (DEM) de que também são investigados por possível envolvimento no esquema. O ato do promotor ocorreu no dia 29 de setembro, e no dia 16 de outubro o MP -PR retirou Choinski do Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa (Gepatria) de Curitiba, ligado às inves-

tigações da Quadro Negro. A operação apura um esquema de corrupção em obras de escolas estaduais, envolvendo a cúpula do governo do Paraná. Posição do MP Em nota, o Ministério Público garante que a saída do promotor “não prejudica e não paralisa as investigações em curso, conduzidas por outros promotores de Justiça com igual responsabilidade no caso”. Ricardo Stuckert

CARAVANA Depois de percorrer o Nordeste em agosto, expresidente Lula (PT) começou, no dia 23, uma caravana por 12 cidades de Minas Gerais, de sete diferentes regiões. A viagem é feita de ônibus e dura até 30 de outubro. É a segunda etapa de sua caravana “Lula pelo Brasil”. A foto de Ricardo Stuckert registra a passagem de Lula pela Bacia do Rio Doce.

Segundo dados da ANATEL, a maioria das operadoras que oferecem serviços de internet, seja em casa ou no celular, entrega apenas a metade da qualidade da Internet contratada. Com isso, você acaba pagando caro por uma qualidade do serviço, mas acaba por receber na prática, uma velocidade bem inferior. Não aceite ser enganado: Teste sua conexão, descubra a real velocidade de sua internet e exija uma melhor qualidade do serviço. Sugerimos um dos melhores sites de teste, mas existem outros: www.copeltelecom.com/ site/speedtest/ Caso você perceba a má prestação do serviço contrato, ligue para sua operadora e exija, além da atualização da qualidade do serviço, um abatimento nas próximas faturas, proporcional ao serviço oferecido. Caso suas reivindicações não sejam atendidas, procure o PROCON ou o Juizado Especial do Consumidor de sua cidade. Fique ligado e não perca seus direitos! *Adília Sozzi, integrante da Rede Nacional de Advogados Populares (RENAP)

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4 | Cidades

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Paraná, 26 de outubro a 1 de novembro de 2017

Do verde ao cinza no Parque Bom Retiro PERFIL

Área preservada de quase 60 mil metros quadrados está sob o risco de ser sufocada por mais um hipermercado Carolina Goetten, Curitiba (PR)

U

ma das maiores áreas verdes preservadas de Curitiba está prestes a se tornar cinzas. Com 60 mil metros quadrados, dois córregos, três nascentes e um grande bosque que funciona como corredor biológico para animais da região, o parque Bom Retiro está ameaçado pelo projeto de construção de um hipermercado. É com um sentimento descrito como “indignação” que moradores de diversos bairros, junto ao coletivo A Causa Mais Bonita da Cidade, têm se manifestado por meio de pedaladas e divulgações na internet, contra a nova construção. “Essa obra fere qualquer bom senso, em sentido ambiental, cultural, histórico e urbanístico”, define o pedagogo Luca Rischbieter, que faz parte do coletivo. Da área total do parque, pelo menos metade será ocupada pela rede Angeloni – ainda que já haja um hipermercado construído em funcionamento a 600 metros de distância do local. “Essa área surgiu com fins filantrópicos e poderia receber uma proposta de urbanismo inteligente, que beneficiasse nossa cidade”, define o pedagogo.

Ele assinala, ainda, as consequências para a população a cada vez que um hipermercado se instala novamente. “As padarias, mercadinhos e o comércio local saem prejudicados em detrimento do varejo”, ressalta Rischbieter. O projeto de construção do mercado ainda tramita na prefeitura. Causa coletiva O coletivo “A causa mais bonita da cidade” surgiu no Facebook e logo ganhou milhares de adeptos. Os mais engajados se dividiram em frentes de atuação – jurídica, urbanística, ambiental – para acompanhar o processo e garantir que a ganância

não atropele a prudência. “Estamos fazendo o que a Prefeitura devia fazer, se trabalhasse pela cidade. Usamos do nosso tempo para organizar o local e elaborar as melhores propostas possíveis”, defende Luca Rischbieter. O coletivo trabalha em projetos e alternativas para o uso do terreno – todos com foco na preservação integral da área. Também solicitou o tombamento da área como patrimônio cultural para impedir a construção do hipermercado. “Não podemos mais sufocar o urbanismo com hipermercados, carros, shopping centers”, conclui Luca Rischbieter. Vino Fotografia

Da área total do parque, pelo menos metade será ocupada pela rede Angeloni

18ª Parada da Diversidade será dia 5 de novembro A 18ª Parada da Diversidade LGBTI de Curitiba deve ocorrer no dia 5 de novembro, domingo, e promete reunir milhares de manifestantes da capital e do interior do estado. A concentração está prevista para as 12h, na Praça 19 de Dezembro, seguida da tradicional marcha pela Avenida Cândido de Abreu até a Praça Nossa Senhora da Salete. Esta edição traz como lema “O que eu tenho a ver com isso?” e provoca a população a refletir o papel de cada pessoa no enfrentamento à discriminação e às violações de direitos contra lésbicas, gays, bissexuais,

trans e intersexo. A ação é Promovida pela Associação Paranaense da Parada da Diversidade (APPAD). Violência que precisa parar Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, ao menos 7 pessoas LGBT foram mortas no Paraná apenas até abril de 2017. Ao longo de 2016, foram 15 casos. Esse dado compõe outra estatística assustadora: no ano passado, uma pessoa LGBT foi morta a cada 25h no país. Foram 343 mortes LGBT registradas e notificadas pela imprensa, mas outras tantas ficaram de fora da conta.

Ato contra a redução da maioridade penal ocorre nesta sexta Redação, Curitiba (PR) A Praça de Bolso do Ciclista, no Centro de Curitiba, será o ponto de encontro para uma mobilização contra a redução da maioridade penal, nesta sexta-feira (27). A ação está marcada para 19h, e promete levar pipas, balões, panfletos e projeções de vídeo para chamar a atenção de quem passar pelo local. A atividade é organizada pela articulação Paraná Contra a Redução, formada em 2015, quando houve fortes protestos contra a redução. Assim como em Curitiba, mobilizações com o mesmo tema passaram a ocorrer em todo o país após a retomada da discussão da matéria no Congresso Nacional. Um pacote de projetos relacionados ao tema deve ser votado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado no dia 1º de novembro. A principal medida está na PEC 33/2012, que reduz a idade penal de 18 para 16 anos em caso de crimes considerados graves.

“Tratar, julgar e condenar crianças e adolescentes como adultos aumenta a reincidência e a criminalidade” Maria Laura Canineu Na contramão Em uma audiência pública realizada na tarde desta terçafeira (24) no Senado, a ONG internacional Human Rights Watch alertou que a redução da maioridade penal coloca o país na contramão da tendência mundial. A diretora da instituição no Brasil, Maria Laura Canineu, disse que, ao longo dos últimos tempos, países democráticos têm percebido que a redução da idade penal é contraproducente porque não traz os efeitos esperados.


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5 | Cidades

Greca estuda aumentar número de crianças por sala nos Cmeis Servidores públicos apontam riscos à segurança nos cmeis e prejuízos ao desenvolvimento da criança Imprensa Sismuc

Pedro Carrano, Curitiba (PR)

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ão bastassem os problemas estruturais, com paralisações de obras e unidades sem uso, o prefeito Rafael Greca (PMN) pretende aumentar o número de crianças em sala de aula nos Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis), reduzindo também o número de profissionais no cuidado das crianças. Dado o aumento da demanda, o número atual de trabalhadores já é insuficiente. “Tem cmeis em que profissionais já ficam sozinhos em alguns períodos, caso do horário do sono, quando duas professoras saem para almoçar ou para o lanche”, relata Soraya Cristina, professora de educação infantil. Mudança criticada A mudança aconteceria com a alteração da deliberação número 02/2012 do Conselho Municipal de Educação, que versa sobre dimensionamento das turmas e relação professor/criança.

Servidores municipais apontam o risco de alteração do número de crianças por profissionais em sala de aulas nos cmeis, diminuindo também o número de profissionais de maneira geral. “Será que é aumentando o número de crianças por sala que o prefeito pretende resolver o deficit do número de vagas?”, questiona Adriana Kalckmann, professora de educação infantil, referindo-se à longa lista de espera, que chega a 10 mil crianças.

Organização das turmas A gestão quer mudança do número de crianças por profissional. Isso vai afetar também a organização das turmas. Na turma B1 (berçário) hoje são 15 crianças ao total e cinco por professor. No entanto, chega a alcançar no total 18 crianças. Com essa nova diretiva da gestão, pode-se regulamentar a atual arbitrariedade. Uma das novidades está no maternal 1, com a proposta de dez crianças por profissional, em um li-

mite de 30. O limite atual nesta modalidade é de um profissional para 8 crianças, em um total de 24 crianças em sala. Contratação de professores Pelo dimensionamento médio de um cmei, seriam necessários 19 profissionais, contando com equipe de permanência, para preencher um equipamento público. Em média, então, para 18 novas unidades na cidade (doze prontas e seis em construção) de cmeis, seriam necessários somente 340 funcionários convocados, em concurso realizado em 2014.

“Será que é aumentando o número de crianças por sala que o prefeito pretende resolver o deficit do número de vagas?”, Adriana Kalckmann

MAB denuncia na Europa o drama dos atingidos pela hidrelétrica Baixo Iguaçu

imprensasismuc

Empresa do País Basco controla parte do projeto no Paraná Redação, Curitiba (PR) O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) participou esta semana de uma série de eventos no País Basco – extremo Norte da Espanha – sobre energia e violação de direitos humanos. Além de debater o tema na universidade de Euskal, representantes do movimento participaram de uma sessão do Par-

lamento Regional. Em pauta, os direitos da população atingida pela Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu, entre o sudoeste e o oeste do Paraná. A empresa basca Iberdrola detém 52% da Neoenergia no Brasil, responsável pelo projeto. A UHE Baixo Iguaçu começou a ser construída em 2013, e as famílias que viviam na área da barragem não tiveram acesso ao direito de

reassentamento rural coletivo. Outra queixa apresentada no País Basco foi a criminalização das lideranças do MAB na região. Em quatro anos, foram mais de 30 notificações com o intuito de desarticular o movimento – interditos proibitórios, inquéritos policiais, processos de desapropriação judicial ou processos criminais. Quando a usina for concluída, em 2018, cerca de

60% da energia será vendida à Vale, mineradora responsável pelo crime ocorrido em Mariana (MG) em

2015. As famílias atingidas pela lama também não foram indenizadas, nem reassentadas.


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6 | Lava Jato

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7 | Lava Jato

Prisões autorizadas por Moro em 2013 prejudicam até hoje a distribuição de comida no interior do Paraná Assim como a Lava Jato, operação Agro-Fantasma resultou na destruição de políticas sociais. Os agricultores foram absolvidos, mas os cortes no Programa de Aquisição de Alimentos chegam a 99,8% Daniel Giovanaz, Curitiba (PR)

U

m ano antes de se tornar conhecido como “juiz da Lava Jato”, o nome de Sérgio Moro provocava calafrios em agricultores familiares do Paraná. Foi ele quem autorizou a prisão preventiva de 11 produtores rurais em 15 municípios do estado, durante a operação AgroFantasma. Os trabalhadores eram acusados de fraudes no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), lançado pelo governo Lula (PT) em 2003. Os processos correm em segredo de justiça, e os juízes não estão autorizados a comentar casos em andamento, conforme a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman). O PAA era um dos braços do programa Fome Zero, que reduziu a extrema pobreza no Brasil de 12% para 4,8% em seis anos. A ideia era gerar renda para a agricultura familiar e distribuir alimentos para entidades especializadas em atender crianças, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Sem provas Os agricultores foram absolvidos em sete das oito ações penais da operação Agro-Fantasma, por falta de provas. Eles ficaram presos por dois meses, em média. Os habeas corpus foram concedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A última sentença absolutória foi assinada pela juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba, Gabriela Hardt, em 4 de outubro. O Ministério Público Federal (MPF), responsável pe-

las acusações, sequer entrou com recurso para reverter a decisão. Advogada da organização Terra de Direitos, que acompanha o caso, Naiara Bittencourt explica que a atuação de Moro provocou um efeito dominó: desarticulou cooperativas agrícolas, porque as lideranças foram afastadas; desencorajou outros agricultores a assumirem a entrega e distribuição dos alimentos; burocratizou o programa e inviabilizou o cadastro de novas associações. O capítulo final desta trama será a extinção do PAA. Segundo informações do governo Michel Temer (PMDB), o programa terá, em 2018, um corte equiva-

lente a 99,8%. A verba anual será reduzida de R$ 340 milhões para R$ 750 mil, para financiar a distribuição de alimentos em todo o país.

Método utilizado na operação AgroFantasma é o mesmo da Lava Jato

Desmonte A cobertura especial do Brasil de Fato sobre a Lava Jato tem reunido críticas à operação sob o ponto de vista da soberania nacional econômica. Além de aumentar em 5 milhões o número de desempregados, as investigações abriram caminho para um golpe que entregou recursos naturais, destruiu a indústria nacional

e favoreceu o capital estrangeiro. No caso da Agro-Fantasma, os agricultores chamam atenção para as ameaças a outro tipo de soberania: a alimentar. Entre 2008 e 2012, auge do PAA, o Estado investiu R$ 2 bilhões na compra de alimentos de pequenos produtores, o que beneficiou 518.776 mil famílias e garantiu o fornecimento de comida para quase 30 mil estabelecimentos. Dirlete Dellazeri trabalha na Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa Wellington Lenon

Agricultura familiar produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil

(Copran), que produz laticínios, frutas e verduras em Arapongas, no Norte paranaense. A Copran abastece entidades sociais em seis municípios, mas não pretende participar do PAA no ano que vem devido aos cortes de recursos e ao aumento da burocracia. “Acho que é mais fácil vender droga no Brasil do que vender alimento pelo PAA”, desabafa. “O programa ficou engessado e, para piorar, o que está previsto para 2018 é o fim do programa” Segundo a produtora rural, a cooperativa recebia cerca de R$ 750 mil por fornecer alimentos ao PAA, o equivalente ao que Temer pretende investir nessa política para o país inteiro em 2018. A secretária de segurança alimentar e nutricional do município, Niele Melo, confirma que houve a diminuição de 80% dos repasses federais para o programa em Arapongas já neste ano: “Aqui, são oito entidades que recebem [alimentos do PAA]. Mas, elas só recebem se vier o repasse”. O Banco Mundial estima que 28 milhões de brasileiros deixaram a situação de pobreza extrema entre 2006 e 2016. Desde que Temer assumiu a Presidência, há um ano, cerca de três milhões de pessoas, com renda familiar inferior a 140 reais por mês, voltaram a passar fome. Cicatrizes Viaturas, sirenes, algemas. Quatro anos após as prisões preventivas, o fantasma daqueles dias ainda assombra várias casas nos rincões do Paraná. O pequeno produtor Gelson

Luiz de Paula foi um dos três “CUSTO SOCIAL” DA LAVA JATO membros da associação presos na operação Agro-Fantasma, e relata dificuldade SETOR INDUSTRIAL GOLPE E CORTES EM POLÍTICAS SOCIAIS para retomar o cultivo de feijão e hortaliças em Irati, no Segundo a Confederação Consequência direta da Sudeste do estado. “A operação afastou to- Nacional dos Metalúrgicos, Lava Jato, impeachment da das as famílias que estaa cada prisão autorizada presidenta Dilma (PT) vam envolvidas com agroepela Lava Jato, foram cologia. Desde 2013, não comprometeu o orçamento conseguimos reestruturar destruídos 22 mil postos de programas como o “Minha a associação, nem entregar Casa, Minha Vida” de trabalho no Brasil alimentos, porque a gente dependia do PAA”, lamenta. “Tudo isso foi planejado EDUCAÇÃO SEM ROYALTIES DO PRÉ-SAL para destruir o programa, fragilizar as cooperativas, e teve um impacto muito Desmonte da Petrobras trouxe incerteza sobre o grande na minha vida e dos destino dos royalties do pré-sal, cerca de R$ 364 meus companheiros. Fiquei 48 dias preso. Minha família bilhões, que seriam investidos em saúde e educação sofreu muito, e não aprova que eu continue participando das reuniões da associação. Eu passei por uma deto Constitucional, criticou risco para a investigação ou mos não é um governo; é um nos agricultores só favorepressão e agora enfrento o uso das prisões temporá- algum perigo processual”, negociante”. ce as multinacionais do seproblemas financeiros”. Cerca de 70% dos alimenrias pelo juiz Sérgio Moro interpreta. tor alimentício – que podem Gelson fazia entregas ao A produtora rural Dirle- tos consumidos no Brasil na Lava Jato. Embora a inlucrar com esse “vácuo” no PAA como membro da Assotenção seja diferente, mas o te Dellazeri, de Arapongas, vêm de pequenos produtomercado. Segundo Naiara ciação dos Grupos de Agrimétodo utilizado é o mes- entende que o objetivo das res, que são minoria no ConBittencourt, “não é por acacultura Ecológica São Franmo que levou à prisão de prisões era favorecer o agro- gresso Nacional. A bancada so que as prisões preventivas cisco de Assis. Até 2003, a inocentes no caso PAA. “A negócio. “Foi uma persegui- ruralista, ou Frente Parlade lideranças de associações comunidade onde ele moraConstituição garante de que ção, de fato, a um programa. mentar da Agropecuária e cooperativas de agriculva era conhecida pela plana prisão só será usada excep- Mas, o que vai acontecer (FPA), que defende os intetores agroecológicos foram tação de fumo. Foi o lançacionalmente. Isso é uma de- com quem acusou e prender resses do agronegócio, tem decretadas mento do Fome corrência do artigo 5º, inciso injustamente? Nada. É re- entre 120 e 200 votos na Câpelo juiz SérZero que incen- A verba do 66. E na verdade, ali [na Lava voltante”, critica. “Isso é só mara e ajudou a livrar o pregio Moro, retivou as famí- programa deve Jato], ela virou uma moe- um reflexo de como a pro- sidente Michel Temer das presentanlias a cultivada de troca. O Moro garan- dução de alimentos é trata- denúncias de corrupção na do interesses rem alimentos sair de R$ 340 te a liberdade em troca de da no Brasil. O que nós te- Lava Jato. claros na desaudáveis e sem milhões para uma delação, digamos assestruturação agrotóxicos. R$ 750 mil sim, ‘motivada’: tem que dede políticas A associalatar o que ele deseja ouvir”. e programas ção, que cheENTENDA AS ACUSAÇÕES Quanto à operação Agrosociais implementados no gou a reunir 130 famílias de Fantasma, a advogada Naiaperíodo político anterior agricultores e distribuir 40 Os agricultores paranaenses responderam por crimes ra Bittencourt considera que [em referência aos governos toneladas de alimento por como falsificação de documento público, falsidade ideolótambém não havia justificaPT, de 2003 a 2016]”. ano, tem hoje menos de 20 gica, estelionato e associação criminosa. A Agro-Fantasma tiva legal para as prisões dos produtores em atividade. não investigou só associações e cooperativas rurais, mas agricultores. “Foi uma deMétodo conhecido Em A Terra de Direitos publitambém funcionários da Companhia Nacional de Abastecisão arbitrária, sem fundaentrevista ao Brasil de Fato, cou uma nota sobre o tema cimento (Conab) por desvios e irregularidades. Além dos mento, porque os agricultoa professora Claudia Barem outubro, ressaltando que onze presos, foram 58 pessoas indiciadas. res não representavam um bosa, especialista em Direia criminalização dos peque-


8 | Brasil

Brasil de 8 Fato PR

Paraná, 26 de outubro a 1 de novembro de 2017

Ministra suspende portaria que “facilita” trabalho escravo no Brasil Rosa Weber, do STF, considera que as novas regras o combate à escravidão Divulgação | MTE

Redação, Curitiba (PR)

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ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, suspendeu a Portaria nº 1.129, publicada pelo Ministério do Trabalho no último dia 16, que alterava as regras de fiscalização do trabalho escravo no país. Através de uma liminar, ela atendeu o clamor de movimentos populares, entidades de direitos humanos e magistrados que afirmam que a nova legislação “facilitaria” as práticas escravistas.

Rosa Weber justificou a decisão com o argumento de que a mudança nos conceitos de trabalho escravo pode afetar “as ações e políticas públicas do Estado brasileiro”. Segundo ela, além de dificultar o combate

Plenário do Supremo deve se reunir para julgar o caso em breve

à escravidão, a portaria “sonega proteção adequada e suficiente a direitos fundamentais” dos cidadãos, assegurados pela Constituição de 1988. A decisão da ministra atendeu a uma ação do partido Rede Sustentabilidade. De acordo com a ação do partido, a portaria visou “sim ao objetivo privado do titular da Presidência da República de assegurar apoio de determinada bancada legislativa para impedir a admissão de uma ação penal na Câmara dos Deputados”. Conceito A portaria de dia 16 de outubro determinava que um caso de trabalho forçado e degradante só seria definido como condição análoga à escravidão se fosse comprovado que o trabalhador ou trabalhadora estivesse impendido de ir e vir. As demais condições seriam menosprezadas – duração da jornada, vínculo trabalhista, qualidade do alojamento, acesso a comida e água potável, por exemplo. A portaria está suspensa até o julgamento do mérito da ação pelo plenário do Supremo.

MST refloresta bacia do Rio Doce, contaminada pela Samarco Mídia Ninja

Rute Pina, Periquito (MG) O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mantém quatro viveiros de mudas na bacia do Rio Doce, como do projeto Plantando o Futuro. Um deles está no assentamento Liberdade, em Periquito-MG, e abriga 150 mil mudas de vegetação nativa. A iniciativa é fruto de uma parceria com o governo do estado de Minas Gerais. A engenheira ambiental Raquel Vieira da Costa, que coordena o projeto, explica que os viveiros contribuem para o reflorestamento da região – contaminada desde 2015 com o rompimento da barragem do consórcio Samarco, vinculado à mineradora Vale, em Mariana: “O Rio Doce assume uma importância muito grande pela tragédia, pelo crime de Mariana. O movimento sem terra também se coloca à disposição de contribuir com isso, de recuperar a bacia do Rio Doce”, ressalta a engenheira. Além daquela bacia, o projeto Plantando o Futuro abrange outros 16 territórios no estado em parceria com organizações da sociedade civil. Com a ajuda do MST, o governo pretende plantar 30 milhões de árvores até dezembro de 2018 em Minas Gerais e recuperar 40 mil nascentes e 6 mil hectares de matas ciliares.


Brasil de Fato PR 9

Paraná, 26 de outubro a 1 de novembro de 2017

9 | Brasil

Temer se livra da denúncia, mas perde apoio Presidente e dois ministros são acusados de arrecadar R$ 587 milhões em propinas de empresas Cristiane Sampaio, Brasília (DF), com redação (PR)

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or 251 votos a 233, o plenário da Câmara Federal decidiu livrar o presidente golpista Michel Temer (PMDB) da denúncia apresentada pela ProcuradoriaGeral da República (PGR) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O mandatário é acusado dos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. Com isso, o peemedebista não poderá ser investigado e o processo será arquivado, assim como ocorreu com a primeira denúncia, votada em agosto deste ano. A votação final expressa a fragilização de Temer com a base aliada. Comparado à votação da primeira denúncia, o acusado teve 12 votos a menos na sessão desta quarta-feira. A demora de quase oito horas para conseguir reunir o quórum também confirma a fragilidade de Temer.

A primeira sessão do dia foi aberta pouco depois das 9 horas da manhã, mas se encerrou por volta das 14 horas sem a votação, por falta de quórum. Somente no início da noite, durante uma segunda sessão, o plenário atingiu as 342 presenças necessárias para votar a pauta. A demora foi uma estratégia da oposição de esvaziar o plenário para tentar impedir a votação e adiar a consulta para as próximas semanas, na tentativa de desgastar ainda mais o governo e ampliar a possibilidade de votos entre os dissidentes da base aliada. Este cenário indica que o governo terá maior dificuldade para aprovar as emendas constitucionais, como a Reforma da Previdência. Para alterações na Constituição, é necessário quórum maior para passar duas vezes no plenário.

rem a favor de Temer, estão PMDB, DEM, PR, PTB, PSD, Pros, Solidariedade, PSC e PP. Do outro lado da decisão, PT, PCdoB, Psol, Rede, PDT, PHS, Podemos e PSB indicaram o voto contrário ao presidente, pedindo a apuração dos fatos apontados pela PGR. Já o PV e o PSDB, que integram a base aliada, não conseguiram fechar questão em torno da pauta e liberaram os deputados para votarem como quiserem. Durante o processo, que teve voto aberto, dois deputados se abstiveram e 25 estiveram ausentes.

Quatro geral da votação Entre os partidos que orientaram as bancadas a vota-

Tensão Com duração de duas horas e meia, a votação ocorreu sob clima de tensão

Comparado à votação da primeira denúncia, foram 12 votos próTemer a menos

Luiz Macedo | Câmara dos Deoputados

e acirramento da disputa entre base aliada e opositores. Um dos momentos de destaque se deu quando o deputado Wladimir Costa (Solidaridade-PA) ergueu em plenário uma faixa com a frase “Deixe o homem trabalhar; vão procurar o que fazer”, em referência ao voto favorável a Temer. A atitude provocou reações da oposição, que respondeu com cartazes alusivos às barganhas realizadas pelo Planalto para garantir o apoio da base na votação. Segundo levantamento feito pelo Jornal O Estado de São Paulo, o montante gasto com emendas parlamentares chegou a R$ 32,1 bilhão en-

tre junho e outubro. Esse valor somado a outras concessões – como, por exemplo, a anistia de dívidas empresariais através do Refis – atinge a casa dos R$ 250 bilhões. Denúncia Além de Michel Temer, são alvos da denúncia apresentada pela PGR os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco. Os três são acusados de arrecadar R$ 587 milhões em propinas pagas por empresas investigadas no âmbito da Lava Jato, entre elas a JBS. Todos eles negam as acusações e se dizem vítimas de perseguição política.

12 VOTARAM CONTRA TEMER E PELO PROSSEGUIMENTO DA DENÚNCIA 18 deputados federais votaram a favor do governo Temer e pelo arquivamento das denúncias Alex Canziani (PTB) Alfredo Kaefer (PSL) Dilceu Sperafico (PP) Edmar Arruda (PSD) Evandro Roman (PSD) Giacobo (PR) Hermes Parcianello (PMDB) João Arruda (PMDB) Luiz Carlos Hauly (PSDB) Luiz Nishimori (PR)

Nelson Meurer (PP) Nelson Padovani (PSDB) Osmar Bertoldi (DEM) Osmar Serraglio (PMDB) Reinhold Stephanes (PSD) Sérgio Souza (PMDB) Takayama (PSC) Toninho Wandscheer (Pros)

12 Votaram contra Temer e pelo prosseguimento da denúncia Aliel Machado (Rede) Assis do Couto (PDT) Christiane Yared (PR) Diego Garcia (PHS) Ênio Verri (PT) Francischini (SD)

Leandre (PV) Leopoldo Meyer (PSB) Luciano Ducci (PSB) Rubens Bueno (PPS) Sandro Alex (PSD) Zeca Dirceu (PT)


10 9 | Cultura

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ALIMENTOS SAUDÁVEIS | Mauro Ramos

DISTRAÍDOS CANTAREMOS Ricardo Prestes Pazello

Os tons e os batons das Nymphas O trabalho mais recente do grupo é o disco “Brejeiro”, lançado em 2016 Mulheres. Mulheres jovens. Há cerca de quarenta anos um grupo de mulheres jovens floresce no cenário musical de Curitiba. Era a década de 1970, a ditadura ainda vigia, as mulheres tinham de lutar ainda mais por sua liberdade e nossa Curitiba não era menos conservadora do que é hoje. Elas tinham entre 13 e 20 anos. Mesmo sem estrutura profissional para as orientar, lotaram o Teatro Universitário de Curitiba (TUC) em 1978 e, inusitadamente, a fama se espalhou. Curitiba tinha, a partir de então, um grupo vocal feminino. Seus primeiros discos foram gravados entre 1980 e 1984. Primavam pela gravação de músicas autorais e de compositores paranaenses – uma raridade, digna de nota, para a 5º Comarca de São Paulo. No terceiro LP, de 1984, intitulado “Tons e batons”,

“Eu já cansei de fritar bife, passar roupa/ Varrer casa e viver presa nessa escravidão/ Pra você vir de noite reclamando, me xingando/ E inda por cima me fazer de colchão/ Eu não!”, trecho da canção “Tchau mesmo” uma temática sai das entrelinhas: a poética feminina. Na canção “Tchau mesmo”, Mara Fontoura – a principal compositora do grupo – fez o que era pressuposto se tornar exposto: “Eu já cansei de fritar bife, passar roupa/ Varrer casa e viver presa nessa escravidão/ Pra você vir de noite reclamando, me xinGramafone

gando/ E inda por cima me fazer de colchão/ Eu não!” Na história, a mulher vai embora, arranja emprego e ainda vai trabalhar de cantora numa boate. E tchau! Por essa, a tradicional Curitiba não esperava. A única coisa tradicional da música foi emendá-la com um chorinho como “Ticotico no fubá” acompanhado pelo histórico cavaquinista da cidade, Janguito do Rosário. Carmen, Cristina, Juliana, Mara, Miram, Rosa Lídia, Rosa Maria e Soraya (última formação do grupo) enfrentaram outros temas sociais em suas músicas, além da questão feminina. Inevitável em um contexto de tantas desigualdades como o nosso. Como elas dizem, artistas são instrumentos da verdade. Às vezes, um instrumento usado com mais intuição; outras, com mais intencionalidade. Mas, via de regra, desvalorizado (à exceção, é óbvio, dos que caem nos braços da megaindústria cultural). Hoje, em tempos de conservadorismo exacerbado, ataque às árduas conquistas das mulheres e incompreensão do papel da arte, lembrar do Grupo Nymphas é mais que um alento, é uma necessidade.

Para ficar por dentro Livro “Grupo Nymphas, 30 anos: cantologia”, de Mara Fontoura (2006).

BENEFÍCIOS DO ALHO

Reprodução

O alho é um dos alimentos mais presentes na cozinha brasileira. Além do sabor, ele possui propriedades que inibem o crescimento de bactérias e vírus. Também ajuda a fortalecer o sistema imunológico. A alicina, um composto presente no alho, funciona como um potente anti-inflamatório e ajuda a baixar os níveis de colesterol e pressão arterial. Segundo o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, vários estudos mostram uma associação entre o aumento da ingestão de alho e a redução no risco de certos tipos de câncer, como o câncer de estômago, cólon, esôfago, pâncreas e mama. Mas nem todas as formas de consumir alho produzem estes benefícios para a saúde. Para aproveitá-lo ao máximo, é preciso ingeri-lo cru. A Organização Mundial da Saúde recomenda para adultos o consumo diário de 2 a 5 gramas de alho fresco (aproximadamente um dente de alho), que pode ser ingerido com água, chás ou sucos.

AGENDA CULTURAL

O museu é feminista O quê: Obras do coletivo Guerrilla Girls estão na exposição “O museu é feminista e outras esperanças sobre o futuro”, que integra a Bienal de Curitiba 2017. O grupo usa máscaras de gorila em público e utilizam fatos e humor para apresentar questões de gênero no mundo da arte. Quando: Até 25 de fevereiro de 2018. Terça a sexta, 9h às 12h e das 14h às 18h. Sábados e domingos, 12h às 18h. Eric Huybrechts Onde: Museu da Fotografia Cidade de Curitiba, Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533, Solar do Barão. Quanto: Entrada gratuita.


Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de outubro a 1 de novembro de 2017

Obra de Chiquinha Gonzaga está no Festival de Ópera do Paraná Redação,

Curitiba (PR)

Arquivo

A opereta de Chiquinha Gonzaga, “Festa de São João”, de 1879, é destaque o 3º Festival de Ópera do Paraná, de começou no dia 20 e vai até domngo (29). É a estreia mundial da apresentação. “Uma mulher, transgressora, valente e criativa não teria o devido espaço para levar ao palco suas obras em pleno século 19. Esta opereta é uma jóia da música histórica brasileira que estamos ainda descobrindo”, disse Gehad Hajar, responsável pelo restauro da obra e também diretor-geral do festival. A terceira edição do Festival é com programação totalmente gratuita, com apresentação no Guairão, Guairinha, Miniauditório, Capela Santa Maria e Paço da Liberdade. São mais de 20 espetáculos e sete cursos, realizados em Curitiba e Ponta Grossa. Mais de 400 artistas e técnicos estão envolvidos no evento.

Para ficar por dentro Ópera Festa de São João, de Chiquinha Gonzaga, com Coro Lírico de Curitiba, Orquestra Rabecônica do Brasil, Coro Infantil da Escola Padre Pedro Fuss, Escola de Dança Teatro Guaíra e Grande Elenco. Quando: Dia 28, sábado, às 20h, no Guairinha Quanto: Entrada gratuita. Os locais de apresentação abrem suas portas 25 minutos antes de cada espetáculo. Programação completa: festivaldeopera.org

Dia Internacional da Animação (DIA) O quê: É uma mostra de curtas-metragens de desenhos animados nacionais e internacionais, que ocorre em centenas de cidades do Brasil para comemorar o Dia Internacional da Animação. Quando: Dia 28, sábado, das 19h30 às 21h30. Onde: Cini Guarani, Portão Cultural, Av. Rep. Argentina, 3430, Portão, em Curitiba. Quanto: Entrada gratuita.

11 | Cultura 11

AGENDA CULTURAL

Era um, eram dois, eram três O quê: O que podemos encontrar na tenda de um contador de histórias? Livros, caixas, baús, malas, ratos. O que, ratos? Sim, três simpáticos ratinhos, brincando de esconder. E eles dão a partida para uma grande aventura. Cada ratinho protagoniza uma história. A peça “Era um, eram dois, eram três” é da Companhia Di Trento Produções. Quando: Dia 29, Divulgação domingo, às 11h. Onde: Teatro do Piá, Praça Garibaldi, 7, Palacete Wolf, no São Francisco, em Curitiba. Quanto: Entrada gratuita.

Divulgação

Cinedebate: Primavera Secundarista e República do Caos O quê: No aniversário de um ano da ocupação do Setor de Artes da UFPR, o grupo de estudantes que integrou o movimento contra a Medida Provisória da Reforma do Ensino Médio fará um cinedebate com dois documentários: ‘Primavera Secundarista’ e ‘República do Caos’. Ambos apresentam a onda de ocupações no Paraná em 2016. Quando: 27, sexta-feira, das 18h às 20h30. Onde: DeArtes - UFPR, rua Coronel Dulcídio, 638, Batel, em Curitiba. Quanto: Entrada gratuita. Divulgação

Slam Contrataque: a grande final! O quê: Poetas e poetizas de Curitiba e Região Metropolitana estão convidados para participar da final – que vale uma vaga para o Slam- BR. Podem participar da disputa candidatos tiveram poesias entre as mais bem avaliadas nas últimas cinco edições do evento. Quando: Dia 28, sábado, das 18:30 às 22:30. Onde: Cavalo Babão, São Francisco, em Curitiba Quanto: Participação gratuita.

Carrossel da Esperança O quê: François (Jacques Tati) é um carteiro francês distraído e às vezes interrompe suas tarefas para conversar com os habitantes da pequena cidade onde vive. Após assistir em um filme os métodos mais rápidos dos correios dos Estados Unidos, François inicia uma nova jornada em sua bicicleta. A sessão faz parte do Cineclube da Aliança Francesa e está entre os clássicos do cinema francês, produzido em 1947. Reprodução Quando: Dia 28, sábado, às 16h. Onde: Cini Guarani, Portão Cultural, Av. Rep. Argentina, 3430, Portão, em Curitiba. Quanto: Entrada gratuita.


12 | Esportes

Fim do programa Bolsa Atleta pode prejudicar oito mil atletas Esgrimista curitibana comenta as dificuldades no cenário esportivo do país com o governo de Temer Arquivo pessoal

Luiza Lee, Giulia Gasparin, Karina Lakerbai e Stephanie Grosche foram medalha de bronze no campeonato Sul-Americano de esgrima

Carolina Goetten, Curitiba (PR)

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atleta curitibana Giulia Gasparin representa o Brasil em competições de esgrima desde 2008. Há sete anos, recebe incentivo do programa Bolsa Atleta, que já beneficiou 23 mil esportistas em todo o país com depósitos mensais. No próximo ano, porém, o patrocínio desses atletas está sob a ameaça da política de cortes do Governo Federal: a proposta da Lei Orçamentária Anual (LOA), enviada à Câmara dos Deputados em setembro, prevê uma redução de 87% na verba destinada a programas do Ministério do Esporte no próximo ano. “Esse programa é fundamental para que possamos treinar e competir. O Bolsa Atleta foi decisivo em minha carreira”, defende Giulia. Ela e mais três esportistas, todas beneficiárias do progra-

Brasil de Fato PR

Paraná, 26 de outubro a 1 de novembro de 2017

ma, conquistaram neste mês a medalha de bronze no campeonato Sul-Americano em Santiago, no Chile. “Ainda assim, o valor que recebemos não dá conta do nosso sustento. Eu preciso trabalhar para complementar a renda. Sem o incentivo, milhares de atletas serão prejudicados”, avalia. Na Câmara A comunidade esportiva está em alerta pela manutenção dos programas de financiamento ao esporte. Uma audiência pública ocorrida na úl-

inspiração. Ele ajuda a desenvolver valores no ser humano”, defende Giulia. Com a esgrima, além de medalhas, ela ganhou a oportunidade de desenvolver seu foco e a capacidade de atenção no dia a dia. A comunidade presente na audiência pública declarou que a intenção é pressionar para que o orçamento do próximo ano seja, pelo menos, igual ao de 2017.

Bolsa a milhares de atletas Criado em 2005, programa Bolsa Atleta é o maior programa de patrocínio “O Bolsa Atleta foi individual no esporte em todo o mundo. decisivo em minha Segundo Giulia, apecarreira” sar de ser concedido Giulia Gasparin a atletas que têm medalhas ou bom ranking, ainda abrange a base e ajuda atletima semana, em Brasítas com condições mais lia, discutiu saídas paprecárias. Só no ano ra o próximo ano. “Um passado, foram atendipossível fim do Bolsa dos 7.297 representanAtleta é uma perda pates brasileiros no esporra todo mundo. O este, em diferentes modaporte promove união, lidades. saúde, oportunidade e

Montanha Alento russa Por Roger Pereira O Atlético começou muito mal o Campeonato Brasileiro, chegou a ser lanterna, conseguiu duas sequências de quatro vitórias seguidas, entrou no G-6, ficou cinco rodadas sem ganhar, voltou a ver o fantasma do rebaixamento de perto. Na última semana, duas vitórias seguidas deixaram o Furacão praticamente livre de qualquer risco de queda para a Série B e, com esperanças de conquistar uma vaga na inflada Libertadores, uma vez que o G-6 virou G-7 e pode virar até G-8 ou G-9. Os resultados foram fundamentais para dar tranquilidade e foco para a reta final do Brasileirão do Furacão, mas estão longe de indicar que o time encontrou seu caminho. O Atlético chega às últimas rodadas do campeonato sem um time. Se a parte defensiva está bem definida, do meio para frente, Fabiano Soares não achou sua formação ideal e, com exceção de Nikão, cada jogo é um novo teste.

O craque da camisa 12 Por Marcio Mittelbach De novo com emoção, sofrimento e alívio no final, o tricolor venceu o Vila Nova por 1 a 0 e emendou a décima vitória seguida como mandante. Mas dessa vez o grande destaque não foi o Richard, que fez boas defesas, ou o Felipe Alves, que saiu do banco para marcar o gol da vitória. O destaque foi a torcida. E não foi pela quantidade. Em uma fria noite de terça-feira, dez mil torcedores compareceram à Vila Capanema no famigerado horário das 21h30. O público poderia ser maior, mas foi o suficiente. Mesmo com o time jogando mal, os guerreiros que compareceram apoiaram de forma incondicional, e a recompensa veio nos quinze minutos finais. É incrível ver a sintonia desses jogadores com a torcida. Está claro que o elenco comprou a ideia, sabe o quanto o acesso é importante e se dedica dentro de campo para chegar lá. Prepare o coração, torcida tricolor! Em menos de um mês podemos comemorar o tão sonhado acesso!

Confiança: 83 e 84 Por Cesar Caldas A permanência do Coritiba na Primeira Divisão depende da conquista, nos restantes oito jogos do Campeonato Brasileiro deste ano, de 13 pontos – quatro vitórias e um empate. Um aproveitamento, portanto, de 54%, dos pontos a disputar, muito acima da performance observada até aqui na competição, de apenas 35%. A confiança dos alviverdes está fundamentalmente depositada nas duas melhores contratações do clube nos últimos três anos: o atacante Kléber e o goleiro Wilson, cujas camisas ostentam às costas os números 83 e 84, respectivamente. O Gladiador, afastado sucessivamente por duas suspensões e uma contusão, apresenta uma média de gols por partida não obtida por nenhum outro avante do time desde a primeira passagem de Keirrison (que está de volta e ainda não balançou as redes). Wilson, ídolo inconteste da torcida, tem sido o salvador da retaguarda coritibana.


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