Transporte | p. 02
Memórias da Ferrovila
Por que a tarifa é irregular? Economista denuncia problemas de licitação, custos e preço dos insumos no transporte público
PARANÁ
23 a 1º de março de 2017
Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Moradora relembra avanços na região desde a ocupação, em 1991 SMCS / Prefeitura de Curitiba
Perfil | p. 04
distribuição gratuita
Ano 02 | Edição 26
Daniel Giovanaz
Lava Jato versus direito de defesa Delações premiadas e conduções coercitivas colocam em risco as bases da Constituição de 1988. Juristas avaliam que operação da Polícia Federal pode inclusive servir de base para a criminalização da população pobre Lava Jato | p. 05
Senado aprova Alexandre de Moraes no STF
Igor Wiemers
Parcialidade de indicado para o Supremo Tribunal Federal é alvo de críticas. Posse do novo ministro será dia 22 de março
SKATISTAS PEDEM MELHORIAS Nenhuma das 27 pistas públicas da capital é adequada, segundo os atletas
Esportes | p. 08
Marcelo Camargo / Agência Brasil
O Carnaval de Lápis Maior compositor popular de Curitiba foi sinônimo de rebeldia
2 | Editorial
Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Brasil de Fato PR
Governo tira capacidade de investimento dos bancos públicos E
mpresas públicas no governo federal, estados e municípios estão à venda no balcão de negócios do mercado. No Rio de Janeiro, foi aprovada a venda de ações da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae). No Rio Grande do Sul, há pressão para a venda do Banrisul, sociedade mista que atua de
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 26 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Lafaiete Neves, Melissa Andrade e Ricardo Prestes Pazello ARTICULISTAS Roger Pereira, Manolo Ramires, Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza e Priscilla Murr FOTOGRAFIA Juliana Cordeiro, Gabriel Doetrich ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Carolina Goetten CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/bdfpr ANUNCIE administracaopr@ brasildefato.com.br
acordo com projetos do governo daquele estado. Uma das primeiras medidas do presidente ilegítimo Temer foi devolver R$ 100 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional. Assim o banco perdeu a força de estimulador econômico do país. A reestruturação do Banco do Brasil foi divulgada em novembro de 2016 e até a se-
gunda quinzena de fevereiro fechou 217 agências. Até março a previsão é de que 402 agências encerrem as atividades. Quem sai prejudicado são os funcionários, os usuários e setores que vinham sendo financiados pelo banco, como a agricultura. A Caixa Econômica, por sua vez, financia programas de habitação. Neste ano, Michel Temer (PMDB) uma maquiagem no progra-
ma, definitivamente voltado para as faixas de renda mais altas. São políticas que não foram e nem seriam aprovadas nas urnas. Mostra que o governo Temer assaltou o Estado brasileiro para realizar um verdadeiro desmanche, e não uma reforma, como ele tem propagandeado. São retrocessos que nos empurram para uma situação de explosão social.
OPINIÃO
A tarifa mais cara do Brasil Cesar Brustolin / SMCS
Por Lafaiete Neves, doutor em Desenvolvimento Econômico e membro da Plenária Popular de Transporte
C
uritiba passou a ser referência devido às inovações feitas no transporte coletivo, na primeira gestão do prefeito Jaime Lerner, nomeado pela ditadura militar, em 1974, implantando o ônibus expresso com canaletas exclusi-
vas. As empresas e o prefeito tinham uma relação de “bons amigos”. O negó-
Esse sistema está falido em todo o país, é caro, e os usuários e contribuintes é que pagam a conta.
cio foi instalado e ampliado sem licitação, e os contratos foram prorrogados por 10 anos (1981-1991). Com as denúncias do movimento popular, o Ministério Público do Paraná, vitorioso em ação civil pública, obrigou o município a realizar uma licitação. As gestões seguintes foram prorrogando até que, em 2009, o MPPR obrigou o prefeito Beto Richa (PSDB) a encaminhar a licitação, concluída na gestão do seu vice, Luciano Ducci (PSB), que assumiu a prefeitura em 2010. Essa licitação sofreu uma série de denúncias apontando que estava direcionada para as empresas que já dominavam o transporte coletivo da capital. O resultado foi a ausência de empresas de fora na licitação. Há também os parâmetros de custos,
que permanecem os mesmos dos anos 80. Eles estão defasados e geram um sobrepreço nos insumos usados nos ônibus. No parâmetro combustível, os itens projetados pela URBS pesam 16,97% no custo da tarifa. Ocorre que esse padrão foi montado quando os motores dos ônibus eram de primeira geração e hoje, depois de 30 anos, são bem mais econômicos. Devido a todas essas irregularidades, a tarifa de Curitiba tornou-se a mais cara do Brasil, podendo subir mais ainda no final de fevereiro, quando for arbitrada pelo prefeito Greca a tarifa técnica, outra deformação do contrato. Esse sistema está falido em todo o país, é caro, e os usuários e contribuintes é que pagam a conta. A prefeitura socorre as empresas de ônibus com dinheiro dos contribuintes.
Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Brasil de Fato PR
mandou
FRASE DA SEMANA
bem
“Vamos dizer não. É uma palavra simples, e muitas vezes é isso que nós temos que fazer: romper com essas coisas, romper com o o status quo”
mandou
mal
Beto Barata
Michel Temer (PMDB) esbanjou didática ao reunir-se com a Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, no dia 21. O chefe do Executivo fez questão de explicar qual sua proposta para a reforma da Previdência: “Se você trabalhou 50 anos, você tem 100% de aposentadoria”, calculou. Já no caso dele, a aposentadoria veio aos 55 anos, nos idos de 1996. O valor líquido é de pouco mais de R$ 22 mil.
Divulgação
Paulo Pinto / Fotos Públicas
Um dos maiores escritores da língua portuguesa, Raduan Nassar recebeu o Prêmio Camões de 2016, no Museu Lasar Segall, em São Paulo. Durante seu curto e forte discurso, Nassar se manifestou contra o governo de Michel Temer (PMDB), o qual classificou como repressor. Disse ainda que vivemos tempos muito sombrios e criticou a indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal.
3 | Geral
Divulgação
disse Luis Salin Emed, presidente do Atlético, sobre a decisão conjunta com o Coritiba de não entrar em campo após serem proibidos pela Federação Paranaense de Futebol de transmitir o Atletiba pela internet. A entrevista foi dada à ESPN.
Braço direito de Beto Richa é investigado em desvio de R$17 mi Valdir Rossoni teria desviado dinheiro da construção de escolas estaduais com ajuda de construtoras Por Rafael Tatemoto, do BdF SP com redação do BdF PR Secretário da Casa Civil e braço direito do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), o também tucano Valdir Rossoni é investigado pela Procuradoria-Geral de Justiça e pelo Ministério Público do Paraná por um esquema de corrupção. As inves-
tigações sugerem que havia um conluio entre poder público e iniciativa privada para desviar recursos da Educação, atingindo verbas federais e estaduais. O esquema pode ter chegado a R$ 17 milhões. As construtoras contratadas fraudavam as medições de desenvolvimento das obras por fiscais para conseguir a liberação de recursos da secretaria. As informações
ZUMBIS TERÃO CARNAVAL? A menos de uma semana da Zombie Walk, que acontece sempre na terça-feira de carnaval, os organizadores do evento ainda não confirmaram se ele, de fato, vai acontecer. Segundo informações divulgadas pela página no Facebook, o motivo da incerteza é a dificuldade em atender às determinações feitas pelo poder público. A prefeitura exige segurança privada, pagamento dos agentes de trânsito, limpeza e banheiros químicos. Em nota, a Fundação Cultural de Curitiba garante que apoia o evento. Os organizadores pedem paciência e asseguram que divulgarão informações em breve.
são de reportagem de Amanda Audi, na Folha de S. Paulo, que teve acesso a documentos em análise na Procuradoria. Os indícios foram reunidos por funcionários da construtora Valor, a principal operadora dos desvios. Segundo o Ministério Público, os projetos estão paralisados e atingem pelo menos 50 mil estudantes. O processo corre em sigilo. Cido Marques/FCC
Direitos do consumidor: sempre pode trocar? Antes de 1991, se você comprasse algum produto ou se solicitasse um serviço e viesse danificado, você não teria como reclamar. Foi a partir do referido ano que entrou em vigor o Código de Defesa do Consumidor para regulamentar a relação de consumo, esta que é tão presente no nosso dia-a-dia. A disponibilização do código para consulta em comércios é definida por lei. Lá você pode conhecer seu direito de consumidor. Uma dúvida muito comum é se a loja é obrigada a trocar o produto que comprei ou ganhei de presente. Depende. Se você comprar, por exemplo, uma roupa e não gostar do modelo, cor ou não servir o tamanho, a loja não é obrigada a trocar. As lojas fazem a troca por costume do comércio. Só é obrigada a trocar se veio com algum defeito, na fabricação ou causado na loja, dentro do prazo de 30 dias da compra. Você pode consultar o Código de Defesa do Consumidor pela internet.
ENVIE SUGESTÕES DE PAUTA, COMENTE NOSSAS MATÉRIAS Escreva para redacaopr@ brasildefato.com.br
4 | Cidades
Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Brasil de Fato PR
Fátima Freitas e as memórias da Ferrovila
Agente de saúde relembra luta por moradia na região Sul de Curitiba Daniel Giovanaz
MST firma acordo com madeireira para resolver conflitos Acordo assegura uma convivência entre as partes envolvidas Por Júlio Carignano, com informações da AEN O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a madeireira Araupel e o governo do Paraná firmaram um acordo que suspende as reintegrações de posse dos terrenos ocupados em Quedas do Iguaçu e Rio Bonito, no Centro Sul do estado. Em contrapartida, a Araupel está autorizada a retirar pinus e eucalipto das áreas de reflorestamento da Fazenda Pinhal Ralo, em Rio Bonito do Iguaçu. Uma força-tarefa formada pelos órgãos de segurança do estado e pelo Instituto Ambiental do Paraná
(IAP) vai investigar as denúncias do movimento sobre extração ilegal de madeira pela Araupel. O assessor especial de Assuntos Fundiários, Hamilton Serighelli, ressalta que o acordo assegura uma convivência entre as partes, enquanto esperam uma resposta da Justiça Federal. Diego Moreira, membro da Coordenação Nacional do MST, espera que a medida garanta estabilidade para a região: “O acordo permitirá que as famílias possam trabalhar, que as 750 crianças que vivem lá possam estudar e também desvincula a falsa ideia de que o MST esteja furtando madeira nessa área”, analisa. “Queremos resolver esse conflito de forma pacífica”. MST
Por Daniel Giovanaz e Pedro Carrano de Curitiba (PR)
“A gente acampou lá na rua XV, no Natal, no meio dos ricos, para fazer um abaixo-assinado e pedir água e luz. E deu certo”. A comunidade cresceu e surgiram novas deara Fátima Freitas, a Indemandas. Saneamento, asfalto, ônipendência não aconteceu em bus, escola. 1822: o sete de setembro que ela Se a regularização dos imóveis lembra com mais carinho é o de permanece um sonho, a maior pre1991. Naquela madrugada de inocupação dela é com as enchentes. verno, milhares de famílias ocuSó este ano, as 22 casas construídas param uma área ociosa às marà beira do rio Barigens da antiga gui alagaram duas Estrada de Ferro vezes –“e olha que Curitiba-Araucáa chuva de março é ria e entraram a pior de todas”. para a história da “Foi bonito ver a Fátima está afasluta pela moratada do trabalho dia no Paraná. união das famílias”, por uma lesão no Na linha de lembra a moradora joelho, e, em sefrente da ocupatembro, pediu lição da chamada cença da presidência da associaFerrovila, Fátima estava grávida ção de moradores: “Foram muide um menino. “Quando ele nastos anos, e eu já estava ficando ceu, a gente morava em barradoente”, afirma a agente de saúco de lona, depois começamos de, que agora tem sete netos, um a fazer uma casa de madeira, e debisneto e uma horta para cuidar. pois de material”, conta. “Foi boDa ocupação da Ferrovila, fica a nito ver a união das famílias”. lembrança de um tempo de viProtagonista no movimentórias e, sobretudo, inspiração pato de ocupação, a agente de saúra as próximas conquistas da comude tornou-se uma referência para nidade. os vizinhos da Vila Uberlândia:
P
Migração de AM para FM ameaça sobrevivência das rádios comunitárias A migração das rádios brasileiras do sistema AM para FM, autorizada em 2013, está sendo usada como pretexto pelo governo Michel Temer (PMDB) para não renovar contratos de rádios comunitárias. Em seis meses, o governo cancelou os contratos de 1.288 emissoras, e outras duas mil correm risco de fechamento. Segundo o coordenador do Movimento Nacional de Rádios Comu-
nitárias (MNRC), Jerry Oliveira, as emissoras vão resistir à mudança de sistema, se for necessário, para garantir sua sobrevivência: “A rádio comunitária vai para a resistência, vai ser a pedra no sapato do governo”. Em nota, o Ministério das Comunicações informou que não vai voltar atrás na transição da AM para FM, mas garantiu que as outorgas de rádios comunitárias e educativas serão retomadas quando o governo concluir os estudos necessários para im-
Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Brasil de Fato PR
5 | Lava Jato
Lava Jato versus direito de defesa Operação da PF abre precedentes que ameaçam a Constituição brasileira Por Daniel Giovanaz, de Curitiba (PR)
FUNÇÃO DO JUIZ
N
a década de 1960, a população brasileira teve certeza de que vivia sob uma ditadura quando o Ato Institucional nº 5 eliminou o direito de defesa dos acusados. Este é um elemento básico dos regimes democráticos, e está baseado na presunção de inocência – todos devem ser tratados como inocentes, até que se prove o contrário. Na operação Lava Jato, pelo menos dois mecanismos ameaçam o direito de defesa, previsto na Constituição de 1988: a delação premiada e a condução coercitiva. Mercado de informações Nas delações premiadas, políticos e empresários aceitam “contar o que sabem” em troca de uma redução de pena. Em três anos, foram firmados 71 acordos de delação com pessoas físicas – sem contar os depoimentos dos 77 executivos da Odebrecht, homologados em janeiro: um recorde no país. A maior crítica dos juristas é com relação à seletividade na escolha das delações. “Qual o critério objetivo, transparente e republicano para escolha de quem vai fazer delação premiada?”, questiona o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto. “E qual o critério para fixar o valor das indenizações nas delações? Nada disso é público”.
Há duas semanas, Juarez Cirino dos Santos, um dos advogados de Lula, comparou a atuação do juiz Sérgio Moro à de um “inquisidor”. No sistema adotado pelo Brasil, a função do juiz é apenas julgar. Quem deve investigar e acusar são a Polícia e o Ministério Público. Quando o juiz participa ou assume outras funções na investigação, como Moro na Lava Jato, o sistema é chamado de inquisitorial. obtida, a anulação depende do PoTortura Uma reportagem publicada na der Judiciário. Aí a coisa complica”. revista Piauí, em junho de 2016, suCondução coercitiva gere que o ex-senador Delcídio do Embora também tenha uma viAmaral fez sua delação sob efeito de um “gás de combustão”, após ficar trancado em um quarto escuro. Para o juiz Alexandre Morais da Rosa, professor da Universidade Federal de Santa Em três anos, foram Catarina (UFSC), aquela delação deve ser anulada, se o cafirmados 71 acordos de so for comprovado. “O uso de delação com pessoas qualquer elemento externo de pressão pode transformar a lifísicas – sem contar os vre manifestação de vontade depoimentos dos 77 em decisão viciada”, analisa. executivos da Odebrecht “O problema é que depois de
são crítica sobre a seletividade nas delações premiadas, o professor da UFSC é ainda mais contundente ao falar sobre as conduções coercitivas – casos em que o acusado é levado, mesmo contra a vontade, a prestar depoimento diante de autoridades. “É um mecanismo autoritário”, ressalta. “O acusado tem o direito de não produzir prova contra si mesmo, por disposição internacional e constitucional”. Até hoje, a Lava Jato fez 197 conduções coercitivas. A mais polêmica foi a do ex-presidente Lula, em março de 2016: em nenhum momento, o petista havia negado solicitação para colaborar com as investigações.
Ruim para todos, pior para os pobres Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto cita três exemplos de que a presunção de inocência foi deixada de lado na Lava Jato: 1) As prisões cautelares [sem sentença, por tempo indeterminado] passaram a ser fundamentadas apenas na gravidade do crime investigado;
2) O esgotamento dos recursos deixou de ser necessário para alguém ser condenado em segunda instância; 3) Algumas delações adquiriram importância e credibilidade antes mesmo da comprovação do que foi alegado. Ao banalizar essas práticas, a La-
va Jato ameaça o direito de defesa não apenas dos políticos e empresários citados na operação: “Quando se perde uma garantia, ficam vulneráveis todos os cidadãos”, argumenta o professor da USP. Pior para aqueles que não podem pagar por um advogado. O Brasil tem a quarta maior po-
pulação carcerária do mundo. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 40% dos detentos não foram condenados definitivamente – ou seja, não esgotaram os recursos previstos para provar sua inocência. Ainda segundo o CNJ, a maioria deles são negros, pobres e vêm de famílias de baixa renda.
Brasil de Fato PR
6 | Brasil Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Senado aprova nomeação de Alexandre de Moraes para o STF Senadores questionam imparcialidade de indicado por Temer para o Supremo Tribunal Federal Por Rafael Tatemoto, Do BdF SP, com redação
O
Senado Federal aprovou na manhã desta quarta-feira (22) a nomeação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal. Estavam presentes no plenário da Casa 68 parlamentares: a votação secreta registrou 55 votos a favor de Moraes, 13 contrários e nenhuma abstenção. Moraes foi sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado no dia 21. Questionado durante a sabatina se julgaria os processos relativos à Lava Jato caso fosse nomeado, Moraes foi evasivo, afirmando que atuará com “isenção e imparcialidade”.
Moraes copiou integralmente trechos do trabalho acadêmico de um jurista espanhol
Após a morte de Teori, a presidenta do STF, Cármen Lúcia, homologou as 77 delações de ex-executivos da Odebrecht, o que teria servido de catalisador para endurecer as articulações contrárias ao avanço das investigações. Entre os nomes citados pelos delatores, destacam-se o do próprio Temer, a quem Moraes está diretamente subordinado na hierarquia do Executivo, e os dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Lava Jato Questionado se julgaria os processos relativos à Lava Jato caso seja nomeado, foi evasivo, afirmando que atuará com isenção e imparcialidade. A objetividade de Moraes foi principalmente contestada pelo senador da oposição Lindbergh Farias (PT-RJ). Para o petista, o fato de ter sido filiado ao PSDB não seria um impeditivo à nomeação de Moraes. O problema residiria no momento em que a indicação é feita, já que diversos integrantes do governo Temer
Agência Brasil
– do qual Moraes fez parte como ministro da Justiça – são investigados na Lava Jato. “A questão não é ser filiado a partido, a questão é postura, compostura e contexto”, disse Farias, que pediu um compromisso público do indicado se comprometendo a não ser revisor das ações relacionadas à operação no Supremo. Doutorado A tese de doutorado de Moraes
foi lembrada em diversos momentos durante a cerimônia de nomeação. Na obra, ele defende que os ministros do STF deveriam ter mandatos com prazo determinado - ao contrário do atual modelo de vitaliciedade. Além disso, postula no documeto a vedação de nomes que ocupem cargos de confiança no Executivo Federal – situação em que o próprio Moraes se encontra - sejam indicados, evitando casos de “gratidão política”.
Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Brasil de Fato PR
7 | 7Cultura | Cultura
DISTRAÍDOS CANTAREMOS | Por Ricardo Prestes Pazello
Lápis, o último rei da noite Blog Memória, Saudade, Música e Lápis
O artista desenhou na conservadora Curitiba todo o seu som, apesar de longa permanência no Rio de Janeiro, onde tentou deslanchar sua carreira
Seu enredo foi curto, mas intenso: Lápis viveu até os 36 anos de idade
Se a avenida tem fim, não faz mal, tem fim a vida e o carnaval– este é um dos refrãos do maior compositor popular de Curitiba. Nascido e criado nas Mercês, nosso grande ícone musical é negro e proletário. Com pai operário e mãe de fa-
mília tradicional, é filho de um casamento que começa na carnavalesca Antonina. Seu Abelardo e Dona Mariquinha tiveram 21 filhos e Lápis – ou Palminor Rodrigues Ferreira – foi o último a desfilar na avenida do casal. Seu enredo foi curto, mas intenso. Antes de partir, em fevereiro de 1978 aos 36 anos de idade, Lápis desenhou na conservadora Curitiba todo o seu som, apesar de longa permanência no Rio de Janeiro, onde tentou deslanchar sua carreira. Instrumentista de mão cheia, integrou vários grupos musicais, dos quais o Bitten IV foi o mais famoso, tocando pandeiro, violão, cavaquinho e sobretudo cantando. Apesar de suas composições, não chegou a ser conhecido do grande público. Talvez por ter sido muito rebelde. Como trabalhador dos Correios, foi tão indócil a ponto de ser mandado embora por abandono de
emprego. Como músico, preferiu a boemia e odiou qualquer tipo de esquema comercial, como disse Oraci Gemba, dramaturgo que o dirigiu no musical Funeral para um rei negro. Como atleticano, chegou a compor o hino do Coxa (prevendo o que acon-
Nascido e criado nas Mercês, nosso grande ícone musical é negro e proletário
teceria em 2017, quando a dupla atletiba se junta contra o monopólio corporativo da mídia esportiva). No ritmo intenso de sua vida, chegou a ter êxito em um festival de música de carnaval. Dia de arlequim, em parceria com Paulo Vítola, foi o carro-chefe, ainda que melancólico, do sambista rebelde: a noite inteira eu quero esquecer, por um momento eu quero sorrir. Em tempos de desmonte cultural em Curitiba (vide cortes orçamentários na oficina de música e no carnaval), lembrar de Lápis é lembrar seus verso e rebeldia, as grandes lições de quem foi chamado de o último rei da noite.
PARA FICAR POR DENTRO - Boletim e áudio Lápis, um compositor paranaense (1982), de Aramis Millarch CD À Lápis (2006), dirigido por Jazomar Vieira da Rocha - Blog Memória, Saudade, Música e Lápis (2008), organizado por Bia Lanza - Filme Feito a Lápis, documentário para um rei negro (2014), de Vinicius Camilo e Gabriel Eloi
AGENDA 0800
O espelho
Desfiles de carnaval Apesar do corte do apoio da Prefeitura aos desfi les, as escolas vão para a rua. Pela falta de recursos, decidiram que esse ano não haverá disputa, portanto, inexistência de escolha de campeã.A quem vai ficar em Curitiba durante o feriado, vale a pena prestigiar o evento! Quando: 25 de fevereiro, sábado. O que: - Baile Infantil Curitibinha, das 15 às 18h - Desfi le dos Blocos Carnavalescos, das 18h30 às 20h45 - Desfi le das Escolas de Samba De Acesso, das 20h45 às 23h20 - Desfi le das Escolas do Grupo Especial, das 23h20 às 3h40 Onde: Marechal Deodoro (entre as ruas Barão do Rio Branco e Marechal Floriano Peixoto), Centro.
Fundação Cultural de Curitiba
Bailes de Carnaval da Regional Bairro Novo Quando: 27 e 28 de fevereiro, segunda e terça O que: Infantil, das 15h às 19h, e adulto, das 20h às 24h Onde: Ginásio de Esportes do Portal do Futuro Bairro Novo, Rua Ourizona, 1681, Bairro Novo
O que: é um fi lme brasileiro de ficção que recria o conto de Machado de Assimque leva mesmo nome. Um misterioso chamado atrai um homem até a porteirade um sitio abandonado. Uma mulher emerge do lodo, do fundo de um lago, um espelho d’água. Eles se encontram, se aproximam e um feitiço é lançado. Juntos, experimentam os encantos da alucinação, das lembranças, dos sonhos. Reflexos na água revelam segredos escondidos na natureza da alma. Onde: Cinemateca de Curitiba,Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco. Quando: dia 23 e 23 de fevereiro, quinta e sexta-feira, às 16h. Quanto: 0800 (recomendado para maiores de 12 anos)
8 | Esportes
Paraná, 23 a 1º de março de 2017
Brasil de Fato PR
Pistas públicas de skate estão defasadas Daniel Giovanaz
Skatistas querem participar da concepção dos próximos projetos
ATLÉTICO | Por Roger Pereira
O Atletiba e a grama
A semana foi de movimentações nos bastidores para o futebol atleticano, com dois duros golpes dados pelas autoridades que comandam o futebol do estado e do país. Primeiro foi o autoritarismo xucro da Federação Paranaense de Futebol, impedindo a realização do Atletiba válido pela quarta rodada do estadual por conta da ideia de Atlético e Coritiba de transmitir a partida pela internet. Dois dias depois, 15 clubes e a CBF decidem proibir a utilização de gramado artificial no Campeonato Brasileiro a partir de 2018. O argumento era de desequilíbrio técnico, por eventual vantagem que um clube pode levar mandando seus jogos em um tipo de gramado diferente. A decisão demonstra a mediocridade dos clubes brasileiros e da CBF, que vetam um piso certificado pela Fifa e não faz restrição nenhuma a campos mal conservados. É, o Atlético está incomodando.
PARANÁ | Por Manolo Ramires Ressaca da folia mato antigo, desatualizado”, analisa Heverton. “Lá é um point pra galera reportagem do Brasil de Fato tomar um sorvete, dar um rolê, mas a ouviu skatistas amadores e propista não permite evoluir muito”. fissionais para saber qual a melhor Os problemas da praça do Gaúpista pública de Curitiba. Embora cho se repetem nas outras 25 pishaja consenso sobre os dois locais tas mantidas pela Prefeitura. A expreferidos pelos atletas, nenhuma plicação para a defasagem é simples: pista é considerada adequada para a com exceção da pista do Atlético – que prática do skate. também está longe do ideal –, os skaA mais citada pelos skatistas é a tistas não costumam ser chamados a da praça Afonso Botelho, em frente participar dos projetos. à Arena da Baixada. Inaugurada em Um dos melhores locais, na avalia2015, a partir de parceria com a Asção de Misael Marsociação de Skatins, é a Social Platistas da Praça e za, em Colombo, com a Federação justamente porde Skate do Paraque foram os atlená, ela tem piso Segundo a Federação tas que tomaram a de granilite, um de Skate do Paraná, iniciativa: “Era uma dos mais resissão mais de 60 mil quadra abandonatentes do mundo. da, e a pista foi “Não ficou igual praticantes em feita pelos skatisestava no projeCuritiba tas mesmo. O piso to”, pondera Heé quase igual à pisverton de Freitas, ta do Atlético, com atleta profissioa vantagem de que nal. “Está fazené coberto”. do buracos, estragando muito rápiHeverton afirma que, há alguns do. Quando chove, demora para esanos, os skatistas do Rio de Janeiro correr a água”. e de São Paulo passaram a acompaGustavo Fernandes frequenta a nhar as obras a convite do poder púpista há sete anos e concorda: “Foi blico, e as pistas ficaram cada vez mefeita nas coxas. A posição dos obstálhores. Em Curitiba, basta a Prefeituculos não permite que andem várias ra querer ouvi-los e cumprir o que espessoas ao mesmo tempo”. tava previsto nos projetos. Segundo a O segundo local mais lembrado Federação, são mais de 60 mil pratipelos skatistas é a praça do Gaúcantes em Curitiba – e eles estão loucho, no São Francisco. “É um forcos para colaborar.
A
A eliminação do tricolor da Vila para o Londrina na Primeira Liga colocou água no chope da torcida. A derrota foi criticada por uma certa “preguiça” do elenco no primeiro tempo do jogo. Uma quarta-feira de cinzas com mais de uma semana de antecipação. Mas a folia paranista está longe ainda de ser estragada. A liderança folgada no paranaense em que os rivais do trio de ferro jogam as duras penas anima a torcida. O fato é que a briga deles com a federação não interessa ao tricolor da Vila, embora seja justa. Na verdade, a preocupaçã o total do Paraná é com o tricolor baiano. No sábado de carnaval na cidade que se orgulha de não ter carnaval - nem mais zombie walk -, o time paranista tem que colocar o bloco na rua em busca de vários dez. Dez no ataque, dez no meio de campo, dez na marcação e dez na atenção. O único zero que a torcida aceita é o número de gols a ser tomado. Afinal, uma vitória é fundamental para trazer alegria ao torcedor.
CORITIBA | Por Cesar Caldas
Os meias chegaram
As apresentações dos meias Daniel (vindo do São Paulo) e Anderson (recém-chegado do Internacional) reacendem na torcida do Coritiba a expectativa de um setor eficiente que trabalhe na articulação entre defesa e ataque da equipe do técnico Carpegiani. Nenhum dos novos contratados estará em campo nos compromissos desta quinta-feira, 23, contra o ASA pela Copa do Brasil, nem no Atletiba da quarta-feira de Cinzas. Mas espera-se que ao menos o ex-são-paulino esteja pronto para estrear diante do Prudentópolis no sábado. O distanciamento entre o setor de contenção (volantes) e os atacantes é o problema mais visível para a defi nição de um time minimamente competitivo para a fase mais aguda do Estadual e o Campeonato Brasileiro. Outro problema é a lateral direita: com Dodô em férias, o treinador tem se obrigado a improvisar o zagueiro Werley na posição.