Brasil de Fato - Especial Balanço da gestão Richa

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Ano 3

PARANÁ

5 a 11 de abril de 2018

distribuição gratuita

UM GOVERNO QUE NÃO DEIXA SAUDADE Beto Richa (PSDB) deixa o governo do Estado, no dia 6, para concorrer ao Senado. Eleito em primeiro turno, o político agora sai pela porta dos fundos. De acordo com pesquisas, é um dos governadores mais impopulares do país - dados do Paraná Pesquisas (2017) apontam que a desaprovação de Richa gira em torno de 60%. Não foi à toa: Richa aplicou o desmonte de empresas públicas, de universidades estaduais e cortou recursos da educação pública. Ainda sai marcado pelo sangue e pela violência do dia 29 de abril de 2015, o chamado Massacre do Centro Cívico.

Beto Richa tem muita “sorte” na Justiça | p. 3 Educação tratada à bala | p. 4 e 5 Privatização ronda as empresas públicas | p. 6 Que Paraná você sonha para o futuro? | p. 8

Marcelo Camargo | Agência Brasil

Política no PR: negócio de família e de ricos | p. 2


2 | Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 5 a 11 de abril de 2018

A renúncia de um político em decadência

EDITORIAL

B

eto Richa (PSDB) finaliza o segundo mandato, do qual se afasta no dia 6, para concorrer ao Senado. Embora reeleito no primeiro turno, em quatro anos, o governador viu sua popularidade cair e mostrou suas fraquezas como gestor público. Richa transformou o Paraná em um balcão de negócios. Sua política onerou o cidadão para distribuir lucros e dividendos

para acionistas privados. Com isso, a população foi afetada no preço da água e luz, com a perda do caráter social de Copel e Sanepar. Esse mesmo modo de operação foi usado na questão dos pedágios: se o antecessor abriu batalha contra as empresas concessionárias, Richa, por sua vez, convidou os empresários para a sala de jantar com o banquete pago pelos motoristas. Não à toa, os pedágios pa-

Pior ainda, é recordar o desprezo e a violência contra os servidores estaduais ranaenses são os mais caros do país. Como se vê nesta edição especial do Brasil de Fato Paraná, o governo

estadual afetou vários setores dos trabalhadores. Richa, por mesquinharia da derrota eleitoral, deixou de repassar recursos para o transporte de Curitiba apenas para dificultar a vida do ex-aliado Gustavo Fruet (PDT). Pior ainda é recordar o desprezo e a violência contra os servidores estaduais, no trágico 29 de abril de 2015. As manchas de sangue não sairão nem com a melhor das maquiagens.

EXPEDIENTE

Ctrl S Comunicação

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

OPINIÃO

Política no Paraná: negócio de família e de ricos

Ricardo Costa de Oliveira,

professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

P

olítica no Paraná é assunto e negócio de poucas famílias no poder. O governo do Paraná segue o padrão organizativo dos tradicionais nepotismos e familismos da região. Conceituamos o governo Beto Richa (PSDB) como uma forma de supernepotismo, porque governou com duas supersecretarias ocupadas pela esposa, Fernanda Vieira Richa, e pelo irmão, José Richa Filho. Toda a infraestrutura e as obras públicas, as relações com as em-

andam junpreiteiras e Temos tos. Os pafornecedores, rentes devem fazem parte praticamente uma dos negócios “casta” hereditária se candidatar aos cargos leda família gode políticos gislativos nas vernamental. eleições de As cone- profissionais que 2018. xões das polí- domina o Paraná Agora, ticas sociais e com a renúncargos familiares na prefeitura também cia de Beto Richa para dispuformam o quadro do nepo- tar o Senado, outra situação tismo do governo Richa, com inédita: a governadora passaparentes no secretariado esta- rá a ser Cida Borghetti (PP), dual e municipal - o filho Mar- casada com o ministro da Saúcello Richa é secretário muni- de do golpe de Temer e depucipal em Curitiba. Junto com tado federal, Ricardo Barros as supersecretarias vieram (PP), da principal família polícentenas de novos comissio- tica de Maringá, e mãe da denados. Nepotismo, familis- putada estadual Maria Victomo e empreguismo sempre ria Borghetti Barros. Situação

justificada por componentes constitucionais existentes somente no Brasil. O oligopólio familiar se aprofunda na política brasileira e paranaense. A conclusão é que temos praticamente uma “casta” hereditária de políticos profissionais. A política vem se tornando negócio de família e negócio de ricos. As eleições são caríssimas e muitos só querem o extrativismo estatal; isto é, só querem ganhar muito, ganhar mais e rápido dentro do aparelho estatal. Familismos, nepotismos, cargos comissionados, clientelismos e abuso de poder econômico muitas vezes andam juntos.

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Sergipe e Paraná. Esta é a edição Especial do Brasil de Fato PR, um balanço do governo de Beto Richa (PSDB). Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Ednubia Ghisi, Franciele Petry Schramm e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Julia Rohden e Frédi Vasconcelos COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Marcio Mittelbach, Lea Okseanberg, Manoel Ramires, Ricardo Costa de Oliveira e Alexsandro Ribeiro REVISÃO Maurini Souza, Lia R. Bianchini e Priscila Murr FOTOGRAFIA Joka Madruga e Leandro Taques DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes ADMINISTRAÇÃO Clara Lume, Bernadete Ferreira e Denilson Pasin CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 40 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO redacaopr@brasildefato.com.br IMPRESSÃO Grafinorte (Nei)


Brasil de Fato PR

Paraná, 5 a 11 de abril de 2018

Beto Richa tem muita “sorte” na Justiça

FAMÍLIA DE RICHA RECEBE MAIS DE R$ 130 MIL POR MÊS DOS COFRES PÚBLICOS

Governador do Paraná gasta quase três Megas-Senas da Virada em propaganda Pelos dados oficiais levantados por jornalistas da Livre.Jor, nos seus sete anos de mandato o governador Beto Richa gastou em publicidade cerca de R$b783 milhões, em valores atualizados. Sem contar 2018, em que os números ainda não foram fechados, o gasto é equivalente a quase três Mega-Sena da Virada, que no ano

passado pagou o maior prêmio de sua história, de R$ 306 milhões, para 17 ganhadores. É bom lembrar que, ao mesmo tempo em que gastou centenas de milhões de reais em propaganda, o governador congelou por dois anos os salários do funcionalismo, sem pagar nem a inflação, e demitiu milhares de professores da escola pública.

GASTOS COM PROPAGANDA DO GOVERNO RICHA

Valores em R$ milhões atualizados pela inflação 2012 138,76 2011 8,25

2016 131,96

2015 109,07 2013 135,68

2014 93,95

2017 165,56

José Richa Filho, irmão, Secretaria de Infraestrutura e Logística

Fotos Públicas

R$ 33.7 mil

Fernanda Richa, esposa, secretária estadual da Família e do Desenvolvimento Social

R$ 23.634,10

AEN

Beto Richa, governador do Estado

R$ 23.634,10

Arlete Vilela Richa, mãe, pensão por ter sido casada com exgovernador

R$ 33.7 mil

Marcello Richa, filho, secretário de Esportes da Prefeitura de Curitiba

R$ 17.767,62 Ricardo Almeida | ANPr

O

governador Beto Richa, desde que assumiu o governo, vem sofrendo várias ações na Justiça por conta de denúncias de violência contra servidores, financiamento irregular de campanha e corrupção em várias instâncias do executivo. O resultado é quase sempre o mesmo: os processos são extintos ou param em alguma instância da Justiça, sem condenação. Foi o que aconteceu, por exemplo, na ação proposta pelo Ministério Público sobre o massacre dos professores no 29 de abril (leia matéria das páginas 4 e 5). O governador, o secretário de Segurança Pública e comandantes da operação foram denunciados por conta da repressão que deixou mais de 200 pessoas feridas. Em seu despacho, a juíza aqui do Pa-

há acusações de que dinheiro teria sido repassado ilegalmente para a campanha do governador. Estão ainda envolvidos nas denúncias o irmão de Richa, José Richa Filho (‘Pepe’ Richa), secretário estadual de Infraestrutura e Logística, e outros funcionários de primeiro escalão. As investigações prosseguem, mas dificilmente avançarão em relação ao governador, como o que ocorreu nas outras ações. Uma das poucas vezes em que Richa se deu mal na Justiça foi na ação em que ele e a esposa, Fernanda Richa, foram condenados pelo juiz Roger Vinicius Pires de Camargo Oliveira, da 3.ª Vara da Fazenda Pública, a devolverem aos cofres do Estado os valores gastos pelo casal em um final de semana em Paris, num hotel cinco estrelas, em outubro de 2015. Tudo pago com dinheiro público. Ele recorreu da sentença.

Rogério Machado/SECS

Curitiba (PR)

raná extinguiu a ação e acabou culpando os manifestantes feridos pela violência porque, segundo ela, teriam “instigado o conflito”. Já na Operação Publicano, o governador foi acusado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral (caixa 2), num esquema em que fiscais cobravam propinas para aliviar o pagamento de impostos por parte de empresários. Segundo um delator, parte desse dinheiro sujo teria sido repassado para a campanha do governador em 2014. A investigação foi interrompida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e depois confirmada pela segunda turma do STF. A Operação Quadro Negro foi um esquema em que construtoras eram pagas para construir ou reformar escolas e recebiam mesmo sem terem executado o serviço. Também

No governo do Estado, Beto Richa não economizou em vantagens para seus parentes. Somando salários e pensão, a família Richa tira mais de R$ 130 mil por mês dos cofres públicos. Ou mais de R$ 1,58 milhão por ano.

Levy Ferreira/SMCS

Governador sofre vários processos, mas as ações param, por algum motivo, sem que seja condenado Frédi Vasconcelos,

3 | Especial

Marcelo Camargo | Agência Brasil

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4 | Especial

Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR

Paraná, 5 a 11 de abril de 2018

Paraná, 5 a 11 de abril de 2018

5 | Especial

EDUCAÇÃO TRATADA À BALA Massacre de professores e funcionários públicos, corte de investimentos, demissões e congelamento de salários. A piora em todas as áreas da educação é uma nota triste no governo Beto Richa Mas tratar professores e servidores públicos à bala não foi a única violência. Principalmente no segundo mandato do governaessoas sendo carregadas feridas dor Richa, medidas tão agressivas e desacordadas, tiros de borraquanto foram tomadas. Professocha, bombas ouvidas a quilômetros res foram presos e processados por de distância, cães atacando as pesparticipar de manifestações (veja soas, helicópteros... Cenas de um box a seguir), salários estão conmassacre em que um dos lados esgelados há mais de dois anos, sem tava completamente desarmado. O nem a correção da inflação, profesresultado: mais de 200 pessoas fesores estão praticamente impediridas na batalha de 29 de abril de dos de adoecer, levar filhos ao mé2015, no Centro Cívico, em Curitidico ou até mesmo tirar licença em ba, quando foi votado na Assemcaso de algum parente morto. Isso bleia Legislativa que mexia com o porque, mesmo que tenham atesFundo de Previdência dos funciotados e comprovem a situação, as nários públicos. faltas serão desconO presidentadas do “tempo de te da APP Sindica- “Houve um efetivo serviço”, um to, sindicato dos ranking que é consitrabalhadores em planejamento educação públi- de guerra contra derado na hora, por exemplo, de um proca do Paraná, Her- os cerca de 20 fessor pegar aulas mes Silva Leão, diz adicionais para comque esse massa- mil servidores plementar o orçacre é a síntese da e estudantes mento. Quem é obrigestão de Beto Ri- que estavam gado a faltar acaba cha na educação. alijado dessas esco“Um governo pau- fazendo uma lhas, o que faz com tado pela violência. manifestação que muita gente vá Ali foi um exemplo pacífica” trabalhar mesmo do uso do aparaHermes Silva Leão doente. to de polícia como Outra medida foi na ditadura”, afira redução da hora ma. Ele diz ainda atividade, com a dispensa de cerca que a ação parece ter sido premede 10 mil professores temporários ditada, já que, no dia, a PM trouxe na rede pública. Como consequênsoldados de batalhões de várias recia, na proposta orçamentária que giões do Estado, a ação foi coordefoi enviada pelo governador para o nada pelo então secretário de Seguano de 2017, ele cortou R$ 880 mirança Pública, o deputado federal lhões da área da educação, enquanFernando Francischini, e pela cúto aumentou os gastos com publicipula do Palácio Iguaçu, sede do godade (Leia a matéria na página 3). verno estadual. Para Hermes, pareceu uma retaReflexos Essa forma de gerir a liação ao que ocorrera em fevereieducação teve reflexo no ensino ro do mesmo ano, em que outro pafundamental, no secundário e no cote previdenciário foi impedido de superior. A professora Monica Riir à votação e os deputados tiveram beiro, coordenadora do Observade andar em camburões. “Foi uma tório do Ensino Médio da Univeração de vingança”, complementa.

Joka Madruga

Frédi Vasconcelos, Curitiba (PR)

O MEDO EM CADA ESQUINA Professor preso no dia 29 de abril acabou processado e marcado pela polícia

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Vitor Molina é professor de História da rede pública há 18 anos e mora em Maringá, no interior do Paraná. No 29 de abril de 2015, veio com a esposa para a manifestação no Centro Cívico. Acabou detido na tarde desse dia, foi levado para um quartel da PM e, à noite, acabou indo para uma delegacia prestar depoimento sob a acusação de ter agredido policiais. “Estava na linha de frente da manifestação, que era pacífica, mas fui detido de maneira irregular enquanto minha esposa me procurava desesperadamente e não tinha nenhuma notícia”, conta. Só quase na madrugada acabou sendo ouvido pelo delegado e liberado. Continuou respondendo a processo por meses, até que o caso foi encerrado na justiça criminal. Porém, a saga de Vitor não acaba por aí. Em 2016, em Maringá, foi novamente detido por participar de manifestações contra o governador Beto Richa. “Fui fichado e ouvi da boca dos policiais à paisana, provavelmente do P2, serviço reservado a PM, que tinha de ‘servir como exemplo’”. Só saiu com o pagamento de fiança. Numa terceira vez, os policiais nem deixaram ele chegar perto, foi detido para averiguação a quatro quadras de onde estava o governador. “Não posso mais andar sozinho”, diz. Perguntado se ainda pretende continuar a ir a manifestações, Vitor afirma que é professor de História e ensina a seus alunos a lutar por direitos. “Não adianta ensinar a lutar por direitos, por Justiça e me calar”, conclui.

sidade Federal do Paraná, UFPR, considera a gestão Richa “bastante desastrosa em relação à educação”. E elenca que o ensino secundário sofreu com três graves problemas. Na gestão anterior do Estado, de Roberto Requião, houve investimento grande no ensino médio integrado, que levava a uma educação profissional como a que ocorre nos institutos federais. Esse investimento foi reduzido pelo governo Richa, inclusive com o fim de cursos de formação para professores de áreas técnicas. Outro ponto foi a fusão de turmas e a diminuição de contratação de professores. “Em algumas cidades, a gente teve notícia de salas de

aula superlotadas, sem condições mínimas de os estudantes permanecerem”, afirma Monica. Um terceiro problema grave levantado pela professora é a evasão escolar. “Aqui no Paraná é da ordem de 27%, 28%, até 30%, a depender do ano. E não há nenhuma ação do governo no sentido de entender as causas e tentar solucionar o problema”, conclui Monica. Universidades estaduais No ensino superior, as universidades estaduais também vêm passando por maus bocados. O presidente do Sindprol Aduel, sindicato que representa professores da universidade estadual de Londrina e outras

instituições, Nilson Magagnin Filho, conta que desde o começo do governo Beto Richa as universidades estão sob ataque. Principalmente com cortes orçamentários e a dificuldade para repor professores e funcionários. “O governo do Estado não vem liberando a realização de concursos. À medida que há aposentadorias, vaise criando grande defasagem e sobrecarga de trabalho”, diz. Além da falta de reajuste por que vem passando todo o funcionalismo, sem reposição nem da inflação, os professores universitários também vêm sofrendo com um novo entendimento do Tribunal de Contas do Estado, que passou a não

considerar mais a dedicação exclusiva como um regime de trabalho, causando reflexos na aposentadoria e, depois, podendo levar até mesmo à redução significativa dos salários. Outro ponto que influencia, inclusive na autonomia universitária, é a chamada Meta 4, a captura das folhas de pagamento das universidades órgãos do governo em Curitiba. “As universidades entendem isso como sendo praticamente o fim da sua autonomia garantida constitucionalmente”, diz o professor. Concluindo que esses ataques estão no contexto da estratégia da destruição dos serviços públicos pelo governador Beto Richa.

Jornada “Richa nunca mais” Professores e servidores públicos estaduais, em conjunto com diferentes organizações sociais, farão uma jornada de atividades com o mote “Richa nunca mais”, em Curitiba. De debates com a população a

um ato no dia 7, o objetivo das atividades é refletir sobre o governo Beto Richa, seus impactos nos setores da economia e o prejuízo a diferentes segmentos dos trabalhadores. Confira o cronograma de mobilizações:

Quinta-feira dia 5

Sexta-Feira dia 6

Sábado dia 7

16h30 Panfletagens de sindicatos e movimentos no Centro de Curitiba

9h Panfletagem na frente da Prefeitura

Das 7h às 9h Concentração e manifestação no Palácio Iguaçu

10h às 11h Ato em frente ao Palácio Iguaçú


8 65 | Especial

Paraná, 5 a 11 de abril de 2018

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Privatização ronda as empresas públicas paranaenses

Investidores privados lucraram mais com empresas públicas durante a gestão Richa Leandro Taques

Técnica para “planejamento e estruturação de projetos de desestatização”.

Alexsandro Ribeiro e Ednubia Ghisi, Curitiba (PR)

A

umento do lucro para acionistas, redução no investimento para melhorias dos serviços e defasagem no quadro de funcionários. A gestão das empresas públicas durante o governo Richa é marcada pela fragilização institucional dos órgãos e avanço na privatização. Dois fatos sintetizam esse ce-

nário. Em 2016, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto de lei proposto pelo governo para autorização da venda de ações da Copel e Sanepar e de imóveis de empresas públicas. O segundo episódio ocorreu na surdina, em junho de 2017, e veio à tona somente em outubro, após investigação da reportagem do portal Livre.Jor: o governo Richa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinaram um Acordo de Cooperação

O conjunto de estrangeiros proprietários da Sanepar está em 41,27%. O Estado está no poder votante com 60%, mas propriedade, só 20%. Isso é muito preocupante. O governo Beto Richa alterou legislações em acordos para privilegiar lucros para os acionistas. Precisamos é de uma empresa que realmente possa atuar como empresa pública para o povo do Paraná” Vera Lucia Pedroso Nogueira funcionária da Sanepar e presidenta do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Água, Esgoto e Saneamento de Maringá e Região Noroeste do Paraná (Sindaen)

Sanepar Aumentar o lucro da empresa e depois vender as próprias ações. Não parece ter muita lógica nessa medida, mas é exatamente o que o governo vem realizando junto à Sanepar. Ao final de 2016, o governo anuncia a primeira venda de ações. Cerca de R$ 2 bilhões são movimentados na operação, e cerca de 85% das 207 milhões de ações vendidas caem nas mãos de fundos de investimentos e de investidores estrangeiros. Na outra ponta, o governo aprova aumento das tarifas, tornando o negócio mais atrativo ainda para o setor privado e investidores. Logo depois da primeira leva de ações, em uma tacada só, o governo conquistou aumento de mais de 25% para os próximos oito anos. Isso sem contar que, desde 2011, a tarifa de saneamento mais que dobrou, ou seja, sofreu um reajuste de 124%. Copel Na maior estatal paranaense, o desmonte vem com a redução de investimento e o aumento de distribuição de lucros para os acionistas, incluído aí o governo. Prova disso é a queda de braço em 2017 da diretoria com o secretário da fazenda, Mauro Ricardo, para dobrar a distribuição dos lucros para os acionistas. O governo recorreu à assembleia de acionistas, em que é majoritário, para aumentar o “bolo” de divisão do lucro de R$ 282 milhões para R$ 506 milhões. Meses depois, a Copel anunciou redução de R$ 545 milhões no plano de investimento previsto para o mesmo ano. Ainda em 2017, a empresa chegou a divulgar a possibilidade de venda de ações para ampliar o caixa da estatal para “suportar o plano estratégico de crescimento sustentável da Copel”, ou seja, vender ações para investir.

As políticas de gestão adotadas pelo governo Richa repetem a lógica do governo federal, que favorecem poucos setores comerciais privados, em detrimento do interesse público. Não é por acaso que os dois governos, de Temer e de Richa, são majoritariamente mal avaliados pela população”

Carlos Bittencourt engenheiro agrônomo e presidente do Sindicato de Engenheiros do Paraná (Senge-PR)

DESMONTE

Dados do setor de Recursos Humanos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) revelam a transformação ocorrida ao longo de 25 anos, quando foi criado. O corpo funcional no início da década de 1990 era de 1.200 servidores. Já em novembro de 2017, eram 468 efetivos, 36 cargos em comissão e 185 estagiários. Na prática, o quadro funcional reduziu a quase metade, sendo um terço de comissionados e estagiários. O mesmo problema ocorre no Institucional do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural- Emater, que realizou concurso em 2014, no entanto, até hoje, 259 pessoas aguardam para assumir seus postos de trabalho. A prorrogação do prazo de contratação ocorreu em junho de 2016, válida por dois anos. Portanto, para que o concurso não seja invalidado, os aprovados devem ser contratados até junho deste ano. O cenário se agrava com a abertura do Plano de Demissão Voluntária, aberto em março, e que já tem adesão de mais de 300 funcionários.


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7 | Especial

Com promessas não cumpridas, Saúde pública está doente Em 2017, Richa investiu na Saúde praticamente o valor mínimo exigido pela Constituição Marcio Mittelbach

Redação, Curitiba (PR)

E

m quase oito anos de gestão, o governador Beto Richa construiu apenas um hospital - em Guarapuava. Na última segunda-feira (2), ele re-inaugurou o hospital de Telêmaco Borba, na região dos Campos Gerais. No final de 2010, esse mesmo hospital foi inaugurado pelo ex-governador Orlando Pessuti (MDB), mas não atendeu nenhum paciente por falta de estrutura. Richa passou toda a gestão prometendo a inauguração do local, que foi projetado para atender 200 mil usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) de sete municípios. O governo investiu na Saúde praticamente o valor mínimo exigido pela Constituição: em 2017, foram apenas 12,07%, enquanto a lei obriga pelo menos 12%. Desse valor, cerca de R$ 51 milhões foi aplicado no Hospital Militar e outros R$ 180 milhões no Serviço de Assistência ao Servidor (SAS), que atende

Servidoras protestaram contra tentativa da Secretaria da Saúde de cortar alimentação para trabalhadores com jornada de oito horas

apenas os servidores estaduais e dependentes. Terceirização A gestão de hospitais por meio da Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Estado do Paraná (Funeas) está entre as principais críticas feitas pelo sindicato dos servidores da Saúde, o Sindsaú-

de. O projeto de criação da Funeas foi aprovado pela Assembleia Legislativa em 2014, em meio à polêmica. Para os trabalhadores do setor, a medida significa a terceirização dos serviços públicos de Saúde, que deveriam ser administrados pelo governo estadual. Já no final de 2016, quatro hospi-

Dois anos de impunidade no assassinato de agricultores sem-terra Crime aconteceu em Quedas do Iguaçu, região de conflito com a Araupel Redação, Curitiba (PR) Neste sábado, 7 de abril, completam dois anos do assassinato dos trabalhadores rurais sem-terra Vilmar Bordim e Leonir Orback, no acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu. Os autores do crime mais grave no campo paranaense durante o governo de Beto Richa seguem impunes, enquanto integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) são criminalizados. Os dois agricultores foram

mortos a tiros por agentes da Polícia Militar, em uma emboscada que deixou outros sete feridos. A polícia alega que os sem-terra iniciaram os disparos, mas nenhum policial foi ferido e parte dos agricultores foram atingidos pelas costas. O crime aconteceu em região de conflito do MST com a madei-

Outros sete agricultores foram feridos, alguns atingidos pelas costas

reira Araupel, que utiliza terras públicas griladas. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) formalizou a criação de assentamentos rurais em Quedas do Iguaçu, mas cerca de 20 mil hectares continuam em disputa. Meses depois do ocorrido, em novembro de 2016, a Polícia Civil deflagrou a Operação Castra e acusou integrantes do MST de organização criminosa. Os acusados moravam no mesmo acampamento onde ocorreram os assassinatos. Para advogados e movimentos populares, a Operação é uma tentativa de criminalizar o MST.

tais passaram a ser geridos pela Fundação. Um deles foi o Centro de Reabilitação Hospitalar, localizado no Cabral, em Curitiba. Segundo Elaine Rodella, integrante da direção do Sindsaúde, a secretaria estadual de Saúde vendeu a ideia de que a Fundação privada “daria mais agilidade e mais qualidade ao trabalho”, num cenário em que apenas 25 dos 80 leitos estavam em funcionamento. No entanto, apesar da gestão da Funeas, os mesmos 25 leitos continuam em funcionamento. Redução do número de servidores Em 2016, o governo propagandeou que nomeou, em quatro anos, 1.973 servidores para trabalhar na saúde, desconsiderando os profissionais que se aposentaram ou foram exonerados. De acordo com os dados do Relatório Anual de Gestão, em 2011, quando Richa assumiu, a Secretaria de Saúde tinha 9.569 servidores, já em dezembro de 2017 o número caiu para 8.552, ou seja, uma redução de mais de mil funcionários.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA DA COOPERCOM A COOPERCOM – Cooperativa de Comunicação, Rua Riachuelo, nº 90 edifício Claudia, conjunto 202, centro Curitiba/PR CEP: 80020-250, Curitiba PR, inscrita no CNPJ nº 01.594.863/0001-05, neste ato representado pelo seu presidente o Sr Pedro Henrique Carrano Pereira, convoca os cooperados, a se reunirem em Assembleia Geral extraordinária, a se realizar no dia 16 de abril de 2018, na sala de reuniões do CEFURIA (Rua Desembargador Motta, 2791) com a seguinte pauta: 1- Prestação de Contas 2017, 2 - Parecer do Conselho fiscal, 3 Destinação das sobras e ou prejuízo do período, 4 Admissão de desligamento de associados; 5 - Plano de Ação da direção 2017; 6 - Alteração do estatuto e consolidação; 7- Eleição da direção e conselho fiscal para o ano de 2018; 8-Encaminhamento para os Associados; as convocações obedecerão à seguinte ordem: * às 07h00min em primeira convocação com dois terços (2/3) do número de cooperados com direito de participação; * às 08h00min metade mais um em segunda convocação; * às 09h00min com vinte por cento (20%) dos cooperados aptos em terceira convocação. Associados aptos para votar 22 (vinte e dois) Cooperados. Curitiba, 04 de abril de 2017. Pedro Henrique Carrano Pereira - Presidente


| Especial

Paraná, 5 a 11 de abril de 2018

Congresso do Povo debate um novo projeto de país O MUNDO DO AVESSO

Primeiro curso estadual de formadores deve alcançar 25 municípios do Paraná Pedro Carrano, Curitiba (PR)

A

Frente Brasil Popular, organização nacional que conta com 80 movimentos populares e partidos de esquerda, definiu, no final de 2017, convocar o chamado “Congresso do Povo”. O principal objetivo é ouvir as pessoas sobre que projeto e que rumos desejam para o país. Esses debates devem acontecer nos bairros, nos espaços de gru-

pos religiosos, nas cidades, nos estados. No Paraná, o início do Congresso do Povo deve acontecer no dia 14 de abril (sábado), em Curitiba, com o chamado “Curso Estadual de Formação de Formadores”. Será um momento de formação de lideranças para, mais tarde, replicar a metodologia do Congresso em sete regiões do estado e, inicialmente, a partir de 25 cidades, além de Curitiba e região. Com isso, a coordena-

“O Paraná que eu quero é aquele onde o futuro governador ou governadora não receba mais a pensão vitalícia, nem ele, nem seus familiares”

ção da Frente Brasil Popular no Paraná avalia como possível chegar aos 399 municípios de todo o estado. No primeiro encontro, a expectativa é contar com a presença de 120 formadores paranaenses. “De um modo geral, acho que a intenção é principalmente que os movimentos retornem para a base, no diálogo com a população, fazendo a construção do movimento pela base, para mobilizar no sentido da disputa de projeto de país”, analisa Ana-

célie Azevedo, diretora da Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR), uma das participantes da iniciativa.

Serviço Curso Estadual de formação de formadores para o Congresso do Povo Quando: 14 de abril (sábado) Local: Sintracom (Rua Trajano Reis, 538, Centro, Curitiba) comitespopularespr@gmal.com

CAÇA-PALAVRAS

Arquivo Pessoal

O PARANÁ QUE EU QUERO

Luis Pequeno, educador e morador do bairro Parolin, em Curitiba

“O Paraná que eu quero é mais justo, solidário, mais democrático, e que respeite as diferenças que existem entre todas e todos” Jaine Amorin, estudante universitária e moradora de Laranjeiras do Sul

“O Paraná que eu quero é um estado que invista em educação, saúde e moradia. E que não massacre os professores como no dia 29 de abril de 2015” Paulo Antunes, operário e morador de Araucária

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

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HORIZONTAIS 1) Richa sacou R$ 7 bilhões do Fundo PREVIDENCIÁRIO dos servidores 2) A Operação QUADRO NEGRO da PF investiga o desvio de verbas destinadas a reformas de escolas. 3) Pacote de MALDADES. Como ficou conhecida a medida que, entre outras propostas, aumentou o ICMS de 95 mil produtos essenciais. 4) No dia 29 de ABRIL aconteceu a maior violência policial contra manifestantes da história do Estado. 5) Fernando FRANCISCHINI era o secretário de segurança na ocasião do massacre.

VERTICAIS 1) Reajuste SALARIAL, um dos direitos dos servidores estaduais desrespeitado por Richa. 2) Luiz Abi Atoun é PRIMO de Richa e acusado de liderar esquema de propina na Receita estadual. 3) UM é o número de hospitais construídos nos governos Richa. 4) Richa foi condenado a devolver o dinheiro de uma viagem a PARIS em 2015 paga com o dinheiro do Estado. 5) PILOTO é o nome de Richa na lista da Odebrecht que relacionava políticos que teriam recebido verbas ilegais da empresa.


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