Brasil de Fato - Edição 65

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Cultura | p. 10

Perfil | p. 4

Do quilombo para o palco

Entre muros e montanhas

Leonardo da Cruz começou a prática da dança no quilombo Paiol de Telha, onde nasceu

Novo livro reconcilia Brasil e América Latina

Ano 2 | Edição 65

Juliano Vieira Monica Nachman

PARANÁ

7 a 13 de dezembro de 2017

distribuição gratuita

POR QUE A CLASSE MÉDIA PAROU DE PROTESTAR CONTRA A CORRUPÇÃO? Em meio a escândalos do governo Temer, pesquisadores tentam interpretar o recuo das manifestações “contra a corrupção” Lava Jato | p. 6 e 7

Fotos: Isabella Lanave

Brasil | p. 9

Desmonte da aposentadoria Reforma da previdência ameaça aposentadoria de 45 milhões de pessoas Marcelo Camargo | Agência Câmara

SOBERANIA HÍDRICA 3 mil famílias de Pinhão (PR) sofrem ameaça de despejo. A primeira reintegração de posse ocorreu no dia 1º, e deixou um rastro de destruição. Casas de alvenaria e uma igreja foram destruídas. Os despejos favorecem a Indústria Zattar, antiga madeireira da região Cidades | p. 5

Cidades | p. 4

Prefeito dos impostos Vereadores de Curitiba acatam projetos de Greca e aumentam IPTU e ISS


2 | Opinião

EDITORIAL

Temer dá sinal verde à repressão Jornalistas Livres

A

notícia da manhã do dia 6, de que a Polícia Federal invadiu a Universidade Federal de Minas Gerais, conduzindo coercitivamente o reitor e a vice-reitora, mostra o avanço do estado de exceção no Brasil. Até mesmo no Paraná tivemos os seguintes casos, em menos de uma semana, nos quais o Estado reprimiu a classe trabalhadora: músicos foram presos no centro de Curitiba e ficaram até três dias encarcerados; um despejo forçado ocorreu em Campo Largo, em área aban-

OPINIÃO

donada há vinte anos e ocupada por 150 pessoas; os agricultores da cidade de Pinhão foram despejados, com destruição de igreja e posto de saúde. Não acreditamos que os fatos estejam desconectados entre si. E qual é a razão? O governo Temer, além de levar a sociedade à intolerância, toma medidas antipopulares e repressivas. Estamos também diante de um poder Judiciário abusivo, que prende primeiro e pergunta depois a razão. No caso da violência policial, o governo Temer dá sinal verde para

que o povo pobre seja reprimido. Afinal, ele sabe que, para aprovar a reforma da previdência e as privatizações, precisa de um ambiente de intimidação. Ainda que os trabalhadores tenham se recolhido depois da greve geral do 28 de abril, devido também à ameaça do desemprego, o fechamento da democracia e a piora das condições de vida prometem lutas explosivas em um futuro próximo. Neste momento, é preciso seguir na organização do povo contra os atuais abusos.

Privatizar fábricas de fertilizantes é uma estupidez

Gerson Luiz Castellano,

diretor do Sindicato dos Petroquímicos do Paraná (Sindiquímica-PR) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP)

O

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Brasil é um dos poucos países com capacidade de expansão em relação a plantio e desenvolvimento do solo. É destaque no fornecimento de commodities no mundo e o setor agrícola é um dos setores mais importantes da economia brasileira. Porém, o país é dependente da importação de fertilizantes: é o quarto maior consumidor do pro-

duto no mundo. Em 1993, foi privatizada a Ultrafertil, localizada na cidade de Araucária, Região Metropolitana de Curitiba (PR). Ela fazia parte do setor de fertilizantes da Petrobras. Neste período de 20 anos, os proprietários privados, nada investiram. Ficamos reféns das importações e dos altos custos dos fertilizantes. Os únicos investimentos feitos na área de fertilizantes nitrogenados vieram pela Petrobras. Isso ocorreu pela modernização de suas unidades produtoras das Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (FAFENs) da Bahia e

de Sergipe, e também pela construção da FAFEN-MS, em andamento, na cidade de Três Lagoas (MS). Em 2013, a antiga Ultrafertil, hoje FAFEN-PR (Araucária Nitrogenados), volta ao sistema Petrobras após uma transação comercial com a VALE. Foi um acerto histórico. No mesmo ano, recebeu

Fertilizantes nitrogenados são fontes de soberania alimentar e energética

investimentos em manutenção que nunca tinham sido feitos em 20 anos de iniciativa privada e teve os melhores resultados do sistema. No entanto, com a consolidação do golpe em 2016, a retirada de investimentos e a precarização voltou não só para a FAFEN-PR como para todo o sistema Petrobras. Em setembro de setembro, a Petrobras anunciou a venda da unidade de fertilizantes, entre elas a FAFEN -PR. O agravante: segundo a direção da Araucária Nitrogenados, após novo processo de desvalorização (impairment) acontecido em

julho de 2017, a Unidade FAFEN-PR vale contabilmente ZERO REAIS! Isso mesmo, R$ 0,00! Em resumo, irá de brinde com a Unidade do MS que está 80% concluída. Fertilizantes são estratégicos para nossa soberania alimentar, para o aumento de nosso PIB e contribuem para o equilíbrio da balança comercial. Ficar refém de um insumo tão estratégico, e que já está nas mãos do estado, é de uma estupidez sem limites. As privatizações, caso sejam concluídas, serão mais um crime de lesa-pátria cometido pelos entreguistas de plantão.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº 65 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Ednubia Ghisi, Franciele Petry Schramm e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz, Carolina Goetten e Julia Rohden COLABOROU NESTA EDIÇÃO Fernando G. V. Prioste ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr FOTOGRAFIA Jaqueline Vieira e Isabella Lanave ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO redacaopr@brasildefato.com.br IMPRESSÃO Grafinorte (Nei)


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Divulgação

3 | Geral

FRASE DA SEMANA

Agencia CTA

“Não vai demorar muito, em outubro acaba e ele vai ter que procurar outro emprego” Protesto contra Moro

disse o cantor Gilberto Gil durante um show em Salvador (BA), em concordância com os gritos de ‘Fora Temer’ do público. Cerca de 40 mil pessoas acompanhavam a apresentação.

O juiz federal de primeira instância, Sérgio Moro, foi alvo de protestos durante a passagem pela tradicional Universidade de Coimbra, em Portugal. Muros da instituição onde o juiz fez uma palesta em uma atividade sobre combate à corrupção, na segunda-feira (4), amanheceram pixados. Em nota, a Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra criticou a escolha do nome para o evento, já que os métodos de atuação de Moro são questionados internacionalmente.

Divulgação

Lula desafia Lava Jato durante caravana pelo Rio de Janeiro Ex-presidente anuncia Curitiba como a próxima parada de suas caravanas Redação,

via Revista Fórum, Curitiba (PR)

Durante a passagem de sua caravana pelo Rio de Janeiro, no município de Campos, o ex-presidente Lula voltou a desafiar o juiz Sergio Moro a apresentar qualquer prova contra ele nos processos em que ele é réu na Operação Lava Jato. Ele reafirmou que o objetivo é tirá-lo da disputa de 2018. “Eu desafio Moro, Ministério Público e Polícia Federal a apresentar uma prova contra mim. Se não querem que eu ganhe, parem de mentir e disputem as eleições. Ou peçam pra Globo criar um pra

“Eu desafio Moro, Ministério Público e Polícia Federal a apresentar uma prova contra mim”, disse Lula eles”. Lula anunciou ainda a próxima parada de sua caravana: Curitiba, a cidade de Moro. Ele ainda criticou o governo de Michel Temer em diversos aspectos, e reafirmou que tem como tirar o País do caos. “Se eles não sabem como consertar o país, eu sei como fazer. Durante 12 anos de PT, todas as cate-

gorias profissionais tiveram aumentos anuais acima da inflação”. Lula reafirmou também seu compromisso de ouvir o povo para revogar as “maldades” de Michel Temer, como, segundo ele, a reforma trabalhista e o desmonte da Petrobras. “Se a gente voltar, muita coisa vai mudar nesse país. Primeiro, vamos fazer um referendo revogatório para desfazer o que eles estão fazendo. O Brasil vive possivelmente a maior crise de sua história. Pela primeira vez está sendo governado por um golpista responsável por rasgar 54 milhões de votos na Dilma e que só é aceito pelo mercado para vender o Brasil”.

Reencontro número 126 A Associação Avós da Praça de Maio, que se dedica a localizar as crianças sequestradas e desaparecidas durante a ditadura militar na Argentina, anunciou ter encontrado a neta número 126. Filha de militantes, Adriana se encontrou com a avó Blanca Díaz de Garnier, uma das criadoras da Associação. Ela foi uma entre as cerca de 400 crianças que foram tomadas da família durante a ditadura militar no país, entre 1976 a 1983.

NOSSO DIREITO Fernando G. V. Prioste*

Direitos humanos são de quem trabalha e luta É comum ouvir que direitos humanos são coisas de bandido, mas é verdade? Dez de dezembro é o dia dos direitos humanos, pois foi quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos passou a existir. E o que diz essa declaração? Que cada pessoa tem direito a trabalho, descanso, lazer, a jornada de trabalho razoável, férias pagas e proteção contra desemprego. Que as pessoas deveriam ter direito à vida, à liberdade e à segurança respeitados. Que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, e que a discriminação racial é crime. Que todas as famílias têm direito a um lar, com um nível de vida digno com saúde, alimentação e vestuário. Esses direitos não são coisas de bandido, são conquistas populares, fruto das lutas de quem trabalha. Quem não gosta de direitos são os ricos, que querem pagar salários baixos para aumentar os lucros. Direitos humanos são barreiras contra a exploração, mas precisam da ação de quem trabalha para que se tornem realidade. Ainda há muito que fazer. Fernando G. V. Prioste, advogado popular da Terra de Direitos


4 | Cidades

PERFIL

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Leonardo da Cruz, do quilombo para os palcos

Coreografia de “Entre caboclos e baianos” tematiza elementos da cultura popular brasileira miscigenação étnico-racial do Brasil. Curitiba (PR) Leonardo começou a dançar desde muito cedo, na comunidade quilombola bailarino Leonardo da Paiol de Telha, em GuaraCruz, ao centro de um puava, onde nasceu e viu a palco negro como sua pele, tia benzer bichos e plantas, move-se com gestos agoviu a vida em comunidade niados: são de alguém que e o valor da luta de quem luta para se levantar do tem a pela como a sua. “O chão e quebrar toda a crosambiente urbano limitou ta de preconceito que a igas possibilidades da nossa norância acumulou sobre convivência. Mas a vida em a Terra. O espetáculo “Encoletivo ainda tre caboclos é a marca do e baianas”, “A vida em povo negro”, com coreodiz. “Enquangrafia criada coletivo ainda é to o munpor Leonar- a marca do povo do moderno do, é parte de nos submete seu trabalho negro” Leonardo da Cruz a uma expede conclusão riência rasa e de curso na individual, a Universidade gente ainda se reúne para Estadual do Paraná (Unescomer feijão, pipoca e faropar). Em seus movimentos fa. Nosso povo ainda se cocorporais, saias brancas e letiviza, dá umbigada, reza e chapéus de palha, mostram enfrenta junto”. a resistência, a cultura e a Carolina Goetten,

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Monica Nachman

A trajetória de Leonardo começou na adolescência, no grupo de jovens quilombolas Kundun Balê, fundado no Paiol de Telha. Depois que veio a Curitiba, passou por diversos espaços de aprendizagem, até decidir pela graduação em Dança na Unespar. Em “Entre caboclos e baianas”, Leonardo tematiza a dispersão de diferentes povos, forçados a se deslocar de seus territórios de origem para fugir de perseguições ou do preconceito. “A questão principal aqui é que a terra é que é coletiva. Não queremos só cotas para acessar o ensino. Queremos a redistribuição dos recursos materiais”. Melhorou, mas a desigualdade continua O percentual de negros no nível superior mais que dobrou entre 2005 e 2015, se-

gundo o IBGE. Programas sociais como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e a política de cotas contribuíram para esse resultado. Mesmo assim,

ainda há muito a avançar: apenas 12,5% das pessoas negras cursam alguma faculdade, enquanto 26,5% dos brancos chegam ao nível superior.

Vereadores aumentam IPTU e ISS em Curitiba Manoel Ramires, Curitiba (PR) Os vereadores de Curitiba aprovaram dois projetos de lei que elevam impostos para a população. Ambos foram propostas pela gestão do prefeito Rafael Greca (PMN). No primeiro deles, os contribuintes pagarão 4% a mais de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) para imóveis e 7% para terrenos sem edificação. No caso do Imposto Sobre Serviços (ISS), os vereadores aprovaram taxa mínima de

Em 2016, a prefeitura recolheu R$ 1,056 bilhão com o ISS e R$ 537 milhões com o IPTU 2%, com cobranças inclusive de atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). “Também vão recolher o imposto os órgãos da administração indireta e os serviços sociais autônomos do Município”, informa a página da

Câmara Municipal de Curitiba. Em 2016, a prefeitura recolhei R$ 1,056 bilhão com o ISS e R$ 537 milhões com o IPTU. Oposição A vereadora professora Josete (PT)argumentou que a decisão de elevar mais impostos é inteiramente do prefeito. Já o vereador Felipe Braga Cortes (PSD) argumentou que mais impostos travam o crescimento. Ele comparou com a situação de Santa Catarina, onde a retomada dos investimentos está sendo feita sem novos impostos.


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5 | Cidades

Um terço da população rural de Pinhão sofre ameaça de despejo Desocupações forçadas começaram em dezembro podem afetar até oito comunidades rurais Daniel Giovanaz, Pinhão (PR)

V

inte e duas famílias foram despejadas e outras três mil correm o risco de ficarem sem casa na zona rural do município de Pinhão, Centro-Sul do Paraná. A primeira reintegração de posse ocorreu na sexta-feira (1º) e foi autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em favor da Indústria Zattar, uma antiga madeireira da região. A empresa detém cerca de 40 mil hectares de terra no município, e obteve liminares e autorizações para desocupação de quase todos os terrenos. Os despejos,

“Tive dois desmaios dentro da casa, quando começamos a tirar” Eva Nogueira que começaram pela comunidade do Alecrim, podem afetar 3 mil famílias, mais de um terço da população rural do município. Iceberg De acordo com o prefeito Odir Gotardo (PT), parte das casas Daniel Giovanaz

Trauma Nelson de Oliveira tem 59 anos e foi um dos agricultores despejados, depois de 23 anos no Alecrim. Ele criava porcos e galinhas e plantava seis gêneros alimentícios, mas há uma semana precisou se mudar para os fundos da propriedade de um amigo. “Eu lutei a vida inteira para comprar essas posses”, afirma o produtor rural. “Nesse período, eu fiz três financiamentos, e para isso valia meu docu-

mento [de posse do terreno]. Mas, não valeu para me manter na terra”. O horror das primeiras horas do dia 1º de dezembro permanece vivo na memória da família. “Eu estava indo para a cidade às sete e meia, e me fizeram voltar na estrada. Disseram que eu não poderia sair dali porque iam demolir as casas. Deram 40 minutos para tirar os móveis”, lembra Nelson. A esposa dele, Eva Nogueira da

demolidas eram de agricultores que viveram por mais de 20 anos na comunidade: “Para se ter uma ideia, havia casas financiadas por programas de habitação pública. São situações que já eram de uma posse consolidada”. Gotardo alerta para a possível destruição de outras comunidades rurais de Pinhão. “A efetivação dessa reintegração de posse é a ponta do iceberg. Porque, se reintegra uma, a ordem é reintegrar todas”, analisa. “O cumprimento dessas ações, por certo, vai destruir completamente sete ou oito localidades do meio rural, assim como destruiu essa. Não sobrou sequer o posto de saúde e a igreja da comunidade: tudo foi destruído. Eles destroem qualquer referência da comunidade”, completa. Além das casas e da igreja, foram demolidos um posto de saúde, um galpão usado para festas e eventos comunitários e um campo de futebol. Os pedidos de reintegração tramitam desde a década de 1990. O prefeito tentou convencer o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a comprar aquelas terras, para garantir a permanência dos chamados “posseiros”. Porém, o processo esbarrou na burocracia: as terras estavam quase todas penhoradas, em função do endividamento da Indústria Zattar com a Fazenda Nacional.

“Deram 40 minutos para tirar os móveis” Nelson de Oliveira Silva, ficou tão assustada que desmaiou duas vezes durante o despejo: “Tinha uns 30 polícias em volta. Eu tive dois desmaios dentro da casa, quando começamos a tirar”,

HISTÓRICO Conforme descrito em um artigo acadêmico publicado em 2010 pela pesquisadora Dibe Salua Ayoub, da UFPR, a família Zattar comprava terras de agricultores sem consentimento entre 1950 e 1980: “A população, que naquela época era de maioria analfabeta, assinava contratos confiando que estava vendendo árvores, mas na verdade estava abrindo mão de suas propriedades”. Com mais de 40 anos de atividade jurídica relacionada ao direito à terra, o advogado Carlos Frederico Marés afirma que as desocupações violam o princípio da função social da propriedade: “Se tem gente produzindo na terra, essas pessoas estão cumprindo a função social. Ao contrário do proprietário, que não estava fazendo cumprir. Essa é uma coisa perversa do nosso sistema, que despeja posseiros”. O presidente da Indústria Zattar, Miguel Zattar Filho, informou que a empresa é proprietária legítima das terras, possui as documentações dos imóveis, e que as famílias que habitavam o local estavam cientes do processo de reintegração há mais de dez anos. Moradores de Pinhão protestaram na rodovia que dá acesso ao município para tentar impedir as desocupações previstos para esta quinta-feira (6). A última informação é de que os despejos foram suspensos pela Justiça.

relata. “Tirei só as janelas e as portas”, lamenta. O vizinho Vanderlei Mattos acompanhou os despejos e ressalta que, na casa do sogro dele, só foi possível salvar as roupas e um colchão: “Eram dois carros da polícia e uma caminhonete branca. Eu presenciei a hora que eles chegaram lá. Entregaram um papel dizendo que era para desocupar a casa logo porque eles iam derrubar”.


6 | Lava Jato

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Paraná, 7 a 13 de dezembro de 2017

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7 | Lava Jato

Ruas vazias, golpe legitimado: avanço e recuo da Lava Jato sob olhar da classe média Em meio a escândalos do governo Temer, pesquisadores tentam interpretar o recuo das manifestações “contra a corrupção” Daniel Giovanaz, Curitiba (PR)

“O

nde estão os ‘camisas amarelas’? Onde estão as panelas?”. O questionamento feito pelo sociólogo Jessé Souza, no livro A Elite do Atraso [Leya, 2017], lançado em Curitiba em novembro, expressa uma preocupação de vários intelectuais brasileiros: entender as oscilações da classe média antes e depois do golpe de 2016. Afinal, por que milhões de pessoas foram às ruas para derrubar o governo Dilma Rousseff (PT) e apoiar a operação Lava Jato, mas não se mobilizam contra a corrupção praticada pelo governo Michel Temer (PMDB)? Uma semana após o lançamento do livro em Curitiba, a reportagem do Brasil de Fato ouviu pesquisadores de diferentes universidades, e apresenta respostas que se propõem a superar o senso comum e a polarização político-ideológica dos últimos quatro anos. Conceito A classe média, em questão, não é definida apenas pela renda. São trabalhadores não

-manuais, com mais anos de escolaridade do que a média da população, que têm como elemento comum a crença na meritocracia. Ou seja, acreditam que o enriquecimento dos indivíduos é resultado dos esforços, talentos e escolhas de cada um. Professor de Ciência Política da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Danilo Martuscelli alerta que esse grupo não é homogêneo, e que o salário e a posição ocupada no ambiente de trabalho contribuem para que haja diferenças dentro da própria classe: “Temos várias pesquisas que indicam que parte da classe média esteve a favor do golpe, e outra parte esteve contra. Porém, um traço marcante é que quem esteve a favor recebia mais de dez salários mínimos, e uma grande parcela tinha diploma universitário”. Expediente tático Isso não significa que as pessoas que apoiaram o golpe eram mais inteligentes, mas revela alguns dos interesses que estavam em jogo. “Esses setores mobilizados, que foram às ruas pela Lava Jato e contra o goAntônio Cruz | AgênciaBrasil

“A corrupção não era o objetivo desses movimentos, e sim, um expediente tático para desgastar o governo” Danilo Martuscelli

verno Dilma, aderiram ao que eu chamo de estatismo conservador. Eles queriam frear as políticas sociais dos governos PT, porque elas secundarizam o critério meritocrático e ameaçam a sua distinção enquanto classe”, analisa Martuscelli. A partir dessa interpretação, o esvaziamento das ruas durante o governo Temer começa a fazer sentido: “Os objetivos foram contemplados. Além do impeachment, eles conseguiram afetar, com a Lava Jato, os suportes fundamentais da política do governo anterior: a Petrobras, a construção civil e os programas sociais”, enumera. “A corrupção não era o objetivo desses movimentos, e sim, um expediente

tático, usado para desgastar governos”. Capital financeiro O pesquisador Peter Bratsis, professor da Universidade da Cidade de Nova Iorque, estuda o papel da corrupção política no processo de avanço do capital financeiro. O tema entrou na pauta de discussão das economias de mercado na década de 1990, com a ampliação das chamadas “agências pela transparência” – a ideia era tornar as burocracias de Estado cada vez mais afinadas aos interesses do capital internacional. “Esse novo entendimento de corrupção se transformou no fundamento de como as sociedades capitalistas puderam estabelecer o que é normal e o que é patológico com relação à presença de autointeresses na esfera política”, afirma Bratsis, em artigo publicado na revista Historical Materialism [Materialismo Histórico], em 2014. Segundo Martuscelli, a agenda da corrupção foi mobilizada para tornar o Estado uma presa mais fácil: “O capital financeiro passa a vender a ideia de que os países ‘atrasados’ devem fazer um exame apurado dos casos de corrupção para que possam progredir. E o remédio que eles impõem é a adesão a um liberalismo ortodoxo”.

Rovena Rosa | Agência Brasil

No Brasil pós-golpe, as mudanças na política econômica podem ser exemplificadas pela reforma trabalhista e da Previdência, e pela Portaria nº 1.129, que tenta dificultar o combate ao trabalho escravo. “Percebemos que isso não acontece só no Brasil. Aconteceu na Grécia, depois na Venezuela, na Argentina. E o recado é claro: um acerto de contas com a crise de 2008, e os imperativos do ajuste fiscal”, contextualiza o professor da UFFS, que conclui: “A classe média foi às ruas em um contexto de crise, motivada pela mídia, claro, e também porque sua distinção enquanto classe começou a ser ameaçada. Mas a principal força dirigente do golpe e da Lava Jato é o capital financeiro internacional”. Identificação Doutor em Sociologia e professor de Ciência Política na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Armando Boito Jr. analisa a corrupção não só como um expediente tático, mas como uma demanda secundária dos movimentos que protestaram contra Dilma. Porém, assim como Martuscelli, interpreta que parte dos anseios da classe média foram satisfeitos com o golpe: “A história da corrupção não foi inventada. Existia mesmo essa demanda, mas era secundária e foi condicio-

Pesquisadores apontam que a corrupção não era a demanda principal dos protestos contra Dilma e o PT

nada pelo interesse do imperialismo. Se houve um recuo nas ruas, é porque a principal demanda da classe média foi atingida, que era o corte nas políticas sociais. Por isso, a gente não vai ver mais aquelas manifestações multitudinárias como antes [do golpe]”. Boito também sugere que a

REPUBLICANISMO

Parlamentares que votaram pelo impeachment de Dilma barraram denúncias contra Temer

Armando Boito Jr. interpreta que os próprios governos petistas deram condições para que a classe média se mobilizasse em torno da Lava Jato e do golpe. A aposta em uma concepção pública de Estado, influenciada pelo livro Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, teria sido derrubada em 2016 com a consolidação do impeachment. O excesso de “republicanismo” de Lula e Dilma Rousseff, segundo o professor da Unicamp, se materializou na nomeação de

juízes para o Supremo Tribunal Federal (STF) e de delegados para o comando da Polícia Federal (PF): ambos os presidentes optaram por uma suposta “autonomia” dos investigadores. No caso da Procuradoria-Geral da República (PGR), essa escolha fica ainda mais evidente. Dilma nomeou Rodrigo Janot duas vezes para o cargo de chefia porque ele havia sido o mais votado pelos colegas. A segunda nomeação aconteceu em meio à Lava Jato, quando estava demonstrado que Janot não iria impor limites aos

abusos do Ministério Público e do Judiciário. Entre 30 e 31 de agosto de 2016, a crença no “poder das instituições” foi por água abaixo. José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça, apresentou argumentos imbatíveis para mostrar que as “pedaladas fiscais” não configuravam crime de responsabilidade. Porém, não era isso que estava em jogo: o golpe parlamentar foi consolidado, com apoio da classe média e em afinidade com os interesses do capital estrangeiro.

Lava Jato e a mídia brasileira atuaram como um partido político, e que a classe média se sente identificada com figuras como o juiz de primeira instância Sérgio Moro. Esse papel ficou evidente em 16 de março de 2016, quando o magistrado divulgou grampos ilegais dos ex-presidentes Lula (PT) e Dilma (PT), e fez explodir manifestações de rua pelo Brasil: “O Moro e essa alta classe média se veem representados uns nos outros”. Embora o objetivo de destruir as políticas sociais tenha se realizado, os movimentos pró-Lava Jato perderam força nas ruas e não parecem influenciar as intenções de voto em 2018. O ex-presidente petista, condenado em primeira instância, lidera todas as pesquisas com folga. “A liderança do Lula nas pesquisas deve ser saudada”, analisa o professor da Unicamp. “Significa que parte da população mais

pobre começa a dar as costas para aquilo que diz a mídia”. O pesquisador considera, no entanto, que a relação da classe trabalhadora com o ex-presidente tem um caráter personalista, e isso limita o saldo organizativo e de mobilização deixado pelas caravanas no interior do Brasil, por exemplo – para além do mero contato físico e da veneração a Lula como personalidade política. Danilo Martuscelli, da UFFS, também valoriza o resultado das pesquisas de intenção de voto para 2018, e recorre à mesma hipótese sobre o comportamento da classe média. Segundo ele, o ex-presidente simboliza, aos olhos do eleitorado, uma possibilidade de retomada das políticas sociais dos governos PT. Por isso mesmo, é objeto do ódio daqueles que veem a classe trabalhadora como ameaça e defendem a meritocracia como forma de distinção social.


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8 | Brasil

Procuradoria-Geral da República arquiva investigação contra Richa e Francischini Raquel Dodge entende que não há embasamento para instaurar inquérito contra políticos pelo 29 de Abril Joka Madruga

RELEMBRE No dia 29 de abril de 2015, cerca de 30 mil professores e servidores estaduais foram massacrados pela Polícia Militar durante uma manifestação em frente à Assembleia Legislativa. Eles protestavam contra a proposta de reforma na ParanaPrevidência, o regime próprio da Previdência Social dos servidores, que foi aprovada apesar dos protestos. Cerca de 50 pessoas foram hospitalizadas e 213 ficaram feridas.

Júlia Rohden,

Curitiba (PR)

N

a última semana, a procuradora-geral da República Raquel Dodge determinou o arquivamento da investigação contra o governador Beto Richa (PSDB) e o ex-secretário de Segurança Pública, atual deputado federal, Fernando Francis-

chini (SD) pelas decisões que tomaram durante o protesto dos professores, em 2015. Dodge arquivou o caso por falta de “embasamento mínimo” para instaurar o inquérito. O evento ficou conhecido como “Massacre de 29 de abril” e deixou 213 professores feridos. Por concluir que há indícios de crimes como abu-

so de autoridade e de “perigo constante”, especialmente pelo uso de gás tóxico, o Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR) abriu um procedimento preparatório para apurar a responsabilidade das autoridades. Por causa do foro especial de Richa e Francischini, o caso foi levado para a Procuradoria Geral da República, em Bra-

sília. O Secretário de Assuntos Jurídicos do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP), Mario Sergio Ferreira, professor aposentado que estava no dia do massacre, conta que a polícia usou uma força desproporcional para acabar violentamente com o protesto. “Não foi com o objetivo de conter os manifestantes, mas de atacar mesmo”, lembra. Improbidade administrativa A decisão da Procuradoria reproduz parte dos argumentos da sentença da juíza Patrícia de Almeida Gomes, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, que rejeitou a ação civil pública movida pelo MP-PR e considerou os manifestantes responsáveis pela violência policial. O MP-PR denunciou Richa, Francischini e outras quatro pessoas ligadas à Polícia Militar por atos de improbidade administrativa.

Em sua decisão, divulgada em agosto deste ano, a juíza avaliou que a ação policial usou “equipamentos necessários e proporcionais para afastar os manifestantes”. Foram disparadas contra os professores mais de 2,2 mil balas de borracha, 486 granadas de efeito moral e 449 granadas de gás. O MP-PR já entrou com recurso contra a decisão da juíza e aguarda a decisão do Tribunal de Justiça do Paraná. Vitórias nas ações individuais Mais de 200 professores entraram com ações individuais contra o Estado cobrando indenização por danos morais e materiais. O advogado da APP Agnaldo dos Santos informou que já foram mais de 50 decisões favoráveis às vítimas. A indenização varia de acordo com a lesão, há casos de ferimentos na cabeça e de redução da visão por conta da violência policial.

Demarcação de áreas em Guaíra volta à pauta com desinformação Julio Carignano

“Através da mídia, os grandes proprietários conseguiram mudar a opinião da sociedade e a toda população começou a nos olhar como bandidos. O sindicato rural coloca medo nos pequenos produtores, nas pessoas pobres, espalha mentiras que vamos tomar várias terras, que vamos invadir a cidade”, diz Ilson Soares, da aldeia Y’Hovy.

Júlio Carignano,

Curitiba (PR), via Porém.net

A demarcação de terras em Guaíra, no Oeste do Paraná, voltou ao debate nos últimos dias devido a reações hostis de grupos contrários aos direitos das comunidades indígenas. Uma demonstração da hostilidade contra os Avá-Guarani ocorreu no dia 4, quando moradores de Guaíra, liderados por fazendeiros, impediram um caminhão entrasse na comunidade para entregar madeiras compradas através do Programa Nacional de Habitação Ru-

ral (PNHR). Cerca de 100 pessoas bloquearam a entrada do tekoha Y’Hovy, aldeia próxima ao bairro Eletrobras. Nesta quarta-feira (6), um protesto anti-indígena reuniu manifestantes do centro da cidade.

Demarcação paralisada No mês de outubro, o Ministério da Justiça e a Fundação Nacional do Índio (Funai) foram intimados pela Justiça Federal a prestar esclarecimento sobre

a paralisação de atividades de grupos de trabalhos que fazia o estudo demarcatório na região de Guaíra. Nas últimas semanas, técnicos da Funai estiveram em Guaíra e Terra Roxa para fazer o levantamento fundiário da região em estudo, afim de dar sequência no processo. A realização do estudo de identificação e a delimitação da área é somente a primeira etapa do processo de demarcação, que ainda passará pelas fases de contestações e direito ao contraditório, declarações de limites, demarcação física, homologação e registro como patrimônio público da União.


Brasil de Fato PR 9

Reforma da previdência ameaça aposentadoria de 45 milhões de pessoas

Paraná, 7 a 13 de dezembro de 2017

9 | Brasil Roberto Parizotti

Temer corre contra o tempo para aprovar PEC, mas enfrenta resistência no Congresso e nas ruas Idade mínima e tempo de contribuição O novo texto da ProposBrasília (DF) ta de Emenda Constitucional (PEC) reforma da Previdência, apresenm setembro, o presidente gol- tado no final de novembro pelo repista Michel Temer (PMDB) lator na Câmara, deputado Arthur abriu os cofres públicos para dis- Maia (PPS-BA), fixa uma idade mítribuir mais de R$ 32 bilhões em nima de aposentadoria de 65 anos emendas parlamentares e se livrar para homens e 62 para mulheres. de investigação por corrupção no Professores e policiais passariam a cumprir exigência de 60 anos e 55 Supremo Tribunal Federal (STF). anos, respectivaAgora, ele nemente, sem disgocia cargos na tinção de gênero. Esplanada dos Mas não basMinistérios para Reforma trabalhista No entanto, para receber o va- de contribuição. ta apenas a idatentar arregie da previdência de mínima. O lor integral da aposentadoria, tanmentar votos a criarão um sistema tempo de con- to os servidores públicos quanto os Aposentadoria rural O novo favor da reforma tribuição que trabalhadores do setor privado te- texto da PEC mantém as atuais reda Previdência “maldoso e será exigido para rão que ter contribuído por 40 anos. gras da aposentadoria rural, com que, se aprovaexcludente”, a aposentado- Se a contribuição dos trabalhadores exigência de idade mínima de 60 da, vai impactar Floriano Martins ria dos traba- do setor privado for 15 anos, ele se anos para homens e 55 anos para diretamente o lhadores priva- aposenta com 60% da renda média mulheres, além da contribuição dudireito de apode Sá Neto dos, pelo Regime da contribuição, com o percentual rante 15 anos com base na comersentadoria de Geral da Previ- subindo de acordo com o tempo cialização da produção. No entanmais de 45 midência Social de contribuição. No caso dos ser- to, o texto elimina a aposentadolhões de trabalhadores. Esse número é a soma de (RGPS), será de 15 anos, enquanto vidores públicos, a aposentadoria ria rural por idade, o que deve afepessoas empregadas no setor priva- o do Regime Próprio de Previdência só será concedida se a contribuição tar milhares de trabalhadores do sedo e no setor público das três esfe- Social (RPPS), dos servidores públi- mínima for de 25 anos, mas rece- tor que não conseguirem contribuir bendo apenas 70% do valor médio com regularidade ao INSS. ras de governo (municipal, estadual cos, será de 25 anos. e federal), segundo dados do Boletim Estatístico da Previdência SoAPOSENTADORIAS AMEAÇADAS cial. Além da troca de cargos por votos, uma campanha publicitária maldoso e excludente”, aponta. Para o presidente da Associação Nacional dos multimilionária está sendo patrociO ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, alega Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), Flonada pelo governo para inundar os que se a reforma da previdência não for aprovada, em riano Martins de Sá Neto, a combinação entre a canais de TV, rádio e a internet de 10 anos quase 80% do orçamento público estará vincureforma trabalhista com as novas regras propospropaganda a favor das mudanças lado ao pagamento das aposentadorias. tas para a previdência vai fazer com que milhões nas regras da aposentadoria. ApeNa avaliação de Floriano Martins, esse tipo de “terde trabalhadores jamais se aposentem no Brasil. sar de alardear que a proposta de rorismo orçamentário” demonstra a incapacidade do “Imagine o caso do trabalhador intermitente, reforma da previdência sofreu mugoverno de dialogar com a população. “A gente sabe que recebe menos de um salário mínimo. Para podanças para se tornar mais enxuta, que quase a metade do orçamento do Brasil é destinader contar tempo de aposentadoria, ele vai ter que ela ainda mantém a essência origido ao pagamento de juros e rolagem da dívida públipagar um valor extra de contribuição, o que sanal, que na prática vai tornar o acesca, que soma mais de R$ 1 trilhão por ano. Por que ninbemos que é absolutamente impensável e ele diso à aposentadoria extremamente guém fala disso?”, questiona. ficilmente vai conseguir alcançar 15 anos de condifícil no país. tribuição. Trata-se de um sistema extremamente Pedro Rafael Vilela,

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10 9 | Cultura

Paraná, 7 a 13 de dezembro de 2017

Entre muros e montanhas: novo livro reconcilia Brasil e América Latina Jornalista Pedro Carrano tenta resgatar nossa essência latinoamericana que perdemos para os Estados Unidos Curitiba (PR)

Brasil e México se reaproximam por meio da literatura no novo livro do jornalista curitibano Pedro Carrano. Em Entre muros e montanhas, o escritor torna público o diário de uma viagem vivenciada entre 2005 e 2006 e também em 2008. São histórias que relatam a luta dos zapatistas, ao sul do México, e o cotidiano observado por Carrano em outros 14 países da América Latina. “Tento trazer a luta dos zapatistas para um contexto mais concreto, menos idealizado”, jus-

tifica Carrano. Ciente dessa distância entre a política do Brasil e de nossos hermanos latinos, Carrano traz em seu livro informações mais concretas sobre a realidade daquele território. Concentrados no sul e sudeste mexicano, os zapatistas defendem a autonomia política, a democracia, o poder ao povo, a partilha da terra e a preservação do meio ambiente. Estilo latinoamericano O olhar de Carrano é sensível aos detalhes que o óbvio esconde de quem lhe não presta atenção. Em Entre muros e montanhas, os relatos se mostram despreocupados com o aspecto turísti-

“O olhar latinoamericano não está dado para nós. É preciso buscá-lo, forjar esse olhar” Pedro Carrano

Divulgação

Carolina Goetten,

co dos países que o jornalista conheceu. Carrano se desprende de dados econômicos para descrever seu contato com a população mais pobre de dinheiro, mas abundante em riqueza poética. “É importante que saibamos enxergar a história da América Latina, parar de dar as costas para ela. O Brasil faz parte dessa realidade. Há mais pontos que nos aproximam do que nos distanciam”, destaca o escritor. Num momento político de avanço neoliberal e acirramento das desigualdades em todo o continente, o livro de Pedro Carrano é um chamado à observação e à ação. Empresta-nos seu olhar atento para que possamos nos dar conta dos detalhes escondidos embaixo do imperialismo. “O olhar latinoamericano não está dado para nós. É preciso buscá-lo, forjar esse olhar. A resistência se dá a nível continental”, explica. Para ele, a adesão do Brasil à solidariedade que resiste na América Latina pode fortalecer a luta coletiva. Não é preciso óculos para enxergar que a nossa miscigenação e força vital tem mais elementos do México que do consumismo imposto por Tio Sam.

Para ficar por dentro Lançamento do livro Entre muros e montanhas Quando: Quinta-feira, 7 de dezembro Onde: APP-Sindicato (Av. Iguaçu, 880) Quanto: Entrada franca. O livro custará R$ 50.


Brasil de Fato PR

Paraná, 7 a 13 de dezembro de 2017 Jaqueline Vieira

11 | Cultura 11

CRUZADAS

Em preto e branco, exposição fotográfica retrata ocupação em Londrina Redação, Curitiba (PR) Os protestos, as festas e o cotidiano da ocupação Flores do Campo, de Londrina, estarão retratados em uma exposição fotográfica no dia 16 de dezembro. As 35 fotografias da jovem Jaqueline Vieira, 26 anos, serão expostas na avenida principal da comunidade. A opção por fazer na rua é aproveitar o fluxo da comunidade e permitir que a população circule entre as imagens. A ocupação existe desde outubro de 2016, abriga

centenas de famílias, e vive sob constante ameaça de despejo. A jovem acompanha atividade da comunidade desde julho de 2017, e vê no local uma das maiores potências quando o assunto é do déficit habitacional em Londrina.

Para ficar por dentro Quando: Dia 16 de dezembro, sábado, das 14h às 20h. Onde: Ocupação Flores do Campo, de Londrina.

“O Flores do Campo não é o retrato que as mídias londrinenses passam. É muito mais. Não são apenas moradores ocupantes, são sujeitos, sujeitos de suas histórias e narrativas”, diz a fotógrafa. Festa de natal A exposição é aberta e gratuita a toda a população. O público é convidado a contribuir para a festa, levando doação de alimentos, brinquedos e oferecendo brincadeiras para a confraternização. Haverá um posto de arrecadação ao longo do dia.

Divulgação

AGENDA CULTURAL

Curitiba Jazz Festival

Meu corpo é político

O quê: Será um fim de semana repleto de muito jazz, gastronomia e mais de 80 torneiras de chopes artesanais. O evento é voltado para todas as idades, com opções de recreação infantil. Quando: Dias 9 e 10, sábado e domingo. A programação Divulgação de show é extensa, e está acessível no evento do Facebook com o nome do festival. Onde: Praça Nossa Senhora De Salete, no bairro Centro Cívico. Quanto: Entrada franca

O quê: O documentário faz um panorama do contexto social em que diversos ativistas LGBT moradores das periferias de São Paulo estão inseridos, e de que forma atuam nas ruas. A obra aborda as questões sobre a população trans no Brasil e suas disputas políticas. Filmado no primeiro semestre de 2016, o filme teve estreia mundial em abril deste ano em um festival de documentários em Nyon, na Suíça, e ganhou prêmios no Brasil. Quando: De 6 a 14 (exceto dia 08), às 19h. Onde: Cinemateca de Curitiba, Rua Carlos Cavalcanti, 1174, São Francisco. Quanto: R$10 (inteira) e R$5 (meia-entrada)


12 | Esportes

PAPO ESPORTIVO

Brasil de Fato PR

Paraná, 7 a 13 de dezembro de 2017

A terceira gerra mundial no clássico das penas

Disputa entre times de Pato Branco e Francisco Beltrão agita final da série Ouro do Futsal Paranaense Regis Luís Cardozo,

Curitiba (PR)

P

ato Branco, no sudoeste do estado, recebe neste sábado (9) mais um episódio da Terceira Guerra Mundial. Para quem acha que armas e bombas vão fazer parte do duelo, há uma explicação. Estamos falando da final da série Ouro do Futsal Paranaense. Terceira guerra mundial foi o apelido dado pela galera pra falar dos jogos entre os times de Pato Branco - o Pato Futsal - contra Francisco Beltrão - Marreco futsal. Trata-se de um clássico que faz parte da história paranaense: é “a rixa das penas”. Se antes, quando Getúlio Vargas ainda era presidente, Pato Branco e Vila Mar-

Terceira guerra mundial foi o apelido dado pela galera pra falar dos jogos entre os times de Pato Branco - o Pato Futsal contra Francisco Beltrão - Marreco futsal recas (atual município de Francisco Beltrão) disputaram a sede da Colônia Agrícola Nacional General Osório, uma escola rural. Hoje a disputa é no futsal. Na história agrícola, o Pato Branco perdeu a sede da Colônia pra Vila Marre-

cas, dando origem a famosa “rixa das penas”. Agora, em 2017, as duas cidades vão resolver a parada nas quadras. Quem será que leva?

vez, briga generalizada no esporte. Dessa vez as meninas do Cianorte e do Telêmaco Borba deram vexame. Lamentável.

Finais no masculino e feminino Na primeira partida, disputada em Francisco Beltrão no dia 2, deu Marreco, que venceu por 4x1. Mas isso não garante o título. De acordo com o regulamento da Federal Paranaense de Futsal, basta uma vitória simples, do Pato, pra levar a decisão pras penalidades. Com qualquer outro placar, o título fila com a antiga Vila Marrecas. Já no futsal feminino, o time de Cianorte levou o caneco na decisão do Campeonato Paranaense, em Telêmaco Borba, na segunda-feira (4). A equipe ven-

Reerguimento

“Detalhe”

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Na semana que vem assume uma nova diretoria para o triênio 20182020 no Coritiba. Na instância deliberativa, entretanto, será necessário o diálogo entre diferentes vertentes políticas do clube para que uma coalizão seja formada, com vistas à eleição para compor a Mesa e também para o Consultivo. Isso se deve ao critério da proporcionalidade na distribuição das 160 vagas que serão preenchidas neste sábado, dia 9. Dificilmente alguma das três chapas alcançará, sozinha, a maioria absoluta do Plenário, também composto por 60 conselheiros vitalícios e 24 natos. O presidencialismo de coalizão, que define o modelo da democracia brasileira, se reproduz no Coxa. Que a nova era alviverde seja de reerguimento do clube.

ceu o time da casa por três a um. Infelizmente essa partida teve um desfecho trágico. Aconteceu, mais uma

Existem dois tipos de torcedores do Paraná. Os que além do acesso comemoraram o rebaixamento do Coritiba, e os que lamentaram o fato do futebol do Estado não poder voltar a ter três clubes na elite. Eu sou um dos que gostaria de ver o trio de ferro nas cabeças. De qualquer maneira, o Paraná não pode é deixar de analisar os erros do rival para não fazer o mesmo em 2018. Vacilou, volta pra segundona. Mas temos motivos de sobra para estar confiantes. Voltamos mais fortes do que caímos. Diferente de 2007, contamos hoje com uma direção comprometida, que pode não ter grana, mas tem os pés no chão e compromisso com o futuro. Também temos uma torcida que abraçou a causa e promete fazer a diferença no ano que vem. Pra tudo dar certo só falta um “detalhe”: acertar na contratação do treinador e dos jogadores!

José Delmo Menezes Junior

Mais um ano que passou em branco Por Roger Pereira A temporada de 2017 chega ao fim e, mais uma vez, a única coisa que o torcedor atleticano tem para comemorar é o fracasso do rival. E o pior: para muitos isso é suficiente. O ano termina de forma trágica para o Coritiba, com o rebaixamento, mas, em maio, eles tiveram seus dias de alegria, com o título estadual sobre o Furacão. Os paranistas estão eufóricos com o retorno à Série A. Até os torcedores de Londrina e Operário fizeram festa esse ano. Mas para os atleticanos, mais uma vez, passou em branco. Já estamos acostumando. Nesta década, o atleticano só comemorou um título (o estadual do ano passado). Nos últimos 10 anos, foram dois (teve também o paranaense de 2009). É muito pouco para quem sonha em ser grande. Os consolos das últimas temporadas têm sido classificações para torneios continentais e terminar o Campeonato Brasileiro na frente do Coritiba. Mas e os títulos?


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