Brasil de Fato PR - Edição 102

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Futebol com política

Divulgação

Esportes | p. 8

Especial | p. 6 e 7 Mês da consciência negra Quilombolas lutam por suas terras. Evento lembra Moa e Marielle

Torcidas no Brasil e no mundo lutam contra intolerância

Ano 3 | Edição 80

PARANÁ

Ano 3

Fotos Públicas

Edição 102

8 a 14 de novembro de 2018

APOSENTADORIA É O PRIMEIRO ALVO Novo presidente negocia com o Congresso e com Michel Temer para aumentar idade mínima ainda este ano. Em 2019, quer mudar completamente a Previdência, tirando direitos dos trabalhadores Brasil | p. 5

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana Lula Marques | Agência PT

LAVA JATO NAS MÃOS DE BOLSONARO Indicação de Moro para Ministro da Justiça reafirma seu caráter de “juiz político”, próximo da direita. Em coletiva, juiz diz que fará um ministério “técnico”

Brasil | p. 4

Geral | p. 3

Trabalho com o povo Frente Brasil elenca desafios no Brasil e Paraná Artigo | p. 3

Escola sem partido Projeto em análise é inconstitucional


2 | Opinião

Convite mal explicado EDITORIAL

I

ndicado pelo presidente eleito xa dois em sua campanha, tem o respara o Ministério da Justiça e Se- peito de Moro. Entre tantas outras trapalhadas gurança Pública, Moro, o magistrado de primeiro grau responsável realizadas por Bolsonaro em apenas pela condenação do ex-presiden- duas semanas após sua eleição, conte Lula e por sua inelegibilidade, fiar a pasta da justiça a Moro revela a politização da jusaceitou o convite de tiça. Na trágica trancara. O gesto é uma vil sição de momentos E afirmou que políticos que vivesua atuação será recompensa pela mos, o gesto é uma “eminentemente prisão de Lula, vil recompensa pela técnica” e centrada o pré-candidato prisão de Lula, o no combate à corpré-candidato imrupção. O magistraimpedido que, pedido que, provado admitiu, porém, provavelmente, velmente, não daria que foi procurachances a Jair Boldo por Paulo Guenão daria sonaro nas urnas, des (futuro ministro chances a Jair como apontavam as da economia) antes Bolsonaro nas pesquisas eleitorais. mesmo do segundo Se cumprir a proturno das eleições urnas messa de ser apenas presidenciais. técnico, Moro contiDeverá participar, ainda, da equipe de transição nuará sendo bastante político. Justipresidencial, ao lado de Onyx Lo- ça é coisa para nós, o povo brasileirenzoni (DEM-RS) – deputado que, ro, sonharmos e conquistarmos na apesar de ter admitido o uso de cai- resistência ao próximo governo.

SEMANA

Brasil de Fato PR

Paraná, 8 a 14 de novembro de 2018

OPINIÃO

Moro, como Dória, é um tucano que virou Bolsonaro

episódio mais estrondoso foram as fotos constrangedoramente íntimas professor e militante do Movimento com Aécio Neves, ao receber – junPopular por Moradia to com Temer e um rol de tucanos – prêmio da revista IstoÉ, em dezemadesão do juiz Sérgio Moro ao bro de 2016. Um “tucano”, inclusive, intergoverno Bolsonaro não prova, agora, que ele seja um “político”. nacional, vinculado ao Partido DeIsso já estava provado há muito tem- mocrata dos Estados Unidos e po. A demonstração mais evidente apoiado pelo prestigioso Woodrow ocorreu em março de 2016, quando Wilson Center, onde proferiu palestras e deu entrevistas Moro tornou públicos (o nome homenageia telefonemas grampea- Moro, portanto, o presidente estadudos de Lula e da então nidense – e democrapresidenta Dilma Rou- sempre foi ta – durante a I Guersseff. Por “coincidên- político. O ra Mundial, o mais cia”, a poucos dias das curioso, apenas, célebre dos “globamobilizações convocalistas” adeptos de “indas em favor do impea- é que ele tervenções humachment de Dilma. parecia tucano. nos países O juiz, como era de Por várias vezes nitárias” atrasados). se esperar, foi o “heEssa é uma transrói” daqueles atos. E posou ao lado notável, não se fez de rogado. de lideranças do formação não apenas de Sérgio Na mesma noite, solPSDB Moro, mas de todo tou nota confessandoo processo golpis-se “tocado pelo apoio” ta. Inicialmente estià Lava Jato e sugerindo que “autoridades e partidos” ouvis- muladas por grupos estadunidenses sem “a voz das ruas” e cortassem “na vinculados ao Partido Democrata própria carne” – isto é, aderissem ao e às “revoluções coloridas”, a Lava Jato e a perseguição ao PT de certo impeachment. Moro, portanto, sempre foi polí- modo “saíram do controle” e caíram tico. O curioso, apenas, é que ele pa- no colo dos grupos protofascistas recia tucano. Por várias vezes posou do Partido Republicano, os mesmos ao lado de lideranças do PSDB. O que elegeram Donald Trump. Paulo Bearzoti Filho,

A

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 102 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm, Laís Melo e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Cauê Uflacker, Paulo Bearzoti Filho, Bárbara Lia e Gustavo Vidal NESTA EDIÇÃO ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes e Julio Carignano DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Paraná, 8 a 15 de novembro de 2018

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

O botijão de gás teve novo reajuste anunciado pela Petrobras nas refinarias. Para o consumidor, segundo o Dieese, o botijão custava R$ 69,78 no Paraná e R$ 65,01 em Curitiba. O anúncio foi feito na mesma semana em que a empresa obteve lucro de R$ 6,64 bilhões no terceiro trimestre de 2018. Os brasileiros vêm pagando os lucros dos acionistas e do mercado.

Extinção do Ministério do Trabalho Jair Bolsonaro decidiu acabar com o Ministério do Trabalho, que foi criado em 1930. Num momento em que, de acordo com o IBGE, há 12,5 milhões de desempregados no país, mostrando a urgência de uma política específica. O país ainda tem 4,8 milhões que simplesmente desistiram de procurar emprego. Para piorar, das 92,6 milhões de pessoas empregadas, 39,7 milhões são informais, sem direitos como férias e décimo terceiro.

Há algo diferente na OAB do Paraná No próximo dia 22 ocorre a eleição da OAB do Paraná. Duas chapas estão inscritas: a “XI de Agosto”, que representa quem está no poder há 40 anos, e a “Algo Novo na OAB”, de oposição. Segundo Manoel Caetano Ferreira Filho, “nosso trabalho é levantar a autoestima do advogado e recolocar a OAB na posição que ela merece na nossa sociedade”.

É ESSE?

“O cara que ia caçar corrupto tá enchendo o ministério de bandido”

Rubens Bordinhão*

Lei da mordaça é inconstitucional

Disse o rapper Marcelo D2 em seu twitter, ao analisar as primeiras indicações do governo Jair Bolsonaro. “Deu ruim e não foi por falta de aviso”, complementou.

Divulgação

Frente Brasil Popular se organiza para a resistência Reuniões estaduais acontecerão neste ano e a plenária nacional no início de 2019 Ana Carolina Caldas Nesta semana, o coletivo nacional da Frente Brasil Popular definiu a agenda e os principais desafios políticos diante do resultado das últimas eleições. Entre eles, a retomada do Congresso do Povo e fortalecimento da resistência em diferentes campos. Definiu-se como central a luta contra a reforma da Previdência. Entre outras atividades, a convocação de uma reunião com as centrais sindicais e a Frente Povo sem Medo para estabelecer ações de resistência. O coletivo também definiu estratégias para criar uma Frente Ampla pela Democracia, em defesa da Constituição, demo-

cracia, soberania e dos direitos. Para os próximos meses, cada estado realizará seus encontros para definir pautas especificas. Para o jornalista Pedro Carrano, no Paraná, “A principal meta

será intensificar o que foi feito no segundo turno das eleições, que é o contato e trabalho de base. É urgente refazer o vínculo com a população. No caso do Paraná, temos regiões com lutas bem organizadas. ”

AGENDA DE ATIVIDADES | NOVEMBRO E DEZEMBRO 12/11 Seminário das centrais sindicais sobre a reforma da previdência e comitê Nacional Lula Livre. 20/11 Dia da Consciência Negra – “Racismo não, em defesa da Democracia” 25/11 Jornada de Luta contra a violência às mulheres 26/11 Reunião do Coletivo Nacional da Frente Brasil Popular 28 e 29/11 Plenária Nacional de entidades e movimentos de luta urbana em São Paulo 30/11 Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo 10/12 Dia Internacional dos Direitos Humanos 10/12 Conferência Internacional Lula Livre

Mídia Ninja

Aumenta preço do gás

3 | Geral

Desde o turbulento período de campanha eleitoral, vem ganhando força novamente o projeto de lei do “´programa escola sem partido”, que, resumidamente, tem como objetivo acabar com a chamada “doutrinação ideológica”. Seus defensores dizem que os professores precisam lecionar de forma neutra, sem valorizar ou depreciar um ou outro ponto de vista. Na prática, porém, o projeto prejudica a liberdade de ensinar e o pensamento crítico e reflexivo, mostrando-se como uma forma de silenciar o magistério. Não à toa que o projeto também é chamado de “lei da mordaça”. O site BBC revelou, na segunda-feira (5), que mesmo sem lei aprovada os professores já sofrem vigilância e perseguição dos alunos com vídeos feitos pelos celulares e até mesmo processos judiciais em razão do conteúdo e método de suas aulas. Porém o projeto é inconstitucional, pois, como assim se posicionou o Ministério Público Federal, em 2016, impede o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, além de negar a liberdade de cátedra e a possibilidade de ampla aprendizagem, previstos na Constituição Federal.

*Mestre em Direito pela UFPR e militante da Consulta Popular


4 | Brasil

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Paraná, 8 a 14 de novembro de 2018

Moro releva denúncias de corrupção contra Lorenzoni e Paulo Guedes Em entrevista coletiva, juiz se desvencilhou de acusações de ativismo judiciário Lula Marques | Agência PT

Lia Bianchini

S

ergio Moro usou sua primeira entrevista coletiva depois de anúncio de que ocupará o cargo de ministro da Justiça do governo Bolsonaro para se esquivar de acusações de ativismo judicial e de ter usado a Operação Lava Jato como projeção política. O juiz afirmou que, mesmo que suas palavras sejam recebidas com “ceticismo”, ele não está praticando “um projeto de poder”. “O objetivo é, no governo federal, realizar o que não foi feito nos últimos anos, com todo respeito, e buscar implementar uma forte agenda anticorrupção, que agregaria uma forte agenda também anticrime organizado”, afirmou. As medidas que serão implementadas para alcançar o objetivo, porém, são incertas. De forma vaga, Moro afirmou que está estudando medidas que possam “ser debatidas com o

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Congresso”, mas que “sejam aprovadas rapidamente”, sem projetos complexos. A equipe que fará parte do novo Ministério da Justiça também está indefinida, mas, segundo Moro, terá pessoas que trabalharam na Operação Lava Jato. Moro afirmou também que as conversas para integrar o Ministério da Justiça começaram em outubro, após o primeiro turno das eleições, quando ele se reuniu com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. De acordo com o juiz, a pau-

ta da reunião foi encontrar pontos de “convergências e divergências superáveis”. Anulação do processo do triplex Após Moro ter aceitado integrar o governo Bolsonaro, a defesa do ex-presidente Lula entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a anulação do processo do triplex (em que Lula foi condenado) e a liberdade do ex-presidente. A defesa acusa o juiz da Lava Jato de perda de imparcialidade. No dia 6 (ter-

ça), o ministro do STF Edson Fachin enviou o pedido da defesa para julgamento na 2ª Turma da Corte. Corrupção nos Ministérios Dos ministros já indicados por Bolsonaro, dois escapam do objetivo de Moro de implementar uma forte agenda anticorrupção. Paulo Guedes foi acusado pelo Ministério Público Federal por obter “benefícios econômicos” a partir “gestão fraudulenta” de investimentos vindos de fundos de pensão. O futuro ministro

da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, já admitiu ter recebido dinheiro de caixa dois da JBS, no valor de R$ 100 mil. Questionado sobre a idoneidade de parte do novo governo, Sergio Moro poupou críticas aos futuros ministros, alegando que “não conhece as investigações” das quais são alvos. “O que eu tenho notícias é que são investigações muito incipientes. Então, não posso afirmar se essas investigações têm consistência ou não. Na atual fase, acho que não é possível emitir qualquer juízo de valor”, disse. Ao longo da entrevista, Moro descartou qualquer possibilidade de atrito com o presidente eleito Jair Bolsonaro. Ele se manifestou aberto a discutir propostas defendidas por Bolsonaro, como a “flexibilização da posse de armas” e a redução da maioridade penal. Por diversas vezes, Moro reiterou a afirmação que “o governo é dele [Bolsonaro] e ele dá a última palavra”.

Perseguição política Em seus discursos de campanha, Bolso- do ministério ou da polícia para perseguinaro já fez alegações violentas contra opo- ção política” e criticou de forma moderada sitores, sugerindo “metralhar a petralhada” a possibilidade de criminalização de movimentos sociais. “Quando existem questões e “banir da pátria os marginais vermelhos”. O presidente eleito defende também a relativas à lesão de direito de terceiro, invasão de propriedade priampliação da Lei Antitervada, com motivações pororismo para criminalizar Moro poupou lítico-partidárias, não se movimentos sociais como o pode tratar esses movimenMovimento dos Trabalhado- críticas aos tos como inimputáveis. Eles res Rurais Sem Terra (MST) futuros ministros, têm que responder às agrese o Movimento dos Traba- alegando que sões de direitos de terceiros. lhadores Sem Teto (MTST). “não conhece as Me parece, no entanto, que O futuro ministro não seguiu o mesmo caminho e investigações” das qualificá-los como organização terrorista não é algo que afirmou que não “existe a quais são alvos é consistente”, disse. menor chance de utilização


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Paraná, 8 a 14 de novembro de 2018

5 | Brasil

Presidente eleito atira contra a aposentadoria Bolsonaro pretende aprovar nova idade mínima ainda este ano, prejudicando os mais pobres Julio Carignano

ENTENDA

Para o advogado Ludimar Rafanhim, a mudança na idade mínima ”É uma forma de as pessoas não se aposentarem

Frédi Vasconcelos

D

esde que eleito, o próximo presidente, Jair Bolsonaro, e sua equipe econômica vêm falando sobre medidas que pretendem adotar a partir do próximo ano. Mas uma coisa já ficou clara, seu primeiro alvo é a aposentadoria. Traduzindo, reduzir gastos tirando direitos dos trabalhadores ainda em 2018. Nesta semana, declarou: “O grande passo, no meu entender, neste ano, se for possível, passar para 61 anos no serviço público para homem e 56 para mulher e majorar também um ano nas demais carreiras. Acredito que seja um bom começo para a gente entrar o ano que vem já tendo algo de concreto para nos ajudar na economia”, disse em entrevista à TV Aparecida. Para isso, já se reuniu, na quarta-feira (7/10), com o Michel Temer. Para o ex-presidente da Associação Nacional de Participantes de Fundos de Pensão José Ricardo Sasseron, essa possível mudança

Como funciona o regime de capitalização

na idade mínima é um prejuízo principalmente para os mais pobres. “Quem se aposenta por idade são os mais pobres, os mais desfavorecidos. Essa medida afetaria muito também os trabalhadores rurais”, afirma. Para o advogado especialista em previdência Ludimar Rafanhim, a mudança na idade mínima ”É uma forma de as pessoas não se aposentarem, porque em algumas regiões do Brasil a expectativa de vida é me-

A mudança na idade mínima é um prejuízo para os mais pobres. A medida afetaria também os trabalhadores rurais nor que isso.” Outros pontos também vêm sendo especulados pelo novo governo, como aumento de contribuição para servidores públicos. “Na proposta que

está no Congresso Nacional, as PEC 287 e a 287a, as medidas são totalmente nocivas aos trabalhadores. Eles não atacam as isenções, sonegações, as impunidades, apenas querem retirar direitos dos trabalhadores”, conclui Rafanhim. Capitalização Se quer aprovar medidas ainda este ano, para 2019 o governo Bolsonaro tem propostas mais radicais, como o fim da aposentadoria atual e a criação de regime que é chamado de capitalização. Resumindo, cada um teria uma conta individual com as contribuições que fizer durante a vida de trabalho e esse valor seria usado para pagar a aposentadoria. Para Sasseron, esse seria “o fim da Previdência, sem meias palavras. É o fim da aposentadoria.” Ele explica que o modelo já foi implantado em vários países da América Latina e que, com os baixos salários recebidos aqui, na hora que fica idosa a pessoa acaba sem aposentadoria ou recebendo valores muito baixos (leia box).

Vários países da América Latina já implantaram regimes de capitalização para a aposentadoria, e a realidade é que a maioria dos idosos não se aposenta, segundo José Ricardo Sasseron, da Anapar. Ele destaca que, no México, só 23% dos idosos têm o benefício. No Chile, só metade, e da metade que recebe, 90% dos benefícios são menores que 2/3 do salário mínimo. Na Colômbia, somente um em cada quatro idosos tem aposentadoria. E o que chama a atenção no sistema desses países é que foi abolida a contribuição patronal, a capitalização é feita somente com pagamento do trabalhador. Como a média salarial em geral é baixa na América Latina, entre comprar comida para os filhos e contribuir para a previdência, a escolha é óbvia, a maioria não consegue poupar. Confirmando esse dado, na Colômbia os trabalhadores que contribuíram na hora da aposentadoria acabam pegando o dinheiro poupado de uma vez porque é insuficiente para o benefício. “O banco devolve o dinheiro porque não compensa pagar uma merreca de aposentadoria todo mês”, diz Sasseron. A pessoa recebe esse dinheiro, gasta e acaba ficando sem nada.

Modelo que Paulo Guedes quer implantar

México

somente 23% dos idosos se aposentam

Chile

90% dos benefícios são menores que 2/3 do salário mínimo

Colômbia

somente 1 em cada 4 idosos se aposentam


6 | Especial

Paraná, 8 a 14 de novembro de 2018

Comunidades quilombolas aguardam regularização de terras Segundo dados do Incra são cerca de 6 mil comunidades no país e apenas 116 foram tituladas Maria Eugenia Trombini

Ana Carolina Caldas

D

esde a promulgação da Constituição Federal, em 1988, é assegurado aos quilombolas o direito à terra. As comunidades formadas e nas quais hoje moram descendentes de pessoas escravizadas têm direito à titulação de suas propriedades. Atualmente são 38 comunidades no Paraná reconhecidas pela Fundação Palmares, mas nenhuma teve a documentação regularizada. A Paiol de Telha, que fica em Reserva do Iguaçu, foi reconhecida em 2005 e já cumpriu todos os requisitos para a titulação. A comunidade conquistou o acesso ao território em 1860, quando 11 trabalhadores escravizados foram libertados pela proprietária das terras e receberam o território como herança. Segundo a presidente da Associação Quilombola Paiol de Telha, PUBLICIDADE

Festa no na Comunidade quilombola Família Xavier, em Arapoti

Mariluz Marques, a demora na titulação tem impedido benefícios até para a região. “Temos o projeto da construção de uma agroindústria que não pode acontecer porque o governo pede apresentação de documentos de propriedade.” O espaço ocupado está dentro da área que deve ser destinada à comunidade, como previsto no De-

creto de desapropriação assinado em 2015 pela presidenta Dilma Rousseff, que garantiu 7 das 17 propriedades que compreendem o território da Paiol de Telha. A mais recente A comunidade quilombola Xavier, em Arapoti (PR), é que teve reconhecimento mais recente. Silmara Xavier, presi-

dente da comunidade, conta que a história começa com o bisavô Pedro Lazaro, descendente de africanos e filho de pais que foram escravizados na Fazenda Boa Vista, situada no mesmo município. “Somos descendentes dos que produziram nesta terra da fazenda e nos organizamos para preservar esta história. Na fazenda ainda tem um casarão antigo, um cemitério onde estão enterrados nossos antepassados e estamos lutando para que ali possa ser um museu para preservar nossa memória”, conta Silmara. A comunidade que ainda não possui a titulação é formada por 120 famílias. Para Silmara, “ainda há muito preconceito dentro das cidades com as comunidades quilombolas. Por isso temos realizado festas para apresentar nossa cultura aos moradores.” No dia 3 de novembro a Associação realizou o 1º almoço Quilombola de Arapoti.

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Falta orçamento, estrutura e interesse político Segundo Fernando Prioste, advogado da ONG Terra de Direitos e que acompanha as comunidades, “o acesso à terra pelos quilombolas é reconhecido no artigo 68 da Constituição Federal. Estamos há 130 anos da abolição da escravidão e temos apenas 116 comunidades tituladas.” Para ele, além da falta de orçamento e estrutura para o Incra, há um retrocesso no atual governo e, provavelmente, no próximo sobre a importância dessas comunidades. “O maior orçamento para desapropriação de terras aconteceu em 2012, com 50 milhões de reais. Hoje temos aprovado cerca de 1 milhão, o que impossibilita o processo. Se o Incra se mantiver nesse ritmo, serão necessários 600 anos para cumprir a titulação, que é um direito constitucional.” No mês de abril de 2018 existiam 31 procedimentos para assinaturas de decreto de desapropriação, todos paralisados na Casa Civil da Presidência da República.


Brasil de Fato PR

LUZES DA

CIDADE

Bárbara Lia*

BUNKER 14-B 19h21m de 28 de outubro de 2018. País encoberto por uma metafísica nuvem negra - fumaça de fornos crematórios de Dachau e restolhos de Fat Man sobre Nagasaki. Das entrelinhas das nuvens gritos e sussurros dos que se perderam da Pátria. Eu me perdi da minha Pátria. Lembro 1964. Vida pobre. A casa de madeira negra qual casa de filme de Terror. Tipo Amityville. A mãe costurava para a loja de armarinhos e trazia café in natura para a gente separar os grãos para a Beneficiadora da nossa rua. Os grãos brancos separados de tudo o mais: impurezas, torrões de terra, outros cereais... Quando o cara eleito verbalizou a segregação que nos espera, lembrei este poema: “Os grãos desprezados ainda valsam / No céu do meu triste coração criança”. Prenúncio de vidas descartadas. Grão de café bom é visível a olho nu. O Grão humano não. A beleza humana os olhos não veem. Vou ficar aqui neste Bunker – 14B com vista para o horizonte. Aos olhos do cara eleito eu não sou um grão branco.

Gibran Mendes

Paraná, 8 a 14 de novembro de 2018

117 | Cultura

Moa do Katendê e Marielle vivem em nós Por considerar que a consciência negra não é só um dia, não é só um mês, deve ser discutida todos os dias, o grupo de Capoeira Angola Zimba se reunirá no próximo sábado em evento para refletir sobre a importância da consciência negra. Com a temática preservar a memória é uma das formas de fortalecer a história, o evento terá almoço, conversa, debate e no final uma roda de capoeira. Entre os convidados especiais estão os professores Denis Denilton, William Barbosa e Vanessa Vieira, integrante do grupo Zimba. Quando: sábado de 12h às 18h30 Onde: Rua Mamoré, 835, Mercês, Curitiba Quanto: R$ 20

AGENDA CULTURAL

Arquivo Pessoal

Divulgação

Clarone no Choro O quê: O maestro e clarinetista Sérgio Albach lança o vinil de seu último trabalho, “Clarone no Choro’. Neste projeto, Albach explora as possibilidades técnicas, interpretativas e de arranjo do clarone, unindo seu instrumento à tradição do grupo Regional de Choro, composto por bandolim, cavaquinho, violão, violão 7 cordas e pandeiro. Um feito inédito na musicologia brasileira. Clarone no Choro é o primeiro disco da história da música brasileira de chorinho tendo o instrumento como solista. O álbum, segundo feito pelo músico, traz 12 faixas com obras clássicas de compositores como Heitor Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Joaquim Callado, Jacob do Bandolim, Abel Ferreira. Além de dois compositores radicados em Curitiba: Waltel Branco e Cláudio Menandro. Onde: Teatro do Paiol – Praça Guido Viaro, s/nº – Prado Velho Quando: 9/11 e 10/11 , 20h Quanto: R$ 10 e R$ 5

Para Ficar por Dentro 12h | Feijoada tradicional do Treinel Boquinha 13h30 | Exibição do documentário “Mestre Moa do Katendê - A primeira vítima” 14h30 | Bate-papo 15h30 | Roda de capoeira angola

DICAS MASTIGADAS

Omelete de frango

Ingredientes 4 ovos batidos, 2 colheres (sopa) de creme de leite, 1 colher (café) de ervas finas, sal e pimenta-do-reino Recheio 1 colher (sopa) de manteiga, 1 cebola picada, 1 dente de alho amassado, 2 xícaras (chá) de frango cozido e desfiado, 1 tomate sem sementes picado, 2 colheres (sopa) de ervilha em conserva escorrida, 4 colheres (sopa) de milho verde em conserva escorrido, Sal, pimenta-do-reino e cheiro-verde picado, 1 xícara (chá) de queijo mussarela ralado Reprodução

Primeiras casas italianas O quê: Exposição de fotos e pinturas de uma das primeiras casas italianas construídas no bairro de Santa Felicidade são tema da mostra Casa Culpi. A exposição reúne fotografias antigas e pinturas em tela. O imóvel, construído em 1897, é uma das primeiras edificações da região e pertenceu à família Culpi, uma Divulgação das pioneiras entre os imigrantes italianos que colonizaram o bairro de Santa Felicidade. Onde: Sala de exposições da FCC na Rua da Cidadania de Santa Felicidade – Rua Santa Bertila Boscardin, 213 – Santa Felicidade Quando: De 7/11 a 3/12, das 9h às 12h e das 14h às 18h, de segunda a sexta e das 8h às 13h, aos sábados Quanto: Grátis

Modo de Preparo Para o recheio, em uma panela, em fogo médio, derreta a manteiga. Refogue a cebola e o alho por 3 minutos. Adicione o frango, o tomate, a ervilha e o milho. Tempere com sal, pimenta, cheiro-verde e reserve. Em uma tigela, misture os ovos, o creme de leite e as ervas finas. Tempere com sal e pimenta. Em uma frigideira antiaderente média, em fogo médio, espalhe metade da mistura de ovos. Deixe firmar e vire. Deixe firmar do outro lado e espalhe metade do recheio. Polvilhe com metade da mussarela e dobre a omelete ao meio, deixando que derreta a mussarela. Repita o procedimento com o restante da massa e do recheio, fazendo mais uma omelete. Sirva em seguida, se desejar, decorada com folhas de alface.


8 | Esportes

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Paraná, 8 a 14 de novembro de 2018

Passado sem igual

AS ARQUIBANCADAS SÃO DOS TRABALHADORES Cauê Uflacker*

Por Cesar Caldas Definida a permanência do Coritiba na 2ª Divisão para 2019 e restando apenas três jogos para o encerramento da temporada, o retrospecto técnico do time alviverde não poderia ser pior. Já é possível afirmar que, nos últimos 25 anos de sua história centenária, não houve nenhum ciclo anual de piores resultados no futebol, o “core business” do clube. Como núcleo do negócio, seu desempenho repercute em receita de TV, sócios, bilheteria, patrocínio da camisa e publicidade. Também acarreta dolorosos talhos, que atingem colaboradores e atletas de bom nível. Sem enfrentar nenhum clube da 1ª Divisão de outro Estado, o Coritiba obteve apenas 18 vitórias em 54 jogos, saldo negativo de gols e desvantagem em dois jogos contra o Foz, que o goleou em casa. Seu hino fala de um “passado sem igual”. É precisamente o que estamos vivenciando.

Olhar pra frente Por Marcio Mittelbach Quando o juiz deu o apito final do jogo Sport 1 x Ceará 0, na segunda-feira, 7, aconteceu o inevitável: o Paraná estava matematicamente rebaixado para a Série B de 2019. Com apenas três vitórias em 32 partidas, o sonho virou pesadelo mais rápido do que até os mais pessimistas poderiam imaginar. Depois de dez anos aguardando o acesso. O desejo agora é que o ano acabe logo. Mas, como toda derrota, a campanha de 2018 deixará marcas. Cabe à diretoria e, porque não, à torcida, avaliar que lições podemos tirar desse vexame. Está provado que o futebol mudou nessa década que estivemos ausentes da elite. Não dá mais para montar um time por ano. É tempo de ter tranquilidade, compreender nossas limitações momentâneas e trabalhar para superá-las.

As cores do Furacão Por Gustavo Vidal “Quem falou que o Atlético tem que ser rubro-negro? Pode ser vermelho, azul, qual o problema?”. Quem fala isso, Petraglia, é o estatuto do Atlético. O parágrafo 3º do artigo 9º decreta: “Para identificação do Clube nas competições esportivas, no uniforme dos atletas deverão constar, necessariamente, as cores vermelho e preto”. A “ameaça” do mandatário rubro-negro foi feita em programa de rádio no dia 6 de novembro, quando garantiu que o Atlético terá uma nova identidade. “Vamos ter uma nova identidade visual. Vai mudar cor. Muda tudo”. Petraglia age como “dono” do clube há vários anos. Os desmandos vão desde o impedimento da festa da torcida até manifestações políticas. Mas parece que ainda é pouco. Querer mudar a identidade de forma tão brusca viola a própria história do Atlético e de sua torcida. O Atlético, disputando as fases finais de competição internacional, deveria focar no futebol, nos títulos, e não desviar focos com egoísmos e desejos particulares de Petraglia.

Política e futebol se misturam. E não é de hoje Divulgação

Muito tem se dito que futebol e política não devem se misturar. E essa declaração mostra o quanto não se dá valor ao principal patrimônio do futebol: os torcedores e suas expressões nas arquibancadas no Brasil e no mundo. Não é de hoje que futebol e política pertencem ao mesmo ambiente, desde o início do futebol profissional e também anteriormente no futebol amador, questões políticas são levadas a campo e, principalmente, para as

arquibancadas. Assim como em todos os ambientes aos quais pertencemos, existe uma disputa de ideias e concepções de mundo também dentro do futebol e nas suas arquibancadas. Na Europa, por exemplo, torcidas pregam a liberdade e são contra a intolerância nos estádios já há décadas. É o caso da torcida do Livorno, da Itália, declaradamente socialista e antifascista, ou do St. Pauli, na Alemanha, que foi o primeiro clube a ter um presidente assumidamente ho-

mossexual e a colocar em seu estatuto ser um time antinazista, antirracista e anti-homofóbico. No Brasil, desde meados de 2017, há uma maior mobilização de frentes antifascistas dentro dos estádios. Essas posições de grupos de torcedores, organizados ou não, se tornam cada dia mais importantes na luta pela democracia e contra os discursos de ódio presentes na sociedade brasileira e que muitas vezes são demonstradas em cânticos dentro dos estádios. Assim como a rua é do povo, os estádios também são e devem ser disputados e ocupados pelos trabalhadores e trabalhadoras. Afinal, futebol nunca foi, e nem será, somente um jogo de 90 minutos e sim uma expressão da cultura brasileira e sua diversidade. *Kauê é historiador

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Arthur Zanetti conquista prata em mundial de ginástica Redação O Brasil foi ao pódio na última sexta-feira (2), no Campeonato Mundial de ginástica, em Doha, no Catar. Arthur Zanetti conquistou a medalha de prata nas argolas, a quarta de sua carreira, com a nota de 15,100, ficando atrás apenas do grego Eleftherios Petrounias, que é o atual campeão olímpico, e anotou 15,366. “Para mim, pode não ter sido minha melhor nota no ano, mas foi minha melhor série. Sem balanço de argolas, cravei a saída, que era o que eu buscava,

para mim a série foi perfeita. Sabia que, se fizesse aquela série, iria para o pódio”, disse o atleta. Dono de duas medalhas olímpicas, foi ouro em Londres 2012 e prata na Rio 2016, Zanetti foi ao pódio no Mundial pela quarta vez. No currículo ele tem um ouro, na Bélgica, em 2013, e três pratas: Japão 2011, China 2014 e agora, no Catar, em 2018.


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