Brasil de Fato - Edição 227

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Gustavo Oliveira | LEC

Esportes | p. 8

Cultura | p. 7

Duplo racismo

Recursos para a cultura

Celsinho sofre com xingamentos e postura do Brusque

Avança em Curitiba projeto para facilitar acesso à Lei Aldir Blanc Giorgia Prates

PARANÁ

Ano 5

Edição 227

2 a 8 de setembro de 2021

distribuição gratuita

“Vida em primeiro lugar” Grito dos Excluídos quer direitos sociais e organização popular Brasil | p. 5

www.brasildefatopr.com.br

Para que não se repita Marielle Entidades entregam carta em defesa do vereador Renato Freitas Brasil | p. 5 Giorgia Prates

Giorgia Prates

Paraná | p. 4

Alunos perdem com ensino domiciliar Mas proposta avança na Assembleia Legislativa

Brasil | p. Editorial | p.6 2

Desesperado, mas perigoso Bolsonaro aposta fichas em destruição das instituições


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 2 a 8 de setembro de 2021

O perigoso desespero de Bolsonaro

EXPEDIENTE

EDITORIAL

B

olsonaro mobiliza sua combalida tropa para comparecer às ruas no dia 7 de setembro. Se hoje não há forças suficientes para mover tanques capazes de gerar um golpe como o de 1964, o clima golpista instalado no país já cumpre parte dos objetivos bolsonaristas. Sucessivas declarações golpistas, do presidente e de

seus apoiadores, inundam as redes sociais e a imprensa na tentativa de instaurar um clima de ruptura. Mas a burguesia e setores do centro e da direita se mostram esfacelados, com segmentos significativos desistindo da ruptura institucional. O desastre político em que se encontra o país e a inabilidade de aplicação

das políticas liberais prometidas por Bolsonaro são alguns dos motivos que não permitem a adesão massiva ao golpe. Enquanto o Brasil afunda em desemprego, fome, carestia e desmatamento, o presidente tenta driblar a pauta do dia com declarações autoritárias. Enquanto o país assiste, assustado, à

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

CPI que escancara a incompetência, o negacionismo e as falcatruas do governo, Bolsonaro tenta reverter a agenda negativa colocando fogo na crise institucional. Enquanto a popularidade e a viabilidade eleitoral do mandatário despencam, o bolsonarismo aposta na trincheira do autoritarismo para sobreviver.

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 227 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Samuel Felipe Bueno ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com

SEMANA

Novo tarifaço do governo Bolsonaro na conta de luz OPINIÃO

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

B

olsonaro acaba de autorizar novo aumento de 50% nas Bandeiras Tarifárias de Energia Elétrica. A medida vai obrigar a população a pagar mensalmente uma taxa de R$ 14,20 para cada 100 quilowatts-hora (KWh) consumido. A cobrança da taxa, por enquanto, valerá até abril de 2022. O novo aumento nas contas de luz via Bandeiras Tarifárias causará um impacto de R$ 3,45 bilhões por mês a mais no bolso dos consumi-

dores de energia elétrica. Ao final dos 8 meses que a taxa máxima vigorará, o povo terá desembolsado R$ 27,6 bilhões por este mecanismo. A consequência será um enorme gasto a mais em cada conta de luz por parte dos trabalhadores brasileiros. Este gigantesco volume de recursos que o governo vai recolher por meio das contas de luz será destinado a cobrir as receitas econômicas das próprias empresas do setor elétrico e até subsidiar grandes consumidores de energia elétrica (ver Portaria nº 22/2021/MME). Ou seja, o povo está sendo ta-

xado nas contas de luz para que os donos da energia e as grandes indústrias lucrem alto em plena crise elétrica que se soma à crise na economia nacional. O caos no setor elétrico se dá porque o governo permitiu que as empresas do setor operassem as usinas ao ponto de esvaziar completamente os reservatórios brasileiros e, com isso, criassem um ambiente de falta de energia, justificando esta explosão nas tarifas que eleva os lucros empresariais. O governo alega que o aumento está sendo causado pela falta de

chuva – uma falsidade, quando se revelou que o esvaziamento foi produzido pela política energética adotada pelo próprio governo. De acordo com a Agência Internacional de Energia (EIA), a tarifa residencial brasileira é a segunda mais cara do mundo. Isso em um país que tem a produção baseada na hidroeletricidade, considerada a energia de menor custo de produção. Com os novos aumentos, certamente o país assumirá o ranking de energia mais cara do cenário internacional. O povo não pode e nem deve pagar a conta do caos causado por este governo.


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Geral

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FRASE DA SEMANA

Desligamentos por mortes no comércio do Paraná disparam em 2021 O tempo e os dados têm demonstrado que a tese contra o distanciamento social foi fundamental para o número de casos de Covid-19 e mortes. A reabertura ou manutenção do comércio aberto, com a posição de que era preciso aquecer a economia, expôs os trabalhadores desses setores à contaminação. É o que aponta levantamento do Dieese com base em dados do Caged. De acordo com a pesquisa, os desligamentos por morte cresceram 87% de 2020 para 2021. O Paraná foi o estado com o maior aumento: 175%. As estatísticas têm como base o regime celetista. Nele, em 2020, o Caged registrou 31.001 desligamentos por morte entre janeiro e junho. Já em 2021, em igual período, 57.862 desligamentos por morte foram registrados. A maior quantidade de desligamentos foi registrada em abril, com 11.963. Março e abril registraram picos de casos no país. Em 7 de abril, o Brasil teve recorde de mortes, com 3.829 vítimas. O Paraná lidera o maior aumento de desligamentos por mortes em 2021 no comércio. O estado aumentou a exposição social em 2021 com decretos estadual e das prefeituras que reabriram o comércio. Neste ano, foi registrado pico de casos em 7 de março, com 45 mil registros, e em 11 de março, com 11.330.

COLUNA DA

É “crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis e militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático”

JUVENTUDE Agro, arma e insegurança alimentar

Disse em artigo na “Folha de S.Paulo” o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, mostrando que não existe “golpe constitucional” e que o destino de quem tentar acabar com a democracia é a cadeia.

José Cruz | Agência Brasil

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

7 de setembro

Pesquisa da consultoria Quaest sobre as redes sociais bolsonaristas, publicada em 27/8, mostra que na última semana de agosto a convocação para atos do 7 de setembro continuava a ser o principal assunto. A hashtag mais compartilhada era #dia07vaisergigante. Em segundo lugar, #stfrompeuademocracia. Porém as postagens (63%) tinham como principal tema a liberdade. Ao contrário de semanas anteriores, em que os principais assuntos eram contra o STF e a favor do voto impresso.

Quem financia?

Até morto

Uma das mensagens de voz convocando para os atos de 7 de setembro nas redes bolsonaristas dizia que seu autor era o almirante da reserva Fernando Baumaier. Seu filho desmentiu a mensagem no “Valor Econômico”: Meu pai, Fernando Carlos Catta Preta Baumeier - Capitão de Mar e Guerra reformado, morreu há 20 anos. E, se vivo estivesse, não estaria ao lado dos esgotos que tentam contaminar nossa democracia. Ele era um democrata”.

É a economia

O prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), GilPesquisa da mesma consultoria Quaest, mar João Alba (PSL), o “Gringo Loco”, foi pade 1º de setembro, mostra que a preocurado no aeroporto de Congonhas, pação dos entrevistados com a panInstituto Lula em São Paulo, quando embardemia caiu de 41% para 28%. cava com R$ 505 mil em esEnquanto com a economia pécie em bagagem de mão. subiu de 12% para 27%. Ia em voo fretado paNo mesmo período, o ex ra Brasília. Há suspeita -presidente Lula subiu de que o dinheiro senas intenções de voria usado para pagar to. Há um mês, aparepessoas que participacia 15 pontos à frente riam dos atos antidede Bolsonaro (44% a mocráticos em Brasília 29%) no primeiro turno 7 de setembro. O preno. Agora, está 21 ponfeito, até o momento, não tos à frente (47% a 26%). declarou publicamente de Ciro Gomes (PDT) aparequem é o dinheiro nem para ce com 9% e João Doria (PSque seria usado. DB) tem 6%.

Nunca acreditei que combater a fome seria uma política pública de Bolsonaro. Com o apoio quase cego ao agronegócio, é impossível acreditar que a agricultura familiar seria de alguma maneira beneficiada com o atual governo isso levando em consideração que 70% dos alimentos vêm da agricultura familiar. Com a chegada da pandemia, voltamos ao mapa da fome, pequenos agricultores ficaram totalmente desamparados. Como se não fosse suficiente, Bolsonaro lançou uma fala egoísta, fascista e genocida na última semana: “Tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”. Como um presidente da República tem o cinismo de fazer uma fala dessas enquanto milhares de pessoas morrem de fome e de Covid-19? Comprar armas não é prioridade numa pandemia - ou melhor, em nenhum momento. Outro trecho da mesma fala: “O CAC que é fazendeiro compra fuzil 762. Tem que todo mundo comprar fuzil, pô”. Afirmar que o fazendeiro deve se armar é logicamente uma política anti-reforma agrária e genocida, já que movimentos como o MST, MPA (grandes produtores de alimento no nosso país) e comunidades indígenas sofrem frequentes ataques vindos da mídia e do modelo agrário latifundiário. Samuel Felipe Bueno, militante do Levante Popular da Juventude, técnico ambiental, comunicador e fundador da Mídia ECO


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Alunos saem perdendo com ensino domiciliar, dizem especialistas em educação Projeto foi aprovado em primeiro turno na Assembleia, oposição diz que é inconstitucional Ana Carolina Caldas

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egundo Lev Vygotsky, um dos maiores pensadores da área da psicologia da educação, “O desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio da interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio, possibilitando a geração de novas experiências e conhecimento.” Na contramão desse pensamento está o ensino domiciliar (ou homeschooling, em inglês), cuja implantação foi recentemente aprovada em primeiro turno na Assembleia Legislativa do Paraná. Para especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato Paraná, quem sai perdendo com a proposta são os alunos. Para a doutora em Políticas Educacionais e consultora em Educação Giselle Correa, a tentativa de implementar o homeschooling não é de hoje. “Antes da pandemia já era assunto de dois grupos: de um lado, os fundamentalistas religiosos com a justificativa de que em casa as crianças estariam protegidas de

“Não podemos esquecer que há um mercado editorial que também defende tal proposta, sobretudo editoras cristãs”

“professores comunistas”. De outro, pais mais jovens antivacina e antiescola. Acredito que este segundo grupo já não apóie a proposta. Já os neopentecostais estão fortes e se revelam nesse projeto, aproveitando a esteira do ensino remoto”, explica ela. Já a professora de Pedagogia da Federal do Paraná Adriane Knoblauch reitera que a proposta está aliada aos defensores da Escola sem Partido. “Essa proposta defende que pais possam escolher ensinar seus filhos como forma de ‘proteção’ a supostas ideologias presentes nas escolas. Mas não podemos esquecer que há

um mercado editorial que também defende tal proposta, sobretudo editoras cristãs, que veem um nicho valioso de consumo em material didático voltado para o homeschooling.” Crianças saem perdendo Sobre a viabilidade pedagógica e implicações no processo ensino/aprendizagem, as professoras são unânimes ao dizer que as crianças e adolescentes serão prejudicados. “Infelizmente o governador Ratinho Jr. está seguindo a mesma cartilha de Bolsonaro. Enquanto a educação básica está bem sucateada, o governo federal e o estadual vêm intensi-

ficando seus esforços para o ensino domiciliar. Mas, infelizmente, quem sairá perdendo são os alunos, pois a escola é espaço de socialização e vivência em coletividade,” diz Adriane. Giselle contesta a justificativa dos deputados apoiadores do projeto, que dizem que a proposta trará economia ao Estado e mais produtividade aos alunos. “O estado já investe bem pouco na educação e a justificativa que os alunos em casa terão menos distração é um olhar enviesado sobre o papel social da escola e essa iniciativa denota o rumo cada vez mais tortuoso que a educação vem tomando”, diz.

Projeto inconstitucional Ao defender a retirada da proposta em votação, o líder da oposição, deputado Professor Lemos, disse que o PL é inconstitucional. “Faz mal à criança e faz mal à educação. Tem vários países que proíbem, como a Alemanha e o Brasil. É diferente de as crianças irem à escola e estudarem em casa. Isso é permitido. O que é proibido é permitir que as crianças não frequentem a escola. É por isso que o Tribunal de Justiça entendeu que uma lei nesse sentido aprovada em Cascavel é inconstitucional. Essa é uma matéria que só pode ser apreciada no Congresso Nacional”, contrapôs. Também se posicionaram sobre a inconstitucionalidade do projeto os deputados Tadeu Veneri (PT) e Requião Filho (MDB).

A proposta

O projeto determina a admissão do ensino domiciliar, sob o encargo dos pais ou responsáveis, observando a articulação, supervisão e avaliação periódica da aprendizagem por órgãos de ensino. A prática não é obrigatória. Os pais poderão optar entre o ensino escolar ou o domiciliar, a opção deverá ser comunicada a um órgão competente definido pelo Poder Executivo por meio de um formulário específico.


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Grito dos Excluídos: “A democracia nunca esteve tão ameaçada” “Temos 126 milhões de famílias no Brasil que não se alimentam bem”, critica dirigente do MST Pedro Carrano

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chamada do Grito dos Excluídos de 2021, no 7 de Setembro, reforça a ausência de direitos básicos retirados do povo brasileiro: “Vida em primeiro lugar – na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”. Palavra de ordem apropriada num momento em que governos, entre eles Bolsonaro, são indiferentes à morte e, ao mesmo tempo, retiram do povo seus direitos essenciais. O local escolhido para o ato, na Região Metropolitana de Curitiba, é a ocupação Nova Esperança, em Campo Magro, área que abriga perto de 800 famílias, ocupada desde 2020. Há grande expectativa sobre a data, já que apoiadores de Bolsonaro sinalizam fazer atos confrontando outros poderes da República. Lideranças populares que participaram do programa BdF Entrevista Especial destacaram a importância de reforçar a luta por direitos sociais e organização dos trabalhadores. “Que seja um grito pela vida, pelo trabalho e pela democracia”, afirma Roberto Baggio, da coordenação estadual do MST. Silvia Kreuz, articuladora do Grito pela arquidiocese de Curitiba, enuncia o impacto da ausência de política pública de prevenção à pandemia. “Temos 130 mil crianças órfãs devido às mortes por Covid-19. Nunca houve tantas crianças ficando órfãs em um ano e meio. Todas as pastorais tratam da questão dos

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Excluídos, das pessoas que têm a sua dignidade e a sua vida menos valorizada. Queremos trazer a questão desse tema todo, a democracia nunca esteve tão ameaçada desde a Constituinte de 88”, preocupa-se. Prevenção contra o autoritarismo Sobre as ameaças de bolsonaristas no 7 de Setembro, Valdecir Ferreira, integrante do Movimento Popular de Moradia (MPM), um dos organizadores da ocupação em Campo Magro, recorda que, em dezembro de 2018, as ameaças de policiais sobre a área de ocupação 29 de março, infelizmente, se concretizou. Dezenas de casas foram incendiadas. “Temos que estar preparados para qualquer reação, estaremos nas ruas também, espero que não haja golpe. Temos que ter resistência”, define. Ele reforça a indiferença, no dia a dia, de gestores e

prefeitos em relação à situação das comunidades. “Há uma discriminação, os responsáveis pelos municípios pensam que se trouxerem atendimento para a comunidade, água, luz, com isso estariam ‘consolidando a comunidade’. Infelizmente, tem esse preconceito e essa visão fechada. O direito à vida, assistência, saúde vai além, essa visão ainda está faltando para as prefeituras”, critica. Problemas gritantes A atual crise fragilizou os trabalhadores, aponta Baggio: “Há 126 milhões de famílias no Brasil que não se alimentam bem.” O centro do problema, para ele, não é a ausência de alimentos no país, mas o fato de empresários e mercado financeiro exportarem e especularem com o preço dos alimentos. A fome, para Baggio, é o principal problema da sociedade brasileira. Reprodução

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Movimentos sociais, entidades e políticos entregam “carta pela vida” do vereador Renato Freitas Giorgia Prates

Frédi Vasconcelos

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uma carta aberta ao prefeito de Curitiba, Rafael Greca, mais de 180 pessoas e entidades ligadas aos movimentos sociais, sindicais, à universidade e à política pediram que sejam tomadas medidas para que pare a perseguição ao vereador Renato Freitas (PT) por parte das polícias, entre elas a Guarda Civil Municipal da capital paranaense (leia a íntegra no site do Brasil de Fato Paraná. Entre outras ocorrências, Renato foi preso duas vezes este ano, em junho e julho, a mais recente delas, com violência, pela Guarda Municipal, quando fazia a convocação para um ato anti-Bolsonaro no centro de Curitiba. No documento entregue ao secretário de Defesa Social e Trânsito da Prefeitura, Péricles de Matos, na terça, (30) é feito paralelo com a situação de Renato e a de Marielle Franco, que acabou assassinada. “Se o senhor (prefeito) não tomar providências urgentes, o que estamos alertando acabará por acontecer. ... Lembramos aqui o assassinato da vereadora negra do Rio de Janeiro Marielle Franco, até hoje sem indicação dos mandantes. Não queremos que o mesmo venha a acontecer com o vereador Renato Freitas”, afirma o documento. Lembrando o racismo estrutural das forças de segurança brasileiras, a carta sugere também mudança

na formação de policiais. “Recomendamos que o processo de formação da Guarda Municipal inclua, urgentemente, o estudo das relações raciais e que se fomente a tomada de consciência daquela corporação. Racismo é crime!”. Os organizadores pretendiam entregar a carta ao prefeito, que não marcou a reunião, intermediada pela vereadora Josete (PT). O secretário recebeu o documento e, segundo relato de participantes da reunião, comprometeu-se a marcar uma série de encontros para tratar de uma “agenda positiva” para a atuação e a formação da Guarda Municipal. “A reunião foi positiva, principalmente por propor encontros periódicos para discutir a atuação e formação da Guarda e a situação do Renato”, diz mestre Nivaldo S. Arruda, presidente da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular do Paraná. “Mas precisamos ver se cumpre, pois na visão do prefeito sobre Curitiba, os negros e as pessoas que moram nas periferias não fazem parte”, diz.


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O desmatamento aumenta a conta de luz

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Ação pede para que o estado brasileiro seja obrigado a cumprir metas ambientais Gabriel Carriconde

A

lém das pragas que já assolam o Brasil, pandemia, ameaças de golpe, crises institucionais e o aumento da inflação, os brasileiros foram informados na noite de 31 de agosto, pelo ministro Bento Albuquerque, que o país está em meio a uma das piores crises hídricas e energéticas de sua história. “Hoje informo a todos que nossa situação hidroenergética piorou”, afirmou o ministro em cadeia de rádio e TV. Apesar das justificativas, especialistas já alertavam anos antes: o avanço das queimadas na Amazônia, estimuladas pelo atual governo, poderiam levar a um colapso hídrico e elétrico. Mas qual a relação entre as queimadas no norte e a seca no Sudeste e Sul? De acordo com ambientalistas ouvidos pelo Brasil de Fato Paraná é bem mais próxima que se imagina, provocando, inclusive, ação na Justiça contra o estado brasileiro. E a conta de luz, que teve reajuste de 50% na bandeira tarifária. Os rios no ar Os rios voadores são cursos de água atmosféricos,

formados por massas de ar carregadas com vapores de água, muitas vezes acompanhados por nuvens e propagado pelos ventos. Eloy Casagrande, professor da UTFPR e PhD em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente pela Universidade de Nottingham (Inglaterra), explica que a quantidade de umidade liberada na Amazônia irriga as chuvas no Sul e Sudeste. “A quantidade de água que se desloca da região amazônica para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e que às vezes pode chegar a ser maior com a água evaporada, muitas vezes pela copa das árvores, pode ser maior que a vasão do Rio Amazonas, 200.000 m³ por segundo”. Casagrande ainda explica que toda a água bombeada pelas árvores grandes pode chegar a transpirar mais de mil litros em apenas uma copa. “Se você pegar 600 bilhões de árvores na Amazônia, imagine a quantidade de água que é formada em 24 horas em nuvens e trazidas para o sul do Brasil”. Queimadas antecedem a seca De acordo com artigo publicado em 2017 pela Embra-

pa, as florestas são responsáveis pela reciclagem das chuvas na Amazônia. De acordo com o meteorologista Pedro Silva Dias, da USP, citado em estudo do biólogo norte-americano Philip Fearnside, só em São Paulo, 70% das chuvas dependem do vapor d’água amazônico e a sua redução, que poderia ser causada pelo desmatamento, seria capaz de provocar consequências seríssimas. Em agosto, de acordo com o Inpe, a Amazônia registrou 28.060 focos de queimadas, o terceiro maior índice para o mês desde 2010, perdendo apenas para as históricas queimadas de 2020 e 2019. Em paralelo, o país registrou a pior seca dos últimos 91 anos. A relação de causalidade, para Casagrande, é direta e custará um alto preço. “É um tiro no pé para o próprio agronegócio, um dos principais responsáveis pelo aumento das queimadas. O setor está colaborando para sua própria crise. Estamos vivendo um estado de desespero climático, que, somado à questão da Amazônia, cobrará alto preço para a agricultura”, analisa. Giorgia Prates

Estabilidade climática é direito Para o advogado Délton Winter de Carvalho, do Instituto de Estudos Amazônicos, que ajuizou uma ação de litígio climático contra o estado brasileiro, a estabilidade climática deve ser um direito fundamental. Ação que exige que o governo

brasileiro cumpra metas ambientais está na justiça federal. A ação busca alertar sobre a crise ambiental. “O estado brasileiro precisa garantir políticas de estabilidade climática para preservar os direitos sociais e fundamentais do cidadão.”


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Cultura 7

Projeto que facilita acesso da classe artística a editais avança na Câmara Iniciativa proíbe exigência de certidões negativas para acesso à Lei Aldir Blanc Rodrigo Fonseca | CMC

Redação

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Câmara Municipal de Curitiba aprovou em primeiro turno projeto que proíbe a exigência de certidões negativas no acesso a recursos da Lei Aldir Blanc ou de outros auxílios emergenciais destinados ao setor artístico, um dos mais afetados pela pandemia. Aprovada por unanimidade, a proposta vai a análise em segundo turno. A iniciativa tramita em regime de urgência e atende apelo da classe artística, após articulação dos vereadores. A lei deve facilitar a destinação, até o final do ano, do saldo de R$ 2,7 milhões da Lei Aldir Blanc. Além de dispensar a apresentação das certidões negativas, a matéria veda “a retenção ou descontos sobre pagamentos de verbas provenientes de editais na área da cultura”. Os editais de apoio ao setor cultural, completa o texto, “deverão alcançar,

o mais amplamente possível, trabalhadoras e trabalhadores da cultura, assim como instituições artístico-culturais do Município”. Se aprovada e sancionada pelo prefeito, a lei será válida enquanto vigorar a situação de emergência na pandemia. No debate para desburocratizar o acesso dos agentes culturais aos recursos, os vereadores destacaram o diálogo com o Poder Executivo e sindicato. Professora Josete (PT), que ajudou nesta articulação, lembrou das dificuldades para que os recursos [da Lei Aldir Blanc] chegassem a quem mais precisa. “É óbvio que têm que existir [exigências legais], que esse recurso tem que ser dirigido de maneira adequada, mas entendemos que estamos em uma situação inimaginável a partir da pandemia da Covid-19”, avaliou a vereadora.

“É muito importante que os fazedores de cultura tenham acesso a esses recursos para sobreviver”, diz Professora Josete

*Com informações da CMC

DICAS MASTIGADAS | Panqueca de banana Ingredientes 1 banana-nanica madura ½ xícara (chá) de farinha de trigo 1 colher (sopa) de açúcar ½ de xícara (chá) de leite 1 ovo 1 colher (sopa) de óleo (ou manteiga derretida) ½ colher (chá) de fermento em pó 1 pitada de canela em pó 1 pitada de sal Óleo (ou manteiga) para untar

Narrativas visuais

Reprodução

Modo de preparo Em uma tigela, misture o ovo, o açúcar, a canela e o sal e bata bem até começar a espumar. Adicione o leite e o óleo e misture bem. Acrescente a farinha e misture novamente para incorporar e desmanchar os gruminhos. Deixe descansar por 10 minutos e fermento em pó. Corte a banana em fatias. Aqueça uma frigideira antiaderente pequena em fogo médio. Quando aquecer, unte e coloque 1 concha da massa no centro da frigideira. Coloque algumas rodelas de banana em cima, deixe dourar até a as bordas começarem a firmar e o centro da massa inflar. Vire a panqueca e mantenha em fogo baixo por 2 minutos para dourar o outro lado por igual.

Em agosto, a Galeria Imagem Brasil abre inscrições para programa especial com o curso on-line “Narrativas visuais”. Em cada quarta-feira, um artista conversará sobre a sua produção e as estratégias de construção narrativa, desde a idealização até a difusão da obra.

Profissionais renomados

Leitura e escrita

Entre os artistas que ofertarão o curso está a fotógrafa paranaense Isabella Lanave, que investiga questões relacionadas à saúde mental e suas interseccionalidades. Em 2017, ela foi citada pela revista “Time” como uma das 34 fotojornalistas a serem seguidas pelo mundo. O curso será em 8 de outubro, das 19h às 21h, via plataforma zoom. Mais informações e inscrições no site da Galeria www.imagembrasil galeria.com.br.

A Biblioteca Pública do Paraná está com inscrições abertas para o curso on-line “De Próprio Punho” — Oficina de Leitura e Escrita, em parceria com o professor Rafael Ginane Bezerra. Os encontros acontecem ao vivo, todas as terças, das 18h às 20h, a partir do dia 14 de setembro. Os interessados devem enviar uma breve mensagem, entre os dias 1° e 3 de setembro, para o e-mail rginane@gmail.com, com breve apresentação pessoal e explicar por que querem participar.


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Laços refeitos Por Cesar Caldas

Teve início em 2015 um progressivo distanciamento coxa-branca da CBF, bem como o relaxamento de seus vínculos institucionais – interclubes e com o Congresso Nacional. Na primeira metade da década, por exemplo, os 40 integrantes das Séries A e B fizeram do ex-presidente Vilson Ribeiro de Andrade seu porta-voz e embaixador na Câmara e no Senado. Isso foi crucial para a aprovação do Profut. Sua designação para chefiar a delegação brasileira na Copa do Mundo também retratou esse prestígio. Os novos dirigentes alviverdes Juarez Moraes e Silva (presidente) e Glenn Stenger (1º vice) estão reconstruindo aquelas pontes combalidas e revalorizando a imagem coxa-branca. O resgate desse protagonismo já se reflete na ativa participação do Coritiba no debate da repercussão de duas recentes alterações legislativas: a Lei do Mandante e a das Sociedades Anônimas do Futebol.

Celsinho, do Londrina, sofre racismo duas vezes em partida contra o Brusque Além de ser chamado de “macaco”, clube catarinense faz nota culpando o jogador Reprodução | SporTV

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Game over ou reset? Por Marcio Mittelbach

O rebaixamento no estadual, em 2011, deixou claro o tamanho dos danos causados pelo caos jurídico e administrativo que o Paraná Clube se tornou. Algumas vezes mais, outras menos, nossa vida foi se tornando uma caixinha de surpresas. Fila de credores, golpes, renúncias, investidores, tudo evidenciava que o motor tinha pifado. Não fosse a forma quase que passional como a Torcida abraçou o Clube, certamente o pior já teria acontecido. A pandemia tratou de cortar esse último cordão que sustentava o tricolor. Nos restam duas opções: parar por aqui ou recomeçar. Aos que vão pela primeira opção, o que é perfeitamente compreensível, a porta de saída é logo ali. A nova gestão vai assumir o posto já no próximo dia 14 de setembro. É hora de se aproximar, de perguntar, sugerir, criticar e oferecer ajuda. Quanto antes começar o trabalho, antes a gente vai reerguer esse Clube.

Campeonato interminável Por Douglas Gasparin Arruda

O Furacão disputou, nesta quarta-feira, o primeiro jogo da semifi nal do Paranaense contra a equipe do FC Cascavel. Não que a partida tenha tido qualquer relevância, já que o campeonato foi prejudicado pela falta de organização e poucos são os torcedores que ainda assistem à competição. Mesmo jogando com o time reserva, o que se viu em campo foi uma repetição dos problemas enfrentados no Brasileirão, e, não por acaso, levamos o empate no último minuto com um pênalti desnecessário cometido por Carlos Eduardo. O jogo terminou em 1 a 1, e semana que vem a disputa pela vaga na fi nal (contra o Londrina) se encerra no Olímpico Regional. Agora é torcer para que o time consiga corrigir os erros repetidos no sistema defensivo para o jogo de domingo contra o Sport, pelo Brasileirão.

Frédi Vasconcelos

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hamado de “macaco” por uma pessoa na arquibancada do jogo, com mando do Brusque (SC) com portões fechados, e, segundo relato do árbitro Fábio Augusto Santos Sá Junior na súmula, ter ouvido de um integrante do staff do Brusque: “Vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha”. Ainda assim, o jogador Celsinho, do Londrina, foi vítima de outro ataque. Num primeiro momento, a direção do Brusque, em que um dos principais patrocinadores é a Havan, publicou nota em que acusava o jogador de

“falsa imputação de crime” e dizia que era “conhecido por se envolver neste tipo de episódio...” Após a repercussão negativa em todo o país, o time teve de voltar atrás e emitiu nova nota pedindo desculpas e dizendo que a nota anterior foi “um momento infeliz”. Se o arrependimento é sincero ou não, a consequência prática foi a suspensão de pagamentos de pelo menos um dos patrocinadores da equipe. A empresa Barba de Respeito anunciou que: “Enquanto não houver uma posição justa do time em relação aos responsáveis diretos pelas injúrias realizadas e o autor da nota inicial”, haverá suspensão do pagamento. Em declaração ao site Globo Esporte Paraná, Celsinho afi rmou que: “Eles têm a consciência de que erraram muito em relação à primeira nota. Dizem que eu tenho três vezes esse caso, como se eu fosse para o estádio para que me ofendessem e me xingassem. Eles tiveram que soltar uma segunda nota com pedido de desculpa, mas isso não muda o constrangimento, a dor, a decepção que passei pelas palavras ditas naquele jogo. Isso é desconfortante, revoltante.” O atleta e o clube pretendem tomar medidas na Justiça comum e desportiva.

CULPAR A VÍTIMA Daniel Giovanaz Conforme o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, os casos de racismo no futebol brasileiro cresceram 235% em seis anos. Culpabilizar a vítima também é uma prática comum. Em janeiro deste ano, o Brusque estava do lado oposto da polêmica. Um atacante do clube catarinense, Jefferson Renan, disse ter sido chamado de “macaco” por um dirigente do Vila Nova (GO). Na delegacia, após o jogo, o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, classificou a atitude como “mimimi”. Ele disse ainda que pretendia processar o Brusque por calú-

nia e difamação. As injúrias proferidas pela torcida do Grêmio contra o goleiro Aranha, do Santos, em 28 de agosto de 2014, se tornaram um símbolo do racismo no futebol. “Macaco”, “preto fedido”. As palavras que o atleta lembra até hoje com indignação foram minimizadas pela diretoria do clube gaúcho. O Grêmio realizou campanhas educativas e dialogou com suas organizadas para abolir o termo “macaco” dos estádios, mas nunca “perdoou” as denúncias feitas por Aranha. Três anos depois, quando voltou à Porto Alegre para enfrentar o Tricolor com a camisa da Ponte Preta, o atleta foi recebido com vaias.


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