Divulgação
Cultura | p. 7
Esportes | p. 8
Bela cultura
Despedida do ídolo
Concurso valoriza cultura e beleza afrodescendente
Ano 5 Edição 237 11 a 17 de novembro de 2021 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br
Reprodução
PARANÁ
Maior da história do Athletico, Sicupira se vai
NÃO É UM CONFRONTO
População denuncia execução de jovem na comunidade Portelinha, em Curitiba Cidades | p. 5 Giorgia Prates
Brasil | p. 6
Artigo | p. 2
Dois anos da libertação de Lula
Pensamento embranquecido
Ex-presidente e juiz Moro devem se enfrentar nas urnas
Pensadores negros de destaque tiveram origens apagadas
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 11 a 17 de novembro de 2021
SEMANA
Quem são os intelectuais negros embranquecidos pela história
OPINIÃO
Rosana Fernandes,
dirigente do Sindicato dos Químicos de São Paulo. Militante do movimento Feminista, foi a primeira secretária Nacional de Juventude da CUT. É dirigente adjunta da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo
O
Escancarado o jogo da velha política
EDITORIAL
A
pós quase um ano com verbas liberadas por meio da “emenda do relator”, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou a suspensão do orçamento federal. A grande questão em torno deste tema escandaloso é a falta de transparência e a distribuição política de recursos pelo governo Bolsonaro. Exemplo prático desse esquema foi a votação dos calotes do pagamento dos precatórios, para fazer com que o atual governo, na UTI, respire até as eleições de 2022. Os aliados do governo
Necessário ver se Bolsonaro seguirá impune e perdoado pelos favorecimentos, desmandos e por afundar o país conseguiram articular 323 votos, cerca de R$ 900 milhões foram liberados em emendas em dois dias antes da votação, escancarando o clientelismo, “o chamado toma lá da cá”, reforçando
que Bolsonaro desde sempre fez e faz o jogo da velha política. Arthur Lira, Rodrigo Pacheco e até Ricardo Barros saíram em defesa do “orçamento secreto”, provando até onde vai a capacidade antipopular de nossos políticos. Por hora, nosso dinheiro deixou de ser desviado descaradamente. Parece que ninguém em Brasília contava com o fator STF. Necessário ver se Bolsonaro seguirá impune e perdoado pelos favorecimentos, desmandos e afundamento do país.
objetivo do dia da Consciência Negra não é somente falar sobre o grande líder que foi Zumbi, mas também fazer uma reflexão sobre a cultura do povo africano. Aproveito esta data para apresentar intelectuais negros que foram embranquecidos ou não reconhecidos na nossa história, não só no Brasil, mas em várias partes do mundo. O racismo é um processo que tenta invisibilizar a importância das pessoas negras, por isso é tão importante recontar a história da maneira correta. Chiquinha Gonzaga Documentos mostram que sua mãe era filha nascida alforriada de uma mãe escravizada. Chiquinha participava na luta pela abolição, colando cartazes e arrecadando fundos para a causa. Seu nome e o de seu pai constam na lista de doadores da caneta com a qual foi assinada a Lei Áurea. Nilo Peçanha Foi o primeiro presidente de ascendência negra do Brasil, assumindo o cargo com a morte do presidente Afonso Pena. Ape-
sar de sua tez escura, escondeu as origens africanas. Alguns pesquisadores afirmam que suas fotografias presidenciais eram retocadas para branquear sua pele escura, para se encaixar no padrão de branqueamento imposto pela alta sociedade. Betty Boop A pessoa em quem a personagem foi inspirada, a cantora Esther Jones, era negra. Sua interpretação no palco foi o que inspirou o cartunista Max Fleischer a criar a personagem Betty Boop. Esther passou a vida lutando pelos diretos da personagem que, em verdade, era ela interpretando no palco. Santo Agostinho Um personagem fundamental para os estudos básicos de filosofia e teologia. O que não consta na história é que ele nasceu em Tagaste, na Numídia (atual Argélia), cidade rodeada por florestas no norte da África. Ou seja, ele era africano. Alexandre Dumas Autor de Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo era filho de um general branco com uma escrava negra. Seus traços negros são evidentes em registros, mas em muitas representações artísticas Dumas é retratado como um homem branco.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 237 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Rosana Fernandes e Rubens Bordinhão Neto ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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Geral
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
Em seu site oficial, a Sanepar mantém o alerta: “Se não diminuirmos o consumo em 20%, a água vai acabar”. O atual modelo de rodízio de 36 horas está em vigor desde agosto. Mesmo com chuvas recordes, a companhia não pretende acabar com o revezamento. No mês de outubro, choveu mais do que a média histórica, pela segunda vez em 2021. A alta foi de 59%, de acordo com o Simepar. O índice só foi menor que em janeiro deste ano, 67% superior à média. A alta ajuda a equilibrar meses de estiagem no estado e a queda dos reservatórios na capital e Região Metropolitana. Mas ainda são insuficientes para a Sanepar encerrar o rodízio previsto até 14 de novembro. De acordo com comunicado ao mercado financeiro, a empresa deve adotar o modelo de 24 horas com água e 24 horas sem água. O formato é definido pelo Grupo de Trabalho criado pelo Decreto nº 4.626, do Governo Estadual, e que reconhece a continuidade da situação de emergência hídrica na região Metropolitana de Curitiba e nas regiões Oeste e Sudoeste do Estado do Paraná. “Tais limites podem ser extrapolados em situações emergenciais de manutenção ou decorrentes de caso fortuito e força maior, devendo ser comunicadas para a população e órgãos de fiscalização”, diz a Sanepar ao mercado.
É ESSE?
“Governo Bolsonaro é claramente desacreditado, isolado e negacionista”
Rubens Bordinhão Neto
Trabalho infantil aumenta exclusão
Diz a ex-candidata à Presidência Marina Silva em entrevista ao programa BDF Entrevista.
Agência Brasil
Sanepar mantém rodízio
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NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
É a economia...
Voz de marreco
Em pesquisa da consultoria Quaest, divulgada na quarta, 10, Lula aparece mais uma vez na liderança isolada para presidente. Mas também é considerado o melhor nome para resolver a crise econômica, resposta de 33% dos entrevistados. E é justamente a economia a maior preocupação dos brasileiros medida pela enquete. Neste mês, 23% apontam essa crise como o principal problema do país, superando a pandemia, até então a maior preocupação.
Perfil no portal TAB, do UOL, diz que o exjuiz Sérgio Moro vem articulando com grupos políticos, como o MBL, sua candidatura à Presidência. E que tem se reunido com o governador de São Paulo, João Dória, e o exministro da Saúde, Mandetta, para um deles ser candidato único da “terceira via”. E Moro já está: “treinando com fonoaudiólogo e recebe dicas de políticos próximos sobre o que vestir, palavras a evitar e gestos que não pode fazer”, escreve o portal.
Calcanhar de Aquiles
Combinou com o eleitor?
Boa parte da queda de Bolsonaro nas pesO problema, como analisa o colunista Thoquisas pode ser atribuída ao caos mas Traumann, da revista que mais econômico em que o Brasil viapoia Moro e a “terceira via”, a “Veve. A percepção dos eleitores ja”, é que a pesquisa da Quaest de que o cenário econômimostra que: ”a candidatura co brasileiro piorou no Moro arrasa com as chanúltimo ano bateu recorces do PSDB e de outros de, são 73% dos entrepré-candidatos da chamavistados. No geral, o goda terceira via, tira votos do verno Bolsonaro é visto presidente Bolsonaro e, incomo negativo para 56% diretamente, amplia o favodos eleitores. E não há ritismo do ex-presidente Lumarketing ou fake news la.” No cenário com o ex-juiz, que mude a realidade conLula teria entre 47% e 48% dos creta da gasolina a R$ 7, R$ 8, votos votais (54% dos válidos) e e o bujão de gás a R$ 140. poderia levar no primeiro turno. Lula Marques
Está em discussão no Congresso Nacional proposta de emenda à Constituição, PEC, que prevê a redução da idade mínima de trabalho no Brasil dos atuais 16 para 14 anos. Hoje, adolescentes de 14 anos podem trabalhar apenas na condição de aprendiz. Caso aprovada a PEC, esses adolescentes poderão ingressar no mercado de trabalho, com carteira assinada, em jornadas de 30 horas por semana. Ao facilitar o ingresso de jovens no mercado de trabalho, a PEC pode incrementar a evasão escolar das crianças e adolescentes. De acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, cerca de 1,1 milhão de jovens estão fora da escola no Brasil, sendo que o trabalho é o principal motivo na faixa de 15 a 17 anos. O emprego em momento tão precoce atrapalha também na progressão dos jovens nos estudos e na conclusão da sua educação na idade correta. Portanto, a regularização do trabalho de adolescentes de 14 anos restringe e torna mais difícil a formação educacional e a qualificação profissional, o que os aproxima da exclusão social e da marginalização, em vez de afastá-los da vulnerabilidade social. É dever do estado assegurar antes o acesso da criança à escola, não ao trabalho. Ainda mais num país que tem tantos desempregados em idade adulta. Rubens Bordinhão Neto membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares
Brasil de Fato PR 4 Saúde
Brasil de Fato PR
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“Não há mais recursos para manter laboratórios nas universidades”, diz pesquisador Corte de mais de R$ 600 milhões compromete futuro de pesquisas importantes Ana Carolina Caldas
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ais de R$ 1 bilhão foi retirado do orçamento voltado às instituições de ensino superior no Brasil em 2021. A redução na Lei Orçamentária Anual, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, começa a ter efeitos, principalmente, na dificuldade de manter a infraestrutura das universidades. E, recentemente, a área de pesquisas científicas sofreu mais um golpe com a supressão, a pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes, de mais de R$ 600 milhões em bolsas e projetos do CNPQ, que seriam repassados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI). Pesquisadores que enfrentam o sucateamento das universidades desde 2016, com sucessivos cortes, lamentam que pesquisas importantes para o país terão de ser interrompidas devido à falta de recursos para manutenção de laboratórios e pagamento de bolsas para estudantes pesquisadores. De acordo com o pró-reitor de planejamento, orçamento e finanças da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernando Marinho Mezzadri, o bloqueio dessa verba prejudicará todas as atividades, sem exceção. “Impacta em todas as áreas: bolsas, contratos, insumos. Com esses 23 milhões a menos (valor que a universidade receberia), não conseguiremos manter todas as nossas ações até o final do ano.”
Laboratórios “Não há mais recursos para manter laboratórios nas universidades, desabafa o pesquisador e professor do departamento de Química da UFPR Aldo Zarbin. Eleito em 2019 membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), uma das instituições científicas mais importantes do Brasil, o professor lamenta a desvalorização da ciência que, para ele, é o motor de desenvolvimento do país. “Temos que lembrar que os cortes na área de ciência e tecnologia acontecem desde 2015. Estávamos até lá passando por um crescente investimento e chegamos em 2021 com o orçamento mais baixo da década. O Sistema de Ciência e Tecnologia no Brasil e no mundo é financiado por recursos públicos, a ciência é o maior motor de desenvolvimento de um país. Com esse investimento diminuindo, o sistema que é
“A previsão é que muitas universidades e, entre elas a UFPR, precisem fechar as portas devido à falta de recursos para mantê-las” formado por laboratórios, por exemplo, que 95% está dentro das universidades, vai parar,” diz. Uma das linhas em que Aldo Zarbin atua é a de produção de grafeno, viabilizando a produção, por exemplo, de baterias, sensores e sistemas solares mais econômicos e sustentáveis. O grupo de pesquisa que ele lidera já foi capa da revista inglesa “Royal Society of Chemistry”, em 2018, devido ao desenvolvimento de nanomateriais que permitem fabricar ba-
terias alcalinas mais duráveis e ecológicas. “Estamos desenvolvendo novos protótipos desses dispositivos que levem em conta fatores de sustentabilidade, economia e rendimento. Para isso, são necessários insumos, alunos de pós-graduação, que são cientistas e devem ser pagos, além da infraestrutura. Mas, hoje, não existe recurso para consertar equipamentos nem fazer sua manutenção. Isso vale para toda a ciência brasileira, desde os que estudam variedade de plantas até quem está desenvolvendo vacinas”, diz. Em uma carta aberta divulgada no sábado (6), 21 cientistas brasileiros renunciaram à Ordem Nacional do Mérito Científico, com a qual haviam sido condecorados nesta semana pelo governo federal. Zarbin estava nessa lista de mais de 100 cientistas e renunciou à homenagem em repúdio à desvalorização da ciência. Arquivo Pessoal
SEM VACINA Além de inúmeras pesquisas das mais diferentes áreas que poderão ser interrompidas, a produção de uma vacina nacional contra a Covid-19, que vem sendo desenvolvida por cientistas da UFPR, também está com seu futuro comprometido. No momento, a pesquisa encontra-se em estudo pré-clínico. A intenção era que a etapa fosse finalizada no final deste ano, mas por conta de atrasos de orçamento, a perspectiva atual é que fique para o primeiro semestre de 2022.
UFPR PODE FECHAR AS PORTAS Recentemente o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo, em um pronunciamento à imprensa, disse que a instituição pode fechar as portas até o fim do ano. “Estamos mantendo o que conseguimos como água, luz e limpeza. Mas a previsão é que muitas universidades e, entre elas a UFPR, precisem fechar as portas devido à falta de recursos para mantê-las”, disse. No final de outubro, Marcelo integrou uma comitiva de reitores que foram até Brasília dialogar com parlamentares e com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, sobre a necessidade urgente do aumento do orçamento para o ano de 2022.
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Cidades
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Famílias da ocupação Portelinha falam de histórico de violência policial Em relato, liderança fala da apreensão das famílias com recentes operativos da Polícia Militar e aponta também perseguição a lideranças Giorgia Prates
Pedro Carrano
M
ais um episódio de violência policial abalou a periferia de Curitiba. Desta vez ocorreu na área Portelinha, no bairro Portão, que existe há treze anos, abandonada pelo poder público – a não ser em operativos policiais. Na noite do dia 6 de novembro, o carrinheiro Eduardo Felipe Santos de Oliveira, de 16 anos, foi perseguido e alvejado com, no mínimo, 15 tiros, pela Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) quando já se encontrava dentro da casa de uma amiga, para Giorgia Prates
onde teria corrido, assustado, diante do operativo. O que aconteceu naquela noite foi apenas uma situação única? De acordo com os moradores, longe disso. A tensão e a pressão policial crescem no dia a dia. Um mês antes, outro jovem também morreu na comunidade. Uma das lideranças da área de ocupação, cujo nome optamos por preservar, aponta que o jovem assassinado se criou na comunidade e trabalhava recolhendo materiais recicláveis e também como servente de pedreiro. “Era brincalhão e querido pela comunidade”, enfatiza. Sob choro, essa trabalhadora resume a tensão da Portelinha contando que nem as crianças brincam de “polícia e ladrão” mais. “A polícia mata a gente, disse uma criança”. Em 9 de novembro, data do segundo ato de protesto da comunidade contra a violência da PM, estiveram presentes no local representantes da Defensoria Pública do estado, do mandato do vereador Renato Freitas (PT), advogados e da comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), levantando informações diretamente com os moradores. É preciso, de acordo com as entidades, uma apuração precisa dos fatos, uma vez que moradores ques-
tionam a trajetória das balas, o número de disparos contra o jovem, o fato de ele ter sido morto já dentro de casa de uma vizinha. Trabalhadora carrinheira, a liderança entrevistada pelo Brasil de Fato Paraná afirma que já não tem coragem de entrar nas ruas estreitas da comunidade por volta de 23h30, por medo da ação policial. Ela questiona a tese de confronto entre policiais e moradores. “Confronto com
Confronto? A entrevista foi feita pouco antes do protesto dos moradores. Para a representante da comunidade, é preciso mostrar à opinião pública outra versão sobre quem são as pessoas da Portelinha. “Queremos limpar a imagem dele, era um menino trabalhador, que não era bandido ou traficante”, afirma, acrescentando que o tráfico poderia ser combatido de outra maneira pela
o quê? Com o dedo?”, afirma. Na realidade, para a trabalhadora, o que existe de fato é a perseguição de lideranças sociais da comunidade – questão confirmada por outros moradores e por quem acompanha o dia a dia da comunidade. “Acham que nós somos os responsáveis por tudo o que acontece na Portelinha, que a gente explique e saiba de tudo, como se a gente não passasse o dia trabalhando”, diz.
QUESTÕES PARA A POLÍCIA MILITAR PM que, de acordo com ela, agride a comunidade deliberadamente. “Já houve várias operações. A Polícia Civil vem direto no local suspeito. Mas a PM parece que age com violência com qualquer um”, reclama. Em 2020 ocorreram, no Paraná, 373 mortes realizadas pela PM em operativos, o que faz do estado o sexto do país em número de mortes. O número aumentou 29%
em comparação com 2019, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Já de acordo com o Gaeco, só no primeiro semestre de 2021 houve um aumento de 14,13% em relação ao mesmo período de 2020. Ainda que o termo usado seja “confronto”, a PM não registrou mortes entre seus quadros nos anos de 2019 e 2020 nesses operativos.
Na opinião pública, a PM trabalha com a versão de que o jovem estaria armado e teria atirado. Até o fechamento da edição, a reportagem do Brasil de Fato Paraná enviou as seguintes perguntas abaixo e ainda não obteve resposta. 1 – Moradores relatam operativos constantes no local, com intimidação da população, moradores e trabalhadores, e pouca eficiên-
cia no combate de fato ao tráfico e à criminalidade. Como a PM se posiciona sobre isso? 2 – Moradores relatam também perseguição a lideranças locais da comunidade. 3 – Há previsão sobre quando será apresentado o procedimento para apuração das circunstâncias que envolvem a morte do jovem Eduardo Felipe?
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Dois anos depois da liberdade, Lula prepara-se para enfrentar a Lava-Jato nas urnas
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Ex-presidente tem vitórias na justiça e lidera pesquisas para 2022. Moro assume-se político Gabriel Carriconde
E
ra uma manhã de uma sexta-feira de novembro de 2019, com tempo meio cinzento na capital paranaense, quando o bairro de Santa Cândida recebia diversas caravanas de todo o país, que chegavam para tentar ver o mais famoso dos moradores da região. As ruas no entorno da Polícia Federal enchiam rapidamente com bandeiras de partidos e movimentos sociais que acompanharam por 580 dias a prisão do ex-presidente Lula. Por volta das 17h40, Lula sai do cárcere. Passados dois anos de sua soltura, o ex-presidente lidera todas as pesquisas eleitorais, com larga vantagem para o presidente Bolsonaro e também para seu algoz, o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, que largou a toga para se tornar ministro da Justiça, e saiu desmoralizado com as denúncias da ‘’Vaza-Jato’,’ de ter sido parcial contra Lula nos seus julgamentos, e rompido com Bolsonaro. Moro ainda seria declarado
suspeito nos processos envolvendo Lula pelo Supremo Tribunal Federal. Justiça Para o advogado e membro da Associação de Advogados pela Democracia, Samir Mattar Assad, a saída da prisão consolidou o entendimento a respeito do trânsito em julgado. ‘’A saída de Lula precisa ser analisada do ponto de vista jurídico e democrático como uma correção a respeito da decisão de 2016 sobre a prisão em segunda instância’’, analisa. Mattar Assad destaca que no ponto de vista prático do processo penal, houve retorno ao estado democrático de direito. “A
“A Lava Jato colocou em xeque o Estado de Direito ao realizar delações premiadas sabidamente descabidas”
decisão de 2016 foi dada no auge da Operação Lava-Jato, provocada pelo clamor popular da época. O campo jurídico tem que ser preservado, e não pode ser pautado, tampouco pautar a imprensa como foi provado pela “Vaza-Jato” ’. Na justiça, Lula teve representativas vitórias no Supremo Tribunal Federal. Em abril, o STF anulou todas as condenações na Lava-Jato e declarou a Justiça Federal em Curitiba incompetente nos processos contra o ex-presidente. Dois meses depois, em junho, Moro ainda seria declarado suspeito no caso do ‘’triplex do Guarujá’’, além do ‘’sítio de Atibaia’’, e da doação de um terreno para o Instituto Lula. Em outras instâncias, a Justiça determinou ainda o arquivamento de outras investigações. “A Lava Jato colocou em xeque o Estado de Direito ao realizar delações premiadas sabidamente descabidas com o nítido objetivo de atingir e aniquilar alvos pré-definidos”, citou Cristiano Zanin, advogado de Lula.
Ricardo Stuckert
Da vigília às eleições Roberto Baggio, membro da direção do MST-PR, permaneceu boa parte dos 580 dias na Vigília Lula Livre, que ficava localizada em frente ao prédio da Polícia Federal em Curitiba. Baggio avalia que a vigília teve papel fundamental na defesa de Lula. “Furamos o bloqueio midiático e nos contrapomos na narrativa ao lavajatismo, foi uma luta vitoriosa na defesa da democracia e contra o golpismo”. Baggio avalia que, passados dois anos, com as revelações que Moro interferiu politicamente nos processos contra Lula, e o
enfraquecimento do bloco bolsonarista, a conjuntura é melhor que a de dois anos atrás para o campo popular. “Moro tenta navegar no cenário da polarização, mas ele é o candidato do golpismo, e representa os interesses inclusive geopolíticos estrangeiros. Já a candidatura do Lula consegue nesse momento unificar diversos setores populares com todas as suas diversidades.” De acordo com a última pesquisa da Genial/ Quaest, Lula lidera em todos os cenários analisados, tanto no primeiro, como para o segundo turno.
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Cultura 7
Concurso “Beleza dos Palmares” busca reafirmar a importância da cultura negra Evento está com as inscrições abertas para categoria masculina e feminina
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pós nove anos, o Concurso “Beleza dos Palmares” volta a ser realizado no Paraná. Acontecerá em 20 de novembro, às 19 horas, no Centro Multieventos, no município de Fazenda Rio Grande, com desfile de candidatos e candidatas usando vestimentas afrobrasileiras. A realização é uma parceria entre o Grupo Afro Cultural Ka-naombo e a Prefeitura da cidade. O Concurso “Beleza dos Palmares” busca fomentar a cultura afrodescendente no Paraná e, também, tem o intuito de fortalecer e empoderar a beleza afro. Desde a primeira edição do concurso, em 2001, o principal objetivo, segundo Vera Paixão, fundadora e coordenadora do Grupo Afro Cultural Ka-naombo, foi sempre o de reafirmar o valor
do povo negro. “Esse concurso reafirma a essência e valoriza a nossa população negra. Nosso objetivo é dar voz à nossa gente e valorizar nossa cultura e nossos ancestrais que contribuíram para a construção do Brasil”, explica. Para ela, o evento neste momento difícil pelo qual passa o país é de extrema importância. “Num momento de crise, que afetou de forma desigual a população, atingindo de forma crítica os negros e negras, é importante nos reunirmos para olharmos nossa essência e continuarmos resistindo. Outro ponto importante é destacar que a juventude tem sofrido bastante, além de estar sob extermínio daqueles que querem invisibilizá-la. Queremos os jovens se reafirmando com este concurso”, finaliza Vera. Além dos desfiles e premiações
Mês da consciência negra Em novembro, mês da consciência negra, a Universidade Federal do Paraná promove programação especial organizada pelo movimento Negritude UFPR. Nesta edição, que vai de 8 de novembro até 30/11, a reflexão se-
Feira do livro Vai de 8 a 15/11, a festa do livro da USP. Neste ano será totalmente virtual e oferecerá descontos de, no mínimo, 50% em obras de diversas editoras. Acesse a relação das editoras participantes, consulte as listas dos livros que estão com pelo menos 50% de desconto e compre diretamente no site da empresa escolhida. Para acessar, acesse: https://festadolivro.edusp.com.br/editoras.
rá sobre o tema “Olhares Insurgentes”. Serão realizadas diversas atividades artístico-culturais e mesas redondas no formato virtual. Confira a programação do #NegritudeUFPR2021 em https:// www.ufpr.br/portalufpr.
Editora do Paraná Uma das editoras presentes na feira é a Kotter Editorial, do Paraná. Todo o catálogo estará disponível. Mais informações no site da editora, https://kotter.com.br/. Entre eles o recém-lançado livro do jornalista Luís Nassif, “O Caso Veja. O Naufrágio do Jornalismo Brasileiro”. E de colunistas do BDF -PR, como Pedro Carrano e Milton Alves.
Quando: Dia 20/11, 19h Local: Centro Multieventos de Fazenda Rio Grande – Avenida Brasil/ Eucaliptos Como se inscrever: https:// fazendariogrande.pr.gov.br/ secretarias/cultura
nas categorias feminina e masculina, o concurso contará com várias atrações artísticas. Para participar, é preciso ser maior de 18 anos e fazer a pré-inscrição no site da Prefeitura da Fazenda Rio Grande, na página da Secretaria de Cultura. A premiação terá troféus e medalhas.
DICAS MASTIGADAS
Bolo de banana com aveia A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 4 bananas caturra orgânicas bem maduras 1/2 xícara de uva passa preta 3 ovos orgânicos 1/3 de xícara de óleo 1 xícara de farinha de arroz 1/3 de xícara de aveia em flocos 2 colheres de sopa de fermento químico 1 colher de chá de canela em pó 1/2 meia xícara de nozes e amêndoas (grosseiramente quebradas) Modo de Preparo Unte com manteiga e farinha uma forma de mais ou menos 25 centímetros de diâmetro e pré-aqueça o forno a 180°. Enquanto isso, bata no liquidificador as bananas, passas, ovos e óleo até incorporar. Coloque essa mistura em uma tigela e acrescente farinha, aveia, canela, nozes, amêndoas e o fermento, misturando delicadamente com uma colher até ficar homogêneo. Coloque a massa na forma untada e asse por 20 minutos em forno a 180°. Retire do forno e deixe esfriar para desenformar.
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Ana Carolina Caldas
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8 Esportes
Adeus ao ídolo
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Douglas Gasparin
Recordar é viver!
O
último domingo, 7 de novembro, ficará marcado na história do Furacão pela despedida final de seu maior artilheiro, Barcímio Sicupira. Aos 77 anos, o craque da camisa 8 faleceu por complicações ocasionadas por uma cirurgia no pulmão. Sicupira jogou pelo Athletico ao longo de 8 anos, entre 1968 e 1976, tendo balançado as redes 158 vezes. Além do rubro-negro, jogou também pelo Ferroviário, Botafogo RJ, Botafogo SP e Corinthians. O período em que atuou pelo Furacão não foi dos melhores. Foram longas temporadas amargando quedas nas competições nacionais e estaduais. Depois de um jejum de 12 anos sem levantar nenhum troféu, o tão aguardado título do Campeonato Paranaense foi conquistado em 1970, com o mitológico Sicupira artilheiro. Hoje pode parecer pouco, mas é importante ressaltar que a realidade dos clubes paranaenses era completamente diferente naqueles tempos, e o título estadual tinha uma importância incomparável com o contexto atual. Sua aposentadoria veio cedo, aos 31 anos. Em seguida, tornou-se uma das mais importantes vozes do jornalismo esportivo da capital. Nunca vi Sicupira jogar, e hoje
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não são muitos os torcedores que puderam assistir ao lendário gol de bicicleta na estreia contra o São Paulo. Minhas memórias estão mais relacionadas ao Barcímio comentarista esportivo, e sempre admirei sua inteligência e capacidade de analisar o futebol sem se deixar levar pelo sensacionalismo do meio. Sua morte foi sentida não ape-
nas pelos torcedores do Furacão. Sicupira foi um dos raros ídolos que rompeu as barreiras da rivalidade, e não são poucos os fãs do excelente profissional e ser humano que nos deixou neste triste ano de 2021. A torcida ainda poderá homenagear seu ídolo em um jogo histórico, com a Arena lotada para a final, concluindo gloriosamente o mito heróico.
Na última terça-feira, 9, teve convocação da Seleção Brasileira para o Torneio Internacional de Futebol Feminino de Manaus. A competição conta ainda com a Índia, Venezuela e Chile e ocorrerá entre 25 de novembro e 1 de dezembro. É mais uma oportunidade para Pia Sundhage preparar o time visando à Copa América de 2022. Mas essa convocação teve sabor especial. A coordenadora de seleções da CBF, Duda Luizelli, anunciou dois eventos importantes. O primeiro é uma homenagem às Pioneiras do futebol de mulheres no Brasil e que representaram a Seleção Brasileira no Torneio Experimental de 1988 e no Campeonato Sul-Americano 1991 e celebra também os 30 anos da disputa da Primeira Copa do Mundo Feminina, em 1991. O evento ocorrerá na Granja Comary nos dias 19 e 20 de novembro e tem uma dimensão enorme. Reconhecer aquelas que abriram muitos caminhos é obrigação da instituição responsável pelo futebol brasileiro e é sobre memória, história e reconhecimento. As pessoas precisam conhecer e reconhecer essas mulheres! O segundo foi o anúncio do jogo de despedida de Formiga da Seleção após anos de dedicação à Amarelinha, 7 Olimpíadas e Copas, e uma trajetória emocionante. Será na partida contra a Índia, a primeira do Torneio Internacional. Preparem os lencinhos!
Quem vai, quem fica
Caso Neves
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
A importância das três derradeiras rodadas da Série B vai além do retorno à Primeira Divisão e de eventual título assecuratório do direito de “pular” duas fases da Copa do Brasil de 2022. Estende-se à fi nalização dos relatórios sobre os atletas que compõem o atual elenco de jogadores, com vistas à defi nição das características técnicas e táticas dos atletas a contratar na reformulação da próxima temporada. O scout (manual e eletrônico) dos atuais titulares e reservas revelerá quais deles têm condição de prosseguir no Coritiba. Número de desarmes efetuados, percentual de eficiência em passes e lançamentos, aproveitamento de arremates a gol, acerto posicional, “timing” e velocidade nos deslocamentos serão os critérios. Lembremos: tais parâmetros levam em conta também a estratégia de jogo planejada para enfrentamento de adversários mais qualificados que os de 2021.
Em 2003, o Paraná Clube vendeu para a LA Sports metade do passe do Thiago Neves e de outros quatro jogadores em troca de alimentação para os atletas da base. Anos depois, o tricolor vendeu outra parte do passe do jogador para a empresa Systema, ficando só com pequena parcela. Após uma bela temporada pelo Fluminense, o meia foi negociado para o Palmeiras pela LA, que gerenciava a carreira do jogador, mas a Systema não concordou. O craque então se desvinculou da LA e optou pelo tricolor carioca, que então depositou em juízo o valor de 2,6 milhões de reais para ter direito ao jogador. Grana que ficou sob responsabilidade do Paraná. E o que a gestão do Paraná fez? Pegou a sua parte, pagou a LA e não pagou a Systema. A aposta na época era a de que haveria inconsistências nos contratos que garantiriam uma fatia maior para o tricolor, o que não aconteceu.