Brasil de Fato PR - Edição 239

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PARANÁ

Ano 5

Edição 239

25 de novembro a 1º de dezembro de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

O ônibus que não vem

O melhor da história?

Moradores da Região Metropolitana relatam espera e excesso de lotação CAPA | p. 5

Nikão marca gol do bi do Athletico na Sul-Americana

Esportes | p. 8

Divulgação

Wagner Ribeiro

Cultura | p. 7

Artistas protestam Estado quer repassar recursos para universidades e autarquias Giorgia Prates

LUTADORA DO POVO Dona Junia mobiliza e responsabiliza comunidade para melhoria de vida Perfil | p. 6

Editorial | p. 2

O nariz de Paulo Guedes Ministro da Economia geriu câmbio em benefício próprio

Brasil | p. 4

Escola com medo Professores e alunos falam das dificuldades de voltar às aulas


Brasil de Fato PR 2 Opinião EDITORIAL

Paraná, 25 de novembro a 1º de dezembro de 2021

Para combater a violência política de gênero é preciso constância e sororidade OPINIÃO

Guedes, o ministro do A próprio bolso

Anne Moura,

Feminista, indígena, manauara. Secretária Nacional de Mulheres do PT. Criadora do Projeto Elas Por Elas. Participa do grupo de mulheres do Foro de São Paulo e da Copppal

O

s brasileiros estão cada vez mais endividados. Em Curitiba, 91% das famílias têm dívidas para pagar. A comida, a energia elétrica, o gás, o combustível: tudo está mais caro, menos o valor do salário. Para o povo, muitas vezes a saída para sobreviver é se endividar. Na contramão do desespero dos mais pobres, Paulo Guedes teve um segredo revelado há algumas semanas: o ministro da Economia de Bolsonaro, em conjunto com sua esposa e filha, possui mais de 54 milhões de reais fora do Brasil, em um paraíso fiscal. No dia 23, Guedes prestou depoimento na Câmara dos Deputados e admitiu que usa estas contas, nas Ilhas Virgens Britânicas, para não pagar impostos, tanto no Brasil, onde o sistema tributário deveria ser o principal responsável, como nos EUA. E o pior: ele tomou decisões políticas no Ministério que mantiveram a desvalorização do real brasileiro diante do dólar, o que elevou sua própria fortuna, escancarando conflito inaceitável de interesses. Em resumo, enquanto os mais pobres sofrem com a alta dos preços e se endividam para sobreviver, Guedes foge dos impostos e, cinicamente, fica cada vez mais rico. É apenas ministro do próprio nariz.

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s mulheres progressistas eleitas, sobretudo em 2018 e 2020, vêm enfrentando ataques constantes contra suas vozes e seus mandatos. Nesses 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres e nos 20 dias de ativismo do combate ao racismo, é importante destacar que o neoliberalismo ataca a nossa existência, sobretudo das mulheres negras, em todas as esferas de nossas vidas. O machismo, o racismo e a lgbthomofobia - eixos estruturantes do sistema capitalista - violentam as nossas

formas de andar, de agir, de empreender, de resistir, regulam nossos corpos, nossos sonos, nossos descansos, nossa fome, nossas ambições materiais, sociais e até políticas. Por isso que quando se trata de uma mulher ocupando um espaço político, em defesa da democracia, é uma imagem escandalosa para o conservadorismo tradicional. Inúmeros têm sido os casos de violência política contra as mulheres nas casas de parlamento em todo país - pesando ainda mais forte sobre as mulheres negras, jovens e lgbt’s que sofrem com o racismo, o etarismo e a homofobia dizendo a todo momento que ali não é lugar para elas. E, se por um lado, há um profundo silêncio da cobertura da grande mídia

sobre o tema, por outro também há uma seletividade e uma inconstância oportunista dos campos políticos ao abordarem o tema. Em tempo, é importante frisar, a violência política contra as mulheres não é contra os argumentos que ela apresenta em um determinado momento na tribuna, e sim trata-se de um ataque justamente ao direito de uma mulher falar e defender uma visão de mundo e, principalmente, ao direito dela incidir diretamente sobre a transformação do mundo. Não queremos ser tratadas apenas como beneficiárias de políticas públicas, queremos justamente o direito de decidir sobre elas... Artigo completo no site do Brasil de Fato

SEMANA

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 239 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Anne Moura e Fernando Prioste ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 25 de novembro a 1º de dezembro de 2021

A Frente Parlamentar do Pedágio realizou audiência pública com o tema “Fim dos Contratos de Pedágio no Paraná: 1997 – 2021. Diagnóstico dos problemas, do passivo das estruturas e litígio nas concessões”, na terça (23). Deputados e especialistas debateram estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), encomendado pela Assembleia Legislativa. Para os especialistas, a nova proposta de concessão tem duplicidade de obras, que é prejudicial aos paranaenses. Eles criticam a falta de transparência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), sugerem a cobrança de um pedágio de manutenção e a criação imediata de um comitê técnico. O presidente da frente parlamentar, Arilson Chiorato (PT), destacou que o fim dos contratos não termina de maneira positiva e que existem muitos desafios pela frente com o novo contrato, que pode durar mais 30 anos. “O Paraná sofreu com as empresas de pedágio. Obras não foram realizadas, preços superfaturados e muito mais. E, para encerrar, se espera do poder público a responsabilização dos que trouxeram prejuízos. Essa audiência ainda discutiu o novo processo, que possui irregularidades que estão sendo ignoradas pela ANTT. Um novo contrato precisa ser transparente e sem tantos erros”, disse.

Geral

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QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

Novo pedágio tem duplicidade

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“Olha o preço das coisas, olha os preços de tudo aqui no nosso país, essa economia que o senhor (Bolsonaro) disse que ia salvar, essa é a salvação da economia?” No seu Instagram, a cantora Anitta questionou o presidente, após ter sido atacada por Bolsonaro em sua live semanal.

Divulgação

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Moro comunista

A serviço dos EUA

Da série inacreditável. Em programa da TV Jovem Pan (Jovem Klan?), o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles disse que o ex-juiz Sérgio Moro, “É de esquerda... é contra as armas, ele é a favor de drogas. Ele é comunista. O Moro é comunista, lógico que ele é comunista”, disse. Difícil saber se Salles não sabe o significado das palavras ou está apenas atirando em Moro usando fantasmas que a extrema direita sempre mobilizou contra adversários.

Em entrevista ao site DCM, John Kiriakou, ex-agente da CIA condenado por vazar informações sobre o programa de torturas de prisioneiros da Al Qaeda, quando questionado sobre a participação dos EUA nos processos da Lava Jato e na atuação de Moro e Dallagnol, disse: “Esta não é uma teoria da conspiração. Esse é um excelente exemplo da interferência dos Estados Unidos nos assuntos internos de outro país...”

Mídia namora com ex-juiz

Como os EUA agem

Jornalões e TVs da velha mídia já elegeram o Em outro trecho, Kiriakou descreve a ação dos ex-juiz da Lava Jato como seu candiEUA: “Olhe o Brasil, olhe o presidente Lula, dato em 2022. Cobertura ao violhe para Dilma Rousseff, eles não tivo de seu discurso de filianham más intenções contra os Esção a um partido e série de tados Unidos. Eles foram eleientrevistas em TVs mostos democraticamente em seu tram que será o anti-Lula país e os Estados Unidos decida vez da velha mídia. O diram: “Não gostamos deles, problema são as pesquiqueremos alguém bem mais sas, que mostram o exà direita”... Um programa foi juiz em posição ruim, só traçado para destruí-los e astendo chance se tirar Bolsim o pobre presidente Lula sonaro do segundo turacabou na prisão, a presidenta no. Aí reside parte da expliDilma Rousseff acabou com a recação dos ataques de Salles e putação destruída e o mundo acabolsonaristas a ele. bou com Jair Bolsonaro. Divulgação

É ESSE?

Fernando Prioste

Racismo é crime A Constituição Federal prevê, no art. 5º, que racismo é crime. Toda pessoa que praticar ou estimular ações de preconceito por questão de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional deve responder por esses crimes e, comprovada a prática, cumprir pena. Existem na lei dois tipos de crimes relacionados ao racismo. A injúria racial está prevista no art. 140, §3º do Código Penal, com pena de um a três anos de prisão, e comete esse crime a pessoa que ofender a dignidade de alguém através de falas relacionadas à raça, cor ou etnia. Já o crime de racismo está previsto no art. 20 da Lei 7.716/1989, com pena que pode chegar a três anos, e comete esse crime a pessoa que ofende não apenas uma pessoa específica, mas uma coletividade, um grupo de pessoas. No crime de racismo estão previstas penas que podem chegar a cinco anos para quem fabricar, comercializar e distribuir símbolos nazistas. Recentemente o Supremo Tribunal Federal decidiu que racismo e injúria racial são imprescritíveis e inafiançáveis. Ou seja, a pessoa que comete racismo não tem direito à fiança e pode responder por esse crime mesmo que ele tenha ocorrido há muito tempo. Se você foi vítima de racismo, sempre é tempo de denunciar! Fernando Prioste Advogado e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares


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Paraná, 25 de novembro a 1º de dezembro de 2021

“Este ano tem que acabar’’: medo de contágio e outras marcas da pandemia

Giorgia Prates

Desde setembro aulas presenciais ocorrem no Paraná. Funcionários, professores e alunos falam de suas dificuldades Gabriel Carriconde

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atheus Bregenski é aluno do Colégio Estadual do Paraná, do terceiro ano do ensino médio. Vacinado com a primeira dose, assim como seus colegas de sala, tem tentado adaptar-se à velha nova rotina depois de boa parte de seu ensino médio ter acontecido entre aulas on-line ou com poucos colegas em sala. “Minha experiência de voltar para o colégio, depois do modelo on-line, tem sido um pouco frustrante, principalmente pela Variante Delta. Tomei apenas uma dose, mas moro com meus avós, que são do grupo de risco, vou porque preciso, mas vivo preocupado em botar a vida deles em risco”, relata. A realidade do jovem Matheus tem sido a de diversos outros estudantes, professores, pedagogos e funcionários da rede estadual de ensino no Paraná. Passados quase dois anos do início do estado de emergência sanitária, as marcas deixadas pela pandemia são profundas, e os desafios enormes para a retomada, ainda ameaçada pela possibilidade de uma quarta onda da pandemia no Brasil. A professora de Sociologia do município de Cambé, Camila Torres, conta que desde que voltou ao “normal”, tem sido difícil e diferente ter que lidar novamente com alunos e colegas de trabalho. A professora, que atualmente está afastada, relata sentir pânico de ouvir o sinal tocando, e afirma que a maioria tem desrespeitado as nor-

mas sanitárias, levando até a certa “banalização da doença”, na comunidade escolar, e que tem dificuldades em lidar com salas lotadas e falta de circulação de ar. “Exceto por dois ou três colegas, os demais aceitam sem grandes questionamentos, não se importam com salas lotadas, ausência de circulação de ar, falatório, refeitório lotado ou sala dos professores com janelas fechadas. Esse é o cotidiano”, conta. Com problemas em sua saúde mental, Camila pretende recorrer juridicamente para ter direito à reposição sem ter o salário descontado, por ter medo da pandemia. “Estou sem perspectiva, pois nossa disciplina estará numa única série, me inscrevi no curso de formadores, a contragosto. Já tive duas

vezes minha perícia indeferida.” Rodrigo Tomazini, funcionário de escola, afirma que sente que o desejo de todos é que o ano acabe logo. Conta que o aumento da evasão escolar tem sido grande, assim como a dificuldade para os estudantes irem para a aula. “Muitas vezes os pais perderam o emprego e preferem que os estudantes fiquem em casa, já que os custos de deslocamento, por van, transporte coletivo, ou carro, têm sido altos, o medo também tem sido muito grande, muitos preferem ficar on-line, ou até desistiram.” Fora da escola De acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a evasão escolar no Brasil atinge 5 milhões Giorgia Prates

de alunos. Durante a pandemia de Covid-19, esses números aumentaram em 5% entre estudantes do ensino fundamental e 10% no ensino médio. Para os que ainda estão matriculados, a dificuldade foi de acesso, com 4 milhões de estudantes sem conectividade. Matheus, que pretende fazer vestibular neste ano afirma que sentiu na pele as dificuldades de estudar na pandemia, diz que ainda não conseguiu pegar ritmo. “A pandemia mexeu muito com minha saúde mental, então fiz a prova do Enem desestabilizado. Eu sou péssimo com EAD, acho horrível, a qualidade é péssima, não aprendi nada no ano passado, mas o retorno presencial foi muito precoce a meu ver, é muito difícil manter o distanciamento social.” Além das dificuldades financeiras, de saúde mental, e o medo do contágio, em comum entre Camila, Rodrigo e Matheus, está o convívio com o luto deixado pela pandemia. “Tenho vários colegas de sala de aula que perderam entes queridos, e vejo como tem sido difícil lidar com o luto, muitas vezes são pessoas que sustentavam a casa”, relata Matheus. A Secretaria de Educação do Estado foi procurada pela reportagem do Brasil de Fato Paraná para esclarecer a respeito das dificuldades enfrentadas pelas escolas na volta ao modelo presencial, e quais ações a pasta prevê em auxílio psicológico, financeiro e social. Até o momento do fechamento desta reportagem não houve resposta da Secretaria.


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Moradores da RMC relatam espera de 50 minutos para pegar ônibus

Usuários também denunciam falta de segurança e condições precárias de veículos na volta ao trabalho presencial Ana Carolina Caldas

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om a flexibilização das normas de prevenção ao coronavírus, moradores do município de Fazenda Rio Grande, Região Metropolitana de Curitiba, voltaram ao trabalho presencial, mas se depararam com a falta de ônibus nas linhas metropolitanas, fazendo com que a maioria dos usuários fique até 50 minutos aguardando nos pontos e terminais. Relatam que muitas pessoas desistem de esperar e acabam indo a pé ou chamando um motorista de aplicativo. Movimento organizado por moradores também reivindica o aumento da frota

e denuncia condições precárias dos veículos e a falta de segurança nos terminais. Esse movimento vem realizando protestos em frente ao terminal de Fazenda Rio Grande e pedindo diálogo tanto com a Prefeitura da cidade, como com o governo do estado, via Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – Comec. Até agora, não obtiveram retorno. Segundo Wagner Ribeiro, um dos organizadores do movimento, há omissão e falta de interesse dos governos. “Fizemos essa manifestação pedindo respostas. Continua com a mesma frota. Há omissão e desinteresse por quem está sofrendo as consequências, o povo de

Fazenda Rio Grande”, diz. A pauta do movimento é acabar com a superlotação com a quebra do monopólio da empresa Leblon Transportes, que administra o trans-

porte do município. “Um dos grandes problemas é ter uma empresa somente responsável pelo transporte coletivo. A empresa pinta e borda. Não

tendo concorrência, temos ônibus quebrados e falta deles nas linhas, com gente que volta do trabalho aguardando quase uma hora”, analisa Wagner. Wagner Ribeiro

De Uber ou a pé de Fazenda Rio Grande para Curitiba com o filho no colo e enfrenta a superlotação. “Eu vou toda semana para Curitiba e tenho criança pequena, preciso levar meu filho no colo. Sempre lotado. Outro lado é a falta de segurança nos terminais, não tem ninguém lá cuidando, nenhum policiamento. Já aconteceram muitos arrastões. Eles se aproveitam do pessoal lá dentro esperando mais de uma hora. Dá medo também de pegar o vírus porWagner Ribeiro

São vários os depoimentos de moradores que enfrentam dificuldades no seu dia a dia. “Moro no Santa Terezinha e, muitas vezes, quando não consigo ir pegar minha filha no terminal, ela acaba pedindo Uber porque está cansada e não aguenta ficar esperando 50 minutos para o próximo ônibus, diz Katiusce Barrios. O mesmo problema enfrenta a moradora Rosimeire: “Não tenho mais como ficar esperando tanto tempo e preciso então pegar um táxi no terminal para fazer o próximo trecho. O ônibus que vai até Santa Terezinha demora 50 minutos para chegar aqui no terminal, conta. “Eu moro no bairro Estados 1. O que eu vejo é a maioria das pessoas todos os dias desistindo de pegar o segundo ônibus e saindo a pé para ir para casa uns 3 quilômetros”, relata Cátia Regina, moradora de Fazenda Rio Grande. Já Luciane Xavier Costa de Jesus conta que diariamente precisa sair

que é muito lotado. Além do medo, a gente se sente humilhada, andando desse jeito”, conta. A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Comec, com a Prefeitura de Fazenda Rio Grande e com a Empresa Leblon. Em nota, o presidente da Comec, Gilson Santos, disse que o grande problema é o intenso tráfego que acontece nessa região. “Estes casos ocorrem, pois essa linha possui como grande parte do seu trecho a BR-116, que é a principal e praticamente única via de ligação entre os dois municípios. Qualquer ocorrência nessa via impacta diretamente a operação, mas são casos atípicos e que infelizmente fogem do controle da Comec. A Comec tem realizado diversas reuniões com Prefeitura de Curitiba, Prefeitura de Fazenda Rio Grande, Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura, Arteris, entre outros órgãos, buscando uma solução

para o problema do tráfego intenso na região.” Sobre os problemas de segurança, Gilson informou que “a Comec realizou diversas reuniões com a Polícia Militar, buscando uma solução para o problema. E a PM tem realizado diversas operações em ônibus e terminais que, inclusive, já resultaram na prisão de suspeitos.” A respeito da manutenção dos veículos, a nota diz que “todos os ônibus em circulação estão com as manutenções devidamente em dia e dentro do período máximo permitido para circulação. Mas sabemos que esses veículos são extremamente exigidos, circulando por diversas horas no dia, muitas vezes em engarrafamentos e/ou terrenos de difícil acesso e que eventuais quebras são normais.” Até o fechamento da matéria, não obtivemos retorno da Prefeitura de Fazenda Rio Grande nem da Empresa Leblon Transportes.


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Dona Junia: a verdade com a verdade

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Em tempos de crise, mulher negra liderança da vila Joanita oferece lição de educação popular Pedro Carrano

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ma antiga chácara de mato alto foi sendo desbravada pelos moradores. Construíram toda a estrutura: água, luz e itens de urbanização, até a inconstante e breve aparição do poder público. Em 1992, a posse da área foi cedida para alguns moradores por Joanita Rosa da Silva, fundadora que acabou batizando a comunidade, a Vila Joanita, no bairro Tarumã, em Curitiba. A narrativa comum em tantas áreas de Curitiba tem a diferença que a Joanita se inscreveu no clube das comunidades que se mobilizam

e agem pelos seus direitos. Uma das responsáveis por esse difícil título é Junia da Costa Carneiro, 57 anos, 8 netos e 5 filhos. Dona Junia, como é conhecida, é a presidenta da associação de moradores, desde 2014, em uma direção, como diz, composta por mulheres. Ela nasceu no Maranhão, de avós indígenas e negros, o que desde cedo lhe enraizou na luta pela terra e contra a exploração. Mais tarde, morou em Brasília, onde se inspirou no exemplo de Benedita da Silva, deputada federal negra e ex-governadora do Rio de Janeiro, até aportar numa CuriGiorgia Prates

tiba que também exigia lutas. A liderança conversa com a reportagem, entre o cuidado com netos e bisnetos, enquanto organiza a correspondência que chega apenas em sua casa para a comunidade de 300 famílias. Envolve-se também com as questões do colégio estadual Paulo Leminski e, no meio de tantas tarefas, ainda proseia com calma, segurança e firmeza. No período de Copa do Mundo, em 2014, foi quando as lutas se intensificaram. Foi ali que sua militância cresceu, com o apoio do Núcleo Periférico e do atual vereador Renato Freitas, uma vez que o presidente da associação à época não se envolveu nas brigas por regularização fundiária. “Os técnicos da Cohab não se comunicam com o povo, o povo quer saber se vai ficar ou sair do local. Não temos uma secretaria municipal de habitação, é o morador quem valoriza o local”, afirma, ressaltando a atual ausência do poder público sobre o tema da moradia, que para ela é central na região, assim como o asfalto e a drenagem contra enchentes.

Responsabilidade e envolvimento Na condição de liderança popular em um momento de difícil mobilização, devido à crise econômica, falta de trabalho e também à cultura de não participação, pode parecer que Junia carrega nos ombros toda a carga da comunidade. Mas a realidade está longe disso. Ela incentiva as iniciativas dos moradores, mesmo aquelas com as quais não concorda, desde que haja organização e responsabilidade com o que se está propondo: “Quando alguém sugere a vinda de um ve-

reador, eu pergunto: ‘O que vocês querem de um vereador? Como vão se preparar?’. Se há um coletivo de moradores, o vereador se comporta de outra maneira. ‘Há um projeto? Quem é o engenheiro?’ Temos que falar verdade com verdade”, ensina. Ela avalia que a parceria com os movimentos populares, caso do MST, fortalece a caminhada da associação. Mas advoga por mais integração entre as próprias associações de moradores, muitas das quais hoje debaixo da asa do prefeito Ra-

fael Greca (DEM). Outra questão é a pressão sobre a Câmara Municipal. A associação deve acompanhar as pautas e, literalmente, ocupar a casa, que ainda não é do povo – como Junia fez, ao lado de outras personalidades negras, homenageadas no Dia da Consciência Negra pelos mandatos de Renato Freitas, Carol Dartora e Herivelto Oliveira. “Estou passando aqui para deixar um legado: tem que estudar, entender de licitação, ser um formador na comunidade”, defende.

RESPOSTA

Nota da Cohab sobre a Vila Joanita “A área conta com restrições ambientais - a maior parte das famílias encontra-se na faixa não-edificável imprópria para habitação. Existe a previsão para o reassentamento de boa parte das famílias para a realização de uma obra de drenagem e contenção de cheias a ser implantada pela Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP)”


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Cultura 7

Artistas protestam contra calote na cultura e reivindicam distribuição de recursos da Lei Aldir Blanc

DICAS MASTIGADAS

Canoa de berinjela

Giorgia Prates

Ana Carolina Caldas

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m dos setores mais afetados pela pandemia foi o das artes e entretenimento. Só no final do ano de 2021, os trabalhadores da cultura começam a retornar aos palcos e eventos. Nesses dois anos, muitos chegaram a passar fome ou desistiram da profissão. Para garantir a sobrevivência do setor, após grande mobilização, foi aprovada a Lei Aldir Blanc em junho do ano passado, como apoio financeiro emergencial. Porém, no Paraná, o governo do estado decidiu, sem consulta a artistas, distribuir cerca de 40 milhões de reais desse dinheiro para autarquias e universidades. Para protestar contra a decisão, artistas realizaram uma manifestação, na terça-feira, 23, em frente à Assembleia Legislativa do Paraná. A mobilização denominada “Ato contra o calote na cultura do Paraná” reuniu artistas, técnicos e operadores da cultura, que pediram diálogo com deputados e o governo do estado para que os recursos sejam redistribuídos aos profissionais da arte e da cultura.

“Para 2021, ainda tínhamos para ser repassados aos artistas cerca de 72 milhões de reais, que já estão no fundo da cultura. Porém, a Superintendência da Cultura do Paraná decidiu que esse recurso será administrado por autarquias, fundações e universidades. Ou seja, vão terceirizar a execução do benefício, que tem caráter emergencial. Faltando menos de 40 dias para acabar o ano, não sabemos para onde vai, como e quando será distribuído esse recurso, que já deveria estar na mão dos profissionais”, explica o presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Paraná (Sated), o ator e diretor Adriano Esturilho. São vários os casos de profissionais da arte e da cultura que dependem desse dinheiro para a sobrevivência. O iluminador cênico Luiz Nobre lamenta que o governo do estado seja insensível para a situação crítica dos artistas. “Em vários lugares do Brasil, as secretarias de cultura fizeram o que tinha que ser feito: com o dinheiro chegando na mão do trabalhador. Aqui foi feito errado desde o começo. No caso dos técni-

cos, só fizeram edital porque pedimos, pois literalmente esses profissionais estavam passando fome em casa. Mas fizeram editais superburocráticos, falta de comunicação, ou seja, só apresentaram dificuldades. Posso afirmar que 90% dos técnicos não se beneficiaram”, diz Luiz. No ano passado, o Paraná estava entre os estados que menos repassaram recursos da Lei Aldir Blanc. O dinheiro enviado pelo governo federal chegou a pouquíssimas mãos, resultando em execução de apenas 15%, segundo dados do Ministério do Turismo, sendo o terceiro pior estado na distribuição. Nota do governo Em nota enviada ao BDF-PR, a SuperintendênciaGeral da Cultura afirma que: A experiência do ano de 2020 mostrou que apesar da SECC ter disponibilizado 100% dos recursos da LAB, em torno de 25% dos recursos chegou (SIC) à classe em razão das dificuldades operacionais no ato de participação de editais. A fim de promover o acesso mais amplo aos editais, a SECC definiu como estratégia de ação realizar curso de qualificação em cultura... Estabeleceu parcerias técnicos operacionais por meio da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que já está operacionalizando a Bolsa Qualificação; Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual do Paraná (Unespar); Teatro Guaíra e Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar)...” E afirmou que: “Os recursos da Lei Aldir Blanc têm destinação integral para os agentes culturais do estado... Leia a íntegra da nota em www.brasildefatopr.com.br

Mariana Medvedeva | Unsplash

Mais de 40 milhões serão transferidos pelo governo do Paraná a autarquias e universidades

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 2 berinjelas orgânicas 1 cebola orgânica 2 dentes de alho orgânico 2 tomates orgânicos 2 colheres de sopa de azeite Sal e pimenta do reino e folhas de manjericão a gosto Queijo parmesão ralado Modo de Preparo Preaquecer o forno a 180°. Lave as berinjelas e corte no sentido mais comprido, dividindo. Retire a polpa com a ponta da faca delicadamente e deixe uma borda de cerca de um centímetro. Pique a polpa e reserve. Corte e pique cebola e alho em pedaços pequenos. Leve à frigideira, coloque azeite e deixe dourar. Depois, acrescente a polpa da berinjela para refogar também. Quando a polpa já estiver macia, acrescente os tomates picados e o manjericão. Deixe incorporar esses novos ingredientes. Coloque sal e pimenta. Apague o fogo e, com uma colher, preencha as canoas de berinjela. Coloque em uma assadeira e salpique o queijo parmesão. Depois, leve ao forno para gratinar.


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O herói e seu mito

ELAS POR ELA Fernanda Haag

O gol de Nikão, que deu o bicampeonato da SulAmericana ao Athletico, jamais será esquecido

A despedida

Douglas Gasparin

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oda história mitológica precisa de seus heróis, e a história do Athletico já tem mais um integrante em seu panteão: Nikão. Sua trajetória de vida é uma síntese das contradições que marcam o que é a vida de muitos futebolistas e trabalhadores brasileiros. Com apenas 8 anos, Nikão perdeu a mãe. Não conheceu o pai. Passou aos cuidados da avó, que faleceu quando o garoto tinha apenas 16 anos. Como se não fosse o bastante, um ano depois perdeu o irmão. Diante de tantas tragédias, o futebol apareceu como esperança. Mas havia uma grande provação pelo caminho: o alcoolismo, que acabou por atrapalhar seu desenvolvimento em campo. Com altos e baixos, Nikão rodou por várias equipes: Palmeiras, Santos, Galo, Vitória, Bahia, Ponte Preta, América MG, Linense e, por fim, chegou ao Ceará. No Vozão seu desempenho foi tão ruim que acabou tendo seu contrato rescindido antes mesmo de a série B acabar. E foi assim que chegou ao Furacão em 2015: acima do peso, com dificuldades ligadas ao alcoolismo, sem condições físicas ou técnicas e com uma carreira perigando terminar precocemen-

Divulgação

te. Lembro bem que, ainda em 2018, parte da torcida rubro-negra desconfiava de Nikão. Mas isso durou até o primeiro título da Sul-Americana. Em seguida, uma Copa do Brasil vencida com grandes atuações, especialmente nas semis contra o Grêmio. No último sábado, a coroação de uma trajetória brilhante. O gol de Nikão, que nos deu o bicampeonato da Sul-Americana,

jamais será esquecido. Foi sem dúvida um dos momentos mais incríveis da nossa história. Músicas serão cantadas em sua homenagem, filhos receberão seu nome, estátuas serão levantadas. Ao herói que cumpriu sua trajetória mitológica, deixo aqui minhas singelas palavras que são incapazes de descrever minha felicidade: obrigado, Nikão! Você é o maior da história do Athletico Paranaense!

Quinta-feira, 25, às 22h, a Seleção Brasileira entra em campo contra a Índia, no Torneio Internacional de Manaus. Não é apenas mais um jogo de Data Fifa, é a partida de despedida de Miraildes Maciel Mota, mais conhecida como Formiga, ou ainda um dos maiores nomes do futebol mundial, após 26 anos dedicados à Amarelinha. Quando nasceu, em 1978, o futebol ainda era proibido para as mulheres e ela precisou lutar para jogar bola quando criança, e isso é só um pouco dos muitos desafios que ela enfrentou para realizar o sonho de jogar bola. Mas desafiar o padrão também sempre foi uma de suas especialidades. Isso fica claro em toda a sua trajetória de sucesso. Foram 7 Copas do Mundo, 7 Olimpíadas, duas medalhas de prata olímpicas, um vicecampeonato na Copa de 2007, três ouros Pan-Americanos e ainda é recordista absoluta de jogos com a camisa do Brasil, 233 (o segundo lugar é de Cafu, com 149). Será um momento de muita emoção e digno de um estádio lotado gritando “FORMIGA”. A CBF não ajudou nessa parte, pois divulgou as informações completas do jogo só na terça-feira e o ingresso mais barato custa R$ 80. Independentemente desse descaso, Formiga merece o mundo. Para acompanhar, haverá transmissão do SporTV.

Urgência, mas com cautela

Caso Neves – Parte III

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Reunião com o atual treinador, Gustavo Morínigo, e seu agente no próximo sábado, 27/11, está agendada pelo presidente coxa-branca, Juarez Moares e Silva, que estará acompanhado de seus pares do Conselho Administrativo. Na pauta, defi nição da permanência da comissão técnica para a próxima temporada, lista de dispensa de jogadores e chegada de substitutos com ganho qualitativo. O grau de dificuldade exigido do clube para 2022 impõe elevado índice de acerto nas escolhas que serão feitas, buscando maximizar o retorno técnico em cenário financeiro ainda longe do ideal, dadas as limitações orçamentárias que serão expostas aos demais conselhos do clube na semana que vem. Prevê-se que os primeiros atletas sejam experimentados desde o início do Campeonato Estadual, ficando os demais para abril, quando é fechada a “janela de contratações”, que será reaberta só em 18 de julho.

A dívida do tricolor com o empresário Leo Rabello referente ao caso Thiago Neves foi quitada em 2017. No entanto, em 2014 ocorreu um fato importante nessa história. A diretoria da época abriu um processo judicial contra os ex-presidentes José Miranda e Aurival Correia pelo passivo deixado no caso. Mas a tentativa não foi longe. A retirada desse processo foi uma das condições para o grupo autodenominado ‘Paranistas do Bem’ investir 4 milhões de reais no Paraná em 2015. A outra condição era a renúncia do então presidente, Rubens Bohlen. Já em 2021, foi a vez do Paraná ser condenado na ação movida pela outra parte envolvida, o empresário Luiz Alberto Oliveira, da LA Sports. O tricolor ainda pode negociar, mas a dívida está hoje em R$ 20 milhões. Vale dizer que a mesma LA tem sido sondada para fechar uma nova parceria com o Clube em 2022.


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