Brasil de Fato PR - Edição 217

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PARANÁ

Ano 5

Edição 217

24 a 30 de junho de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Professores e funcionários de escolas fazem apelo desesperado ao governo. Só em junho, 15 morreram por Covid. Desde o começo da pandemia, são cerca de 200 Paraná | p. 5

Giorgia Prates

Brasil| |p.p.26e 3 Editorial

Cidades | p. 4

Internet: direito urgente

O fim de Moro? Ex-juiz é rechaçado nos EUA e considerado parcial pelo STF

Divulgação

Sem acesso à rede, comunidades sofrem mais dificuldades


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 24 a 30 de junho de 2021

A gente quer viver pleno direito

SEMANA

OPINIÃO

Marcel Malê Szymanski

Ator, Professor e Pesquisador das Artes da Cena

N

O comandante da operação que tentou destruir o Brasil

EDITORIAL

P

or onde anda o ex-juiz Sérgio Moro? Esta semana ele foi flagrado nos EUA por uma jornalista que o filma e diz: “Aqui está o homem que destruiu o Brasil”. No histórico da atuação, consta a parceria com a mídia com intenção de manipular a opinião pública, as condenações sem provas, o alinhamento com interesses estadunidenses e, sobretudo, o enfraquecimento da Petrobras e de empresas na-

cionais do ramo da construção civil, naval e frigorífico. Virou ministro de Bolsonaro como recompensa explícita por tornar inelegível Lula, único candidato com chances de derrotar o atual presidente. Mas a contradição veio com as descobertas do site The Intercept Brasil, o derretimento de seu projeto de segurança e, por fim, com o STF julgando a parcialidade de sua atuação. Moro segue quase “fora-

gido” no exterior, rechaçado em fóruns acadêmicos e impedido de advogar, contudo ele ainda sonha com a presidência. Trata-se do típico homem com sede de poder, que ignora as consequências de seu atos. Por isso seguiremos denunciando os crimes e o projeto de Moro, que muitos ainda querem levar adiante, pois tentam acabar com a Constituição e com a capacidade produtiva do Brasil.

unca foi tão difícil o simples ato de respirar. Durante o ato realizado no dia 29 de maio contra o genocídio de mais de 450 mil pessoas (hoje já ultrapassadas 500 mil); por vacina, pelas universidades públicas, pelo voto eletrônico secreto, pelo auxílio emergencial digno, contra a maior taxa de desemprego da História, contra o negacionismo e pela democracia; ao fazer uma parada estratégica para troca de máscara, diante do prédio do Teatro Guaíra, que ocupa uma quadra inteira, com pelo menos quatro entradas, dois dos três seguranças do teatro se dispuseram a cuidar da minha presença com intimidação. Mesmo um deles me reconhecendo (pois tive minha entrada no teatro interrompida por sua abordagem seletiva algumas vezes) e sabendo que sou ator que frequentemente presta serviços na casa, solicitaram que eu abandonasse a frente de um dos auditórios, informando que não era permitido permanecer ali, naquele espaço público. Minutos de constrangimento e humilhação que pareceram um século. Aliás, quatro séculos. Numa sociedade que se estrutura tendo o racismo como base, o racismo institucional se estabelece na

desigualdade de tratamento que negros, negras e negres recebem em relação à branquitude dentro de uma instituição. Conforme estudo realizado pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, em 2013 -, o racismo institucional é um dos modos de operacionalização do racismo patriarcal heteronormativo (é o modo organizacional) para atingir coletividades a partir da priorização ativa dos interesses dos mais claros, patrocinando também a negligência e a deslegitimação das necessidades dos mais escuros. As motivações que levaram milhares de pessoas às ruas no dia 29 de maio são opostas às motivações de muitos agentes de segurança pública e privada, como os do teatro, que agiram legitimados e autorizados pelas lideranças desta sociedade. É dever da instituição se responsabilizar para evitar novos episódios como este. Neste dia, mais uma vez, não tive a oportunidade de realizar o que reivindicava minha placa levada à manifestação: a gente quer viver pleno direito.

Minutos de constrangimento e humilhação que pareceram um século. Aliás, quatro séculos

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 217 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Marcel Malê Szymanski ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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É ESSE?

“500 mil mortos no Brasil! Não são apenas números. É uma terrível consequência da negligência da gestão do atual governo Bolsonaro”

Paulo Guedes foi condenado por ataques ao funcionalismo público

Fernando Frazão | Agência Brasil

Geral

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

O ministro da Economia não tem uma relação amistosa com o funcionalismo público brasileiro e foi condenado por ataques aos servidores. Ele, que é responsável pela reforma administrativa que desestrutura o serviço público no país, segundo especialistas, teve que indenizar o Sindicato dos policiais federais no estado da Bahia (Sindipol/BA) em R$ 50 mil por ofensas à categoria. O ministro foi condenado por chamar servidores de parasitas e assaltantes dos cofres públicos. Motivo pelo qual foi configurado como dano moral coletivo no presente caso, cabendo o pagamento de indenização. A decisão é de Cláudia da Costa Tourinho Scarpa, juíza federal da 4ª vara da Bahia. Para a magistrada, Paulo Guedes “excedeu barbaramente os limites impostos pela finalidade econômica e social de um pronunciamento de Ministro de Estado, pois atacou – despropositadamente - a categoria dos servidores públicos”. Na decisão, a juíza ainda disse que outras categorias podem pedir reparação do dano.

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Divulgação

Disse a campeã do BBB deste ano, Juliette, que complementou: “Eles tinham como ter evitado essa tragédia. É claro que é #ForaBolsonaro.”

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

O escândalo da vacina

Cai o dono da boiada

Estourou nesta semana escândalo na compra aparentemente superfaturada da vacina indiana Covaxin pelo governo federal. O caso foi denunciado pelo deputado bolsonarista Luís Miranda (DEM-DF). O deputado é irmão de um funcionário de carreira do Ministério da Saúde que teria sofrido pressão para comprar a vacina por preço dez vezes maior do que a primeira oferta, antes da aprovação da Anvisa e por meio de uma empresa intermediária, cujo sócio é acusado de receber por remédios e não entregues ao ministério. O deputado alega ter informado Bolsonaro das irregularidades em março e, aparentemente, nada foi investigado.

O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, pediu demissão do governo Bolsonaro na quarta, 23, alegando “motivos familiares”. Porém, Sales cai depois da denúncia de favorecimento à venda de madeira ilegal por empresas na Amazônia. Investigação da Polícia Federal apura se atuou para afrouxar o controle do Ibama sobre a exportação de madeira.

MP no caso A partir das denúncias, foi pedida investigação criminal e cível sobre o caso. No despacho em que pede ajuda da esfera criminal, a procuradora do Ministério Público responsável revela um caminho que pode levar a um grande esquema de corrupção no centro do governo Jair Bolsonaro em meio à pandemia. E que envolveria também lobby do deputado federal Ricardo Barros (PP -PR) em defesa da empresa Global Gestão de Saúde, controladora da Precisa Medicamentos, envolvida nas denúncias.

Moro parcial O Supremo Tribunal Federal terminou também na quarta, 23, julgamento em que considerou parcial o julgamento do juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Lula no processo do tríplex do Guarujá. Por 7 votos a 4, o STF confirmou decisão da segunda turma. Todas as medidas tomadas pelo ex-juiz, nesse caso, serão anuladas.

Mariana Auler

Um governo contra os professores Após mais de ano de falta de planejamento e organização do ensino remoto e da vacinação no país, se espera que professores façam o sacrifício de retorno às atividades presenciais como se tivéssemos condições para tanto. O governo tenta plantar a ideia de que professores estariam acomodados no trabalho remoto, mas essa afirmação só pode ser aceita pela completa ignorância das condições do trabalho nesse período. O Paraná tem sido marcado pela desorganização e pelo autoritarismo, com mudanças repentinas de orientação sobre a gestão dos sistemas virtuais, falta de disponibilização de equipamentos adequados e aumento da jornada de trabalho. Não é cômodo, portanto, manter-se no ambiente virtual. Além disso, vivemos ainda uma situação de letargia da sociedade com a total banalização do risco que o retorno às aulas tem implicado. Em suma, a política do governo estadual para os professores pode ser sintetizada em uma escalada de desrespeito a direitos humanos e trabalhistas, passando do congelamento dos planos de carreira, a jornadas extenuantes até o desrespeito à própria vida. Se temos a educação como um de nossos grandes valores, é preciso que estejamos atentos a como nosso governo tem tratado os educadores, pois sem professores não há educação. *Advogada e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares


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Acesso à internet: um serviço ausente em áreas de ocupação “As classes C e D não acompanharam esta evolução e foram jogadas à margem”, afirma especialista Giorgia Prates

Pedro Carrano

O

Brasil é um país com boa parte da população conectada à internet. Ao todo, são 120 milhões de pessoas, atrás somente dos EUA (242 mi), da Índia (333 mi) e da China (705 mi), com populações maiores que a brasileira, segundo dados de 2018. Mas, para áreas periféricas, rurais e ocupações urbanas, o acesso a esse serviço é inexistente ou inconstante, o que prejudica aspectos do trabalho e do acesso à educação e cultura, o que se agrava com a crise econômica e sanitária. No caso de áreas de ocupação recentes, por exemplo, da Nova Guaporé, em Curitiba, moradores usam a internet apenas no celular, carregando semanalmente um pequeno pacote de dados. Um serviço de internet gratuito disponível nas periferias ajudaria a quem neste momento sofre com desem-

prego e que poderia anunciar seus produtos a partir de casa, contribuindo também com o distanciamento social necessário. Ou para que filhos pudessem fazer aulas remotas. Em 2018, de acordo com estudo de Deborah Silva e Maria Tereza Kerbauy, a internet chegava a 79,1% do total de residências. Avanço de cerca de 5 pontos percentuais em relação ao ano anterior, quando estava em 74,9% dos domicílios. Mas somente 43% dos domicílios tinham computadores para acessar a rede. De seis famílias da Nova Guaporé que conversaram com a reportagem, todas têm apenas celular, com o qual têm gasto mensal médio de R$ 60. Com isso, as atividades tantas vezes se resumem a mensagens via WhatsApp. O pacote é insuficiente para o estudo dos filhos, confirma uma das famílias entrevistadas. As atividades escolares limitam-

se, então, à busca de tarefas na escola. A internet, ao lado disso, neste momento de pandemia, é um insumo essencial para o trabalho. O morador da ocupação, Alex Vianna, tem quatro filhos e uma companheira, com quem se divide no trabalho de coletor de materiais reciclá-

veis. Ele também mantém um plano mensal de celular por conta dos trabalhos periódicos de entrega via aplicativo. Já Valeria Rodrigues da Silva e outras mulheres estão inaugurando o Atelier de Costura da Guaporé e gostariam de contar com uma rede gratuita para po-

der vender os produtos feitos. “Seria importante o acesso à internet para acessar lives, vídeos e conteúdos no YouTube”, afirma também morador da área. *Com dados da dissertação Fake News das Eleições de 2018: entre a cultura “isolada” e a influência eleitoral, de Frédi Vasconcelos

Giorgia Prates

Tema é debatido na Alep No dia 22 de junho, o mandato do deputado estadual Professor Lemos (PT) organizou audiência pública sobre o tema da internet, a princípio refletindo sobre a ausência em comunidades no meio rural. “A educação do jovem do campo já enfrentava problemas, e com a pandemia tem mais esse problema, que é a internet”, exemplifica Luana Brambilla Kappaun, organizadora do evento, citando Marcos Mazoni, ex-presidente da

Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar), para quem a acessibilidade é possível se houver políticas públicas. O mesmo Manzoni expressou na audiência: “As classes C e D não acompanharam essa evolução e foram jogadas à margem, ou perdendo seus empregos ou continuando o trabalho presencial, apinhado-se em fábricas e no transporte coletivo”, pontuou. A audiência pública es-

tendeu a reflexão sobre o problema da falta de acesso à internet e suas implicações em todas as esferas hoje da vida. “Um dos objetivos da audiência também foi criar o debate sobre um plano de internet para todos, onde esse fornecimento e acesso seja tratado como um plano mesmo, como um tema de interesse de todos e do Estado, tendo em vista a importância da internet para as relações humanas”, afirma Luana.


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Paraná

“Parem de nos matar”, pedem professores e funcionários de escola

MINISTÉRIO PÚBLICO

Sindicato reivindica diálogo com governo do Paraná e critica omissão Giorgia Prates

Ana Carolina Caldas

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professor José Paulo Barreto, de Apucarana, a professora e diretora de escola Liziane de Souza Ribeiro, de Ponta Grossa, o professor Claudio Nielsen, de Curitiba, a professora Marivane Pereira Martins, de Antonina, a professora Luci Rocha, de Mandaguaçu, o agente educacional Ironei de Oliveira, de Campo Mourão, a agente educacional Regina Lung, de Sarandi, são alguns dos profissionais da rede estadual de ensino do Paraná que faleceram nos últimos dias de Covid-19. Desde o início da pandemia, são cerca de 200 mortes de profissionais de educação da rede pública. Só em junho de 2021, são 15 relatos feitos pela APP Sindicato. Porém, não há menção desses óbitos na secretaria estadual de Educação. O sindicato reivindica diálogo com o governo para que o retorno das aulas presenciais e a reabertura de escolas sejam suspensos até que os números melhorem.

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O presidente da APP Sindicato, professor Hermes Leão, disse que o Ministério Público do Paraná foi oficiado sobre o tratamento desigual dado pelo Ratinho Jr. aos professores. “O governador Ratinho Jr emitiu um ofício determinando a suspensão dos serviços presenciais nas repartições públicas. No outro dia, o secretário da Educação, Renato Féder, autorizou a reabertura de mais de 200 escolas públicas. O anúncio foi feito junto ao aumento de número de óbitos de professores e funcionários. Oficiamos o MP para exigir igualdade no tratamento aos professores e que a as escolas se mantenham fechadas”, disse.

O QUE DIZ O GOVERNO Em nota, a Secretaria estadual de Educação disse que “o retorno se dá de forma escalonada e todas as instituições de ensino seguem um protocolo de segurança, que prevê o distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes, disponibiliza álcool em gel, exige o uso de máscara e afere a temperatura de alunos e funcionários antes do acesso às dependências das escolas.” Não houve resposta sobre a possibilidade de diálogo com o sindicato e o aumento de óbitos de professores e funcionários.

Entidades médicas pedem transparência sobre mortes de crianças Ana Carolina Caldas

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Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia, o Fórum Popular de Saúde do Paraná, o Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná e o Núcleo Paraná do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde protocolaram na Secretaria de Saúde do Paraná, na sexta (18), pedido de informação para maior transparência

nos números e na metodologia de acompanhamento de casos e mortes de crianças e adolescentes por Covid-19. Para as organizações, há insuficiência de pesquisas científicas em crianças e adolescentes sendo, portanto, importante que pesquisadores e profissionais possam ter acesso a dados para aprofundar análises. O documento destaca que os boletins epidemiológicos não contemplam especifi-

cidades, não há informes e/ ou documentos técnicos e sequer clareza sobre como essas faixas etárias vêm sendo acompanhadas. Entre esses dados estão números de mortalidade de crianças, adolescentes e gestantes em decorrência do coronavírus, disponibilidade de leitos de UTI Covid e informações sobre surtos da doença em escolas e quais a medidas que vêm sendo tomadas.

“Também solicitamos informações sobre quais providências vêm sendo tomadas pela Sesa e órgãos da saúde para acompanhar as implicações da doença em crianças, adolescentes e gestantes, como pretendem acompanhar os casos com a volta às aulas, se existe um grupo técnico acompanhando e um informe técnico, pois não encontramos nada até hoje”, explica Nanci Ferreira Pinto, do Fórum Popu-

lar de Saúde. Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a assessoria de comunicação da Sesa disse que: o Paraná disponibiliza diariamente dados no site da Sesa ou no site: http:// www.coronavirus.pr.gov.br/ Campanha. São disponibilizados, ainda, em forma de arquivo CSV (dados abertos) para que seja realizado um filtro e qualquer informação possa ser visualizada de acordo com a necessidade.


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Casos de suicídio explodem entre jovens de comunidades indígenas no Paraná

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Comunidades sofrem com problemas de saúde mental e ataques a direitos e terras Gabriel Carriconde

A

noite começava a cair na Aldeia Tekoha Ocoy, na região de São Miguel do Iguaçu (PR), quando as principais lideranças da comunidade eram avisadas de mais uma tragédia. Um jovem adolescente tirava sua própria vida. Em um mês, foram quatro suicídios. A pandemia, o avanço do agronegócio na região, a impossibilidade destes jovens trabalharem e as dificuldades em terem acompanhamento espiritual e psicológico têm criado uma verdadeira epidemia de problemas de saúde mental na comunidade Ava Guarani. Celso Joeoew Alves, 32 anos,

é coordenador da comissão Ava Guarani e liderança da aldeia Tekoha Ocoy. Ele atendeu à reportagem do Brasil de Fato Paraná, por telefone, quando estava em Brasília, na mobilização nacional contra o PL 490, que altera a legislação da demarcação de terras indígenas. Na terça-feira (22), data em que estava prevista a análise do projeto pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a manifestação terminou com uma ação truculenta da polícia e feridos. No dia seguinte, o texto foi aprovado na comissão. Alves relata que casos de suicídio e depressão entre jovens indígenas já ocorriam, mas nos últimos tempos há uma exploTiago Miotto | CIMI

são. ‘’Tivemos surto de suicídio entre adolescentes, nesse mês foram quatro. Perdemos vários jovens, e não foi agora só nesse mês, antes já sofríamos, estamos até falando com os nossos xamãs e rezadores, mas na pandemia estamos tendo dificuldades para reuni-los e prestar auxílio a esses jovens’’, conta. O líder indígena ainda cita o papel do agronegócio e da evangelização forçada em jovens e adolescentes que, para ele, contribuem para o cenário. Para Celso, o avanço da monocultura da soja na região impossibilita o desenvolvimento da agricultura familiar e a possibilidade de trabalho e manejo com a terra. ‘’Estamos cercados de soja por todos os lados, o que nos tira a chance de conseguirmos incentivar nossos jovens a produzirem.” A religião, e o papel de comunidades evangélicas nos indígenas, de acordo com ele, tem agravado a crise. ‘’Quando um membro entra na igreja, o pastor obriga todos a se batizarem, sei de um jovem que se suicidou, em Itaipulândia, que me contou antes de tirar sua vida, que os pais estavam obrigando-o a se batizar e ele não queria”, revela.

Projeto de Lei 490, retrocesso Thaynara Nagliate é psicóloga do Cras e Creas de Diamante do Oeste e acompanha diversas comunidades pelo Sistema Único de Assistência Social (Suas). Conta que ainda não há um diagnóstico ou estudo preciso, mas, pela sua percepção, o não reconhecimento de sua própria cultura e o abuso de drogas e tóxicos afetam os jovens. “Ociosidade, falta de perspectivas e influência da

cultura não indígena afetam diretamente’’, conta. Thaynara afirma que há um processo de formiguinha para garantir às aldeias serviços públicos como assistência social, saúde e psicólogos. “Conseguimos a liberação para atuarmos como Cras, para levar o cadastramento de serviços sociais como Bolsa Família, BPC e também acolhimento de crianças, jovens e

mulheres’’. Porém, o governo Bolsonaro tem contribuído para a destruição de diversos direitos históricos indígenas e fechado o cerco com o avanço do agronegócio e da violência contra os povos originários. É o que avalia o professor de história pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Paulo Porto. Ele destaca que nenhum governo foi tão agressivo contra a causa in-

dígena quanto o de Jair Bolsonaro. “Nunca tivermos um governo inimigo de morte contra os povos indígenas, esse projeto (PL 490) é um retrocesso monstruoso, um combo que impede novas demarcações, mas leva à entrada do capital agrário nas áreas indígenas, como o garimpo, o que seria uma tragédia do ponto de vista ambiental, cultural e humanitário’’, critica.


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Cultura 7

Livro trata da guerra híbrida no Brasil de 2013 a Bolsonaro Autor analisa fatos e interesses que levaram a mudanças radicais no país Ana Carolina Caldas

No documentário, jovens apresentam sua realidade e individualidade a partir de relatos e do olhar mediado por uma câmera analógica. Tendo como base para construção de suas histórias o game e seu universo. Eles olham para o mundo enquanto olham para si.

Formação

A

obra “O que você pensa que você pensa, não é você quem pensa: A guerra híbrida no Brasil” descreve, para o autor, o advogado Marcelo Jugend (foto), a doutrina construída nos Estados Unidos de domínio geopolítico do mundo em geral e da América Latina em particular, mostrando-a como cenário para a intervenção aberta num Brasil que, desde a posse do PT na Presidência da República, em 2003, lhe escapava por entre os dedos. É sob a lente dessa construção que o leitor percorrerá a história do Brasil de 2013 até Bolsonaro. Parte das chamadas Jornadas de Junho de 2013 e segue os anos que mudaram radicalmente o país, olhando a partir de interesses externos aliados a setores da elite nacional. O autor traz contextualização histórica do Brasil, analisando como ponto de partida as manifestações de 2013 e a suas consequências, tratando de fatos históricos como o impeachment da presidente Dilma, a Operação Lava Jato e a eleição de Bolsonaro. Segundo Jugend, “a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, em

“E se sua vida fosse um jogo?”

O curta-metragem é resultado de oficina de formação realizada na Vila Joanita, em Curitiba-PR, e é parte do projeto Nave - Mostra Circulante de Cinema para Crianças, com realização da Gloriosa Produção Cultural, Lab Secreto, Nave Cine. Acesse www.cinepasseio.org.

Mulheres nas Ciências

Arquivo Pessoal

2003, o Brasil passou a se afastar das normas ditadas pelos EUA, potência dominante na região e no mundo todo. Desde há muito tempo, onde quer que ocorra, uma afronta desse quilate é sempre combatida pelos EUA, com o uso de todos os meios e modos possíveis dentro de cada contexto. Sempre que o país tenta criar alguma autonomia, sofre intervenção vinda do norte.” O livro trata do uso de mecanis-

mos novos, que constituem a mais sofisticada forma de dominação moderna: “a guerra híbrida”. O autor relata o esforço que as Forças Armadas dos EUA vêm desenvolvendo para criar toda uma estrutura física, doutrinária e teórica destinada a tornar isso possível e descreve os resultados até aqui. O livro foi lançado em 2021 pela Editora Moura S.A. e está à venda nas livrarias de todo o Brasil.

Lançado oficialmente no Dia do Profissional da Química (18 de junho), o livro objetiva humanizar a cientista Marie Curie, ganhadora de prêmios Nobel. De acordo com Camila Silveira, coordenadora do projeto e professora do departamento de Química da UFPR, Marie é uma importante referência de mulher cientista, mas os aspectos sobre a sua trajetória de vida muitas vezes são contados de modo a romantizar as experiências vividas por ela. “Ela sofreu inúmeras situações de violência e opressão, como misoginia e xenofobia”. Acesse www.meninasemulheresnascienciasufpr.blogspot.com

DICAS MASTIGADAS | Canjica A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Ingredientes 1 xícara (chá) de canjica 1 litro de água 1 xícara (chá) de leite Terra Viva 200 ml de leite de coco ½ xícara (chá) de açúcar orgânico 3 cravos-da-índia 1 rama de canela Raspas de 1 laranja-baía Mel a gosto para servir Amendoim torrado sem casca e picado a gosto para servir

Modo de preparo Numa tigela, coloque a canjica e cubra com 3 xícaras (chá) de água. Tampe com um prato e deixe de molho em temperatura ambiente por 12 horas. Passado o tempo, escorra a água e transfira a canjica para a panela de pressão, com 1 litro de água, os cravos e a canela. Cozinhe por cerca de 40 minutos. Após o cozimento, adicione o leite, o leite de coco e o açúcar. Volte à panela sem a tampa ao fogo médio. Assim que ferver, abaixe o fogo e deixe cozinhar por cerca de 30 minutos ou até o caldo engrossar levemente. Desligue o fogo e transfira a canjica para uma tigela. Sirva a seguir, regada com raspas de laranja, mel e polvilhada com amendoim.

Reprodução | Cybercook


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8 Esportes

Covidão da América já tem 144 contaminados

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Numa fase inicial que classificam 4 em 5, Brasil e Argentina lideram grupos Frédi Vasconcelos

E

m dez dias de competição, a Copa América (ou Covidão da América) registrou, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados pela CNN Brasil, 144 contaminados. São 43 jogadores ou membros das delegações, 100 prestadores de serviços e 1 funcionário da federação sul-americana, a Conmebol. Números que se somam às estatísticas do pior país da América do Sul para se estar durante a pandemia, mas que foi o escolhido como sede do torneio. Até a quarta, 23, o Brasil contabilizava 18 milhões de contaminados e 504 mil mortos, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde.

E numa fase em que se classificam quatro times em cinco que fazem parte de cada grupo, as lideranças são exatamente de Brasil e Argentina. Os canarinhos ganharam dois jogos em duas partidas e entrariam em campo após o fechamento deste texto com tudo para terminar como primeiro colocado, já que terão pela frente Colômbia e Equador, depois de ganhar de Venezuela e Peru sem nenhuma dificuldade. No outro grupo, a Argentina disputa com o Chile quem será o pri-

meiro colocado para pegar quem ficar na quarta posição no cruzamento das oitavas-de-final. A surpresa é o Uruguai, que entrou em campo duas vezes e conquistou apenas um ponto no empate contra o Chile, depois de ter estreado com derrota para a Argentina. Mas deve se classificar entre os quatro jogando as partidas que faltam contra a lanterna Bolívia e o Paraguai. Pode, se mantiver a quarta posição, ser o adversário do Brasil na próxima fase. Disputa, provavelmente com o Paraguai, esse “privilégio”. Divulgação | CBF

Em campo Em campo, nada de surpresas num torneio que não serve para nada. Não classifica para nenhuma outra competição nem fará falta na galeria de títulos de Brasil ou Argentina, por exemplo. Apenas trará dinheiro para as federações nacionais, como a CBF, e a Conmebol.

Precisamos falar sobre o Sub-20 Por Cesar Caldas

A gestão do ex-presidente Vilson (2010-2014) enaltecia com justiça os 21 títulos (alguns internacionais) conquistados pelas categorias de base do Coritiba. A oposição da época (grupo político Bacellar-Samir) desdenhava dos troféus, alegando que os vitoriosos jovens eram inservíveis no time profissional. Nos seis anos em que esteve no poder, contudo, houve seca de conquistas e inadequado aproveitamento dos garotos – em geral no terço final de temporada e sem ritmo de jogo. A tal “fogueira”. Suas dezenas de técnicos lhes atribuíam responsabilidade de fazer, em poucas partidas, o que os jogadores veteranos não haviam feito em muitas. Isso levou a desperdício de investimento importante. Contente com o título da Copa do Brasil Sub-20 alcançado no domingo (20/6), a torcida vive a expectativa de que a história seja escrita diferente no triênio 2021-2023.

As 18 Já conhecemos as 18 jogadoras que representarão o Brasil nos gramados das Olimpíadas de Tóquio. Na última sexta, 18, a treinadora Pia Sundhage anunciou a sua lista. Goleiras: Bárbara e Letícia. Defensoras: Rafaelle, Bruna Benites, Erika, Poliana, Tamires e Jucinara. Meio-campistas: Formiga, Julia Bianchi, Andressinha, Duda, Adriana, Marta e Debinha. Atacantes: Bia Zaneratto, Geyse e Ludmila. As suplentes são: Aline Reis (goleira), Letícia Santos (defensora), Giovana Costa (atacante), Andressa Alves (atacante). A sueca manteve o padrão de suas últimas convocações e a base da seleção ainda é muito próxima daquela que disputou a Copa de 2019 com Vadão, 11 das 18 convocadas estavam lá. A famigerada renovação deve começar após os Jogos Olímpicos. Andressa Alves na suplência deixou alguns de nós surpresos. Mas, sem dúvida, a ausência de Cris Rozeira foi o grande baque. Cris é a maior artilheira da história olímpica (14 gols) e fez história na seleção, formando o trio inseparável com Marta e Formiga. Pia alegou que Cris “ajudou muito e hoje acredito que haja outras jogadoras que vão ajudar a equipe”. Do lado de cá, lamentamos a falta que ela fará lá e seguiremos torcendo pelas Guerreiras do Brasil.

Círculo vicioso

Em busca dos 100%

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

Formar um novo time por temporada nunca foi novidade para o torcedor paranista. Durante muito tempo fomos conhecidos como time vitrine. Hoje em dia a lógica é a mesma, mas o sucesso tem sido cada vez menor. Os empresários mandam uma leva de jogadores, dois ou três se destacam, recebem uma proposta financeiramente vantajosa para eles e o empresário, deixam uma migalha ao Paraná e seguem a vida sem compromisso. Com o rebaixamento em fevereiro, quase todo o elenco saiu e montamos outro time para o Estadual. Boa parte desses contratados para o Paranaense também já saiu ou por conta própria ou pelo corte de gastos. Recentemente foi anunciada outra leva de contratações. Mais do que ‘quem chega’, nossa preocupação hoje em dia é se esses que estão saindo vão sair por bem ou vão querer aumentar os quase R$ 40 milhões em dívidas trabalhistas que o tricolor já acumula.

Nunca o Athletico começou tão bem um Brasileirão. Já são 4 jogos e 4 vitórias. É cedo para qualquer palpite, mas é fato que, nos últimos anos, o Furacão vem se mantendo forte na disputa por uma das vagas na Libertadores. Nesta quinta-feira enfrenta o Bahia, às 21h30, no Pituaçu, buscando a difícil missão de manter os 100% e o topo da tabela. Sem Nikão e Matheus Babi, provavelmente Kayzer terá mais um jogo para tentar sair da má fase que está passando. Por sua vez, o time do Bahia vem de um começo estável na competição, com apenas uma derrota nos 5 jogos que disputou. Pela série A2 do feminino, o Furacão enfrenta no domingo a UDA, time do Alagoas, fora de casa, às 15h. Na primeira fase, o time alagoano passou na 3° colocação, com 7 pontos, enquanto o Athletico ficou em segundo, com 12.


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