Cultura | p. 7
Disputa acirrada na B
Debate trata de democracia e falta de acesso
Divulgação
Na metade do campeonato, Coxa lidera
Cultura na periferia
PARANÁ
Ano 5
Edição 225
19 a 25 de agosto de 2021
distribuição gratuita
A volta à terra ancestral
www.brasildefatopr.com.br
COZINHA SOLIDÁRIA Bolsão Formosa: 10 mil marmitas servidas à comunidade em um ano Cidades | pág. 4
Direitos | p. 6
Giorgia Prates
Giorgia Prates
Indígenas (re)ocupam Floresta em Piraquara (PR)
Reprodução
Esportes | p. 8
Paraná | p. 5 Desde a volta presencial, 50 pessoas são infectadas em Curitiba
Bairros periféricos e mais pobres enfrentam dificuldade de acesso
Giorgia Prates
Risco nas aulas
Menos vacinas
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 19 a 25 de agosto de 2021
Em defesa Os EUA e os 20 do serviço anos de agressão público contra os povos EDITORIAL
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resenciamos nesta semana a retomada do poder pelo Talibã no Afeganistão, após os EUA anunciarem o fim da intervenção que durou 20 anos. Arrastada por quatro presidentes, coube a Biden encerrar a intervenção que começou em 2001 com a falsa promessa de levar paz e democracia para o povo Afegão. A irresponsabilidade dos EUA em invadir um país e depois deixá-lo em piores condições é revoltante. O Talibã é uma organização religiosa sunita presente
OPINIÃO
no país e no Paquistão. Este grupo foi treinado e armado pelas forças estadunidenses com objetivo de desestabilizar a Revolução Saur (1978), o que resultou numa Guerra Civil. Agora presenciamos o resultado da hipocrisia dos EUA: o povo afegão se encontra mergulhado no caos, sobretudo mulheres e crianças, que fogem sem encontrar uma política de refúgio que lhes garantam meios para sobreviver. Neste complexo cenário, surgem ata-
ques, na opinião pública, contra a China e a Rússia, que tendem a atuar na lacuna deixada pelos EUA e pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A verdade histórica, porém, é a derrota do programa intervencionista estadunidense, que já vitimou os povos do Iraque, Líbia, Síria, Sudão, Haiti, Honduras, entre outros. A nossa crítica ao chamado Imperialismo segue atual. São os povos que devem decidir o próprio destino.
SEMANA
Thiago Duarte Gonçalves,
coordenador de Formação e Organização Sindical da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajuve)
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odos sabemos que é na dificuldade que se conhece alguém. E assim também se dá nos serviços: é quando se está doente que se sabe se o plano de saúde é bom, só para dar um exemplo. Na pandemia não tem sido diferente. Foi neste momento que o conjunto da sociedade reconheceu a importância do SUS e de todos os funcionários públicos ligados à saúde. Além disso, passou a valorizar ainda mais os professores públicos e suas aulas presenciais na escola pública. Assim, os servidores públicos municipais, estaduais e federais, dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, estão em greve contra a Reforma Administrativa (PEC 32) nesta quarta-feira (18). Isso porque a proposta em debate na Câmara, iniciativa do governo Jair Bolsonaro, destrói o serviço público. E, desse modo, piora as condições de trabalho de médicos, professores, en-
fermeiros, afetando atuais e futuros servidores. Mas, em especial, a população mais humilde, que precisa do serviço público e melhorado (e não destruído). Por isso, não podemos ter dúvidas: todo apoio aos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público, neste dia de greve. A previsão de votação da matéria na Câmara é em setembro e precisamos defender os nossos direitos nos próximos meses. Para potencializar essa resistência, diversas entidades, movimentos sociais e frentes políticas que compõem a campanha “Fora Bolsonaro” se juntam na luta contra a reforma administrativa. Faz todo sentido, porque para derrotar a reforma administrativa é necessário enfrentar Bolsonaro e seus comparsas no Congresso Nacional. O inverso também é verdadeiro: para derrotar o governo, é importante o engajamento dos mais de 11 milhões de servidores públicos pelo país. Por isso, é importante que todos estejam juntos nas ruas, nas greves, nas redes sociais, pressionando os parlamentares pelo fora Bolsonaro, fora Reforma Administrativa. Tire este dia para lutar pelo futuro do Brasil.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 225 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABOROU NESTA EDIÇÃO Thiago Duarte Gonçalves ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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Geral
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FRASE DA SEMANA
Nova concessão de rodovias avança na Alep A nova concessão rodoviária federal foi aprovada em primeiro turno na Assembleia Legislativa do Paraná. O projeto de lei 372/2021 avançou após receber 41 votos a favor e 11 contra. Com 40 emendas de plenário, a matéria retornou à Comissão de Constituição e Justiça da Casa. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ademar Traiano (PSDB), afirmou que deve ser votada na Casa ainda nesta semana. “A Assembleia foi a maior propulsora de todas as mudanças que aconteceram em relação a essa nova modelagem. Principalmente em relação a uma situação que era um clamor do Paraná”, disse. Um dos principais motivos alegado pela oposição contra o projeto é falta de transparência dos projetos das obras a serem executadas. A proposta não especifica quais rodovias, trechos de rodovias e obras serão entregues ao governo federal, prevendo apenas, de forma genérica, que a formalização será feita mediante convênio. “Não há identificação dos trechos das rodovias estaduais que serão objeto da delegação. Também falta a minuta do edital e o contrato da licitação, o que dá muita margem para manobras políticas. É como se a Assembleia assinasse um cheque em branco para a Secretaria de Infraestrutura e Logística e para o Ministério da Infraestrutura”, detalha o deputado Tadeu Veneri (PT).
“Se eu não tivesse tomado as doses de vacina, eu provavelmente não teria [sobrevivido]”
Greve contra reforma Por todo o País, aconteceram, na quarta (18), greves e manifestações contra a reforma administrativa proposta pelo governo federal. Prevista para ser votada até o final do mês de agosto em comissão, a proposta retira direitos dos trabalhadores, como a proibição de adicionais por tempo de serviço, licenças -prêmio e outras licenças.
Disse a apresentadora da TV Globo Ana Maria Braga. E reforçou: “Como vocês sabem, eu tive Covid-19 há um mês e, se eu não estivesse protegida, devido à minha idade e às minhas comorbidades, provavelmente eu não estaria conversando com vocês agora”, declarou em seu programa. Divulgação
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Religião e WhatsApp
Ficando sozinho Após inúmeras tentativas de colocar em xeque as eleições e a própria democracia, o presidente Bolsonaro parece cada vez mais solitário em suas bravatas. Na quarta (18), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), da base bolsonarista do Congresso, reuniu-se com o presidente do Supremo, Luiz Fux, e declarou à saída da reunião. “A democracia não pode ser aviltada, não pode ser questionada como vem sendo no país”, disse. O recado do senador parece direto.
Fez que ia, mas não foi
io | pa am S e lip Fel
Até o fechamento desta edição, não ocorreu a anunciada ida do presidente Bolsonaro ao Senado para pedir o impeachment dos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do STF. Proposta sem nenhuma chance de ser aprovada, serviria apenas para manter os “exércitos” bolsonaristas ativos nas casernas e nas redes sociais. E continuar criando “inimigos” para não ter de governar.
Uma das principais bases para a eleição de Bolsonaro em 2018, a utilização do WhatsApp para disseminação de fake news em grupos religiosos continua ativa. Segundo a pesquisa “Caminhos da desinformação: evangélicos, fake news e WhatsApp no Brasil”, da Universidade Federal do Rio, publicado pela Agência Pública, “49% dos evangélicos da amostra receberam mensagens de conteúdo falso ou enganoso em grupos relacionados à sua religião”.
2022 é logo ali STF
Desde 2018, pouco ou quase nada foi feito para combater as fake news nas redes e nas eleições. A pesquisa citada acima mostra que entre os evangélicos que responderam os questionários, 23,6% disseram não ter o costume de checar notícias. E quase 30% admitiram que já compartilham notícias falsas, sendo que 8,1% fizeram “mesmo sabendo que era mentira, mas por concordarem com a abordagem”. Essa postura não é exclusiva de grupos evangélicos, mas cabe ficar atento a esta porção que representa um terço do eleitorado brasileiro.
Privatizar serviços Para Pedro Armengol, da CUT, um dos pontos mais controversos é introduzir na esfera estatal os chamados “instrumentos de cooperação”, serviços compartilhados entre entidades públicas e privadas. União, estados e municípios ficariam autorizados a firmar esse tipo de acordo, inclusive com a divisão da estrutura física e o uso dos recursos humanos. “É praticamente privatizar o serviço público”, diz.
Povo na rua Na terça, 17, o Movimento Nacional da População de Rua entregou proposta de projeto de lei ao vereador Renato Freitas, que visa instituir uma política para essa população. O PL é resultado de uma elaboração conjunta entre o movimento e o mandato do parlamentar. O documento inclui diretrizes para instituição de políticas intersetoriais voltadas à Pop. Rua em relação a temas como Saúde e Políticas Sociais e Habitacionais.
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Cozinha comunitária completa um ano no bairro Novo Mundo Semanalmente, são servidas, ao meio-dia, em média, 200 refeições Giorgia Prates
Pedro Carrano
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m todas as quartas-feiras, desde agosto de 2020, começa a preparação da cozinha comunitária da União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), localizada na região conhecida como Bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em Curitiba. O nome se deve ao rio que atravessa a região e envolve as vilas Maria e Uberlândia, Canaã, Leão, Candinha, Ferrovila e Formosa. Algumas dessas ocupações completam 30 anos no dia 7 de setembro e, infelizmente, seguem sem solução para a regularização dos lotes. Na quarta-feira, é preparado então o feijão e a separação de algumas verduras, organizado por moradoras históricas da região, caso de Edicléia de França, da vila Uberlândia. Dona Tereza, Dirce, Leandro, Leonel, Luzia, são vários nomes que circulam pela associação de moradores da Vila Uberlândia, palco da cozinha comunitária. O trabalho se completa nas quintas de manhã.
200 refeições semanais Semanalmente, são servidas, ao meiodia, em média, 200 refeições, uma demanda que sobe com o atual quadro de desemprego e, também subocupação, que atinge, no Brasil, até 32,9 milhões de pessoas. Além de um ano seguido de inflação e al-
“Está com depressão? Vem para a associação” Redação A palavra de ordem acima foi dita por Irma Maria Prestes Araújo, 72 anos, moradora histórica, desde 7 de setembro de 1991, na chamada Ferrovila. Há pouco tempo ela se reaproximou da associação de moradores e se engajou com tudo na cozinha comunitária. Irma dividiu o tempo formal de serviço como funcionária de escola estadual, enfermeira e cuidadora, tem três filhos, e conta que a vila foi aberta “no braço”.
Diante da indiferença da prefeitura de Jaime Lerner, Irma participou dos dois dias de acampamento no Centro Cívico para lutar por moradia. “Montamos barraca, levamos panela, comida, Requião ajudou, Vanhoni também, foram dois dias de ocupação. Me afastei uma época da associação, agora volto a ajudar. Preciso me ocupar, gosto de cozinhar, adoro ajudar as pessoas, o povo precisa bastante. É um lugar para encontrar com as pessoas também”, relata.
to custo dos alimentos no país. O ponto de partida foram as doações solidárias de organizações como o MST e os sindicatos dos petroleiros e dos bancários. Trabalhadores ajudam trabalhadores. O valor médio de gasto de R$ 250 mensais para a compra de frango e insumos da cozinha
se complementa com campanha de recursos junto à sociedade. Os materiais de estrutura foram arrecadados com setores progressistas da Igreja. Em um ano, apenas no bairro, foram produzidas cerca de 10 mil refeições. No 19 de agosto, data de celebração de um ano, são produzidas 400 refeições e um cardápio de risoto para sete comunidades. Experiência necessária de solidariedade As equipes da cozinha se revezam em duas a cada 15 dias, uma delas contando com apoio também de uma área de ocupação de outro bairro – a Nova Guaporé 2. Além disso, todas as quartasfeiras o coletivo Marmitas da Terra, que produz 1100 refeições para o povo em situação de rua, doa verduras e frutas, oriundas da reforma agrária e, sobretudo, do assentamento Contestado na Lapa. O trabalho concreto que dá vida a esses alimentos conta com trabalho voluntário, mostrando que a produção não precisa estar atrelada a valores de mercado.
COZINHA POPULAR NO CEARÁ Estados como o Ceará também contam com a experiência organizativa da cozinha comunitária. Em menos de quatro meses, a partir do dia das mães, a cozinha popular, como é chamada, atende a Comunidade da Bela Vista, área de ocupação em Fortaleza, três dias por semana, com média de 600 refeições semanais. A avaliação é de que a cozinha é uma ferramenta que ajuda no conhecimento dos problemas da comunidade. “A cozinha tem uma potência de abrir outras Pedro Carrano possibilidades, estamos pensando em horta urbana, turmas de alfabetização, algumas senhoras que vinham se somando no trabalho, percebemos a necessidade de alfabetização”, relata Bruna Raquel Ferreira de Castro, militante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).
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População de bairros pobres e distantes têm menos postos de vacinação Moradores enfrentam dificuldades para acesso pela distância e para usar transporte público
Brasil
Após retorno presencial, escolas de Curitiba têm mais de 50 casos de Covid Sindicato denuncia falta de estrutura e reivindica diálogo com a gestão Ana Carolina Caldas
Giorgia Prates
Ana Carolina Caldas
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egiões populosas de Curitiba têm recebido menos doses da vacina contra o coronavírus e sofrem com dificuldades de acesso. Esse é caso do bairro Tatuquara, que conta com 124.759 habitantes e tem um único ponto de vacinação, a Rua da Cidadania. Essa é uma das disparidades divulgadas recentemente em um mapa da vacinação elaborado pelo mandato da vereadora Professora Josete (PT). “A ideia era fazer um mapa só para ajudar as pessoas na divulgação de locais de vacinação. Porém, nos demos conta da desigualdade no sentido de garantir o acesso à vacina justamente às populações mais vulneráveis.” Para ilustrar a situação, Josete apresentou em plenário um mapa com os 21 pontos de vacinação no município, exemplificando o que ocorre na Regional Tatuquara. Junto à limitação de local, está a distância que populações mais vulneráveis precisam percorrer para se vacinar. “Uso como exemplo a situação do Caximba, que possui uma das maiores ocupações do município. Ali próximo não existe nenhum ponto de vacinação. É uma população com maior vulnerabilidade, com maior dificuldade de deslocamento, muitas dessas pessoas em situação de desemprego pela pandemia. Para chegarem até outro
Seu Pedro: “pessoas que moram em ocupações não têm comprovante de residência e não estão se vacinando”
ponto de vacinação, demanda transporte, custos.” No mapa, fica claro que a densidade populacional também não foi considerada, pois há regiões mais populosas que contam com número menor de pontos de vacinação em comparação com outras regiões menos populosas. Muita gente não se vacinou Pedro da Silva, morador do Jardim Teresa, no Tatuquara, confirma a dificuldade no acesso à vacinação.
“Tatuquara é muito grande. Muita gente daqui não se vacinou porque chega lá, fila enorme, tem que voltar por causa de filhos ou outra coisa, depois não consegue mais voltar porque essa mobilidade tem custo”, diz. Outro problema é que as pessoas que moram em ocupações não têm comprovante de residência e não estão se vacinando. “Se a ideia é vacinar todo mundo, tinha que ter menos burocracia ou virem até nós”, afirma Pedro.
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Sindicato dos Servidores Municipais do Magistério de Curitiba – Sismmac –recebeu denúncias de pelo menos 41 unidades de ensino com casos confirmados de Covid-19 desde o retorno das aulas presenciais. Já são 55 servidores e estudantes contaminados, e uma escola teve que suspender turma em que aluna e professora testaram positivo. O número já é maior que o de fevereiro, quando as aulas presenciais tiveram que ser suspensas às pressas. Com esse cenário, o Sismmac cobrou reunião com as secretarias de Educação e de Saúde. “Em duas semanas e meia do retorno presencial, já temos mais de 50 casos de Covid 19 distribuídos em 41 unidades escolares. Pelo menos em três destas escolas, já se caracteriza como surto,” diz Gabriel Conte, presidente do sindicato. Gabriel diz que a falta de diálogo da gestão só dificulta o trabalho contra o coronavírus. “Temos tentado reunião com a Secretaria de Educação e da Saúde. Hoje,
inclusive, tivemos presencialmente na Educação, mas não fomos atendidos.” Escolas não estão preparadas No reinício das aulas em Curitiba, o Brasil de Fato Paraná conversou com diretores e professores sobre o retorno presencial. Todos os depoimentos expressavam insegurança e afirmavam que as escolas não tinham estrutura adequada para a prevenção do coronavírus: EPIs de má qualidade, falta de ventilação nas salas de aula, dificuldades para o distanciamento entre os alunos, falta de água nas escolas foram algumas das reclamações, além do sentimento de medo do contágio. Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a Secretaria Municipal de Educação disse que “Nenhuma das 415 unidades da rede municipal teve que ser fechada desde o retorno do ensino híbrido, em 19 de julho. Todas as escolas e CMEIs seguem o Protocolo de Retorno das Atividades Presenciais. Os profissionais da educação já receberam a primeira dose da vacina.” Reprodução
O QUE DIZ A PREFEITURA Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal da Saúde disse que “os pontos de vacinação são planejados a partir da estimativa do público que será imunizado e do número de imunizantes disponibilizados. Na Regional do Tatuquara, além do ponto fixo de imunização, há pontos temporários que são abertos quando a estimativa do grupo a ser vacinado é maior. Os agentes de saúde fazem constante monitoramento e busca ativa. Mapa da vereadora Josete mostra desiguladade no acesso à vacina
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Movimentos indígenas (re)ocupam floresta, após anos de abandono
Giorgia Prates
Região que pertenceu a indígenas e foi rica em araucárias, hoje está tomada de eucaliptos Gabriel Carriconde
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riada em 1988 como unidade de preservação ambiental, a Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR), teve seu espaço ocupado por lideranças indígenas em 9 de agosto, data que marca o dia internacional dos Povos Indígenas. A região já foi palco de disputas de terra no passado, envolvendo exploração seletiva da floresta com araucária e corte raso para atividades agropecuárias, e já chegou a pertencer à extinta Rede Ferroviária Federal, estatal de transporte ferroviário. Nos últimos anos, a floresta tem sofrido com o abandono do poder público, e agora, indígenas reivindicam novamente o espaço, de onde, no passado, foram expulsos, no século XIX, por Dom João VI, para garantir livre acesso ao Porto de Paranaguá, levando as comunidades a se espalharem pelo interior. A floresta fica na região metropolitana de Curitiba, tendo extensão de aproximadamente 225 quilômetros quadrados. O parque vem sendo degradado há anos por conta da agropecuária e do reflorestamentos com eu-
calipto, planta que pode levar ao empobrecimento do solo. Para um dos líderes da ocupação, Eloy Jacyntho, a retomada do parque é o retorno a um espaço sagrado para os povos originários, e que será recuperado. ‘’Essa mata está tomada de eucalipto e abandonada há vários anos, e esse é um território indígena, um lugar sagrado. Por isso estamos aqui. Temos a intenção de ficar e recuperar a área’’, destaca. Há anos as etnias Kaingang e Guarani reivindicam a área, hoje, sob responsabilidade do Instituto Ambiental do Paraná. O Cacique Kretã Kaingang destaca que a última vez em que o estado recebeu representantes indígenas foi no governo de Roberto Requião. “Desde 2009 a gente luta e reivindica um espaço dentro de Piraquara, porque no local existem três sítios arqueológicos do povo Kaingang, inclusive há casas subterrâneas na região. A nossa luta é para mantermos essas estruturas, que marcaram a passagem dos Kaingang nessa capital”, conta. Diz ainda que o governo do Paraná tem interesse na privatização da área, que sofre com Giorgia Prates
queimadas e falta de regularização fundiária. ‘’Essa é uma área do estado abandonada pelos governos passados. O atual governo, Ratinho Jr., não tem nenhum propósito a não ser a privatização da área para o turismo, visando proveito eleitoral e financeiro. Essa região não tem regularização, ocupamos e queremos recuperar essa área com reflorestamento, com plantas nativas’’, diz Kretã. O governo do Paraná ainda não se pronunciou se tem intenção de privatizar a área, mas poderá seguir o exemplo do governo federal. Em 2020, Jair Bolsonaro colocou três florestas nacionais num programa de privatizações, com o suposto objetivo de ‘’desenvolvimento sustentável das áreas’’, contudo, com liberação da exploração de madeira. As florestas de Humaitá, Iquiri e Castanho, todas no Amazonas, entraram no PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) que trata de concessões e privatizações. Isabel Tukano, do povo Tukano, que participa da retomada, ainda denuncia que faltam políticas públicas para os povos originários. ‘’Nesse dia 9, a verdade é que não temos nada o que comemorar, a melhor maneira que buscamos lembrar desta data é recuperar nosso espaço, para que não retrocedam nossos direitos. Os territórios indígenas estão sendo invadidos sem nos ouvirem. Essa ocupação celebra a vida, é a retomada de uma área histórica para nós’’. A reportagem do Brasil de Fato PR entrou em contato com o IAP e o governo do Paraná para saber mais informações sobre a área, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
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Cultura 7
Núcleo debate cultura e democracia na periferia
Música na Unila
Encontro acontece dia 20, em encontro virtual aberto a todo o território nacional Redação
O
núcleo “Cultura na realidade de todos os dias” surgiu a partir de debates e reflexões sobre a cultura e seu impacto em nossa sociedade. De iniciativa da jovem socióloga Miriam Mazzarolo, o núcleo promoverá o debate “Cultura popular, periférica e princípios democráticos” na sexta-feira, 20 de agosto. A mediação será de Adrian Silva, artista visual, ilustrador, gestor cultural e coordenador do MTST Paraná. Miriam é também professora de Sociologia do Cursinho Popular e moradora da periferia de Curitiba. Ela disse que este é um debate presente em seus espaços de atuação e importante para inserir o curitibano e a curitibana da periferia no pensar a cidade. “Considerando a importância de debater o acesso aos espaços e instrumentos culturais, mais especificamente no caso curitibano, nosso objetivo é refletir sobre a construção social da cidade e sobre a [falta de] democracia de acesso aos espaços
e equipamentos culturais”, explica. Fomentado pelo IPAD (Instituto Pensamentos e Ações para Defesa da Democracia), o tema central do núcleo é Patrimônio cultural e periferia: democracia e acesso. Serão 7 encontros, via zoom, que acontece-
rão nas segundas, quartas e sextas. As inscrições podem ser feitas pelo formulário e estão abertas para todo território nacional: https://forms. gle/EUi3r3LbKgr3cpwd7. Qualquer dúvida, entrar em contato pelo fone (41) 99278-7073. Reprodução
O curso de Música (bacharelado) reserva 61,54% do total de vagas para estudantes que tenham cursado escolas públicas. O processo seletivo conta, primeiramente, com a nota do Enem. A segunda etapa constará de uma prova de habilidades específicas, que consiste no envio de um vídeo com duração de 5 a 10 minutos. Mais informações sobre o edital: https://portal.unila.edu.br/
Perspectivas decoloniais O evento Decolonialidade e Linguística Aplicada 2021 será realizado em dois ciclos: entre 20 e 24 de setembro e entre 18 e 22 de outubro. O encontro virtual problematiza perspectivas decoloniais da Linguística Aplicada, olhando para as relações possíveis e impossíveis entre o pensamento decolonial e práticas de linguagem. As inscrições podem ser feitas pelo site https:// dela.de.curitiba.br/
Ingredientes 3 abobrinhas pequenas 300g de cogumelos variados 1/2 cebola em fatias finas 4 ovos 250g de creme de leite 2 colheres de requeijão 150g de muçarela ralada 50g de parmesão sal, pimenta moída na hora azeite para untar cheiro verde
Reprodução
DICAS MASTIGADAS | Gratinado de abobrinha e cogumelos
Modo de Preparo Corte as abobrinhas em fatias finas.Espalhe as fatias sobre papel toalha e tempere com sal. Cubra com outro papel toalha para absorver a água liberada das fatias de abobrinha. Unte um refratário e intercale camadas de abobrinha, cogumelos, cebola e cheiro verde, temperando com sal e pimenta. Termine com uma camada de abobrinhas. No liquidificador, bata os ovos, o creme de leite, o requeijão, a muçarela e temperos. Coloque essa mistura no refratário e cubra com parmesão. Leve ao forno pré-aquecido 200º por 40-45 minutos, até gratinar.
Criação de HQ Nas segundas-feiras de agosto é exibida série de videoaulas sobre criação de histórias em quadrinhos promovida pela Gibiteca de Curitiba. Para participar, basta se conectar às redes sociais da Gibiteca ou da Fundação Cultural a partir do meiodia. O acesso é grátis e livre para todos os públicos. As aulas começam sempre no mesmo horário e têm em torno de dez minutos de duração. https://www.facebook.com/fundacaoculturaldecuritiba
Brasil de Fato PR 8 Esportes
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Esperanças pela metade após 1º turno na série B Em disputa acirrada, Coxa lidera. Vasco, Botafogo e Cruzeiro terão muitas dificuldades Frédi Vasconcelos
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té o fechamento deste texto, faltavam seis partidas para o encerramento do primeiro turno do Brasileirão da série B, numa disputa acirrada, em que 6 pontos separam o acesso da 13ª posição, e o rebaixamento está logo ali. Nessa primeira metade, ficou claro que dos times que caíram em 2020, dois estão muito bem e os outros terão de fazer grandes esforços para voltar. O Coritiba lidera e não será ultrapassado no primeiro turno, mesmo que CRB e Goiás vençam as partidas que faltam. Outro rebaixado 2020, o próprio Goiás, está na quarta posição, podendo ainda chegar à vice-liderança. O resto da turma do rebaixadão 2020 terá de remar muito. Vasco e Botafogo estavam na nona e oitava posições, com um jogo a menos, podendo ficar próximos do bloco de cima, mas com times que vão precisar melhorar muito para subir. Faltando esse complemento da rodada, apenas 6 pontos separavam o quarto colocado (dono da última vaga do ascenso) para o 13º, o Brusque. Destaque negativo, neste momento,
para o Náutico. O time pernambucano chegou a liderar o campeonato, mas perdeu as cinco últimas partidas, levando à queda de seu técnico, Hélio dos Anjos. E a última derrota foi para um time que não tem muito a comemorar. Mesmo trazendo o técnico Vanderlei Luxemburgo, o Cruzeiro está na 14ª posição, a 10 pontos da zona de classificação e a 5 do rebaixamento. Vai precisar de um verdadeiro “milagre”, com aproveitamento superior a 70% no segundo turno se quiser ter chance. Times em risco Mas não é apenas em campo que times tradicionais como Vasco, Botafogo e Cruzeiro correm risco. Se não subirem, a queda de receita brutal na segunda divisão pode até mesmo inviabilizar a continuidade. Na quarta, 18, por exemplo, foi determinada execução, pela Justiça, de todas as dívidas do Vasco referentes ao “Ato Trabalhista”. São R$ 93,5 milhões, que teriam de ser pagos à vista. Em nota, a diretoria do time diz que vai tentar mudar a decisão em outras instâncias, sem isso, corre o risco de “encerramento das atividades do clube”.
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Seleção feminina do Afeganistão Se você acompanhou o noticiário nos últimos dias, soube que o Talibã tomou controle de quase todo o Afeganistão, retornando inclusive à capital, Cabul. A preocupação com os direitos humanos e, especialmente de minorias, como de mulheres, também se destacou. Não à toa. Nos anos 1990, o grupo estabeleceu um regime fundamentalista e despojou mulheres de inúmeros direitos, chegando a ser proibidas de ir à escola depois dos 10 anos. Você pode estar se perguntando qual a relação disso com o futebol feminino. E a resposta é triste. A ex-capitã da seleção do Afeganistão e atual diretora da federação nacional deu entrevista à agência de notí-
cias Associated Press falando sobre a situação atual e sobre a sua preocupação com as jogadoras do selecionado. Khalida Popal informou que tem recebido inúmeras ligações e mensagens desesperadas das atletas. O conselho de Popal a elas é que abandonem suas casas e apaguem qualquer vestígio desse histórico. Ela completa: “destrói o meu coração, porque durante todos esses anos nós trabalhamos para aumentar a visibilidade da mulher, e agora estou dizendo a uma mulher no Afeganistão para calar a boca e desaparecer. A vida delas está em perigo”. Toda solidariedade ao povo do Afeganistão, sobretudo, às mulheres e a outras minorias.
Treino e concentração Por Cesar Caldas
A vitória Coxa sobre a Ponte Preta na noite da terça (17), apesar da alegria que deu ao torcedor pela “virada” ao segundo turno da Série B na liderança, deve servir de mero alívio a atletas, técnico e direção do clube. O campeonato é equilibrado. Por vezes, até quatro clubes compartilham a mesma pontuação, sendo necessário usar critérios de desempate. Pior: é comum ver três outros times no encalço daqueles, por diferença mínima de pontos. Nossa coluna de 5/8 falou da imprescindibilidade do meia de contenção Val, cujas qualidades não se resumem à marcação. Diante da Ponte, seu gol logo aos 8 minutos foi decisivo, redefi nindo a postura tática necessária aos dois times em campo. A derrota do alviverde no jogo anterior (0x3 contra o CRB) e o Náutico em queda livre são sintomas de que é preciso ainda muito treino e concentração no Coritiba.
É proibido desistir Por Marcio Mittelbach
A única coisa positiva que podemos tirar do jogo diante do Figueirense é que agora temos foco total em um objetivo: evitar um novo rebaixamento. Não bastasse a atuação da equipe e o resultado, a entrevista do técnico, Sílvio Criciúma, ao final da partida prova que desejar qualquer coisa além disso é besteira. Aliás, já era algo inconcebível desde o início do campeonato. Criciúma se queixou dos salários atrasados e da indefinição diante da parceria com a FDA Sports. Disse que sabia que o momento não era dos melhores, mas que não imaginava algo tão delicado. É preciso reconhecer que as condições não são boas. No entanto, todo esse falatório não ajuda em nada. Restam seis rodadas. O momento é de deixar as convicções de lado, abraçar a causa e trabalhar para evitar uma mancha ainda maior na história do Clube. Quem não está com esse espírito, que desembarque já.
Despedida Por Douglas Gasparin Arruda
Nesta quinta a torcida do Furacão despede-se de Vitinho, jovem promessa que agora segue para o Bordeaux, da França. A presença do atacante no jogo é um ato de desespero mais que planejamento. Diante da fase ruim do sistema defensivo, da contusão do centroavante Matheus Babi e das 5 derrotas em sequência, António Oliveira pediu para que o atleta atuasse uma última vez pelo rubro-negro. O desespero é justificável: com a queda de rendimento, o ano do Athletico está por um fio, já que as fases decisivas da Copa do Brasil e da Sul-Americana acontecem agora, e a queda nas duas competições pode custar caro ao jovem treinador português. Os comentários de Jadson nas redes sociais, respondendo torcedores críticos ao técnico, já são indícios claros de que o ambiente no vestiário não é dos melhores.