Brasil de Fato PR - Edição 233

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Esportes | p. 8

Cultura | p. 7

Técnicos em risco

Grammy para paranaenses? Banda Tuyo concorre a um dos maiores prêmios da música Ano 5

Edição 233

Vitor Augusto

15 a 20 de outubro de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Reprodução

PARANÁ

Já caíram comandantes de 16 dos 20 times da série A

Giorgia Prates

O Brasil no limite

Bolsonaro fecha fábrica e agora diz que vai faltar fertilizante, comida deve ficar ainda mais cara Entrevista | p. 6 Presidente veta projeto que garantiria absorventes a mulheres e meninas carentes e põe saúde delas em risco Brasil | p. 5 População mais pobre sem moradia: conferência destaca que modelo atual está falido Cidades | p. 4


Brasil de Fato PR 2 Opinião EDITORIAL

Pelos direitos das novas gerações

Paraná, 15 a 20 de outubro de 2021

Brasil de Fato PR

SEMANA

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m cenários de instabilidade, guerras, desastres ou desigualdade social, crianças são as mais vulneráveis. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) declara que é dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar os direitos referentes à vida, à saúde, à educação e à alimentação. Estamos muito distantes disso enquanto sociedade. Cerca de 4 milhões de crianças e adolescentes são obrigadas a trabalhar para ajudar suas famílias a garantir recursos para sobreviver. Neste ciclo, o que se perpetua é a situação de pobreza e pobreza extrema, ou seja, sem teto, sem comida e sem educação. Este cenário é um dado concreto da realidade brasileira. Acentuado neste período de crise da pandemia, de ausência de políticas públicas do governo, de desemprego e fome. Nesses três anos, vimos Bolsonaro se esforçar para afirmar sua realidade paralela, atacando o ECA, se exibindo com crianças fardadas e com armas de brinquedo, afirmando em diferentes contextos um suposto benefício do trabalho infantil. Por isso precisamos reforçar o sentido da infância e lutar pela garantia dos seus direitos: o de brincar e sonhar, porque sabemos que é no futuro de nossas crianças que reside o futuro de nosso país.

De mãos dadas e com um programa por moradia e regularização fundiária OPINIÃO

Pedro Carrano,

Integrante da União de Moradores/as e Trabalhadores/as da região do Formosa e do MTD Paraná

E

stamos em um quadrante da História em que as condições de vida da população trabalhadora pioram no Brasil, o preço dos itens básicos e dos serviços aumenta, o que faz da busca pelo acesso à moradia e pelo abandono do aluguel uma necessidade. Hoje, apenas numa capital como Curitiba, já há 450 assentamentos irregulares, número que tende a se ampliar. A maior dificuldade dos moradores das áreas de ocupação ocorridas durante a pandemia parece ser, de um lado, a ausência de políticas, negociações e atendimento do poder

público. De outro, a construção de um programa de pautas compreensíveis para a população e que consigam pressionar prefeituras, governos e o governo federal. A conferência popular de habitação foi marcada pela construção de um espaço envolvente, pelas mãos de 25 organizações, e concluiu seus trabalhos no dia 9 de outubro, sistematizando um documento importante, um programa estrutural e com medidas urgentes para quem vive em áreas de ocupação. A plenária final, na ocupação Nova Esperança, do Movimento Popular de Moradia (MPM), exemplo de luta no período de pandemia avançando na organização popular, contou com movimentos urbanos, advogadas populares, entidades,

urbanistas, associações de moradores e mandatos populares, apontando unidade no tema da moradia e a necessidade de que este formato de plenária se mantenha periodicamente. Afinal, sozinha, nenhuma entidade tem acúmulo para alterar a correlação de forças e forçar o Estado a adotar políticas públicas. Ao lado disso, a articulação das medidas de solidariedade e dos espaços comunitários de produção, geração de renda e trabalho também são urgentes. Com um programa apontando o direito à moradia, caso das medidas emergenciais de água e luz, que avance no problema histórico da regularização fundiária, temos condições de avançar num item sempre ausente nos escritórios da Prefeitura: o respeito ao povo.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 233 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 15 a 20 de outubro de 2021

Brasil de Fato PR Geral

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FRASE DA SEMANA

“Para ser pátria amada não pode ser pátria armada”

Aquisição suspeita de uniformes

Disse o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, no dia 12, em missa da Padroeira do Brasil. E complementou: “Para ser pátria amada seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma República sem mentira e sem fake news. Pátria amada sem corrupção. E pátria amada com fraternidade.”

Reprodução

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Paraíso fora daqui

Biden manda os militares

Inflação em alta, com comida e combustíveis acabando com o que restava de popularidade ao governo Bolsonaro e ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a situação vai piorar mais. Guedes foi convocado para depoimentos no Senado e na Câmara dos Deputados, que acontecerão nos próximos dias. Terá de tentar explicar o caos econômico que o Brasil vive e por que prefere manter seu dinheiro em paraíso fiscal, não no país em que “administra” a economia.

Os Estados Unidos mandaram e o presidente Bolsonaro permitiu a presença de militares estadunidenses no Brasil para treinamentos militares. No decreto publicado no dia 14, o Exército brasileiro afirma que o objetivo é o “adestramento” das forças. Devem participar do treinamento a 12ª Brigada de Infantaria Leve (Aeromóvel) e o 5º Batalhão de Infantaria Leve. Pelo lado dos EUA, participará a 101ª Divisão de Assalto Aéreo.

Chapa quente

Soja não enche o prato

Mesmo entre quem apoia o governo, a chapa do ministro está esquentando. Na Câmara dos Deputados, em que Bolsonaro sempre teve maioria folgada para passar o que quisesse, a convocação para explicar por que mantém seu dinheiro fora do Brasil teve 310 votos a favor, com 142 contrários. Lembrando que a oposição não passa de 130 parlamentares na casa.

Em ação da Jornada Nacional da Soberania Alimentar, organizações da Via Campesina Brasil realizaram manifestação na sede da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), em Brasília, na quinta (14). O objetivo foi denunciar o modelo excludente e concentrador de renda representado pelo agronegócio, que impulsiona a inflação dos alimentos e contribui para o aumento da fome no Brasil. A manifestação ocorreu também em outras quatro regiões do país.

Divulgação

A aquisição de uniformes escolares militares é alvo de suspeita. O governo do Paraná já pagou quase R$ 40 milhões à Triunfo Comércio e Importação, que tem como sócios Simone Mineia de Oliveira e Eldo Umbelino, proprietários da Nilcatex Têxtil, de Blumenau. Ambos são proprietários de quase 20 CNPJs com a mesma área de atuação. A suspeita é de que a Triunfo seja utilizada como empresa laranja e tenha vencido o pregão de forma fraudulenta. Outro ponto é a qualidade dos uniformes. Muitas camisetas são transparentes, expondo meninas, ou com numeração baixa, expondo crianças obesas. A compra já havia sido denunciada pelo deputado federal Gustavo Fruet (PDT). Segundo ele, diversos documentos comprovam que a empresa que ganhou a licitação no Paraná apresentou problemas em todos os estados e municípios onde vendeu algum produto. Ela já foi condenada em diversas ações, respondeu a uma CPI em SC, foi condenada à multa milionária pelo Cade, vendeu máscaras gigantes no Amazonas. Em SP, um exexecutivo da empresa reconheceu 5% de comissão sobre a venda de uniformes no escândalo da Máfia dos Uniformes. O processo administrativo 08700.008612/2012-5, julgado na 179ª reunião do Cade, impõe multas a diversas empresas e pessoas físicas, dentre elas a Nilcatex (mais de R$ 20 mi) e um de seus proprietários (mais de R$ 4 mi).

Segurança para alunos Pais e mães com filhos nas escolas estaduais do Paraná protestaram em frente à Secretaria do Estado da Educação na quinta (14) pela falta de condições seguras para o retorno dos seus filhos às aulas presenciais. O pedido é que voltem com todos imunizados com a segunda dose e em segurança. A APP Sindicato solicitou reunião com o secretário de Educação sobre o assunto, mas não obteve retorno.

Novo Amanhecer Sol forte, chuva, vento, calor e frio. É debaixo das variáveis do “tempo” que 40 trabalhadores integrantes da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Novo Amanhecer, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), separam os materiais coletados na rua. Para garantir local coberto para a separação e armazenamento do material, ocorre a campanha de financiamento coletivo “Por Um Novo Amanhecer”. Mais informações no site brasildefatopr.com.br.

Plantô, Brotô! No dia 16 de outubro comemora-se o Dia Mundial da Alimentação. É esse o assunto do terceiro episódio da Rádio Plantô, Brotô! O país enfrenta uma situação crítica e até mesmo assustadora, em que 27 milhões de pessoas estão em situação de extrema pobreza. Para ouvir, acesse: SoundCloud: Rádio Plantô, Brotô! - Ep. 3


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Conferência popular debate em Curitiba saídas para a falta de moradia Encontro reuniu especialistas em urbanismo e habitação, parlamentares e lideranças populares Gabriel Carriconde

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om transmissão pelos canais do Brasil de Fato Paraná, Curitiba teve sua primeira Conferência Popular de Habitação, realizada entre os dias 5 e 9 deste mês. O evento contou com a participação de parlamentares como o deputado estadual Goura (PDT), as vereadoras Professora Josete e Carol Dartora, o mandato do vereador Renato Freitas, além de representantes do poder público como o Ministério Público do Paraná, a companhia de habitação do estado, Cohapar, Universidade Federal do Paraná, Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), a Coordenação Metropolitana de Curitiba (Comec), além de movimentos sociais e populares como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Instituto Democracia Popular. Para Ilma Lurdes Santos, líder comunitária da Vila União, de Almirante Tamandaré, e representante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, a moradia popular deve ser vista como um direito. “A moradia tem que existir como política pública no âmbito dos três poderes. É um direito constitucional e um direito humano”, reflete. Ilma participou da conferência e relata

a impressão que teve. “Foi um sucesso. O Brasil inteiro está vendo o que estamos fazendo. Tiram tudo de nós, mas estamos aqui para reivindicar mais uma vez nosso direito à moradia”, afirmou. Além da mesa de abertura, a conferência contou com mesas temáticas, palestras, debates, intervenções urbanas e oficinas e, por fim, uma assembleia geral que aprovou manifesto pedindo políticas públicas para moradia. Modelo habitacional Na mesa Políticas Públicas de Habitação e Cidade no pós-pandemia, a professora da UFPR e coordenadora do Núcleo Curitiba da rede Observatório das Metrópoles, Madianita Nunes, analisou o atual modelo habitacional na capital paranaense. “Tem direito à moradia quem tem como pagar pela casa. E esse é um modelo falido. O problema habitacional de Curitiba já está mais do que provado que não vai ser resolvido pela iniciativa privada. É preciso, urgentemente, conceber uma política pautada em paradigmas radicalmente distintos desses que vêm sendo praticados”. Ela, que esteve ao lado da arquiteta e urbanista e atual coordenadora Nacional do Projeto BrCidades, Ermínia Maricato, durante o debate, refletiu sobre a relação entre a polí-

Brasil de Fato PR Divulgação | Mandato do deputado Goura

Encerramento da Conferência Popular de Habitação na ocupação Nova Esperança, em Campo Magro

tica habitacional e a política urbana de Curitiba e da Região Metropolitana, e apontou para a necessidade de ruptura com o modelo que vem sendo praticado há décadas. “Em Curitiba e Região Metropolitana temos uma política habitacional ultrapassada, que não inovou desde 1964. Tem prevalecido a visão liberal de política habitacional, da produção de unidades habitacionais pelo mercado para aquisição de uma unidade privada, e essa aquisição sempre esteve atrelada à capacidade de pagamento desses beneficiários”, disse. Para Ermínia Maricato, que também já atuou na Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano de São Paulo, as políticas de habitação no Brasil, quando existem, não garantem o direito à cidade, acabam sendo o resultado da desigualdade estrutural na produção da cidade. Uma das formas de mudar essa realidade, segundo a arquiteta, é diversificar a política de habitação. ”Não é por falta de planos, leis e propostas que nós temos uma condição das mais desiguais do mundo. Isso porque nós somos um país que chegou a ser a oitava economia do mundo. Mas, apesar de um país muito rico, temos uma desigualdade imensa”, observou. A arquiteta ainda destaca que é

urgente uma política de habitação diversificada. “Quando você constrói políticas públicas obedecendo a um lobby, você tem muitas mazelas, como os conjuntos construídos em ilhas, distante das cidades. E você mobiliza toda uma cadeia para levar infraestrutura no local e torná-lo urbano. É isso que nós temos que combater”, ressalta.

MANIFESTO No último dia de conferência, os participantes aprovaram um manifesto de oito páginas em defesa de políticas públicas para habitação popular em Curitiba e com propostas para área. “Reivindicamos moradia digna para todas e todos. Morar para dormir, morar para viver, morar para brincar, morar para comer, morar para trabalhar, morar para se registrar, morar para se cuidar, morar para ser!”, afirma o texto, que pode ser lido na íntegra em https:// mandatogoura.com.br/wp-content/uploads/2021/10/ManifestoConferencia-Popular-de-Habitacao.pdf. Os vídeos dos debates podem ser encontrados nas redes sociais do Brasil de Fato Paraná.


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Sem absorventes, sem chuveiros, mulheres relatam risco à saúde Medida de Bolsonaro deixa população feminina na pobreza menstrual Ana Carolina Caldas

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uando eu comecei a menstruar, tinha 11 anos. Absorvente às vezes tinha, mas, muitas vezes, não. Tínhamos os paninhos de menstruação. Quando os lençóis ou camisetas estavam velhos, minha mãe os cortava. Dobrávamos em muitas camadas para que eu me forrasse pra ir pra aula. Minha mãe sempre buscava formas pra que eu me sentisse segura e seguisse firme nos estudos. Mas era meio impossível naquele caso. Meu fluxo era muito forte. Eu precisava de pedaços bem grandes pra fazer muitas camadas por medo de vazar. Aquilo era extremamente desconfortável física e emocionalmente. Obviamente, se não tinha dinheiro pra absorvente, não teria pra comprar um monte de panos. Em casa, eles eram lavados e passados pela mamãe pra que eu pudesse reutilizar.” Este é o relato feito pela jornalista Waleiska Fernandes no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro vetou a distribuição gratuita de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade social, prevista em projeto de lei aprovado em setem-

bro no Congresso Federal. A realidade vivida por Waleiska ficou no passado. Mas é o presente de milhares de meninas e mulheres brasileiras que são impactadas pela falta de absorventes. Este é o caso da Dona Neri Maria de Andrade, de Porto Amazonas, PR. “Uso até hoje pano porque não tem dinheiro para comprar. Eu sou mãe solo e às vezes a gente não tem dinheiro para comprar um pão, imagina isso daí”, relata. Outra moradora de Porto Amazonas, que não quis ser identificada, conta que o início do seu ciclo menstrual foi permeado pela falta de informação e condições financeiras da família. “Veio a primeira vez e eu não sabia o que era. Comecei a tirar escondida espuma do colchão para colocar. Cheguei a queimar as espumas e calcinhas por medo e vergonha,” conta. O argumento do presidente para o veto foi a falta de recursos. O que, diante da pobreza menstrual, isto é, a falta de acesso a recursos e instrução para que administrem o próprio período menstrual com dignidade, é mais uma forma para continuar invisibilizando a população feminina de baixa renda. De acordo com

o estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, do Unicef e do Fundo de População da ONU, 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais. Risco de infecção urinária A falta de água e absorventes é vivida diariamente pelas mulheres da Ocupação Guaporé, do bairro Campo Comprido, em Curitiba. Suellem Ferreira dos Santos, liderança popular, conta que além da falta de absorventes, não existem condições mínimas para garantir a higiene. “A gente vive a falta de saneamento básico, falta de água, falta de chuveiro nas casas e, no final das contas, as mulheres daqui precisam escolher entre comprar absorvente ou comida”, diz. “Tem algumas que compram um absorvente e ficam com o mesmo o dia inteiro para economizar. Aí, acabam com infecção urinária. Muitas daqui têm infecção...”, conta. Suellem coordena um ateliê na ocupação e pretende começar um projeto para produzir absorventes de pano.

INICIATIVAS SOCIAIS Antes mesmo do veto de Bolsonaro, várias entidades no Brasil se mobilizam para fazer chegar itens básicos necessários para as mulheres em seus períodos menstruais. É o caso do Coletivo Igualdade Menstrual, no Paraná, que tem como objetivo instruir, arrecadar e fazer a distribuição de absorventes e coletores menstruais para que mulheres em situação de vulnerabilidade social possam administrar a higiene durante o ciclo. O projeto já foi responsável pela doação de mais de 20 mil absorventes em penitenciárias e comunidades carentes de Curitiba e municípios vizinhos. Para Andressa Andrieli do Carmo, uma das coordenadoras do Coletivo, o veto de Bolsonaro é mais uma marca negativa do atual governo. “O veto de Bolsonaro é um grande retrocesso na luta pelos direitos das mulheres. Existem recursos sim para viabilizar esta política pública. Quando o presidente veta a possibilidade de dar condições para que estudantes não faltem a aulas, mulheres não fiquem sem trabalhar, é muito triste, Mas não vamos desistir”, diz.

Aprovada lei no Paraná para combate à pobreza menstrual Combater a pobreza menstrual e garantir dignidade a adolescentes e mulheres paranaenses em situação de vulnerabilidade social e econômica. Estes são os principais objetivos da lei 20.717/2021, aprovada na Assembleia Legislativa e assinada por vários deputados e deputadas, e posteriormente sancionada pelo governador Ratinho Jr. O projeto original

determina a distribuição de absorventes higiênicos em escolas e unidades básicas de saúde. A proposta determina ainda que o Poder Executivo poderá receber doações de absorventes higiênicos de órgãos públicos, sociedade civil, ONGs, e iniciativa privada para distribuição gratuita às estudantes e população em vulnerabilidade social.

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É estratégico retomar a produção de fertilizantes e reabrir a Fafen

Para líder petroquímico, Bolsonaro fechou o ramo dos fertilizantes, e preços de alimentos devem aumentar mais Divulgação

Pedro Carrano

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m fevereiro de 2020, o governo Bolsonaro fechou a Fafen Fertilizantes, localizada em Araucária (PR), colocou mais de mil trabalhadores na rua, e, com isso, tornou um ramo de produção nacional dependente da importação. Agora, em live recente, de forma confusa, Bolsonaro sinalizou que faltará fertilizante, um insumo vital para um país de produção agrária. Gerson Castellano, petroquímico, integrante da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e um dos operários demitidos no ano passado, critica a tomada de decisão da empresa, que revelou falta de visão estratégica sobre o papel do poder público. No fundo, como alerta, o aumento de preços vai impactar a população mais pobre. PUBLICIDADE

Brasil de Fato Paraná – Após o país se tornar dependente da compra de fertilizantes, e fechar a produção nacional, agora Bolsonaro sinaliza risco de desabastecimento. Como vocês veem essa situação? Gerson Castellano – Foi uma opção que fez a Petrobras, por meio do governo federal, e sua gestão indicada, de que deveria sair deste ramo. Nós avisamos, em audiência pública, avisamos via imprensa. Eles já haviam arrendado as unidades de Bahia e Sergipe. Não conseguiram vender Araucária e Mato Grosso do Sul e optaram por fechar Araucária. Então, nós denunciamos a todo momento sobre o risco que a gente correria, uma vez que todos os países dos quais importamos são países que ficam no Hemisfério Norte e que, evidentemente, eles fazem essa ureia à base de gás, o que é usado para mover veículos e aquecer as casas. Com um impacto energético como esse agora, nós sofreríamos impactos sobre isso, com importação mais cara e mais difícil, uma vez que esses países priorizariam o consumo interno do gás para aquecimento e para fazer fertilizantes para eles. O que fundamentou as decisões da empresa e do governo para fechar mais de mil postos de trabalho e passar a importar fertilizantes de outros países? O prejuízo de produzir fertilizantes à base do resíduo asfáltico de Araucária. Como eles não tinham incorporado a empresa ainda, eles faziam uma transação comercial que prejudicava esse valor do resíduo asfáltico. É cotado a preço internacional, mas o governo leva em conta unicamente a questão econômica, e não a questão estratégica. Em relação a não termos produto ou ficarmos dependentes desse mercado externo, o que sempre alegamos é que uma estatal tem uma função estratégica, que extrapola mercado e lucro. A estatal pode ter prejuízo se a sociedade como um todo estiver ganhando. Este é o papel do Estado, fazer com que a sociedade tenha o que precisa e seja atendida, e nesse caso é comida. Sem abastecimento desse insumo, quais podem ser as consequências previstas para o país? Difícil mensurar quais são os impactos, até porque a agronegócio vai repassar esses preços para a sociedade. Muitas culturas que dependem de ureia, caso do milho, feijão, batata e trigo. Não acredito que vamos ficar sem, mas os preços vão subir e muito, aumento de preços na ponta, para o consumidor.


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Cultura

Indicada ao Grammy Latino, Banda Tuyo quer estimular o pensamento no coletivo

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DICAS MASTIGADAS

Arroz com lentilha Unsplash

O grupo de amigos se conheceu na igreja e fez uma banda independente Ana Carolina Caldas

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om o álbum “Chegamos Sozinhos em Casa”, a banda curitibana Tuyo foi indicada ao Grammy Latino de 2021, na categoria Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa. A banda, que já tem 5 anos de estrada, é formada por Jean Machado, Lilian e Layane Soares. A cerimônia do Grammy Latino 2021 será nos Estados Unidos, em 18 de novembro. Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, Lilian contou que o álbum nasceu de um paradoxo: das conversas entre os integrantes nas idas e vindas dos shows e a vontade de voltar para casa. Confira:

Brasil de Fato Paraná – Como foi receber a notícia da indicação ao Grammy? Lilian – Eu acredito muito no poder desse disco de iniciar conversas, entendo plenamente dentro do meu ser como e por que ele foi feito. Sempre acreditamos na potência das coisas que temos vontade de dizer, dos diálogos que temos vontade de conversar, mas confesso que foi uma grande surpresa termos sido indicados ao Grammy Latino. Ficamos sabendo igual todo mundo: entramos no Instagram, alguém mandou o print, o vídeo e foi uma explosão de sabores na boca... Estamos acostumados a entender que as grandes gravado-

Canal da Tuyo https://www. youtube.com/ c/oituyo/f

Vitor Augusto

ras operam o movimento de alavancar seus artistas pra que sejam vistos por esses prêmios, então nós termos sido enxergados por esses pilares, que de alguma forma provocam movimentações dentro do universo dos trabalhos musicais, foi sim, uma grande surpresa. Como foi o processo criativo por trás do “Chegamos Sozinhos em Casa”? Nasceu na rua, na estrada, do desejo, justamente, de voltar. 2019 foi um ano agitado pra Tuyo. Foi quando esse disco foi pensado, ele nasceu ali com a gente na fila do “busão”, esperando embarcar, esperando pra entender pra qual cidade estávamos indo, pra quem que cantaríamos, encontrando as pessoas na estrada e com muita vontade de tocar, mas com muita vontade de voltar pra casa, de entender o que era a nossa casa, de identificar o que era nosso território. Tivemos bastante sorte em ter conseguido terminar todos os processos mais viscerais, que exigiam a nossa presença física, até janeiro de 2020. Quando terminamos de gravar a última voz, todo mundo entrou para casa. Parece que o timing das coisas aconteceu com uma delicadeza que só o acaso providencia. Gostaria que contassem também um pouco da história da banda. A Tuyo existe desde fevereiro de 2016 e nasceu das nossas necessidades de nos comunicarmos, de não nos sen-

tirmos sozinhos. Nós três somos músicos desde a infância, nós fomos criados em igreja evangélica batista desde criança, nossas famílias nos estimularam para exercitar esse talento dentro da igreja. Uma vez que resolvemos sair, enfrentamos bastante resistência das nossas famílias, foi uma batalha. Sinto que o que impulsiona um projeto desse acontecer não é necessariamente essa movimentação pragmática, mas a necessidade de algo. É essa movimentação que empurra o artista para o lugar de se pôr no holofote, se pôr no palco e correr todos os riscos. Além da espera pelo resultado do Grammy, quais são os planos? Fazer uso da voz que temos para continuarmos martelando na tecla sobre a importância de perceber o quanto estamos vulneráveis, o quanto precisamos pensar politicamente sobre as nossas escolhas enquanto indivíduos, enquanto coletivo, estimular as pessoas que curtem a banda a ficarem em dia com a sua vacinação, se cuidar, se proteger, prestar atenção no uso da máscara, prestar atenção nas próprias movimentações. É também provocar as pessoas a pensarem na importância que é ter acesso ao espetáculo, não só o de música, mas acesso a objetos de arte, de poder usufruir o que a arte providencia para qualquer cidadão. E, é claro que queremos voltar a tocar, já estamos nos movimentando...

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Ingredientes 1 xícara de lentilha; 1/2 xícara de arroz Terra Livre; 4 cebolas orgânicas grandes; Azeite; Sal e pimenta a gosto. Modo de preparo Coloque e lentilha para cozinhar em água, até ficar “al dente”. Enquanto isso, pique duas cebolas em pedaços pequenos e refogue em azeite. Escorra a lentilha, guarde e reserve o caldo. Misture a lentilha com a cebola bem dourada. Depois acrescente o arroz lavado e misture, colocando sal e pimenta. Depois, coloque os ingredientes para cozinhar com três a quatro xícaras da água do cozimento da lentilha, até secar.


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Técnicos na corda bamba ELAS POR ELA

Fernanda Haag

Campeonato Paranaense 2021 O Campeonato Paranaense de 2021 começou em 19 de setembro e conta com três times envolvidos: Athletico -PR, Imperial FC e o Toledo. A competição vai até o dia 24 de outubro e tem como fórmula de disputa o turno e returno e a equipe com maior número de pontos ao final se sagra campeã. O primeiro critério, em caso de empate, é uma partida extra para a definição do vencedor. Além da possibilidade de erguer uma taça estadual, o torneio também garante uma vaga na série A3 ao campeão – com exceção do Athletico-PR, que já se encontra na série A2. As Gurias Furacão, inclusive, lutam para manter o atual título e estão embaladas. Atualmente estão na liderança do campeonato e 100% de aproveitamento, pois são três vitórias em três jogos. O Toledo está em segundo, com 3 pontos, e a lanterna pertence ao Imperial FC, que ainda não pontuou. No último jogo, o Athletico fez uma goleada de 8x0 no Imperial. O Toledo, caso deseje ficar com o título, precisa vencer os dois próximos jogos, o último dia 24/10 contra o próprio Athletico. Jogo com cara de final!

Estrangeiros e brasileiros são contratados, mas poucos permanecem até o fim do Brasileirão Frédi Vasconcelos

S

egundo levantamento publicado em artigo de Miguel Stédile na coluna Brasil de Fato FC, “O Brasileirão deste ano bateu recorde de técnicos estrangeiros à frente dos times.” Mas, segundo ele, “apenas cinco permanecem trabalhando, comprovando que sua situação pode ser mais tensa e instável de que seus colegas brasileiros.” Do

dia em que foi publicada a coluna (12) até esta atualização, o número já caiu para quatro porque Hernán Crespo também saiu “de comum acordo” da direção técnica do São Paulo. Mas o que importa é que dos que foram contratados, permanecem, não se sabe até quando, apenas quatro. O português Abel Ferreira, no Palmeiras, o uruguaio Diego Aguirre, no Internacional, o Marcelo Zambrana

Abel, do Palmeiras, é um dos poucos técnicos sobreviventes neste Brasileirão

paraguaio Gustavo Florentin, no Sport, e o argentino Juan Pablo Vojvoda, no Fortaleza. Já caíram Miguel Ángel Ramírez, no Inter, o argentino Diego Dabove e o português Antonio Oliveira, no Bahia e no Athletico, respectivamente. Substituídos por dois brasileiros, Alberto Valentim e Guto Ferreira. O que não muda A regra do Brasileirão que, em tese, deveria dificultar a demissão de treinadores não funcionou até agora. Na edição 2021 da série A, dezesseis dos vinte times já trocaram de técnicos. As últimas quedas, a já citada de Crespo e a de Felipão, no Grêmio, só confirmam a alta rotatividade, seja de brasileiros ou estrangeiros. As exceções, desde o começo do Brasileirão, são Atlético-MG, com Cuca, o Fortaleza de Vojvoda, o Juventude de Marquinhos Santos e o Bragantino de Barbieri. A única novidade é que os técnicos não são mais demitidos, saem em “comum acordo” para que novos nomes possam ser contratados, passando sem penalidades pela nova regra.

Pior cenário, pior árbitro

Fugimos pro Pinheirão

Título

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

Vasco e Coritiba jogam no sábado (16/10) em São Januário (RJ), com arbitragem de Wilton Pereira Sampaio. Estádio e “juiz” são estigmas para o Coritiba e vergonha para o futebol brasileiro. Ali, em 2003, Eurico Miranda deu acesso para que 30 bandidos da facção criminosa vascaína FJ agredissem seis jogadores alviverdes e deles furtassem vários pertences. Repetia-se, assim, o incidente do ano anterior, quando dois atletas foram brutalmente espancados no mesmo local. Sampaio, por sua vez, roubou acintosamente o Coxa em sua segunda final consecutiva da Copa do Brasil (2012). Não bastasse ter validado gol do Palmeiras em flagrante impedimento, marcou pênalti inexistente para os paulistas e deixou de assinalá-lo no coritibano Tcheco, para espanto de milhões de telespectadores e constrangimento de comentaristas como Maurício Noriega, do canal SporTV.

Eu e meu irmão morávamos com a minha avó e tínhamos mudado para Curitiba há pouco tempo. Ele, com 12 anos, era atleticano. Eu, com 10, era paranista. Nunca tínhamos ido a um jogo. Sabíamos onde era o Pinheirão porque da entrada da escola dava pra ver a gigantesca estrutura das sociais. Sem permissão pra ir, fomos amadurecendo um plano. Até chegar no dia “D”: Athletico e Paraná pelo paranaense de 1998. Dissemos pra vó que íamos à casa de amigos e zarpamos pro estádio debaixo de muita chuva. No primeiro tempo ficamos na torcida do Athletico, o mandante. Quando fui ao banheiro, percebi uma passagem pra chegar na torcida visitante. Combinei com meu irmão e fui pra lá. Lembro da minha vibração no gol de falta do Lúcio Flavio. Meu irmão deve ter feito o mesmo no gol de empate do Tuta. O reencontrando do lado de fora foi memorável, duas crianças de alma lavada.

O jogo do Athletico na quarta (13) contra a Chapecoense foi uma síntese dos últimos jogos do rubro-negro no Brasileirão: quando teve a bola, foi pouco eficiente. Sem ela, abriu espaços para ataques efetivos. Não por acaso tivemos uma posse de bola alta (62%), mas as maiores chances de gol foram dos catarinenses. No último sábado o time havia perdido em casa para o Bahia, que está na 17° posição. Agora empatamos com o lanterna em um jogo sofrível, cuja transmissão para o Brasil só foi possível graças aos sites piratas. Analisando os adversários das Copas, Flamengo e Bragantino, não tem como negar o abismo entre o momento que estas equipes estão passando e o Furacão. O problema agora é que não há mais tempo para grandes mudanças, já que o primeiro jogo contra o Flamengo é semana que vem.


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