Cinema nos bairros
Vândala
Cultura | p. 7
Circuito Griot oferece oficinas e exibição de filmes em cineclubes
PARANÁ
Esportes | p. 8
Preconceito punido Jogador da seleção de vôlei tem contrato rescindido por homofobia
Ano 5 Edição 235 28 de outubro a 3 de novembro de 2021 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br
Reprodução
ESPECIAL FAKE NEWS
Mentiras que matam Fake news antivacina, divulgação de remédios que não funcionam. Muitos óbitos poderiam ter sido evitados na pandemia CAPA | p. 4 e 5 Giorgia Prates
ESPERANÇA FURADA Falsas promessas invadem grupos de WhatsApp na periferia Cidades | p.6
Giorgia Prates
Editorial | p. 2
A cara da elite brasileira Áudio de banqueiro mostra quem manda no governo e no Congresso
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Paraná, dia mês ano
O banqueiro, o governo e a cara da elite brasileira EDITORIAL
O
áudio vazado de uma palestra do dono do banco BTG Pactual, André Esteves, para investidores financeiros é chocante. Ao lado de uma análise superficial do momento econômico, do reconhecimento da participação no golpe de 2016, a fala de Esteves reforçou a submissão do Congresso e governo ao mercado financeiro. Esteves elogiou a política de austeridade fiscal de Guedes, incluindo o corte em setores fundamentais, caso da ciência e tecnologia. Aqui temos um problema central diante do governo Bolsonaro. Embora se incomodem com a truculência do presidente, a elite financeira e empresarial resiste em tirá-lo do poder. A negligência
SEMANA
diante das mortes, do desemprego e da fome, a ausência de políticas públicas não parecem ser grandes problemas para banqueiros, mídia, governadores, integrantes do Judiciário e parte dos parlamentares – tampouco razões suficientes para o impeachment. Agora, com a conclusão do relatório da CPI da Covid apresentada à Procuradoria-Geral da República (PGR), o procurador Augusto Aras engavetará, fatiará ou encaminhará as denúncias contra o presidente Bolsonaro, duas empresas mais 78 indiciados? Os trabalhadores não suportam mais a postura genocida do governo. Mas as elites serão responsabilizadas num futuro próximo por tamanha conveniência.
A fake news é filha do “bebê-diabo”
OPINIÃO
Frédi Vasconcelos,
jornalista, mestre em Estudos de Linguagens pela UTFPR e pesquisador sobre fake news
N
um tempo em que o termo fake news nem existia, em maio de 1975, o jornal “Notícias Populares” (NP) sai com a manchete: “Nasceu o Diabo em São Paulo”. No livro “Espreme que Sai Sangue”, sobre a história do jornal, Danilo Angrimani explica que um repórter foi cobrir uma pauta, que furou. Não tinha nada para a capa e fez uma crônica com esse título. Começava ali uma série de 22 edições do NP e seu maior “sucesso”. Não tinha nada de verdadeiro, uma mulher teria dado à luz numa maternidade em São Bernardo do Campo e o bebê: “já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximada-
Brasil de Fato PR
mente 5 centímetros...”, descrevia. O próprio jornal trazia autoridades negando a existência da personagem, mas o desmentido fazia com que fosse ainda mais “verdadeiro”. Esse tipo de noticiário sensacionalista mexia (e mexe) com o imaginário e a cultura ancestral dos leitores, sem importar se as informações são verdadeiras. Nesse caso, relatavam uma “cascata” (história inventada para preencher espaço). O que aproxima das fake
Nas fake news, quem recebe e repassa acredita que é verdade. Mesmo se duvidar, publica porque tem a ver com ideias e valores que defende
news atuais. “O leitor intui que a matéria é falsa, o jornal sabe que edita uma ‘cascata’, mas entre os dois se estabelece uma conivência... um finge que acreditou, o outro faz de conta que contou a verdade”, escreve Angrimani. Nas fake news, quem recebe e repassa acredita que é verdade. Mesmo se duvidar, publica porque tem a ver com ideias e valores que defende, acredita em quem mandou ou repassa por ser tão “sensacional(ista)”. Por isso é tão difícil lidar com as “mamadeiras de piroca”. E quem acha que basta “mostrar a verdade factual” para combater as fake news vai se dar mal. Se é desmentida, a pessoa fica com raiva do “mensageiro”. Na maioria das vezes, continua a acreditar e volta a repassar o conteúdo para suas bolhas nas redes sociais. O caminho para combater as fake news não é fácil. Passa por proximidade e um trabalho de base contínuo.
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 235 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintasfeiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABOROU NESTA EDIÇÃO William Zanoni ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com TIRAGEM 4 mil exemplares IMPRESSÃO Grafinorte
Brasil de Fato PR
“Com a tradicional oratória miliciana, o senador Flavio Bolsonaro tenta isentar o pai genocida da divulgação de fake news sobre vacina e HIV”
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COLUNA DA JUVENTUDE
Como fazer uma espada
Disse o jornalista Kennedy Alencar em seu Twitter sobre a atuação do filho do presidente no dia da leitura do relatório da CPI da pandemia. E complementou: “Faz um discurso em que procura vitimizar Bolsonaro, que é, sim, responsável por mais brasileiros terem morrido e adoecido. CPI tem provas.”
A Cooperativa, Produção, Comercialização, Agroindustrialização, Agroecológica União Familiar – COPRAUF, vem através de seu Presidente, Sr. EVANDRO GONÇALVES, no uso das suas atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto Social desta entidade e as leis vigentes, CONVOCAR os seus associados, para participar da Assembleia Geral Extraordinária, a ser realizada no dia 06 de Novembro de 2021 (sábado), Centro Comunitário do Projeto de Assentamento Imbauzinho, s/n, Zona Rural, no Município de Ortigueira – PR, CEP 84.350-000, às 08:00h em primeira convocação, às 09:00h em segunda convocação e as 10:00h em terceira e ultima convocação, para deliberarem sobre a seguinte ordem do dia: 1 – Alteração de endereço da Filial 01. ORTIGUEIRA/PR, 26 de Outubro de 2021
Geral
Ana keil
FRASE DA SEMANA
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
Brasil de Fato PR
Paraná, dia mês ano
Divulgação | Twitter
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Vai engavetar? Senadores entregaram, na quarta, 27, ao procuradorgeral da República, Augusto Aras, relatório da CPI da Pandemia que sugere o indiciamento de 78 pessoas e duas empresas. Entre os denunciados está Jair Bolsonaro, acusado por crimes co-
muns, de responsabilidade e contra a humanidade. Aras, indicado pelo presidente e que tem o dever de investigá -lo, irá novamente engavetar as denúncias? Aos senadores, disse que tem compromisso “com as instituições e regramentos republicanos”. A ver.
Vereador condenado Em ação aberta pela APPSindicato, a Justiça condenou o vereador Eder Borges (PSD) pelo crime de difamação. Ele publicou em redes sociais montagem de fotos e texto atribuindo ao sindica-
to a manipulação ideológica de estudantes nas escolas do Paraná em 2016. A pena é de detenção de 25 dias, mais 20 dias-multa. O vereador vai recorrer da decisão.
Ministro “burro” Em reunião para discutir cortes no orçamento da Ciência e Tecnologia, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou outro ministro, o astronauta Marcos Pontes, de “burro”. Guedes, que está sendo “fritado” por muita gente dentro do Palá-
cio Planalto e é responsável por boa parte do caos econômico que o país vive, tem a mania de ligar para profissionais da imprensa e falar mal de colegas de governo e políticos, como revelou o jornalista Thomas Traumann em seu Twitter.
Eu amo a expressão “forjado na luta”. Sempre escuto militantes utilizando e acho incrível. Mas dou-me conta de que se trata de uma metáfora bélica, meio à la Quentin Tarantino. Se você quer ter uma espada, é preciso forjar num ferreiro. Parece insano fazer isso enquanto se luta, bater no metal quente, afiá-la, fabricar a espada em meio aos ataques e contra-ataques. Ninguém faz isso literalmente. Mas forja-se o quê afinal de contas? O meio tem que ser adequado ao fim, e nossa finalidade é a construção do projeto popular. Recebemos nossa instrução/formação, o metal bruto, na leitura de Marx, Lênin, Florestan, entre outros. Mas é no conta-
to com o povo, no diálogo freireano com os oprimidos, que vamos forjando nossa espada e a nós mesmos. Parafraseando Paulo Freire, “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”, diria que nós também nos forjamos em comunhão e que isso faz parte do nosso processo de libertação. Nossa forja é uma obra coletiva. Cada contribuição é importante para que o fio da espada consiga cortar as teias que oprimem o povo brasileiro. De todo coração, amo ser o metal quente, em processo de construção, de forja permanente junto ao povo, moldado e afiado pelo diálogo. Eu amo ser forjado na luta.
William Zanoni, advogado e militante do Levante Popular da Juventude
Paraná atinge 40 mil mortes por Covid-19 O Paraná atingiu, no domingo (24), a marca de 40 mil mortes por Covid-19. O estado é o quarto do país com mais óbitos, atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. É ainda o terceiro em casos de contaminação confirmados. São 1,54 milhão de pessoas. Mas o estado tem conseguido reduzir a quantidade de casos e mortes com a vacinação. Pelo menos 8,39 milhões receberam a primeira dose e 6,2 milhões tomaram as duas doses ou a dose única. Com relação aos casos, São Paulo atingiu 4,4 milhões, seguido por Minas Gerais, com 2,18 milhões. Por outro lado, esses estados são mais populosos que o Paraná. A população de São Paulo
é de 46,6 milhões. Minas Gerais possui 21,4 milhões. Já o Paraná tem pouco mais de 11 milhões de habitantes, fazendo com que a proporção de contaminados por mil habitantes seja maior. O pico de casos e mortes no Paraná aconteceu em junho de 2021. Com a vacinação lenta, o estado viu saltar o número de casos e mortes, principalmente por medidas do governo do estado que aumentavam a circulação de pessoas e diminuíam as medidas restritivas. Em junho, a taxa de transmissão era a pior do País, segundo o portal Loft.Science. Curitiba puxou os números para cima. Ela é a sétima capital com mais mortes no país e fica na mesma posição em número de casos confirmados.
4 Especial
Paraná, 28 de outubro a 3 de novembro de 2021
Brasil de Fato PR
Mentiras que matam Exemplos de desinformação: reportagem do Brasil de Fato Paraná acompanha grupos antivacina abertos no Telegram, traz relatos de pessoas que morreram sem vacina ou usaram o “tratamento precoce” e o que dizem especialistas Dr. Zelenko e a cloroquina Num dos grupos acompanhados pelo BDF-PR, é citado vídeo de entrevista em inglês de um tal de Dr. Zelenko, que recomendaria uso de Zinco, Cloroquina e Ivermectina. Segundo o projeto Comprova, publicado na Folha de S.Paulo, “O estudo feito por Zelenko não tem comprovação científica, não foi publicado em nenhum periódico médico e a única evidência de sua existência são as declarações do próprio autor da suposta pesquisa.”
Magnetização e tentáculos Outras mensagens nos grupos antivacina atribuem aos imunizantes efeitos danosos como “magnetizar a pessoa” ou mesmo que nas vacinas são achados corpos estranhos como tentáculos (veja imagens abaixo)... Segundo o imunologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações, “não há qualquer componente magnético na composição das vacinas, e que não é fisicamente possível criar um campo magnético no corpo ao ser imunizado... Todas as vacinas disponíveis no mundo, e as 4 disponíveis aqui no Brasil, têm em comum a alta segurança. São vacinas extremamente seguras, não relacionadas a efeitos colaterais graves”, afirma ao site Poder360.
Dizem que vacinas contra a Convid-19 causaram mortes Segundo a plataforma Boatos.org, muitas mensagens em grupos antivacina, como as mostradas ao lado, dizem que a Anvisa tem alertado para milhares de mortes por conta da imunização. Segundo o site, são usados dados errados de uma plataforma que existe para relatar reações adversas, não mortes. E conclui: “Anvisa não alertou que vacinas contra Covid-19 têm mais de mil mortes e também divulgou dados sobre os efeitos adversos das vacinas. A mensagem não passa de mais um boato da coletânea dos grupos antivacinas.”
Paraná, 28 de outubro a 3 de novembro de 2021
Especial 5
Mortes e revolta de familiares após fake news Ana Carolina Caldas
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m março de 2020, com a pandemia reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a população começou a receber as primeiras informações sobre como se proteger do novo vírus. Ao mesmo tempo, pesquisadores, cientistas e médicos corriam contra o tempo buscando tratamentos e respostas sobre a Covid-19. E, infelizmente, uma pandemia de desinformação também começou a acontecer. As fake news e informações não comprovadas também se provaram mortais. Entre as mais de 600 mil mortes decorrentes da contaminação pelo coronavírus no Brasil, muitas destas aconteceram em decorrência da crença em tratamentos ineficazes e não comprovados cientificamente, do menosprezo da letalidade do vírus e/ou da negação à vacina. Para o médico sanitarista e professor do Curso de Medicina da UFPR, Guilherme Albuquerque, as medidas necessárias para combater a pandemia foram bem estabelecidas pela ciência, porém acabaram sabotadas. “No Brasil, apesar do trabalho dos cientistas e profissionais da saúde, as autoridades políticas sabotaram as medidas simples de prevenção, inclusive divulgando fake news, levando grande parte da população a seguir, colocando sua saúde em risco e ocasionando mortes pela Covid-19”, afirma. Leia alguns depoimentos ao lado.
Crença em remédios ineficazes O advogado paranaense Luiz Antonio Leprevost, de 69 anos, foi uma dessas vítimas. Ao saber que estava infectado pelo coronavírus, adotou, por conta própria, o uso de hidroxicloroquina e ivermectina. Ao demorar em buscar atendimento médico, veio a óbito em 9 de abril de 2020. Ele é o pai do atual secretário de Justiça, Família e Trabalho do Paraná, o ex-deputado estadual Ney Leprevost. O filho, que integra o governo Ratinho Jr., que apoia o presidente Jair Bolsonaro, contou em suas redes sociais sobre o arrependimento do pai: “Ele desabafou e disse ter se arrependido, de ter acreditado nos remédios.” Outro filho, o vereador de Curitiba Alexandre Leprevost (PSD), foi mais crítico em discurso na Câmara Municipal de Curitiba. “Meu pai, apesar de induzido pelas falas do nosso líder maior, sempre se cuidou.
Mas estava na crença ferrenha do tratamento precoce. Falava disso como se fosse médico. Quando começou a ficar em pé, do nada, ele começou a ficar fraco novamente, com uma coloração amarela. Voltou ao hospital e entrou em coma. Dessa vez os problemas estavam no fígado, no rim, e podem ter sido gerados pelo excesso de remédios como ivermectina e a cloroquina, que já tomava antes mesmo de contrair a doença,” relatou. Bolsonaro foi um dos principais defensores de tratamentos usando ivermectina e cloroquina, comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. Foi Bolsonaro também quem disseminou inúmeras fake news como quem pegou Covid-19 não precisa se vacinar e, recentemente, que a vacina gera AIDS, levando o Facebook, Instagram e Youtube retirarem do ar o vídeo com essa sua fala.
Revolta com as falas do presidente Letícia Cruz, 22 anos, do município de Campo Largo, diz se sentir revoltada com as falas do presidente que levaram muitos a acreditar nele. “Minha madrinha não se vacinou por acreditar nas besteiras que o Bolsonaro falou sobre a vacina. Dizia que o presidente estava certo em chamar de “país de maricas”, porque tinham medo de uma “gripezinha”, diz. A madrinha, a professora aposentada Célia dos San-
tos Constatino, 54, faleceu de Covid-19 em janeiro de 2021. “Foi intubada, sem poder se despedir da família”, conta Letícia. Estudo realizado na Austrália, por epidemiologistas e especialistas em infodemia, mapeou o impacto de notícias falsas na sociedade. Num ranking dos 52 países mais afetados por fake news sobre vacinas e Covid-19, o Brasil ocupou o terceiro lugar, atrás dos Estados Unidos e da Índia.
COMO COMBATER A DESINFORMAÇÃO A professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná, UFPR, Michele Massuchin, coordena projeto que estuda desinformação e diz que são vários os fatores que impactaram negativamente. “Hoje existe uma enorme quantidade de informações controversas sobre a pandemia, medicamentos, vacinas etc. O que dificultou ainda mais para que
as pessoas tomassem suas decisões, por exemplo, quanto à prevenção. Consequentemente as dúvidas ou mesmo a crença em notícias falsas prejudicaram, por exemplo, a adesão destas pessoas às campanhas de prevenção,” explica. Ao receber uma notícia, diz Michele, a maioria das pessoas não discrimina se é falsa ou não. “Esses conteúdos geralmente circulam
num formato muito similar às notícias, levando às pessoas a darem inicialmente credibilidade. Além disso, trazem o que chamamos a “força da experiência”, com relatos de pessoas que teriam vivenciado aquilo, aumentando a confiança,” explica. Questionada sobre como se combate a epidemia da desinformação, Michele defende que, principalmente, haja uma cobrança de
um posicionamento das plataformas como Facebook, Youtube e Instagram. “É importante que haja posicionamento claro para impedir a circulação desse tipo de conteúdo, que é falso, e, outro ponto, é a retomada do diálogo das instituições como universidades, por exemplo, com o cidadão no intuito de fazê-lo entender como se dá o fluxo de informações”, diz.
de Fato PR 6Brasil Cidades
Brasil de Fato PR
Paraná, dia mês ano
Situação de famílias piora nas periferias por conta da economia e de notícias falsas
Giorgia Prates
Fake news prometem benefícios em grupos de moradores de bairros pobres Gabriel Carriconde
I
nflação acumulada no ano em mais de 10%, reajustes diários no valor do combustível e gás de cozinha, desemprego, volta da fome. Estas são algumas das imensas dificuldades que os brasileiros estão enfrentando na crise sanitária e econômica, com o aprofundamento da pandemia em 2021. Na dificuldade, quem precisa sustentar a família agarra-se a qualquer esperança. E nos bairros mais pobres de Curitiba circulam diversas notícias falsas com supostos programas do governo federal, como ‘’auxílio gás’’, ‘’aumento do auxílio emergencial’’, promessas de acesso a cesta básica e valores irreais de um novo Bolsa Família. Essas são algumas das fake news que têm pipocado em grupos de WhatsApp. Juliana Santos Moro, moradora na Vila Formosa, Novo Mundo,
conta que a situação econômica das famílias na comunidade piorou muito neste ano, e muitos acabam caindo em notícias falsas de auxílio ou ajuda governamental. “Têm aparecido propostas como vale gás, auxílio novo, Bolsa Família com valor maior”, conta. Juliana é catadora de recicláveis e voluntária da associação de moradores da região e diz que tenta alertar os moradores para que não acreditem nas mensagens. “Aqui na região tem muito mais de 300 pessoas no cadastro das associações, aí alguém vê na internet e compartilha. Quando vemos que não procede, já avisamos. Mas é bem complicado porque tem gente que tá na esperança de conseguir gás, verdura, cesta básica, ou pegar algum auxílio do governo”, diz. No próprio site do governo federal há alguns alertas para notícias falsas, como “ajuda mensal de R$ 200 para trabalhadores autôno-
Famílias têm dificuldade para morar e pagar alimentação na atual crise
mos e pessoas de baixa renda para combater a pandemia do novo coronavírus”, ou programas como “a criação de um auxílio gás, por intermédio do Ministério da Cidadania”, visando a auxiliar as famílias em meio à pandemia. Obviamente, a
notícia é falsa. O único projeto nesse sentido é dos deputados federais Bohn Gass e Paulo Teixeira, do PT. O PL 1922/2020, proposto no ano passado, atualmente está parado na mesa diretora da Câmara dos Deputados, sem previsão de ser votado.
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Gente que perdeu a casa Com o fim do auxílio emergencial de 600 reais, a situação de diversas famílias brasileiras ficou dramática. Juliana Santos conta que, na Vila Formosa, tudo piorou com o fim do auxílio e o aumento da inflação. “Aumentou bastante o número de pessoas desempregadas, com dívidas. Teve gente que perdeu a casa de aluguel, tem famílias que tiveram de ir catar recicláveis, e até família que foi morar dentro do carro. É muito triste”, revela. Diante da difícil situação, um ano antes do processo eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nas últimas semanas a alteração do Bolsa Família para o novo ‘’Auxílio Brasil’’, que aumentaria o benefício para 400 reais mensais, por um ano. A medida, de acordo com analistas, furaria o teto de gastos, o que causou demissão em massa no gabinete do Ministro da Economia, Paulo Guedes. Perguntada se o valor ajudaria as famílias de Vila Formosa, Juliana foi taxativa: ‘’Sabemos que não, né, se viesse os 400 e os preços estivessem mais baixos, amenizaria ao menos entre uma coisa e outra’’.
Brasil de Fato PR
Brasil de Fato PR
Paraná, dia mês ano
Cultura 7
Circuito Griot oferece oficinas e organiza cineclubes em bairros de Curitiba
Vândala
Projeto propõe reflexão e criação de produtos audiovisuais para comunidades periféricas Ana Carolina caldas
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oradores de quatro bairros de Curitiba recebem o Circuito Griot, projeto que propõe a reflexão e a criação de produtos audiovisuais por e para comunidades periféricas da capital. Na primeira etapa, entre os meses de outubro e dezembro, as atividades ocorrem nos bairros Parolin e Sítio Cercado. De fevereiro a abril de 2022, chegam ao Tatuquara e à Vila Leonice. A programação consiste em oficinas de Práticas Audiovisuais e exibições de filmes abertas à comunidade. Na oficina será abordada a linguagem e a produção cinematográfica com o compartilhar de experiências e a sensibilização de olhares
das/os participantes aos territórios que habitam. Cada bairro receberá oficina com oito encontros, de 3h cada, durante dois meses. Ao final, os exercícios serão reunidos em um filme-carta, resultando em quatro curtas produzidos coletivamente por moradores dos bairros. Já as exibições abertas à comunidade têm como objetivo aproximar a população do formato do cineclube. A proposta é exibir filmes com protagonismo ou realização negra em espaços coletivos. As sessões quinzenais contemplam a exibição de dois filmes, um curta e um longa metragem, seguidos de debates. Antes das sessões, os longas exibidos serão decididos por votação dos
participantes das oficinas. “Para a gente é muito importante descentralizar os acessos à cultura, tanto no que diz respeito à localidade quanto às pessoas que normalmente, por vários motivos, acessam esses bens. Então, realizar o circuito nesses territórios, onde já existe um histórico de luta, de resistência negra em Curitiba, é muito importante”, diz Bea Gerolin, da Cartografia Filmes. Para Andrei Carvalho, também da Cartografia, o Circuito Griot busca englobar, de forma ativa em todo o processo, a comunidade em que as oficinas e exibições acontecerão. “Especialmente no fortalecimento da cadeia econômica movimentada por um evento cul-
tural desta natureza a partir dos empreendedores e/ou projetos sociais locais. Tanto na alimentação do lanche das oficinas, na circulação dos anúncios sonoros no bairro como na participação das produtoras locais - que são lideranças consolidadas em seus territórios - como integrantes da equipe técnica do projeto”, diz. O Circuito Griot é o novo projeto da Cartografia Filmes, produtora vocacionada para o audiovisual identitário negro. Também realiza, em Curitiba, outros projetos de difusão, como o Griot Festival de Cinema Negro Contemporâneo, que acontece desde 2018, e a Afrika XX - Mostra de Cinemas Pioneiros do Continente Africano.
Fique por dentro Parolin Oficinas aos sábados, 23/10 a 11/12, das 9h às 12h. Exibições nos dias 31/10, 06/11, 20/11 e 04/12, às 18h30.
Sítio Cercado Oficinas aos sábados, de 23/10 a 11/12, das 14h30 às 17h30. Exibições nos dias 30/10, 13/11, 27/11 e 11/12, às 18h30
DICAS MASTIGADAS | Sopa de mandioquinha A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 700 gramas de mandioquinha orgânica 1 cebola orgânica 2 dentes de alho orgânico 1 pedaço de gengibre orgânico Sal e pimenta a gosto Salsinha picada
Reprodução
Modo de Preparo Comece lavando as cascas da mandioquinha para aproveitar. Em seguida, corte-a em rodelas finas e guarde as cascas. Coloque a panela para esquentar, com o azeite, e depois acrescente cebola, gengibre, alho e deixe refogar. Aos poucos coloque a mandioquinha e continue refogando. Quando a mandioquinha estiver numa tonalidade amarelada e transparente, acrescente a água, mexa e deixe ferver. Mexa de vez em quando até perceber que a mandioquinha já está toda desmanchada, bem incorporada e um caldo grosso. Se você quiser, pode bater no liquidificador para ficar mais cremoso. Continuar mexendo também traz bom resultado.
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Paraná, dia mês ano
Uma cortada na homofobia
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Brasil x Austrália
Depois de postar conteúdo preconceituoso, jogador de vôlei tem contrato rescindido
Divulgação
Frédi Vasconcelos Maurício, da seleção de vôlei, foi demitido de seu time por comentários homofóbicos
O
jogador de vôlei Maurício Souza teve contrato rescindido pelo Minas Tênis Clube na quarta, 27, após se envolver em polêmica ao publicar postagem com conteúdo homofóbico em redes sociais. Comentando sobre quadrinhos do Superman, em que o personagem Joe Kent, filho do super-homem original, dá um beijo gay numa revista, postou no Instagram, em que tem centenas de milhares de seguidores: “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”. Rebatido pelo colega de seleção brasileira de vôlei Douglas, homossexual assumido, que disse que não se tornou heterossexual ao ver heróis e heroínas se beijarem nos quadrinhos, Maurício insistiu na polêmica, numa tréplica: “Para cima de mim não! Aqui é frágil igual esticador de canto de cerca!”, escreveu Maurício numa foto com a frase: “Hoje em dia o certo é errado e o errado é certo. Não se depender de mim. Se tem que escolher um lado, eu fico do lado que eu acho certo. Fico com minhas crenças, valores e ideais.”
Num primeiro momento seu clube, o Minas, tentou contornar a situação em reuniões internas. Pressionado por patrocinadores, como a Fiat e Gerdau, que soltaram notas oficiais contra a homofobia e em favor da diversidade sexual, o clube suspendeu o jogador e pediu que se retratasse pelas redes. Maurício fez um primeiro post genérico no Twitter, rede que nem usava e tinha poucos seguidores. Depois voltou ao Instagram, num vídeo em que dizia que tinha direito de se manifestar e mantinha suas posições. Acabou demitido. Jogadores se posicionam Além de Douglas, outros jogado-
res das seleções brasileiras de vôlei se posicionaram, Carol Gattaz, Fabi, Sheilla, Thaisa, Gabi, Maique, William, entre outros, fizeram postagens contra a homofobia. Gattaz escreveu: “Homofobia é crime. Racismo é crime. Respeito é obrigatório. Está na lei, garantido pela Constituição. Já toleramos desrespeito, gracinhas e preconceitos disfarçados de opinião por muito tempo. Chega”, escreveu. Maurício teve a solidariedade de jogadores como Cidão e Wallace, atleta envolvido em outra polêmica com Maurício, quando postaram foto usando a camisa da seleção com o número 17, o de Jair Bolsonaro, antes das eleições de 2018.
A Seleção Brasileira realizou dois jogos contra a Austrália na última Data Fifa. É um confronto marcado pela rivalidade e não gostamos nem um pouco de perder para as Matildas. Em 20 partidas foram 11 vitórias para elas, 8 para nós e 1 empate. Mas temos um bom retrospecto nos Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, das sete vezes que as enfrentamos, ganhamos 5 vezes contra 2 das australianas. Nesses dois últimos amistosos, as australianas levaram a melhor. Venceram o primeiro jogo realizado no sábado, 23, no Estádio Combank em Sydney, por 3x1. A Austrália apresentou um melhor desempenho em campo e o Brasil realizou vários testes no time e teve problemas no ataque e na defesa. Os gols foram de Polkinghorne, Fowler e Adriana. A segunda partida ocorreu na terça-feira, 27, no mesmo local, mas com uma postura bem diferente da seleção canarinho. As brasileiras pressionaram mais e criaram mais oportunidades. O placar final foi 2x2 e as australianas chegaram a abrir 2x0, mas as Guerreiras do Brasil correram atrás e saíram com o empate. Polkinghorne e Kerr balançaram as redes pela Austrália e Érika e Debinha, artilheira da Era Pia, guardaram os seus também. É um momento de renovação e já de olho na Copa América, em 2022, na Colômbia!
Confiança, torcedor!
Sobre a demissão de Richard
Por Cesar Caldas
Por Douglas Gasparin Arruda
Com 58 pontos conquistados, o Coritiba chega à 33ª rodada da Série B com segura vantagem de sete pontos sobre o 5º colocado (CRB), o que explica os 97,7% de probabilidade de acesso que lhe são atribuídos pelo Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais. Um triunfo diante do Operário, no jogo agendado para as 18h30 da próxima quarta-feira, 3/11, no Alto da Glória, e um empate nos Afl itos com o Náutico na tarde do sábado subsequente asseguram seu virtual retorno à divisão de elite do futebol brasileiro. 62 pontos e 17 vitórias manteriam o alviverde, a quatro rodadas do fi m do campeonato, com cinco pontos e duas vitórias à frente do clube alagoano, mesmo que este derrote consecutivamente Sampaio Correia e Ponte Preta. Nesta reta fi nal, concentração e empenho são o que se espera dos atletas coritibanos. Do torcedor coxa-branca, confiança.
Um dos temas do momento é a questão da saúde mental, e a pandemia serviu para acentuar a importância do debate (e de uma boa terapia). No futebol é perceptível que o assunto ainda dá seus primeiros passos. O caso de Richard, demitido por “indisciplina” (após deixar o estádio insatisfeito pela substituição na partida contra o Fluminense), é um exemplo do problema. As cobranças nos esportes de alto rendimento são intensas, especialmente no futebol. Assistindo aos jogos do Furacão neste ano e acompanhando alguns erros que se repetiram, é possível perceber que o ambiente de cobrança extrema teve seus impactos psicológicos no time. Richard errou ao sair do estádio, mas, até que uma nota oficial explique, fica a dúvida sobre os reais motivos de seu afastamento e o mérito da decisão da diretoria.