Esportes | p. 8
Paraná | p. 4
Editorial | p. 2
Diferentes e iguais
Risco na escola
Xadrez de guerra
Em realidades distintas, Paraná e Athletico demitem técnicos
Sindicato denuncia condições inadequadas de escolas públicas
Potências disputam futuro da Ucrânia e dutos de gás e petróleo
PARANÁ
Ano 5
Edição 244
11 a 17 de fevereiro de 2022
Divulgação | Dancep
Cultura | p. 7
Dança e hip hop Estão abertas inscrições para cursos gratuitos
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
O racismo vai ao plenário Vereadores enfrentam ódio em redes e tentativa de cassar mandato
Paraná | p. 5 e Artigo | p. 3 Giorgia Prates
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2022
O xadrez E querem entre EUA crucificar novamente (Otan) e Rússia Renato Freitas editorial
A
chance de uma guerra na fronteira entre Rússia e Ucrânia é constante nos noticiários, abordada na mídia empresarial como se fosse ação apenas do governo Putin. Um resgate histórico do conflito mostra que, com o fim da União Soviética, um dos pedidos da Rússia foi que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não se expandisse em direção ao leste, incorporando países fronteiriços, caso da Ucrânia. Este pacto vem sendo descumprido desde os anos 2000. É fato que, sob ação da Otan, com papel central dos EUA, vários países foram invadidos para cumprir interesses dos países centrais. A Ucrânia está em território cobiçado, que abriga rede de dutos que transportam petróleo e gás natural da Rússia à Europa Central, uma de-
SEMANA
opinião
pendência que se aprofunda com o projeto Nord Stream 2, duplicando o volume de gás russo exportado à Alemanha – país pressionado pelas duas partes do conflito. Putin quer retomar o espaço perdido nos anos 90, mantendo hegemonia sob os países da chamada Eurásia. Quer evitar um cerco maior de tropas da Otan nos países fronteiriços e, ao mesmo tempo, conter revoltas que tem estourado em países como Cazaquistão. Já o governo Biden amarga o fracasso do Afeganistão, a crise econômica e a pandemia. Hoje, interessa aos EUA desestabilizar a aliança geopolítica gestada entre Rússia e China. Trata-se de um xadrez tenso, que não deve se resolver cedo, envolvendo diretamente as duas maiores potências nucleares do planeta.
Por Giorgia Prates e Frédi Vasconcelos
Integrantes da redação do Brasil de Fato Paraná
É
possível discordar de ações do vereador Renato Freitas (PT), mas é claro que as reações são desproporcionais. Seja a perseguição pelas polícias militar e municipal, e até mesmo pedidos em série de cassação de mandato, por uma ala da Câmara que não suporta a diversidade. E isso ocorre novamente depois da manifestação em Curitiba contra o racismo e a morte do congolês Moïse Kabagambe. O ato aconteceu no dia 5, em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário (dos pretos), construída por negros e para os negros num tempo em que a escravidão era oficialmente admitida.
No fim, os manifestantes decidiram entrar na igreja. A transmissão ao vivo do Brasil de Fato Paraná, disponível em suas redes sociais, sem edição, mostra que várias pessoas tentam entrar na igreja. O padre, depois de conversar, fecha a porta principal, faz gestos para os manifestantes. Fica evidente, ainda, que pessoas entram por uma porta lateral numa igreja vazia, sem missa, e Renato não está entre os primeiros. Dentro, o vereador e outras pessoas fazem discursos contra o racismo e o fascismo e saem da igreja logo depois. O pedido de cassação encaminhado pelo vereador Eder Borges (PSD) é mais um capítulo da perseguição a um vereador negro e de esquerda.
Eu, Giorgia Prates, estava cobrindo a manifestação pelo Brasil de Fato Paraná. Afirmo que a decisão de entrar na igreja foi de ‘todes’ que estavam lá. Minha, inclusive. Ainda vi o padre zombar e se dizer racista mesmo. É mais um capítulo na história de quem insiste em silenciar os negros e impedir que assumam lugares de poder. Dias depois, a vereadora Carol Dartora (PT), presente também ao ato, recebeu ameaças racistas nas redes sociais. A defesa de Renato não é apenas do vereador, mas sim dos que estavam na manifestação. É uma igreja construída por pessoas negras, as mesmas que, como Moïse, são assassinadas e sofrem com preconceito todos os dias.
Agora é sua vez! Entre em contato por e-mail ou pelas redes sociais, comente uma de nossas matérias e tenha sua carta publicada aqui no BdF impresso
FALA POVO
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 244 do Brasil de Fato Paraná, que circula às sextas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABOROU NESTA EDIÇÃO Thea Tavares ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr
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Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2022
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
Orçamento de Ratinho é uma peça de ficção Você já deve ter se deparado com o governo do Paraná falando que não pode dar reajuste para funcionários públicos ou investir em outras atividades porque não tem orçamento. Balela. Vira o ano e os números fechados mostram que a peça orçamentária era peça de ficção. Com pandemia e tudo, o Paraná fechou com uma receita de R$ 56,2 bilhões em 2021. 19% a mais do que o previsto e R$ 9 bilhões de superávit.
“A cada dia o Brasil afunda mais na desgraça nazifascista”
Tem dinheiro, falta interesse Com aumento de arrecadação, a Receita Corrente Líquida cresceu 18,92%. Já a Despesa Total com Pessoal do Poder Executivo aumentou 9,65%. Portanto, o comprometimento da Receita Corrente Líquida com as Despesas com Pessoal diminuiu, passando de 45,76% para 42,19%, se mantendo abaixo do limite de alerta (44,10%), do limite prudencial (46,55%) e do limite máximo (49%) da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Naiara Bittencourt
Mais veneno no prato
Disse a professora de Filosofia e escritora Marcia Tiburi, em seu twitter, ao comentar pessoas que apareceram em programas defendendo o direito a ter ideias nazistas. “A impunidade de Kim Kataguiri, Monark e Adrilles será sintoma de uma sociedade perversa e fadada à autodestruição. A mídia que difunde e garante espaço aos criminosos demonstra sua própria ideologia”, concluiu. Divulgação
Volta da economia Para o Dieese, a maior diferença entre o realizado e o estimado ocorreu na “Receita Tributária”, com R$ 5,217 bilhões a mais do que o previsto, possivelmente em decorrência da retomada da atividade econômica após a redução das medidas de restrição sanitária impostas por conta da pandemia de Covid-19.
É ESSE?
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Prisão para nazistas?
Veneno por dinheiro
Monark, ex-apresentador do podcast Flow, e o deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP) poderão ser indiciados e ter de pagar indenizações e até ser presos por apologia ao nazismo e discriminação contra judeus em programa que fizeram. A afi rmação é do advogado especialista em direitos humanos Ariel de Castro Alves, em entrevista à Revista Fórum. Para Ariel, mesmo que não sejam presos, Monark e os demais integrantes podcast poderão ter que responder a processos e inquéritos.
O deputado federal Luiz Nishimori (PL-PR), relator do chamado “Pacote do Veneno”, recebeu R$ 380 mil de empresários e executivos do agronegócio na campanha que o levou à Câmara dos Deputados. O PL pretende flexibilizar ainda mais o uso de agrotóxicos no país (leia Nosso Direito, ao lado) Todas as dez doações individuais recebidas por Nishimori na campanha foram de figuras ligadas ao setor. A informação foi extraída pelo Brasil de Fato no DivulgaCand Contas, plataforma do Tribunal Superior Eleitoral, e de informações públicas.
EDITAL DE CONVOCAÇÃO A Cooperativa de Produção Agroecológica, Agroindustrialização e Comercialização do Noroeste do Paraná, vem através de seu Presidente Sr. Sidinei Ledio Apolinario, no uso das suas atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto Social desta entidade e as leis vigentes, CONVOCA os seus associados, para partici-
par da Primeira Assembleia Geral Extraordinária, a ser realizada no dia 23 de Fevereiro de 2022 (quarta-feira,) sito, no Projeto de Assentamento Companheira Roseli Nunes, no centro comunitário do (grupo Valmir Mota) na zona rural, CEP: 87.850000, as 08:00h em primeira convocação, as 09:00h em segunda convocação e às 10:00h em terceira e última
convocação, para deliberarem sobre a seguinte ordem do dia: - Reforma do estatuto; - lnclusão de novas Atividade Econômicas no Cadastro da Cooperativa. Amaporá/PR, 08 de fevereiro de 2022. Sidinei Ledio Apolinario Presidente
Na quarta, 9, o pacote do veneno foi aprovado na Câmara dos Deputados, com 301 votos a favor e 150 contra. O projeto de lei objetiva substituir a atual Lei dos Agrotóxicos para facilitar os registros desses produtos. Na contramão da ciência, os deputados ignoraram entidades como a Fiocruz, o Instituto Nacional de Câncer, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Anvisa, o Ibama, os Ministérios Públicos Federal e do Trabalho e até a ONU, todos contrários ao PL. Dentre os retrocessos estão a possibilidade de autorização de registro de agrotóxicos cancerígenos; o menor papel para Anvisa e Ibama, com superpoder ao Ministério da Agricultura; a mudança do nome de agrotóxico para pesticida; a omissão sobre propaganda de agrotóxicos e a diminuição da competência de estados e municípios para legislarem sobre o tema. As inconstitucionalidades são evidentes e afrontam os direitos do consumidor à saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Novamente, os deputados votam, em maioria, contra os interesses do povo brasileiro. O projeto agora segue ao Senado e a batalha continua. Esperamos contar com votação e posicionamento dos senadores de modo sério e respaldado na ciência. Naiara Bittencourt Advogada e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares
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Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2022
Escolas do PR voltam sem condições adequadas de prevenção à Covid-19 Sindicato diz que o governo recebeu recurso para adaptar escolas, mas usou para outro fim Ana Carolina Caldas
E
m grande parte da pandemia, os alunos das escolas estaduais do Paraná tiveram aulas on-line para frear a disseminação do vírus. Nesse tempo, a APP Sindicato, professores, equipes pedagógicas e estudantes levaram ao governo a necessidade de mudanças para o retorno presencial. Com a volta às aulas nesta semana, o sindicato denuncia que nada mudou, e os estabelecimentos de ensino no Paraná não têm condições seguras de prevenção contra a Covid-19. Segundo a presidente da APP Sin-
dicato, Wakiria Olegário, o governo do Paraná recebeu no ano passado recurso federal destinado a melhorar as estruturas, porém foi usado para outro fim. “O governo estadual fez muito investimento em propaganda, e as escolas ficaram sem as readequações necessárias. Além disso, o recurso que veio do governo federal para a estrutura das escolas foi realocado pela Secretaria de Educação para tecnologia. Ainda assim, acabamos tendo problemas de acesso à internet em muitas regiões”, diz. O retorno às aulas presenciais aconteceu em 7 de fevereiro e pro-
fessores e estudantes encontraram as escolas com problemas. “A gente está com salas lotadas e janelas ainda sem conserto, como antes. Tem também o problema da limpeza, que está deixando a desejar”, conta uma professora que não quis ser identificada. Salas de aulas com problemas de ventilação, falta de máscaras adequadas para professores e alunos, escolas sem água encanada, sem refeitórios adequados para fazer o distanciamento social são alguns dos problemas apontados e que não foram solucionados.
FALTAM FUNCIONÁRIOS “Outro problema é a falta de funcionários para limpeza e higienização, por exemplo. Antes eram contratados pelo estado, mas agora são via empresas terceirizadas. As escolas estão um caos, pois não houve recontratação em número suficiente. O que a gente quer é que recurso público seja usado para melhorar a escola pública”, explica Walkiria. A redação do Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação, mas não teve retorno até o fechamento da matéria. Giorgia Prates
Estudo do Inpa recomenda aulas presenciais em Curitiba só em março Ana Carolina Caldas
A
nova onda da pandemia, que ocorreu janeiro, trouxe o aumento de casos e o crescimento de internações pediátricas. Com o início das aulas presenciais, a preocupação é que a situação piore. Para que o retorno seja seguro, o Sindicato do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac) solicitou às secretarias de Educação e Saúde a avaliação de relatório produzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que recomendou que as escolas municipais adiassem o retorno das aulas presenciais para março, devido à ten-
dência de piora nos índices da pandemia na cidade. Nesse estudo, os pesquisadores utilizaram um modelo que considera a mobilidade urbana para calcular o isolamento social e a progressão das vacinas em Curitiba. O resultado aponta para a manutenção dos indicadores da pandemia com iminente recrudescimento frente ao aumento da mobilidade urbana no mês de fevereiro para o município de Curitiba, apesar dos índices de vacinação. Mediante novas flexibilizações e aumento da mobilidade urbana, tende a ocorrer novo aumento do número de casos, podendo também impactar na média
somente
20%
do público de 5 a 11 anos foi vacinado de óbitos. Segundo o documento, “a literatura científica aponta que ignorar as medidas restritivas indicadas tende a propiciar novos aumentos de casos. Destaca-se como exemplo das consequências de ignorar as projeções, a segunda onda de Covid-19 vivenciada em Manaus (AM), desencadeada após o retorno às aulas presenciais à época da Variante Gama.” O relatório recomenda que o retorno às aulas presenciais ou híbridas deveria ocorrer com cautela e de
forma escalonada, e o retorno 100% presencial ser postergado para o mês março, mediante acompanhamento da situação epidemiológica e condicionado ao retorno escalonado dos alunos conforme a progressão da vacinação na faixa etária. O sindicato também solicitou que a Prefeitura de Curitiba revisasse seus protocolos sanitários, garantindo mais segurança para a comunidade escolar e que realizasse campanha mais incisiva junto às famílias estimulando a vacinação
infantil. Em Curitiba, até o fechamento deste texto, somente 20% do público de 5 a 11 anos foi vacinado. Resposta da secretaria da Educação A volta às aulas na rede municipal de Curitiba será 100% presencial, com possibilidade de atividades pedagógicas remotas para casos de comorbidade ou necessidade de isolamento. Para os professores já foi disponibilizada a dose de reforço e a vacinação das crianças está sendo ampliada por faixa etária.
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Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2022
Indignação religiosa ou racismo? Após ato contra mortes de negros, vereadores são denunciados e sofrem ameaças Giorgia Prates Arquivo Pessoal
entrevista
Para padre, igreja é espaço de manifestações Para padre Lionel, igreja é lugar sagrado e de política, pois é frequentada por seres humanos Frédi Vasconcelos
O
Redação
N
o sábado (5), manifestantes saíram às ruas de Curitiba (PR) e outras cidades do país contra o racismo e por justiça para Moïse Kabagambe e Durval Teófilo Filho, assassinados no Rio de Janeiro. A manifestação aconteceu no Largo da Ordem, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. No ato, manifestantes entraram na igreja. Entre eles o vereador Renato Freitas (PT). Mais tarde, a Arquidiocese de Curitiba emitiu nota afirmando que a manifestação ocorreu no mesmo horário da missa e que lideranças do grupo de manifestantes “instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos.” O vídeo ao vivo feito pelo do BDF-PR e disponível nas redes sociais mostra que no momento da entrada não havia missa e o padre responsável estava à porta, sem batina. Após a manifestação
houve uma onda de ataques aos vereadores Renato Freitas e Carol Dartora (PT). Na Câmara de Curitiba, Renato recebeu uma série de críticas e ouviu falas de protesto contra a manifestação de seus colegas da maioria conservadora da Câmara. Houve, inclusive, pedido de cassação de seu mandato. Ataques a Carol Dartora Em outra sessão da Câmara, Carol Dartora denunciou ataques racistas que tem recebido. Embora não tenha entrado na igreja, ela denuncia o que vem sofrendo. “A gente está vendo uma disseminação tendenciosa de notícias sobre o ato, que está fazendo com que pessoas se sintam à vontade para ser racista e nos atacar de diversas formas. Eu nunca fui tão atacada por participar de um ato”, disse. Entre as mensagens que recebeu estão ofensas como: “Macaca fedorenta...vai pagar pelo que fez. Você não dura 2 meses”, mandou um usuário do Instagram.
padre togolês Lionel Dofonnou está no Brasil há cinco anos. É responsável pela paróquia Santa Amélia, na Fazendinha, em Curitiba. Como negro já sofreu na pele preconceito e diz que está se perdendo o principal, o motivo do protesto, que era o assassinato de negros e o racismo estrutural que existe no País. Ele celebra, todo ano, a missa afro no Dia da Consciência Negra, na Igreja do Rosário, que para ele é simbólica, mas também um ato político. Leia os principais trechos da entrevista abaixo: Brasil de Fato – O senhor ficou sabendo do ato contra o racismo em frente à Igreja do Rosário e da polêmica de manifestantes entrarem na igreja. O que acha disso? Lionel Dofonnou – Voltei a Curitiba no domingo e, desde segunda-feira, comecei a ouvir sobre isso. Existem muitas versões, a de que haveria uma celebração na hora, e a do vereador, de que não, que já havia acabado antes de entrarem. Há vários vídeos circulando, e um que assisti prova que não havia celebração naquele momento. O vigário da paróquia estava ao lado deles, no altar, quando falavam. Não sou testemunha porque não estava lá, mas tenho missa hoje à tarde lá (dia 10, na Igreja do Rosário, N.R) e vou perguntar o que aconteceu. Mas o importante, para mim, era o motivo da manifestação, que acabou sendo esquecido. Estão ficando apenas com o ato de entrar na igreja, que é um direito, a igreja é de todos. Ainda mais com o histórico do que representa essa igreja para o povo negro de Curitiba. A igreja do Rosário é um dos lugares simbólicos para essa manifestação, para denunciar o racismo no Brasil, em particular contra a população negra. O objetivo da manifestação foi esquecido.
Boa parte das críticas é que a igreja é um solo sagrado e não cabem manifestações políticas lá... O senhor compartilha dessa ideia? Claro que não, a igreja é um lugar sagrado, mas é um lugar também político, porque é um lugar frequentado por seres humanos. É um lugar que deve estar ao lado dos oprimidos, como Jesus ensinou. A igreja é um lugar para o simbólico, mas também de atos, nesse sentido de defender a vida e a luta contra o racismo. Na Igreja do Rosario costuma-se celebrar a missa afro no Dia da Consciência Negra, um ato religioso, mas também político, para dizer que temos de ver o que está acontecendo no Brasil em relação ao racismo. Não tinha lugar melhor para essa manifestação. Se atrapalhassem a celebração, seria outra coisa, por ser um local sagrado e de fé... Há quanto tempo o senhor está no Brasil e como vê a situação dos negros? Estou há quase cinco anos, e o que vejo é um racismo velado, estrutural, em várias estruturas, social, econômica e política. O problema é que não se reconhece essa “praga”. O próprio jornal sempre coloca a imagem do negro como bandido, traficante. É um racismo presente nas estruturas da sociedade brasileira. Esse racismo passa pela representação política? Sem dúvida, porque muitas pessoas não querem ver o negro lá. Os ignorantes e racistas fazem de tudo para ver o negro só na favela ou no cárcere. Não tenho dúvida de que isso possa estar acontecendo. Renato Freitas e Carol Dartora são pessoas de luta e resistência nesse campo político da Câmara. Imagino que não deve ser fácil estarem dentro do sistema, como resistência, como luta, como representantes de uma multidão que quer ter voz também.
Brasil de Fato PR 6 Direitos
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Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2022
Por moradia, famílias ocupam barracão abandonado no CIC
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Na madrugada do dia 5 ocorreram três ocupações por moradia em diferentes cidades Giorgia Prates
Redação
N
a madrugada de 5 de fevereiro, um sábado, foram registradas ao menos três ocupações de diferentes agrupamentos e organizações reivindicando o direito à moradia no atual cenário de grave crise econômica. Duas ocupações não conseguiram permanecer no local: uma delas em Campo Largo, envolvendo 40 famílias; a outra, em Ponta Grossa, coordenada pela Frente Nacional de Lutas (FLN), quando 60 famílias foram despejadas por um corpo de 200 policiais militares em terreno pertencente à Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar). O coordenador da FNL em Ponta Grossa, Leandro Dias, foi detido e assinou termo circunstanciado, no batalhão da PM, sendo liberado na manhã de sábado. Já em Curitiba 52 famílias, a maioria delas composta por
mulheres e crianças, ocuparam um barracão abandonado há anos na vila Barigui, na Cidade Industrial de Curitiba. Batizada de Fortaleza, a ocupação resiste em terreno de propriedade, segundo os documentos, inicialmente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba (Curitiba S/A). Mais tarde, o espaço foi passado à iniciativa privada e encontra-se abandonado há anos. De acordo com Valeria, uma das lideranças locais, integrante do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), a maior dificuldade é a estrutura inicial, uma vez que as famílias deixam tudo, com os fi-
lhos a tiracolo, para inicialmente viver em condições difíceis. “As famílias estão precisando muito de alimentação, higiene e uma panela de pressão, se alguém tiver disponível”, afirma. No espaço, as famílias estão construindo um centro social, com apoio do MTD, montando inicialmente uma cozinha comunitária, a partir da experiência com outras cozinhas. Houve a limpeza do espaço abandonado e “hoje sete mulheres da comunidade já estão participando”, afirma a integrante do movimento. A operadora de caixa Evelyn e a filha moravam de favor na casa de um parente. Ela havia participado de outra ocupação, que não teve êxito. Conta também que deixou o emprego para garantir o lote e o acesso à moradia. Para Evelyn, a cozinha é o exercício de trabalho coletivo. “Estamos trabalhando em equipe, nos ajudando, é bom ter a cozinha para as crianças, como não temos o fogão ainda, vamos nos ajudando”, diz.
Apoio A cozinha comunitária e o centro social ainda carecem de itens e precisa do apoio da sociedade para doação de materiais, alimentos e estrutura (panelas de pressão, fogão, gás e congelador). Para auxiliar na compra de alimentos e estrutura para cozinha comunitária, o PIX do barracão é 41985002967 (celular).
Agricultores familiares afetados pela estiagem pedem auxílio emergencial Thea Tavares Na abertura dos trabalhos na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), na semana passada, o governador Ratinho Júnior (PSD) comemorou o fim do rodízio no abastecimento de água em regiões paranaenses mais afetadas, como a Grande Curitiba, depois de dois anos de escassez hídrica. Mas os problemas no campo continuam
e os prejuízos decorrentes da estiagem para a agricultura familiar se tornam cada vez mais dramáticos. A pedido de entidades que representam o segmento, o Bloco Parlamentar da Agricultura Familiar na Alep ouviu a reclamação das organizações em reunião remota, na terça-feira (08). Além da negociação junto ao Poder Executivo, as lideranças populares querem também envolver os parlamen-
tares estaduais, as representações de prefeitos e de vereadores das regiões mais afetadas e o Ministério Público no socorro e na construção de soluções urgentes para amenizar o drama das famílias produtoras de alimentos. Entre as prioridades da pauta de reivindicações da agricultura familiar estão a efetivação de um programa de auxílio emergencial às famílias afetadas pela estiagem, uma espécie de
“bolsa estiagem”, no valor de um salário mínimo por unidade familiar e acréscimo de 50% àquelas chefiadas por mulheres; criação de um comitê emergencial amplo, com participação desses atores e autoridades; e levantamento real dos impactos da estiagem e dos prejuízos nas lavouras e nas atividades de beneficiamento da produção agropecuária da agricultura familiar.
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Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2022
Inscrições abertas para aulas de dança no Colégio Estadual do Paraná
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Há opções de cursos nas modalidades presencial e “on-line” Redação
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Grupo de Dança Contemporânea do Colégio Estadual do Paraná (Dancep) é um dos projetos de contraturno da Escolinha de Arte. E até o dia 22 de fevereiro está com inscrições abertas para novas turmas da comunidade externa. As aulas têm início em 3 de março. Com metodologia própria, o grupo oferece aulas de dança de diversas modalidades, para estudantes do CEP e da comunidade, conjugando experiências estéticas, poéticas e humanas por meio da vivência em dança. São oferecidas aulas regulares (nos três turnos e aos sábados) de dança contemporânea, balé, jazz,
consciência corporal, fortalecimento e alongamento, improviso, videodança e produção, além de atividades de formação eventuais, como o Seminário e Mostra de Dança Dancep, formações e oficinas e turnês artísticas. Para a produção das obras coreográficas, os alunos são envolvidos em todo o processo de criação, produção e apresentação, fazendo com que sejam responsáveis pela criação e confecção de seus figurinos, pesquisa e criação sonora, produção visual, produção e agendamento dos espetáculos, para que se apropriem, pedagogicamente, dos conhecimentos que envolvem uma arte do movimento. Inscrição gratuita pelo site www.dancep.com.br
Oficina de Hip Hop acontece de forma gratuita na Casa Hoffman Reprodução
Redação O curso Tentes Ver Hip Hop (Estudo das Danças Urbanas e suas vertentes), com Flávia Martins, acontece ao longo do mês de fevereiro e é gratuito. Propõe trazer a origem das dan-
ças urbanas para reflexão e, em seguida, para aula prática de movimento corporal em busca de identificar a influência da cultura Hip Hop nas diversas vertentes e estilos de dança que hoje são classificados como Urban Dance. As aulas são em quatro momentos divididos entre apresentação e aquecimento, aula técnica e sequência coreo, freestyle e chypher e conversa final. Flávia Martins é arte-educadora, professora de Educação Física e desenvolve seu trabalho como bailarina e coreógrafa há mais de 13 anos na cidade de Curitiba. Com uma identidade que provém da vivência ur-
bana e inspirada pela cultura Hip Hop, busca por meio de suas aulas e criações interligar movimento corporal e arte, ambos para além da dança. Hoje tem como principal objeto de estudo a ancestralidade e desenvolvimento técnico em dança.
Serviço 15 vagas disponíveis por aula e distribuição de senhas meia hora antes Quando: dias 14, 16, 21 e 23/2, das 15h às 16h30 Onde: Casa Hoffmann, R. Dr. Claudino dos Santos, 58 Informações: contatocasahoffmann@ gmail.com
DICAS MASTIGADAS Cocada de Forno A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Reprodução
Ingredientes 4 xícaras (chá) de coco fresco ralado (cerca de 500 g) 6 ovos orgânicos 3 xícaras (chá) de açúcar 2 colheres (sopa) de manteiga derretida Raspas de 2 laranjas orgânicas Modo de Preparo Préaqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga um refratário raso que comporte cerca de 2 litros. Numa tigela pequena, quebre um ovo de cada vez e transfira para outra tigela maior. Junte a manteiga e misture com o batedor de arame (se a manteiga estiver gelada, leve ao micro-ondas por 30 segundos para que derreta). Adicione o açúcar, aos poucos, mexendo bem a cada adição até formar um creminho. Acrescente as raspas de laranja, o coco ralado e misture com uma espátula para incorporar. Transfira para o refratário untado e leve ao forno para assar por cerca de 40 minutos ou até a casquinha ficar bem dourada. Retire do forno e deixe esfriar em temperatura ambiente antes de servir.
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Quando improvisar é possível Por Cesar Caldas
Quase todos os clubes disputam a primeira fase dos estaduais com esboços da estrutura pretendida dos elencos para o restante de cada temporada. O Coritiba de 2022 não é diferente. É natural que o treinador Gustavo Morínigo experimente variações táticas e observe a capacidade de entrosamento de jogadores de um mesmo setor entre si e a aptidão de cada um deles para fazer transitar a bola de um território para outro do campo de jogo. Nesta época do ano, os acidentes mais lastimáveis causam menos prejuízos coletivos, porque eventual perda de pontos pode ser compensada depois. É o caso da carência coxa -branca na lateral-direita, decorrente da fratura sofrida por Natanael. A adaptação de improviso do volante Val foi testada na posição contra o Londrina, o que permitiu a estreia do recém-contratado Andrey. Ensaio dessa natureza em jogo da Série A seria temerário.
E tome Melhoral Por Marcio Mittelbach
Sem técnico, sem inspiração e sem perspectiva, o Paraná voltou de Cascavel com os mesmos três pontos com que viajou. Depois de um primeiro tempo ruim e um segundo tempo em que teve até chance de virar o placar, o tricolor viu a possibilidade de acabar com a sequência de derrotas ruir em uma cobrança de falta aos 52 minutos do segundo tempo. Há quem diga que houve evolução em comparação com as últimas partidas, há quem diga que a arbitragem tem prejudicado muito o tricolor, mas o fato é que o time em 2022 conseguiu se sair pior que a expectativa, que já era baixa. Partimos então para mais uma sequência desafiadora: Londrina em casa, Cianorte fora e Paratiba, na Vila, em 20/2. Três adversários que estão entalados na garganta do paranista. Três boas oportunidades para esse time aliviar a profunda dor de cabeça que enfrenta o torcedor desde 2020.
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Campeonato Paranaense já provoca demissões no Paraná e Athletico Equipes da capital perdem técnicos nas rodadas iniciais do Estadual
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Gabriel Carriconde
A
inda na metade da primeira fase, o Campeonato Paranaense já provocou as primeiras danças das cadeiras entre os técnicos. Athletico e Paraná Clube demitiram os comandantes. O Paraná Clube vive uma crise financeira sem fim, o Furacão viu seu diretor de futebol, gerente e técnico pedirem demissão após divergências internas. Pelas bandas do início da Engenheiro Rebouças, o Tricolor começou o ano apostando na parceria com a empresa LA Sports, que ajudou no aporte para contratações no elenco para a disputa do estadual e da série D. O Paraná chegou até a ficar ameaçado de não ter elenco na temporada, já que não tinha dinheiro para contratar, nem mesmo manter sua base, tendo de abrir mão da disputa da Copa São Paulo de Juniores. Contudo, com um elenco recheado de contratações, o então técnico Jorge Ferreira, que estava no clube desde 2012, treinando a base, e foi efetivado no fim de 2021, acabou pedindo demissão após a derrota em casa para o Operário. O Tri-
color, até o fechamento desta matéria, não tinha anunciado alguém para o cargo, apenas para auxiliar técnico, tendo contratado o ex-comandante do Metropolitano-SC, Rodrigo Cascca. No fim da Engenheiro Rebouças, a realidade financeira e competitiva é bem diferente. O Athletico vem do bicampeonato da Sul-Americana e de um vice da Copa do Brasil. No entanto, vive uma crise interna com a demissão de três funcionários, o diretor técnico Paulo Autuori, o executivo de futebol Ricardo Gomes e o técnico dos aspirantes, James Freitas. As demissões, segundo a rádio Banda B, vieram após discordâncias com a diretoria por conta da contratação do CEO Alexandre Mattos. No caso do técnico, o fraco desempenho no Paranaense provocou a demissão. O Athletico, que oficialmente não trata como prioridade o estadual, joga o certame com a equipe de aspirantes. Após a demissão do técnico, o clube inscreveu parte de seus titulares para disputar o torneio.
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Bastidores conturbados Por Douglas Gasparin Arruda
Depois de um começo de ano promissor, com excelentes contratações dentro e fora de campo, começaram a surgir os primeiros problemas internos no Furacão. O empate com gosto amargo contra o lanterna União-PR tornou a permanência do técnico James Freitas insustentável. Para ocupar seu lugar, o rubro-negro foi atrás de Wesley Carvalho, ex-Palmeiras e velho conhecido de Alexandre Mattos. A parte crítica dessa mudança fica por conta das divergências internas que ocasionaram o pedido de demissão do diretor-técnico Paulo Autuori. O diretor de Futebol Ricardo Gomes, que chegou no Athletico por indicação de Autuori, também pediu as contas. Pelos rumores, havia discordâncias entre Autuori e Mattos. A pressão, agora, fica na conta do time principal, que vai disputar os próximos jogos em Curitiba.
Supercopa do Brasil A Supercopa do Brasil é a estreante do calendário do futebol feminino brasileiro e a primeira competição de 2022. Conta com oito dos clubes mais bem colocados na modalidade: Palmeiras, Corinthians, Flamengo, Real Brasília, Internacional, Grêmio, Cruzeiro e Esmac-PA. O torneio começou na última sexta, 4, com o Real Brasília vencendo o Internacional por 1x0 em pleno Beira-Rio. No duelo de gaúchas e mineiras, o Grêmio levou a melhor em cima do Cruzeiro, por 2x0. No domingo, o Flamengo passou tranquilamente pelo Esmac também por 2x0, demonstrando que os investimentos feitos já começaram
a dar resultados. O dérbi paulista garantiu muita emoção, e as corintianas vencerem as palmeirenses por 3x0. O campeonato é de tiro curto e as semifinais ocorreram na quarta, 9. Flamengo e Grêmio se enfrentaram no estádio Luso Brasileiro com grande atuação da goleira gremista Lorena. No tempo regulamentar, a partida terminou empatada em 1x1. Nos pênaltis, o tricolor levou a melhor garantindo a vaga na final. Na outra chave, o Corinthians levou o jogo para a Arena Barueri e garantiu a vitória por 2x0 em cima do Real Brasília. A final será domingo, 13, às 10h30.