Brasil de Fato PR - Edição 247

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Cidades | p. 6

Movimentos Brasil | p. 6| p. 5

Brasil||p. p.86 Cultura

Mulheres protagonistas

Bloco popular na rua

Cinema nos bairros

Pela sobrevivência e na luta por moradia

17 de março, ocupações fazem ato no centro de Curitiba

Ano 5 Edição 247 11 a 17 de março de 2022 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br

João Marcos Ribeiro

PARANÁ

Circuito Griot oferece oficinas e filmes para jovens

Chega de Não é acidente despejos!

Em um mês, casas queimam em duas comunidades em Curitiba Cidades | p. 7

Em 17 de março, em todo o Brasil, famílias fazem manifestações pela prorrogação da Lei do Despejo Zero. Em Curitiba, será no centro da cidade Movimentos | p. 4 e 5 Giorgia Prates

Giorgia Prates


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, dia mês ano

A mulher negra 8 de e o futuro do país março de 2022: a luta das mulheres N por um novo rumo para o Brasil editorial

opinião

Benedita da Silva,

deputada federal (PT-RJ)

M

ais um 8 de março passou e com ele a luta das mulheres marca a retomada dos atos de rua em 2022. Em meio a tantas violências sofridas no período da pandemia, as mulheres seguem sendo as mais afetadas pelo projeto de destruição e retrocessos implementado pelo bolsonarismo: a alta do desemprego, a fome, os discursos de ódio e misoginia. Na semana passada, os áudios vazados do deputado

Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”

estadual Arthur do Val (Podemos-SP), o “Mamãe Falei”, apresentaram mais um episódio que demonstra como a vida das mulheres ainda vale menos, tendo seus corpos vistos como mercadoria e alvo da exploração. “São fáceis porque são pobres”, afirmou o político ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), expressando de forma repugnante como, num cenário de crise, as mulheres são ainda mais subjugadas. As pautas desse dia de luta, portanto, se unem a uma agenda mais ampla: “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”. A denúncia contida no lema do 8M aponta para os desafios da luta política de 2022, de enfrentarmos o avanço fascista e construirmos saídas feministas e populares nas eleições e nas lutas cotidianas, nos empurrando para um novo momento da política nacional.

este 8 de março, as mulheres brasileiras vão iluminar o caminho, que sabemos ser difícil, para derrotarmos o atual governo racista e machista, resgatarmos nossos direitos e avançarmos ainda mais em nossas conquistas. A vontade do povo brasileiro de lutar contra o governo antipovo de Bolsonaro está manifestada nas ruas, nas redes sociais e nas pesquisas. Com pequenas variações, Bolsonaro é rejeitado por 82% da população negra, por 60% de quem ganha até dois salários mínimos e por 59% das mulheres. Diante do ódio racial e do genocídio da juventude ne-

gra, é fácil entender a elevada rejeição. No povo negro está a maioria dos que ganham até dois salários mínimos, incluídas, é claro, as mulheres negras, as maiores vítimas tanto do racismo estrutural quanto das políticas de ódio racial do atual governo. O aumento avassalador dos crimes raciais, do feminicídio e da violência contra as mulheres é motivo mais do que suficiente para alimentar o desejo de luta, em especial das negras. Além disso, não podemos esquecer jamais a destruição do programa Bolsa Família; a exclusão de milhões de famílias do auxílio emergencial; os cortes das faixas populares do programa Minha Casa Minha Vida; o fim da aposentadoria integral para os mais pobres;

as ameaças de extinção da política de cotas e o descumprimento impune da PEC das Domésticas. Embora não tenha o seu papel reconhecido oficialmente pelos governos elitistas que sempre mandaram no Brasil, à exceção das gestões de Lula e Dilma, a mulher negra desempenhou no passado escravista e no presente socialmente excludente o papel central da família e da resistência. No interior dessa desigualdade extrema, a mulher negra é a mais oprimida, pois sobre seus ombros pesam ao mesmo tempo três discriminações: racial, social e de gênero. Por isso, ela é a mais forte, a mais resiliente e a que mais responsabilidades carrega no dia a dia da sobrevivência da família popular.

SEMANA

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 247 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABOROU NESTA EDIÇÃO Benedita da Silva ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com /bdfpr @brasildefatopr REDES SOCIAIS


Brasil de Fato PR

Paraná, dia mês ano

FRASE DA SEMANA

“O Brasil vive hoje sua maior encruzilhada ambiental desde a democratização”

Sem máscara, com pandemia O governo do Paraná e a prefeitura de Curitiba preparam novas leis para retirar a obrigatoriedade do uso de máscaras. A mudança deve levar em consideração a taxa de vacinação e a redução dos casos de contaminação. Por outro lado, os governantes devem permitir que “antivax” frequentem ambientes abertos e fechados ao proibir a obrigatoriedade do passaporte de vacinação. O governo aguarda os efeitos do feriado de Carnaval. De acordo com o secretário estadual de saúde, Beto Preto, em audiência na Assembleia Legislativa, com a queda dos números, a obrigatoriedade pode ser removida na metade do mês. “Estamos ainda na ressaca do Carnaval, pois sabemos que o vírus vem buscando ultrapassar as barreiras de imunização. Não existindo aumento significativo, já estamos iniciando o diálogo com a Assembleia, por causa da lei que define o uso de máscara”, disse. Na Câmara Municipal, os vereadores apresentaram requerimentos à Prefeitura solicitando a flexibilização no uso da máscara e argumentam que as pessoas estão abandonando o uso em locais abertos. “A pessoa entra no jogo de futebol, tira a máscara; entra na reunião, tira a máscara; entra no restaurante, tira a máscara. Não faz sentido, estamos nos enganando”, disse o vereador Alexandre Leprevost.

Disse o cantor e compositor Caetano Veloso, em audiência no Senado, no dia em que diversos artistas e entidades fizeram manifestação contra o “Pacote da Destruição“, que pode aumentar o desmatamento, a mineração e o garimpo em terras indígenas. “O desmatamento saindo do controle. A violência contra indígenas e povos tradicionais e a nossa credibilidade internacional (está) arrasada”, complementou. Marcos Oliveira | Agência Senado

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Requião no PT

O vice

O BDF Paraná adiantou na quarta, 10, que o ex-governador Roberto Requião se filiará ao PT na sexta-feira, 18, para concorrer ao governo do Estado. O ex-presidente Lula deverá vir a Curitiba no dia para, pessoalmente, abonar a ficha de filiação. Requião Filho deve acompanhá-lo e sair como candidato a deputado estadual também pelo PT. A assessoria dos Requiões não confirma a informação, mas também não nega.

Quase no PSB

Reprodução

Requião também negociou para entrar no PSB. A direção nacional do partido chegou a destituir o presidente da sigla e prometeu dar ao ex-governador “porteira fechada” na decisão de candidaturas no Paraná. Mas a recusa dos socialistas em aderir à federação partidária com o PT, PCdoB e PV trouxe perspectivas ruins para as eleições deste ano nas chapas de deputados estaduais e federais. Terá também recursos menores do fundo partidário.

Segundo o repórter Gabriel Carriconde, do BDF-PR, Requião ainda não escolheu um vice, mas busca alguém de perfil ‘’porreta’’, com identidade ideológica e programática, mas que ajude nas articulações políticas da candidatura. Com o expresso apoio do deputado estadual Goura, o PDT busca uma vaga na vice ou a candidatura ao Senado. O partido, que tem como pré-candidato à Presidência Ciro Gomes, não participa da federação com o PT, mas no Paraná deverá coligar-se com Requião nos cargos majoritários.

Fogo nos preços Aumentaram ainda mais, cerca de 20%, os preços do gás de cozinha, da gasolina e do diesel na quarta, 19. Antes deste último aumento, desde o início do governo Bolsonaro, os preços já tinham subido cinco vezes mais que a inflação oficial, segundo levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Agora, a gasolina passou dos R$ 7 em todo o Brasil.

Brasil de Fato PR Geral

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EDITAL DE CONVOCAÇÃO ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DA COOPERCOM A COOPERCOM – Cooperativa de Comunicação, Rua Riachuelo, nº 90, edifício Claudia, conjunto 202, centro Curitiba/PR, CEP: 80020-250, Curitiba-PR, inscrita no CNPJ nº 01.594.863/0001-05, neste ato representada pelo seu presidente o Sra Clara Lume Dola Cunha, convoca os cooperados a se reunirem em Assembleia Geral ordinária a se realizar no dia 21 de março de 2022, por meio digital que será enviado no dia para os associados, com a seguinte pauta: 1Prestação de Contas 2019 2- Parecer do Conselho fiscal- 3 destinação das sobras e ou prejuízo do período 4- Admissão de desligamento de associados; 5- Plano de Ação da direção 2022; 6- Eleição da direção para o biênio 2022 a 2024 e conselho fiscal para o ano de 2022; 8-Encaminhamento para os Associados. As convocações obedecerão a seguinte ordem: * às 17h00min em primeira convocação com dois terços (2/3) do número de cooperados com direito de participação; * às 18h00min metade mais um em segunda convocação; * às 19h00min com vinte por cento (20%) dos cooperados aptos em terceira convocação. Associados aptos para votar 22 (vinte e dois) cooperados. Curitiba, 09 de março de 2022. Clara Lume Dola Cunha CPF 067.608.549-00 Presidente


4 Movimentos

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Paraná, 11 a 17 de março de 2022

Paraná, 11 a 17 de março de 2022

Despejo zero: movimentos populares lutam pelo direito à moradia em meio à crise econômica e pandemia Ato no dia 17 reunirá movimentos do campo e da cidade para que seja estendida lei que suspende despejos e remoções Giorgia Prates

Gabriel Carriconde

C

om a pandemia e as políticas econômicas do governo Bolsonaro, que levaram o país à crise, e alta nos aluguéis (aumento médio de 17% em 2021), mais de 21 mil famílias foram despejadas ou removidas de seus lares, de acordo com dados da Campanha Despejo Zero. Aumento de 340% comparado ao mesmo período de 2020. Só no Paraná foram mais de 1.600.

Para dar segurança e proteção social aos mais vulneráveis, no Brasil foi votada lei que proibiu despejos e remoções forçadas até o dia 31 de março deste ano. Como esse período está acabando, movimentos populares e de moradia no campo e na cidade farão manifestações, no próximo dia 17, para pressionar o Supremo Tribunal Federal a manter os efeitos da lei. Ativistas de movimentos de moradia e membros da campanha

avaliam que caso a medida não seja mantida, milhares de mães e pais de família perderão suas casas por não terem condições de pagar o aluguel. De acordo com Marina dos Santos, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a crescente onda de despejos no Brasil é provocada por fatores políticos e estruturais. “Estamos vivendo num momento de pandemia e aumento

da fome. E estamos com esse governo neofascista, que privilegia os mais ricos e deixa os pobres e miseráveis à míngua”, afirmou em entrevista ao Portal do Movimento. “É uma vergonha que, em vez de o governo se preocupar em garantir casa para o povo morar, terra para o povo produzir, emprego e renda, comida e vacina, para evitar contaminação e mortes pela Covid-19, esse governo aumenta o preço da

gasolina, o preço da comida e o número de despejos e remoções. Além disso, se presta ainda ao desserviço de fazer disputas ideológicas com mentiras descaradas para o nosso povo em todos os lugares do Brasil”, complementa Marina. Para ela, esse é um momento em que o povo brasileiro precisa de “sabedoria para resistir frente às políticas que estão sendo realizadas ao povo e resistir, principalmente, para continuar vivo”, destaca.

A Campanha Despejo Zero é uma articulação nacional que reúne mais de 100 organizações, incluído o MST, para atuar na luta contra os despejos e remoções forçadas de famílias de seu local de moradia. Lançada em julho de 2020, durante o primeiro ano da pandemia da Covid-19, a campanha tem como objetivo ser um instrumento de denúncia acerca desse problema estrutural das cidades e no campo brasileiro.

Giorgia Prates

A lei antidespejo e a pandemia Aprovada pelo Congresso, a lei que proíbe despejos foi vetada por Bolsonaro. Mas o Congresso derrubou o veto e a lei valeria até o fim de 2021, o que foi postergado para 31 de março por decisão do Supremo Tribunal Federal. O projeto suspende os despejos em virtude do não pagamento de aluguel de imóveis comerciais, de até R$ 1,2 mil, e residenciais, de até R$ 600. Ainda suspende os atos praticados desde o dia 20 de março de 2020, com exceção dos já concluídos. Também dispensa o locatário do pagamento de multa em caso de encerramento de locação de imóvel decorrente de comprovada perda de

capacidade econômica que inviabilize o cumprimento contratual. Daisy Ribeiro, assessora jurídica na Terra de Direitos, integrante do GT Jurídico Nacional da Campanha Despejo Zero, explica que, apesar da queda nos casos de Covid-19 e o avanço da vacinação, a pandemia ainda continua no Brasil. Com o cenário de crise econômica, para dar proteção a famílias mais vulneráveis, a lei precisaria ser estendida. “A pandemia não acabou, e aqui o importante é verificar, e isso é central para a campanha, que precisamos identificar as diferenças regionais e territórios no Brasil. Há lugares

em que a vacinação ainda não avançou, ou em que a estrutura hospitalar não consegue dar conta de atender às pessoas infectadas ou que sofrem com as sequelas da doença, tendo que arcar com custos de medicamentos para tratar da Covid longa, o que impacta no bolso de quem precisa pagar aluguel”, explica. Daisy ainda cita o impacto do avanço da Covid em territórios onde há maior quantidade de famílias vulneráveis. “Estudo recente do instituto Pólis aponta para a correlação em que em áreas que famílias pobres sofreram despejos, ou chefiada por pessoas pretas ou em

vulnerabilidade, a Covid infectou muito mais. São cenários complexos, inclusive vários profissionais da Medicina apontam que o cenário pós-Carnaval também pode se alterar, já que ocorreram aglomerações.” Além do fator sanitário, a crise econômica e a ausência ou diminuição de políticas públicas de moradia apontam para a necessidade de que o STF amplie os efeitos da lei, diz Daisy. “A gente vê um aumento absurdo do desemprego e da inflação, do preço dos aluguéis, do gás, dos alimentos, e isso faz com que as famílias fiquem absolutamente impossibilitadas de pagar

um aluguel. Vemos também a diminuição de políticas de reforma agrária, que afetam famílias do campo. Por isso é necessário que o STF atue na defesa dos direitos à moradia e no acesso à terra, entendendo que vivemos em um cenário que a população em ocupações coletivas está em situação precária.’’ No próximo dia 17 de março, os movimentos que fazem parte da campanha farão manifestações por todo o Brasil pedindo que a Lei do Despejo seja prorrogada e que seja garantida a continuidade da suspensão das remoções e despejos coletivos ou individuais por conta do não pagamento de aluguel.

Movimentos

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Mobilização e conscientização Julian Pow, da coordenação do Movimento Popular por Moradia, é também liderança da Comunidade Nova Esperança, em Campo Magro, Região Metropolitana de Curitiba, com cerca de 1.200 famílias. Responsável por diversas outras campanhas na comunidade, entre elas de arrecadação de alimentos e quentinhas, fala da importância da organização popular para que as pessoas possam se organizar em busca de seus direitos. “Aliar a capacidade de mobilização para dentro da pauta em defesa dos direitos à moradia é importante para a manutenção de direitos. As ocupações sempre vão ocorrer e vão se expandido, e as pessoas que se encontram nessa condição como alternativa para buscar um terreno ou uma casa muitas vezes não têm cobertura jurídica e apoio político, então quando elas sofrem com uma ação do estado uma ação de despejo é tudo muito rápido’’, explica.

Giorgia Prates


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Paraná, dia mês ano

Mulheres são protagonistas na luta pela sobrevivência e moradia adequada

Giorgia Prates

Líderes comunitárias de Curitiba relatam o cotidiano de dificuldades e união Ana Carolina Caldas

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a pandemia e na crise econômica, as mulheres foram as mais afetadas pelo desemprego, a miséria e a vulnerabilidade. Outro agravante foi a dificuldade de acesso e a permanência na moradia num momento que o mundo solicitava às pessoas ficarem em casa. Em grande parte dos lares em situação de pobreza, as mulheres são as responsáveis pela família. Em Curitiba, em comunidades

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periféricas e ocupações, foram elas que se destacaram na luta pela sobrevivência e por moradia digna. Dentre os arranjos familiares, os formados por mulheres, sem cônjuges e com filhos menores de 14 anos representam a maior concentração de pobreza extrema. Esses arranjos compreendem 54% do total da população, aqueles chefiados por mulheres pretas e pardas, 63%, e os chefiados por mulheres brancas, 39,6%. Foram, em

grande parte, desde o início da pandemia, as mulheres que tiveram de abandonar ou perderam seus empregos e ficaram com os filhos em casa. Com o aumento do desemprego, a alta dos alimentos e a diminuição no valor do auxílio emergencial em 2021, diversas famílias perderam suas moradias e passaram a viver em ruas ou ocupações. Na luta por moradia A realidade nas ocupações urbanas em regiões periféri-

cas de Curitiba reflete o quanto o impacto desse atual contexto foi maior na vida das mulheres, mas que as levou à luta, também. Fernanda Cordeiro, coordenadora do MTST no Paraná e uma das lideranças da Comunidade Marielle Franco, no bairro Tatuquara, destaca que já existia uma situação muito difícil em relação à falta de políticas públicas para moradia, que se agravou ainda mais na pandemia. “Muitas mulheres novas chegaram à ocupa-

ção por problemas de miséria agravados pela pandemia. E outro tema que nos amedronta são as constantes ameaças de despejo e a falta de políticas e diálogo do poder público. Então, não tem saída, a gente precisa se manter unidas”, explica. Fernanda cita que as mulheres têm protagonizado a liderança e solidariedade nas comunidades. “Temos aqui o projeto da Cozinha Solidária, que reúne as mulheres para preparar marmitas, o que tem dado um alento às famílias que têm sofrido pela extrema miséria e o medo de ficar sem ter onde morar.” Rosangela de Almeida, liderança de outra comunidade em Curitiba, a Nova Guaporé, no Campo Comprido, integra a Cozinha Comunitária da União de Moradores e Trabalhadores (UMT), e cuida de crianças para que as mães possam trabalhar. “Fiquei sem emprego, então ajudo na cozinha nas quintas-feiras e nos outros dias cuido dos filhos das mães que precisam sair para médico, fazer uns bicos”, diz. Para ela, o que mais

afetou as mulheres na comunidade, além do desemprego, são as condições de moradia. “Aqui o desemprego pegou muito, e então a gente tenta se ajudar. Mas tem problemas de vida diária mesmo, que tem a ver com o descaso dos governantes. Quando chove aqui vira tudo lama dentro das casas e na rua. Outro problema é que não chega iluminação para gente, e aí é tudo ‘fio de gato’. Acontece que toda hora faz fogo, incendeia os fios. E as mulheres que ficam na comunidade que precisam resolver.” Existente desde outubro, a Nova Guaporé recebeu, em dezembro de 2021, mais de 300 famílias que foram despejadas, em plena pandemia de outra ocupação ali perto, na Cidade Industrial. Segundo dados da campanha Despejo Zero, que reúne mais de 40 organizações sociais e movimentos populares, no último ano, mais de 9 mil famílias sofreram com ações de despejos pelo país, sendo que outras 64 mil seguem correndo risco de perder seus lares.


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Paraná, dia mês ano

Cidades

O que fazer depois do incêndio? Queima de casas em duas comunidades, em um mês, não é acidente, mas ausência de regularização fundiária e estrutura Pedro Carrano

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m um mês, Curitiba teve dois incêndios que se espalharam em comunidades periféricas sem regularização fundiária. Uma delas é a vila Harmonia, na Cidade Industrial, a outra é o Morro do Sabão, no Parolin. Apenas um acidente? Com certeza, não. Não é possível também esquecer do incêndio criminoso iniciado na comunidade 29 de Março, também na Cidade Industrial, no ano de 2018, que deixou sem moradia 200 famílias da ocupação. A Polícia Militar do Paraná é a principal suspeita de ter iniciado o incêndio que consumiu as casas para retaliar os moradores, após a morte de um policial na região. Em 2022, na comunidade Harmonia, área com mais de dez anos e 90 famílias, à beira do rio Barigui e do Contorno Sul, onze casas de madeira foram queimadas, sete delas perdidas totalmente. Logo depois, os moradores do Morro do Sabão, no Parolin, enfrentaram a perda de 40 casas em pleno Carnaval. Incerteza sobre a reconstrução da casa A situação das famílias é de incerteza sobre o futuro. Relatam uma pressão não divulgada da Prefeitura, como se órgãos públicos aproveitassem a situação para forçar as famílias a deixarem o lote irregular. O que mostra o centro do problema: a falta de acesso à moradia e regularização fundiária, uma vez que nesses locais de adensamento as casas são próximas, sem planejamento e de madeira, com co-

nexões irregulares de luz, o que potencializa a possibilidade de incêndio. Após os incêndios, de acordo com relatos, as duas comunidades contam com a ajuda de igrejas, ONGs e movimentos populares parceiros em alguns casos. Assim mesmo, as famílias reclamam da incerteza se ficarão no local e em que condições. As onze famílias afetadas

tiveram acesso a auxílio-moradia de R$ 500 por seis meses. No entanto, reclamam de pressão do poder público e insegurança sobre o futuro de seus lotes. “Com esse incêndio, a Prefeitura achou uma forma de arrancar a gente de lá. O risco começa com os moradores que perderam tudo e ficam com a estrutura psicológica abalada”, afirma Emily Ribeiro, uma das lideranças locais. Giorgia Prates

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Parolin: novamente casas de madeira? Com o incêndio no Morro do Sabão, apontado pelos moradores como criminoso, na madrugada do dia 26 de fevereiro, 151 pessoas perderam suas casas e ficaram desalojadas. Quase metade delas de crianças e adolescentes. Trabalhadora carrinheira, profissão da maioria dos afetados pelo incêndio, uma das moradoras, que preferiu não se identificar, criticou a demora com que, na madrugada de Carnaval, o corpo de bombeiros teria chegado ao local. Além disso, afirma que o dia a dia das pessoas atingidas é marcado pela ausência de encanamento, de energia elétrica. Muitas famílias, com crianças, estão alojadas no entorno, na casa de amigos, enquanto o município limpa os detritos do terreno. A partir da mobilização da sociedade, os moradores receberam doações de roupas, colchões, móveis e outros itens. As famílias também se organizaram diante do local com um ponto próprio de coleta de alimentos. A principal reclamação é a falta de proposta de regularização para a área. Ainda há dúvida sobre o que será oferecido. “Vão medir e voltar a colocar casa de madeira?”, protesta outra moradora e liderança local, que também preferiu não se identificar, e que tem apoiado as famílias. De acordo com informações do deputado estadual Goura (PDT), que tem acompanhado o caso, a Prefeitura ofereceu auxílio-moradia para as famílias atingidas, mas os moradores têm medo de sair do local e perderem a posse dos terrenos, caso semelhante ao que acontece na área atingida no CIC. Nesse sentido, o deputado constata omissão por parte do poder público. “A Prefeitura deveria ser esse articulador, para envolver várias secretarias, para atender essa população de forma emergencial, e trabalhar para a regularização fundiária dessas áreas”, aponta, em entrevista ao BdF.

O QUE DIZ A COHAB OUTRO LADO Sobre a comunidade Harmonia, a Cohab afirma que estuda formas de atendimento habitacional para os moradores locais. “No momento, as famílias estão sendo assistidas pe-

los equipamentos públicos do entorno, além de receberem da Cohab o pagamento do benefício auxílio-moradia por seis meses”, afirma a companhia por meio de assessoria, dizendo

ainda que: “Os moradores atingidos reconstroem suas casas, sob orientação do grupo de arquitetos Obra Nossa, tanto na reorganização dos lotes quanto nas construções.”

Em resposta ao mandato de Goura, a Companhia de Habitação de Curitiba (COHAB) afirma que montou as propostas de intervenção no curto prazo. “Após a limpeza da área, será concluído o estudo de quantas moradias poderão permanecer no

local e quantas serão reassentadas no entorno, para assegurar a continuidade dos vínculos que os moradores já possuem com a região. Situações de famílias que desejarem ir para outra região serão estudadas caso a caso, de acordo com a disponibilidade”.


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DICAS MASTIGADAS

Pamonha A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 5 espigas de milho orgânico (com palha) ¼ de xícara (chá) de coco fresco ralado 1 xícara (chá) de açúcar 1 pitada de sal

Pretícia Jerônimo

Circuito Griot oferece oficinas de audiovisual para jovens em bairros de Curitiba Em 2022, projeto ocorre na Vila Leonice e no Tatuquara. Sessões de cinema vão até abril Redação

D

e outubro a dezembro de 2021, aos sábados, oficinas de cinema aconteceram no Sitio Cercado e no Parolin. Além de aprenderem sobre a arte do cinema, moradores dos bairros também puderam assistir a filmes exibidos gratuitamente. A iniciativa, chamada de Circuito Griot, é o novo projeto da Cartografia Filmes, produtora vocacionada para o audiovisual identitário negro. “Pra mim, o que fica é o exemplo de ver jovens desenvolverem a atividade com tanta responsabilidade, tanta seriedade no trabalho, tanta vontade de fazer. E isso é muito importante, o compromisso”, conta Vera Paixão, que foi responsável pela produção local no Sítio Cercado. Para Bea Gerolin, da Cartografia Filmes, “foi possível espalhar a sementinha do audiovisual nas mãos,

corpos e corações de crianças e adolescentes de bairros periféricos de Curitiba, em sua maioria pessoas pretas”, avalia. Para ela, a busca é por “sensibilizar olhares, construir um mundo possível onde sejamos sujeitos, onde essas crianças e jovens fruto da classe trabalhadora contem o que quiserem,como quiserem, a partir de si”.

vres para exercer sua existência com plena autonomia e potência. O projeto tem apoio da Aliança Francesa - Curitiba e Incentivo do Ebanx. Realizado com recursos do Programa de Apoio de Incentivo à Cultura - Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Sobre a Cartografia Filmes A Cartografia Filmes é uma produtora paranaense vocacionada para o audiovisual negro que une trajetórias diversas. Desse território de encruzilhada, a atuação se movimenta pelo desejo de compartilhar novas formas de acesso e produção dos bens culturais, fortalecendo e criando espaços coletivos nos eixos de difusão, formação e produção do audiovisual, de maneira a abrir caminhos na reconstrução de imaginários em que as múltiplas subjetividades sejam li-

Mais atividades em 2022 De fevereiro a abril, o Circuito Griot mantém as atividades, com oficinas e sessões de cinema no Tatuquara e na Vila Leonice. As oficinas ocorrem aos sábados e vão até 9 de abril. Já as exibições ocorrem nos sábados, no período da noite, de forma intercalada nos dois bairros.

Modo de preparo Retire as espigas das palhas, com cuidado para não rasgar. Leve uma panela grande com água ao fogo e deixe ferver. Mergulhe as palhas por 1 minuto e transfira para uma tigela. Prepare as pamonhas: rale as espigas de milho em uma tigela grande e, depois, raspe cada sabugo com a parte de trás de uma faca. Peneire o milho ralado, espremendo bem o bagaço até tirar todo o líquido. Descarte o bagaço. Junte ao líquido o coco ralado, o açúcar, o sal e misture bem até adquirir consistência de creme. Para fazer a embalagem da pamonha, deite na bancada duas palhas, uma de frente para outra, com as laterais encaixadas. Unidas, elas devem tomar a forma de um tubo. Use um barbante para amarrar a extremidade de baixo, bem firme. Com uma mão, segure essa parte, deixando a extremidade solta virada para cima. Use um funil para verter o creme. Feche a pamonha e amarre o topo com um barbante, deixando cerca de 3 cm de espaço entre o recheio e o enlace, para não vazar. Transfira para um prato e repita o processo até acabar todo o creme. Cozinhe as pamonhas em água fervente por 30 minutos. Deixe esfriar antes de abrir.

Reprodução


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