Brasil de Fato PR - Edição 248

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PARANÁ

Ano 5

Edição 248

18 a 24 de março de 2022

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Contra despejos, moradores de ocupações vão às ruas

Reprodução

Manifestações em todo o Brasil pedem prorrogação do despejo zero CAPA | p. 5 Giorgia Prates

Culto no lugar errado Sede da Secretaria de Segurança é usada pela Igreja Universal Cidades | p. 6

Cultura | p. 7

Brasil | p. 4

Esportes | p. 8

Estética negra

Combustível nas alturas

Clubes em risco

Curso da UFPR trata de vivências cotidianas das mulheres negras

Povo sofre com preços abusivos. Motoristas de aplicativos não têm mais como trabalhar

Vendidas como salvação, SAFs já começam a dar problemas


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 18 a 24 de março de 2022

Brasil de Fato PR

A Petrobras, o petróleo e o gás devem ser nossos! editorial

A

Petrobras anunciou reajuste de quase 20% no preço dos combustíveis. A justificativa foi o aumento do preço do barril de petróleo no mercado internacional. Por outro lado, em 2021, a Petrobras distribuiu aos seus acionistas mais de R$ 100 bilhões em dividendos. No ano do bicentenário da Independência do Brasil, é inaceitável tamanha covardia por parte do governo federal a esta política de preços. Tudo isso se torna ainda mais revoltante pelo fato de o atual presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, ser um militar de alta patente. Este militar bate continência para o lucro dos bancos enquanto o povo é massacrado. Desde sua fundação até a descoberta do pré-sal e da autossuficiência na produção de petróleo, o povo brasileiro e as organizações populares pautaram a defesa da Petrobras como empresa pública, a serviço do bem-estar dos trabalhadores e da soberania do país. Mas os Vendilhões do Templo abandonaram as fábricas de Fertilizantes (Fafen), demitindo centenas de pessoas, outro erro do governo Bolsonaro, com custo alto neste momento para nosso povo. Que 2022, marcado por eleições gerais e pelo bicentenário da nossa Independência, contribua para um processo de resgate da nossa soberania, da distribuição e da riqueza.

As sementes precisam de cuidado para florescer opinião

Andréia de Jesus,

deputada estadual (PSOL-MG)

Q

uando fui eleita sabia que não seria fácil. O fato de ser quem eu sou, de vir de onde eu vim e de ser uma das poucas parlamentares negras da Assembleia de Minas – não só hoje, como em toda história da Casa –, já me alertava para mais uma batalha na minha vida. Batalha que escolhi e continuo escolhendo todos os dias com gosto. Mas as dificuldades não deveriam incluir ameaça à vida, injúria racial, misoginia. Não deveria ser necessário gastar tempo da minha atuação parlamentar para garantir a minha própria segurança, que é ameaçada por realizar a atividade para a qual fui eleita. É dever do estado garantir o exer-

cício da atividade parlamentar sem risco à vida. Ao longo da nossa mandata, fui vítima de muitos ataques no próprio plenário e nas redes sociais – nesse caso, incluindo ameaça de morte e mais de 3.500 ataques em apenas um dia – enquanto exercia meu papel como mulher negra eleita. A partir do grave episódio de ameaça contra minha vida, passei a circular com escolta armada – fundamental para garantir minha segurança e a continuidade da minha atividade – e precisei alterar não só a minha rotina diária como a de meus familiares. Os ataques cresceram depois que assumi a Comissão de Direitos Humanos, a mesma comissão que Marielle Franco presidiu. Não é coincidência. E por isso quem preside as

comissões de Direitos Humanos nas casas legislativas no Brasil deveriam ter sempre escolta garantida. Assim como não é coincidência que a violência política tenha aumentado exatamente com a presença de mais mulheres nos espaços de poder. Violência que é ainda mais contundente contra mulheres negras. Além de mim, Adriana Gerônimo, Benny Briolly, Carolina Iara, Erika Hilton, Isa Penna, Iza Lourença, Laís Camisolão, Louise Santana, Karen Santos, Mariana Conti, Matheus Gomes, Renata Souza, Samara Sosthenes e Talíria Petrone já sofreram ameaças graves. Nesta segunda-feira (14), completa quatro anos que Marielle Franco foi assassinada. Uma dor e uma lembrança que o risco é real. (Leia o artigo completo no site do Brasil de Fato)

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 248 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Andréia de Jesus, Isadora Stentzler e Raissa Melo ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com /bdfpr @brasildefatopr REDES SOCIAIS


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Paraná, 18 a 24 de março de 2022

FRASE DA SEMANA

Deputada pede congelamento da tarifa de luz da Copel Faturamento de R$ 4,5 bilhões no terceiro trimestre de 2021. No acumulado do ano, o lucro bruto da Copel é de R$ 7,4 bilhões. Aumento de 79,9% em relação ao mesmo período de 2020. Este são alguns números da Copel que levam a deputada estadual Luciana Rafagnin (PT-PR) a pedir o congelamento das tarifas no Paraná. O pleito ocorre antes de a empresa de energia apresentar os seus resultados ao mercado financeiro e informar se vai majorar a tarifa aos paranaenses. Luciana Rafagnin protocolou um requerimento ao presidente da companhia, Daniel Pimentel Slaviero, solicitando que a empresa não faça o reajuste anual da tarifa de energia elétrica em respeito à situação caótica que vive o povo paranaense, após dois anos de pandemia. No último relatório da empresa ao mercado, Adriano Rudek Moura, diretor financeiro da Copel, detalhou os números positivos e a política de maximização dos lucros, gerando resultado de R$7,4 bilhões até setembro. “Provavelmente teremos a maior base histórica para o pagamento de dividendos da companhia”, diz. O próximo relatório da Copel será divulgado no dia 22 de março, com conferência no dia 23 de março, quando os executivos da empresa devem detalhar sua política para tarifas.

“Em um país sério não teríamos uma investigação se arrastando por 4 anos”

Disse em entrevista ao Brasil 247 Marinete da Silva, mãe da vereadora assassinada Marielle Franco. E complementou: “Estamos vivendo uma situação complicada, de pessoas que não têm interesse nenhum de ajudar desde o federal, passando pelo estadual, ao municipal.”

Tomaz Silva Agência Brasil

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Lula e Requião A sexta-feira, 18, terá o encontro do ex-presidente Lula com o ex-governador e ex-senador Roberto Requião em Curitiba. Lula vem abonar a filiação de Requião ao PT e fará ato público na Expo Unimed, no campus da Universidade Positivo. Será a partir das 18h, com a presença da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffman. E cobertura no site e nas redes sociais do BDF-PR.

Pesquisa estável

Ricardo Stuckert

Requião no PT Como adiantou o repórter Gabriel Carriconde, no último dia 11, Requião foi para o PT. Em entrevista a programa do BDF-PR, declarou que entra: “Nesse PT como quem entra em um movimento. Faço aqui um discurso semelhante ao de Lula, estamos polarizados, de um lado os entreguistas que entregaram o petróleo, a soberania, e que massacram os trabalhadores. Estamos entrando no PT, mas sobretudo, na federação para promover um movimento de recuperação do Paraná e do Brasil’’, disse.

A pesquisa Genial/Quaest, que é feita por questionários presenciais em todo o Brasil, mostrou estabilidade, Lula manteve a dianteira, com 46% dos votos na pesquisa estimulada do cenário principal, o mesmo número do mês anterior. Bolsonaro subiu 2%, de 24% para 26%. É ainda 2% abaixo dos 28% que tinha em julho de 2021. Do ano passado para cá, Moro e Ciro Gomes caíram de 11% para 6% e 7%, respectivamente.

Terceira via Um dos dados mais interessantes da pesquisa, divulgado por Miguel do Rosário, do site Cafezinho, é que no cenário sem a presença de Sérgio Moro; a maior parte dos votos no ex-juiz iriam para Lula e Bolsonaro. Lula ganharia 3 pontos, de 45% para 48%. Bolsonaro também subiria 3 pontos, de 25% para 28%. Ciro herdaria apenas 1 ponto. Segundo Rosário, esses números mostram que o problema de Ciro não é Moro. A polarização entre os dois primeiros candidatos, hoje, parece não deixar caminho para a “terceira via”.

Brasil de Fato PR Geral

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EDITAL DE CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DE 30/03/2022 O presidente da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa – COPRAN, usando das atribuições conferidas pelo Estatuto Social da Entidade, convoca seus Cooperados, que somam 977, para a Assembleia Geral Ordinária, que ocorrerá no dia 30 de março de 2022, na sede da Cooperativa, situada no Assentamento Dorcelina Folador, estrada do Araguari, km 06, Arapongas, PR. Será realizada, às 08h00min, em primeira convocação, com a presença de 2/3 dos associados, ou às 09h00min, em segunda convocação, com a presença de metade mais um dos associados, ou às 10h00min horas, com a presença de no mínimo 10 associados. ORDEM DO DIA: 1) Prestação de Contas do Exercício Social de 2021, acompanhado do Parecer do Conselho Fiscal, compreendendo: aRelatório da Diretoria. bDemonstrações Contábeis (Balanço Patrimonial). 2) Leitura e apreciação do Parecer do Conselho Fiscal; 3) D e s t i n a ção do resultado Apurado no Exercício de 2021; 4) Eleição dos membros do Conselho Fiscal para o Exercício de 2022; 5) Metas para o Exercício de 2022; 6) Assuntos Gerais. Arapongas, 17 de março de 2022 ALENCAR HERMES Presidente CPF: 014.737.709-98


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Paraná, 18 a 24 de março de 2022

Motivo da gasolina cara vai além de guerra da Ucrânia Com “preço internacional” combustíveis subiram cinco vezes mais que a inflação. Gás, dez vezes mais Gabriel Carriconde

G

asolina e diesel subindo muito mais que a inflação. Famílias tendo de escolher entre comprar gás ou a comida. Motoristas de aplicativos não conseguindo mais pagar combustível e as contas. Essas situações, que já incomodavam, pioraram ainda mais com os últimos aumentos. Por outro lado, a Petrobras vem tendo lucros bilionários, com aumento de mais de 1.000% entre um ano e outro. Nas bombas, o valor da gasolina chegou aos R$ 10 reais em algumas regiões do país, com preço médio de R$ 7,47, de acordo com a empresa ValeCard, especializada no segmento de frotas e pagamentos eletrônicos.

Guerra na Ucrânia? A Petrobras tenta justificar os aumentos dizendo que não subiu os preços por 57 dias, mas que ao ‘’serem observados preços em patamares consistentemente elevados, tornou-se necessário ... promover ajustes nos seus preços de venda... (para não correr) riscos de desabastecimento...” , justificou em nota a empresa, que também destacou o que chamou de ‘’volatilidade decorrente da guerra na Ucrânia’’, com o aumento do barril de petróleo no mercado internacional passando a marca dos 110 dólares com conflito. Mas não é bem assim, no Brasil os combustíveis já vinham subindo há muito tempo. Segundo a Federação Única de Petroleiros (FUP), o problema é a política do governo Bolsonaro e da Petrobras de indexar o valor do petróleo ao dólar e ao preço internacional. “Desde a adoção da Preço de Paridade de Importação, em outubro de 2016, a gasolina e o óleo diesel, na refinaria, tiveram reajustes de 157%, com inflação de 31,5%. No gás de cozinha, a alta acumulada foi de 349,3%”, destacou em nota a FUP. Em 11 de março, em meio à guerra na Ucrânia, o valor do preço do barril de petróleo chegou a 113 dólares. No entanto, em 2008, em meio à crise econômica mundial, o barril chegou a ser negociado a 146 dólares, mas o litro da gasolina estava a R$ 2,52, em média, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo.

Agência Brasil

Com alta de combustíveis, motoristas de aplicativo desistem da profissão Empresas reajustam preço, mas medida pode diminuir a procura pelo serviço Ana Carolina Caldas

“E

u já estou procurando outro emprego. Vou desistir de ser motorista de aplicativo”, disse José Neto, ao ser questionado sobre o impacto da alta dos combustíveis no trabalho. Ele é um dos inúmeros profissionais brasileiros que dependem do carro para se sustentar. Desde 2019 como motorista de aplicativo, em Colombo, José Neto diz que é a primeira vez que a situa-

ção ficou insustentável. “Não estou tendo condições de trabalhar, pois os combustíveis estão altos, como tudo no país. Vou parar, não está mais viável rodar. No lugar de ganhar, estamos pagando para trabalhar”, conta. Já a curitibana Juliana Alizona, que ficou desempregada por conta da pandemia e recém-começou como motorista da Uber, também pensa em desistir. “Tinha feito planos financeiros com o trabalho, Giorgia Prates

mas tenho ficado só no prejuízo. Eu tenho que trabalhar pelo menos 12 horas por dia, que é o que a empresa regulamenta pra gente. O que eu gasto é mais de 200 reais por dia com gasolina. Mas, ainda tem a manutenção do carro”, conta. Outro receio dela é por conta do reajuste das tarifas. “O problema que virá pra gente é a falta de passageiro. Estamos todos quase no mesmo barco.” O reajuste de tarifas nas corridas da Uber e da 99 para os usuários começou a valer na segunda (14). Uma das reclamações feitas por José Neto é que a situação estaria insustentável também porque as empresas não estariam fazendo o repasse aos trabalhadores. No entanto, após pressão das entidades que representam esses motoristas, na terça, 15, as empresas anunciaram o repasse. A Uber informou que começou a ser aplicado nesta semana, mas a implementação total pode levar alguns dias. A empresa ainda informou, em nota, que “tanto o motorista quanto o usuário sabem o valor de cada viagem antes de acontecer, então podem tomar suas decisões “. A 99 voltou a reforçar que o objetivo é aplicar o reajuste de 5% por quilômetro rodado em todas as 1.600 cidades em que opera, mas não informou quando começará.


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Paraná, 18 a 24 de março de 2022

Brasil

Por nenhum despejo, moradores de ocupações tomam as ruas de Curitiba Atos ocorrem em todo o país. No Paraná, famílias podem ficar sem moradia Giorgia Prates

Raissa Melo

M

anifestantes participaram dos atos em todo o Brasil no Dia Nacional de Luta pela Moradia, 17 de março, parte da campanha Despejo Zero, que luta para que as pessoas continuem tendo onde morar e não sejam expulsas de suas casas. No Paraná, a manifestação ocorreu em frente à Câmara Municipal de Curitiba e seguiu em marcha até o Palácio Iguaçu, sede do governo estadual. Moradores de ocupações urbanas, sem-terra, indígenas e movimentos sociais pediram a prorrogação da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), do Supremo Tribunal Federal (STF), que vem impedindo remoções e desocupações durante a crise sanitária e econômica. Essa ADPF perde valida-

de em 31 de março e ameaça 132.290 famílias em todo o território nacional. Sobreviventes Ameaça sentida na pele por Rosângela de Almeida, moradora da ocupação Guaporé, em Curitiba. “Tenho dois filhos que moram comigo, eu saí no primeiro despejo e voltei, quero continuar aqui, porque não tenho onde morar”, afirma. Após despejo em 2020, ela tentou morar de aluguel, mas não conseguiria manter sua família. Depois de ter voltado à ocupação Guaporé, luta por melhorias para todos. “Precisamos de luz e água para agora”, diz Rosângela. Laudiceia Gomes, também moradora da Guaporé e mãe de duas crianças, relata que: “Morava de favor na casa de uma amiga minha, e tinha uma escolha a fazer, vir para a ocupação

Nova Guaporé 2 ou morar nas ruas com as crianças. Desde então, estou aqui. Esse lugar é a minha casa, a nossa casa, o meu lugar, se me tirar daqui eu não sei para onde vou com as minhas crianças”, afirma. As reintegrações de posse também são problema na zona rural. De acordo com Leandro Dias, coordenador da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), a ocupação Ericson John Duarte, em Ponta Grossa, é formada por mais de 700 famílias. “Fica em um terreno que está desocupado por 10 anos e, agora, que centenas de família construíram suas casas, querem nos deixar sem ter onde morar de novo, não temos para onde ir”, explica. A ocupação aconteceu em 2020, pouco antes do início da pandemia, e de lá para cá já sofreu três tentativas de reintegração. A maioria dos moradores vive da agroecologia, cooperativas de reciclagem e trabalhos não regularizados. “Além de exercer o nosso direito de ter moradia, também contribuímos com o meio ambiente e com a sociedade, às vezes mais do que a Prefeitura”, Afirma Leandro. Pessoas nas ruas O número de pessoas morando nas ruas no Paraná aumentou 49,3% nos últimos três anos, de acordo com dados do Cadastro Único (CadÚnico). No início de 2018, eram 6.493 pessoas nes-

sa condição. Em abril deste ano, passou para 9.653. Os índices de inadimplência para locações residenciais em Curitiba também subiram de 2020 para 2021, com cerca de 26 mil imóveis com famílias em atraso. Os dados fazem parte de pesquisa do Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar). De acordo com Leonildo José, coordenador do Movimento Nacional de População de Rua, as famílias mais pobres passaram a ser moradores de ruas. “Muita gente não conseguia mais pagar aluguel e foi despejada, as pessoas vieram parar na rua. Há muitos idosos também, pois a aposentadoria passou a ser o salário para toda família. A crise não é só sanitária, é falta de políticas públicas em todos os setores”, afirma.

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CARTA ENTREGUE Após a manifestação, representantes das comunidades foram recebidos e leram carta de reivindicações em reunião com representantes do governo estadual, Ministério Público do Paraná, Promotoria de Justiça e Proteção aos Direitos Humanos e pela Defensoria Pública do Estado. O encontro teve a participação também da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e de representante da Comissão de conflitos fundiários do Tribunal de Justiça. Houve consenso no encontro da urgência da pauta, e também foi enfatizado pela comissão de conflitos fundiários a importância de mecanismos de mediação e notas técnicas sobre a situação de cada ocupação. A Campanha Despejo Zero também está enviando ao STF milhares de cartas escritas por moradores e moradoras de ocupações em todo o país. O governo De acordo com o governo do Paraná, as pessoas retiradas de ocupações irregulares e despejadas de imóveis contam com a Fundação de Ação Social (FAS) das prefeituras. Afirma, ainda, que a atribuição de dar assistência aos despejos é exclusiva das prefeituras. Giorgia Prates


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Paraná, 18 a 24 de março de 2022

Auditório da Secretaria de Segurança é usado para cultos da Universal Cultos ocorrem toda sexta-feira pela manhã; policiais se dizem coagidos a participar Isadora Stentzler

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auditório do prédio da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná (Sesp/PR) tem sido usado para cultos da Igreja Universal. Os encontros religiosos ocorrem toda sexta-feira pela manhã, com apoio da estrutura pública, há pelo menos seis meses, e policiais se dizem coagidos a participar. Um dos agentes ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato Paraná gravou um vídeo de um desses encontros. Segundo ele, que pediu anonimato e que a reportagem chamará de Pedro, os cultos começaram gradualmente desde que o secretário de Segurança Pública Romulo Marinho Soares assumiu a pasta, em junho de 2019, se tornando mais frequentes nos últimos seis meses. Antes de cada encontro, de acordo com Pedro, os policiais são convocados a irem, em tom de intimidação. “É assédio moral”, definiu Pedro. “O Estado é laico, não pode prejudicar a prática religio-

sa, mas não pode favorecer determinada corrente religiosa dentro das estruturas estatais.” O secretário foi nomeado para assumir a pasta pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior, em junho de 2019. Ele é um coronel reformado do Exército e já integrava a equipe de governo, lotado no gabinete do governador como assessor para assuntos de Segurança Pública. Foi indicado pelo ex-responsável da pasta general Luiz Felipe Kraemer Carbonell que deixou o cargo para assumir a diretoria de Coordenação da Itaipu Binacional e é ligado ao presidente Jair Bolsonaro. A inserção dos cultos, de acordo com os policiais, foi gradual e começou com a chegada de Marinho, mas desde setembro haveria uma pressão maior para que participassem, ocupando o auditório da Sesp. Segundo os agentes, os cultos são para todos os policiais que trabalham no prédio da Secretaria de Segurança. Por ser um pedido do secretário, muitos têm receio em não atendeReprodução rem à solicitação por medo de perderem PUBLICIDADE

o cargo. “O secretário obriga todo o comando das polícias a participar de cultos da Universal (...) Está retomando os tempos em que a igreja manda no Estado. Já há uma perseguição às minorias e a Secretaria de Segurança, que em tese deveria ser laica e proteger todo e qualquer cidadão, está sendo palco para cultos de bispos de uma das igrejas mais reacionárias do país”, criticou. Em um determinado culto, o bispo José Manoel Gonzalez chegou a criticar outras religiões. A percepção do policial era de que o bispo agisse como secretário de Segurança, usando espaço público para difamar outras religiões. “É extremamente grave”, enfatizou. “O Estado sempre deve atuar para garantir a liberdade de religião, mas não deve participar (...) Essa igreja prega como errado qualquer coisa fora da doutrina deles. Aí vão começar a doutrinar as polícias para tratar as minorias como inimigo, não como comunidades a serem protegidas.” Outros dois policiais que atuam na Sesp confirmaram à reportagem a realização dos cultos. “A maioria não

gosta porque atrapalha”, disse um deles, que também pediu anonimato. “Eu sou contra. É dentro do horário de trabalho. Somos funcionários públicos. Nosso salário é pago com tributos. Não temos que parar de trabalhar para dar visão a uma igreja.” Segundo este funcionário, os cultos eram realizados, antes, às 16h, mas como há funcionários que saem às 17h, foi alterado para às 9h para ter mais quórum. “Os cultos demoram, geralmente, em torno de uma, uma hora e meia toda sexta-feira. Na última sexta-feira foi das 9h às 11h40, porque eu acredito que eles tenham tido uma denúncia e daí estavam justificando, falando que o bispo estava magoado, mas que a presença dele era imprescindível no prédio”, aponta. “Se fosse uma reza, algo direcionado a uma oração, acho até que seria válido. Mas ele expõe muito a opinião pessoal dele nesses cultos. Ele se acha um enviado de Deus na terra para pregar a palavra.” Procurada, a Sesp não respondeu as questões da reportagem. A reportagem também entrou em contato com o bispo e aguarda posicionamento.


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Cultura 7

Divulgação

Letras e Filosofia Ocorre nos dias 30 e 31 de março, das 9h30 às 17h30, no auditório da Biblioteca do Setor de Ciências Humanas da Universidade Federal do Paraná, o “III Colóquio Letras e Filosofia: por uma análise naturalista

UFPR oferece curso online sobre valorização da estética negra e autocuidado Com foco nos cuidados com os cabelos crespos, o curso tratará de vivências cotidianas das mulheres negras Redação

O

curso Crespura – Beleza Negra sem Química, que trará aulas sobre cuidados com o cabelo crespo, está com inscrições abertas. A atividade é organizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Poéticas Afrolatinoamericanas e Educação para as Relações Étinico-Raciais (Yalode Geplafro) da Universidade Federal Fluminense e tem como parceiro o Núcleo de Estudos Afro-brasileiro da UFPR (NEAB). O curso pretende construir um espaço para profissionais da beleza, professoras e professores da educação básica, estudantes do ensino superior e mé-

dio e demais interessados para mergulhar na trajetória dos cuidados com os cabelos crespos. Todo o curso versa sobre o processo contínuo de autocuidado e reconhecimento da estética negra. A atividade formativa está dividida em dois módulos educativos de 15 horas cada. Com matrículas independentes, somando 30 horas de carga horária. Os encontros (síncronos e assíncronos) serão transmitidos pela plataforma Google Meet, com acesso via even3. Segundo os organizadores, as aulas ao vivo têm caráter dialógico, multicultural e interdisciplinar partindo das vivências com o cuidado dos cabelos (nível

macroscópio) das mulheres negras. “Para tanto, questionaremos as vivências das alunas, os aspectos históricos e culturais do cabelo crespo. Para então alcançar a interpretação microscópica dessas experiências pelo estudo da melanina, do fio capilar, da texturas, das alterações físicas e químicas dos fios de cabelo, a utilização de xampus, cremes e hidratantes, além do estudo sobre os óleos vegetais e gorduras animais na cosmetologia negra,” explicam os organizadores.

da narrativa: Mente, Evolução, Cognição, Linguagem”. É aberto à comunidade acadêmica, especialmente, docentes, discentes e pesquisadores de Literatura, Linguística, Filosofia e Psicologia.

Música em Curitiba Em comemoração ao aniversário de Curitiba, a Fundação Cultural traz shows de rodas de choro e samba no Conservatório de Música Popular Brasileira a grupos populares nas Ruas da Cidadania. Com entrada grátis, as apresentações vão até o último domingo do mês.

Programação No dia 19, sábado, 20h – tem show do Julião Boêmio Quinteto, na Rua da Cidadania Fazendinha/Portão. Dia 20, domingo, às 11h30 – Roda de Samba com músicos curitibanos, no Conservatório de MPB de Curitiba. Às 20h – Viola Quebrada, na Rua da Cidadania Fazendi-

nha/Portão. No sábado, 26, Luis Rolim e grupo, na Rua da Cidadania Boqueirão. E no domingo, 27, 11h30 – Roda de Choro com Regional da Orquestra À Base de Corda no Conservatório de MPB de Curitiba. Às 20h, Trio Traquitana, na Rua da Cidadania Boqueirão. Divulgação

Para saber mais e se inscrever, acesse

DICAS MASTIGADAS | Bolo de banana Ingredientes 4 ovos orgânicos. 2 xícaras (chá) de açúcar. 4 colheres (sopa) de margarina. 2 xícaras (chá) de farinha de trigo. 1 colher (café) de bicarbonato de sódio. 1 colher (sobremesa) de fermento químico em pó. 4 bananas orgânicas amassadas com o garfo. Açúcar e canela para polvilhar.

ção rodu Rep

Modo de preparo Misture os ovos com o açúcar e a margarina até ficar bem cremoso. Acrescente a farinha e incorpore bem. Adicione o bicarbonato, o fermento e as bananas amassadas e misture. Despeje numa fôrma de sua preferência untada com margarina e polvilhada com açúcar e canela (se desejar, distribua fatias de banana por cima). Leve ao forno médio preaquecido (200 ºC) por cerca de 40 minutos ou até dourar. Desenforme morno.


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Paraná, 18 a 24 de março de 2022

E a tal de SAF já começa a dar problemas... Um dos primeiros a aderir às sociedades anônimas do futebol, Cruzeiro pode ter negócio desfeito Frédi Vasconcelos

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endidas por muita gente como uma panaceia para resolver os problemas de grandes clubes quebrados, como Cruzeiro e Botafogo (RJ), as sociedades anônimas do futebol (SAF) já começam a mostrar que o problema é mais embaixo. Um dos primeiros clubes a aderir, o time mineiro, dono de uma dívida superior a R$ 1 bilhão e com o time na Série B do Brasileirão, deixou sua torcida esperançosa de melhores dias quando o time foi “comprado” pelo craque Ronaldo. Um dos problemas é que o negócio foi fechado a “toque de caixa”, com o Banco XP, que intermediou a negociação, dizendo que sondou mais de cem investidores e apenas dois mandaram propostas. Dessas, a de Ronaldo seria a melhor. O craque chegou com a promessa de investir R$ 400 milhões, o que ocorreria após o período necessário para analisar a situação do clube. Nesta semana, numa transmissão, praticamente deu um ultimato ao conselho deliberativo da antiga associação esportiva. Que em troca de assumir as dívidas tributárias, na casa de cente-

nas de milhões de reais, queria ficar com os imóveis dos centros de treinamento, as Tocas da Raposa 1 e 2. Além de pedir recuperação judicial ou extrajudicial (na prática decretar uma espécie de falência para negociar com os credores). Em resposta, a mesa diretora do antigo Conselho Deliberativo soltou nota dizendo que a negociação foi: “De um lado, extremamente lesiva e desproporcional ao Cruzeiro, e, de outro, excessivamente benéfica ao Ronaldo”. Para exemplificar, disseram que dos R$ 400 milhões prometidos, Ronaldo investiria de seu bolso apenas R$ 50 milhões para ficar

com 90% das ações da SAF, o resto viria de receitas geradas pelo próprio Cruzeiro. Ronaldo afirmou, em carta, que tem como compromisso um: “Aporte inicial de R$50 milhões, além de um compromisso de investimento de mais R$ 350 milhões que pode ser feito através de incremento de receitas ou de aporte direto”. O que se verá nos próximos dias é se Ronaldo conseguirá o que quer do conselho do clube ou se cumprirá sua ameaça, nem um pouco velada, de abandonar o negócio e jogar o clube numa enrascada da qual não se sabe como sairá. Divulgação

ELAS POR ELA Fernanda Haag

“Quando vão conhecer a nossa história?” A frase do título veio de Marinilza Conceição, ex-atleta e amiga de Marianita, capitã do primeiro time de futebol de mulheres do Grêmio, dos anos 1980. E a pergunta dela é para lá de pertinente. Preservar a memória e fazer um trabalho sério de resgate histórico do futebol feminino no Brasil é tarefa urgente. Precisamos tirar essas histórias das sombras e lhes dar visibilidade concreta. E ganhamos recentemente mais uma contribuição nessa direção. Na terça-feira, 15, o Grêmio, em conjunto com o e Museu do Esporte, fez live para a inauguração da exposição “Gurias de Todos os Tempos: a Trajetória do Futebol Feminino do Grêmio”. A exposição é realizada toda de maneira virtual e busca contar a história da modalidade do Grêmio dividida em três fases: 1) as pioneiras; 2) as vitoriosas; 3) a retomada do futebol feminino. Conta também com inúmeras fotos, recortes de jornais, textos e vídeos das atletas. A mostra conta muito sobre a trajetória gremista e aborda também uma luta histórica das mulheres por reconhecimento e por espaço. Não deixe de visitar!

Nossa Casa, Nossa Vida

Mais um craque chegando!

Por Cesar Caldas

Por Roger Pereira

Um dos fundadores da corrente conhecida como filosofia analítica, George Moore é autor de uma frase que encerra grande verdade, proferida em palestra na Universidade de Cambridge, onde lecionava: “Percorremos o mundo todo em busca daquilo que precisamos e voltamos à casa para encontrá-lo”. Vale para o futebol? Ô, se vale! Daí a importância de derrotar o Cianorte na tarde do próximo sábado, 19/3, no Couto Pereira. Embora baste o empate para fazer a segunda partida das semifinais diante de Londrina ou Athletico no Alto da Glória, é preciso já ter em vista com otimismo a finalíssima. Também nela, o jogo decisivo será na casa do clube que tiver acumulado maior pontuação nas três etapas anteriores. Não é prudente dar chance ao Operário ou Maringá chegarem à decisão à frente do alviverde. Nada melhor que o doce lar para cumprir o dever, de mãos dadas com a família.

E a temporada de contratações no Furacão segue acelerada. O rubro-negro está prestes a anunciar o jovem uruguaio Canobbio, meia atacante de 23 anos, do Peñarol. Com o jogador tudo certo, e agora faltam apenas as definições finais com o clube, que devem acontecer até esta sexta-feira. Com mais essa contratação, o Athletico vai estruturando uma equipe com altíssimo nível técnico e mostra que vai entrar para disputar o título em todas as competições do ano. Como o futebol é sempre imprevisível, ainda é cedo para saber o potencial real do elenco. Mas a empolgação da torcida é visível. A única dúvida que paira no ar é se Alberto Valentim tem condições de treinar uma equipe desse nível. Tudo indica que a partida de domingo na Arena, contra o Londrina, vai ser decisiva para o treinador.


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